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SENTIDO DA EXPERIÊNCIA ESTÉTICA

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Academic year: 2021

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SENTIDO DA

EXPERIÊNCIA

ESTÉTICA

Um olhar fenomenológico

SENTIDO D

A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA:

Um olhar fenomenológico

JOSÉ CARLOS HENRIQUES

JOSÉ CARLOS HENRIQUES

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ISBN: 978-85-8425-004-2

Para Dufrenne, uma fenomenolo-gia da experiência estética deve se desenvolver em três momentos – a descrição, a análise transcendental e a tentativa de resgatar seu senti-do ontológico. No terceiro capítulo, aparecerão os passos dados por ele para o cumprimento da tarefa de compreender os dois primeiros momentos: descrição e análise tran-scendental da experiência estética. A terceira tarefa, o resgate da signifi -cação ontológica, aqui já aparecerá anunciada. De fato, o sentimento, ponto culminante da experiência estética, aparecerá como instância capaz de apontar para ela um senti-do que deve ser encontrasenti-do aquém da cisão entre sujeito e objeto, tor-nando possível, precisamente por isto, o encontro, o pacto verifi cado entre os dois.

O principal objetivo deste trabalho é seguir os passos que conduzi-ram Dufrenne, sobretudo em sua obra-prima Phénoménologie de l’ex-périence esthétique, publicada em 1953, à conclusão de que a análise fenomenológica aponta, ao fi nal, para uma signifi cação ontológica da experiência estética, direção de sentido que, segundo ele, deve ser resgatada.

JOSÉ CARLOS HENRIQUES

Doutorando em Direito junto ao Programa de Pós-graduação da Uni-versidade Federal de Minas Gerais - UFMG (Conceito CAPES 6). Mestre em direito, pela Univerdade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC- Campus de Juiz de Fora; Mestre em Filosofi a, pela Universidade Federal de Ouro Preto; Especializado em Direito Civil e Processo Civil. Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito Con-selheiro Lafaiete (2004), graduação em Filosofi a pela Pontifícia Universi-dade Católica de Minas Gerais (1994), graduação em Teologia pelo Instituto de Teologia São José - Mariana-MG (1994) e Atualmente é professor Ad-junto I-A e Coordenador do Curso de Direito na Faculdade Presidente Antônio Carlos de Itabirito - FUPAC; Coordenador do Grupo de Estudos em Filosofi a, Teoria do Direito e da Constituição, na Unipac-Itabirito. Tem experiência na área de Filosofi a, dedicando-se à pesquisa em Estética e Filosofi a da Arte, Ética e História da Filosofi a, bem como, na área do Direito Civil, Processual Civil e Con-stitucional, ocupa-se, atualmente, de estudos ligados à fi losofi a e à teoria do direito, bem como dos fundamen-tos do direito constitucional.

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Sentido da Experiência

Estética

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Copyright © 2014, D’ Plácido Editora. Copyright © 2014, José Carlos Henriques.

Editor Chefe

Plácido Arraes

Produtor Editorial

Tales Leon de Marco

Capa

Tales Leon de Marco (Sobre imagem de Sxc.hu)

Diagramação

Bárbara Rodrigues da Silva

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia da D`Plácido Editora.

Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica Henriques, José Carlos.

Sentido da Experiência Estética: Um olhar fenomenológico -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2014.

Bibliografia ISBN: 978-85-8425-004-2

1. Filosofia 2. Estética 3. Mikel Dufrenne I. Título II. Fenomenologia

Editora D’Plácido Av. Brasil, 1843 , Savassi Belo Horizonte - MG Tel.: 3261 2801 CEP 30140-002

Sentido da Experiência Estética: Um olhar fenomenológico

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Sumário

Apresentação 13

Prefácio 15

1. Introdução 23 2. Mikel Dufrenne e a Interpretação Fenomenológica da Experiência Estética 27

2.1 O encontro com a fenomenologia francesa:

Sartre e Merleau-Ponty 31

2.2 O diálogo com o pensamento de Immanuel Kant, Baruch

Spinoza e Matin Heidegger 40

3. Releitura da Ideia de Intencionalidade, no Horizonte de uma Fenomenologia da Experiência Estética 49

3.1 - Preferência concedida à experiência do espectador: a

transmutação da obra de arte em objeto estético 51

3.2 Elementos de inteligibilidade da experiência estética: obra de

arte e objeto estético 57

3.2.1 - Obra de arte: legitimação pela tradição 57

3.2.2 - Objeto estético: consagração da obra de

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3.3 - A ideia de intencionalidade e a tentativa de superação do

paradigma dicotômico: anúncio da hipótese ontológica 62

3.4 - Abertura ontológica de sentido a partir de uma

fenomenologia da percepção 71

4. InterpretaçãoFenomenológica da Experiência Estética e Sua Culminância no Sentimento, Como Anúncio de Uma Significação Ontológica 77

4.1 - Primado da percepção e a tarefa de uma descrição

fenomenológica da experiência estética 78

4.2 - Unidade real da percepção estética realizada em seus três

momentos constitutivos 81

4.3 - Momento da presença: raiz corporal do sentido 83

4.4 - Momento da representação:

papel mediador da imaginação 91

4.5 - Momento do sentimento: culminância da experiência

estética e anúncio de sua significação ontológica 98

5. A Hipótese da Significação Ontológica Como Corolário de uma Crítica da Experiência Estética 113

5.1 - Do transcendental ao ontológico: a hipótese da significação ontológica no contexto da procura por uma

anterioridade radical 114

5.2 - Os a priori da afetividade enquanto condição de possibilidade da experiência estética: para além

do formalismo kantiano 117

5.3 - O lugar da hipótese ontológica na economia

da obra de Dufrenne 124

5.4 - A hipótese ontológica na Phénoménologie: justificação

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5.5 - Nova direção dada à hipótese ontológica nos escritos posteriores à Phénoménologie: esboço de uma

filosofia da Natureza 140

6. O Desafio de se Compreender o Sentido

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Apresentação

O presente trabalho é uma versão adaptada de nossa dissertação de mestrado em estética e filosofia da arte apresentada ao Programa de Pós-Gra-duação, de mesmo nome, mantido pela Universidade Federal de Ouro Preto. Tanto quanto possível, nos esforçamos para conservar o texto tal como lançado, seguindo o intento de compreendê-lo e veicular sua transmissão como um documento acadêmico, sua origem.

O tema da experiência estética, certamente, é um dos mais significativos de toda a filosofia da arte. E, para nós, há tempos, a via fenomenológica tem se mostrado fecunda para a compreensão da arte.

Eis porque, procuramos apresentar o caminho percorrido por Mikel Dufrenne, em sua obra-prima – Phénoménologie de l’expérience

esthétique, em defesa da significação ontológica da experiência estética.

Muito embora seja, entre nós, ainda, um autor a quem se deva dedicar maior atenção, Mikel Dufrenne desenvolveu intensa meditação sobre a arte e fez da estética o tema central de seu pensar, elevando o tema da experiência estética a exemplar e originária forma de experienciar o mundo. Enfim, assim procedendo, em muito contribuiu para descortinar o sentido da experiência estética, de um ponto de vista fenomenolo-gicamente fundado.

Como ponto de partida, após situar o pensamento do autor no contexto geral do movimento fenomenológico, investiga-se a releitura que este faz do conceito de intencionalidade, ponto de partida que lança nova luz sobre as relações que, na experiência, se travam entre sujeito e objeto.

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Por fim, apresentam-se os argumentos que garantem a plausibilidade à hipótese ontológica, firmando-se a ideia de que esta não autorizaria a cons-trução de uma ontologia justificante.

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Prefácio

O que a arte nos dá a pensar? Embora a beleza não seja um conceito de onde poderíamos deduzir a validade dos nossos juízos estéticos, a arte não apresentaria o sentido filosófico que efetivamente possui se não constituísse, para a filosofia, um caminho quiçá incontornável para o pensamento do ser. Assim a arte nos convida a pensar o liame originário traçado entre o homem e a natureza, enquanto é a própria experiência desse vínculo funda-mental. Nisso reside sua principal significação ontológica, na medida em que justamente ela explora - e a filosofia a segue nesta exploração - esta dimensão de mútua pertença entre espírito e matéria, homem e mundo, sujeito e objeto, conforme a perspectiva adotada, cuja essência é a sensibilidade. Através dela opera-se essa “consubstancialidade” de que José Carlos nos dá notícia, e que constitui uma verdadeira dimensão ontológica, como afirmamos, no sentido de absolutamente originária.

É sem dúvida nenhuma a esta dimensão ambígua - pois tanto pode ser abarcada a partir do olhar dualista de Sartre, cingido entre o “em si” e o “para si”, quanto pela visão monista – a que a filosofia de Dufrenne nos remete.

Sem sacrificar nenhuma das duas escolas ontológicas, pode-se buscar uma síntese ou saltar para uma terceira dimensão. O autor prefere segui-las, a cada vez, para delas extrair o mais possível de esclarecimento sobre o ser. Deste modo, Dufrenne pergunta, citado pelo texto de José Carlos, se não poderíamos, como Merleau-Ponty, sermos “poetas da origem” e, ao mesmo tempo, como Sartre, “artesãos da história”, assumindo esse estatuto ambíguo de um ser que “pertence à natureza” – por seu corpo- “e que natureza se quer dela separado”, por sua história e liberdade.

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nomes da filosofia da sua época, em França, ele não cede à tentação dos idó-latras e procura - ora bem sucedido, por vezes não -, seu caminho próprio na seara fenomenológica. Poderíamos mesmo falar, incitados pelo trabalho de José Carlos, de uma tensão dialética entre a imanência e a transcendência, imanência da natureza no homem, transcendência do homem que supera sua própria natureza num gesto de negação resoluta e afirma sua liberdade e sua imaginação – no que ela possui de desbravadora de possibilidades - no mundo. Dessa transcendência o gesto artístico, desde o primeiro desenho nas paredes de uma caverna até a mais elaborada sinfonia, é exemplar, sem dúvida. Mas por outro lado, se a imanência não nos aprisiona, a transcendência não nos redime totalmente da facticidade, da facticidade do corpo, da história, da realidade, enfim. Por isso creio ser inadequado falar de erradicação a propó-sito da dicotomia sujeito-objeto. Eu diria que há entre essas duas dimensões, fenomenologicamente consideradas, com-fusão. Além do mais não penso que essa “erradicação” possa ser estendida a todo campo da experiência. Mesmo depois da epoché e da redução ainda permanece, no interior da consciência intencional reduzida, a dualidade da noesis e do noema, e mesmo tendo sido o objeto intencional reduzido à imanência da vivência, ele permanece oposto à vivência como o que é por ela visado. E, disse-o Husserl com frequência, objeto noemático é essencialmente dubitável, as vivências, não. Enquanto todo objeto se nos oferece através de uma série interminável de perfis possíveis, as vivências são um dado absoluto.

Talvez fosse melhor precisar aqui o termo experiência, evidentemente evitando-se as fáceis armadilhas do psicologismo assim como as do natura-lismo e do sociologismo. Nada há de mais errôneo, em se tratando da arte, do que considerá-la, por uma absurda redução, um documento de época ou expressão das idiossincrasias de um caráter genial.

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Se a experiência estética é a de um espectador, se ela é presença, repre-sentação e sentimento, ela é então fenômeno vivido na atualidade de um fluxo subjetivo a que chamamos vida. Por isso, a arte entra em nós, como bem salienta o autor, citando Duffrene, “a música nos ensina isto: no concerto estou perante a orquestra, mas estou dentro da sinfonia”. Kandinsky dizia: sem ressonância interior não há arte. Através da arte nós emprestamos nossa alma às coisas para que, nela vibrando, elas possam vir, na afetividade da vida e por ela, à luminosidade do ser a que as alienações cotidianas vedam o aces-so. Na pintura uma cor é uma qualidade sensível, na música um som é uma nota musical, no balé um movimento é um gesto que rompe a resistência do mundo e em toda arte, onde há liberação dos afetos, há gozo da vida, há expansão dos sentidos, há promessa de felicidade. Sim, a experiência estética aponta, de fato, para uma “fusão”.

Antes de enraizar-se nas determinações sociais ou na personalidade do artista, a arte enraíza-se na carnalidade, ou seja, na afetividade e sua essência universal. Por isso, posso também dizer que estou dentro da sinfonia e que a sinfonia está em mim, as duas expressões dizendo a mesma coisa porque, o que ela visa de fato, não pode ser expresso a não ser seguindo estas alterna-tivas duais que nos propõe a linguagem e das quais não podemos escapar. A desgraça da metafísica talvez resida aí, no fato de que o Ser, que não é nem pode ser conceito ou intuição, se diz – como afirmou o velho estagirita. O

logos é, sobretudo e originariamente, palavra do ser.

Assim não julgo correto proceder através da via empírica afirmando que as obras de arte consagradas nos conduzirão à experiência estética, ainda que seja por economia, para evitar discussões inúteis sobre que coisas considerar como uma obra de arte (o mundo da arte não está nos museus, nas galerias de arte ou no gosto popular e sim na sensibilidade). Ninguém erraria hoje, em sã consciência, afirmando a genialidade de Bach ou de Da Vinci. No entanto, se há um a priori estético, ele está na própria sensibilidade, no que torna possível a percepção em geral, e estética em particular, e isto antecede o próprio exercício do gosto e sua tradição. Mais aprofundadamente, trata--se de elucidar as condições transcendentais de possibilidade do processo de constituição da obra de arte como objeto estético.

Ora é justamente a partir desta solicitação do aparecer originário e universal da experiência sensível, como aparecer, que começa a experiência estética cuja essência a abstração evidencia, desde que pensada não como um estilo particular, mas como essência de toda arte, mesmo figurativa. Mas a atitude contemplativa não é, a meu ver, suficiente para tornar esta percepção estética – no sentido em que se opõe à circunvisão e ao conceito.

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distinto do plano da tela, substrato material da obra. Ele é imaginário, como são os volumes e mesmo as linhas. O que é percebido não é a tela plana, mas as vastidões vertiginosas do horizonte, e a profundidade do mundo percebido nada tem a ver com a representação pictórica. Nesse sentido po-demos dizer que a arte é obra de uma subjetividade criadora. Mas claro está que a imaginação não pode “vagabundear em torno do objeto presente”. Descreve melhor a imaginação em seu sentido estético essa ideia de que ela porta uma “transcendência que desloca o sujeito para as possibilidades do objeto”, pois sem este “mais além” do substrato material não há fenô-meno estético. Há muita diferença entre pintar uma pessoa triste e pintá-la tristemente. E essa tristeza depositada na tela, não no conteúdo figurado, somente a imaginação a despertará.

Assim, de fato, o fenômeno estético – refiro-me assim ao objeto estético -, consiste em ver mais do que o substrato material nos dá a ver. O frio da neve apenas vista da janela fechada, que se anuncia no branco, sem, no entanto, “se entregar”, como o azedo no limão apenas percebido, obriga-nos a pensar uma presença ao mesmo tempo abstrata, posto que as sensações de frio, no primeiro caso, e de azedo, no segundo, não estão presentes empiricamente falando (a casa de cuja janela observo pode estar aquecida), e real, posto que seja ainda assim aparência. E isto ocorre mais do que se o objeto fosse considerado de forma vulgar. Sob este modo ele me dá informações sobre o mundo. Neste caso não há a preocupação com uma percepção adequada. Em se tratando do objeto estético “não lhe é indiferente, como o objeto vulgar, se ele é bem ou mal percebido”.

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propriamente como objeto? À experiência do primeiro homem que abriu os olhos e viu, sem nenhum preconceito, o mundo?

Deste modo, da cisão analítica da percepção estética somos remetidos à síntese corporal que recompõe a unidade. “É pelo corpo que há unidade do objeto estético”. De fato, é por pertencerem ao ser sensível total que é meu corpo que as diversas sensações provindas dos diversos sentidos formam a coerência de um mundo sensível. “O corpo, afirma-se, é o sistema sempre já estabelecido de equivalências e transposições inter-sensoriais”. Mas, neste caso, não seria do lado do corpo que deveríamos buscar a unidade primor-dial? Qual a relação afinal, na constituição do mundo da experiência estética, entre corpo, natureza e ser? Um outro ponto que me inquieta diz respeito ao imaginário. Será mesmo que a imaginação não é necessária na percepção estética? O mesmo Dufrenne, descrevendo o amarelo de um quadro de Van Gogh, diz que ele, literalmente, “retumba como uma fanfarra” (p. 106). Não se ouve aí a fanfarra da imaginação?

Por outro lado, a profundidade do espaço natural nada tem a ver com a do espaço pictórico e é nesse sentido que o segundo é imaginário. Assim não há porque a percepção reprimir o imaginário. Ela não nos conduz para fora da dimensão estética, ela é sua essência. Dufrenne arma uma inextrincável confusão entre sentimento, representação e imaginação. A partir da afirmação de que o sentimento revela uma interioridade, o texto precisa que ele “atin-ge o dado para torná-lo interiormente visível”. É assim que o sentimento é dito ser “transcendência” porque ele nos abre, nos transporta, por assim dizer, nos retirando da nosso própria imanência, para o interior das coisas onde se revelam as qualidades sensíveis que as constituem.

Certo, depois de Kant, a passividade, a receptividade intuitiva, a doação do objeto do juízo de conhecimento, previamente, como fenômeno, como objeto de uma experiência possível, é necessária para fornecer ao entendi-mento, faculdade essencialmente formal, sua matéria, sem a qual não haveria conhecimento. O conhecimento é finito: necessita que seu objeto lhe seja dado por uma natureza cuja causa última não conhecemos. Conhecemos apenas a maneira como ela nos afeta. Mas, para Kant, a percepção sem o entendimento se reduz a um caos de sensações desconexas, ela não nos dá nenhum objeto propriamente falando. Creio que Duffrenne jamais livrou-se do kantismo que o faz fundamentar a arte na experiência estética - como Kant no sentimento da beleza -, pretendendo ao mesmo tempo conferir-lhe um valor de verdade, revelando, através do acordo das faculdades, o acordo metafísico entre o homem e o mundo. Esse sentimento em que se remata a percepção, afirma Dufrenne, “não é emoção, é conhecimento”.

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objeto estético aponta para um fundo, a Natureza”. Primeiramente acredito tratar-se do sentimento experimentado diante de uma obra de arte e, portanto, de um objeto estético e não qualquer outro. Mas de que sentimento se trata? Do gozo da beleza? Ou da sensação relativa aos elementos hiléticos da per-cepção? Estas questões são relevantes para esclarecer também a natureza dessa interioridade. Se é a beleza, então seríamos remetidos à natureza, no sentido desse acordo misterioso entre o mundo das formas sensíveis e nossa constituição interior como sujeitos do conhecimento? Se são as sensações, como afirmar que elas abrem a interioridade do objeto se uma das características da noção de intencionalidade consiste justamente em projetar os dados hiléticos na estrutura noemática? Como podemos ver, as dificuldades são muitas.

Porque o sentimento é bem isso: o anunciar-se de um mundo ou “certo modo do sujeito se abrir ao objeto”. Mas ele não é como que uma qualidade acrescentada à representação do objeto, nem um entre os modos de exercício da intencionalidade. Ele é originariamente a substância deste contato mudo de mim com meu próprio ser que faz, de cada um de nós, um ego, um eu posso, porque ele é o modo como cada ato da sensibilidade afeta a si mesmo interiormente antes de ser afetado pelo que quer que seja. Ele é, sobretudo, como afetividade, um modo do ser encerrar-se em si mesmo, vindo assim a si, na vida que é a condição apriórica de toda abertura, alienação, distância, objetivação ou transcendência.

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obra, a cujo nascimento assisti, e que vem contribuir para uma bem sedimentada compreensão, entre nós, da experiência estética, de um ponto de vista fenomenológico.

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Introdução

O principal objetivo deste trabalho é seguir os passos que conduziram Dufrenne, sobretudo em sua obra-prima Phénoménologie de l’expérience

esthéti-que,1 publicada em 1953, à conclusão de que a análise fenomenológica aponta,

ao final, para uma significação ontológica da experiência estética, direção de sentido que, segundo ele, deve ser resgatada.

Na tentativa de melhor compreender o horizonte filosófico no qual se move Dufrenne, no primeiro capítulo, seu pensamento será situado no contexto geral do movimento fenomenológico, além de serem apontados alguns de seus principais compromissos com a tradição filosófica ocidental. Ali serão apuradas as influências gerais que teriam contribuído para a ges-tação e o desenvolvimento do pensamento de Dufrenne, descobrindo-se a fenomenologia francesa, tal como pensada por Sartre e Merleau-Ponty, como sua moldura e principal referência.

Porque se trata de um pensamento construído sob os auspícios da tra-dição fenomenológica e porque um dos conceitos mais relevantes para esta tradição é o de intencionalidade, o segundo capítulo tentará dar conta dos novos contornos que este conceito teria assumido por Dufrenne, aparecendo então como fio condutor de seu grande desafio: construir um pensamento capaz de dizer algo sobre aquilo que antecede e funda o acordo essencial existente entre sujeito e objeto, acordo de que a experiência estética é cabal e exemplar testemunha. Neste capítulo, será defendida a ideia de que Dufrenne opera uma verdadeira releitura do conceito de intencionalidade repensando, a partir de um novo horizonte, as relações travadas entre sujeito e objeto, homem e mundo. Esta releitura, será dito, firma-se como ponto de apoio para a hipótese de uma significação ontológica. Além disto, será elucidada

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a distinção entre obra de arte e objeto estético, uma tese cara a Dufrenne e que se presta a mostrar aquilo que a experiência estética tem de peculiar.

Para Dufrenne, uma fenomenologia da experiência estética deve se desenvolver em três momentos – a descrição, a análise transcendental e a tentativa de resgatar seu sentido ontológico. No terceiro capítulo, aparecerão os passos dados por ele para o cumprimento da tarefa de compreender os dois primeiros momentos: descrição e análise transcendental da experiência estética. A terceira tarefa, o resgate da significação ontológica, aqui já aparecerá anunciada. De fato, o sentimento, ponto culminante da experiência estética, aparecerá como instância capaz de apontar para ela um sentido que deve ser encontrado aquém da cisão entre sujeito e objeto, tornando possível, preci-samente por isto, o encontro, o pacto verificado entre os dois.

Por fim, após percorrer os passos dados por Dufrenne até a análise trans-cendental, se verá como a crítica da experiência estética, pelo menos como hipótese, tende para uma ontologia que, no entanto se mostra impossível. Assim, outra alternativa não resta senão procurar para a hipótese ontológica uma justificação antropológica. Mas, como a perspectiva metafísica parece resistir, pelo menos como provocação, ou como uma abertura de horizontes, nasce a exigência de se esboçar uma filosofia da Natureza que, vencendo os limites do discurso fundado no logos e abrindo-se para o dizer poético, venha preencher o lugar vazio deixado pela ausência de uma ontologia, re-conhecidamente impossível. É no quarto e último capítulo que tais passos serão dados. Aqui se conhecerão as consequências da hipótese ontológica, os limites do discurso filosófico e a necessidade, ainda assim, de se elaborar uma filosofia da Natureza. Neste passo, será ensaiada uma direção interpretativa: a afirmação de que, nos escritos posteriores à Phénoménologie, há certa mudan-ça de rumo no pensamento de Dufrenne, muito embora nele permanemudan-çam algumas importantes continuidades.

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objetivos traçados para este trabalho permanecendo, contudo, como horizonte a ser futuramente explorado.

Segunda advertência: ao longo do texto, serão referenciados pensadores com os quais Dufrenne dialoga. Assim, em determinados contextos, aparecerão citações de Husserl, Heidegger, Sartre e, em maior medida, de Merleau-Ponty, dentre outros. Tais citações serão feitas nos limites da leitura que delas faz Dufrenne, isto é, não se apura a legitimidade daquela leitura, parte-se dela como fato. A apuração desta legitimidade, mais uma vez, extrapolaria nossos objetivos, podendo vir a ser tema de um trabalho posterior.

Terceira advertência: ao construir uma fenomenologia da experiência estética, Dufrenne o faz de forma geral, não se ocupando, pormenorizadamen-te, de uma ou outra forma de experiência suscitada por algum tipo especial de manifestação artística. Assim, sua argumentação é povoada por exemplos retirados tanto das artes por ele chamadas visuais (pintura, escultura) quanto das artes ditas da linguagem (literatura e, em especial, a poesia) ou, ainda, das artes ditas compósitas (teatro, dança). O discurso de Dufrenne, de algum modo, é imerso, isto é, constrói-se com os olhos voltados para as manifestações artísticas concretas, mas sem com isto se dedicar a alguma delas, com exclusão das demais. Enfim, muito embora em maior número apareçam referências à pintura, ao teatro e à literatura, a imersão no campo das artes não desvia o discurso de seu caminho: pensar a experiência estética como gênero. Deste modo, os exemplos incorporados ao texto, aqui e ali, têm um caráter ilustrativo, não representam incursões profundas na tentativa de compreender alguma espécie de experiência estética. É com este espírito que Dufrenne os invoca e, por isto, da mesma forma, aqui o seguimos.

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SENTIDO DA

EXPERIÊNCIA

ESTÉTICA

Um olhar fenomenológico

SENTIDO D

A EXPERIÊNCIA ESTÉTICA:

Um olhar fenomenológico

JOSÉ CARLOS HENRIQUES

JOSÉ CARLOS HENRIQUES

ISBN: 978-85-8425-004-2

Para Dufrenne, uma fenomenolo-gia da experiência estética deve se desenvolver em três momentos – a descrição, a análise transcendental e a tentativa de resgatar seu senti-do ontológico. No terceiro capítulo, aparecerão os passos dados por ele para o cumprimento da tarefa de compreender os dois primeiros momentos: descrição e análise tran-scendental da experiência estética. A terceira tarefa, o resgate da signifi -cação ontológica, aqui já aparecerá anunciada. De fato, o sentimento, ponto culminante da experiência estética, aparecerá como instância capaz de apontar para ela um senti-do que deve ser encontrasenti-do aquém da cisão entre sujeito e objeto, tor-nando possível, precisamente por isto, o encontro, o pacto verifi cado entre os dois.

O principal objetivo deste trabalho é seguir os passos que conduzi-ram Dufrenne, sobretudo em sua obra-prima Phénoménologie de l’ex-périence esthétique, publicada em 1953, à conclusão de que a análise fenomenológica aponta, ao fi nal, para uma signifi cação ontológica da experiência estética, direção de sentido que, segundo ele, deve ser

JOSÉ CARLOS HENRIQUES

Doutorando em Direito junto ao Programa de Pós-graduação da Uni-versidade Federal de Minas Gerais - UFMG (Conceito CAPES 6). Mestre em direito, pela Univerdade Presidente Antônio Carlos - UNIPAC- Campus de Juiz de Fora; Mestre em Filosofi a, pela Universidade Federal de Ouro Preto; Especializado em Direito Civil e Processo Civil. Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito Con-selheiro Lafaiete (2004), graduação em Filosofi a pela Pontifícia Universi-dade Católica de Minas Gerais (1994), graduação em Teologia pelo Instituto de Teologia São José - Mariana-MG (1994) e Atualmente é professor Ad-junto I-A e Coordenador do Curso de Direito na Faculdade Presidente Antônio Carlos de Itabirito - FUPAC; Coordenador do Grupo de Estudos em Filosofi a, Teoria do Direito e da Constituição, na Unipac-Itabirito. Tem experiência na área de Filosofi a, dedicando-se à pesquisa em Estética e Filosofi a da Arte, Ética e História da Filosofi a, bem como, na área do Direito Civil, Processual Civil e Con-stitucional, ocupa-se, atualmente, de estudos ligados à fi losofi a e à teoria do direito, bem como dos fundamen-tos do direito constitucional.

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