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14 Semântica, semânticas

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Academic year: 2021

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O estudo do significado, em sua dimensão mais ampla (semiótica) e em sua dimensão linguística (semântica), é, talvez, uma das mais antigas buscas do espírito humano. Em boa medida, essa empreitada se confunde com nossa busca incessante por significado para tudo o que vemos, senti-mos, enfim, experienciamos em nossa vivência diária.

O estudo do significado linguístico assume especial importância em sociedades letradas, embora a questão do significado não fosse menos importante em sociedades não letradas. A afirmação decorre do ato de que, em praticamente todas as culturas letradas, encontramos algum tipo de elaboração escrita, registrada, sobre o que as palavras e as sentenças de uma língua significam e como a significação das expressões nos permite agrupá-las em classes, uma das bases da confecção de gramáticas, de ma-nuais de bom falar, de obras sobre o uso correto da língua.

Parece que sempre houve e sempre haverá uma concepção humana “natu-ral” sobre o fato de que há formas melhores, mais adequadas de se usar uma língua e formas menos adequadas. Decorram essas concepções de onde for (se do próprio estrato social, se de ideologias ou de intuições pré-científicas, o fato é que elas inescapavelmente existem!), elas sempre têm alguma vin-culação com a questão central da garantia do significado das expressões.

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que tomam as formas mais diversas (por exemplo, de escritos de Gramática Normativa, de Linguística, de Filosofia, de Sociologia, de Psicologia, entre tantos outros) uma miscelânea de saberes nem sempre congruentes, nem sempre relevantes, nem sempre coerentes sobre esse objeto tão complexo que é o significado linguístico.

Devido a sua longa história e tradição, pode transparecer a um “leitor de fora” – um “leigo”, diríamos respeitosamente – que boa parte do trabalho em relação ao significado nas/das línguas naturais está feito e o que resta agora é simplesmente repassar e refinar esse conhecimento há muito acumulado. Porém, como costuma acontecer, nada poderia estar mais longe da verdade. Dificilmente outra afirmação poderia ser mais enganosa do que a que pressupõe que a ciência já dominou o que precisaria sobre o fenômeno da significação.

As diferentes “Semânticas”, ou seja, as diversas teorias ou vertentes de teorias sobre o estudo do significado linguístico estão ainda sendo feitas e por serem feitas, divergindo com relação à ênfase em diversos aspectos desse objeto, atuando em várias interfaces distintas, com inúmeras aplicações e dentro de referenciais teóricos diferentes, cada uma delas com seus compro-metimentos epistemológicos, sua metalinguagem e sua agenda de pesquisa. Toda teoria semântica é uma teoria em construção. Toda teoria semântica ainda está em busca de respostas básicas, pilares. Toda teoria semântica é uma jornada distante de seu fim. E se, por um lado, isso pode parecer desanimador ao leitor comum, por outro é incrivelmente desafiador para os estudiosos dedicados à causa. E, bem se sabe, para as almas dispostas, um desafio é muito mais do que um mote contra a imobilidade: é a própria energia que a sustém no decurso da jornada. Esse parece ser, exatamente, o caso de cada autor neste volume.

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entre si. Mas, além disso, é levar o leitor a notar o quanto de trabalho ainda há por ser feito, apresentando, mais do que a informação da diversidade, um leque de opções para quem tem curiosidade sobre a questão da significação ou, ainda, para quem queira trabalhar com o estudo do significado nas/das línguas naturais em qualquer uma dessas linhas.

As áreas aqui cobertas não são todas as possíveis e isso por conta de simples razões bem factuais: no Brasil (e, talvez, em nenhum lugar) não se praticam, sistemática e permanentemente, todas as formas de Semântica existentes. Além disso, algumas estão ainda em sua “infância”, o que dificul-ta encaixá-las no quadro mais tradicional que compõe um handbook como este. Ainda assim, o conjunto de abordagens apresentadas nos capítulos que se seguem serve para dar uma boa ideia, uma noção bastante consistente da dimensão do campo de estudos e de sua vivacidade.

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Se o longo parágrafo anterior parece um tanto complicado e enigmático, convidamos o leitor a mergulhar nos textos aqui reunidos. Eles certamente esclarecerão muitas das coisas ditas aqui, permitirão um começo de jornada em cada abordagem, um primeiro passo no rumo de compreender o que exatamente cada grupo de pesquisadores da Semântica quer descobrir e como pretende fazer isso. Trata-se de um livro organizado com o intuito de proporcionar ao estudante de graduação ou de pós-graduação, bem como ao leitor simplesmente interessado na questão da significação, um norteamento e uma identificação pessoal com alguma das vertentes, proporcionando-lhes as informações básicas necessárias para a compreensão das áreas e uma possível escolha pessoal. Mas, obviamente, nem todas as informações estarão aqui, pois, afinal, há muito trabalho em Semântica a ser feito, seja qual for a área ou a ênfase que se queira.

Cada autor atuou aqui, no melhor sentido que isso possa ter, como um

mercador de sonhos – de seus próprios sonhos, isso é evidente –, mostrando

ao leitor que o tapete vermelho está estendido a cada um que deseje, séria e comprometidamente, adentrar o salão nobre de cada uma dessas semânticas, mas, sabendo de antemão que, logo após a sala de honras, logo ali atrás, existe uma oficina onde se trabalha arduamente, dia após dia, em busca de respostas que ajudem a entender por que a questão da significação, de alguma forma, diz respeito a nos entender, a compreender o que somos e por que somos

exatamente isso que somos. É realmente incrível constatar isso, mas o fato

de sermos capazes de atribuir sentido a uma coisa qualquer – a uma simples palavra monossilábica, por exemplo – diz muito do que é, em sua essência mais pura, ser um humano!

Mais que tudo, este livro é um convite: um convite à pesquisa, à participa-ção e à compreensão da enorme diversidade de fazeres e saberes, de caminhos e de perspectivas, de realidades e de bons sonhos hoje cobertos pelo enorme guarda-chuva do – para muitos, ainda misterioso – nome “Semântica”.

Boa leitura!

Os organizadores

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Não foi por acaso ou por falta de ótimas opções que Rodolfo Ilari foi convidado para prefaciar este primeiro handbook brasileiro de Semântica. Sua contribuição à constituição de uma Semântica brasileira como professor de Linguística na Universidade Estadual de Campinas de 1969 a 1998, ano em que se aposentou, foi enorme e não pode ser medida apenas por dados curriculares. Por suas mãos, como alunos ou orientandos, passaram muitos dos pesquisadores que hoje labutam e ajudam a construir a Semântica no Brasil. Os dois organizadores deste livro são exemplos disso.

Após aposentar-se como professor da Unicamp, Rodolfo Ilari foi pro-fessor titular de Português, por concurso, na Universidade de Estocolmo. Além dessa trajetória de docência, Rodolfo Ilari sempre se notabilizou pela seriedade na pesquisa linguística e escreveu livros pilares sobre Semântica, Linguística Românica e Gramática do Português.

Referências

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