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Exploração de flores nativas do cerrado: o caso de Alto Paraíso - GO

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(1)

Dagoberto Arraes Gutemberg de Oliveira

EXPLORAÇÃO DE FLORES NATIVAS DO CERRADO -

O CASO DE ALTO PARAÍSO-GO

BRASÍLIA 2002

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM

(2)

UNIVERSIDADE CATÓLICA DE BRASÍLIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM

PLANEJAMENTO E GESTÃO AMBIENTAL

DAGOBERTO ARRAES GUTEMBERG DE OLIVEIRA

EXPLORAÇÃO DE FLORES NATIVAS DO CERRADO -

O CASO DE ALTO PARAÍSO-GO

(3)

DAGOBERTO ARRAES GUTEMBERG DE OLIVERIA

EXPLORAÇÃO DE FLORES NATIVAS DO CERRADO -

O CASO DE ALTO PARAÍSO-GO

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental da Universidade Católica de Brasília como pré-requisito para obtenção do Título de Mestre em Planejamento e Gestão Ambiental.

Orientadora: Profª Dra. Sueli Corrêa de Faria

(4)

F 103 Oliveira, Dagoberto Arraes Gutemberg

Exploração de Flores Nativas do Cerrado - O Caso de Alto Paraíso – GO / Dagoberto Arraes Gutemberg de Oliveira. – Brasília, 2002.

156f. : il.

Orientador: Sueli Corrêa de Faria

Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica de Brasília, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Planejamento e Gestão Ambiental.

Bibliografia: f ...-...

1 – Exploração de flores do cerrado em Alto Paraíso – GO; 2 – Manejo florestal não madeireiro; 3 – Manejo sustentável de flores do cerrado; 4 – Extrativismo Vegetal.

(5)

TERMO DE APROVAÇÃO

Dissertação defendida e aprovada, em 18 de dezembro de 2002, pela banca examinadora constituída por:

____________________________________________________ Profª Dra. Sueli Corrêa de Faria

Orientadora

____________________________________________________ Prof. Dr. Antônio José Andrade Rocha

Examinador Interno

(6)

ÀProfessora Sueli

(7)

AGRADECIMENTOS

À Universidade Católica de Brasília e todo o seu corpo docente, pela dedicação e o carinho dispensado em um período muito importante da minha vida.

Aos colegas de turma, pela troca de experiências e o companheirismo demonstrado durante o curso.

(8)

O parasita agarra tudo e não dá nada; o hospedeiro dá tudo e não agarra nada. O direito de dominação e de propriedade reduz-se ao parasitismo.

A simbiose define-se pela reciprocidade: aquilo que a natureza dá ao homem é o que este deve dar a ela, tornada sujeito de direito.

(9)

SUMÁRIO

Lista de Figuras

Abstract

Resumo

1. INTRODUÇÃO... 14

1.1. Situação Problemática...14

1.2. Objetivos...16

1.2.1. Objetivo Geral...16

1.2.2. Objetivos Específicos ...16

1.3. Justificativa ...17

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA... 19

2.1. Desenvolvimento Sustentável: conceito e estratégia de implementação ...19

2.1.1. Agenda 21: compromisso mundial com a implantação do desenvolvimento sustentável ...24

2.1.1.1. Extrativismo vegetal na Agenda 21 global ...26

2.1.2. Agenda 21 brasileira...27

2.1.2.1. Extrativismo vegetal na Agenda 21 brasileira ...28

2.1.3. Convenção sobre Diversidade Biológica ...29

2.2. Manejo de ecossistemas: filosofia e princípios...31

2.2.1. A abordagem do Programa O Homem e a Biosfera ...32

2.2.2. A abordagem biorregional ...34

2.3. Manejo sustentável de recursos florestais...38

2.3.1. Manejo florestal sustentável: critérios e indicadores ...42

2.3.2. Manejo florestal sustentável no Brasil ...46

2.3.3. Legislação Florestal Brasileira...48

3. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO: O MUNICÍPIO DE ALTO PARAÍSO-GO ... 50

3.1. Localização...50

3.2. Aspectos do meio natural mais diretamente relacionados com a ocorrência de flores do Cerrado...54

3.3. As principais espécies de flores do Cerrado com potencial econômico ...57

(10)

3.5. A importância da exploração de flores na economia local...69

4. METODOLOGIA ... 72

4.1. Introdução...72

5. RESULTADOS: EXPLORAÇÃO DE FLORES DO CERRADO EM ALTO PARAÍSO- GO ... 74

5.1. O sistema atual de exploração de flores do Cerrado no Município de Alto Paraíso - GO ...74

5.1.1. A extração e beneficiamento de flores do Cerrado no município ...75

5.1.2. Comercialização de flores coletadas ou beneficiadas em Alto Paraíso...80

5.1.2.1. O mercado ...80

5.1.2.2. A comercialização...82

6. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 84

(11)

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - COLETA DE FLORES NATIVAS POR EXTRATIVISTA NA CHAPADA DOS

VEADEIROS... 15

FIGURA 2 - CRITÉRIOS DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL DA ORGANIZAÇÃO

INTERNACIONAL DE MADEIRA TROPICAL... 43

FIGURA 3 – PONTOS DE OCORRÊNCIA DE FLORES DO CERRADO NA CHAPADA DOS

VEADEIROS... 53

FIGURA 4 – FITOFISIONOMIA DA CHAPADA DOS VEADEIROS... 56

FIGURA 5 - FITOFISIONOMIA DA ÁREA DE ESTUDO: CAMPO LIMPO ÚMIDO COM MATAS CILIARES AO FUNDO... 56

FIGURA 6 - COLETA DE FLORES PARA CONFECÇÃO DE ARTESANATO... 58

FIGURA 7 - ARMAZENAMENTO DE FLORES PARA CONFECÇÃO DE ARTESANATO... 59

FIGURA 8 - TAXA DE CRESCIMENTO DA POPULAÇÃO DE ALTO PARAÍSO – 1970-2000 65

FIGURA 9 – COMERCIALIZAÇÃO DE PRODUTOS BENEFICIADOS NO GALPÃO DA

ASSOCIAÇÃO DOS PEQUENOS EXTRATIVISTAS DE FLORES DO CERRADO DA

CHAPADA DOS VEADEIROS... 68

FIGURA 10 – RENDIMENTO MÉDIO POR DOMICÍLIO EM ALTO PARAÍSO -1990 ... 71

FIGURA 11 - FLORES DEPENDURADAS PARA SECAGEM DENTRO DE CASA... 76

FIGURA 12 – PRODUTIVIDADE MÉDIA E MARGINAL DA COLETA DE FLORES EM ALTO

PARAÍSO... 79

FIGURA 13 - REGIÃO DE POUSO ALTO NO MUNICÍPIO DE ALTO PARAÍSO... 86

(12)

ABSTRACT

(13)

RESUMO

(14)

1. INTRODUÇÃO

1.1. Situação Problemática

A exploração de flores nativas do Cerrado de altitude, no município de Alto Paraíso-GO, com coletas realizadas principalmente em vales, iniciou-se por volta de 1967, em resposta a um crescimento do potencial de mercado trazido pela implantação de Brasília, e serve à complementação da renda de pelo menos um terço da população municipal. Dentre as principais espécies coletadas -

Euriocaulaceas, Gramíneas, Cyperaceas e compostas – encontram-se plantas raras,

endêmicas ou mesmo ameaçadas de extinção, como é o caso da gramínea

Mesosetum bifarium, conhecida em função de uma única coleta efetuada por

Glaziou, em 1895 (Filgueiras, 1989).

O município de Alto Paraíso é uma das poucas áreas de ocorrência dessas flores típicas do bioma Cerrado, cuja exploração foi totalmente incorporada à cultura local, como fonte de renda complementar para as famílias envolvidas na sua coleta e pré-beneficiamento. Todavia, a técnica de coleta atualmente utilizada, com corte raso dos caules ou, simplesmente, extração da planta mãe, poderá colocar em risco a sustentabilidade da própria atividade extrativista, inviabilizado a coleta de flores e causando perdas irreparáveis à biodiversidade local (Freire, 1994).

(15)

FIGURA 1 - Coleta de flores nativas por extrativista na Chapada dos Veadeiros

A comercialização das flores nativas, extraídas e pré-beneficiadas em Alto Paraíso, é feita por agentes intermediários (“atravessadores”), que contratam a totalidade da colheita e buscam a matéria prima no próprio local. O processo rudimentar de beneficiamento resulta em um baixo aproveitamento do material coletado, trazendo prejuízos consideráveis ao extrativista, uma vez que se constitui num fator limitante ao seu poder de negociação com o atravessador. Outro problema na comercialização é o baixo preço de mercado do produto pré-beneficiado. Assim, o extrativista de Alto Paraíso obtém uma renda baixa na extração e pré-beneficiamento das flores coletadas, ficando o lucro maior da exploração com os produtores e comerciantes de artesanato sediados em outros centros urbanos, bem como com as empresas exportadoras, que vendem as flores secas para os mercados da Europa, América do Norte e Japão. No mercado interno, os intermediários também fazem o papel de atacadistas, beneficiando e comercializando as flores diretamente em feiras de artesanato e lojas especializadas (Freire, 1994).

Esse processo perverso, comum ao extrativismo e à pequena produção agrícola brasileira, pode ser revertido, no caso da exploração de flores nativas do Cerrado de altitude, por meio de uma gestão adequada, baseada nos princípios de sustentabilidade preconizados pela Agenda 21, que evite a destruição de campos florísticos sui generis e, ao mesmo tempo, garanta a internalização dos benefícios da

(16)

um todo. Caso isso não ocorra, em poucos anos será constatada a extinção, tanto das flores nativas quanto de outros recursos naturais utilizados em sua exploração, com conseqüente empobrecimento das famílias que praticam o extrativismo, para as quais a venda de flores representa uma importante fonte de complementação de renda (Freire, 1994).

Visando minimizar os pontos de estrangulamento, o governo militar e de acordo com o padrão estrutural de seus programas de desenvolvimento, foi implantado o III Plano Nacional de Desenvolvimento – PND, por volta de 1980, que sérvio de base para a idealização do Programa de Desenvolvimento Integrado de Alto Paraíso, enquanto um marco balizador de uma proposta de desenvolvimento econômico e social da microrregião e enquanto uma primeira tentativa de atuação, mais sistematizada e melhor integrada, de forma a atender as regiões mais desfavorecidas do Estado.

1.2. Objetivos

1.2.1. Objetivo Geral

Analisar o processo de exploração de flores nativas do Cerrado no município de Alto Paraíso - GO, com vistas a identificar alternativas de manejo que garantam sua sustentabilidade e o acesso da população local aos benefícios econômicos e sociais dele decorrentes.

1.2.2. Objetivos Específicos

• Caracterizar o sistema de exploração de flores nativas do Cerrado no município de Alto Paraíso-GO, em todas as suas etapas: extração, beneficiamento e comercialização; e

(17)

1.3. Justificativa

Conservar a biodiversidade torna-se cada vez mais imperioso, em função de dois fatos que certamente marcarão a economia do Século XXI: o surgimento da biotecnologia como veículo para desenvolvimento de remédios, alimentos, processos industriais e novos produtos químicos; e o reconhecimento dos chamados “serviços de ecossistema” para manutenção do meio ambiente global (Brandão, 2000).

Por se tratar de uma ocorrência provavelmente única no mundo, o desaparecimento de espécies típicas do Cerrado pode significar sua extinção em todo o planeta, com perda irreparável de um potencial totalmente inexplorado.

As crescentes ameaças à conservação da biodiversidade, na Chapada dos Veadeiros, uma região que é parte da Reserva da Biosfera do Cerrado, apontam para a necessidade de realização de estudos que possibilitem a identificação de alternativas de gestão daquelas atividades antrópicas que exploram predatoriamente os recursos naturais e coloca em risco a sobrevivência desse patrimônio. A exploração de flores nativas insere-se nessa tipologia de atividade, cujo potencial de danos pode ser bastante alto, caso não sejam adotados modelos sustentáveis de manejo (Funatura, 1999).

Segundo a Associação Brasileira para Conservação das Aves - PROAVES (IBAMA, 1994), no município de Alto Paraíso, as ameaças à conservação da biodiversidade expressam-se, principalmente, por meio de: a) desmatamento oriundo das atividades agropecuárias; b) urbanização crescente do entorno do Parque Nacional Chapada dos Veadeiros - PNCV; e c) coleta predatória de produtos da flora e da fauna, realizada por camadas empobrecidas da população, para obter alimento e energia (pela queima de material vegetal).

(18)

nível médio de renda e baixa escolaridade, que extrai e faz um pré-beneficiamento de flores nativas do Cerrado, defrontando-se, no seu dia-a-dia, com os seguintes problemas:

• Padrão de moradia precário;

• Condições de transporte precárias;

• Alta dependência de “atravessadores”;

• Pouco domínio da técnica de secagem de flores;

• Falta de local de armazenagem e conservação das flores; e

• Dificuldades de acesso aos campos de flores nativas, devido a bloqueios temporários ou mesmo definitivos por parte dos proprietários das terras.

Para Freire (1994), esses problemas adquirem um significado especial no contexto da conservação da biodiversidade do Cerrado, dado que a maioria das flores nativas desse bioma, que são comercializadas no Brasil e no exterior, provém do município de Alto Paraíso, onde a população extrativista representa cerca de 35% da população total, residindo principalmente na sede (34,95%), no povoado de Moinho (cerca de 23,30%) e São Jorge (19,41%). O restante dos coletores está espalhado pelos povoados menores e nas fazendas da região.

Como os extrativistas habitam os arredores dos campos de coleta, dos quais nem são proprietários nem detêm a posse da terra, o acesso a esses é crucial para a manutenção de sua atividade, fazendo-os desejar a posse coletiva de uma área de extração.

(19)

para a população coletora, bem como novas oportunidades de trabalho, a partir de um maior envolvimento do município no beneficiamento e comercialização das flores coletadas.

2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O desenvolvimento do tema desta dissertação – a exploração de flores nativas do Cerrado – exigiu uma revisão bibliográfica em duas linhas temáticas complementares, conforme sintetizado neste capítulo. A primeira delas, necessária ao entendimento da questão da sustentabilidade de atividades que envolvem extrativismo vegetal, abrange uma discussão conceitual sobre desenvolvimento sustentável e as estratégias atualmente em voga para implementá-lo, cuja expressão máxima é a Agenda 21 global. A segunda linha trata da gestão do processo de exploração de produtos vinculados ao extrativismo vegetal (como é caso das flores do Cerrado), em todas as suas fases: coleta, beneficiamento e comercialização.

2.1. Desenvolvimento Sustentável: conceito e estratégia de implementação

O conceito de desenvolvimento sustentável ganhou notoriedade com a publicação, em 1987, do Relatório Brundtland - Nosso Futuro Comum, pela Comissão das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD, cujas recomendações constituíram a base primordial da agenda da Conferência da Organização das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992, vinte anos após a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano, que aconteceu em Estocolmo, em 1972. De acordo com esse Relatório, “desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento que faz face às necessidades da geração presente sem comprometer o atendimento das necessidades das gerações futuras”.

(20)

uma estratégia de desenvolvimento de longo prazo, que estabeleça padrões de produção com equidade social e respeito ao meio ambiente (ECLAC, 1991). Goodland et al. (1991) concordam em que essa estratégia deve concentrar-se nos seguintes pontos:

• Deter o consumo excessivo

• Incorporar o conceito de complementariedade entre o capital “natural” e aquele feito pelo homem

• Subestimar o poder do “remédio tecnológico”.

De acordo com Sachs (2000), para se alcançar o desenvolvimento sustentável, o planejamento do desenvolvimento precisa levar em conta, simultaneamente, as seguintes dimensões de sustentabilidade:

Sustentabilidade social: parte do princípio da justiça social, ou seja, embasa-se nos conceitos de melhor distribuição de renda e de bens, de modo a permitir a redução das diferenças nos padrões de vida entre as classes sociais.

Sustentabilidade econômica: refere-se ao ótimo locacional e à gestão eficiente dos recursos, assim como a um constante fluxo de inversões públicas e privadas que, necessariamente, devem ser analisadas não somente pela ótima do retorno empresarial, mas também em termos de retorno social.

Sustentabilidade ecológica: relaciona-se com o uso adequado dos recursos de diversos ecossistemas, com destaque para os produtos fósseis e resíduos de origem industrial. Esse processo de simbiose pode ser equilibrado por meio de tecnologias apropriadas ao desenvolvimento urbano, rural e industrial. Define um arcabouço institucional ajustando o desenho das instituições a um novo modelo de proteção dos recursos naturais.

(21)

Sustentabilidade cultural: inclui a procura de raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, processos que busquem mudanças dentro da comunidade cultural, e que traduzam o conceito de desenvolvimento sustentável em um conjunto de soluções específicas para cada local.

Sustentabilidade ambiental: consiste em se respeitar à capacidade de suporte, resistência e resiliência dos ecossistemas.

Sustentabilidade política nacional: baseada na democracia e no respeito aos direitos humanos, de modo que o Estado implemente um projeto nacional em parceria com todos os atores desse processo.

Sustentabilidade política internacional: consiste na aplicação do princípio da precaução na gestão dos ativos ambientais, assim como em garantir a paz entre as nações e promover a cooperação internacional nas áreas financeira e de ciência e tecnologia.

No senso comum, cunhou-se uma noção de desenvolvimento sustentável que, via de regra, mistura crescimento econômico com preservação ambiental e ausência de poluição. Assim, torna-se cada vez maior a preocupação com a conservação da biodiversidade do planeta. Embora, como aponta Neves (1995), todas as características ambientais sejam reciprocamente influentes, a biodiversidade é a que mais relação possui com variáveis naturais, aqui consideradas como as variáveis mais independentes da vontade humana, se comparadas às culturais, econômicas, políticas e sociais.

Essa noção encontra respaldo no próprio Relatório Brundtland, que operacionaliza o conceito nos seguintes termos:

(22)

presente e futuro para satisfazer as necessidades humanas. O conceito pressupõe limites nos recursos do meio ambiente, no estado atual da tecnologia e da organização social e na capacidade da biosfera para absorver os efeitos das atividades humanas, mas tanto a tecnologia quanto à organização social podem ser organizadas e melhoradas de modo a abrir caminho para uma nova era de crescimento econômico” (Camino & Mueller, 1994).

Constanza et al. (1991) afirmam que, embora sustentabilidade não implique estagnação econômica, é preciso distinguir entre crescimento e desenvolvimento. O crescimento econômico, com um incremento na quantidade, não pode ser sustentável indefinidamente em um planeta finito. Desenvolvimento econômico – isto é, melhoramento na qualidade de vida sem necessariamente causar um aumento na quantidade de recursos consumidos – pode, sim, ser sustentável e deve ser o objetivo principal de políticas públicas de longo prazo. Em síntese, esses autores definem sustentabilidade como uma relação entre os sistemas econômicos humanos e sistemas ecológicos em que:

(i) A vida humana possa continuar indefinidamente; (ii) Os seres humanos possam prosperar; e

(iii) Culturas humanas possam desenvolver-se, mas na qual os efeitos das atividades humanas permaneçam dentro de certos limites, de modo a não destruir a diversidade, complexidade e funções do sistema ecológico de suporte à vida.

A questão da capacidade suporte dos sistemas ecológicos11, implícita no item iii do parágrafo anterior, é de vital importância para a compreensão dos limites que a base de recursos naturais impõe ao crescimento econômico. Todavia, são escassos os textos de economia sobre esse tema. Em geral, os economistas não se preocupam com a finitude dos recursos naturais e pressupõem ser esses, total ou quase totalmente, substituíveis pela tecnologia (Brown, 1991). Assim, fica evidente a

1

1Capacidade suporte é um conceito básico da ecologia que significa que “à medida que aumentam o

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mudança de paradigma proposta na Conferência do Rio. O conceito de desenvolvimento sustentável propõe uma mudança no teor do crescimento econômico quando incorpora a ele a questão das externalidades, ou seja, os danos ambientais provocados pela atividade econômica, colocando assim os países desenvolvidos em débito com a recuperação dos ecossistemas do planeta.

Evidentemente, o crescimento quantitativo ilimitado da produção material não pode sustentar-se indefinidamente e, para evitar-se o esgotamento do “capital natural” - tanto como fonte de recursos, quanto como sumidouro de resíduos - o processamento de energia e materiais deve ser realizado dentro dos limites impostos pela capacidade suporte dos ecossistemas, que pode variar com a disponibilidade e acesso a recursos tecnológicos. Entretanto, mesmo a interpretação de Daly (1991) de um “desenvolvimento qualitativo” inclui crescimento material, desde que baseado no uso mais eficiente da energia e dos recursos naturais, com reciclagem e redução de resíduos e poluentes. Esse autor admite que a produtividade do capital natural pode ser aumentada dentro de certos limites, especialmente mediante o aumento da eficiência final do produto.

O modelo de desenvolvimento centrado no crescimento econômico “quantitativo” fez com que, tanto no âmbito da economia liberal quanto no da economia marxista, as advertências dos críticos da destruição ecológica tenham sido subestimadas em favor da metafísica do progresso tecnológico, ao longo de todo o século XX, mas com maior força no contexto da “Guerra Fria” do início dos anos 60, quando ficou nítida para o mundo a emergência de duas potências, dos escombros da II Guerra Mundial: os Estados Unidos da América - EUA e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS. Naquela época, os EUA detonaram uma guerra psicológica no ocidente, que buscava identificar o “american way of life” com

o que é desenvolvido e moderno, imputando à outra potência a fama de retrógrada. O desenvolvimento era colocado sob uma ótica reducionista e identificado com a importação, pelos demais países, dos valores culturais da sociedade norte-americana, assim como de seu modelo de industrialização (Fonseca, 1999).

(24)

que serviria de fermento para que surgisse um fenômeno histórico bem atual – o chamado terceiro setor. Inclusive os cientistas e intelectuais que começaram a formular com mais intensidade a idéia de uma política ambiental, a partir da década de sessenta, optaram por se dirigir prioritariamente à opinião pública, e só secundariamente aos poderes públicos. Um caso exemplar foi o da bióloga Raquel Carson, que em 1962 optou por escrever um best seller – Primavera Silenciosa -, e

não um memorando, para denunciar os estragos causados pelo inseticida DDT (diclorodifeniltricloroetano) na biodiversidade. Estava caracterizado o momento fundador do movimento ambientalista mundial. As instituições federais de política ambiental, por exemplo, surgiram apenas no final da década de 60 e a Secretaria Especial do Meio Ambiente brasileira, após a Conferência de Estocolmo, em 1972, ou seja, todas elas foram passos posteriores ao da mobilização de nível não governamental (PÁDUA, 1996).

O alcance multisetorial (VIOLA et. al., 1995) de que desfruta, hoje, a questão ambiental insere-se em um processo histórico singular de difusão pública da problemática ecológica, que fez com que o uso social da palavra "ecologia" se expandisse enormemente, transformando um termo, criado no século passado para denominar um ramo especifico da biologia, em um dos signos primordiais do imaginário coletivo da nossa época. A palavra “ecologia” penetrou nos diversos ramos do conhecimento, na ação social, nas relações internacionais, na política, na propaganda, na cultura de massas, etc., constituindo um fenômeno que diversos analistas e historiadores passam a reconhecer como "a era da ecologia" (WOSTER, 1995).

2.1.1. Agenda 21: compromisso mundial com a implantação do desenvolvimento sustentável

(25)

desenvolvimento que produziu os estilos de vida desfrutados, atualmente, pelo mundo industrializado e uma privilegiada minoria nos países em desenvolvimento (STRONG, 1992).

Apesar da dificuldade em se orientar o crescimento econômico pelos limites impostos pela capacidade suporte dos ecossistemas, devido principalmente a limitações no conhecimento científico (Faria, 1996), no acesso à tecnologia e na distribuição e acesso aos recursos naturais para a produção, a Agenda 21 representa um avanço em termos políticos, que a sociedade atual percebe como irreversível, por tentar promover, em escala mundial, um novo padrão de desenvolvimento que concilia proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. A adesão voluntária aos seus princípios tem favorecido a inserção de novas posturas frente ao uso dos recursos naturais, a alteração de padrões de consumo e a adoção de tecnologias mais brandas e limpas, consideradas imprescindíveis à manutenção da qualidade do ambiente e dos complexos ciclos da biosfera.

A temática da Agenda 21 é abrangente e, seu conteúdo, de caráter essencialmente operacional. Propõe formas de tratar os problemas planetários, inclusive, estimando os custos de investimentos para que esses problemas deixem de existir. Ao indicar estratégias para o alcance do desenvolvimento sustentável, identifica atores e parceiros, metodologias para obtenção de consensos e os mecanismos institucionais necessários à sua implementação e monitoramento. Estabelece, basicamente, duas grandes áreas de ação – as dimensões sociais e econômicas do desenvolvimento sustentável e a conservação e gerenciamento dos recursos para o desenvolvimento sustentável, e sugere que cada país elabore sua própria agenda, em todos os níveis de governo - nacional, estadual ou municipal -, dentro das premissas básicas da participação social, da descentralização e da disseminação e acesso à informação (MMA, 2000).

(26)

procedimentos de avaliação de impacto ambiental e outras decisões que afetem as comunidades em que vivem e trabalham.

2.1.1.1. Extrativismo vegetal na Agenda 21 global

São vários os capítulos da Agenda 21 (CNUMAD, 1997) que sugerem ações para uma gestão adequada de atividades extrativistas. Dentre eles, merecem destaque especial os capítulos 10 e 15, sintetizados abaixo.

Capítulo 10 – Abordagem integrada do planejamento e gerenciamento dos recursos terrestres – parte do pressuposto que as crescentes necessidades humanas e a expansão das atividades econômicas estão exercendo uma pressão cada vez maior sobre os recursos terrestres, criando competição e conflitos e tendo como resultado seu uso inadequado, para sugerir que a abordagem integrada do planejamento e do gerenciamento físico e do uso da terra é uma maneira eminentemente prática de se resolver, hoje, os conflitos e avançar para um uso mais eficaz e eficiente da terra e de seus recursos naturais, se quisermos atender as necessidades humanas de maneira sustentável, no futuro. Examinando todos os usos da terra de forma integrada, é possível reduzir os conflitos ao mínimo, fazer as alternâncias mais eficientes e vincular o desenvolvimento social e econômico à proteção e melhoria do meio ambiente, contribuindo assim para atingir os objetivos do desenvolvimento sustentável.

Capítulo 15 – Conservação da diversidade biológica – em apoio à implementação da Convenção sobre Diversidade Biológica, também resultante da Conferência Rio/92, este capítulo é o que contém a maior gama de sugestões para uma gestão adequada da exploração de flores do Cerrado. Constata que o declínio da diversidade biológica resulta, em grande parte, da atividade humana, e representa uma séria ameaça ao desenvolvimento humano, dado que os recursos biológicos constituem um capital com grande potencial de produção sustentável. Para uma exploração sustentável propõe que seja reforçada a capacidade de aferir, estudar e observar sistematicamente, bem como avaliar a diversidade biológica, e que se estabeleça uma cooperação internacional para a proteção in situ dos

(27)

a melhoria das funções dos ecossistemas. O sucesso dessas ações é vinculado à participação e apoio das comunidades locais.

Neste capítulo é ressaltado que os Estados nacionais têm o direito soberano de explorar seus recursos biológicos, de acordo com suas políticas ambientais, bem como a responsabilidade de conservar sua diversidade biológica, de usar seus recursos biológicos de forma sustentável e de assegurar que as atividades empreendidas no âmbito de sua jurisdição ou controle não causem dano à diversidade biológica de outros Estados ou de área além dos limites de jurisdição nacional.

2.1.2. Agenda 21 brasileira

A Agenda 21 brasileira (MMA, 2002), cuja elaboração foi efetivamente iniciada em 1997, com a instalação da Comissão de Políticas de Desenvolvimento Sustentável e Agenda 21 Brasileira, no âmbito da Câmara de Recursos Naturais da Casa Civil da Presidência da República, foi concebida como um processo contínuo de definição de políticas e de construção de parcerias, entre o governo e a sociedade civil organizada, para implementá-las (MMA, 1997). Esse processo desenvolveu-se em torno de seis áreas temáticas, que são:

• Cidades sustentáveis

• Agricultura sustentável

• Infra-estrutura e integração regional

• Gestão de recursos naturais

• Redução de desigualdades sociais

• Ciência e tecnologia e desenvolvimento sustentável.

(28)

investimentos, nos orçamentos participativos, para além das demandas pontuais locais, voltando-os para estratégias coletivas mais amplas (RIBEIRO, 2000).

2.1.2.1. Extrativismo vegetal na Agenda 21 brasileira

As estratégias relacionadas com a exploração de produtos extrativistas vegetais inserem-se no tema Gestão de Recursos Naturais da Agenda 21 Brasileira (MMA, 2000). São em número de cinco e de caráter bastante abrangente, de modo que podem ser perfeitamente adotadas com vistas a garantir a sustentabilidade da exploração de flores nativas do Cerrado em Alto Paraíso, particularmente a Estratégia 2, conforme descrito abaixo.

A Estratégia 1 refere-se à necessidade de regulação do uso e ocupação do solo por meio de zoneamento e de gerenciamento de unidades de conservação, corredores ecológicos, ecossistemas e bacias hidrográficas. A Estratégia 2 propõe o desenvolvimento e estímulo a procedimentos de proteção e conservação das espécies (in situ e ex situ), sugerindo iniciativas que conciliem o manejo sustentável,

na natureza e em ambientes controlados, de espécies ameaçadas de extinção e espécies de potencial econômico. A Estratégia 3 aborda a necessidade de se aumentar o conhecimento científico sobre a biodiversidade e disseminar esse conhecimento. A Estratégia 4 sugere medidas de controle da qualidade ambiental – monitoramento, fiscalização, instrumentos econômicos, mecanismos de certificação - com vistas à proteção e disciplinarmente do uso dos recursos naturais e maior eficiência energética. Finalmente, a Estratégia 5 fala da implementação de medidas estruturais – fortalecimento institucional, capacitação, cooperação internacional – em apoio à gestão de recursos naturais. Essas estratégias são condicionadas às premissas:

i. Descentralização e desconcentração das ações de governo

ii. Participação de todos os segmentos sociais na conservação dos recursos naturais e biodiversidade

iii. Interdisciplinaridade na abordagem da gestão de recursos naturais,

(29)

2.1.3. Convenção sobre Diversidade Biológica

A proteção da biodiversidade, nos últimos anos, tem sido objeto de atenção, especialmente por parte da Organização das Nações Unidas e de organizações não-governamentais, que a vinculam à proteção das florestas tropicais do planeta. Isso porque, além de mais heterogêneas que as florestas temperadas ou boreais, as florestas tropicais recobrem hoje superfícies substancialmente maiores, apesar do ritmo de devastação de 11,5 milhões de ha/ano. A título de exemplo, o bioma Mata Atlântica, que cobria 15% do território brasileiro, na época do descobrimento, encontra-se hoje reduzido a 7% de sua cobertura original (MMA, 1999), apesar do Código Florestal determinar que 20% das propriedades rurais naquele bioma devam manter a cobertura florestal nativa, e de definir topos de morro, nascentes e matas ciliares como áreas de preservação permanente.

Segundo a organização não governamental Conservation International

(IUCN, 1992), a forma mais eficiente de se conservar a biodiversidade é a prevenção contra a destruição ou a degradação dos habitats. A instituição ressalta que a proteção de habitats e a cuidadosa gestão do uso dos recursos podem salvar da extinção uma grande parcela da biodiversidade e chama a atenção para o fato de que a salvação de uma espécie significa agir sobre muitos ecossistemas e intervir nos vários usos do solo, exigindo uma integração estreita com os planos regionais de conservação e desenvolvimento.

As políticas e estratégias atuais de proteção da biodiversidade do planeta orientam-se basicamente pela Convenção sobre Diversidade Biológica-CDB, mais um dos frutos da Conferência do Rio. O Brasil foi o primeiro país a assiná-la oficialmente, e o Congresso Nacional ratificou-a no início de 1994, por meio do Decreto Legislativo nº 2/94.

(30)

adequada de tecnologias pertinentes, levando em conta todos os direitos sobre tais recursos e tecnologias, e mediante financiamento adequado”.

Com essa Convenção, estabeleceu-se um novo código de conduta, no plano internacional, no que diz respeito à biodiversidade, cujo conceito passou a incluir, pela primeira vez, o componente genético. Nela, a biodiversidade é abordada de modo abrangente e sua conservação é associada ao uso sustentável. O acesso a recursos genéticos é condicionado à transferência de tecnologia e é incorporada a preocupação com os interesses e direitos das populações tradicionais (ALBAGLI, 1998).

Como principal referência internacional para o debate e ações relativas à conservação da biodiversidade, a CDB é parte e expressão de uma dinâmica ainda em curso de disputas e de alianças entre os distintos atores, no que se refere a seus desdobramentos, em diferentes escalas. Assim, a consecução de seus objetivos passa pela natureza diferenciada das preocupações e interesses defendidos pelas nações conservadoras e provedoras de diversidade biológica - como o Brasil e outros países tropicais - e aqueles defendidos pelas nações consumidoras de biodiversidade (países industrializados, consumidores de produtos da diversidade biológica e de recursos genéticos para o desenvolvimento biotecnológico). Estas últimas manifestam preocupação com as taxas de extinção da diversidade biológica e propõem caminhos guiados por seus interesses específicos. Já as nações provedoras preocupam-se em obter maior retorno econômico da utilização de seu patrimônio biológico, com vistas a melhorar a qualidade de vida de sua população e custear a conservação da diversidade biológica.

(31)

CIDES22, promover parceria entre o Poder Público e a sociedade civil na conservação da diversidade biológica, utilização sustentável de seus componentes e repartição justa e eqüitativa dos benefícios dela decorrentes”.

Atendendo uma das recomendações da CDB, decidiu-se, também pela elaboração de uma Estratégia Nacional para a Conservação e Utilização Sustentável da Diversidade Biológica, sob a responsabilidade do MMA, a partir da identificação dos grandes gargalos e oportunidades, bem como das áreas que necessitam de maior investimento em conservação da biodiversidade, no país.

2.2. Manejo de ecossistemas: filosofia e princípios

Diversos autores (MILLER, 1997; COUNCIL OF ENVIRONMENTAL QUALITY, 1995; HANSEN & DI CASTRI, 1992; HAVEH & LIEBERMAN, 1984) chamam atenção para o fato de que, a partir da década de 80, tem aumentado o conhecimento sobre as relações homem-natureza, com campos emergentes da conservação biológica e de ecossistemas e do estudo da paisagem levando crescentemente o rigor científico para o enfrentamento das perdas de biodiversidade e para o manejo sustentável de recursos, em especial no que se refere à análise sistemática de impactos antropogênicos e das mudanças naturais em ambientes florestais, insulares e marinhos, dentre outros.

O termo ecossistema tem uma enorme abrangência. Toda a biosfera pode ser apreendida como um único ecossistema. Ellenberg (1973), por exemplo, distingue 5 categorias de ecossistemas, conforme o tamanho do território que cada ecossistema ocupa: Mega, Macro, Meso, Micro e Nanoecossistemas. Os ecossistemas “terra firme” e “águas interiores”, assim como os “urbano-industriais”, pertencem à categoria dos mega-ecossistemas. Florestas, estepes, lagos e áreas de cultivo são exemplos de macroecossistemas, que vão então se subdividindo em mesoecossistemas, que por sua vez se subdividem em microecossistemas, e assim

2

2

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por diante. Os objetos principais de pesquisa têm sido os microecossistemas ou partes representativas destes.

Os avanços no conhecimento permitiram o surgimento de abordagens inovadoras de manejo, à escala de ecossistemas, de modo a garantir-lhes sustentabilidade e conservar a biodiversidade (COUNCIL ON ENVIRONMENTAL QUALITY, 1995), conforme ilustram as abordagens descritas abaixo.

2.2.1. A abordagem do Programa O Homem e a Biosfera

A primeira pesquisa sobre ecossistemas, coordenada em nível mundial, foi realizada no âmbito do Programa IBP (International Biological Program), da União

Internacional pela Ciência Biológica, no período 1967-74, com o objetivo de conhecer os princípios biológicos que regem a capacidade que a Terra possui de gerar matéria (produtividade). O conceito de ecossistema revelou-se, então, extremamente frutífero como ponto de partida e base para pesquisas ecológicas. O trabalho teve continuidade no programa internacional “O Homem e a Biosfera” (MAB), de orientação interdisciplinar, que foi instituído pela UNESCO em 1971. Esse programa, que hoje congrega 111 países, tem seu foco no aprofundamento do conhecimento dos ecossistemas terrestres e na análise dos efeitos das atividades humanas na biosfera. No início, o homem era visto com um fator externo de influência, causador de perturbações indesejáveis em ecossistemas naturais que deviam ser protegidos. Posteriormente, passou a ser pesquisado como parte integrante dos ecossistemas (FARIA, 1996).

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• O propósito de proteger e manter a diversidade biológica, a função ecológica e as características dos sistemas naturais;

• Reconhecer que as pessoas fazem parte dos ecossistemas, que os moldam e por eles são moldadas, e que os sistemas ecológicos e sociais são mutuamente dependentes;

• Lembrar, durante o planejamento e o manejo, que todos os ecossistemas e instituições têm características peculiares e diversificadas;

• Integrar atividades econômicas sustentáveis e atividades comunitárias no manejo de ecossistemas;

• Desenvolver uma visão comum sobre as condições desejadas em termos sociais, econômicos e ambientais;

• Ter certeza de que a administração do ecossistema se dá nas escalas ecológicas e institucionais apropriadas;

• Utilizar o manejo integrado para obter resultados desejados e um conhecimento mais aprofundado dos ecossistemas;

• Integrar o melhor conhecimento científico disponível na tomada de decisões, enquanto a pesquisa prossegue para dirimir dúvidas;

• Implementar os princípios do manejo de ecossistemas por meio de planos e atividades governamentais e não governamentais coordenadas.

(34)

2.2.2. A abordagem biorregional

Miller (1997) pergunta: “- Como podem os elementos da natureza selvagem - suas espécies, peculiaridades genéticas, populações, habitats e ecossistemas - ser mantidos em áreas onde também são produzidos bens materiais, serviços ambientais e muitos dos benefícios culturais, estéticos e espirituais que as pessoas de todas as partes necessitam?”. E complementa: “Os governos e as comunidades, precisam encontrar respostas para esta questão fundamental”. Como resposta, propõe uma expansão nas escalas geográficas das iniciativas de conservação e desenvolvimento, de modo a englobar ecossistemas inteiros, bem como a inclusão das pessoas e instituições no planejamento e gestão da área. Essa nova abordagem de planejamento e gestão de áreas protegidas é denominada por ele de “biorregional”. Busca encontrar o equilíbrio entre as necessidades de sustento da comunidade residente e o potencial de exploração dos recursos naturais em sua biorregião, definida com base em critérios ecológicos, econômicos e sociais (ABERLEY, 1994). Aponta, também, para o significado político de se promover à recuperação e a manutenção dos sistemas naturais que, em última instância, dão suporte à população e à natureza, em cada local (DODGE, 1980).

(35)

Para Miller, os benefícios econômicos da conservação são obtidos a partir de uma gestão compartilhada, que leve em conta características culturais e organizacionais dos grupos envolvidos na gestão integral de uma biorregião, num enfoque essencialmente preventivo. Embora não exista uma metodologia formal de manejo biorregional, ele identifica 14 características comuns aos projetos já implementados:

1. Regiões extensas e bioticamente viáveis, ou seja, regiões grandes o suficiente para incluir habitats, funções do ecossistema e processos necessários para tornar ecologicamente viáveis, no longo prazo, comunidades bióticas e populações;

2. Iniciativa para estabelecer programas públicos biorregionais, que pode vir tanto de órgãos governamentais quanto da comunidade de residentes e usuários de recursos;

3. Uma estrutura de zonas-núcleo, corredores e matrizes. As zonas-núcleo (idealmente, áreas protegidas) representam amostras significativas da biodiversidade da região e são ligadas a outras áreas protegidas por corredores que permitam migração e adaptação a mudanças globais, dentro de uma matriz de usos e padrões diversos de ocupação do solo;

4. Sustentabilidade econômica. O sustento das pessoas que vivem e trabalham na biorregião deve ser encorajado pela concessão de incentivos apropriados para otimizar o uso dos recursos locais e aplicar tecnologias sustentáveis, combinados com um sistema de compartilhamento dos custos e benefícios da conservação e manejo;

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6. Aceitação social. É a participação na implementação dos programas que leva à aceitação de propostas de mudanças no modo de vida e sustento dos residentes na biorregião, inclusive comunidades indígenas;

7. Informação sólida e compreensível. Todos os grupos interessados têm à sua disposição as informações necessárias para facilitar sua participação no manejo da biodiversidade. Utiliza-se a tecnologia de Sistema de Informações Geográficas (SIG) especialmente em auxílio ao monitoramento da região e simulação de cenários futuros;

8. Pesquisa e monitoramento. A pesquisa enfoca as interações população/ambiente, o desenvolvimento de métodos inovadores de manejo e o monitoramento de fatores ambientais e do impacto das práticas de manejo;

9. Uso do conhecimento, tanto científico como tradicional, no planejamento e implementação das atividades, especialmente com vistas a antever ciclos naturais longos e curtos e localizar evidências de mudanças globais;

10. Manejo adaptativo. Os programas biorregionais são operados em base experimental de modo a ir incorporando as lições aprendidas ao longo do processo;

11. Recuperação de áreas onde habitats ou funções ecológicas possam ter sido prejudicadas por uso excessivo ou inadequado;

12. Desenvolvimento de habilidades cooperativas por parte das comunidades e organizações públicas e privadas, direcionando e mobilizando práticas, conhecimentos e informações necessárias à capacitação para a gestão biorregional;

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14. Cooperação Internacional. Acordos de cooperação, investigações conjuntas e gestão da informação fazem parte das experiências de gestão da biodiversidade, tendo em vista que alguns ecossistemas atravessam fronteiras internacionais ou até mesmo estendem-se por todo o globo (rotas migratórias, por exemplo).

Os procedimentos metodológicos utilizados nos programas biorregionais são, basicamente, a elaboração de: um inventário de recursos, mapas, uma lista de empreendimentos econômicos locais e de opções de produção de alimentos. Além disso, são estabelecidos grupos de trabalho entre os residentes para atender aspectos de eqüidade social e questões do gênero. O uso do solo é planejado e gerenciado com vistas à obtenção de uma paisagem diversificada e proteção das águas, solo e biodiversidade.

De acordo com Saunier (1995), a ampliação de escalas para alinhar ações em relação ao tempo e ao espaço pode trazer uma série de benefícios. Em primeiro lugar, as comunidades e organizações passam a conhecer melhor e cuidar mais das ligações e interdependências entre os recursos e serviços ambientais dos ecossistemas objeto de manejo, assim como do potencial e limites impostos por seus habitats.

Em segundo lugar, essa abordagem capacita gestores e comunidades a localizar os componentes chaves dos ecossistemas. Do que necessitamos para recuperar ou manter florestas, campos, recifes de coral, pradarias, cavernas e outras estruturas ecológicas? Como podem ser monitoradas e manejadas, em termos práticos, funções ecológicas como o regime de rios e migrações sazonais? As atividades de manejo poderiam ser ampliadas em termos de espaço geográfico e estações do ano, de modo a acomodar grupos adicionais de interventores ambientais?

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de chuvas ou de secas, elevação de nível do mar e mudanças em habitats e comunidades selvagens.

Em quarto lugar, as partes interessadas podem examinar seus conflitos sistematicamente - por exemplo, em relação ao acesso e uso de bens e serviços.

Todavia, Miller (1997) reconhece que a adoção da abordagem biorregional implica no enfrentamento de três desafios complexos:

a) A pouca disponibilidade de instrumentos e de capacidade científica, técnica, política e social nas comunidades e instituições interessadas no manejo, o que torna necessário que determinadas habilidades sejam importadas ou tenham que ser desenvolvidas. Isso significa sempre um obstáculo, em função dos limites nas atribuições legais e nos gastos das instituições, bem como das desconfianças históricas em relação à troca de informações e de conhecimentos.

b) A variedade de valores e inquietações, que cada novo parceiro acrescenta aos esforços de planejamento e implementação do manejo, pode gerar conflitos de valores com os participantes iniciais e redundar em alijamento de novos parceiros, ao longo do processo.

c) Muitas vezes, as organizações e instituições locais encontram-se em conflito - entre si, com os residentes ou com a conservação da biodiversidade. Esses conflitos não são apenas de natureza jurisdicional, mas também de visão, e tornam necessária a negociação de acordos cooperativos e, até mesmo, uma revisão de atribuições legais, políticas e reguladoras.

2.3. Manejo sustentável de recursos florestais

(39)

na biosfera, aproximadamente 100.000 sejam hoje cultivadas em larga escala (ACCARINI apud IEA, 1997).

A floresta é um ecossistema vivo, dinâmico, que abriga, alimenta e possibilita a sobrevivência e o crescimento de um número infinito de seres em todo o planeta. Dentre esses seres está o homem, que interage constantemente, tanto na busca dos benefícios que a floresta proporciona, quanto aos cuidados necessários para que não haja degradação do ecossistema. Dessa forma, o manejo de floresta nativa deve englobar um conjunto de procedimentos e técnicas, que assegure a permanente capacidade da floresta de oferecer produtos e serviços diretos e indiretos, conservando a sua capacidade de regeneração natural e de manutenção da biodiversidade (LEAL, 1998).

Os ecossistemas, em qualquer parte do mundo, constituem a base sobre a qual se sustenta o desenvolvimento social e econômico das comunidades. Em alguns casos, a ação humana, por meio de um longo processo de alteração ambiental, conduziu ao desenvolvimento econômico e social; em outros, todavia, levou à escassez de recursos, ao declínio e até mesmo à extinção de culturas e povos (MOREIRA, 2000).

O estudo de perturbações tem importância primordial no conhecimento da dinâmica de florestas naturais. Perturbações decorrentes, por exemplo, de aberturas do dossel do povoamento florestal, com impacto na flora, fauna, solo e no microclima do ecossistema. A capacidade do ecossistema de equilibrar as perturbações é chamada estabilidade e, de recuperar-se após uma perturbação, de resiliência (PINTO, 1974).

(40)

Segundo Perry & Maghembre (1992), outros elementos que também devem ser considerados em um manejo sustentável são aqueles referentes à alteração das características físicas do solo, as quais influem na sua capacidade de reter nutrientes e conservar tanto a estrutura quanto à composição biótica. A capacidade de manter os nutrientes é uma função da idade (tempo geológico) e do regime climático; as características físicas e bióticas são afetadas por intervenções humanas, com o aproveitamento intensivo da floresta ou conversão da área florestada para outros usos.

O termo sustentabilidade florestal foi documentado, pela primeira vez, por Hans Carl von Carlowitz no livro “Silviculture Oeconomiaca”, publicado em 1713, na Alemanha, onde afirma que a floresta deve fornecer produtos madeireiros e não-madeireiros às gerações atuais e às futuras, em igual quantidade e qualidade àquelas hoje disponíveis.

Speidel (1972) analisa as condições de sustentabilidade do manejo florestal, do ponto de vista da continuidade de um empreendimento que deva atender as exigências do mercado, concluindo que a sobrevivência de uma floresta com manejo sustentável depende não somente de condições naturais, como também de condições econômicas. Assim, coloca a sustentabilidade - natural e econômica - como condição para a continuidade de um empreendimento florestal. Sem sustentabilidade natural não existiria continuidade econômica; mas, sem a sustentabilidade econômica, não poderiam ser ofertados continuamente produtos madeiráveis e não-madeiráveis. Para ele, os aspectos que condicionam a sustentabilidade são:

Área mínima: o tamanho da área depende da espécie florestal, da qualidade do sítio, da classe de produção e do tempo de rotação. Em espécies de rápido crescimento e de rotação curta, a área mínima exigida é menor e vice-versa;

(41)

Reflorestamento de áreas não estocadas, quer seja por motivo de produção de produtos madeireiros, quer de não-madeireiros;

Estabilidade da produção: a continuidade da produção de madeira e dos benefícios da floresta é ameaçada, quando não são mantidas as condições de estabilidade, a saber: escolha de espécies adequadas ao sítio, escolha da ordem espacial e da existência de organização no combate a danos e sinistros;

Equilíbrio entre corte e incremento: uma aproximação da quantidade explorada com a quantidade do incremento, bem como a formação de classes de dimensão, são os objetivos a serem alcançados no longo prazo;

Condições econômicas regionais: além da infra-estrutura interna, muitas vezes é necessário investir no desenvolvimento regional, por meio da criação de núcleos para trabalhadores e familiares, construção de estradas, escolas e demais itens de infra-estrutura social.

Com exceção das condições econômicas regionais que, embora não explicitado por Speidel, referem-se diretamente a sustentabilidade social do manejo, todos os demais condicionantes da sustentabilidade, acima descritos, guardam uma íntima relação com as características funcionais básicas de um ecossistema natural - produtividade, capacidade suporte, função de informar e capacidade de auto-regulação (FARIA, 1996).

Seguindo essa mesma linha, Homma (1992) afirma que, para ser sustentável, o manejo de florestas nativas deve englobar um conjunto de procedimentos e técnicas que assegurem:

• A permanente capacidade da floresta de oferecer produtos e serviços, diretos e indiretos;

• A capacidade de regeneração natural; e

(42)

Assim, a sustentabilidade do manejo florestal dependeria do equilíbrio entre incremento líquido e corte - quer anualmente, quer em período um pouco mais longo -, de modo a obter o máximo de benefícios econômicos e sociais, respeitando os mecanismos de auto-sustentação do ecossistema objeto do manejo.

2.3.1. Manejo florestal sustentável: critérios e indicadores

A conservação de florestas tropicais, por meio de um manejo sustentável, é um compromisso político assumido pelos países membros da Organização Internacional de Madeira Tropical - OIMT, mais conhecida pela sigla ITTO (International Tropical Timber Organization), dentre os quais se encontra também o Brasil. Trata-se de uma organização intergovernamental criada em 1983, sob os auspícios da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento do Comércio - UNCTAD. Com sede em Yokohama, Japão, desde 1987, o trabalho pioneiro da ITTO no sentido de promover a conservação, o manejo e o desenvolvimento sustentável das florestas tropicais teve início na década de 1990.

Assim, a partir de 1992, a ITTO passou a incluir “diversidade biológica e outros valores não-madeireiros” na lista de Critérios e Indicadores para Produtos e Serviços Florestais, que divulga periodicamente e que, até então, era restrita à produção de madeira. Com essa mudança, tornou-se possível contemplar aquelas características das florestas tropicais naturais que não ocorrem, ou são de pouca importância, em florestas plantadas ou de Cerrado.

(43)

A proposta da ITTO é de que esses critérios e identificadores sejam revisados e atualizados periodicamente, de modo a incorporar a experiência acumulada em sua utilização e refletir novos conceitos de manejo florestal sustentável. Nessa revisão deve ser levado em consideração o conhecimento em desenvolvimento sobre o funcionamento de ecossistemas florestais, impactos humanos em florestas, planejadas ou não, e a demanda da sociedade por produtos e serviços florestais.

Da lista atual da ITTO constam sete critérios de manejo florestal sustentável, cada qual fazendo-se acompanhar do conjunto de indicadores que deve ser utilizado para monitorar e avaliar a sua implementação. A ordem de apresentação desses critérios, ilustrada pela Figura 2, obedece a uma seqüência lógica, que, contudo não tem a ver com ordem de prioridade ou importância relativa.

FIGURA 2 - Critérios de manejo florestal sustentável da Organização Internacional de Madeira Tropical

FONTE:ITTO, 1999.

Manejo Sustentável de

Florestas Tropicais Naturais

Condições para um manejo florestal

sustentável

Aspectos econômicos, sociais

e culturais

Segurança dos Recursos Florísticos

Solo e água

Fluxo de produtos florísticos

Diversidade biológica

Saúde e condições do

(44)

Os indicadores correspondentes a cada critério são os seguintes:

Critério 1 - Condições para o Manejo Florestal Sustentável: refere-se à estrutura legal, econômica e institucional em geral, sem a qual as ações incluídas em outros critérios não terão sucesso.

Indicadores:

o Políticas e estrutura legal o Estrutura econômica o Estrutura institucional.

Critérios 2 e 3 - Garantia dos Recursos Florestais; e Saúde e Condições dos Ecossistemas Florestais: tratam da quantidade e qualidade dos recursos naturais.

Indicadores:

o Descrição da base de recursos o Procedimentos de proteção

o Área florística danificada por atividades humanas e graus de dano o Área e grau de dano florístico por causas naturais

o Práticas de conservação e proteção.

Os outros quatro critérios tratam de bens e serviços fornecidos por florestas, a saber: Fluxo de produtos florísticos, Diversidade biológica, Solo e água e Aspectos econômicos, sociais e culturais.

Critério 4 - Fluxo de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros: preenche importantes funções florestais, tais como proteção ambiental e conservação da diversidade biológica, que devem ser resguardadas pela aplicação de práticas ambientais sadias, que mantenham o potencial do recurso florestal.

Indicadores:

o Avaliação dos recursos

(45)

o Monitoramento e avaliação.

Critério 5 – Diversidade biológica: refere-se à conservação e manutenção da diversidade biológica, inclusive a diversidade de ecossistemas, espécies e genética. No nível das espécies, deve ser dada atenção especial à proteção daquelas ameaçadas, raras ou em extinção.

Indicadores:

o Diversidade de ecossistemas o Diversidade de espécies o Diversidade genética o Diretrizes de manejo

o Monitoramento e avaliação.

Critério 6 - Solo e água: trata da proteção de todo solo e água da floresta. Sua importância é dupla. Primeiramente, tem efeito na manutenção da produtividade e qualidade da floresta e dos sistemas aquáticos a ela relacionados. Em segundo lugar, tem um papel crucial fora da floresta, ao manter a qualidade da água que dela flui.

Indicadores:

o Abrangência da proteção

o Procedimentos para conservação e proteção o Monitoramento e avaliação.

Critério 7 - Aspectos econômicos, sociais e culturais: complementa os Critérios 4, 5 e 6.

Indicadores:

o Aspectos socioeconômicos o Aspectos culturais

(46)

2.3.2. Manejo florestal sustentável no Brasil

A ocupação crescente de áreas de floresta, seja para uso dos recursos florestais, seja para produção de alimentos, tem sido uma característica marcante do modelo de crescimento econômico adotado no país. A remoção total da floresta (corte raso), para fins agropecuários, apresentou elevado incremento na década de 1980, em função de uma série de políticas públicas equivocadas, das quais é um exemplo típico a concessão de incentivos fiscais a programas de conversão de florestas em projetos agropecuários (IBAMA, 1999).

Homma (1999) afirma que o desmatamento é resultado de fatores econômicos e sociais e da fragilidade institucional para fazer cumprir a lei. Dentre os fatores econômicos e sociais destaca: a distribuição fundiária; os baixos salários; os baixos níveis de produtividade agrícola nas áreas de fronteira; a má distribuição da renda nacional, ocasionando uma imensa oferta de mão de obra não qualificada disposta a encontrar trabalho em áreas de fronteira de ocupação; um sistema fiscal e de crédito agrícola que desconsidera as características agroecológicas do solo e o emprego de práticas de manejo sustentáveis; a titularidade da terra pautada no uso, incentivando e legalizando o desmatamento; o alto valor da madeira na área de fronteira; e os programas setoriais de desenvolvimento, que estimulam a ação antrópica.

Os impactos ambientais diretos mais importantes da exploração da madeira e produtos não madeireiros resultam tanto da redução da cobertura florestal quanto das operações de instalação, corte e transporte dos produtos obtidos (SILVA, 1994).

(47)

participação das populações locais no estabelecimento de políticas florestais; pressão demográfica).

No Cerrado, especificamente, imensas áreas de vegetação nativa são transformadas rapidamente em áreas de produção agropecuária, repetindo-se a história do desmatamento, que remonta ao período colonial. Estima-se que cerca de 50% de sua cobertura original esteja hoje sendo convertida em pastos, plantações de soja ou formas degradadas de solos abandonados (WWF, 2001).

Apesar disso, acredita-se que o manejo sustentável de florestas tropicais seja possível, desde que haja planejamento adequado e controle rígido da implementação dos planos de manejo, além de créditos de eficácia institucional. E é nesse sentido que o IBAMA vem autorizando a implantação de Planos de Manejo Florestal Sustentável - PMFS em pequenas áreas da Amazônia Legal, iniciados no Estado do Acre, em 1995. Em 1996, foi feita uma triagem nos 2.806 PMFS já implantados, que permitiu ao órgão adequar e aperfeiçoar sua metodologia de análise e vistoria técnica, bem como reorientar sua oferta de orientação técnica e propor mudanças na legislação33. Em avaliação realizada em 1998, apenas 31% do total de planos de manejo foram considerados aptos, tendo sido os demais suspensos ou encaminhados para cancelamento.

O IBAMA reconhece que ainda há muito a percorrer até ser alcançado o estágio de desenvolvimento sustentável do setor florestal. Entretanto, há que se reconhecer os passos e as conquistas até agora obtidas. A partir das experiências de avaliação relatadas acima, o órgão elaborou e passou a disponibilizar aos interessados, inclusive em sua página na internet, um manual de procedimentos e dois softwares utilitários - “Viagem”, destinado a auxiliar o planejamento de expedições para atividades florestais; e “IF100%”, destinado ao processamento de dados de Inventário Florestal com 100% de intensidade amostral.

3

3

(48)

2.3.3. Legislação Florestal Brasileira

A legislação brasileira sobre manejo florestal sustentável está embasada no Sistema de Manejo da EMBRAPA (QUADRO 1) e em outras iniciativas afins conduzidas por organizações governamentais atuantes na região amazônica. Esse sistema considera que a sustentabilidade da produção da floresta tropical de terra firme brasileira é possível, desde que seja dado um enfoque conservacionista ao manejo (Silva, 1997).

Tabela 1 - Características do sistema de manejo da EMBRAPA (Manejo Policíclico)

Características Conseqüências Indicadores

Exploração moderada com boa

distribuição espacial Minimiza a formação de clareiras Intensidade leve a média/ 30-40m³ Ciclo de corte Mantém a capacidade reprodutiva

da floresta

25 – 30 anos Derrubada direcionada Minimizar a formação de clareiras

e diminuir danos

Refinamento Desenvolvimento das espécies

desejáveis para futuras colheitas Desbastes de liberação Diâmetro mínimo de abate Mantém a capacidade reprodutiva

da floresta Depende das espécies/ normalmente a partir de 50 cm

Marcação das árvores para futuras colheitas (comerciais e

potencialmente comerciais)

Visa protegê-las evitando danos Realização de inventário florístico 100%

Realização de antigos pátios de estocagem, trilhas de arraste, estradas principais e secundárias

Evitar maiores danos ao solo

Manutenção do crescimento e

regeneração natural Auxilia na tomada de decisão técnica administrativa Inventário florístico contínuo

FONTE: SILVA, 1997.

O manejo comunitário foi estabelecido para atender a solicitações das populações extrativistas que já desenvolviam atividades de exploração florestal e não-florestal, mas que não dispunham de legislação que resguardasse esse direito. Assim, houve uma inovação na legislação para permitir que comunidades possam se reunir e realizar a exploração de forma especifica de manejo que está regulamentado através da Instrução Normativa nº 4, de 28 de dezembro de 1989.

(49)

Segundo a nova legislação:

• Todos os detentores de planos de manejo, independentemente da modalidade, poderão receber documento de comprovação de origem do recurso florestal explorado, após solicitação e vistoria específica.

• No caso de pequenos proprietários, membros de associações ou cooperativas, será aceito como comprovante de domínio da área da floresta a declaração da Associação ou Cooperativa devidamente constituída, atestando a dimensão e os limites do imóvel e que o interessado é associado há mais de um ano.

No caso específico do Manejo Florestal Simplificado – PMF/Simples:

• O pequeno produtor fica desobrigado de contratar engenheiro florestal para elaboração do plano de manejo simplificado. O IBAMA fornecerá um plano de manejo básico e apoio técnico para tal.

• A intensidade de exploração fica limitada a 10 m3/ha.

• O ciclo de corte fica reduzido a 20 anos.

• O pequeno posseiro/proprietário não poderá explorar toda a sua floresta de uma só vez. Terá de compartimentar sua área de forma a permitir um completo ciclo de corte.

Levando em conta a situação das comunidades extrativistas de flores do Cerrado, localizadas em Alto Paraíso, descreve-se abaixo a metodologia de manejo florestal simplificado, que constitui a tipologia de manejo mais adequada a intervenções por meio de métodos artesanais, como no seu caso. O instrumento de gestão utilizado é o Plano de Manejo Florestal Simplificado - PMF/Simples, cujas etapas de elaboração são as seguintes (ANEXO B):

a) Seleção da área

b) Caracterização socioeconômica e florística c) Planejamento das Atividades de Manejo:

- Inventários Florísticos: são básicos para o planejamento de todas as atividades a serem desenvolvidas.

Imagem

FIGURA 1 - Coleta de flores nativas por extrativista na Chapada dos Veadeiros
FIGURA 2 - Critérios de manejo florestal sustentável da Organização Internacional de Madeira  Tropical  FONTE: ITTO, 1999
Tabela 1 - Características do sistema de manejo da EMBRAPA (Manejo  Policíclico)
FIGURA 3 – Pontos de ocorrência de flores do Cerrado na Chapada dos Veadeiros
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Referências

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