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A extração e beneficiamento de flores do Cerrado no município

5. RESULTADOS: EXPLORAÇÃO DE FLORES DO CERRADO EM ALTO

5.1. O sistema atual de exploração de flores do Cerrado no Município de Alto

5.1.1. A extração e beneficiamento de flores do Cerrado no município

Os campos endêmicos7 de flores do Cerrado explorados pelos extrativistas de Alto Paraíso são em número de oito, sendo que quatro deles estão localizados dentro do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, onde a coleta é proibida, e quatro fora, próximo às suas bordas (FIGURA 3).

Do início da atividade extrativista, nos anos 60, até meados dos anos oitenta, os extrativistas habitavam os arredores dos campos e era comum ver famílias inteiras acampadas nos próprios campos de flores, inclusive crianças, durante vários dias, para o trabalho de coleta das flores. Por falta de conhecimento, as plantas eram arrancadas, inclusive a planta-mãe. A secagem e armazenagem das flores era realizada no próprio local da coleta, diretamente ao sol, por um período de quatro a cinco dias. Ao levarem a produção para casa, espalhavam no terreiro ou dependuravam em barbantes, atadas em molhes, dentro de casa, por mais quinze dias, para que as mesmas terminassem o processo de desidratação. Esse sistema contribuía para comprometer, em muitos casos, a qualidade do produto final, por não haver uma uniformidade dos fardos após a secagem.

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Com o boom da migração, ocorreu uma expulsão dos coletadores, que em 90% dos casos não eram proprietários nem detinham a posse da terra onde realizavam a coleta. Hoje, a maioria dessa população é subempregada na área urbana – Alto Paraíso e sedes de povoados – ou em fazendas da região. Segundo o ISPN (1999), 63% dos domicílios de Alto Paraíso estiveram envolvidos com coleta de flores ou plantas medicinais nativas, em 1998. Na área rural do município, 41% dos chefes de família (homens ou mulheres) declararam possuir experiência com a coleta de frutas ou flores, o que sugere a existência de uma massa significativa de conhecimento sobre coleta, no meio rural.

Essa nova situação transformou uma atividade, de que toda a comunidade participava, em uma atividade de complementação da renda familiar, exercida principalmente por mulheres. Hoje, as flores e plantas coletadas não são mais deixadas ao sol, mas transportadas diretamente para os domicílios, onde serão dependuradas para desidratação natural (FIGURA 11).

FIGURA 11 - Flores dependuradas para secagem dentro de casa

Os questionários aplicados revelam que 65% dos extrativistas de Alto Paraíso coletam com a família (4-5 pessoas) ou na companhia de outros extrativistas, embora exista um percentual razoável (35%) de coletadores individuais.

Essa situação contraria a Lei dos Rendimentos Decrescentes88, que demonstra que a produção aumenta em até 50% pela produtividade marginal obtida quando uma tarefa é realizada, de forma especializada – por exemplo, com um colhendo flores e o outro espalhando em um local as flores para secar -, por duas pessoas. Coletar sozinho ou em grupo faria decrescer a produtividade, conforme ilustram a Tabela 7 e a Figura 12.

A Lei dos Rendimentos Decrescentes explica o comportamento da produção e de seus custos quando varia a quantidade de um só fator e outro fica constante, ou de alguns fatores quando outros continuam fixos. Ela se refere à quantidade marginal que pode ser obtida quando aumentamos sucessivamente unidades adicionais de um fator variável a uma quantidade fixa de outro fator pra produção de um bem econômico ou serviços. – Por isso a sua análise é ligada em curto prazo.

A lei pode ser enunciada assim:

• Quando a produção cresce os custos aumentam a um ritmo decrescente. • Para cada aumento da produção marginal necessitamos cada vez de

menores quantidades de recursos para produção das sucessivas unidades de produção;

• A medida em que a produção continua a aumentar, surgem as economias de produção em massa e os custos não aumentam proporcionalmente à quantidade produzida, até atingir um ponto ótimo de operação da empresa;

• Quando a produção marginal começa a diminuir e passa a serem necessários cada vez maiores quantidades de recursos adicionais para fabricar cada unidade sucessiva de produção, os custos aumentarão a uma taxa crescente.

Assim, como na extração de flores, podemos contar com um trabalhador apenas, que, produz cerca de 12 kg/dia de flores. Se colocarmos mais um trabalhador com a mesma capacidade, é possível que eles dividam as tarefas,

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especializando-se, por exemplo, com um colhendo flores e o outro espalhando em um local as flores para secar. A produção, neste caso, pode passar para 36 kg/dia, ao invés de apenas 24 Kg/dia, como se obteria apenas multiplicando o número de trabalhadores pela produtividade do primeiro. A este crescimento, de 12 para 36 kg/dia, se refere à produtividade marginal do trabalho, com rendimentos crescentes.

Se acrescentarmos novos trabalhadores (um levando as flores para o que espalha as flores, outro transporta as secas para estocar, etc), podemos ter rendimentos ainda maiores (ainda crescentes), mas até o limite em que o espaço lhes permita trabalhar em conjunto, sem que um atrapalhe o outro (passaria a ser insuficiente outro fator de produção: o espaço ou natureza), caso em que a produtividade marginal do trabalho passaria a ser decrescente.

TABELA 7 - Produtividade média e marginal da coleta de flores

TRABALHADOR PRODUÇÃO

(KG/DIA) MÉDIA MARGINAL PRODUTIVIDADE

1° 12 12,0 12 2° 36 18,0 24 3° 44 14,6 8 4° 50 12,5 6 5° 54 10,8 4 6° 56 9,3 2 7° 56 8,0 0 8° 54 6,75 -2

FONTE: Pesquisa de campo realizada em agosto/2001

Observa-se na tabela e no gráfico citados, que o terceiro trabalhador permite acrescer menor produtividade marginal do que o segundo, embora a produtividade média continue crescendo. Quando acrescentamos o 4° trabalhador, não só a produtividade marginal cai, como cai também a produtividade média. É o momento em que passamos a “superpovoar” o trabalho em relação aos outros fatores (natureza e/ou capital). Em outras palavras, o 4° trabalhador tornou a equipe mais ineficiente, ao ponto em que a média por trabalhador caiu: é a situação de rendimentos médios decrescentes, que pode atingir seu máximo de desequilíbrio ao custos quando varia um fator de produção e os demais permanecem constantes.

acrescentamos ainda mais trabalhadores, situação em que podemos atingir rendimentos negativos.

As mesmas tabelas e gráficos podem ser obtidos para os outros fatores de produção. A integração entre elas, que é o que interessa ao produtor, é feita atribuindo valores aos fatores de produção que serão utilizados em suas diversas proporções e calculando as rendas e custos marginais de cada um deles, em cada situação e, finalmente somando-os.

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TRABALHO P R O D U Ç Ã O

PRODUÇÃO FATOR TRABALHO PROD. MARGINAL

FIGURA 12 – Produtividade média e marginal da coleta de flores em Alto Paraíso FONTE: Pesquisa de campo realizada em agosto/2001

Associações como a ASFLO, a ASJOR e do Moinho vêm tentando estimular e valorizar o extrativismo, comprando e criando condições para estocagem e beneficiamento das flores e plantas coletadas, bem como tentando implantar técnicas mais adequadas de coleta, sob a orientação do WWF (World Wild Fond) e do IBAMA, que se caracterizam pelo corte seletivo com faca ou tesoura, sem extração da planta-mãe e deixando as plantas desbastadas no campo à espera de nova floração. Essa orientação encontra resistência em boa parte dos extrativistas, que prefere atear fogo no campo, após o desbaste, sob a alegação de que as hastes das plantas desbastadas dificultam o corte das novas plantas, no ano seguinte, por provocar ferimentos nas mãos. Além disso, acreditam que as plantas retornam com mais força, após a queima, e que animais peçonhentos são afastados.

5.1.2. Comercialização de flores coletadas ou beneficiadas em Alto