• Nenhum resultado encontrado

Inclusão na educação infantil: concepções e perspectivas de educadoras de creche

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "Inclusão na educação infantil: concepções e perspectivas de educadoras de creche"

Copied!
105
0
0

Texto

(1)

C A T Ó L I C A D E

B R A S Í L I A

PROGRAMA DE PÓS - GRADUAÇÃO

STRICTO SENSU EM EDUCAÇÃO

MESTRADO

INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Concepções e Perspectivas de Educadoras de Creches

Autora: Francisca Roseneide Furtada do Monte

Orientadora: Eunice Maria Lima Soriano de Alencar

(2)

INCLUSÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL:

Concepções e Perspectivas de Educadoras de Creche

Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação “Stricto Sensu” em Educação da Universidade Católica de Brasília, na área de Ensino e Aprendizagem, como requisito para a obtenção do título de Mestre em Educação.

Orientadora:

Profa. Dra. Eunice Maria Lima Soriano de Alencar

Brasília

2006

(3)
(4)
(5)

Dedicatória

À minha saudosa mãe, pela garra que teve à vida, que, com paixão aos seus filhos, sempre nos estimulou a estudar, e nos dizia que o maior patrimônio do ser humano é o conhecimento (in memorium).

Ao meu querido Pai, em seus 88 anos, pelo exemplo, dedicação e afeto que sempre devotou aos seus filhos, assim como, pela sua sensibilidade e compreensão por tantas horas que roubei de sua companhia em função da produção deste estudo.

Aos meus familiares, sobretudo às minhas irmãs, irmão, cunhada, sobrinhos e sobrinhas, bem como aos meus queridos amigos e amigas, pela compreensão por tantas vezes que deixei de estar com eles e com elas para dedicar-me à realização desta dissertação.

(6)

• Agradeço primeiramente a Deus, por ter me concedido saúde e perseveranças para eu percorrer este caminho que, diversas vezes, parecia ser impossível chegar ao término deste estudo tão relevante para a minha vida profissional e pessoal.

• À minha orientadora, Profa. Dra. Eunice M. L. Soriano de Alencar, pela competência e seriedade com que se dedica ao trabalho.

• À Profa. Dra. Beatrice Laura Carnielli pela disponibilidade com que aceitou participar como membro da banca examinadora e pelas contribuições que enriqueceram este trabalho.

• À Profa. Dra. Rosana Maria Tristão, pelo acolhimento ao convite em participar da banca examinadora e pelas sugestões que contribuíram para a realização deste Dissertação de Mestrado.

• À Profa. Dra. Aydil Perez-Ramos, minha querida amiga, mestra exemplar a quem tenho uma grande admiração pela sua sabedoria e carinho, com que ela sempre me acolheu contribuindo para o meu crescimento profissional, especialmente as palavras de estímulo para que eu realizasse esse Mestrado em Educação.

• À minha querida amiga doutoranda Erenice Natalia Soares de Carvalho, pela importância que tem na minha vida profissional, bem como pelas contribuições e estímulo essenciais para que eu pudesse atingir esse objetivo.

• À querida amiga Windyz B. Ferreira, pela preciosa disponibilidade e colaboração que tanto contribuiu para a finalização desta dissertação.

(7)

• À Profa. Marilene Ribeiro dos Santos, pela contribuição no início da minha caminhada em direção ao mestrado.

• À estimada amiga Ivana de Siqueira, pela amizade, incentivo e apoio.

• À querida Denise Alves, pela compreensão dispensada a mim em determinados momentos de grande importância, no que se refere a esta dissertação.

• À amiga Cristina Dümpel, pela sua carinhosa atenção e por sua valiosa contribuição.

• Ao querido amigo Jose Rafael Miranda, pela amizade e apoio em tantos momentos.

• Ao Professor Vital Didonet, mestre, especialista e consultor em educação infantil pela colaboração significativa, disponibilizando-me material de sua produção.

• Ao querido Ralph Augusto Faleiro, pela sua valiosa contribuição no que se refere ao tratamento estatístico dos dados.

• Às educadoras participantes do estudo, bem como a todas as pessoas que de alguma forma, contribuíram em diferentes momentos desse estudo.

(8)

A igualdade de oportunidades manifesta-se

pelo direito à educação e pela continuidade do sistema de educação, organizado de forma a que todos, em igualdade de condições, possam dele participar e nele continuar até os mais altos de seus ideais” (TEIXEIRA, 2004)

(9)

inclusão escolar em creches do sistema de ensino público de Brasília - Distrito Federal. O

seu objetivo principal foi investigar a concepção de educação inclusiva de educadores que

atuam nessas instituições. Os dados do estudo foram coletados em três creches, nas quais

45 educadores – todos do sexo feminino – responderam a um questionário contendo três

questões objetivas e cinco questões abertas. As questões abertas foram centrais para se

identificar visões, opiniões e perspectivas das participantes sobre os temas abordados no

estudo, tendo sido os dados examinados por meio da análise do conteúdo de Bardin (1979).

Os resultados revelaram expressivas concordâncias acerca da compreensão de educação

inclusiva e dos fatores necessários à uma creche inclusiva. No entanto, o estudo também

mostrou contrastes e divergências de visões sobre essas questões. O estudo constatou ainda

que as educadoras parecem não se perceber como agentes de mudança em direção à

inclusão, mas como expectadoras que dependem de fatores externos, como por exemplo,

vontade política, financiamento da educação e formação para atuar com crianças com

necessidades educacionais especiais. O estudo apontou elementos relevantes para o

desenvolvimento de creches inclusivas, assim como questões a serem foco de novos

estudos, uma vez que o tema ainda é muito carente de pesquisa , particularmente no que diz

respeito à inclusão em creches.

Palavras-Chave: inclusão em creche, educação inclusiva, necessidades educacionais

especiais, formação de professores.

(10)

This qualitative study investigated the concepts related to inclusive education and inclusion

held by educators working in day care centers (crèches), from the public educational system

in Brasilia-Federal District, Brazil. Data was gathered from three day care centers and

analyzed using Bardin's content procedure analysis.Forty five women educators answered

a questionnaire structured with three objective questions and five open ones. The open

questions were crucial for the analysis of the content related to views, opinions and

perceptions of educators, whereas objective data, provided the basis for deepening the

analysis on the themes and issues focused. The results show that there is significant

agreement on the understanding of inclusive education and inclusion, as well as those

factors which are necessary to build up an inclusive day care centers. The study also sheds

light on some contrasts and different views on how educational systems operate and are

organized – in particular in day care centers – in order to respond to the learning differences

among pupils. In addition, the study reveals that educators, in general, do not consider

themselves as promoting inclusion, which is, they perceive themselves as spectators

detached from the process of change towards inclusion. Consequently, educators point at

issues such as: political will, funds for infant education, physical accessibility and teacher

training as major responsible factors for change. Finally, the study brought to light issues

that demand further studies, where there is a lack of up to literature, in special, those that

aim at inclusion.

Key Words: inclusion in day care centers, inclusive education, special educational needs, teacher training

(11)

RESUMO

ABSTRACT

INTRODUÇÃO 1

PROBLEMA 5

I REVISÃO DE LITERATURA 9

1.1. Contextualizando a Educação Infantil 9

1.1.1. Educação Infantil na Lei de Diretrizes e Bases da Educação 16

1.1.2. Educação Infantil e os Referenciais Curriculares Nacionais 19

1.2. Educação Especial: uma breve retrospectiva 23

1.2.1. Aspectos Legais 23

1.2.2. Aspectos Históricos 25

1.3. Educação Inclusiva 29

1.3.1 Escola Inclusiva 33

1.3.2. Inclusão na Educação Infantil 35

II METODOLOGIA 38

2.1. Participantes 38

2.2. Descrição das Instituições Pesquisadas 41

2.3. Instrumento 44

2.4. Procedimento 45

2.5. Análise dos Dados 45

(12)

3.3. Opinião das Educadoras sobre a Formação de Professores para Atuar em

Creches Inclusivas

55

3.4. Opinião das Educadoras Acerca da Participação dos Pais nas Creches 59

IV DISCUSSÃO 62

4.1. Concepções da Educação Inclusiva Segundo as Educadoras das Creches 62

4.2. Fatores Considerados Necessários Para Que Uma Creche Seja Inclusiva 68

4.3. Opinião das Educadoras sobre a Formação de Professores para Atuar em

Creches Inclusivas

71

4.4. Opinião das Educadoras Acerca da Participação dos Pais nas Creches 73

V CONCLUSÕES 76

REFERÊNCIAS 81

ANEXO 86

TERMO DE AUTORIZAÇÃO 87

APÊNDICE 88

APÊNDICE A – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO (diretor/coordenador) 89

APÊNDICE B – FICHA DE IDENTIFICAÇÃO (professor) 90

(13)

TABELA 1 - Caracterização das Participantes

TABELA 2 – Concepções de Educação Inclusivas das Participantes do Estudo

TABELA 3 – Opinião acerca da Inclusão de Crianças com Necessidades Educacionais

Especiais

TABELA 4 – Fatores Considerados pelas Participantes para que uma Creche Seja Inclusiva

TABELA 5 - Medidas para Acelerar o Processo de Inclusão nas Creches

TABELA 6 – Formação de Educadores para Atuarem em Creches Inclusivas

TABELA 7 – Respostas acerca da Participação dos Pais na Construção de Creches

(14)

INTRODUÇÃO

A educação de crianças até seis anos em creches e pré-escolas tem sido vista, cada vez mais, como um investimento necessário para o seu desenvolvimento desde os primeiros meses até a idade de ingresso na escolarização obrigatória (OLIVEIRA, 2002).

A educação infantil constitui direito de todas as crianças, garantido na Constituição

Federal de 1988 e consolidado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB de

1996.

A LDB preconiza que as creches, anteriormente assistidas pela área social, sejam

incluídas nos sistemas educacionais, entendendo-se que o caráter assistencial, até então

prevalente nessas instituições, seja substituído por metas e medidas educacionais a serem

cumpridas conforme as finalidades da educação nacional.

Objetivando atender a essa determinação, essa Lei instituiu a necessidade da proposição

de uma política para a educação infantil, como primeira etapa da educação básica, sugerindo

referenciais para a sua execução - Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil

RCNEI contemplando as creches e pré-escolas (MEC, 1998).

Dentre a população da educação infantil, encontram-se crianças com necessidades

educacionais especiais, por apresentarem alguns tipos de deficiência: visual, auditiva, intelectual,

física e/ou múltiplas. Também as que apresentam condutas típicas de síndromes e quadros

clínicos psicológicos, neurológicos, psiquiátricos, as com altas habilidades, bem como as com

problemas de desenvolvimento e aprendizagem, não vinculados a uma causa orgânica específica,

(15)

segundo as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (CNE/CEB,

2001).

De acordo com a política de educacional do Ministério da Educação – MEC, as crianças,

do nascimento aos seis anos, com necessidades educacionais especiais, devem ter garantido o

acesso à educação de qualidade e devem ser integradas às demais de sua faixa etária, consoante

às exigências da educação inclusiva (CNE/CEB, 2001).

Tendo em vista o pressuposto dessa política, a Secretaria de Educação Especial do

Ministério da Educação elaborou, como parte dos Referenciais Curriculares Nacionais para a

Educação Infantil, um documento intitulado Estratégias e Orientações para a Educação de

Crianças com Necessidades Educacionais Especiais, que tem o objetivo de orientar a organização

dos sistemas de ensino, para tornar possível o atendimento educacional a essas crianças.

Foi também elaborada uma coletânea composta por nove volumes, denominada Saberes

e Práticas da Inclusão na Educação Infantil. Essa coletânea trata das especificidades curriculares

e das práticas pedagógicas referentes às necessidades educacionais de crianças nos primeiros

anos de vida. O conteúdo dessa coletânea visa complementar a formação continuada dos

professores, tornando-os capazes de darem respostas educativas a todas as crianças, para que

estas possam conviver e aprender juntas.

A despeito do que já foi realizado até o final da década passada, a educação de crianças

com necessidades especiais nunca foi prioridade em nosso país. O atendimento às crianças, do

nascimento aos três anos, quando realizado, ocorria com base no modelo clínico, assistencialista,

sem orientação pedagógica, sem sistematização teórico-metodológica. A definição de

profissionais, para a execução do referido modelo de atendimento, era orientada por área de

terapias como: física, psicomotora, entre outras (MEC/SEESP, 2002).

(16)

A política da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação tem como uma

de suas metas apoiar o atendimento educacional especializado às crianças com necessidades

especiais em creches e pré-escolas, assim como a capacitação de professores, entre outras ações.

O impacto positivo desse atendimento é incontestável, pois ajuda a eliminar as dificuldades que

enfrentam as famílias dessas crianças na busca pela melhor qualidade de vida.

Assim, é de extrema importância a realização de pesquisas que investiguem os fatores

facilitadores e os que dificultam o processo de inclusão de crianças com necessidades

educacionais em creches, buscando contribuir para a construção de escolas infantis inclusivas e

para o sucesso do atendimento educacional a essas crianças.

Para tanto, são objetivos deste estudo: (a) identificar as concepções subjacentes da

educação inclusiva em creches do ponto de vista dos educadores; (b) levantar os fatores

necessários para que uma creche seja inclusiva, segundo os participantes do estudo; (c) investigar

a opinião dos educadores sobre a formação de professores para atuar em creches que atendem

crianças com necessidades educacionais especiais; e (d) avaliar, na opinião dos educadores, como

deveria ser a participação dos pais nas creches inclusivas.

Esses objetivos foram propostos, em função de experiências que a mestranda teve em

instituições públicas de educação infantil, na cidade de Minneapolis no estado de Minnesota,

Estados Unidos, no período de abril de 1986 a maio de 1987 e do trabalho de coordenação do

Programa de Educação Precoce (atendimento educacional especializado) às crianças com

necessidades especiais desde o nascimento até três anos, no sistema público de ensino do Distrito

Federal, de 1987 à 1997.

Em 1989, dois anos após a implantação do referido programa, surgiu a necessidade de

encaminhar as crianças com necessidades educacionais especiais, egressas do Programa de

(17)

Educação Precoce, para as classes comuns de pré-escola do sistema público de ensino. Para tanto,

foi elaborado um projeto, como parte desse programa, que visava oferecer atendimento

especializado a essas crianças junto às classes comuns.

Desde 1998 até o momento, a mestranda trabalha no Ministério da Educação

desenvolvendo várias atividades de assessoramento técnico, especificamente na coordenação da

área de educação de crianças com necessidades educacionais. As principais atividades

desenvolvidas são: revisão técnica de documentos pedagógicos, participação na elaboração da

política de educação especial e da educação inclusiva, realização de palestras, oficinas, entre

outras. Essa vasta experiência motivou o desenvolvimento do estudo na temática selecionada.

(18)

PROBLEMA

Em todo o mundo, a educação inclusiva visa o atendimento educacional de qualidade

para todas as crianças, jovens e adultos. Portanto, deve-se buscar meios para eliminar toda e

qualquer barreira que impeça a aprendizagem de todos os educandos.

É de suma importância a compreensão do significado e do sentido da educação inclusiva,

por ser um tema bastante complexo tanto na compreensão conceitual, como na sua prática.

Segundo Yewchuk e Lupart (em ALENCAR, 2003), existem várias definições bem como

diferentes formas de implementar a educação inclusiva, em estudos realizados nos Estados

Unidos e no Canadá. Portanto, é essencial que se desenvolva um novo olhar, uma nova postura,

em busca de mudanças significativas nos sistemas de educação de forma geral, e em especial na

formação dos professores.

Os avanços científicos, tecnológicos e movimentos organizados pela sociedade civil a

favor de grupos minoritários, têm possibilitado o surgimento de uma nova consciência social, na

qual não é mais possível continuar mantendo as desigualdades de oportunidades educativas e

sociais (CARVALHO, 2004).

Assim, dentre documentos oriundos de eventos e acordos internacionais, os

considerados mais importantes para nosso país e que impulsionaram a criação de uma política

educacional mais justa, foram primeiramente: a Declaração Mundial de Educação para Todos,

resultado de uma conferência mundial realizada em Jomtien, na Tailândia, em 1990, e

posteriormente, a Declaração de Salamanca,oriunda da Conferência Mundial sobre Necessidades

Educativas Especiais: Acesso e Qualidade (UNESCO, 1994).

(19)

Esta última conferência foi organizada pelo Ministério da Educação e Ciência da

Espanha, patrocinada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura

ocorrida em Salamanca, Espanha, no período de 7 a 10 de junho de 1994. Reuniu representantes

de 92 países e 25 organizações internacionais, com o objetivo de promover a construção de

escolas para todas as crianças, jovens e adultos, independentemente de suas diferenças ou

deficiências, além do atendimento às necessidades educacionais especiais.

A Declaração de Salamanca conclama os países signatários a assumirem o compromisso

de construir um sistema educacional inclusivo. Neste sentido, o Brasil tem aplicado esforços em

diversas dimensões, com investimentos financeiros para implementação das políticas públicas de

educação e formação de professores, para que essa proposta se torne realidade. O item 53 do

referido documento aborda a importância do atendimento às crianças com necessidades

educacionais especiais o mais cedo possível, isto é, nos três primeiros anos de vida:

O êxito da escola inclusiva depende muito da identificação precoce, da avaliação e da estimulação das crianças com necessidades educativas especiais desde as primeiras idades. Assim, os programas de atendimento e de educação das crianças até os seis anos devem ser desenvolvidos e ou orientados, a fim de promover o desenvolvimento físico, intelectual e social e a preparação para a escola. Estes programas constituem um investimento considerável para o indivíduo, a sua família e a sociedade, no sentido de que impedem o agravamento das condições incapacitantes. Os programas a este nível devem reconhecer o princípio da inclusão e desenvolver-se de forma global, combinando as atividades pré-escolares com os cuidados precoces de saúde (SALAMANCA, 1994, p. 41).

O item 53 da Declaração de Salamanca sinaliza um dos caminhos a ser trilhado pela

escola inclusiva, a começar pela instituição de educação infantil, creche e pré-escola. É um

desafio para os sistemas de ensino, mas espera-se que o país cumpra o assumido, construindo

instituições educacionais que atendam a todas as suas crianças.

(20)

Atualmente, a inclusão tem seguido as orientações, tanto dos acordos internacionais

como as dos documentos legais vigentes. Os sistemas educacionais têm buscado, na medida dos

recursos econômicos disponíveis, a formação dos profissionais necessários.

O conhecimento de algumas concepções de Vygotsky (1988), desenvolvidas a partir da

década de 20 do século passado, tem contribuído para as mudanças propostas pela educação

inclusiva. Segundo esse autor, o professor tem o papel fundamental de provocar avanços, com

base no conceito de zona de desenvolvimento proximal (ZDP), que se define pela distância entre

o nível real de desenvolvimento e o nível de desenvolvimento potencial da criança.

Esse professor, como mediador que favorece o desenvolvimento e a aprendizagem,

incentiva os alunos que têm melhores desempenhos a se tornarem também mediadores, fazendo

com que todas as crianças avancem, inclusive as portadoras de necessidades educacionais

especiais (VYGOTSKY, 1988). Ainda de acordo com o autor, as interações sociais da criança, no

que se refere ao seu desenvolvimento, se encaixam como um dos princípios básicos da escola

inclusiva.

Atualmente, no Brasil, a importância atribuída ao professor no desempenho e na

formação geral das crianças é inegável, mas sabe-se que a formação desses profissionais deixa a

desejar, quanto ao atendimento à diversidade encontrada nas nossas escolas, especialmente

quando se trata de crianças com deficiência.

Por essa razão, os sistemas de ensino buscam oferecer cursos de formação continuada

aos professores, a fim de que esses tenham condições de dar respostas às especificidades

educacionais de todas as crianças em seu processo de aprendizagem, além de contribuir na

formação geral dos educandos e construir um sistema escolar inclusivo.

(21)

A inclusão é um processo em construção, que tem exigências básicas para sua

efetivação. Por isso, é importante o desenvolvimento de pesquisas, que poderão embasar a

construção de sistemas educacionais inclusivos. Nessa perspectiva,foram elencadas as questões

de pesquisa, que serão objeto da presente investigação:

(a) Qual a concepção de educação inclusiva têm os educadores das creches participantes do

estudo?

(b) Que fatores são necessários para que uma creche seja inclusiva, segundo os participantes do

estudo?

(c) Qual a opinião dos educadores sobre a formação de professores para atuar em creches que

atendem crianças com necessidades educacionais especiais?

(d) Na opinião dos educadores, como deveria ser a participação dos pais nas creches inclusivas?

(22)

I. REVISÃO DE LITERATURA

1.1. Contextualizando a Educação Infantil

Odelineamento da história da educação infantil por pesquisadores de muitos países tem evidenciado que a concepção de infância é uma concepção histórica e social, coexistindo em um momento múltiplas idéias de crianças e de desenvolvimento infantil. Essas idéias perpassam por quadros ideológicos em debate a cada momento, constituem importante mediador das práticas educacionais com crianças até 6 anos de idade na família e fora dela (OLIVEIRA,2002).

O tratamento dado à criança em distintas sociedades tem mudado de forma significativa,

tanto nas famílias quanto nas escolas. De acordo com Metler (2003), houve uma evolução da

concepção de criança, conforme especificado a seguir.

Na Idade Média, a criança era considerada um pequeno adulto, trabalhando e fazendo as

mesmas atividades que esse realizava. Sua expectativa de vida era muito reduzida e quando

completava sete anos de idade era mandada para casa de outras famílias, a fim de aprender

trabalhos domésticos e valores humanos, paralelamente à aquisição de conhecimentos e

experiências práticas. Essa mudança fazia com que as crianças escapassem do controle da

família, o que dificultava a formação de vínculos afetivos entre pais e filhos. Os colégios

existentes nessa época, dirigidos pela Igreja, estavam reservados para um pequeno grupo de

clérigos (principalmente do sexo masculino), de todas as idades.

O papel atribuído à infância tem se transformado a partir das mudanças econômicas,

políticas e da estrutura social. Essas transformações são percebidas em diversos campos como artes

e costumes, o que demonstra que família e escola nem sempre existiram da mesma forma.

(23)

Em 1837, surge na Alemanha, o primeiro Jardim de Infância (Kindergarten), criado por

Frederico Augusto Guilherme Froebel. Marcado pelo caráter literário e ideológico e influenciado

pelas idéias de Pestalozzi, especialmente por ter estagiado no instituto de Everdon, de Pestalozzi,

foi que Froebel criou o Kindergarten. Para Froebel, nos primeiros anos de vida de uma criança está

a chave do sucesso ou do fracasso de seu desenvolvimento (KISHIMOTO, 1998).

Com a Revolução Industrial, mudanças sociais alteraram a visão que se tinha da criança,

devido às idéias trazidas pelo Iluminismo e pela constituição de Estados laicos. A forma de

tratamento dada às crianças nobres e às pobres era diferenciada. Enquanto pelas crianças nobres

nutriam-se sentimentos de amor, estima, sendo que até suas fotografias eram guardadas para

torná-las imortais, pelas crianças pobres, nutriam-se sentimentos de menos-valia, peso para a

sociedade, entre outros (MITLER, 2003).

A mudança na forma de ver as crianças pelos nobres permitiu o surgimento das

primeiras propostas de educação infantil, sem que se reduzisse a evidente diferença entre crianças

nobres e pobres. Na sociedade burguesa, a criança era alguém que precisava ser cuidada,

escolarizada e preparada para uma futura atuação profissional, sendo essa tarefa passada aos

colégios. As portas eram abertas para os nobres, burgueses e plebeus, contudo não havia mistura

das classes sociais, surgindo a discriminação entre o ensino de rico e o de pobre. Outro ponto

importante que vale ressaltar, segundo Mitler (2003), é que o ensino era, primeiramente, dirigido

aos meninos (meninas, só passaram a ser escolarizadas a partir do século XVIII).

Vale ressaltar, que na segunda metade do século XVII, apesar de existirem escolas,

ainda havia desconfiança em relação à capacidade das crianças, sendo dez anos a idade mínima

para ingressar na escola. Surgiram também nessa época as primeiras creches, para abrigarem

filhos das mães que trabalhavam na indústria (MITLER, 2003).

(24)

A sociedade daquela época, de acordo com a ideologia burguesa, caracterizava e

concebia a criança como um ser fraco e incompetente, economicamente não produtivo,

justificando a submissão da criança ao adulto.

A popularização da escola comprometeu a sua eficácia e, dessa forma foi priorizado o

ensino condizente com a realidade de crianças burguesas, apesar da maioria das crianças ser

pobres e carentes. Esse foi um fator que levou à criação de programas de cunho compensatório,

no sentido de suprir as deficiências de saúde, nutrição e educação dessas crianças menos

favorecidas economicamente (MITLER, 2003).

A educação compensatória na pré-escola era encarada por Pestalozzi, Froebel,

Montessori e McMillan, como uma forma de superar a miséria, a pobreza e a negligência das

famílias (PESSOTTI, 1984). Porém, sua aplicação ocorreu efetivamente somente no século XX,

depois de muitos movimentos que indicavam o precário trabalho desenvolvido nesse nível de

ensino, prejudicando o ensino da escola elementar (SARKIS, 2001).

A procura por pré-escolas teve um aumento considerável após a Segunda Guerra

Mundial devido à necessidade das mulheres de um lugar apropriado para deixar os filhos

enquanto trabalhavam nas indústrias bélicas. Essas pré-escolas tinham caráter assistencialista e

sem nenhuma preocupação com as necessidades emocionais e sociais da criança (SAKKIS,

2001).

Esse clima influenciou o trabalho dos pioneiros da educação pré-escolar, como

Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Froebel e Montessori, que buscavam formas inovadoras para

disciplinar a criança em seu processo educacional, eliminando punições físicas, utilizadas na

época. Foi também objeto de reflexão desses pioneiros o “como ensinar”, levando-os a delinear

(25)

novas perspectivas educacionais, além de estabelecer bases para um sistema de ensino mais

centrado na criança (OLIVEIRA, 2002).

No que diz respeito ao Brasil, a história da educação infantil acompanha o histórico

mundial, embora com características próprias. Nota-se que até o meado do século XIX, o

atendimento de crianças pequenas separadas das mães quase não existia no país (OLIVEIRA,

2002).

No Brasil, o atendimento educacional a crianças nos seis primeiros anos de vida tem um

percurso de mais de cem anos, embora somente nas últimas duas décadas, passou a receber mais

atenção tanto da sociedade em geral quanto das políticas públicas. Entretanto, este avanço ainda

apresenta desafios para a concretização da educação infantil, uma vez que permanecem discursos

e práticas assistencialistas nas creches (MACHADO, 2002).

Quanto às creches, surgiram para atender tão somente crianças abandonadas, filhos das

mães solteiras, das mães que trabalhavam fora do lar, em especial as que trabalhavam na

indústria. Orfanato e creche eram quase sinônimos (DIDONET, 2001).

Em 1899, por iniciativas particulares, foi fundado no Rio de Janeiro o Instituto de

Proteção e Assistência à Infância. Esse Instituto tinha como objetivos: “atender aos menores de

oito anos; elaborar leis que regulassem a vida e a saúde dos recém-nascidos; regulamentar o

serviço das amas de leite, velar pelos menores trabalhadores e criminosos; atender as crianças

pobres, doentes, defeituosas, maltratadas e moralmente abandonadas; criar maternidade, creche e

jardim de infância” (KRAMER, 1992, p. 52).

Em 1919, foi criado o Departamento da Criança, cabendo ao Estado a responsabilidade

por seu funcionamento. Porém, isto não aconteceu, sendo o Departamento mantido apenas por

doações. Eram atribuições dessa Instituição: (a) realizar histórico sobre a situação da proteção à

(26)

infância no Brasil; (b) fomentar iniciativas de amparo à criança e à mulher grávida e pobre; (b)

publicar boletins; (c) promover congressos; (d) recorrer para a aplicação das leis de amparo à

criança; (e) e uniformizar as estatísticas brasileiras sobre mortalidade infantil.

Nas décadas de 30 e 40, as poucas creches existentes ficaram sob a responsabilidade de

entidades filantrópicas, sendo defendidas por médicos e sanitaristas preocupados com a

inadequada condição de vida das crianças pobres, pois estas eram vítimas de freqüentes

infecções, sendo alta a mortalidade infantil (OLIVEIRA, 1994).

A Legião Brasileira de Assistência (LBA), órgão fundado na década de 60, ligado ao

Ministério da Previdência e Assistência Social, apoiava os filhos das empregadas domésticas

oferecendo atendimento em creches populares. Essas cuidavam apenas da alimentação, higiene e

segurança física, sendo denominadas de Casa dos Expostos ou Roda (CAMPOS; ROSEMBERG;

FERREIRA, 1993).

A maioria das creches públicas prestava somente atendimento de caráter assistencialista,

de forma precária e com baixa qualidade, enquanto que as creches particulares desenvolviam

atividades educativas, voltadas para aspectos cognitivos, emocionais e sociais. Constata-se um

maior número de creches particulares, devido à privatização e à transferência de recursos

públicos para o setor privado.

A Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), em 1943, determinou que as empresas

com mais de 30 empregados do sexo feminino deveriam ter espaço adequado para a guarda de

crianças na fase de amamentação (DIDONET, 2001).

Durante a década 60 e meados da década de 70, ocorreu um período de inovação das

políticas sociais nas áreas de educação, saúde, assistência social e previdência, passando o

chamado curso primário, com duração de quatro anos, a ser obrigatório e gratuito. Em 1971,

(27)

ocorreu a extensão obrigatória dessa etapa de ensino para oito anos. Nesse mesmo ano, a Lei

5.692/71 iniciou a municipalização do ensino fundamental.

Em 1970, começou a crescer a evasão escolar e repetência das crianças de famílias de

baixa renda no ensino de primeiro grau, hoje, ensino fundamental. Foi então, instituída uma

educação pré-escolar, chamada educação compensatória dirigida às crianças de quatro a seis

anos, para suprir as carências culturais existentes na educação familiar dessas crianças

(CAMPOS; ROSEMBERG; FERREIRA, 1993)

Em 1975, a educação das crianças de quatro aos seis anos foi inserida nas ações do

Ministério da Educação, ano em que foi criada a Coordenação de Educação Pré-Escolar. A

pré-escola veio reforçar a tentativa de suprir carências tanto de ordem cognitiva quanto afetiva,

resultantes das desigualdades sociais. Essa educação não possuía caráter formal. Não se previa a

contratação de professores qualificados e sim, de uma mão de obra formada por voluntários

Nos anos 80, os problemas que mais afetaram a educação pré-escolar foram: ausência de

uma política global e integrada, falta de coordenação entre os programas educacionais e de saúde,

predominância do enfoque preparatório para o primeiro grau, insuficiência de docentes

qualificados, escassez de programas inovadores e a falta da participação familiar e da sociedade

(CAMPOS; ROSEMBERG; FERREIRA, 1993).

Ainda na década de 80, a situação econômica e política do país desencadeou

movimentos operários e feministas a favor da democratização e combate às desigualdades

sociais. Esses movimentos, no final do governo militar, abriram novos canais de pressão sobre o

poder público e tiveram como resultado o aumento do número de creches mantidas e gerenciadas

por esse poder e de creches particulares conveniadas.

(28)

O Ministério da Educação, em 1981, lança o “Programa Nacional de Educação

Pré-Escolar”, que muito contribuiu para a ampliação das discussões em favor da educação infantil.

Houve grande mobilização social dos diversos setores da sociedade em prol da educação

Pré-Escolar (MEC, 2001).

Como mencionado anteriormente, na Constituição de 1988, art. 208, Inciso IV, é

garantido: “atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos de idade”. Assim a

educação pré-escolar é reconhecida como necessária e direito de toda criança e dever do Estado,

a ser integrada ao sistema de ensino. Com isso, tanto as creches quanto as pré-escolas foram

incluídas na política educacional, seguindo uma concepção pedagógica, não mais assistencialista,

complementando a ação familiar.

Nos anos 90, o estado brasileiro viu na privatização das empresas, o caminho para a

solução do déficit público. Isso refletiu na educação, em aumento de programas de tipo

compensatório, dirigidos às classes carentes, o que gerou a necessidade de parceria com outras

instituições. O Estado passou a administração das creches e pré-escolas para as empresas de

grande porte, a fim de que essas assumissem a responsabilidade de construir pequenas

instituições para cuidar dos filhos de suas funcionárias enquanto elas trabalhavam (CAMPOS;

ROSEMBERG; FERREIRA, 1993).

A Lei nº 8.069, de 16 de julho de 1990 - Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA),

fortaleceu as conquistas dos direitos das crianças e dos adolescentes. Diante disso, o Ministério

da Educação, por meio da Coordenação de Educação Infantil (COEDI), desempenhou importante

papel para a conquista de uma política de educação sustentável e de qualidade para todas as

crianças, do nascimento aos seis anos (OLIVEIRA, 2002).

(29)

Em 1994, foi elaborado o documento “Política Nacional de Educação Infantil” como

proposta de: (a) expandir a matrícula para as crianças do nascimento aos seis anos de idade; (b)

fortalecer as instituições competentes, no que se refere à educação infantil; (c) dar nova

concepção para a educação infantil; (d) considerar os aspectos indissociáveis das ações dirigidas

às crianças (cuidar e educar); e (e) promover a melhoria da qualidade do atendimento em creches

e pré-escolas. Surge uma nova concepção de crianças: a criança cidadã, com direitos, como ser

social e histórico, inseridos numa cultura.

Essa nova concepção de criança contribuiu para que a Educação Infantil fosse inserida

na Lei de Diretrizes e Bases de Educação – LDB (Lei 9.934/96), que veio fortalecer a Política

Nacional de Educação Infantil. Para atingir os objetivos traçados por essa política, é necessário

que haja formação específica para essa área, dada a importância de um profissional qualificado

para atuar em creches e pré-escolas. Com isso, há sinais de grandes avanços para a educação das

crianças brasileiras, nos seus primeiros anos de vida.

1.1.1. - Educação Infantil na Lei de Diretrizes e Bases da Educação

A nova Lei de Diretrizes da Educação - LDB, sancionada em 20 de dezembro de 1996,

evidenciou a importância da Educação Infantil, que passou a ser considerada como a primeira

etapa da educação básica, tendo como principal finalidade o desenvolvimento integral da criança

até os seis anos de idade, em seus aspectos físicos, afetivo, cognitivo e social, complementando a

ação da família e da comunidade (Art. 29). A garantia deste direito em diretrizes e normas, no

âmbito da educação nacional, representa um marco histórico de grande importância para a

educação infantil em nosso país.

(30)

A educação infantil, como primeira etapa da educação básica, demonstra o

reconhecimento de que a educação começa nos primeiros anos de vida, sendo essencial para o

desenvolvimento integral e saudável das crianças.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, no seu artigo 29, explicita

que a educação infantil tenha maior amplitude, caracterizada por dupla função: atender as

especificidades das crianças em seu processo de desenvolvimento e contribuir para que elas

sejam inseridas na cultura, tornando-as cada vez mais capazes de construir conhecimentos

básicos para a aprendizagem futura.

Essa Lei, em seu artigo 89, estabelece que seja de responsabilidade dos sistemas

municipais de educação a atenção necessária para a institucionalização da educação infantil em

seus respectivos territórios e que creches e pré-escolas devam, no prazo de três anos, a contar da

publicação da Lei, integrar-se ao respectivo sistema de ensino

O Art. 30 da LDB divide a educação infantil em duas etapas: (1) creches - destinadas a

crianças do nascimento aos três anos de idade; e (2) pré-escolas – destinadas a crianças de quatro

a seis anos de idade. As instituições, no atendimento a essa etapa da educação, devem, em suas

ações pedagógicas, considerar as diretrizes curriculares nacionais, emanadas do Conselho

Nacional de Educação.

O Art. 31 determina que, na fase da educação infantil, a avaliação seja feita apenas

mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento da criança e sem qualquer objetivo de

promoção ou de classificação para acesso ao ensino fundamental.

A Lei refere-se, em outros artigos, a aspectos relevantes para essa etapa da educação,

quando trata "Da Organização da Educação Nacional", a qual estabelece o regime de colaboração

entre a União, os Estados e os Municípios na organização de seus sistemas de ensino. A Lei

(31)

afirma, ainda, que a educação infantil é de responsabilidade do município e deverá receber apoio

financeiro e técnico das esferas federal e estadual.

Os sete incisos do artigo 43 referentes à formação superior dos profissionais da educação

são de grande importância, uma vez que estabelecem diretrizes para a formação e valorização

destes profissionais.

O Art. 62 define que a "formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em

nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos

superiores de educação. É admitida como formação mínima para o exercício do magistério na

educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível

médio, na modalidade normal".

Nas disposições transitórias, há um destaque para a década da educação, a iniciar-se um

ano após a publicação da Lei, determinando que, ao fim desse período "somente serão admitidos

professores habilitados em nível superior ou formados por treinamento em serviço" (Art. 87,

§4°).

O Art. 89 tem uma relevância ímpar para a educação infantil, uma vez que estabelece

que as creches e pré-escolas que venham a ser criadas, deverão integrar-se ao novo sistema de

ensino, e as já existentes terão para isso, um prazo de três anos, a contar da publicação da Lei.

O Ministério da Educação, por intermédio da Coordenação Geral de Educação Infantil –

COEDI, tem se articulado com os Conselhos Nacional, Estaduais e Municipais de Educação, para

em conjunto estabelecerem critérios comuns, de âmbito nacional, para credenciamento e

funcionamento de instituições de educação infantil e apoiar essas instâncias na implementação

desses critérios.

(32)

1.1.2. - Educação Infantil e os Referenciais Curriculares Nacionais

Pode-se dizer que os preceitos legais, nas duas últimas décadas do século passado, têm

contribuído para romper com a política de atendimento assistencialista para crianças de baixo

poder aquisitivo. Surge, assim, um novo momento na história de atenção à criança, em que o

direito à educação privilegiou a infância em geral.

A importância dada à educação infantil, como primeira etapa da educação básica, levou

à valorização dos profissionais da educação que atuam na área, demandando formação específica.

Esse reconhecimento trouxe outra questão que tem sido bastante discutida em todo o país, que é a

proposta curricular. Essa discussão teve inicio na época da Constituinte de 1988, estendendo-se

até a elaboração da LDB, quando já era possível visualizar a educação infantil no sistema

educacional (MEC, 1998).

Diante da necessidade de disponibilizar orientações pedagógicas aos sistemas de ensino,

o Ministério da Educação elaborou os Referenciais Curriculares Nacionais para a Educação

Infantil, não com o objetivo de oferecer modelos prontos, mas como subsídios para a elaboração

das propostas curriculares das instituições de educação infantil. Esse documento foi elaborado

tomando como base as propostas pedagógicas já existentes, respeitando a diversidade, no que se

refere ao modo de cuidar e educar crianças, especialmente numa sociedade onde a unidade

acontece pelas diferenças e o caráter multicultural sofre uma grave estratificação social e

econômica.

A Coordenação-Geral de Educação Infantil (COEDI) constituiu um grupo de trabalho

formado por especialistas e consultores em educação infantil. Coube a este grupo a elaboração

desses Referenciais, além de desenvolver uma metodologia com base nas propostas pedagógicas

utilizadas nas Secretarias de Educação Estadual e Municipal. Inicialmente, foram analisados 45

(33)

conjuntos de documentos, sendo 25 egressos dos sistemas estaduais e 20 dos municípios das

capitais, que possibilitaram uma amostra bastante representativa da realidade nacional (MEC,

1998).

Para a realização da análise dessas propostas, foram levados em consideração, os artigos

12 e 13, da LDB, que estabelecem a participação dos professores na elaboração da proposta

pedagógica, garantindo dessa forma o respeito à diversidade no que se refere ao currículo de cada

localidade.

Esses Referenciais incluem informações sobre características e concepções de

atendimento em creches e pré-escolas e também sobre o desenvolvimento infantil, focalizando a

criança como um ser de natureza singular, que pensa, sente e age de modo próprio. As interações

estabelecidas entre as crianças e os adultos são valorizadas e é dada grande importância ao

processo de desenvolvimento infantil e construção do conhecimento, com a utilização de

diferentes estratégias metodológicas de ensino.

Nessa perspectiva, a educação infantil é concebida como um processo de constituição da

criança como sujeito no mundo da cultura, apreendendo-a e transformando-a. O educar e o cuidar

devem ser indissociáveis, contemplando todos os direitos da infância, particularmente os que se

referem à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à dignidade, à família à proteção e ao brincar .

Portanto, os profissionais da educação que atuam na área devem contribuir para fazer valer o

respeito à cidadania e aos direitos da criança (MEC, 1998).

Para discutir a finalidade da educação infantil, expressa de forma ampla no Art. 29 da

LDB, há um desdobramento nos Referenciais quanto ao desenvolvimento da identidade e da

autonomia da criança, no que se refere ao estabelecimento de vínculos afetivos e sociais, à

valorização do respeito à diversidade, ao desenvolvimento de atitudes e colaboração.

(34)

O conteúdo do documento está concebido em dois âmbitos: Formação Pessoal Social e

Conhecimento de Mundo. Essa divisão tem caráter instrumental e didático, pois é sabido que a

construção do conhecimento se processa de forma global e integrada.

Segundo o Censo Educacional, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas

Educacionais (MEC/INEP, 2000), 77,2% das instituições de educação infantil utilizam os

Referenciais como instrumento orientador, enriquecedor e norteador de proposta curricular, sem

anular a pluralidade e a diversidade existente na comunidade escolar.

Além dos Referenciais construídos pelo MEC, o Conselho Nacional de Educação

elaborou as Diretrizes Nacionais de Educação, de caráter normativo, que devem ser consideradas

quando as instituições educacionais forem organizar as suas propostas pedagógicas. Essas

diretrizes constituem-se de Princípios, Fundamentos e Procedimentos da Educação Básica que

orientam as instituições de Educação Infantil dos Sistemas Brasileiros de Ensino, na organização,

articulação, desenvolvimento e avaliação das suas propostas pedagógicas (MEC, 2002).

O educador, consciente da importância de ter conhecimento sobre o desenvolvimento

infantil, deve manter-se atualizado tanto no que diz respeito à legislação quanto aos temas sobre

desenvolvimento e atenção à infância, tornando-se capaz de desenvolver uma escuta e um olhar

para cada criança e contribuir para que a instituição se transforme em um lugar de encontros

abertos e prazerosos, onde todas as crianças possam conviver e aprender juntas.

A escola deve lidar com as diferenças entre as crianças sem discriminá-las, sem

excluí-las, porque cada criança tem características que as tornam única em seu contexto social. De

acordo com Wallon (1988), não é só a criança que deve se adaptar ao ambiente escolar, também a

escola deve se adaptar às crianças em geral e em particular, respeitando a diversidade e

(35)

atendendo as necessidades de cada uma, com o objetivo de promover um processo de

socialização harmonioso para a formação de sua identidade.

Apesar da ênfase dispensada à formação do professor e dos avanços que o Brasil tem

conquistado na área da Educação Infantil, não pode ser esquecido que ainda existem no país

professores leigos que não possuem sequer o Ensino Médio. Portanto, para que se possa atender a

exigência da LDB e oferecer uma educação de qualidade, devem ser criados cursos de

qualificação para professores da educação infantil, em nível superior.

O Plano Nacional de Educação também contempla e fortalece o atendimento

educacional nos primeiros anos de vida e recomenda que os municípios devam se organizar para

atender todas as suas crianças, tendo como base as Diretrizes Nacionais, as normas

complementares estaduais e as sugestões do Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil.

As Instituições de Educação Infantil devem ser espaços abertos também aos pais,

valorizando sua participação, suas habilidades e solicitando sua colaboração com vistas a

melhores condições gerais da instituição (MEC, 1998).

Dentre as mudanças significativas que a educação infantil tem passado, destaca-se

principalmente, a forma de lidar com as crianças. Essa constatação não se encontra somente em

documentos teóricos, históricos e na legislação: a prática já é uma realidade, a exemplo do

Projeto Educativo em Creche, realizado na cidade de São Bernardo do Campo/SP que, em 2000,

já tinha 90 escolas municipais de Educação Infantil, sendo 22 dirigidas ao atendimento de

crianças do nascimento aos três anos.

Outro exemplo, que pode ser considerado relevante, é o trabalho da Pastoral da Criança

com as famílias, uma das poucas instituições no Brasil que desenvolve trabalhos com as famílias

(36)

sobre educação de suas crianças. Uma das principais estratégias utilizadas por essa instituição é a

implantação de brinquedotecas comunitárias, com o objetivo de favorecer o desenvolvimento das

crianças e oportunizar aospais melhor conhecimento sobre aspectos relativos à infância. (MEC,

2002).

Portanto, parece existir uma expectativa de um futuro melhor para as crianças

brasileiras, independentemente de cor, credo, etnia, necessidades educacionais especiais,

deficiências ou classe social.

1.2. Educação Especial: uma breve retrospectiva

A história avança não de modo frontal como um rio, mas por desvios que decorrem de inovações ou de criações internas, de acontecimentos ou acidentes externos (MORIN, 2000).

1.2.1. Aspectos Legais

A Constituição da República Federativa do Brasil, artigo 208, parágrafo III, assegura o

atendimento educacional especializado aos educandos com deficiência, preferencialmente na rede

de ensino comum.

A LDB 9394/96, Art. 58, definiu a Educação Especial como uma modalidade de

educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos

portadores de necessidades especiais. E acrescenta que haverá serviços de apoio especializado, na

escola regular, para atender às especificidades dos educandos, quando necessário, e que “a oferta

de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis

anos, durante a educação infantil”.

(37)

Segundo as Diretrizes Nacionais para Educação Especial na Educação Básica, Educação

Especial é uma modalidade da educação que perpassa todos os níveis de ensino e visa promover,

prioritariamente, o desenvolvimento das potencialidades de pessoas com deficiência (mental,

visual, auditiva, físico-motoras e múltiplas), condutas típicas de síndromes e quadros

psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos e ainda os alunos com superdotação/altas habilidades

(MEC, 2001).

Essas Diretrizes definem que o atendimento educacional aos alunos com necessidades

especiais deve iniciar na educação infantil, em creches e pré-escolas, de modo que tenham

garantido atendimento especializado, mediante avaliação e interação com a família e a

comunidade.

Esse documento trouxe um grande avanço para a educação especial, garantindo ao

aluno: a) serviços de apoio pedagógico especializado; b) flexibilização e adaptação curricular; c)

professores capacitados; d) metodologias e recursos didáticos diferenciados; e) procedimentos de

avaliação adequados do desenvolvimento dos alunos, entre outros.

(38)

1.2.2. Aspectos Históricos

Temos de saber onde queremos chegar para encontrar um caminho, porque não existe “o” caminho, mas caminhos a escolher, decisões a se tomar. E escolher é sempre correr risco (MANTOAN, 2003).

Uma análise da literatura indica que houve momentos históricos de total exclusão de

pessoas com deficiência, passando pela segregação, integração, até a entrada do terceiro milênio,

que trouxe o conceito de inclusão, resultado de movimentos mundiais. Esse conceito traz uma

nova filosofia, uma nova concepção de educação, a educação inclusiva, recheada de conteúdos

que não se referem somente aos alunos da educação especial, mas a todas as minorias que até

então, têm sido excluídas da educação em geral.

Educação inclusiva pode ser entendida como uma política de educação que visa

construir uma nova cultura escolar, rompendo com paradigmas tradicionais, no sentido de formar

escolas democráticas, com espaços onde todas as crianças, jovens e adultos possam conviver e

aprender juntas, inclusive aquelas com deficiências (CARVALHO, 2002).

A história da educação especial apresenta informações significativas sobre a educação

de pessoas com deficiência. Segundo alguns autores, como por exemplo, Mazzotta (1996) e

Pessotti (1984), até o século XVIII, as deficiências eram ligadas ao misticismo e ao ocultismo.

Nessa época, existia um consenso social, por falta de conhecimento, de que a condição de

“incapacitado”, “deficiente”, “inválido” era condição imutável. Diante disso, a sociedade se

omitiu em oferecer atendimento às necessidades dessa população.

Na Europa, no século XVII, surgiram os primeiros movimentos em favor das pessoas

com deficiência, por intermédio de pessoas leigas ou profissionais, portadores de deficiência ou

(39)

não, que formaram lideranças e desenvolveram ações em favor da melhoria de vida das pessoas

com deficiência. Esse movimento expandiu-se para os Estados Unidos, Canadá e, posteriormente,

chegou ao Brasil. Até o final do século XIX, várias expressões foram utilizadas para se referir ao

atendimento educacional a esses indivíduos: Pedagogia dos anormais, Pedagogia Teratológica,

Pedagogia Terapêutica ou Curativa, Pedagogia da Assistência Social, Pedagogia Emendativa, e

algumas dessas expressões podem ser encontradas até hoje (MAZZOTTA, 1996).

De acordo com Mazzotta (1996) e Pessotti (1984), a primeira obra impressa sobre a

educação de alunos com deficiência é de autoria de Jean-Paul Bonet, no ano de 1620, na França,

com o título Redação das Letras e Arte de Ensinar os Mudos a Falar. A primeira instituição para

atendimento a alunos surdos foi fundada em Paris, em 1770. Quatorze anos depois, em 1784, foi

fundado também em Paris o Instituto Nacional dos Jovens Cegos. Essas instituições não eram

caracterizadas como asilos, mas como escolas e se dedicavam à educação e ao ensino

propriamente dito, especialmente com a leitura, e, por essa razão, tiveram aprovação da

Academia de Ciências de Paris.

Segundo Mazzotta (1996), no início do século XIX, o médico Jean Marc Ytard realizou

uma experiência: ensinar um menino de doze anos com deficiência mental, encontrado na floresta

do sul da França, denominado “selvagem de Aveyron”. O objetivo do trabalho de Itard foi

verificar se pessoas com deficiência mental eram “educáveis”, se elas aprendiam. Sua experiência

obteve resultado positivo, o que deu origem à primeira publicação sobre retardados mentais,

termo comumente utilizado na época.

Em princípios do século XIX, nos países escandinavos e nos Estados Unidos, iniciou-se

a institucionalização de pessoas com deficiência. Nesse período, foram criadas as primeiras

escolas especiais com o objetivo de isolar as crianças com deficiência das consideradas

(40)

“normais”. A educação escolar e a desinstitucionalização das pessoas com deficiência mental, na

época, chamadas de excepcionais, começaram no ocidente no princípio do século XX

(MAZZOTTA, 1996).

No Brasil, a história da Educação Especial teve como referência a evolução ocorrida na

Europa e nos Estados Unidos. O atendimento educacional a alunos surdos, cegos e deficientes

físicos, foi iniciado em instituições oficiais e particulares isoladas, reflexo do interesse de alguns

educadores. A “educação de deficientes”, “educação dos excepcionais” ou “educação especial”,

só entrou na pauta da política educacional brasileira no final dos anos 50 e início dos anos 60 do

século passado (MAZZOTTA, 1996).

Nesse mesmo período, surgiu no Brasil, o atendimento de estimulação precoce a bebês

do nascimento aos três anos de idade, que apresentavam problemas no seu processo evolutivo.

Esse atendimento era realizado tanto em instituições de saúde como em instituições educacionais

especializadas, especialmente em instituições não governamentais, como por exemplo, nas

Associações de Pais e Amigos de Excepcionais – APAE.

Na década de 70 do século passado, a educação especial se fortaleceu, devido à

implantação de um subsistema educacional, época em que houve um grande aumento de

instituições especializadas públicas e privadas para o atendimento a alunos com deficiência

(BUENO, 1993).

No Brasil, um dos marcos importantes na educação das pessoas com deficiência, foi o

Princípio da Normalização, originado na Dinamarca na década de 50 do século XX. Esta se

opunha às “alternativas e modalidades de atendimento de tendência segregacionista e

centralizadora, refletindo-se também, na organização de serviços e metodologia de ensino”

(41)

(MANTOAN, 1997, p.11). Esse princípio passou a fazer parte do vocabulário da educação

especial, originando um novo princípio, oda Integração.

O princípio da normalização e o conceito da integração educacional deram origem a um

paradigma, que recebeu o nome de Paradigma de Serviços. Este teve como objetivo principal

contribuir para que as pessoas com deficiência pudessem ter uma vida em sociedade tão próxima

do normal quanto possível (GONZÁLEZ, 2002).

O Paradigma de Serviços permitiu que a relação da sociedade com essas pessoas

mudasse substancialmente. Buscaram-se serviços e recursos que pudessem contribuir para que

elas se aproximassem do estado “normal”. Considerou-se, então, que as crianças, jovens e adultos

com necessidades educacionais especiais tinham o direito à convivência social com as demais

pessoas.

Nesse contexto de debate de idéias, provocado por movimentos internacionais,

começou-se a delinear o mais novo paradigma, denominado Educação Inclusiva, fundamentado

nos princípios da igualdade, da diversidade e da inclusão social. Nestemais recente paradigma, a

pessoa passa a ser identificada pelas necessidades especiais apresentadas e não por suas

limitações (GONZÁLEZ, 2002).

Nos últimos anos, o conceito de Educação Especial tem passado por modificações. Para

entender a conceituação atual, é necessário conhecer a existência de dois enfoques: o enfoque

tradicional, centrado nos déficits com características próprias, frente e à margem da educação

geral, e o centrado na concepção inclusiva, que dá respostas à diversidade dos educandos a partir

do currículo. Nessa concepção, a educação especial está inserida na educação geral. Nenhuma

dessas concepções nega que os alunos tenham problemas no seu processo de desenvolvimento e

aprendizagem (GONZÁLES, 2002).

(42)

1. 3. Educação Inclusiva

2.

A educação inclusiva vai muito além de atender ao alunado com necessidades educacionais, uma vez que supõe melhoria das práticas educativas para todos os alunos e para a escola em geral (AINSCOW, 1998).

No dicionário Houaiss (2001), as palavras inclusão e integração são sinônimas, mas

quando contextualizadas e avaliadas sob a ótica mundial no que se refere à política

sócio-educacional, adquirem conotações distintas. Esse é o ponto essencial a ser compreendido, quando

se tratam de questões referentes à inserção de pessoas com necessidades especiais na escola e na

sociedade em geral.

A diferença entre os conceitos de integração e inclusão precisa ser entendida por toda a

sociedade, a fim de possibilitar mudanças culturais. Nem mesmo a força da legislação tem sido

suficiente para que essa diferença seja assimilada.

A integração busca selecionar os alunos que têm condições de serem inseridos nas

classes comuns do sistema regular de ensino e possibilitar sua adequação à escola. Essa prática

vem sendo utilizada há décadas, mas a partir dos anos 80, começou a ser questionada pelos

movimentos internacionais, especialmente pelas organizações que lutam em prol das pessoas com

deficiência.

O conceito de inclusão é holístico e indica um caminho diferente ao da integração. A

inclusão é guiada pela certeza de que discriminar seres humanos é filosoficamente ilegal. Como

filosofia, incluir é acreditar que todos têm o direito de participar ativamente da educação e da

(43)

sociedade em geral. A inclusão tem força legal e política para quebrar barreiras sólidas em torno

das minorias excluídas da sociedade (BLANCO, 1998).

Inclusão denota concordância, pressupõe uma escola com uma política participativa, ou

seja, um maior envolvimento entre a família e a escola e entre a escola e a comunidade, onde

todos buscam uma educação de qualidade para todas as crianças (FERREIRA, 2005).

O Centro de Estudos sobre Educação Inclusiva de Bristol na Inglaterra define inclusão

como sendo uma:

filosofia que valoriza diversidade de força, habilidades e necessidades [do ser humano] como natural e desejável, trazendo para cada comunidade a oportunidade de responder de forma que conduza à aprendizagem e ao crescimento da comunidade como um todo, e dando a cada membro desta comunidade um papel de valor (CSEI n.d:p1).

O Index, que é outra publicação relevante na área da educação inclusiva, segundo

Ferreira (2005), estabelece que:

inclusão ou educação inclusiva não é um outro nome para a educação dos alunos com necessidades educacionais especiais. Inclusão envolve uma abordagem diferente para identificar e resolver dificuldades que emergem na escola (.) [a inclusão educacional] implica em um processo que aumente a participação de estudante [nas atividades e vida escola] e reduza sua exclusão da cultura, do currículo e das comunidades das escolas locai (FERREIRA, 2005 p. 58).

O Centro de Estudos sobre Educação Inclusiva, sediado em Bristol na Inglaterra,

defende que a inclusão é uma questão de direitos humanos. Portanto, ter acesso à escola e ser

aceito é um direito de qualquer pessoa. Nessa mesma linha, a Convenção dos Direitos da Criança

em seus artigos 2°, 3º, 12º e 23°, dispõe de elementos para a elaboração de estratégias de inclusão

e formas de garantir a todas as crianças, inclusive aquelas que têm deficiência, que tenham acesso

e sucesso à escolarização. (ONU, 1989. Disponível em: www. inclusion.que.ac.uk/csie/).

De acordo com a Conferência Mundial de Educação para Todos (1990), a educação

inclusiva é entendida como veículo de inclusão social e habilitação da pessoa para a sociedade,

(44)

isto é, educação para todos ao longo de toda a vida. Deve iniciar a partir do nascimento, dado que

a educação, bem como os cuidados na primeira infância são componentes essenciais da Educação

Básica (UNESCO, 1990).

No Brasil, tanto a Constituição de 1988 quanto a LDB 9394/96 destacam a importância e

urgência de promover a inclusão educacional como elemento formador da cidadania. Diante disso,

os Sistemas de Ensino Federais, Estaduais e Municipais, têm envidado esforços no sentido de se

materializar os dispositivos legais que amparam iniciativas no caminho da construção da inclusão

escolar.

Conforme a Declaração de Salamanca (1994) a educação inclusiva é uma política

educacional que demanda reestruturação dos sistemas de ensino, criando um novo modelo de

escola e ressignificando sua função, na busca de uma ideologia educacional inovadora. Tal

proposta justifica-se por diversas razões: a) o reconhecimento dos direitos da criança em geral; b)

os serviços prestados às crianças com necessidades especiais; c) a necessidade de remoção das

barreiras contra a inclusão, especialmente as atitudinais, de modo que todas as crianças possam

conviver no mesmo espaço, num clima solidário e respeitoso, tendo acesso às oportunidades

educacionais e sociais oferecidas pela escola.

Tudo isso foi reafirmado pelo Decreto Nº. 3.956, de 8 de Outubro de 2001, que

promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação

contra as Pessoas com Deficiência - Declaração da Guatemala.

Formular políticas públicas que promovam transformações nos sistemas educacionais,

de modo a não excluir nenhum de seus alunos, é levar em consideração, além da legislação

vigente, os marcos legais dos movimentos internacionais, para fazer elegível a inclusão como

(45)

uma responsabilidade coletiva, assegurando o acesso de todas as crianças e jovens à educação

básica.

A educação inclusiva propõe mudanças não só na política, mas essencialmente, na

prática educativa, na aceitação da diversidade, na provisão de serviços de apoio, promovendo

assim oportunidade aos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, de

freqüentarem a mesma escola, juntamente com as crianças de sua comunidade, de obterem

sucesso na aprendizagem, sem sofrer nenhum tipo de discriminação (SALAMANCA, 1994).

Nessa perspectiva, a sociedade precisa conhecer o universo da criança com necessidades

educacionais especiais associadas a algum tipo de deficiência ou não, para entendê-la e atender

suas necessidades específicas. Somente assim poderá proporcionar a ela o desenvolvimento de

suas potencialidades e uma infância feliz (MONTE, 2005).

Segundo Mantoan (2003, p. 60) “Não se pode encaixar um projeto novo, como é o caso

da inclusão, em uma velha matriz de concepção”. Daí a necessidade de se recriar ou ressignificar

as escolas. Por este motivo, a inclusão abre possibilidades para o aperfeiçoamento da educação

escolar, beneficiando a todos os alunos, com e sem deficiência.

As escolas foram construídas sob a perspectiva de educação clássica, focalizada na

instrução e na reprodução de conteúdos curriculares. Com a proposta da educação inclusiva, há

necessidade de mudanças para atender à diversidade de todos os alunos. Essas mudanças

requerem inovações que provoquem na educação transformações de cunho cultural (MANTOAN,

2003).

Nessa perspectiva da educação aberta às diferenças, Mantoan (2003) refere-se à

importância da formação inicial ser generalista para todos os professores, com vista a

ressignificar o papel da prática pedagógica e da escola, reforçando a aspiração de se formar um

Imagem

TABELA 1 - CARACTERIZAÇÃO DOS PARTICIPANTES (N= 45)  ITENS                                                            f                                   %               MÉDIA Idade  20 – 30 anos                                                  9
TABELA 2 –CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO INCLUSIVA DAS PARTICIPANTES DO ESTUDO.
TABELA 3. OPINIÃO ACERCA DA INCLUSÂO DE CRIANÇAS COM NECESSIDADES  EDUCACIONAIS ESPECIAIS
TABELA 4 – FATORES CONSIDERADOS PELOS PARTICIPANTES PARA QUE UMA CRECHE  SEJA INCLUSIVA
+3

Referências

Documentos relacionados

A Rede Municipal de Educação do Rio de Janeiro defende a avaliação como um processo contínuo que deve acompanhar o processo de desenvolvimento e aprendizagem

Incluir a criança no processo de avaliação é muito rico, tanto para ela que pode sentir-se valorizada com a atenção que o professor lhe destina, quanto para nós, da

Este quadro ajuda o educador a monitorar as ações e interesses das crianças, dando-lhe o registro imediato das mesmas. O educador planeja a semana, dando

Os pequenos tornam-se mais curiosos e os professores podem buscar desenvolver projetos de trabalho a partir desse interesse, de modo que as crianças possam

• Como conseqüência disso os pais não têm tempo disponí- vel para acompanhar as crianças/ adolescentes no período que não estão na escola.. Na Fazenda Anonni estão

Os fluxos integrados de Ca 2+ carrea- dos pela ATPase de Ca 2+ do RS (SERCA), trocador Na + /Ca 2+ (NCX) e transportadores lentos (tomados como a ação conjunta do

A escolha deste meio para uma reflexão sobre os diálogos entre o espectador e a imagem parece-me ser a que mais questões levantará, tanto pela escolha de uma imagem que é

Considerando as exigências edafoclimáticas desta cultura modelou-se a informação geográfica digital disponível através de Sistemas de Informação Geográfica (SIG) e