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Sexualidade e Estímulos: A existência das fantasias e sonhos sexuais na Terceira Idade

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Academic year: 2021

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Sexualidade e Estímulos:

A existência das fantasias e sonhos sexuais na Terceira Idade

Arnaldo Risman Introdução

Os estímulos da sexualidade são observados, analisados e pesquisados no campo da sexualidade humana no período reprodutivo do homem. Uma preocupação válida, mas esquecemos, muitas vezes, de um grupo diferenciado e vulnerável com vários tipos de preconceito que a sociedade ainda não sabe lidar: Terceira Idade. Dessa forma este trabalho esta sendo muito bem aceito no campo acadêmico e, na mídia, pois abriu a oportunidade de um olhar diferenciado dos Homens frente aos desejos humanos e, as formas de vivenciá-los nos dias atuais. A força social em que vivemos demonstra por séculos que envelhecer afeta o exercício da sexualidade, pois vivemos a força do belo e bonito, na busca da estética perfeita.

Neste caso iremos verificar a existência do exercício da sensualidade e da atividade sexual e, constatar a permanência das fantasias e sonhos sexuais nos idosos, com detalhes importantes para fortalecer que o exercício da sexualidade e afirmar que a da energia permanece em nossa vida, sendo assim, uma escolha, pois a ela é presente até a morte.

Diante do desejo de saber sobre a existência da sexualidade na terceira idade, a partir de agora iremos relatar os dados encontrados no levantamento, utilizando a metodologia mais adequada para uma pesquisa fidedigna.

A metodologia aplicada na pesquisa

A pesquisa que se segue foi realizada com o grupo da Terceira Idade da UnATI /UERJ (Universidade Aberta da Terceira Idade da Universidade do Estado do Rio de Janeiro). Para abranger seus objetivos formulamos um modelo prévio de questionário contendo perguntas fechadas e abertas e que foi aplicado, como pré-teste, em 40 idosos da Instituição. A partir deste, construímos o instrumento definitivo, bastante amplo, que incluiu desde itens relativos à identificação dos sujeitos (dados sócios demográficos), passando por fatores biológicos, até questões sobre diversos fatores psicosocioculturais, que se relacionam à sexualidade. Os questionários foram respondidos individualmente, através de entrevistas.

Durante as entrevistas com a utilização do questionário, observamos que os homens possuíam uma dificuldade maior do que as mulheres em responderem às questões referentes à sexualidade, reforçando, assim, os dados de alguns

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autores, incluindo Machado (1994) ao realizar a sua monografia, “A sexualidade após os quarenta”, que percebeu, igualmente, essa diferença. Ao terminarmos a aplicação dos questionários, procedemos a uma análise quantitativa, das questões que assim requeriam, e também uma análise qualitativa das questões em aberto e de algumas das questões fechadas. A análise qualitativa foi baseada análise de conteúdo de Bardin (1977).

Os diversos itens do questionário foram analisados tanto individualmente quanto, nos casos em que isto foi possível, correlacionados com outros itens. Possíveis comparações entre os sexos também foram efetuadas.

Análise e discussão dos resultados do questionário realizado na pesquisa. A amostra da pesquisa, realizada com os alunos da Unati/UERJ, foi composta por 128 idosos, sendo 109 mulheres de 60-79 anos e 19 homens de 60-84 de idade, de acordo com a percentagem da pesquisa social realizada pela Instituição.

Nessa amostra, observamos que 74,3% das mulheres possuíam a idade entre 60-69 anos, sendo o estado civil, em sua maioria, com 69,7% de viúvas, desquitadas e solteiras. A população masculina obteve uma acentuada concentração com 73,6%, entre as idades de 60-69 anos, estando eles, em sua maioria, casados, os quais, em número de percentuais, equivaleram a 52,6%, e entre os viúvos e desquitados a 42,2%.

Quanto à existência de parceiro

Solicitamos aos idosos que não estavam casados que respondessem à questão na qual perguntávamos sobre a possível existência de parceiros neste período da vida. Observamos uma diferença acentuada nas respostas, como mostram as tabelas abaixo:

Tabela 1 - Respostas referentes a Tabela 2 - Respostas referentes a relacionamentos na Terceira Idade relacionamentos na Terceira Idade

MULHERES HOMENS

Resposta % Resposta %

Sem namorado 77,6 Sem namorada 44,4

Namorado fixo com relações sexuais

19,7 Namorada fixa com

relações sexuais

33,3 Namorado fixo sem

relações sexuais

1,3 Namorada fixa sem

relações sexuais

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Namorado ocasio-nal com relações sexuais

1,3 Namorada

ocasio-nal com relações sexuais

11,1

Total 100 Total 100

Verificamos que o número de mulheres sem relações afetivas e sexuais é quase 80% maior que o número de homens. Este percentual confirma as questões sociais a respeito do preconceito oriundo da cultura ocidental, o qual, por muitas vezes, acentua o incentivo para os homens continuarem a manter relações sexuais, enquanto as mulheres continuariam a chorar a perda de seu “único” e “último” parceiro.

É importante salientar outras questões referentes à categorização da amostra. No que se refere à religião, tanto homens quanto mulheres são católicos praticantes, sendo suas percentagens de 84,2% e 66%, respectivamente.

Aspectos biológicos

O processo de envelhecimento tende a acarretar alguns problemas biológicos que podem atrapalhar a rotina do ser humano. Ao verificarmos este item na nossa pesquisa, constatamos que, de acordo com as tabelas 3 e 4, o número de doenças biológicas em mulheres corresponde a 16,5% a mais que nos homens.

Tabela 3 - Percentuais de problemas Tabela 4 - Percentuais de problemas biológicos e emocionais biológicos e emocionais

MULHERES HOMENS

PROBLEMAS % PROBLEMAS %

Na área biológica 74,5 Na área biológica 58 Na área emocional 6,4 Na área emocional 15,8 Nenhum problema 19,3 Nenhum problema 26,3

De acordo com a listagem das doenças biológicas, observamos que as mais assinaladas entre as mulheres foram: hipertensão 26,6%, osteoporose 17,5% e problemas cardíacos com 10,1%, sendo as medicações mais utilizadas: os hipertensivos com 35,9%, ansiolíticos com 19,2%; para problemas ósseos, 15,4%; e problemas cardiológicos, 12,8%. Em relação aos homens, observamos que as doenças que mais apareceram foram: com 15,8%, os problemas cardíacos e próstata, e 10,5%, entre surdez e câncer, sendo os medicamentos mais usados: os antidepressivos e ansiolíticos 46,7%, e os cardiológicos, 20%.

Assim, podemos verificar que os homens tomam 27,5% a mais de medicação para a área emocional do que as mulheres. É provável que, pelas doenças que eles apresentam, exista uma maior necessidade desse tipo de medicação.

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Ao ser solicitado aos entrevistados que assinalassem se o uso de medicamentos e / ou com o aparecimento das doenças houve interferência na atividade sexual: - 90,3% das mulheres afirmaram que não; no entanto, entre os homens este percentual não foi o mesmo: para 50% dos homens, as relações sexuais tiveram modificações, sendo estas ligadas à dificuldade de ereção para 62,5% dos entrevistados.

Ao analisarmos os fatores biológicos e a atividade sexual, podemos perceber que, mesmo que as mulheres tenham mais problemas na área biológica, são os homens os mais prejudicados, pois a queixa de disfunções sexuais apareceu em mais de 40,3% do que em relação às mulheres.

Aspectos psicológicos

Dentre estes aspectos, enfatizamos os fatores emocionais (depressão, estados de humor), dos quais já tivemos uma ideia no item anterior, e também as representações do envelhecimento para os idosos de nossa amostra.

A sociedade associa, muitas vezes, depressão com a velhice, sendo um estereótipo cultural. No entanto, ao verificar este aspecto entre os idosos da Unati/UERJ, constatamos que a “teoria da continuidade” de Ashley, como afirma Cariou (1987), faz-se presente neste item, ou seja, se o indivíduo foi uma pessoa em sua essência alegre na juventude, não teria motivos aparentes para não ser em uma idade mais avançada.

Neste sentido, confirmamos este aspecto, pois ao serem perguntadas sobre as características emocionais dos idosos, 56% das mulheres afirmaram serem alegres e descontraídas, e que estas características estiveram sempre presentes para 68% das idosas; no que tange aos aspectos emocionais para homens, 53,1% deles afirmaram serem alegres e descontraídos, e que essa forma de ser, para 73,7%, sempre foi presente no seu cotidiano.

Diante do processo de envelhecimento, a visão da sociedade é muito negativa; no entanto, para os idosos da UnATI/UERJ, este processo é percebido de forma otimista, por 89,5% dos homens, sendo que 73,7% deles não possui nenhum medo da velhice. No caso feminino, estes aspectos também foram verificados e constatamos que 82,6% das idosas observam este processo de forma positiva, e, semelhante aos dados masculinos, 69,7% não possui nenhum medo da velhice e também são indiferentes a este fato.

Entraremos agora num espaço importante do nosso trabalho, pois se refere às questões sexuais de um grupo que, por muito tempo, foi taxado de assexuado. No entanto, verificamos o que na verdade ocorre com eles na área sexual. Educação sexual e primeiras relações

Solicitamos que assinalassem de que forma a orientação sexual ao longo da vida foi transmitida.

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Ao responderem, 52,6% dos homens assinalaram que aprenderam tudo com amigos, 21,1% afirmaram que não tiveram educação sexual e 15,8% tiveram seu aprendizado através de livros. No caso das mulheres, o quadro de resposta modifica-se, pois 26,6% afirmaram que não tiveram educação sexual; 17,4% aprenderam através de livros; 15,6% com amigos e 12,8% foram ensinadas pelos cônjuges.

Diante das respostas acima mencionadas, solicitamos aos idosos que relatassem se na primeira relação sexual houve alguma dúvida. Entre os homens, somente um possuía dúvida e, por coincidência, este se casou virgem, pois os outros idosos, 94,7%, estavam noivos ou solteiros em sua primeira relação sexual. A questão deste indivíduo, em particular, era no sentido de “quanto tempo era necessário ficar com o pênis ereto e penetrado na mulher para satisfazê-la”. Esta dúvida pode ser encarada como sendo uma preocupação com a sua parceira, tendo assim uma visão mais positiva da mulher.

No caso das mulheres entrevistadas, houve uma diferença acentuada em relação à percentagem das incertezas na primeira relação, sendo que 45,9% das mulheres tinham dúvidas nesta questão. Outro fato em relação à diferença entre os sexos é que 73,4% estavam casadas quando tiveram sua primeira relação, e 26,6% estavam noivas ou solteiras, percentagem diferenciada, assim, do grupo masculino. Na relação das incertezas femininas, resolvemos realizar uma categorização das dezessete dúvidas mencionadas.

Dividimos em cinco categorias com suas respectivas percentagens, que foram: (1) dúvida em relação ao comportamento na atividade (28%), dúvidas gerais (28%), dúvidas em relação à fisiologia na atividade sexual (12%) e dúvidas em relação à anatomia / fisiologia da reprodução (12%).

Através da categorização, constatamos que as dúvidas relacionadas ao comportamento da mulher diante de uma relação sexual foi uma das mais acentuadas (cerca de 1/3 das mulheres) entre elas podemos relatar algumas como exemplo: “Pode falar durante o ato sexual?” ou “Quem tira a roupa primeiro?”.

Outra que obteve uma acentuada percentagem foi relacionada a “dúvidas gerais”, com 28%. Observou-se, assim, que quase 60% das mulheres responderam que não sabiam absolutamente nada sobre sexo.

Acreditamos que esta questão é de suma importância para entendermos que a educação sexual precisa ser realizada nas escolas, clubes e pelos meios de comunicação, para que futuramente não tenhamos respostas como foram verificadas em nossas análises.

Perguntamos, em nossa pesquisa, se em suas primeiras relações sexuais, os idosos tiveram alguma dificuldade; 94,7% dos homens afirmaram que nunca tiveram dificuldades nessa área enquanto que 62,4% das mulheres tiveram algum tipo de dificuldade.

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Ao verificarmos a presença ou não de orientação sexual entre os homens que responderam que não tiveram dificuldades sexuais nas primeiras relações, constatamos que 50% tiveram esse tipo de orientação com amigos; 16,7% obtiveram conhecimentos através de livros e somente 5,6% souberam através de pais e professores. Em relação às mulheres que tiveram dúvidas nessa área, 33,3% foram orientadas por amigos; 17,4% pela mãe; 8,3% pela irmã. Dentre os que não tiveram qualquer tipo de orientação: 22% entre os homens e 3,4% entre as mulheres.

Diante dos dados, percebemos que em relação às mulheres suas orientações foram transmitidas através de familiares (mãe e irmã) diferentemente dos homens.

Relações sexuais e masturbação

Solicitamos aos idosos que assinalassem a quantidade de relações sexuais que costumavam manter quando jovens. De acordo com os entrevistados, 42,1% e 26,3% dos homens afirmaram que mantinham atividade sexual de 3-4 vezes por semana e 5-6 vezes por semana, respectivamente. Atualmente, 73,7% dos homens mantêm relações sexuais entre 1-2 vezes por semana; 10,5%, de 3-4 vezes por semana e 15,8% não têm relações sexuais. Contudo, 84,2% relataram que houve uma diminuição ou uma parada das relações sexuais, sendo os motivos atribuídos a problemas de saúde e pela dificuldade de ereção (43,8%); 31,3% por a parceira não querer mais; 18,8% por falta de parceira e 6,3% por não desejarem manter relações. Verificamos que o índice mais alto da queda da atividade sexual encontra-se no âmbito da saúde, ou seja, na dificuldade de ereção.

A mesma questão foi avaliada entre as mulheres. Em suas respostas, observamos que: 36,7% mantinham atividade sexual de 3-4 vezes por semana; 23,9% de 1-2 vezes por semana e 20,2% de 5-6 vezes por semana. Hoje em dia, 62,4% não mantêm relações sexuais e apenas 36,7% têm de 1-2 vezes por semana. Os motivos principais da não manutenção das relações sexuais, segundo as idosas, estão relacionados com o parceiro, ou seja, 40,2% pela falta de parceiro, 31,8% pela doença e o não desejo do parceiro e 28% por problemas pessoais, como exemplo: “dói na hora da penetração”, “o corpo do parceiro não atrai mais” ou “não tem mais graça”, entre outros.

Percebe-se, claramente, que a diferença entre homens e mulheres idosos que não mantêm relações sexuais (73,7% e 36,7%, respectivamente); entre as mulheres predominam as razões ligadas a fatores pessoais do parceiro; a falta de parceiro também é mais acentuada entre as mulheres (40,2%) do que entre os homens (18,8%).

Ao serem perguntadas sobre as mudanças da genitália neste período da vida, 80,7% das mulheres afirmaram que possuem certa dificuldade em relação à lubrificação vaginal. Quando feita a mesma pergunta aos homens, 78,9% disseram que possuem dificuldades na área da ereção. Podemos assim

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perceber que, independentemente do sexo, a idade modifica o funcionamento fisiológico dos órgãos genitais por vários motivos; no entanto, como sugerem Masters e Johnson (1985;1981), estas modificações não prejudicariam a sensação prazerosa do encontro sexual. No caso dos idosos, portanto, a abstinência sexual deveria ser menor.

Algumas pesquisas já citadas no referencial teórico verificaram a existência da atividade masturbatória entre os idosos. Por este motivo, incluímos este item em nosso questionário.

No primeiro momento, os idosos classificaram o ato masturbatório: - de acordo com 73,7% dos homens, o ato é normal e, para 26,3%, é uma forma de sentir prazer. A masturbação é realizada de 1-2 vezes por semana por 89,5% dos homens. Alegam que a masturbação é realizada como complemento de uma relação (47,4%), mas também podem ocorrer por falta de parceiro (26,3%). No caso feminino, a masturbação é vista como normal e também como forma de sentir prazer; o percentual de mulheres nestas condições é percentualmente igual ao dos homens, ou seja, 73,4% e 24,8%, respectivamente. A frequência é de 1-2 vezes por semana para 71,6% das mulheres, sendo os motivos centrais para esta ação, segundo 41,6% da amostra feminina falta de parceiro, e cerca de um terço das mulheres (32,6%) alegam gostarem de masturbar-se. Em relação ao conceito de masturbação, verifica-se que tanto para os homens quanto para as mulheres os conceitos foram positivos. A frequência é igual em relação ao número de vezes por semana, mas verifica-se que o número de homens que a praticam é maior do que o de mulheres. Esta diferença pode estar associada diretamente à educação mais rígida que a mulher recebe em relação à sexualidade.

Outra diferença observada é quanto ao motivo do ato, pois enquanto o homem o realiza como complemento de uma relação, a mulher masturba-se por falta de parceiro, demonstrando, assim, que o desejo e a atividade sexual continuam presentes, porém de forma diferente.

Ciclo de resposta sexual

Normalmente, os questionários sobre as atividades sexuais formulam perguntas sobre as fases do desejo, da excitação e do orgasmo, com suas possíveis mudanças. Para o nosso trabalho, além de perguntar sobre estas fases, salientamos a importância de suas mudanças, ou seja, queríamos saber quais seriam os motivos das transformações que neste ciclo ocorrem, a nível fenomenológico.

Ao questionarmos sobre o desejo sexual nesta fase da vida, 63,2% dos homens responderam que houve uma diminuição, com 75% deles alegando problemas de demora para conseguir a ereção.

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É importante salientar que dos 36,9% dos homens que responderam que a fase do desejo aumentou, ou que continuam com a mesma intensidade, 85,7% atribuíram esta posição à maturidade sexual, e 14,3% à falta de compromisso. No caso das mulheres, 56% afirmaram que houve uma diminuição do desejo, ou mesmo ausência deste, atribuindo a modificação, em sua maioria, às seguintes causas: falta de parceiro (42,6%); por achar que a vida sexual acabou (14,8%), e rotina das relações sexuais (13,1%). As mulheres, nas quais o desejo aumentou ou continuou com a mesma intensidade, o que corresponde a 44% da amostra feminina, responderam que este fato deve-se à maturidade sexual (75%) que só é alcançada com a experiência.

Estes dados demonstram que, enquanto as mulheres atribuem a diminuição do seu desejo sexual à falta de parceiro, isto é, motivos externos a ela, os homens afirmam que, por causa de sua dificuldade no seu genital (falta de ereção), o seu desejo sexual diminui, ou seja, o desejo sexual masculino estaria ligado diretamente ao funcionamento perfeito de seu pênis. Dessa forma, podemos concluir que os homens associam seu desejo mais às condições dos próprios pênis, enquanto as mulheres têm seu desejo diminuído pela dificuldade de estabelecer uma relação, ou seja, obter um parceiro sexual.

Com relação à segunda fase do ciclo de resposta sexual - a excitação - mais da metade dos homens, 52,6%, afirmaram que se excitam mais facilmente nesta etapa da vida por possuírem uma maior maturidade sexual e emocional, bem como por conhecerem melhor o seu corpo, dados apresentados por 40% e 30%, respectivamente. No entanto, 47,4% do total da amostra masculina disseram que sua excitação diminuiu, dos quais 55,6% alegam problemas de ereção.

No caso das mulheres, pudemos observar que também com uma frequência mais alta, elas assinalaram que houve uma diminuição na sua capacidade de excitação (60,6%). O motivo deste fato, para 39,4% das entrevistadas, seria a falta de parceiro; 13,6% acham que a vida sexual acabou e 12,1%, alegam problemas com o parceiro. As mulheres que afirmaram que neste período da vida houve um aumento na fase da excitação sexual, o que corresponde a 39,4% da população entrevistada; destas 51,2% justificaram esta mudança pela maturidade sexual e emocional e 25,6% pelo conhecimento melhor de seu corpo e das zonas erógenas.

Comparando a fase masculina com a feminina, verifica-se diante dos dados que 47,4% dos homens, ao falarem que sua excitação diminuiu, atribuem tal fato a problemas pessoais (55,5%), ou seja, a questões de ereção. Entre as mulheres, entretanto, 51,5%, ao assinalarem os motivos da diminuição de sua excitação sexual, atribuíram-nos à falta de parceiro e aos problemas de ereção deles durante a relação.

Após estes dados, verificamos que, mais uma vez, o sexo genitalizado impera em nossa sociedade. A excitação poderia ser vista de uma forma mais ampla, ou seja, possuindo características psicológicas, visuais e / ou táteis, e não necessariamente pênis / vagina.

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Outro dado importante para a nossa avaliação refere-se ao orgasmo. Esta fase é discutida e tão valorizada que alguns meios de comunicação já realizaram programas e reportagens referentes a este tema.

Em nossa pesquisa também analisamos o item orgasmo e encontramos ou uma diminuição de sua ocorrência ou mesmo sua inexistência na vida do idoso. Constatamos que, entre 78,9% dos homens entrevistados, houve realmente uma queda e até o desaparecimento do orgasmo. Atribuíram este fato a três motivos principais: 40%, a problemas na ereção; 26,7%, a falta de parceira e 26,7%, a falta de criatividade nas relações existentes. No entanto, 21,1% assinalaram que ocorreu um aumento do orgasmo neste momento da vida, atribuem tal mudança, com igual importância, a dois fatores: o conhecimento de suas zonas erógenas e o amadurecimento emocional / sexual.

Em relação ao orgasmo feminino, constatamos que 80,8% das mulheres entrevistadas assinalaram ter ocorrido uma diminuição do orgasmo nessa etapa da vida, devido à: falta de parceiro; (55,7%) e à falta de criatividade nas relações sexuais (12,5%). Semelhante ao que ocorre entre os homens, 1/5 das mulheres (19,3%) afirmou que houve um aumento do orgasmo neste período, sendo os motivos principais para esta modificação: o amadurecimento emocional e sexual e o conhecimento do próprio corpo.

Quanto às mudanças que ocorrem no ciclo de resposta sexual com homens e mulheres no processo de envelhecimento, de acordo com os nossos resultados, verificamos que, mais uma vez, o homem atribui as transformações das fases do ciclo sexual a problemas de ereção, e no caso das mulheres igualmente, a falta de parceiro.

Em todas as fases do ciclo de resposta sexual, estas queixas foram salientadas por ambos os sexos. Devemos na verdade, atribuir estes fatores, não só à diferença do número de homens e mulheres idosos, sendo estas em número bem maior (conforme dados do IBGE), mas também à falta de informação sobre o que ocorre com a sexualidade na velhice. Os homens deixam o exercício da sexualidade por acharem que esta não resiste ao processo de envelhecimento, prejudicando, assim, a troca afetiva que pode ser realizada no encontro amoroso em qualquer fase da vida.

Percebendo o caráter genitalizado da sexualidade em nossos dias, tanto entre jovens quanto entre idosos, perguntamos também sobre as preferências sexuais dos idosos, em termos de práticas sexuais. As respostas encontram-se nas tabelas abaixo:

Tabela 5 - Práticas sexuais: Tabela 6 - Práticas sexuais preferências das mulheres preferências dos homens

MULHERES HOMENS

Penetração vaginal 49,5 Penetração vaginal 31,6 Beijos e carícias 28,4 Beijos e carícias 21,1

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solitária solitária

Sexo oral 4,6 Sexo oral 15,8

TOTAL 100 TOTAL 100

Observa-se, pelos dados acima, uma frequência bem maior das mulheres pela penetração vaginal (cerca de 50% da amostra feminina); tal predileção não ocorre entre os homens, que preferencialmente dedicam-se ao coito com penetração ou à masturbação solitária. Mais uma vez aparece a preferência feminina à presença de um parceiro.

Quando inquiridos sobre preferências na fase da juventude, verificamos que 60,6% das mulheres afirmaram que estas preferências faziam parte de suas práticas e / ou desejos quando jovens; já para os homens, 60% relataram que, quando jovens, não tiveram uma única preferência, ou seja, gostavam de fazer todas as práticas e posições, demonstrando, assim, uma flexibilidade maior também quando jovens.

Fantasias sexuais

Solicitamos aos idosos que respondessem sobre as fantasias sexuais neste período da vida. Pudemos constatar que 70,6% das mulheres e 36,8% dos homens afirmaram não possuírem fantasias. Podemos atribuir os elevados percentuais femininos à questão da repressão e também possivelmente a uma inibição em verbalizarem a existência deste item em suas vidas. Nossos dados, entretanto, apontam para uma necessidade maior, entre as mulheres, da presença de um parceiro real para que sintam prazer sexual. Assim, 63,2% dos homens e 29,4% das mulheres afirmaram possuir fantasias sexuais e a maioria deles (cerca de 90%) relataram suas fantasias sexuais, ou seja, somente 10% não as fizeram.

Resolvemos categorizar as fantasias sexuais para uma melhor interpretação dos dados obtidos. Neste caso, dividimos os conteúdos em alguns tópicos e verificamos, como pode ser visto nas tabelas 7 e 8 a seguir, que enquanto a mulher valoriza o ambiente e as pessoas em suas fantasias, os homens preocupam-se mais com a forma nas relações sexuais.

Tabela 7 - Categorização das fantasias Tabela 8 - Categorização das sexuais das mulheres fantasias sexuais dos homens

MULHERES HOMENS CATEGORIZAÇÃO FANTASIAS % CATEGORIZAÇÃO FANTASIAS % Envolvendo ambiente na relação sexual 43,8 Envolvendo ambiente na relação sexual 23,1 Envolvendo a forma na relação sexual 9,4 Envolvendo a forma na relação sexual 46,1 Envolvendo pessoas na relação 43,8 Envolvendo pessoas na relação 15,4

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sexual sexual Envolvendo animais na relação sexual 3,1 Envolvendo características físicas nas relações sexuais 15,4 TOTAL 100 TOTAL 100

Pelos dados encontrados, verificamos que as mulheres preocupam-se mais com o caráter mais romântico das relações sexuais, valorizando características ambientais; já os homens estão mais ligados a fatores que envolvem fatores físicos e sexuais em suas fantasias sexuais.

Sonhos eróticos

Com relação aos sonhos eróticos, pudemos observar que 74,3% das mulheres afirmaram não terem este tipo de sonho em suas vidas, enquanto que somente 42,1% dos homens tenham dito o mesmo. A diferença (de 32,2%) entre homens e mulheres, no que se refere a sonhos eróticos, pode ser interpretada como repressão sexual ou uma possível dificuldade em relatarem este item. No entanto, 25,7% das mulheres e 57,9% dos homens afirmaram possuírem sonhos eróticos. Dentre esses percentuais, 92,9% das mulheres e 81,8% dos homens relataram seus sonhos, que foram por nós categorizados.

Verificamos como é demonstrado nas tabelas 9 e 10 a seguir, que existe uma focalização, tanto para os homens quanto para as mulheres, na forma da relação e nas pessoas envolvidas em seus sonhos.

Esses foram os dois aspectos mais citados pelos homens e mulheres que têm sonhos eróticos; estas, no entanto, também citaram uma categoria de respostas: o envolvimento do fator tempo ou a época em que se dá o sonho. Tabela 9 - Categorização dos sonhos Tabela 10 - Categorização dos eróticos sonhos eróticos

MULHERES HOMENS CATEGORIZAÇÃO DOS SONHOS ERÓTICOS % CATEGORIZAÇÃO DOS SONHOS ERÓTICOS % Envolvendo ambiente na relação sexual 2,94 Envolvendo a forma na relação sexual 44,4 Envolvendo a forma na relação sexual 14,71 Envolvendo pessoas na relação sexual 55,6 Envolvendo pessoas na relação sexual 64,70 TOTAL 100

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Envolvendo animais na relação sexual 2,94 Envolvendo a época na relação sexual 14,71

Verifica-se também que os sonhos eróticos femininos envolvem muito mais itens que os masculinos, ou seja, os homens estão mais voltados para a forma da relação e para as pessoas ou parceiros envolvidos.

A importância do sexo na Terceira Idade

Os meios de comunicação, a cada dia, demonstram um grande interesse em divulgar a existência da sexualidade nas fases da vida do homem, através de entrevistas, artigos e livros. Resolvemos perguntar aos 128 idosos de nossa pesquisa, “Qual a importância do sexo na Terceira Idade?”

Ao analisarmos os conteúdos, percebemos que 88,39% das mulheres e 89,47% dos homens consideram o sexo uma atividade positiva, enquanto que somente 6,25% das mulheres e 10,53% dos homens afirmariam que esta ação não tem nenhuma importância em suas vidas.

Entre os fatores mais positivos do sexo para a Terceira Idade, tanto para os homens quanto para as mulheres, estão os relacionados, de acordo com as tabelas 11 e 12, a seguir, a diversos fatores: prazer, satisfação, crescimento pessoal e sensação de equilíbrio na vida do ser humano.

Tabela 11 - Categorização da impor- Tabela 12 - Categorização da importância tância do sexo na Terceira Idade para do sexo na Terceira Idade para

mulheres homens MULHERES HOMENS IMPORTÂNCIA DO SEXO % IMPORTÂNCIA DO SEXO % Promoção de prazer/satisfação avaliação positiva e estimulante 52,68 Promoção de prazer satisfação/avaliação positiva e estimulante 52,63 Promoção de crescimento, desenvolvimento pessoal e de vida 15,18 Promoção de crescimento/desenvol -vimento pessoal/vida 15,79 Possibilidade de troca 11,61 Promoção de equilíbrio/solução de tensões 15,79 Promoção de equilíbrio/solução de tensão 8,92 Não tem importância 10,53

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importância troca É relativo, depende do companheiro 5,36 TOTAL 100 TOTAL 100

Verificamos, diante dos dados, que as mulheres, mais do que os homens, da amostra acreditam no sexo como uma maneira que possibilita trocas afetivas. A última categoria de respostas, presente apenas na amostra feminina, pode indicar que a mulher ainda possui certa passividade diante do sexo, ou seja, a importância da relação depende do marido, deixando de lado a possibilidade de encontrar dentro de si mesmas, a importância da existência de sua energia sexual. Como tais respostas obtiveram uma frequência muito baixa (5,3%), precisamos ser cautelosos em não generaliza os resultados.

Estímulos sexuais

Abordaremos, a seguir, uma das perguntas que se tornou muito importante para a nossa pesquisa, realizada com o grupo da Terceira Idade.

Após as questões formuladas que englobaram aspectos sociais, psicológicos e sexuais da vida dos idosos, resolvemos incluir, como última questão, o levantamento dos estímulos que levariam este grupo a relações sexuais ou, na linguagem da Etiologia, “sinais sexuais”.

No primeiro momento, verificamos que independentemente das respostas “negativas”, ao serem inquiridos sobre seus desejos ou frequência de suas atividades sexuais, os idosos responderam acerca dos estímulos que funcionariam para eles, como estímulos sexuais.

A confecção de uma listagem contendo vários itens (partes do corpo, tipo de atividade ou aspectos do ambiente que poderiam funcionar como estimuladores sexuais) surgiu após 1 ano e 6 meses de curso sobre sexualidade, ou seja, foi composta segundo pesquisa prévia feita com colegas de curso. A partir desses dados iniciais e após a inclusão de itens já discutido em outras pesquisas, formulamos uma listagem, as quais os idosos, sem nenhum preconceito, responderam com grande prazer.

Vários estímulos foram assinalados com a mesma avaliação entre homens e mulheres. No entanto, alguns tiveram percentagens diferentes.

Em nossa sociedade, normalmente, os homens atribuem como mulher ideal aquela que possui atrativos físicos positivos; já no caso das mulheres as questões que envolvem o romantismo têm uma valorização maior. Esta diferença ficou demonstrada nas percentagens obtidas em cada um dos estímulos constantes da lista.

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No caso masculino, a tabela 13 demonstra uma diferença acentuada em relação à mulher, no caso dos estímulos sexuais ligados ao corpo. Os homens estão muito mais “ligados” em características físicas do que as mulheres, em proporção, às vezes, até cinco vezes maiores.

Tabela 13 - Diferença de estímulos sexuais corporais entre homens e mulheres

ESTÍMULOS SEXUAIS HOMENS % MULHERES %

Lábios grossos 89,5 45,0

Pele lisa 79,0 50,8

Bunda 79,0 55,1

Tamanho do pé 57,9 31,2

Fotos de pessoas peladas 57,9 22,9

Perna lisa 57,9 11,1

Nariz 52,6 13,9

Estímulos considerados geradores de fantasias também tiveram diferenças acentuadas entre homens e mulheres, como mostra a tabela 14.

Tabela 14 - Diferença de estímulos gerados de fantasias sexuais entre homens e mulheres

ESTÍMULOS SEXUAIS HOMENS % MULHERES %

Ir à praia 73,7 33,0

Espelho 57,9 25,6

Fantasias sexuais 57,9 43,1

Revista erótica 63,1 33,1

Sonho erótico 63,0 26,6

Num outro ponto, com referência aos estímulos sexuais considerados como mais ligados aos aspectos românticos das relações sexuais, as mulheres tiveram uma acentuada diferença em relação aos homens, como podemos verificar na tabela 15, em que, em todos os nove itens, as mulheres os consideram mais geradores de fantasias (quase duas vezes mais que os homens).

Tabela 15 - Estímulos considerados mais românticos - diferenças percentuais entre homens e mulheres

ESTÍMULOS SEXUAIS MULHERES % HOMENS %

Ouvir música 93,5 63,2

Dançar 85,4 57,9

Voz do parceiro 84,4 37,1

Filme romântico 78,9 26,4

Palavras românticas 75,2 43,4

Namorar pelo telefone 67,0 21,0

Iluminação fraca 62,4 47,4

Jantar à luz de velas 59,6 31,6

(15)

As características ligadas ao romantismo não foram as únicas apontadas pelas mulheres da pesquisa. Entre elas, outros estímulos voltados ao corpo receberam avaliação também positivas em grau elevado, que serão demonstrados abaixo na tabela 16.

Tabela 16 - Estímulos sexuais corporais considerados importantes entre as mulheres

ESTÍMULOS SEXUAIS MULHERES %

Peito cabeludo 82,5

Cabelo no corpo do homem 71,6

Cabelos grisalhos 68,5

Tamanhos do pênis 67,9

Barba bem feita 63,3

Peito largo 54,1

Não foram só as mulheres que demonstraram interesse acentuado pelas características sexuais secundárias, e pela genitália masculina. Pudemos verificar que, entre os homens, esta preferência fez-se presente também na pesquisa, como quando eles elegem, por exemplo: o bico do seio (78,9%); as pernas grossas (79,7%); os seios pequenos ou os cabelos longos (68,4%) ou a vulva (63,2%).

Após a análise dos estímulos sexuais mais promotores de fantasias eróticas, não podemos deixar de lado outros estímulos que fazem parte da vida sexual de todos os homens e mulheres de qualquer idade.

Mesmo tendo sido extensa a nossa lista de estímulos, muitos outros devemos ter deixado de lado. A magia do encontro amoroso pode ser construída por diversos fatores, entre eles estão: o olhar, a dança, o perfume, a boca, tomar banhos juntos, música, filmes, entre outros.

Conclusão

Esta construção, que permite o exercício da sexualidade, equivale a um movimento positivo dentro de cada um de nós, possuidores de energias voltadas às trocas afetivas, e, neste sentido, como pôde ser verificado com os resultados, independentemente da idade, existe possibilidade deste movimento. Sendo assim, não podemos deixar de lado a vida, o encontro, o amor, seja ele qual for.

Acreditamos que este trabalho tenha chance de contribuir para a abertura das discussões e reflexões sobre a energia sexual existente no ser humano em qualquer idade da vida e, especialmente, na Terceira Idade.

Para enriquecer nosso trabalho, resolvemos acrescentar dois discursos que demonstram que, mesmo com a idade avançada ou por problemas de saúde, existe a manifestação da sexualidade, conforme a entendemos: com um sentido e uma expressão mais amplos do que normalmente ocorre.

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Durante uma entrevista realizada com um idoso de 78 anos, ao ser-lhe perguntado sobre sua regularidade sexual, o idoso respondeu-me:

“Você quer saber sobre quantas vezes eu penetro com o pênis na vagina da minha amada ou quantas vezes eu faço amor com ela. Na verdade, eu amo a minha esposa todos os dias. Ao acordar, todos os dias às 5h30min da manhã, vou tomar o meu banho até às 6h, após isto, eu acordo a minha esposa com muitos beijos, dos pés a cabeça, e assim a faço gozar. Ficamos assim até 6h30min, quando ela vai tomar banho para tomarmos o nosso café às 7h20min; é quando a empregada coloca o café na mesa. Agora, se for com penetração, no momento, eu só consigo realizar um ato assim uma vez por semana. Não sei se respondi a sua pergunta, mas é dessa maneira que eu realizo as minhas relações sexuais.” Após esta lição sobre sexualidade, a partir de um dos idosos de nossa amostra, devemos refletir sobre o nosso conceito de sexualidade e abrir, de certa forma, a nossa mente, para que os programas de educação não só valorizem a relação voltada para sua genitalização.

Outro discurso foi verbalizado por uma idosa, no momento em que estávamos falando sobre desejo sexual. A entrevistada, de 68 anos de idade, durante a realização do questionário, estava afirmando que, em sua vida não havia mais a oportunidade de sentir desejo sexual, o que era motivado pelos problemas por que passou em sua vida de casada. Ao chegarmos à última questão, que sinalizava os tipos de estímulos sexuais, a mesma respondeu que os estímulos descritos no questionário faziam-na lembrar-se de seu passado. Neste momento, a idosa virou-se e disse:

“É Arnaldo, na verdade, às vezes, eu desejo não ter desejo pelo desejo sexual”. Após extravasar sua repressão, a entrevistada chorou.

Diante dessa fala, podemos ver como, muitas vezes, o abandono do exercício da sexualidade pode ser devido a fatores emocionais que só experiências negativas e traumáticas conseguiram proporcionar.

A repressão sexual, a manipulação da energia sexual sempre foi grande na história das civilizações, motivada por uma grande carga de preconceitos, originando dificuldades na manifestação entre seres que se amam.

A sociedade ao mesmo tempo em que aceita a sexualidade, para não se comprometer com atitudes que inviabilizam os fins de procriação, também promove a culpa pelo desejo sexual.

Os mais atirados, ou seja, aqueles que não estão tão presos a normas e dogmas sociais encontram várias formas para expressar os seus desejos e sentimentos. No entanto, devemos considerar que talvez esse número de pessoas seja bem menor do que deveria ser.

(17)

Quando dizemos “energia sexual”, estamos enfocando a energia de vida que circula em nossas veias e que é percebida através de nossos sentidos.

As sensações, no ser humano, são desenvolvidas no decorrer de seu crescimento, sendo bastante provável que, no processo de envelhecimento, estas características cheguem a apresentar modificações. No entanto, não podemos afirmar que o indivíduo, ao chegar numa idade avançada, perca por completo todas essas sensações. Além disso, não podemos esquecer a capacidade criativa e imaginativa do ser humano.

Existe uma expressão muito comum na cultura ocidental que diz: “com o passar da idade, as sensações ficam mais apuradas” e, com isto, o ser humano pode ficar mais sensível e aberto às situações estimuladoras, sejam ou não ligadas à sexualidade.

Diante dessa expressão, concluímos que, ao envelhecer, o homem adquire conhecimentos e experiências que facilitam a sua vida, ou seja, mais experiente para aproveitar novas ou antigas situações que o deixariam, no passado, menos alerta. E isto foi apontado, em nossa pesquisa, como um ganho especial advindo do envelhecimento.

Atualmente, com uma idade mais avançada, o ser humano conseguiria resolver mais facilmente seus problemas; entretanto, os idosos possuem dificuldades em quase todos os aspectos de sua vida, pois, na cultura ocidental, a experiência adquirida no decorrer da existência do ser humano não é tão fortemente valorizada quanto o é entre outras culturas.

As dificuldades existentes no campo social, cultural, político, biológico, psicológico e sexual demonstram, em relação aos idosos, a desvalorização desse ser humano.

Atualmente, vários trabalhos estão sendo realizados para atender a essa população, no entanto, estamos trabalhando a passos de tartaruga, com respeito à sexualidade, deixando muitas vezes o preconceito cobrir nossas sensações e desejos.

Um exemplo a respeito da visão assexuada do idoso pode ser dado pelo choque que foi, para muitos, a criação do curso de mestrado em Sexologia, o qual chocou profundamente algumas pessoas que estavam presentes na época de sua implantação.

Os preconceitos em relação ao sexo existem de forma generalizada. Ao explanarmos sobre o resultado do pré-teste do questionário da tese, a um grupo de estudantes comentamos que, entre os estímulos sexuais que mais excitam o idoso, estava o beijo. No momento que este item foi comentado, uma colega virou-se e perguntou admirada: “E eles se beijam?!”.

Este tipo de atitude confirma a visão negativa do idoso que a nossa cultura alimenta. No entanto, verificamos que a nossa hipótese foi confirmada, pois

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todos os idosos apresentaram os componentes ligados à sexualidade, seja praticando-a, desejando-a, ou como mostra a última questão, referente aos estímulos sexuais, deixando claro que, mesmo com doenças, modificações sexuais, psicológicas e pressões sociais, o ser humano mantém a apresenta uma expressão da sexualidade.

Não podemos permitir, diante dos resultados obtidos, que esse tipo de interrogação da colega esteja presente em nosso dia-a-dia. Sendo assim, devemos refletir sobre o nosso próprio conceito de sexualidade. Não devemos reforçar uma visão primária, elementar e distorcida, que salienta a sexualidade genitalizada. É preciso continuar trabalhando para que a sociedade possa visualizar, de forma mais abrangente, a questão do sexo.

A difusão de conceitos insatisfatórios e insuficientes sobre a sexualidade aparece igualmente entre os idosos de nossa amostra. Alguns dados da pesquisa confirmam este tipo de conceito, já que os homens abandonam a prática sexual, o exercício da sexualidade por problemas de ereção. As mulheres idosas, por sua vez, reclamam que não exercitam a sua sexualidade por falta de parceiro ou por problemas relacionados à ereção de seu companheiro. Isto prova a retroalimentação das “perdas” em ambos os sexos. O tipo de estereótipos atribuídos aos idosos prejudicará a nós mesmos, pois futuramente seremos “velhos” de idade e, infelizmente, considerados “passados” para o sexo. Diante dessa visão, devemos lutar contra a percepção negativa que este grupo possui diante dos vários aspectos discutidos ao longo desse trabalho.

Devemos refletir também que a própria “proibição” a que se impõem os idosos, em relação à sexualidade, pode estar promovendo problemas físicos.

As sensações e percepções continuam a existir, e com o preconceito a energia advinda desses núcleos é impedida de fluir pela canalização correta. Dessa forma, o homem cria dentro de si, mecanismos que acabam prejudicando o equilíbrio de sua energia, provocando depressões e doenças.

Na verdade, devemos concordar com Fucs (1992), que salienta que a sociedade prejudica muitas vezes a vivência da sexualidade do idoso e que é possível chegar ao “nirvana” nos encontros amorosos, mesmo sem ereções e orgasmos. Mas, para isto ocorrer, é necessário não só o querer, mas sim o principal: o desejar, que remove montanhas quando o possuímos, e a coragem, sem a qual não nos dispomos à ação.

Desejar é o caminho para ultrapassar; é lutar, é conquistar os objetivos que nos faz viver a vida da melhor forma possível, tentando, a cada dia que passa chegar ao “nirvana” dos nossos encontros com a natureza.

No caso da sexualidade, pode-se dizer que é a mesma coisa. Se lutarmos contra a formação dos nossos próprios preconceitos, ou seja, uma luta de dentro para fora, será possível chegar aos nossos objetivos.

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A luta externa é importante, mas não é a fundamental, pois se não trabalharmos os nossos próprios núcleos existentes, não iremos muito longe. Os sinos dos tabus e das crenças irão tocar na primeira barreira que teremos que enfrentar. O espelho pode nos demonstrar uma realidade que não podemos disfarçar, que é a perda dos atrativos da juventude, mas não podemos esquecer do significado que estas marcas revelam e que são o conhecimento e a liberdade de expressão.

A comunicação expande, muitas vezes, o nosso conhecimento. No consultório, ao atendermos um paciente, salientamos a importância do diálogo entre o casal para que possamos trabalhar a dinâmica da rotina familiar. Neste caso, o terapeuta serve, às vezes, não só como orientador, mas também como um esclarecedor das dúvidas existentes. Dúvidas que prejudicam o fluxo natural da energia sexual. No entanto, verificamos que a procura da “cura” dessas dificuldades são realizadas entre pessoas que estão na fase reprodutiva, sexual e socialmente, falando, de suas vidas.

É necessário que a sociedade mantenha as portas de sua cultura abertas, para que os jovens e crianças possam, quando mais velhos, procurar um caminho para o esclarecimento de suas incertezas existentes em relação à sexualidade. Devemos, assim, permitir que o grupo da Terceira Idade tenha liberdade e conhecimento para viver e conviver com sua sexualidade. Para isto, é necessário acreditar que as sensações e o prazer do contato com o outro possam existir dentro de cada um de nós. Para que possamos, futuramente, dizer simplesmente: gozamos.

Referências

BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1977.

CARIOU, Michel. “Contribution à une ètude du vieillissement comme continuité”. Rev. Bulletin de Psycchologie. Tome XL II (392) 776-80p, 1987. FUCS, Gilda Bacal. Homem e mulher: encontros e desencontros. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1992.

MACHADO, Maria José de Campos. A sexualidade após os 40. Monografia de pós-graduação em sexualidade humana. Rio de Janeiro: UGF, 1994.

MASTERS, William H., JOHNSON, Virginia E. A conduta sexual humana. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ed. Civilização Brasileira, 1981.

_________________. A inadequação sexual. Rio de Janeiro: Ed. Roca, 1985. _______________________________

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Arnaldo Rismam - Psicólogo Clínico. Professor da Universidade Severino Sombra / Vassouras; Membro do Centro de Pesquisa do Comportamento e Sexualidade (Cepcos), Pesquisador mentor do Portal do Envelhecimento

www.portaldoenvelhecimento.org.br. Consultor no campo da sexualidade

humana do site www.conteudosaude.com.br. E-mail: risman@risman.psc.br

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