w w w . e l s e v i e r . p t / r p s p
Artigo
de
revisão
Nanomateriais
manufaturados:
novos
desafios
para
a
saúde
pública
Henriqueta
Louro
a,∗,
Teresa
Borges
be
Maria
João
Silva
aaUnidadedeInvestigac¸ão&Desenvolvimento,DepartamentodeGenéticaHumana,InstitutoNacionaldeSaúdeDr.RicardoJorge,
Lisboa,Portugal
bDivisãodeSaúdeAmbientaleOcupacional,Direc¸ão-GeraldaSaúde,Lisboa,Portugal
informação
sobre
o
artigo
Palavras-chave: Nanomateriaismanufacturados Saúdepública Seguranc¸a Efeitosgenotóxicos Nanotoxicologia
r
e
s
u
m
o
Osnanomateriaismanufaturados(NM)apresentampropriedadesfísico-químicas especí-ficasquelhesconferemcaraterísticasmecânicas,óticas,elétricasemagnéticasúnicase vantajosasparaaplicac¸õesindustriaisebiomédicas.Contudo,odesenvolvimento expo-nencialdasnanotecnologiascontrastacomaaindainsuficienteavaliac¸ãoderiscoparaa saúdehumanaeparaoambiente,conduzindoapreocupac¸õesemtermosdesaúdepública. EstarevisãoprocurasintetizaroconhecimentoatualsobreatoxicidadedosNM,identificar aslacunasaindaexistentesedescreverocontributodananotoxicologiaparao enquadra-mentoregulamentardosNM,demodoagarantirasuautilizac¸ãoseguraeaminimizac¸ão dosriscosparaasaúdepública.
©2012EscolaNacionaldeSaúdePública.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.Todosos direitosreservados.
Manufactured
nanomaterials:
New
challenges
for
public
health
Keywords: Manufacturednanomaterials Publichealth Safety Genotoxiceffects Nanotoxicology
a
b
s
t
r
a
c
t
Themanufacturednanomaterials(NM)havespecificphysicochemicalpropertiesthat con-feruniquemechanical,optical,electricalandmagneticcharacteristicsthatarebeneficialfor biomedicalandindustrialapplications.However,theexponentialdevelopmentsof nanote-chnologiescontrastwiththestillinsufficientriskassessmentforhumanhealthandthe environment,leadingtoconcernsintermsofpublichealth.Thisreviewsummarizesthe currentknowledgeonthetoxicityofNM,identifyingremaininggapsanddescribingthe contributionofnanotoxicologytotheregulatoryframeworkofNM,inordertoensuretheir safeuseandreductionofriskstopublichealth.
©2012EscolaNacionaldeSaúdePública.PublishedbyElsevierEspaña,S.L.Allrights reserved.
∗ Autoraparacorrespondência.
Correioeletrónico:henriqueta.louro@insa.min-saude.pt(H.Louro).
0870-9025/$–seefrontmatter©2012EscolaNacionaldeSaúdePública.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.Todososdireitosreservados. http://dx.doi.org/10.1016/j.rpsp.2012.12.004
Introduc¸ão
A exposic¸ão da populac¸ão humana a partículas exógenas dedimensõesdaordemdosnanómetros,osnanomateriais, podeserconsideradaubiquitária:taispartículas encontram-senoarquerespiramosetambémnosprodutosdeconsumo queusamosdiariamente.Os nanomateriais podemter ori-gemnaturalouantropogénica,sendoqueoprimeirogrupo engloba, por exemplo,nanomateriais produzidose liberta-dosnas emissões vulcânicas,nos fogos florestaisealguns vírus,enquantoosegundoincluiosquesãoproduzidosem consequência de atividades humanas, tais como nos pro-cessos de refinac¸ão, soldadura, confec¸ão de alimentos ou combustãoautomóvel1.Presentemente,asatenc¸õesfocam-se preferencialmentenosnanomateriaismanufaturados(neste texto designados por NM) que englobam aqueles que são sintetizadosdeliberadamente para umfim específico1, por-que constituem um novo desafio, em termos de saúde pública. Efetivamente, depositam-se grandes expectativas nastecnologiasbaseadasnestesNM(nanotecnologias)como impulsionadorasdocrescimentoeconómicodospaíses indus-trializados,devidoaoseupotencialparamelhoraraqualidade eodesempenhodemuitostiposdeprodutosedeprocessos. Assim,oestímulocrescenteaodesenvolvimento,produc¸ãoe aplicac¸ãoemgrandeescaladeNM,bemcomoasuautilizac¸ão numavastagamadeprodutosdeconsumoeembiomedicina, tem conduzido, inevitavelmente,ao aumentoda exposic¸ão humanaeàdisseminac¸ãonoambiente,sendooseupotencial impactoaindadesconhecido.Estefactojustificaanecessidade de realizar estudos que permitam garantir umautilizac¸ão seguradosnanomateriais,durantetodooseuciclodevida, protegendooambienteeasaúdehumana.
Nanomateriais
e
nanotecnologia
Oprefixo‘nano-’,comorigemnapalavragrega␣´
о
(anão), significa,nomeiocientífico,umamedidade10-9unidades.Contudo,aprocuradeumadefinic¸ãopara«nanomaterial»tem geradoalgumapolémica. Numatentativade obviaraessas inconsistências,a ComissãoEuropeia emitiu em2011uma recomendac¸ãosobreadefinic¸ãodenanomaterial(NM), que setranscreve:«por«nanomaterial»,entende-seummaterial natural,incidentaloufabricado,quecontémpartículasnum estadodesagregadoounaformadeumagregadooudeum aglomerado,eemcujadistribuic¸ãonúmero-tamanho50%ou maisdas partículas têmumaou maisdimensõesexternas nagamadetamanhoscompreendidosentre1nanómetroe 100nanómetros»2.
Seaspropriedadesdosmateriais,emgeral,dependemda suacomposic¸ãofísico-químicaedomeioambientena inter-face(estadofísico,temperatura,pressão),nocasodosNMas suaspropriedadesdistintaseatrativasdevem-se, fundamen-talmente,àreduzidadimensãodaspartículaseamodificac¸ões aoníveldaestruturaqueconduzemaumaumentodaárea superficial emrelac¸ão aovolume, tendo por consequência umaumento do número de moléculas/átomos na superfí-cie.Estacaracterísticaconfere-lhespropriedadesdesuperfície únicas, que, por sua vez, modificam a sua reatividade,
Tabela1–Algunsexemplosdeaplicac¸õesde nanomateriaismanufaturados,emprodutos deutilizac¸ãocorrentesedeconsumohumano
Categoriasdeprodutos Exemplos
Produtosdeaplicac¸ão biomédica
Sistemasdeterapêuticadirigida
(targeteddrug-delivery);sistemasde
diagnóstico;peleouossoartificial paramedicinaregenerativa;ligaduras; aparelhosdeaudic¸ão;próteses ortopédicas
Produtosdecuidado pessoalecosmética
Protetoressolares;champôs;cremes; desodorizantes;pastadedentes; produtosdemaquilhagem;joalharia Aparelhoselétricos Frigoríficos;máquinasdelavar;ar
condicionado Eletrónicae
computac¸ão
Áudio;vídeo;hardware;televisão; telemóveis;baterias
Produtosdomésticos edeconstruc¸ão
Produtosdelimpeza;utensíliosde cozinha;almofadas;tintas;materiais deconstruc¸ão
Têxteis Roupa;lenc¸óis;tecidos
impermeabilizadosparadecorac¸ão Embalagens Embalagensalimentaresesensores
nasembalagensalimentares Desporto Raquetes;tacosdegolfe;bolas
debowling
Veículosautomóveis Tinta;pneus;sistemasdepurificac¸ão doar;limpezadomotor
Adaptadode:Wijnhovenetal.5
frequentemente melhorandoassuaspropriedades mecâni-cas,óticas,elétricasemagnéticas,comparativamenteàsdos materiaiscomamesmacomposic¸ãofísico-químicamasde dimensõesmaiores3,4.Estasmodificac¸õesdereatividadetêm dadoumacontribuic¸ãosignificativaparaodesenvolvimento eproduc¸ãoemquantidadessignificativasdeumagerac¸ãode produtosinovadorescontendoNM,comumvastocampode aplicac¸õesemáreascomoaeletrónica,aalimentac¸ão,a cos-méticaeabiomedicina5,talcomoseespecificanatabela1. Atítulodeexemplo,odióxidodetitânioéutilizadonaforma «nano»emprotetores solaresexibindoasmesmas proprie-dadesdefiltroultravioletaqueaformaconvencional,coma vantagemdeserinvisívelnapele6.EstesNMsãousadosnos protetoressolaresdesde19906einserem-senumadas cate-goriasdeprodutosquetemtidoummaiorincremento,ados «produtosde cuidadopessoalecosméticos»5. Outro exem-ploéautilizac¸ãodenanotubosdecarbonoparacontrolarou aumentaracondutividadedemateriais,comaplicac¸ões vari-adasquevãodesdeembalagensantiestáticasatéaparelhos eletrónicos.
Aclaraexpansãodestemercadonosúltimosanosé visí-velnabasededadosdaWoodrowWilson«Nanotechnology ConsumerProductsInventory»,ondesãoidentificados1317 produtos contendo NM, produzidos por 587 empresas em 30 países7. Relativamenteaprodutosde consumohumano contendoNM,oseunúmeronomercadoeuropeucresceu6 vezesnosúltimos3anos,totalizando858produtosem20105. Para além disso, acrescente aplicac¸ão dosNM à biomedi-cina, ananomedicina4, preconiza cuidadosde saúdemais eficientes emenosdispendiosos. Assim,plataformas como a «European Technology Platform on NanoMedicine»8 têm
Recursos
Destino dos NMs
Perigo
Produção Utilização
Ciclo de vida do nanomaterial
Cenários de exposição
Eliminação
Libertação dos NMs em:
Biota Humanos
Tecnoesfera:
Tratamento de águas residuais; Incineração de resíduos; Sistemas de Reciclagem Compartimentos Ambientais:
Água, Solo, Ar
Resíduos
Figura1–Esquemasimplificadodasfasesdociclodevidadeumnanomaterialmanufaturado.Adaptadode:Sometal13.
surgidoumpoucoportodoomundo,naexpectativade desen-volvernovassoluc¸õesterapêuticascomoconsequentevalor acrescentadoparaasaúdehumanaeparaasociedade.
Amaioriadaproduc¸ãoeutilizac¸ãodeNM,especialmente porgrandesmultinacionais,temocorridonosEstadosUnidos daAmérica(49%),sendoaUniãoEuropeia(UE)responsável por30%domercadoprodutor9.Entre2000e2010,os5 princi-paisrequerentesdepatentesnaáreadananotecnologiaforam aIBM,aSamsungElectronics, aTDK Corp,aCanonKKea FujitsuLtd10.Aatividadedepatenteamentonaáreada biona-notecnologiaem2003eralideradaporempresasamericanas, com70%depatenteamento10.Em2008,5anosdepois,a ati-vidade de patenteamento teve um aumento de 160% com 7399 patentes registadas10. Relativamente a Portugal, o númerodepatentesébastanteinferior,ouseja,forampedidas apenas14patentes10.
Natentativademelhorcaracterizarasituac¸ãoportuguesa relativamenteàproduc¸ãoeaodesenvolvimentodeNM,uma pesquisanositehttp://www.nanowerk.com(consultaem24 Mar2012)revelaarededeinvestigac¸ãoexistenteem Portu-gal,bemcomo aexistênciade 3empresasespecificamente envolvidasnaproduc¸ãodenanomateriais.Noentanto,tudo levaa crer que este seja um cenário incompletodevido à inexistência de umsistema centralizado de dados, a nível nacional. Um trabalho muito recente analisou os projetos deI&DrealizadossobreNMemPortugal11,emquese con-cluiuque,entre2006-2009,foramfinanciados108projetosno domíniodasnanotecnologias,dosquaissomente2 aborda-vamo tema da nanosseguranc¸a. Portugal participou ainda em24 projetos de I&D no âmbito do 7.◦ programa-quadro da UE e numa ac¸ão concertada sobre a seguranc¸ade NM promovida pela Agência Executiva para a Saúde e Consu-midores(ExecutiveAgencyforHealthandConsumers,EAHC)da ComissãodaUE11.Estesnúmerossugeremoelevadointeresse nacional,emparticularnaáreadasaplicac¸õesem nanotecno-logia.
Pelo quefoi mencionado, reconhece-se que ocrescente desenvolvimento,produc¸ãoeutilizac¸ãodeNM manufatura-dostemconduzidoaumaumentorealdaexposic¸ãohumana, especialmentenocontextoocupacional,comconsequências paraasaúdeaindadesconhecidas.Noentanto,ainformac¸ão sobreosníveisdeNMaqueapopulac¸ãohumanapodeestar sujeitaaindaéescassa12,querrelativamenteaos consumido-res,queraoslocaisdetrabalhoouaoambiente.
Exposic¸ão
humana
a
nanomateriais
manufaturados
e
potenciais
efeitos
na
saúde
A exposic¸ãohumana aNM podeocorrerdurante as várias fases do ciclo de vida do NM (fig. 1), desde a síntese, produc¸ãoeinclusãonosprodutos(exposic¸ãoocupacional)até àutilizac¸ão dessesmesmosprodutos(exposic¸ãodo consu-midor);aeliminac¸ãodosNMeconsequenteacumulac¸ãono ambiente poderá constituir ainda uma fontede exposic¸ão humana13 (exposic¸ão ambiental).A presenc¸a de NMno ar podedever-seaprocessosdeerosãodemateriaisfabricadosou àproduc¸ão/utilizac¸ão/manipulac¸ãodepós-nanoparticulados emprocessosindustriais,sendoqueaviainalatóriaconstituia viadeexposic¸ãohumanamaisrelevante,particularmente,em contextoocupacional14.Emrelac¸ãoàexposic¸ãoporviaoral, sabe-se queos NMincorporadosemalimentos, suplemen-tosalimentaresoumesmoemembalagensalimentares,bem comoosorigináriosdesolosouáguascontaminadas,poderão serabsorvidosatravésdointestinodemamíferos14e,assim, originar, eventualmente,efeitos sistémicos. Avia transdér-micaétambémimportante14,queremtermosocupacionais querquandosetratadautilizac¸ãodeprodutosdecosmética ehigienepessoalcontendoNMnasuacomposic¸ão,apesarde oconhecimentosobreacapacidadedeosNMpenetrarem(ou não)napelepermaneceraindainconclusivo.
Se, porum lado, foi estimado que, entre1981-83, cerca de 2,7milhões de trabalhadores se encontravam expostos ananomateriais dedióxidodetitânionos EUA15, poroutro lado, apenas temos conhecimento de um estudo nos EUA que sepreocupou emavaliara exposic¸ão inalatóriae dér-micaaosnanotubos de carbonodurante amanipulac¸ãode materialnão refinado16. Na UE, a AgênciaEuropeia para a Seguranc¸aeSaúdenoLocaldeTrabalho(EuropeanAgencyfor SafetyandHealthatWork,EU-OSHA)estimaqueentre300000a 400000postos detrabalho lidamdiretamentecom a nano-tecnologia. Os nanomateriais fabricados são manuseados em muitos mais locais de trabalho ao longo da cadeia de abastecimento e 75% desses locais de trabalho são pequenasemédiasempresas(http://osha.europa.eu/pt/press/ press-releases/risksofverysmall,consultaem23Jun2012). No Reino Unido, um outroestudo identificou53 empresas envolvidas em manufaturar, processar ou utilizar NM em 2005, para além de mais 55 envolvidas na I&D associada
à nanotecnologia9. Em Franc¸a, de acordo com um estudo doInstituto Francês de Investigac¸ão e Seguranc¸a(INRS), a produc¸ãoindustrial denanomateriais envolve entre2000e 4000trabalhadores17.Porsuavez,opontodasituac¸ãopara ospaísesnórdicos(Dinamarca,Finlândia,Islândia,Noruega, Suécia) foi apresentado no relatório de Schneider18, mos-trandoaexistênciadeumagrandediversidadedecenáriosde exposic¸ãohumanaduranteociclodevidadosNM,envolvendo nãosótrabalhadoresmastambémutilizadores.EmPortugal, queseconhec¸a,nãoexistemdadospublicamentedisponíveis sobreexposic¸ãoaNM.
Para além disso, na maioria dos países, a colocac¸ão da designac¸ão«nano»nosrótulosdosprodutosdeconsumonão éfundamentadalegalmentee,deacordocomorelatóriodo InstitutoHolandêsparaaSaúdePúblicaeAmbiente(RIVM), algunsprodutoscom estaindicac¸ãonãocontêmrealmente NM,enquantooutrosincorporamNMenãooreferem19.Não existe,portanto,umsistemaderastreabilidadequepossibilite aosconsumidoresestaremcorretamenteinformadossobrea presenc¸adeNMnosprodutosexistentesnomercadoe,como tal,estaremcientesdapossibilidadedeestaremexpostosa essesmateriais,dificultandoapercec¸ãoeacomunicac¸ãodo risco.
Do que ficou exposto, é inequívoco que, por um lado, asnanotecnologiastêm jáumenorme impactoeconómico e estão a ser alvo de umaexpansão que é impossível de revertereque,poroutro,aexposic¸ãohumanaaumaampla variedade de NM é já uma realidade que não pode ser ignorada. Porsua vez, a EU-OSHA refere a exposic¸ão ocu-pacionalaosNMcomooriscoemergentemaispremente20, considerandoexistirnecessidadede investigac¸ãodetodoo ciclo de vida de modo a identificar todas as situac¸ões de exposic¸ãodostrabalhadores,bemcomoasimplicac¸õesnasua saúde.
Apósaabsorc¸ãoeumaveznointeriordoorganismo,as nanoparticulas,emconsequênciadassuaspequenas dimen-sões,têm a capacidadede setranslocarempara o sistema circulatórioelinfático,podendoatingirdiversosórgãose teci-dos,incluindoocérebro1.Diversosestudosemroedorestêm investigadoasconsequênciasdaexposic¸ãoaosNM, essenci-almente porinalac¸ão,relativamenteà ocorrênciadelesões nospulmões,inflamac¸ãoeformac¸ãodetumores12,tendo glo-balmenteconfirmadoopotencialtóxicodosNM.Aresposta inflamatóriaquetemcomoconsequênciaaproduc¸ãode radi-caislivresdeoxigénio(ROS)edeazotoé,defacto,aviamais evidentequecorrelacionaaexposic¸ãoaNMcoma ocorrên-ciadelesõesnostecidoseque,aocausarlesõesnogenoma dascélulas21,temopotencialdecontribuirparao desenvol-vimentode neoplasias.De facto, estetipo de respostados tecidos,quandoemcontactocomNM,temlevadoao estabe-lecimentodeanalogiascomosconhecidoscasosdasilicosee asbestoseemqueainflamac¸ãocrónicapodelevara genotoxi-cidade,mutac¸ões,mortecelularecancro22.Aestruturafibrosa dealgunsNM,semelhanteaasbestos,acentuaestaanalogia. Noque serefere aoutrosefeitos nasaúdehumana,até àdata, com baseemdiversas experiências in vivosobre a toxicidade dosNM, podesugerir-se que umavariedadede patologiasdosistemarespiratório ecardiovascularestejam potencialmente associadas à exposic¸ão aosNM, tais como mesotelioma,tumoresbenignoseenfartedomiocárdio21.
Os
nanomateriais
no
contexto
da
saúde
pública
Análisederisco
Considerando o paradigma de análise de risco (risk analy-sis) convencional, que incorpora3componentes–avaliac¸ão do risco (risk assessment), gestão do risco e comunicac¸ão dorisco23–temsurgidoadúvidasobreasuaaplicabilidade ao casodosNM.Aavaliac¸ãodoriscoinclui aidentificac¸ão doperigo,atravésde estudossobreatoxicidadedosNM,a avaliac¸ãodaexposic¸ãohumanae,porúltimo,acaracterizac¸ão dorisco,atravésdeestudosdeíndolemaismecanística.
RelativamenteàtoxicidadedosNM,tem-seassumidoque estesapresentam, pelomenos,amesma toxicidadequeos materiais na forma não «nano». No entanto, aobservac¸ão de que os mesmos constituintes, quando estruturados na forma «nano»,revelampropriedades físico-químicas distin-tas das domaterialde origem,com consequentealterac¸ão potencialdasuareatividadenossistemasbiológicos4,coloca emcausaaaplicabilidadedasmetodologiasconvencionaisà avaliac¸ãodeefeitosadversosdosNM,gerandotambém incer-tezassobrearobustezdosresultadosjápublicados.Assim, taisespecificidadesdosNMdevemserconsideradasparauma adequadaavaliac¸ãoderisco,atravésdoconhecimentogerado pelananotoxicologia4,conformesesugerenafigura2.
Neste contexto, a Resoluc¸ão do Parlamento Euro-peu, de 24 de abril de 2009, a propósito dos aspetos regulamentares dos nanomateriais, destaca a ausên-cia de informac¸ão e de conhecimentos científicos suficientes para tal extrapolac¸ão na área dos NM, acon-selhando a intervenc¸ão da Comissão das Comunidades Europeiasparacolmatarestasfalhaseadequaralegislac¸ão existente24.
Aindaem2009,combasenoRegulamentoREACHsobre Registo, Avaliac¸ão, Autorizac¸ão e Restric¸ão dos Químicos (Registration,Evaluation,AuthorisationandRestrictionof Chemi-cals),aUEiniciouprojetosdeimplementac¸ãodoREACHpara NM(REACHImplementationProjectonNanomaterials,RIPoN)com vistaaadaptarosguiasdeorientac¸ãoREACHaosNM.Estas ac¸õesdeimplementac¸ãovisaramfornecerinformac¸ão cien-tífica relevante à Agência Europeia dos Químicos (ECHA), nomeadamente no sentidode adaptar os protocolos expe-rimentais do REACH aos NM. Foi concluído ainda que substânciasnasformasnanodevemserregistadas separada-mente,independentementedoseuvolumeesemprequeas suaspropriedadesforemdiferentesdasubstânciaoriginal.
Atualmente, de acordo com o REACH25, a avaliac¸ão da seguranc¸adosnanomateriaisdeve seguirametodologiade avaliac¸ãoderiscoadotadaparaosquímicosconvencionais, quesebaseianosseguintespontos:1) avaliac¸ãodeefeitos; 2)avaliac¸ãodaexposic¸ão;e3)caracterizac¸ãodorisco.
No que diz respeito à avaliac¸ão de efeitos (passo 1), o quociente de risco (risk characterisation ratio, RCR) é consi-derado aceitável quando o valor estimado da exposic¸ão é inferioràdose/concentrac¸ãodoagenteemquenãose obser-vouefeitoadverso(noobservedadverseeffectlevel,NOAEL)no estudoexperimentallevadoacaboparaavaliaroendpointem estudo (p. ex., toxicidadepor inalac¸ão, genotoxicidade),ou seja,quandoRCR<1.Nocasodesernecessárioefetuarensaios
Identificação do Risco
Efeitos adversos dos NMs
Avaliação da Exposição
Gestão do risco
Comunicação do risco
Governança
Incremento do conhecimento científico e
redução de incertezas Caracterização do Risco
Propriedades que causam o risco; Dados mecanísticos; Modelos de extrapolação; Cálculo do Risco Nanotoxicologia -Intervenientes -Legisladores -Indústria -Trabalhadores -Utilizadores Impacto na Sociedade/ Economia/Política Prevenção e Intervenção Regulação Saúde pública Modelos experimentais; Avaliação da Dose-resposta; Estudos Epidemiológicos Via Inalatória,Oral Transdérmica; Monitorização Ocupacional e Ambiental; Biomonitorização Desenvolver procedimentos para reduzir a exposição; Estabelecer níveis de segurança.
Figura2–Elementos-chavenaanálisederiscodosnanomateriais,suaconexãocomananotoxicologiaeinterac¸ãocoma saúdepública.
in vivoou vitro para avaliaros efeitos,torna-se necessário caracterizarprimeirooNMemestudo,recolhendoinformac¸ão sobreos parâmetrosfísico-químicosmaisrelevantes eque poderãoinfluenciara toxicidade,tais como distribuic¸ãode tamanhos, estado de agregac¸ão/aglomerac¸ão, forma, área superficial,reatividade,solubilidadeemágua,carga superfi-cialeestabilidade. Salienta-se desde já,no entanto, queo poderpreditivoemtermosdetoxicidade,dobinómio proprie-dadesintrínsecas-efeitosobservadoséaindabaixo,devidoàjá referidainsuficienteevidênciacientífica24eàfaltade protoco-losexperimentaisvalidados,impossibilitandoaextrapolac¸ão deresultadosouaassociac¸ãodeumdeterminadoperfil toxi-cológicoaumcerto(s)tipo(s)deNM26.
Paraavaliaraexposic¸ão(passo2),torna-senecessário iden-tificartodasaspotenciaisfontesdeexposic¸ão.Nestesentido, éimportanteconhecero processo defabrico, asatividades envolvidaseosdiferentescenáriosdeexposic¸ão,assimcomo identificarasviasdeexposic¸ãomaisprováveis.Estetipode informac¸ãotambémérelevanteparadecidiraestratégiade testeadequada(queestudosequeviasdeadministrac¸ão)ea elaborac¸ãoderecomendac¸õessobremedidasdeprevenc¸ãodo risco.Estaspodemincluirousodeequipamentodeprotec¸ão individualcomespecificac¸õesdefinidas(máscarasdeprotec¸ão nível3-FFP3),usodefiltrosHEPA,eaindaaimplementac¸ão demedidasoperacionaistaiscomoaextrac¸ãoforc¸adadear nopostodetrabalho–LEV(localexhaustventilation),reduc¸ãoda durac¸ãodastarefase,deumamaneirageral,formac¸ãorelativa aboaspráticasdefabrico.
Logo após a implementac¸ão do RIPoN, uma análise de incertezademonstrouqueexistemlacunasnoconhecimento emquasetodososaspetosrelacionadoscompotenciais ris-cos paraa saúdee o ambienteassociados aosNM27. Mais
recentemente,aComunicac¸ãodaComissãodas Comunida-desEuropeiassobreaspetosreguladoresdosnanomateriais28 expressou amesma incerteza,ao salientara existência de lacunas relativamente às questões de seguranc¸a dos NM, salvaguardandoapossibilidadedemodificaralegislac¸ão exis-tente mediante novas informac¸ões. É também referido o esforc¸ointernacionalqueseencontraemcursoparaavaliac¸ão egestãodosriscosassociadosàexposic¸ãoaestesmateriais, porforma agarantirasuautilizac¸ão emconsonância com elevadoníveldesaúdepública,seguranc¸aeprotec¸ãodos con-sumidores,trabalhadoreseambiente.
Presentemente, peranteosnovosprodutosbaseadosem nanomateriaiseasincertezasnoqueserefereàsuaseguranc¸a aplica-se, de uma forma geral, o princípio da precauc¸ão, enquadramento utilizado para a regulac¸ão de tecnologias emergentesquepossamconstituirpotenciaisameac¸asgraves paraasaúdeouparaoambiente29.Oprincípiodaprecauc¸ão preconizaanecessidadedeatuarparareduzirperigos poten-ciaisantesde existirumaprovacabaldoperigo,tendoem considerac¸ãoosprováveiscustosebenefíciosdaac¸ãoversus inac¸ão.
Lamentavelmente,sãovariadososexemplosdeum pas-sado recenteem quetecnologias emergentescom enorme potencialparaaplicac¸õesindustriaisoumédicasserevelaram tardiamentecomonocivasparaoserhumanoeparao ambi-ente.Umdessesexemplosfoiaproduc¸ãoeamplautilizac¸ão das fibrasdeasbestos parafins industriaiserevestimentos naconstruc¸ãocivil,queseverificounasegundametadedo séculoxx.Apesarderepetidosalertasquantoaosseus poten-ciaisefeitosadversosparaohomem,estesforamignorados, prevendo-se,emconsequência,umacréscimodaordemdos milharesdecasosdemesoteliomaedecancrodopulmão,nos
próximos25anos.Outrocasoparadigmáticoéodosraios-X, cujautilizac¸ãosebanalizouapósasuadescobertanofinaldo séculoxix,dadasassuaspotencialidadesparadiagnósticoe terapêutica.Emboraosseusefeitosagudostenhamsido pre-cocementereconhecidos,osefeitoscrónicos,resultantesda exposic¸ãorepetida,foramignoradosdurantemaisde50anos, sendoqueapenasem1949oInternationalCommissionon Radi-ationProtection(ICRP)reconheceuquesedeveriaminimizara exposic¸ãoaoraio-Xdevidoaoseuefeitocancerígeno.Contudo, sóem1996foipublicadaaDiretivaEuropeiasobreradiac¸ão ionizantebaseadanoslimitesdedoseestabelecidospeloICRP algunsanosantes,cujaimplementac¸ãosetornoumandatória paratodososEstados-Membros30.Emqualquerdestescasos, asconsequênciassósetornaramevidentesdécadasapósas primeirasexposic¸õesocorrerem,devidoaoslongosperíodos delatênciadosprocessoscancerígenos,impedindoaac¸ãono sentidodeminimizarouimpediraexposic¸ão.Atéqueponto osalertasqueforamsurgindonoscasosilustradospoderiam terconduzidoaac¸õesprecocesparareduzirosperigos,aum customaisbaixoparaasociedade,setivessesidoaplicadoo princípiodaprecauc¸ão?Assim,deveremosteraprendidocom estesexemplose,faceaonovodesafiocolocadopelacrescente produc¸ãoeutilizac¸ãodenanomateriais,importaráexpandir abasedoconhecimentoatravésdeavaliac¸õesintegradasque permitamgerar evidênciaparaqueos decisoresetodas as partesinteressadaspossampreverasconsequênciaspossíveis daregulamentac¸ãoedasac¸õeseinac¸ões.Enquantoa incer-tezapersistirquantoaospotenciaisefeitosadversosdosNM, procura-sequeaaplicac¸ãodoprincípiodaprecauc¸ãopermita oequilíbrioentreosriscosquepossamviraserreconhecidos eosbenefíciossocietaisquedelesadvêm.
Naprática,aaplicac¸ãodoprincípiodaprecauc¸ãoimplica a implementac¸ão de medidas de prevenc¸ão baseadas na reduc¸ãodaexposic¸ãohumana,aolongodetodasasfasesdo ciclode vidadoNM, tendoemcontaas vias deexposic¸ão demaiorpreocupac¸ãoeincluindo,necessariamente,planos deemergência emcaso de acidente.O National Institutefor OccupationalSafetyandHealth(NIOSH)recomendouo desen-volvimento e a implementac¸ão de medidas de protec¸ão temporáriasnocasodaexposic¸ãoocupacional29.
Contudo,urgequesejamtomadasdecisões regulamenta-rescombaseemevidênciacientífica,casosejaidentificado algum risco para a saúde humana, pelo que é premente aprofundarosestudosepidemiológicosetoxicológicossobre NM.Tratando-sedemateriaismanufaturadosparautilizac¸ão emprodutosde usohumano,temde serconsideradopara estaavaliac¸ãoocontinuumdainvestigac¸ão,desenvolvimento e produc¸ão até ao consumidor, bem como todos os seus intervenientes,propondo-separaessefimoenquadramento ilustradonafigura2.Nesteenquadramento,agovernanc¸ade potenciais riscosparaasaúde associadosaosNMdeve ser adaptativa,àmedidaqueoconhecimentocientíficoprogride, demodoaassegurarumaadequadaanálisedoriscoemtempo útil,considerandoascaracterísticasespecíficasdos nanoma-teriaissemmenosprezarosseusgrandesbenefíciossocietais.
Toxicidadedosnanomateriais:ananotoxicologia
Datamde1990doistrabalhosnarevistacientíficaJournalof Aerosol Science, que sugeriam a ideia de que as partículas
Tabela2–Comparac¸ãodascaracterísticasgerais, biocinéticaeefeitosentrenanopartículasepartículasde dimensõesnormaisparentais(nãonano),considerando aexposic¸ãoporviainalatória
Nanopartículas (<100nm) Partículas maiores (>500nm) Característicasgerais: Razão:n.◦/área superficialpor volume Elevada Baixa Aglomerac¸ãonoar elíquidos Provável (dependedo meio) Menosprovável Deposic¸ãonotrato respiratório Difusão Sedimentac¸ão, captura Adsorc¸ão proteínas/lipidos invitro Sim, importante paracinética Menosefetiva
Translocac¸ãoparaórgãossecundários:
Célulasepiteliais, circulac¸ãolinfática esanguínea, sistemanervoso Sim Não,sóem condic¸õesde sobrecarga
Mucociliaridade Provável Eficiente
Fagocitosepor macrofagos Baixa Eficiente Internalizac¸ãonas células: Sim Sobretudo células fagocíticas
Mitocôndria Sim Não
Núcleos Provável
(<40nm)
Não
Efeitosdiretos(dependendodadose):
Naviadeentrada (tratorespiratório) Sim Sim Emórgãos-alvo secundários Sim Não Inflamac¸ão,stress oxidativo,ativac¸ão deviasde sinalizac¸ão Sim Sim AdaptadodeOberdörsterG4.
inaladasdediâmetro inferiora100nanómetrosproduziam umarespostaexacerbadanascélulaspulmonares(Ferinetal., 1990eOberdörsteretal.,199031).Aassociac¸ãoentreos efei-tosbiológicoseadimensãodaspartículas,sugeridoporestes autores, tem sido progressivamente confirmada através de outrosestudos31.Natabela2resumem-seasprincipais carac-terísticas,biocinéticaeefeitosbiológicosdasnanopartículas, emcomparac¸ãocomosseusanálogosdedimensãosuperior a500nanómetros,queseconsiderateremmaiorimpactono seuperfiltoxicológicoemododeac¸ão.Salientam-se,assim, as2característicasfundamentaisdosNMquecondicionam tambémasuatoxicidade31,designadamente,adimensãodas partículaseoseucomportamentodinâmicoemmeiogasoso elíquido4,31.Ocomportamentodinâmicodosnanomateriais, ouseja,asuacapacidadedeformac¸ãodeagregadosou aglo-merados,determinaadimensãorealdaspartículasquevão interagircomossistemasbiológicos4.Enquantoosagregados
deNMconsistemempartículasprimáriasunidasporligac¸ões químicasfortes(tipocovalente),nosaglomeradosas partícu-lasprimáriasestãounidasporforc¸asdevanderWaalsfracas, sendo as suas propriedades fortemente influenciadas pelo meioemqueseencontram4.Assim,aspropriedades quími-casdosNM,taiscomohidrofobicidade,funcionalizac¸ão,carga, estadodedispersãoeadsorc¸ãodeproteínasnasuasuperfície, sãodeterminantesparaasuaaptidãoparaseremabsorvidos, metabolizadoseeliminados ou acumuladosno organismo. Estas propriedades podem,no entanto, sermodificadas de ummododinâmicoquandoemcondic¸õesbiológicasou ambi-entaisdistintas32. Poreste motivo, mesmoquandoo perfil toxicológicodosconstituintesdeumNMéconhecido,podem existircasosemqueosseusefeitosnasaúdeenoambiente sejamdistintosrelativamenteaosdosmesmosconstituintes naformanãonanométrica.
Comofoianteriormentereferido,adeposic¸ãodeNMnos tecidos pode desencadear uma resposta inflamatória em que células como macrófagos e neutrófilos são recrutados paraolocaldocontacto,levandoaostressoxidativoanível celular(produc¸ão deROS) que,porsua vez,podem causar alterac¸ões no genoma das células adjacentes, produzindo efeitosgenotóxicossecundários.Emsituac¸õesdeinflamac¸ão crónica, o stress genotóxico será permanente, com conse-quente acumulac¸ão de alterac¸ões genéticasque facilitarão oprocesso detransformac¸ão das célulasem direc¸ãoa um fenótipomaligno.Contudo,mesmonaausênciadeuma res-posta inflamatória, os NM podem induzir, primariamente, efeitos genotóxicos mediados por stress oxidativo, através da sua interac¸ão com constituintes celulares, incluindo as mitocôndriaseoxidasesNADPH ligadas àmembrana celu-larouatravésdadeplec¸ãodeantioxidantes(e.g.,glutationo). Sabe-se,porexemplo,queosiõesmetálicosdetransic¸ão con-tidos na composic¸ão de muitos NM (e.g., cádmio, crómio, cobalto,cobre,ferro,níquel,titânioezinco)podemser liberta-dos,causandoaconversãodosmetabolitosdooxigéniocelular emROS33.Jacobsenetal.34demonstraramainduc¸ãodeROS emcélulasexpostasanegrodecarbono,nanotubosdecarbono deparedesimplesefulerenosC60.Atéqueponto,nasituac¸ão
deexposic¸ãoporviainalatóriaaNM,estetipodemecanismo detransformac¸ãocelular podesergeneralizado, ainda per-manece uma questãoem aberto que deverá ser objeto de investigac¸ãofutura.
ParaalémdaslesõesoxidativasnoDNA,tambémosefeitos genotóxicosdiretosdosNMpodemcontribuirdeforma deter-minanteparagerarinstabilidadegenéticaque,porsuavez, podecontribuirparaodesenvolvimentodeprocessos cance-rígenos.Teoricamente,acapacidadedepenetrac¸ãodosNM nossistemascelularesserásuperioràdosseusanálogosnão nanométricos,permitindo-lheatravessarasmembranas celu-lareseatingironúcleo,ondepoderãointeragirdiretamente comogenomadacélulaoucomasproteínasnucleares.Os NMquenãoconsigamtransporamembrananuclear pode-rão,aindaassim,teracessoaoDNAeproteínasnuclearesno decursodoprocessomitótico,podendooriginarfenómenosde aneuploidia.Estetipodeacontecimentosfoijádescritopara osNMdedióxidodetitânioesílicaquepenetramnonúcleo ecausamaformac¸ãodeagregadosdeproteínas intranuclea-res,levandoàinibic¸ãodareplicac¸ão,transcric¸ãoeproliferac¸ão celular33.Estudosmaisrecentessugeremque odióxidode
titânio é capaz de se inserir também nas bases de DNA, ligando-seaosnucleótidosealterandoaestrutura secundá-riadoDNA35.Outroexemplodizrespeitoàsnanopartículas de ouroqueparecemexibir acapacidade deseligaremao DNA,querexteriormente,querintercalando-separcialmente nacadeiadeDNA36.Apesardestesefeitosobservados,outros estudos, porém,têm reveladoresultados negativospara as mesmasclassesdeNM.
Emboraosmecanismosdescritos,consistindonumaac¸ão primáriadiretaouindiretadosNMsobreogenomaounuma ac¸ãosecundária,viarespostainflamatória,tenhamvindoaser propostoscombaseemevidênciasexperimentais,ainda per-sistemmuitasincertezasquejustificam umaintensificac¸ão dosestudossobreospotenciaisefeitosadversosdestes mate-riaiscomvistaaumacorretaavaliac¸ãoderisco.
Peranteestafragilidadedoconhecimento,tem-seassistido aumaconjugac¸ãodeesforc¸osdeorganismosinternacionais, comooCentroparaoControlodeDoenc¸as(CenterforDisease Control,CDC),aOCDEeaUE,nosentidodepromover proje-tosegruposdetrabalhocomvista aassegurar autilizac¸ão seguradosNM.Nestecontexto,ananotoxicologia–visandoa avaliac¸ãodosefeitosadversosdosNMnoorganismohumano eecossistemas,levandoemconsiderac¸ãoasespecificidades destes,paraprotegerasaúde–temvindoadesenvolver-se comoumaáreaderelevonoâmbitodasaúdepública4.Esta árearecentedatoxicologiadeveráproduziroconhecimento científicodosmecanismosdeac¸ãodosNMnossistemas bio-lógicos,quecontribuiráparaarealizac¸ãodeumaanálisede risco,conformeesquematicamenterepresentadonafigura2. Assim,ananotoxicologiairácontribuirparaumaabordagem preditiva,como aproposta porNelet al.(2012). Deacordo com este autor, a necessidade de uma plataforma para a investigac¸ão das interac¸õesnainterface nano/bio podeser respondidaatravésdemetodologiascomelevadorendimento (High-ThroughputScreening)paraorastreioinvitrodas propri-edadestoxicológicas dosNM,fundamentadasnoseumodo deac¸ão,procurandoprever-sequaisaspropriedades físico-químicasdosNMquepodemconduzirapatologiasinvivo37. Espera-sequeautilizac¸ãodestetipodenanotoxicologia pre-ditivapermita,futuramente,estabelecerumaabordagemde safe-by-design38quepressupõeasíntesedeNMsegurosapós modificac¸ão daspropriedadesresponsáveis pelasua toxici-dade.Paraisso,éessencialconheceroseumododeac¸ão,bem comoaspropriedade(s)diretamenteassociadasàsua toxici-dade,paraquesepossammodificar,minimizandoosefeitos tóxicos epromovendoa síntesede NMseguros,que terão, aindaassim,deseranalisadosquantoàsuaseguranc¸a.
Avaliac¸ãodagenotoxicidadeepotencialcarcinogénicodos nanomateriais
Segundo o Joint Research Center (JRC), a avaliac¸ão de seguranc¸adosnanomateriais deveserenquadradaaonível dainvestigac¸ãobásicaetranslacional,procurandoproduzir-se conhecimento sobreosmecanismosde toxicidade específi-cosdosNMeaplicaresseconhecimentoparareduzirosseus impactos na saúde38. Assim, sugereo desenvolvimento de metodologiasinovadorasparaanálisederiscos nanoespecí-ficos eavalidac¸ãode modelosin vitroein vivorecorrendo a NM de referência38. Por outro lado, os muitos esforc¸os
internacionaisrealizadostêmvindoaproduzirumagrande quantidadededadossobreatoxicidadedasdiversasclasses deNM, sendode estimulartambém aadequadapartilha e difusãodoconhecimento,incluindoaapresentac¸ãode resul-tados negativos, e a realizac¸ão de meta-análises de toda esta a informac¸ão39. Por fim, preconiza-se como priorida-desdeinvestigac¸ãoadefinic¸ãodecurvasdose-respostaem órgãosalvoesistemascomplexos,recorrendoamateriaisbem caracterizados38.
Poroutrolado,ospareceresemitidospeloComitéCientífico paraosRiscosEmergenteseIdentificadosdeNovo3(Scientific
CommitteeonEmerging andNewlyIdentifiedHealth Risks, SCE-NIHR)epelaUEdestacamasnanopartículaslivreseosNM debaixasolubilidadecomoumapreocupac¸ãoprioritáriano contextodoriscohumanoeambiental.
Umadasprincipaispreocupac¸õesrelativamenteaos efei-tos adversosdos NM nasaúde humana éo seu potencial efeitocarcinogénico,queimportaavaliarecaracterizar. Con-tudo,osensaiosdecarcinogénesesãodemorados(cercade 2anos)emuitodispendiosos, umavezquesebaseiam na exposic¸ãodeumelevadonúmerodeanimaisaoagenteem estudoenaobservac¸ãodoestadodesaúdeaolongodasua vida, com vista à detec¸ão da eventual formac¸ãode tumo-res.Dadoqueacarcinogéneseéumprocessocomplexo,com múltiplospassos,emqueestão frequentementeenvolvidas mutac¸õesemgenescríticoseinstabilidadegenómica,grande partedosagentescarcinogénicos atuaporumavia genotó-xica,i.e.,atravésdainduc¸ãodelesõesirreversíveisnogenoma cuja acumulac¸ão contribui para a tumorigénese. Estabele-cidaaassociac¸ãoentregenotoxicidadeecarcinogénese,foram desenvolvidos ensaios de genotoxicidade (de curto termo) parapermitirpreverdeumaformamaisrápidaeeconómicao efeitocarcinogénicodequalqueragentefísico,químicoou bio-lógico.Assim,aavaliac¸ãodaseguranc¸anoqueserefereaoseu efeito genotóxico égeralmente baseadanuma combinac¸ão deensaiosquepermitemavaliar3tiposdealterac¸ões gené-ticascom particularrelevâncianadeterminac¸ão decancro: mutac¸ãogénicaeclastogenicidade(quebracromossómica)e aneuploidia(perdacromossómica).Dadoqueumúnicoteste éinsuficienteparacaracterizarestestrêseventos-chave,têm sido propostasvárias abordagens baseadas nacombinac¸ão detestesdegenotoxicidadedecurtotermoinvitroeinvivo, conformepreconizadonarevisãodaslinhasorientadoras ela-boradaspelogrupodetrabalhodaInternationalConferenceon HarmonisationofTechnicalRequirementsforRegistrationof Phar-maceuticals for Human Use (ICH)40,41 e, mais recentemente, da Organizac¸ão Mundial de Saúde/Programa Internacional deSeguranc¸aQuímica(OMS/IPCS)42.Ensaiosdestetipotêm vindoaserrealizadosutilizadosnoDepartamentode Gené-ticaHumanadoInstitutoNacionaldeSaúdeDr.RicardoJorge comvistaàcaracterizac¸ãodeefeitosgenotóxicosdeagentes físicos,químicosebiológicoseseus mecanismosdeac¸ãoa nívelmolecular,celularedoorganismo43,44.
Noentanto,asconsiderac¸õesexpostassobreas proprieda-desespecíficasdosNMconduzemnovamenteàquestãoque temsidoamplamentediscutidanomeiocientífico4,45,46:seráa metodologiaatualdeavaliac¸ãoderiscoutilizadanaUEparaos compostosquímicosdiretamenteaplicávelaosNM,oudeverá sermodificadaparaseadequaràscaracterísticasespecíficas dosNM?
A resposta a esta questão depende, por um lado, da existênciadeconhecimentocientíficodetalhadosobreo com-portamento dos NMnos sistemas biológicossimilares aos humanos,ouquesejamextrapoláveisparaaespéciehumana. Por outro lado, implica a validac¸ão das metodologias de avaliac¸ão de toxicidade, em especial de genotoxicidade,já existentes,bemcomodasuacapacidadeparadetetaremos efeitosdosNMnessessistemasbiológicos.Surgiu,assim,a nanogenotoxicologia,quetemoobjetivodeavaliaro poten-cialgenotóxicodosNMtentando,emparalelo,esclareceras propriedadesfísico-químicasmaisrelevantesparaessetipo deefeitos33.
Globalmente,numaprimeiraabordagem,procura-se reali-zaraavaliac¸ãodosefeitosgenotóxicosdosNM,utilizandoos ensaioseosmodelosexperimentaisjávalidados33.Contudo, a maioria dos estudos publicados tem revelado resulta-dos muito diversos e até contraditórios para uma mesma classe de NM, evidenciando limitac¸ões inerentes à espe-cificidade de trabalhar com materiais à escala nano, bem como diferenc¸as naexecuc¸ão experimentalque dificultam a comparac¸ãodosresultados,não permitindoumaanálise conclusiva.Assecc¸õesseguintesilustramestasdificuldades, atravésdainformac¸ãorelativaàavaliac¸ãodaseguranc¸ados NMdedióxidodetitânioedenanotubosdecarbono, ampla-menteutilizadosemprodutosdeconsumo.
Ocasodosnanomateriaisdedióxidodetitânio
Existemváriostiposdepigmentobrancodedióxidodetitânio, utilizadosnaproduc¸ãodetintaserevestimentos.Odióxido de titânio é usado também em papel, plástico, cerâmica, borracha,tintadeimpressoras,revestimentosdochão, cata-lisadores, tecidos etêxteis, cosméticos (e.g. em protetores solares), corantesalimentares, medicamentose componen-teseletrónicos47.Osdiferentesnanomateriaisdedióxidode titânio,emboracomamesmacomposic¸ãoquímica,podem apresentar-secom4estruturascristalinasdiferentes:rutilo, anatase,broquiteoudióxidodetitânio(B)1,sendoqueas for-masrutiloeanatasesãoasmaisfrequentementeusadasem produtosdeconsumo.
Recentemente, o National Institute for Occupational Safety and Health (NIOSH)43 recomendou limites de exposic¸ão de 0,3mg/m3dearparaodióxidodetitânionasformasnano.
O limitede exposic¸ão em Portugal para esta substância é de 10mg/m3 dear,considerandoo TWA(8-htempomédio
ponderado)15.
Comoreferimosanteriormente,emboranãoexistamdados atuaissobreaexposic¸ãodetrabalhadoresaosNMdedióxido detitânio,osdadosde1981-83indicamque2,7milhõesde tra-balhadoresestavampotencialmenteexpostosaestesNM15, especialmenteporviainalatória.Noentanto,deacordocom arevisãorecentedaNIOSH,os5estudosepidemiológicosjá realizadossobreaexposic¸ãodostrabalhadoresedapopulac¸ão aosnanomateriaisdedióxidodetitânio(empó)não eviden-ciaram um risco acrescido de mortalidade ou morbilidade porcancrodopulmão43.Assim,aNIOSHconsideranão exis-tir evidênciasuficienteparaclassificarosNMdedióxidode titâniocomopotenciaisagentescarcinogénicosemcontexto ocupacional47. Porém, na classificac¸ão da Agência Interna-cional para a Investigac¸ão em Cancro (International Agency forResearch onCancer,IARC), odióxido detitâniona forma
nanoéconsideradocomo«possivelmentecarcinogénicopara humanos»(Grupo2B),pois,muitoemboranãoexista evidên-ciaadequadaparaasuacarcinogenicidadeemhumanos,há evidênciasuficientedeefeitoscarcinogénicosemanimais15. Noqueserefereaoseupotencialgenotóxico,ainvestigac¸ão atéaomomentonãofoiconclusiva:enquantováriosestudos realizadosembactériasrevelaramnãoexistirgenotoxicidade induzidapelodióxidodetitânio15,47,foramjáreportados efei-tospositivosemcélulaseucariotaseemanimais.Osdiferentes resultadosrefletem,possivelmente,diferentescaracterísticas dosNMinvestigados,comoaforma cristalinaouapureza, diferentes procedimentos usados para a suadispersão em meioaquoso(p.ex.meioparaculturacelularouveículopara administrac¸ãoemanimais),diferentesviasdeexposic¸ão,nem sempreexplicitadasnaliteratura,ouaindadiferenc¸asentre osmodelosexperimentaisutilizados.Globalmente,o«corpo deevidência»relativamenteàexistênciaounãode genoto-xicidadeassociadaaosNMdedióxidodetitânio,bemcomo omodocomoessagenotoxicidadesurge,necessitaaindaser esclarecido.
Outrotipo de efeitos adversos a considerar,em termos deimpacto alongotermopara oambienteeparaa saúde humana,éadesregulac¸ãoendócrina. Num estudorecente, Wangetal.(2011)observaramqueumaexposic¸ãoprolongada aNMdedióxidodetitânioafetounegativamenteareproduc¸ão de peixes-zebra e a sobrevivência dos embriões, indepen-dentementeda concentrac¸ão48.Ainda queascondic¸ões de exposic¸ãonãotenhamsidoigualmenteseguidasparaogrupo decontrolo,osresultadosdaanálisehistológicaedoestudo deexpressãogénicapermitiram,respetivamente,caracterizar umatraso nafoliculogénese bemcomumperfilde expres-são génica compatível com alterac¸ões da maturac¸ão e da func¸ão dos ovários dospeixes expostos a dióxido de titâ-nio,confirmando queeste NMpodesertóxico aonível do sistema reprodutor dessa espécie. Assim, sugere-se que a contaminac¸ãode ambientesaquáticoscom NMde dióxido de titânio, mesmo em baixas doses, pode ter impacto na reproduc¸ão das espécies, efeito que, atéao momento, não tinha sido descrito, constituindo mais um motivo para a investigac¸ãodopotencialimpactodosNMnoambienteena saúdehumana.
Ocasodosnanotubosdecarbonoeoparadigma dosasbestos
Osnanotubosdecarbono (CNT)sãoumtipode nanomate-riaismanufaturadoscujasaplicac¸õestêmvindoaaumentar muitosignificativamente.Consistememcilindrosdecarbono àescalanano,constituídosporgrafenos,podendovariarna suaforma,dimensão,característicasfísicas, revestimentos, composic¸ãoquímicaoufuncionalizac¸ão49.Osnanotubosde carbono de parede simples (SWCNT) têm um diâmetro de cercade1nm,sendoformadosporumsócilindro,enquanto osnanotubosdecarbono deparedemúltipla(MWCNT)são constituídospornumerososSWCNTconcêntricos,possuindo diâmetrosdecercade2-100nm;existemaindaasnanofibras decarbonocomdiâmetrosentre40e200nm50.OsCNTsão mecanicamentemuitoresistentes,flexíveisebons conduto-resdeeletricidade,oquepermiteasuautilizac¸ãoemdiversas aplicac¸ões,nomeadamente,emcompósitosreforc¸ados, sen-soreseeletrónica50.
Duranteoseuciclodevida,osCNTpodematingiro ambi-ente,nãosesabendo,porém,comosecomportamnacadeia alimentar51.Nãoexistemdadosdeestudosepidemiológicos oudebiomonitorizac¸ãoatéàdata14queapontemparaefeitos adversosnoHomem.
Noentanto,assemelhanc¸asnotamanhoeformaentreos CNTeasfibrasdeasbestostêmgeradopreocupac¸õessobre a suaseguranc¸a.Aprincipal questãoderiva nãosó dasua dimensão nano, mas também da estrutura fibrosa que os tornasemelhantes,nesteaspeto,aosasbestos.Numestudo recente, após injec¸ão intraperitoneal de MWCNT em rati-nhos,foimesmosugeridoummecanismodepatogenicidade semelhanteaodosasbestos.Porém,emvezdese desenvol-vercancro,verificou-seantesaencapsulac¸ãodosCNTpelas células multinucleadas do sistema imunitário, numa apa-rente«fagocitosefrustrada».Emcontraste,Takagietal.,após exposic¸ão de ratinhos p53+/− (quese sabe seremsensíveis
aosasbestos)aumadoseelevadadeMWCNTs,observaram ainduc¸ãodemesotelioma,umaneoplasiamalignaassociada àexposic¸ãoaasbestos52.Maisrecentemente,ostrabalhosde Mulleretal.nãorevelaraminduc¸ãodecarcinogéneseemratos expostosaMWCNT53,ficandoassimporesclareceraquestão daanalogiacomosasbestos.
Acarcinogéneseinduzidaporfibrasé,provavelmente,um processocomplexoenvolvendoumstressgenotóxicodelongo termo.Poder-se-áassumirqueasfibrasdoNMsão genotóxi-casprimariamenteatravésdainterac¸ãodiretacomoDNA,o aparelhomitóticoouviastressoxidativoe,secundariamente, em consequência da resposta inflamatória. Considerando o paradigma das fibras, sustentado na inflamac¸ão crónica como precursoradoprocesso carcinogénico,váriosestudos têminvestigadoaocorrênciaderespostasinflamatóriasapós exposic¸ão de animais a CNTs. Inicialmente, os estudos de Muller53 mostraramainduc¸ãodeinflamac¸ãoporinstilac¸ão intratraqueal de MWCNT. Ensaios em ratos expostos por inalac¸ão de MWCNTdemonstraram aocorrência de lesões nopulmão(inflamac¸ãoeformac¸ãodegranulomas),embora não tenham revelado toxicidade sistémica54. Porter et al. (2010) observaram também inflamac¸ão pulmonar e fibrose emratinhosexpostosaMWCNT55.Poroutrolado,em rati-nhos C57BL/6, outros autores não verificaram inflamac¸ão dos pulmões nem lesões, mas sim alterac¸ões imunitárias sistémicas após inalac¸ão de MWCNT56. Porém,estudos de toxicogenómica identificaramaexposic¸ão aMWCNT como causa de alterac¸õesda expressãogénica num conjuntode biomarcadoresdecancrodopulmãoemratinhos57.Os estu-dosde Ryman-Rasmussenet al.(2009) sugeriramqueuma inflamac¸ão alérgicapreexistentepoderiaaumentara sensi-bilidadeàinalac¸ãodeMWCNT,efeitoconfirmadonoestudo deParketal58.
Relativamenteagenotoxicidade,existemmuitas evidên-ciasdeinduc¸ãodelesõesnoDNApelosMWCNT,masainda existem resultadoscontraditórios. Porexemplo, ensaios de mutagéneseembactériaseensaioscitogenéticosem linfóci-toshumanos(análisedemicronúcleosetrocasdecromatídeos irmãos)revelaram-senegativos59.Contudo,aexposic¸ãode lin-fócitoshumanosaMWCNTaumentouaincidênciadequebras noDNAdeummododependentedadose,comconcomitante declínio da proliferac¸ão celular56. Estudos de genotoxici-dade em linhas celulares humanas derivadas do epitélio
respiratório revelaram também resultados positivos60. Ou seja,também nocasodosnanotubosde carbono,osdados sãoinconsistenteseexisteanecessidadedeesclarecerassuas propriedadesemecanismosdegenotoxicidadeparagarantir aseguranc¸adasuautilizac¸ão.
Nanotoxicologia:aslacunaseosprogressos noconhecimento
Grandepartedostrabalhospublicadossobrenanotoxicologia nãodescreveadequadamenteacaracterizac¸ãofísico-química dos NM testados, tais como tamanho, forma, composic¸ão química, cristalinidade e propriedades de superfície (e.g., área,porosidade, carga, funcionalizac¸ão),que condicionam fortemente a suacinética e atividade biológica. Para além disso,aspetosrelacionadoscomoprocedimento experimen-tal,taiscomoométododepreparac¸ãoecontrolodedispersões dos NM, as condic¸ões de exposic¸ão, a falta de controlos positivoseautilizac¸ãodemetodologiasaindanão estandar-dizadas, podem ser determinantes nos resultados obtidos. Porexemplo,aagregac¸ãodosNMpodecondicionar mecanis-moscomoaeliminac¸ãoefetivadaspartículasmaiorespelos macrófagos. Muitos estudos são conduzidos em intervalos deconcentrac¸õesmuitoelevadas,favorecendoaagregac¸ãoe, consequentemente,reduzindoasuapotencialtoxicidade4.Por isso,emmuitosdosestudospoderãonãoserdetetados efei-tosmaissubtisquepodemocorrerabaixasconcentrac¸ões, comriscoparaasaúdehumana,comoéocasodainduc¸ãode lesõesnoDNAemcélulassomáticasouemcélulasgerminais, quepodemcontribuiralongoprazopara,respetivamente,o desenvolvimentodeumprocessocancerígenoouparao apa-recimentodedoenc¸ashereditáriasnadescendência.
Procurando responder a algumas destas necessidades de conhecimento, iniciou-se em 2010 a Ac¸ão Concertada Europeia «NANOGENOTOX- Safety Evaluation of Manufactu-redNanomaterialsbyCharacterisationoftheirpotentialGenotoxic Hazard» (projeto cofinanciado pela EAHC e 11 Estados-MembrosdaUE,noqualoINSAparticipacomorepresentante de Portugal).Este projeto pretendecolmatar a escassezde conhecimentocientíficorelativamenteaospotenciaisriscos para a saúde associados aos NMe contribuir, assim, para amelhoriada saúdeeseguranc¸adoscidadãos,no quediz respeitoàutilizac¸ãodenanomateriais.Oplanodetrabalho inclui o recursoa umpainelde NMde dióxido de titânio, de sílica ede nanotubos de carbono, que serão adequada e completamente caracterizados do ponto de vista físico-químico e cujadispersão em meio aquoso será otimizada no âmbito doprojeto, para minimizar a variabilidade ine-rente a esses fatores. Os parâmetrostoxicocinéticos serão caracterizadosemmodelosmurinosparaanáliseda biopersis-tênciaeidentificac¸ãodeórgãos-alvo.Porsuavez,apotencial genotoxicidadedessesNMseráavaliadautilizando-se uma combinac¸ãodeensaios degenotoxicidadeestandardizados, queremlinhascelularesqueremroedores.Assim, espera-se obviar a maioria das limitac¸ões apontadas aos estudos anterioreseproduzirdadosconsistentesquepermitamo esta-belecimento demetodologias robustas,isto é,específicas e sensíveis,paracaracterizac¸ãodospotenciaisefeitos genotó-xicosdosNM,contribuindotambémparaaavaliac¸ãoderisco.
Emcomplemento,espera-setambémfornecersuporte cien-tíficoparaapoiarasdecisõesregulamentaresqueéurgente delinear,àescalaeuropeia.
Conclusões
Verifica-se, presentemente,um incrementosignificativo no desenvolvimento, produc¸ão e utilizac¸ão de nanomateriais manufaturadosanívelmundial.Ananotecnologiafoi identifi-cada,emváriosrelatóriosdereferência,comoumfator-chave dedesenvolvimento,fornecendoabaseparaainovac¸ãoem termosdeaplicac¸õeseprodutos,nomeadamente,naáreada medicinaeprodutosdeconsumo,sendoatualmente conside-radaessencialparaacompetitividadenummercadoglobal.No entanto,odesenvolvimentosustentadoeacomercializac¸ãoe aceitac¸ãodosseusprodutos,porpartedasociedadeemgeral, temcomopré-requisitobasear-seemprocessoseusos segu-rosparaohomemecombaixoimpactoparaoambiente.Ora, comovimos,emboraainformac¸ãosobreosníveisdeNMa queapopulac¸ãohumanaseencontraexposta(emcontexto ambientalouocupacional)sejaaindaescassa,existemvários estudosinvitroeinvivoqueindiciamefeitosbiológicos adver-sosdosNMcompotencialimpactonasaúdehumana.Assim, asnecessidades«societais»57previstasparaofuturodos nano-materiaismanufaturados relacionam-se, porumlado, com o desenvolvimento de novas aplicac¸ões e, principalmente, com o desenvolvimento umparadigma de nanotoxicologia preditivaquepermitaevitarosseuspotenciaisefeitos adver-sos, garantindo asuautilizac¸ão seguradurantetodo o seu ciclodevida.Paraessefim,énecessáriaumacongregac¸ãode esforc¸osquepermita,porumlado,preencheraslacunasdo conhecimentoacercadospotenciaisefeitosnocivosdosNM e,poroutro,estabelecerníveisdeexposic¸ãoaceitáveisparaa preservac¸ãodasaúdehumanaedoambiente.Enquantonão forrigorosamentedemonstradaaseguranc¸ados nanomateri-ais,istoé,peranteaincertezaquantoaoriscodecorrenteda exposic¸ãoananomateriais,deveráaplicar-seoprincípioda precauc¸ãovisandoaprotec¸ãodasaúdepública.
Neste contexto, a nanotoxicologia poderá dar um con-tributo inestimável relativamente à avaliac¸ão dos efeitos nocivosdosNMe,emparticular,osestudosde genotoxici-dadepoderãofornecerevidênciasquantoaopotencialdeos NMcontribuíremparaodesenvolvimentodedoenc¸as crónico-degenerativasegenéticase,emparticular,decancro.Contudo, devidoàcomplexidadeassociadaàssuaspropriedades físico-químicasúnicas,acaracterizac¸ãodagenotoxicidadedestes materiaisea comparac¸ãodosresultadosde diversos estu-dos constituiumdesafio paracientistas e reguladores.Em respostaaessedesafio,aconstruc¸ãoderepositórios deNM de referência e a sua partilha entre a comunidade cientí-ficaafigura-secomoessencialparapossibilitaracomparac¸ão interlaboratorialdosefeitosobservadosparaummesmoNM ou para uma classe de NM. Para além disso, a complexi-dadeinerenteànanotoxicologiatemvindoaserultrapassada através de uma abordagem alargada e multidisciplinar, envolvendo a integrac¸ão de resultados de toxicocinética e toxicodinâmicacomosdacaracterizac¸ãoexaustivadas pro-priedadesfísico-químicasdosNMedoseucomportamento dinâmico emmeios biológicos.Dessaintegrac¸ão têmvindo
asurgirconhecimentossobreasinterac¸õesdosNMcomos sistemas biológicos eos mecanismos de ac¸ão subjacentes aosefeitosobservados,aoníveltecidular,celularemolecular, contribuindoparaumreforc¸odaevidênciacientíficasobrea potencialtoxicidadedosNM.Destemodo,poderãoser preen-chidasaslacunasdeconhecimentoacercadatoxicidadedos NMeserestabelecidaumaevidênciaalicerc¸adanumabasede conhecimentocientíficosólido,emconsonânciacomavisão deumatoxicologiadoséculoxxi61.Estaplataformade evi-dênciapermitiráabordar osegundodesafioquesurgepara asaúdepública:efetuarumaavaliac¸ãoderiscoaolongodo ciclodevidadosNM,desdeasuasínteseeproduc¸ãoatéàsua eliminac¸ão,comaponderac¸ãodosriscoscolocadosatodos osintervenientesemcontextoocupacional,ambientaloude consumidor/utilizador.
Por suavez, a lideranc¸a e a coordenac¸ão das ac¸ões de análisederisco devesercentralizada,querao nível nacio-nal,quereuropeu,envolvendotodasaspartesinteressadas, nomeadamente,aindústria,asassociac¸õesempresariais,os investigadores,asautoridadesdesaúde,osconsumidorese os reguladores. Talanálise pressupõe o registodos produ-toseprodutoresde NMe,bemassim,adeterminac¸ão das exposic¸õesreaisaqueoserhumanopodeestarsujeito, pro-curando estabelecer níveis de exposic¸ão aceitáveis para a preservac¸ãoda saúdehumanaedoambiente.Preconiza-se aimplementac¸ãodealgumasmedidasdebase,comvistaa contribuirparaaavaliac¸ãode risco,taiscomo:1) organizar umregistonacionaldetodasasunidadesindustriais produto-raseutilizadorasdeNM;2)implementarumregistonacional deprodutosde consumohumanocontendoNM; 3)efetuar oregistodetrabalhadorespotencialmenteexpostosaNMna realizac¸ãodassuastarefase,logoquepossível,fazeruma esti-mativadasuaexposic¸ão;4)envolveraindústriaparafornecer informac¸ãosobreasabordagensutilizadasparaavaliac¸ãodos riscosdeexposic¸ãoaguda(acidental)eplanosde contingên-ciaemcasodeacidente, bemcomoos riscosdeexposic¸ão crónica(baixasdoses),incluindomedidaspreventivas;5) esta-belecer umabase de dados de casos clínicosassociados a efeitosnefastosdeexposic¸ãoananomateriais;e6) monito-rizareventuaisefeitosalongoprazoassociadosàexposic¸ão crónicaaNM.
Finalmente,importapartilharoconhecimentoatravésda construc¸ãodebasesdedadospartilhadasederepositórios deinformac¸ãosobreasmetodologias deavaliac¸ãoderisco, resultadosdeinvestigac¸ãoemedidasdevigilânciaeestimular asuadisseminac¸ãonomeiocientíficoenasociedade62.
Contudo, o conhecimento atual ainda não é suficiente-mente sólido para permitir uma regulac¸ão da produc¸ão e aplicac¸ãodasvariadasclassesdenanomateriaistotalmente baseadanaevidênciacientífica.Nestecaso,aadoc¸ãodo prin-cípio da precauc¸ãopode ajudarem simultâneo ainovac¸ão e a ciência. Como foi anteriormente referido, este princí-pio preconiza a necessidade de agir perante umasituac¸ão deincertezadeperigopotencialmente graveouirreversível paraasaúdeouparaoambiente,comoobjetivodeo redu-zir antes de sevir a provar cabalmente que ele existe de facto, tendoemconta oscustos ebenefíciosda ac¸ão eda inac¸ão.Esteprincípioincluielementoscomo:1)investigac¸ão emonitorizac¸ãoparadetec¸ãoprecocedosperigosassociados aosNM;2)reduc¸ãogeraldacargaambiental;3)promoc¸ãode
umaproduc¸ãodeNMecológicaeinovadora;e4)princípioda proporcionalidade,ondeoscustosdasac¸õesparapreveniros perigosnãodeverãoserdesproporcionadosrelativamenteaos seusprováveisbenefícios.Emboraporvezessetemaqueuma abordagemprecaucionáriapossaasfixiarainovac¸ão,elapode, narealidade,proporcionaroportunidadesdecompreensãode sistemascomplexosemergentes,tendoemcontaas necessi-dadeshumanas,commenorescustosparaasaúdeeparao ambiente.Assim,acomodaraavaliac¸ãoderisconoprocesso deinovac¸ãotecnológicapoderáajudaraultrapassararelac¸ão controversaentreinovac¸ãoeregulac¸ão.
Um outrodesafio prende-secom o desenvolvimento de metodologiasinovadoras,emespecialabordagensdeelevado rendimento, forte poder preditivo e custo controlado que possibilitemanteciparoriscoassociadoàcolocac¸ãono mer-cado de novosNM que vão sendo desenvolvidos.Significa istoqueénecessárioimplementarmétodosdeavaliac¸ãode umaeventualtoxicidadenuma faseprecocedo desenvolvi-mentodoNM,antesdeentrarnafasedeproduc¸ãoindustrial, paraevitargrandesperdaseconómicasdecorrentesdeuma descobertatardia detoxicidadeepoderdirigirasínteseno sentido de obtermoléculas maisseguras. De facto, consi-derandoo elevado potencial de aplicac¸õesdosNM, deverá recorrer-seaosdadosdananotoxicologia,nosentidodedirigir asíntesede nanomateriaismanufaturados quesejam safe-by-design,isto é,eliminando ascaracterísticasresponsáveis pelasuatoxicidadeepossibilitandooprogressotecnológico e«societal»queaaplicac¸ãodosnovosnanomateriais prenun-cia.
Naáreadasaúdepública,aevidênciacientíficanãoéem simesma suficiente –é necessáriotambém atuar atempa-damenteetomardecisõesregulamentaresrelativamenteos NM que permitam umagovernanc¸a de risco mais adapta-tivaeeficaz.Nãoapenasaavaliac¸ãoderisco,mastambém agestãodoriscoeacomunicac¸ãodorisco,deverãoser refor-muladasperanteestesnovosmateriais.Éessencialtambéma partilhadeinformac¸ãofidedignaentretodasaspartes envol-vidasparaumaac¸ãopolíticaefetivaetambémaparticipac¸ão ativadetodos,incluindodoscidadãosatentoseinformados, nastomadasdedecisão.Acimadetudo,asaúdepúblicaterá de assegurar ainterligac¸ão e o equilíbrio entrea evoluc¸ão tecnológica eagarantiada seguranc¸adosnanomateriais e das nanotecnologias, porforma aquepossamos beneficiar dainovac¸ãoassegurandoaprotec¸ãodoambienteedasaúde humana.
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