PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM
EDUCAÇÃO
DOUTORADO
EM
EDUCAÇÃO
-ENSINO
DE
CIENCIAS
NATURAIS
A
SOLUÇÃO
DE
PROBLEMAS
A
PARTIR
DE
ALGUNS
PRESSUPOSTOS
VYGOTSKYANOS
TESE
APRESENTADA POR
HENRIQUE
JOÃO
EREUCKMANN
APARA
OBTENÇÃO
DO
TÍTULO
DE
DOUTOR
EM
ENSINO
DE
CIÊNCIAS
NATURAIS
CENTRO DE
EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE PÓS-GRADUAÇÃO
EM
EDUCAÇÃO
DOUTORADO
EM
EDUCAÇÃO
-ENSINO
DE
CIENCIAS
NATURAIS
A
SOLUÇÃO DE PROBLEMAS
A
PARTIR
DE
ALGUNS
PRESSUPOSTOS
VYGOTSKYANOS
ORIENTANDO:
HENRIQUE
J.BREUKMANN
ORIENTADOR:
PROF.
DR.
ANDRÉ
V.ZUNTNO,
DR.
EM
ENSINO
DE
QUIMICA PELA
UNIVERSITY
OP EAST
ANGLIA
FLORIANÓPOLIS
“Bekanntlich
wächst
lebendesGewebe
folgendennalšen
zusammen:
Man
vernähtzwei
Ränder
eines gerissenenGewebes
zunächst miteinen Faden.
Durch
Berührung veiwachsen
diebeiden Gewebestellen,
und
wenn
dieserVorgang
abgeschlossen ist,kann
der zuvoreingefühite
Faden
entfernt werden.Dann
handelt es sich nicht
mehr
um
eine künstlicheVerbindtmg
- dasGewebe
ist viehnehr nahtloszusammengewachsen.”1
1
“Sabidan1ente, um tecido vivo, rompido, recupera-se da seguinte maneira: costuram-se as duas bordas do
tecido, primeiramente, com
um
fio. Através do contato, desenvolvem-se as duas partes, e quando esteprocesso está concluído, o fio anteriormente introduzido, pode ser retirado. Então, não se trata mais de
uma ligação artificial - o tecido regenerou-se e não carece de costura.” (VYGOTSKY,
À
minha
família, pelo apoio constante;à Direção, colegas, funcionários e, principalmente, aos estudantes
do
C. E.Pe. José Maurício - motivação
maior
deste trabalho;às professoras
Maria
Auxiliadora e Juçara, amigasem
todos osmomentos;
ao professor Felinto e professora Berta, da 43
CRE;
ao professor
Marcos
Heiter e aoscomponentes
dabanca do
Exame
deQualificação, pelas valiosas sugestões e criticas.
Em
especial:Ao
Dr.André
V. Zunino,um
verdadeiro orientador;RESUMO
ABSTRACT
1.
INTRODUÇÃO
... ..014
2.DUAS QUEsTÕEs
DE
DEFINIÇÃOz
O
QUE
É
UM
PROBLEMA
E
O
QUE
E
SOLUÇÃO
DE
UM
PROBLEMA
... _.020
2.1 -
As
respostasdo
sensocomum
... ..020
2.2 -
As
respostas dos pesquisadores ... _.032
2.3 -
A
Solução de Problemascomo
problema
de pesquisa ... ..047
3.
A SOLUÇÃO
DE
PROBLEMAS
EM
VYGOTSKY:
A
VARIABILI
DADE
DE
PERSPECTIVAS
... ..050
3.1 -
Algms
conceitos deVygotsky
.....
050
3.1.1
-Amediação
... ._ 0513.1.2 -
A
diferença entreO
“natural” eO
“cultural” ... _.056
3.1.3 -
A
caminhada
até os conceitos .....
059
3.1.4 -
“Rec”
como
objeto de pesquisa deVygotsky
..._. 073
›
3.1.5 -
O
significado de “Obscenie” ... ._076
3.2 -
Vygotsky
e a Solução-de Problemas ...._
080
3.2.1 -
Os
conceitos e a Solução de Problemas..- ... ... _.085
3.2.2 -
A
Zona
de Desenvolvimento Proximal e a Solução deProblemas ... _.
093
4.A INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA
Ç
COMO
LABORATÓRIO
... ..099
4.1 -
Os
momentos
e as formas da intervenção ..._.
099
4.1.1 -
O
contextodo
estudo .....
099
4.1.2 -
A
coleta de dados: situações e instrumentos ..... 106
4.1.3 -
As
categorias de análise ..._. 111
4.1.4 -
Os
critérios de avaliação ... _. 1174.1.5 -
A
diversidade dos projetos ...4.2 -
A
criança e ojovem
resolvendo problemas ...._
4.2.1 -
A
efetiva resolução... ..
4.2.2 -
A
tipologia dos problemas resolvidos... ..
4.2.3 - Algtms-condicionantes
da
resolução .....
4.2.4 -
A
questãoda
problematização ..._.
4.2.5 -
A
análise de alguns projetos... ..
4.2.5.1 --Estudo
domovimento
deum
pêndulo
... ._4.2.5.2 -
Lançamento
de bolinhas ... .. 4.2.5.3-
Sexualidade ... _. 4.2.5.4 -Carga
horária ... .. ~5.
UM
MODELO
CONCEITUAL PARA
SOLUÇAO
DE
I>RoBLEMAs
... ... .. ó.Do ACADÊMICO
Ao
DIA-A-DIA
EsCoLAR
... .. 7.REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
... _. 01. 02a O2b O3. 04. 05a 05b O6. O7. O8. O9. 10. lla llb llc lld Ile llf llg.ANEXOS
Lista de problemas absurdos Instrumento de diagnóstico
Instrumento-diagnóstico sobre 'problematização
Exemplar do jogo da “corrida”
Questionário sobre atividades desenvolvidas
Questionário extensivo para alunos Questionário extensivo para professores
Desenho de hexágono e estrela '
Questionário sobre programa de vídeo
Projeto: Curso de Iniciação Científica Ficha múltipla de anotações
Itens de entrevista semi-estruturada
Projeto: relações geométricas - perímetro
X
área&
área totalX
volumeProjeto: estudo do movimento de
um
pênduloProjeto: estudos da
fimção
quadrática -lançamento de bolinhasProjeto: estudo sobre a sexualidade
Projeto: estudo da carga horária diária
Projeto: utilização de balança de
um
braço-
cálculo do peso específico Projeto: estudoda tensão superficial da água '125 125 136 143 163 168 168 171 176 179 184 197
209
ç
A
vida das pessoas e dos grupos sociais constitui-senuma
seqüência de situações-problema que
demandam,
deuma
forma
ou
de outra,uma
solução.A
pesquisa objetiva verificar as possíveis relações entre aresolução de problemas,
na
área da Ciência escolar, e a resolução deproblemas
do
dia-a-dia, dentro deuma
concepção
altemativa deproblema,
ecuja resolução está baseada
em
alguns pressupostos vygotskyanos. Aqui,destaque para o conceito de
Zona
deDesenvolvimento
Proximal,uma
vezque,
na
sua definiçãomesmo,
as condições diferenciadas de resolução deproblemas estão presentes.
Utiliza-se a metodologia
da
intervenção pedagógica, atravésda
técnica de projetos,com
estudantes de 3ë e SÊ S.do
19 G. deuma
escola
da
rede pública estadual,em
Blumenau
- SC.No
decorrerdo
períodoletivo, os alunos
desenvolvem
três tipos de projetos,com
característicasespecíficas: os primeiros, sobre
um
assunto científicobem
detenninado, igualpara todos e corn total controle por parte
do
professor; depois, ainda projetossobre assuntos científicos,
mas
distribuidosem
grupos,com
certo grau deliberdade pelos alunos; por último, projetos de seu interesse,
com
toda aliberdade de organização.
Em
todos os casos, o projeto versa sobreum
problema
bem
definido, eno
seu desenvolvimento secaminha
progressivamente para o trinômio: diagnóstico -equacionamento
. - ação,partes estas
não
separadas rigidamente,porém
com
interseções dinâmicascujo grau é função de diversas variáveis,
como
a série e as experiênciasprévias, por exemplo.
Em
cada fase, são utilizados,confonne
aadequação
e apertinência, os conteúdos das diferentes disciplinas, necessários para a
melhor
solução.Para o
acompanhamento
dos estudantes,no
seu tratocom
situações-problema, utilizam-se
como
categorias de análise:* abrangência: alcance
geográfico
dos problemas colocados pelos alunos;* criticidade: grau de aprofundamento
na
percepção a respeito dos problemas;* transferibilidade: utilização dos conceitos científicos, trabalhados
em
salade aula,
na
enunciação de situações-problema ena
proposição de soluções;* exequibilidade: maior
ou
menor
grau de possibilidade de que as propostasconceito
-›
pseudo-solução, conceito-›
solução.São
capazesde
adquiriruma
melhor
percepção sobre a situação, selecionar e utilizar conhecimentoscientíficos para encaminhar a solução e, ao
menos,
posicionar-se quanto àsalternativas de ação quando, mais dificil, efetivamente agir sobre
o
fatoem
si.Cabe
à escolatomar
consciência deste potencial e orientar o seu currículono
sentido
de
incentivar e apoiar logisticamente as iniciativas para solução de problemas,em
suas diversas modalidades. .Por
outro lado, as crianças resolvemcom
maior
prazer, osproblemas
por elasmesmo
identificados e explicitados,mas
encontram
dificuldadesem
fazê-lo,quando
relacionados ao seu cotidiano.A
Escola, por sua vez,não
favorece o exercícioda
habilidade de problematizar, limitando acriança à reprodução de fónnulas prontas e visivehnente
desafinadas
com
o
progresso
da
Ciência eda
Tecnologia.Ainda
assim, a análise de seus projetos pennite entrever que, gradualmente, as criançasvão
adquirindo condições de pensar nos seus problemasem
condiçõesacima do
sensocomum,
utilizando para tantoo
ferramental própriodo
saber científico. Aí,o
papelmediador do
professor é de vital importância.
Na
questãodo
comportamento, a maioria das indicações éde que a participação
num
processo de solução deproblemas
como
esteque
se propõe,provoca
uma
mudança
para melhor,num
curto prazo de tempo.Direção, orientadores, professores, pais e os próprios altmos
depõe
nestesentido.
Outro
indicativo é oaumento no
índice de freqüência (inclusive dealunos
que
tradicionahnente faltam) e a diminuiçãono
índice de reprovações(inclusive envolvendo alunos considerados perdidos, já
no
iníciodo
ano,para determinada série). ~
Dois aspectos dificultam o trabalho
com
este tipo deabordagem
da
solução de problemas.Um
é a falta de maior tradiçãono
trabalho interdisciplinar, ao
mesmo
tempo
em
que se segueprogramas
caracterizados pela linearidade.
O
outro é a excessiva valorizaçãodo
ladoburocrático-administrativo da educação formal (horários, provas, freqüência,
a “Parte Prática”,
um
compêndio
de alguns dos projetos desenvolvidos(primeiro e segundo tipo).
Nem
todos,em
si, originais quanto a conteúdo emetodologia, porém,
novos no
sentido de queforam
trabalhadoscom
osalunos sob a ótica dos pressupostos vygotskyanos e sob este ponto de vista
utilizados e analisados; '
uma
proposta de cursos semi e profissionalizantesem
INICIAÇÃO
CIENTÍFICA
como
alternativa a estudantes edemais
interessados,com
escolaridade de 7@ S.
em
diante, frente a outros oferecidosno
mercado,ou
eminentemente
técnicos,ou
de qualidade duvidosaem
termos de aprofundamento.A
partir de projetos já desenvolvidosna
escola citadaanteriormente, duas experiências
foram
feitas, apoiadas por diversasInstituições.
Um
dos requisitos para o recebimento de certificado é aapresentação de relatório de projeto, versando sobre problemática
da
sequence of problem-situations that
demand, anyway,
a solution.The
research aims to verify the possible relations
between
the resolutions ofproblems, in the area of the shcool Science,
and
the resolutions ofday by day
problems, in a alternative conception ofproblem, which
resolution isbased
on
some
ideas that hasVygotsky
presupposed. Here, attend to the concept ofProximal
Development
Zone, once that, in its definition even, thedifferentiated conditions of resolution of problems are present
We
use the pedagogic intervention methodology,by
means
of technique of projects, with students of the thirdand
eighth S. ofPrimary School, in a public school situated in
Blumenau,
state 'of SantaCatarina - Brazil. During the school year, the students develop three kinds of
projects, with specific characteristics: the first, about a scientific subject,
which
is thesame
for all,and
controledby
the teacher; the second, projectsabout scientific subjects again, but divided in groups, with a certain degree of freedom;
and
finally, projects that are st11dent°s interests, with totalfreedom
of organization. In all cases, the project refers to a definite problem,and
in itsdevelopment, it goes progressively towards the trinomial: diagnostic -
equation - actions,
which
parts are not rigidly separated,however
withdynamic
intersectionswhose
degree is function of several variables, like the level of the studentsand
the previus experiences, for example. In eachphase
are used, according to the suitability
and
pertinence, the contents of differentsubjects,
needed
for the best solution. .For the students°accompaniment in their deal with problem-situations,
we
utilize as categories of analysis:0 “inclusion”: geographic reach of the problems
mentioned by
the students; 0 “c1iticity”: degree of depth in perceptionconceming
the problems;0 “.“transferibility”: use of the scientific concepts,
worked
in 'the classroom, inthe enunciations of problem-situations
and
the proposition of solutions;0 “exequibility”: bigger or smaller degree of possibility that the proposals of solution
be
put into practice.access: pseudo- concept
-›
pseudo-solution, concept-›
solution.They
areable to acquire a best perception about the situation, to select
and
usescientific
knowledge
to conduct the solution and, at least, to place oneself asregards altematives of action
when
it is,more
difficult, to act effectivelyon
the fact in itself.
The
schoolmust
have conscience of this potentialand
toorient its curriculum stimulating
and
supporting logitically the initiatives for the solution of problems, in its several modalities._
On
the other hand, the children solve withmore
pleasure,the problems indentified
and
expressedby
themselves, but theyfind
difficulties to
do
this,when
the problems are related to their quotidian.The
school, as for itself, does not favour the exercise of the ability to create a
problem,
and
just limits the child to reproduceprompt
formulas thathave
become
old with the progress of the Scienceand
Teclmology.Even
so, theanalisys of their projects allows to see that, gradually, the children are
acquiring conditions to think about their problems in conditions that are
above
the
common
sense, using theirown
scientific knowledge. Here, the intervention of the techer is very important.'
As
for the behaviour, the majority of the indications is thatthe participation in the processe of solution of problems like this
one
that isbeing proposed, causes excellent changes, in a short period of time. Directors, teachers, parents, another professionals of the education
and
even the students depose in this sense.Another
indicative isan
increase in frequencyindex (including students that traditionally miss the classes)
and
a decrease inthe index of reproofs (including students considered, yet
by
year°begining,rejected for a detenninate level).
Two
aspectsbecome more
difiicult towork
with this kindof subject about the solution of problems.
The
first, is the lack ofmore
tradicion in the interdisciplinary work, at the
same
time thatwe
followprograrns characterised
by
linearity.The
second, is the excessive valorizationof the bureaucratic-administrative side of the education (timetables, tests,
the “Practice Part”, a collection of
some
of the developed projects (firstand second
kind).Not
all have original contentsand
methodology,however,
they arenew
because theywere
worked
with the students usingthe ideas that
Vygotsky
presupposedand
theywere
usedand
analysed inthis point of view;
a proposal of “Scientific Initiation” courses in different proficiency levels,
as an altemative to the students
and
another interesed people with, at least,the seventh level school, to
compete
with the others that are offered,extremely technical, or they
may
nothave
agood
quality or subject adequate for the contemporary days. Startingfrom
projects alreadydeveloped at school
mentioned
before,two
experienceswere
being done,suported
by
various institutes.One
of the requeriments to receive theCertificate is that the students have to present a written report of the
project,
whose
subject are the problems of theembraced
region -Esta pesquisa
não
representaum
marco
isoladona
vidado
autor. Prefere-se considerá-la, por
um
lado,como
o ponto de convergência deuma
série de desafios, de projetos, de sucessos etambém
de fiacassos,no
sentido de tentar reorganizar a prática pedagógica -
numa
acepçãobem
particular
do
termo “inovação” -no
ensino de Ciências e Maternática (ou“área de Ciências”,
como
componente
curricular,ou
“Ciência Escolar”) e,por outro,
como
o ponto de partida para a busca denovas
altemativaseducacionais, mais atualizadas, mais ousadas, mais consentâneas
com
osanseios e as necessidades da sociedade contemporânea,
com
basenuma
concepção
histórica,buscando
sempre:0 entender esta área a partir de
um
significado efetivo,onde do
própriocontexto social
possam
emergir alternativas de transfonnação social;O fazer
com
que
ela seja desenvolvida de talforma que
tenha papel relevanteno
processo de autonomização das pessoas e dos grupos sociais,numa
perspectiva
onde
o conhecimento científico sirvacomo
fundamento
paraEm
outras palavras, acredita-seque
é possível, atravésda
relação teoria-prática que este trabalho consubstancia, contribuir para a
provisão
da
Ciência Escolar, de instnunentos eficazesao cumprimento
deuma
tarefana
qualnão
apenas ela,porém
todos osdemais componentes do
traballio escolar,
num
crescendo que chega até a Instituição escolarcomo
mn
todo, e que hoje estão se manifestando falhosou
como
práticas contraditórias: colocar as 'suas especificidades a serviço deum
projeto demudança
(em
contraposição aum
projeto demanutenção
de status-quo) que seja participativo (enão
detenninado por esteou
aquelesegmento
social,qualquer que seja sua natureza
ou
conceitualização: setores populares,opressores e oprimidos, etc.).
Dentro desta perspectiva, o
tema
escolhido: soluçãode
problemas
(SP), éum
imperativo parauma
nova
didática das Ciências.Em
praticamente todas as circunstâncias do dia-a-dia das pessoas, manifesta-se a
sua presença.
A
cada instante,na
vida particularou
profissional, as pessoasse
deparam
com
situaçõesem
quetêm
que optar entre as diversas alternativas que os fatos lhes apresentamou têm que
decidir entre diversoscaminhos
para alcançaruma
meta
ahnejada. Esta opção, esta decisão, via de regra, éproblemática
(e aí já secolocam algumas
das inúmeras questõesque
devem
ser discutidas; dentre elas, o que émn
“problema”
e oque
significa“resolver
um
problema”
,dado
que existem diversasconcepções
a respeito).Tanto mais importante a questão se toma,
quando
se colocacomo
papel da Escola participar da capacitação de indivíduosnão
apenas para enfrentar oscom
certeza, os próprios avançosda
Ciência, da Tecnologia,da
Economia
contemporânea
estão a gerar, para opróximo
milênio._Por outro lado, acredita-se
que
a maioridade (“dasMündigwerden”)
individualou
coletiva apenaspode
ser considerada existentede
fato,na medida
em
que as pessoas e os grupos sociais sejam auto-gestionáveis, quer dizer,quando
possam
assumir,na
medida
daspossibilidades, o
rumo
de suas vidas e determmar, por simesmos
ou
deforma
coletiva, a direção
do
seu futuro. Este processo carrega consigocomponentes
conflitivos, contraditórios, quer de origem
endógena
(oriundosdo
próprioprocesso), quer de origem
exógena
(gerados pelas pressões externas, quebuscam
amanutenção
das instâncias atuais de exercicio de poder) e é,portanto,
também,
problemático, pensando-se aqui, nos múltiplosdeterminantes (sociais, políticos, econômicos, culturais, educacionais),
que
intervém
no fenômeno
educativo, particularmenteno
ensino de Ciências,como
partedo
próprio processo de desenvolvimento social.Estas considerações
geram
uma
ampla
gama
deinterrogações sobre o papel da Ciência
na
sociedade e,em
particular, daCiência Escolar,
no
seu raio de abrangência geográfica e histórica.É
possivel,é desejável, que as situações-problema
acima
mencionadas,possam
ser resolvidas de maneira mais “científica”?O
processo ensino-aprendizagem,na
área de Ciências,
assim
como
decorre
atualmente,pode
ser consideradocomo
elemento fundamental para fazer aquelas opções, parapromover
aquelaautonomia? Se a resposta à primeira pergimta é “sim” mas,
em
compensação,
que
instâncias?Não
se trata, apenas, de repetir clichês queparecem
óbvios,como:
a Ciência serve para resolver problemas (atente-se, novamente, para adefinição de “problema”); gerar conhecimentos produtivos;
promover
aindependência das pessoas, via aplicações tecnológicas; mostrar à sociedade a “verdade”
(FISCHER,
1993).Este é
um
quadro assaz nebuloso e confuso,bem
mais
complexo do
quepode
aparentar à primeira vista,que provoca
dúvidasna
mente não
só dos estudantes,mas
também
dos lpais e dos profissionaisda
Educação
em
geral. Tentar clareá-lo acaba sendo mais urna das tarefasdo
pesquisadorem
Educação
e das áreas aplicadas ao ensino de Ciências.O
trabalho desenvolvido se insere nesta linha: por
um
lado,não
apresentarrespostas prontas, receitas que
podem
ser aplicadasem
toda e qualquercircunstância,
mas
apontarcaminhos
possíveis (porque experimentados),mesmo
quando
dificeis.Por
outro, acenarcom
fundamentos teóricosque
subsidiem, que estabeleçam bases consistentes, para
que
o trilhar destescaminhos não
sejauma
aventura inconsequente,mas
uma
busca
produtiva,agradável, participativa,
numa
concepção
diferenciada e atualizada deatividade docente,
com
fundamentos teórico-metodológicos críticos.Neste
caso,buscando
reverteruma
tendênciaem
que todos os problemaseducacionais
devem
(podem?)
ser resolvidoscom
basenuma
determinadalinha
ou
escola pedagógica,mas
gaiimpando
(aqui, particulannente,numa
delas), elementos que contribuam para a resolução dos
mesmos,
naquiloem
que
ela é mais pertinenteou
em
que
suas orientações sejam as mais adequadas. Neste sentido, entendendo a solução de problemascomo
um
processo de desenvolvimento cultural,
onde
a apropriaçãodo
conhecimentocientífico
tem
um
papel a cumprirna
formação da consciência.Dentro deste contexto,
Vygotsky
tem
importantescontribuições a fazer, principalmente
na
sua produção de1932
a 1934,que
podem
elucidar aspectos essenciaisda
solução de problemas, e aindanão
suficientemente exploradas. Isso vale, especiahnente,quando
se trata deaplicações ao ensino, e ao ensino de Ciências de
modo
especial,onde
diversos pontos fundamentais de suas teorias
em
psicologiada
Educação ou
do
ensino-aprendizagem e as respectivas implicações,podem
ser utilizados.A
partir dasmesmas,
quepossuem
enfoques diferenciadoscom
relação aostradicionais,
em
itens de particular interesse para a área de Ciências, épossível estabelecer
uma
'compreensão
maisampla
da evoluçãodo
comportamento ou
da conduta das pessoas(em
especial, daquelasem
idadeescolar),
quando
sedeparam
com
situações-problema (na Ciência escolar eno
seu dia-a-dia, ebuscam
resolvê-las da maneira mais adequada. Dentre estes pontos,podem
ser destacados:0 Princípio Geral da
F
onnação
dos Conceitos, as diferenças entre afonnação
dos conceitos científicos e cotidianos (ou espontâneos) e as relações
existentes entre os
mesmos;
deve sertambém
destacada, aqui, o processo0 as relações entre aprendizagem e desenvolvimento,
um
dos pontos críticosna
diferenciação das teorias deVygotsky
com
as abordagensda
Psicologiado Desenvolvimento
eda Aprendizagem
tradicionais, e sua utilização parao
aperfeiçoamentodo
ensino, especialmentena
area de Ciências;0 as implicações para o ensino,
em
tennos de metodologia e avaliação,principalmente,
quando
se aceita o sentido inter-›
intrapsicológicocomo
o orientador
do
desenvolvimento das funções mentais superiores;0
o
conceito deZona
De
Desenvolvimento Proximal (quena
verdaderesume, de certa forma, todo o trabalho
do
autor, nesta área de interesse) ea (s)
forma
(s)como
pode
eventualmente serimplementado
demodo
aotimizar a resolução de problemas: o reestruturamento
da
avaliaçãoda
capacidade dos estudantes, nesta area, por exemplo,
pode
ser direcionada apartir das consequências possíveis, da aplicação deste conceito;
O o conceito de atividade,
em
especial a questãodo
plano de ação,metas
eestruturas
da
atividade, jimtocom
Leontiev e outros colaboradores:0 o conceito de mediação, instrumental e social, essencial para detenninar
outras ftmções para o professor,
no
trabalho pedagógico.A
partir destas colocações, acredita-se que a análiseda
solução de problemas,
com
baseem
algims pressupostos vygotskyanos,pode
2.1 -
As
respostasdo
sensocomum
Os
professores que trabalhamna
área de Ciênciastêm
uma
visão muito peculiar sobre as perguntasacima
fonnuladas. Aliás, éconveniente esclarecer
que
asmesmas,
em
muitosmomentos,
se confundem, assimcomo
as respectivas respostas, demodo
queno
texto, adiante, deixar-se-á de lado a distinção rígida e puramente acadêmica, para possibilitar o
aprofundamento
da questão,em
outros aspectos,como
as representações dosprofessores
sobre
problemas e suas soluções. Voltando à visão dosprofessores, poder-se-ia resumi-la nestes termos:
“um
problema
éuma
tarefaa ser
cumprida”
e “saber resolverum
problema
éuma
forma que
o alunotem, de se aperfeiçoar nos conhecimentos que ele vai precisar mais adiante”
ou
“éum
exercício que ele faz para aprendercomo
enfrentar as dificuldadesque
vai encontrarna
sua vida profissional, pessoal, farniliar, etc”. Estasopiniões
foram
expressas por diversos professoresdo
C. E. Pe. José Maurício(CEPJM),
quando
solicitadas pelo autor,em
diversas oportunidades:reuniões, encontros infonnais, dias de estudo e etapas de planejamento, e
Quando
seacompanha
mais de perto oque
aconteceem
sala de aula, verifica-se que os “problemas” colocados ao aluno, eque
ele e solicitado a “resolver”, resumem-se,na
sua quase generalidade, a:efetuar
uma
série de operações, simplesou
conjugadas;utilizar fónnulas e algoritmos;
utilizar
macetes
para encontrar respostasou memorizar caminhos que
levem
àsmesmas;
habilitar-se à repetição exaustiva de atividades
do
tipo “siga o exemplo”,através das quais consiga, quiçá,
nmna
“prova” , repetir a atividade,quando modificados
alguns coeficientes;ou
nem mesmo
isso,quando
setrata de testes
sem
consultaem
que, deuma
bateria de exercícios efetuadosem
aula, alguns são escolhidos para “cair”no
dito teste.Quanto
às questões,há
que salientar-se:geralmente,
primam
pelo artificialismoou
ingenuidade,quando não
atingem as raias
do
absurdo, quer pela temática escolhida, quer pelosvalores numéricos utilizados, quer pelo contexto
em
que
são colocadas (verexemplos,
anexo
1);são pré-fabricadas e
pouco ou nada têm
a vercom
o cotidianodo
aluno;seguem
uma
sequência de conteúdoque
induz à “resoluçâo”: por exemplo,“problemas”
em
cuja resolução se usa oTeorema
de Tales, apresentadoslogo após o desenvolvimento de
um
capítulo sobre omesmo,
ou
“problemas”
em
cuja solução se utiliza a divisão,em
seguida auma
0 tanto
o
caminho, ométodo
que se deve usar para a solução, quanto aresposta, são considerados únicos: fora disso, a solução
do problema
“estáerrada”,
não
existindouma
preocupaçãocom
o processo de utilização dasfunções mentais superiores, a atividade mental
em
si. 'Na
verdade, o que os professoresfazem
é reproduzir, quernas suas opiniões, quer nas suas ações docentes, algo que, velada
ou
claramente, é “sugerido” através dos livros-texto que são, de
uma
ou
de outrafonna, utilizados
em
sala de aula.Vejam-se
algunsexemplos
(escolhidos demodo
a envolver diversas séries, disciplinas e épocas de publicaçãodo
texto):1°.
Grau
- 3a. Série - Matemática:“PROBLEMAS
Objetivo: Interpretar e resolver problemas aplicando a multiplicação.
Você
vai resolver, agora, problemas, aplicandoo que
aprendeu demultiplicação. Siga o modelo:
1°)
Mamãe
comprou
8 pacotes de torradas.Cada
pacotetem
36
torradas.Quantas torradas
mamãe
comprou?
Solução:
36
8
X
36
=
|:|X
8Êsš
2°
Grau
- vol. único - Física:“A.
PROBLEMAS
PROPOSTOS
_v'
P-48 .
Um
corpo demassa
1kg
encontra-seem
movimento
circular sobre o planohorizontal
sem
atrito, preso porum
fio
de
comprimento
1m,
que suportano
máximo
uma
tensão de 100 N. Deter-ITl1I'l€Í
a) a velocidade
máxima
quepode
ter ocorpo
sem
romper
o fio.b) a aceleração centrípeta
máxima
alcançada.c) a velocidade angular
máxima
atingida pelo corpo”.(OMOTE,
1982, p. 115)3°
Grau
- Básico de Engenharia - Física“Problemas
(1)
Uma
bola cai deuma
mesa
horizontalcom
76cm
de altura e bateno chão
a
uma
distância horizontal de 1,53cm
da arestado
tôpo da mesa.Qual
avelocidade
da
bolano
instante de abandonar amesa?
'1°
Grau
- 2a. Série -Matemática
“5. Resolva os problemas:
a)
Comprei
um
pacote de 5kg
de açúcar eum
pacote de 2kg
de café.Quantos
quilos o pacote de açúcar é maispesado?
Operação:
Resposta: ”(VARGAS
&
CURTO,
1991, p. 134). Neste caso, a sequência de “exercícios de aplicação” está precedida pelafigura
deum
boneco,em
cujoespaço de fala se lê:
“Problemas
sobre alimentos!Aprendemos
para
a vida!”Considera-se que o principal aspecto a ser observado,
uma
vez
que parece sero
ponto crucial da questão, é a inexistênciade
preocupação
e incentivopara
que
o próprio estudante, detecte einvestigue situações
problemáticas
no
seumeio
físico e social.Quando
selhe diz: “resolva” ,
como
nosexemplos
acima,não
se está,na
realidade,colocando-o diante
de
um
legítimoproblema.
Os
exemplos acima
mostram
que
um
problema,segundo
o que sechama
aqui de “sensocommn”,
consistena
apresentação deuma
série de dados euma
série de questõesque
devem
ser respondidas a partir dos
mesmos,
supondo-seque
o professor já tenha,anterionnente, desenvolvido o conteúdo pertinente e
dado
exercícios maisou
menos
semelhantes aosque
ora são apresentados.Pode
ser que hajaporém,
em
última instância, oque
se quer, é que o estudante sigaum
caminho
bem
específico, para chegar auma
solução considerada correta,segundo
osmodelos
apresentados.Foram
apresentadosexemplos
de diversas séries eépocas,
na
área de Ciências, para mostrar que, apesar dealgumas
modificações
superficiais, a solução de problemas continua,essencialmente,
sendo
vistasob
amesma
ótica.Mesmo
quando
se falaem
problemas “contextualizados” , trata-se,
na
realidade,da
mesma
apresentação, pronta, para o estudante, de situações já previamente
preparadas pelo professor, para que o aluno aproveite conteúdos trabalhados
em
aulasou
unidades anteriores, e que,nem
sempre, lhe são tão “familiares”como
se possa pensar.Voltando à questão da problematização.
A
forma acima
descrita de apresentarproblemas
aos estudantes, indicaque
ela, aqui considerada o ponto de apoio para todo o processo de auto-desenvolvimento,é relegada, via de regra, a
um
segundo plano.Quando
acontecem, asdiscussões sobre temas palpitantes e de extrema atualidade para a criança e
o
adolescente, são desenvolvidas:
ou
quase que exclusivamente àmargem
dosconteúdos cientificos propriamente ditos (0 professor pára a aula,
dando
espaço para a discussão sobre
um
tema
relevante para a turma),ou
então, apenas sobum
ponto de vista estritamente “científico”, asséptico e neutro.Em
ambos
os casos, estes procedimentosimpedem
que
se chegue a tecerum
quadro completo destas situações, integrando e inter-relacionando todos os
aspectos envolvidos,
com
todos os prejuízosque
isso acarreta para aformação do
estudante,conforme
o que secostuma
colocar nos planos escolares: crítico, politizado, etc.Além
disso, as discussões sobreAIDS,
drogas, sexo, política, etc., via de regra, são desenvolvidas já a partir dos
conceitos (ou preconceitos) dos pais, professores e
demais
adultosque detém
o
poder decisório,na
escola,na
família ena
sociedadeem
geral. Assim,novamente,
não
acontece a desejada problematização, isto é,não
são osestudantes
que
elaboram e laboramno
trinômio: diagnósticodo problemá-
equacionamento do
mesmo
- ação. Consequentemente, o esforço continuasendo inócuo,
ou
pelomenos,
de resultadosinfimos
diantedo volume
eextensão dos recursos empregados.
Não
há
dúvida que é dificil, paraquem
participade
instituições historicamente estabelecidas, engendrar, de
fomia
consciente,no
seu seio, os elementos
que
poderão, eventuahnente, colocarem
xeque
seuspressupostos, questionar seus direcionamentos e, quiçá, lutar pela sua
“desinstitucionalização”.
É
mais fácil falarem
formar pessoas criticas,mas
continuar,na
prática, ensinando-as a resolver problemas dentro dos estereótipos dantes citados,num
flagrante contrasenso,mas
dentro deum
modelo
de ação docente quenão
acarreta aborrecimentos para acomunidade
escolar e
“conforma”
o aluno auma
realidade fisica e social dentroda
qualele, por consequência,
também
não
terá maiores conflitos,nem
sentirá maiores responsabilidades pela suamudança.
Diversos motivos
podem
ser arrolados para que a questãoda
solução de problemas seja tratadada forma
descrita, preterindo-se atêm
a vercom
o “me'z“z`er” científico propriamente dito (deve-se considerar,aqui,
que
existem divergências quanto à possibilidade e/ou oportunidadeda
associação, sob
alguma fonna
eem
certos níveis, entre o ensino deciências e a atividade científica propriamente dita -
no
decorrerdo
trabalho, será definida a posição
do
autor, à respeito).De
qualquermaneira, a desatualização é
uma
constante: o professornão
consegue, por“n” motivos, desenvolver
com
o aluno as interligações entre, por exemplo,as pesquisas científicas de ponta e as contingências
do
meio
em
que
ambos
estão inseridos, privando-se, ambos, de melhores condições de interagir
com
omesmo
- salienta-se oambos,
considerando-se que,unidirecionando o sentido
da
intervençãoou
permitindo amanutenção
dos“ruídos”
na comunicação
entre os parceiros,em
qualquer caso, o processoestará prejudicado e o prejuízo é mútuo;
é crônica
na
escola a falta, a deficiência quantitativa, a desatualização, aobsolescência
ou
a inadequação para o uso,no que
tange ao materialinstrucional (bibliografia, material de
consumo,
equipamentos e sirnilares),para
que
possam
seraprofimdadas
as questões levantadasno
decorrer de'pesquisas relacionadas
com
a solução de problemas.Mesmo
o computador,quando
presente, ainda é considerado (e utilizadocomo
tal)uma
ferramenta apropriada apenas para resolver problemas deordem
técnica, e
não
um
instrumento didático propriamente dito - ele substitui amáquina
de escrever, omimeógrafo
e atépode
se transformarem
uma
outra lousa, mais sofisticada, mais atraente, mais moderna,
mas
que não
compõe,
com
os demais,um
conjunto de recursos quefavoreçam
aensino-aprendizagem, e
concorram
para sua agilização, permitindo aotimização
no
aproveitamentodo
tempo, dos recursos materiais, fisicos ehumanos
disponíveis; - .existe o
temor
de que os estudantesabordem
temas que são polêmicosdentro
da
instituição escolar,como
o
autoritarismodo
próprio sistema;o
relacionamento entre pais, filhos e professores; as
sempre
presentes, apesarde negadas, discriminações sexuais, étnicas, econômicas, dentre outras, e
que
a Escola evita discutir abertamente. Voltar-se-á a este aspectoquando
serão discutidos os projetos apresentados pelos alunos: sistematicamente,
de
forma
explicitaou
mais sutil, o docenteou
os estudantes são induzidos aalterar
ou
até eliminar, por exemplo, itens de questionáriosou
mesmo
tópicos de pesquisa, considerados “pesados” demais, “inconvenientes”
ou
“fora de propósito” diante de determinadas circunstâncias;
dentre os aspectos curriculares que participam
do emaranhado que
fazda
solução
de problemas,
maisum
problema, há
que destacar-se a ausênciade
maior
integração interdisciplinar,que
favoreceriauma
visãomais
globalizada e
menos
compartimentalizada dos problemas e,consequentemente, de sua solução.
Os
exemplos
citados anteriormentemostram
que,na
visão dos livros-texto, assumida pela maioria dosprofessores,
um
problema
está limitado auma
determinada matéria,em
uma
detenninada série, e a respeito deuma
certa quantidade de conteúdos previamente estabelecidos. Estatambém
éuma
situação a cujo respeitoserão apresentadas, mais adiante, altemativas de trabalho,
como
produtoda
estudado: “é isso
que
sedá
em
...” mostracom
clareza opensamento da
maioria dos docentes
com
respeito aomomento
e ao grau deaprofundamento
que
se deve dar a cada assunto.Nada
a ver, sequer,com
o que está acontecendo
na
aula anteriorou
posterior: fecha-seum
livroou
um
caderno, abre-se outro, outra gavetada
cabeçado
estudante deve estarà disposição. Pelo
que
se percebe nos ditos “conselhos de classe”ou
através das atas de reuniões pedagógicas, de estudo, etc., os professoresficam
sabendo do quê
o colega está tratando,quando
solicitam ao “aluno auxiliar”da
semana,que
apague,no
quadro-verde, oque
sobrouda
aulaanterior,
ou
quando, por acaso,passam
a vistano
que os altmosacabaram
de anotar
em
seucademo!
Esta é a rotina. Existem propostas, ótimas, sobretrabalho interdisciplinar,
porém
carecem
de abrangência edo
suporteinstitucional, que lhes daria a legitimidade
do
caráter participativo,que
deve caracterizar qualquer projeto, independentemente de apoio
do
órgão financiadorX
ou
Y
ou
de ser executado nas condiçõesZ
ou
W:
ou
ele é possível, “per se”,dando
como
garantia de sucesso as suas qualidadesintrínsecas e a convalidação
do
gmpo,
ou não
é,na
verdade,um
projetoeducacional, nos termos aqui colocados;
e finalmente,
mas
nem
por issoem
menor ordem
de importância, alinearidade dos programas, que
não
acompanham,
na
sequência de seudesenvolvimento, os princípios
da
psicologia infantilnem
tampouco
seguem
o ponto de vista de sua construção histórica. Reportam-se, isso sim, aum
modelo
definido, cristalizado, de organizaçãoda
matéria-prima(conteúdos) desta
ou
daquela Ciência, repassando-a tal e qual para osVer
(BUCCHI,
1992), por exemplo.A
argumentação apresentada, ao secolocar
em
dúvida a oportunidade e a relaçãocom
as teoriasda
aprendizagem, deste
modelo
de organização de programas, àqueles queo
seguem, efetivamente (discutir-se-á, posteriormente, qual o papelque
estes livrosdevem
exercerno
contextoda
resoluçãode problemas,
assimcomo
proposta neste trabalho), vai desde a“ordem
lógicana
sequência dos conteúdos deve ser obedecida” até a “necessidade deum
mínimo
de uniformidade entre os estabelecimentos de ensino, tendoem
vista os casosde transferência”!
Vale à
pena
mencionar(mesmo
verificando que, sob muitos aspectos, o livronão
fugisse à regra) , que jáem (ANDRADE,
E.N.
da
C
&
HUXLEY,
M.
A., 1962),num
texto cuja lê . ed.em
Português é de56
(prefaciado pelos autoresem
1932),REIS
(1962),no
seuComentário
do
tradutor, apontasse diversos destes itens
como
entraves para oavanço no
ensino,na
área de Ciências e elogiasse a inciativa dos autoresem
escreveruma
obraque
tentava ser diferente. Dentre outros pontos,pode
ser salientado,em
especial quanto aos dois últimos itens discutidos:“Abram alguns livros de história natural e vejam.
Em
capítulosdistintos temos a circulação, a respiração, a digestão, apresentadas
como
se na verdade fôssem questões inteiramente distintas, semqualquer conexão e segundo
uma
rígida seriação, que facilita amemorização, porém tira qualquer idéia de vida a atos que são essencialmente vivos.” (REIS, 1962, p. XXIII).
Logo
acima
deste comentário, manifesta o seu desesperoquanto a
um
ato de “decoreba” imposto aum
detenninado aluno,há
20
anos,Parece que,
em
termos decomunidade
escolar, a história continua serepetindo, sim,
mesmo
na
ante-vésperado próximo
milênio.2.2 -
As
respostas dos pesquisadoresA
pesquisa sobre problemas e sua solução é antiga, e se debruça sobre situações as mais diversas, quepodem
incluir desdeuma
equação
matemática atéum
simples jogo demontar
palavras utilizando determinadas letras.Em
tennos de disciplinas, entretanto, concentra-sena
Física e, demodo
muito especial,na
Matemática. Issonão
significaque
asdemais não
sepreocupem
com
a questão: nos diversos eventos sobreEducação, a elas relacionadas, percebe-se que,
mesmo
sob nomenclaturadiferenciada e envolvendo aspectos específicos,
há
pesquisadores tentandoestudar as causas das dificuldades enfrentadas pelos alunos
na
resoluçãode
problemas
particulares de cada área,compreender
as suas origens e ofereceraltemativas de desenvolvimento
do
processo ensino-aprendizagem paraminimizá-las.
Dada
a ênfase que existe nas duas disciplinas dantesmencionadas, entretanto, as observações que
seguem
ficarão limitadas àsmesmas,
neste traballio.Não
se pretende,também,
fazeruma
revisãoextensiva,
mas
apontar algumas pessoasou
grupos de relevância, e o pontode
vista sobo
qualencaram
o problema.De
acordocom
MAYER:
“Se
bem
que possam exprimir diferentemente os temos, a maioriados psicólogos concordam
em
queum
problema tem certascaracterísticasí
Dados -
O
problema começanum
certo estado,com
certascondições, objetos, peças de informação, e assim por diante,
Metas -
O
estado desejado ou terminal do problema é oestado final, sendo necessário pensamento para transformar o
problema do dado para o estado final,
Obstáculos -
O
pensador tem à sua disposição certoscaminhos para mudar o estado dado ou o estado final do
problema.
O
pensador, contudo, não sabe ainda a resposta correta;isto é, a sequência correta de comportamentos que resolverão o
problema não está patente de imediato.” (1981, p. ll).
Este esquema, que é bastante genérico, poderia ser assim
representado:
oBsTÁcULos
šíšíššf - “EI ~ '-I~.;ê=zà::êâffäf×@fi? .'»:::›:~:1:1. z "wi -¬»«-;~:,zâz':_
«~~zzé=zê.=z=â=àê$?-=é'-f~›-tttëlâi ,¡_-¿-_-fi-¿¿-f¿;,,-, .- .-yõ‹:~:z=z !¬,
Sem
demérito de suas vantagens, estemodelo contém
algumas características quedevem
ser atentadas, para que omesmo
sejausado
com
as devidas restrições:uma
delas é a linearidadedo
processo,outra, a unicidade
da
resposta.Não
comporta, ainda, a idéia de problemasdivergentes e de redes metodológicas.
O
autoracima
citado relaciona (1981) diversas teorias àsquais se
pode
relacionar a resolução de problemas: associacionismo, gestalt,etc.
Algumas
podem
ser destacadas, pelo interesse particular quepossuem
na
área da
Matemática
ou,mesmo,
pelo interesse geral quepodem
ter paraoutras áreas. Dentre elas,
há
que salientar-se o trabalho dePOLYA
(1978).Em
sua obra, considerada clássica, afinna: a resolução de problemas éuma
habilitação,que
pode
ser adquirida por imitação e prática; portanto o papeldo
professor é incentivar o interesse dos alunos por problemas ese desenvolve este processo? através de 4 passos:
compreensão do problema
- estabelecimento de
um
plano de resolução - execuçãodo
plano -retrospecto.
O
autor disserta sobre cadaum
dos passos,mencionando
inclusive exemplos, dentro
da
Matemática. Falaem
abordagens diferenciadas.E
dá
ênfase à heurísticamoderna,
que:“ rocura
com
reendero rocesso solucionador de roblemas
P P z
particularmente as operações mentais, típicas desse processo, que
tenham utilidade. Dispõe de várias fontes de informações,
nenhuma das quais deve ser desprezada.
Um
estudo conscienciosode Heurística deve levar
em
conta tanto 7 as suas bases ló icas quanto psicológicas”. (1978, p. 87).Como
elemesmo
diz, é sobre esta heuristicaque
seutrabalho está construído, e
tem
avantagem
de ser voltado para a atividadede
sala de aula, tentando auxiliar o professor a resolver os problemas
que
ocorrem
quando da
SP. Sobre suas limitações, falar-se-áquando
se explicitaro que
se entende por problema, nesta pesquisa.Para muitos pesquisadores atuais, envolvidos
com
aEducação
Científica e Matemática, o trabalhocom
resolução deproblemas
ultrapassa o alcance de
uma
simples técnica didática, para constituir-senum
recurso pedagógico específico, que
propõe
situações problemáticasque
osalunos terão de resolver.
Um
deles,na
área de Ciências, éHENING
(1986). Para ele,“Problema
éuma
situação de dúvida,ou
seja,um
estado de tensãopsicológica capaz de estimular a curiosidade,
o
pensamento
-reflexivo e
provocar a ação
em
busca dauma
soluçãoou
atitude de trabalho.” (1986, p.215).
É
interessante verificarcomo
outros elementosvão
sendo,gradativamente, associados aoconceito
de
“problema” e à SP: a preocupaçãoa tensão psicológica, para
além
dos fatorespuramente
lógicos e formais.HENING
(1986) distingue “problema” de “tarefa” , entendendoque
apenasno
primeiro caso, efetivamente, a tensão existentepode
levar à ação.Com
muita felicidade, destaca que, apesar das aparências,
o
traballio depropor
problemas é mais dificil
que
resolvê-los.Um
dos Óbices, porém,que
pode
sercolocado, volta a ser a questão
da
relação entre os problemas colocados pelaescola e os problemas
do
dia-a-dia. Se, porum
lado,“A
Técnicade
Problemas,
como
um
meio
ativo,tem
o mérito de,na
pior das hipóteses,alterar a dinâmica de aula, proporcionando aos alunos
uma
nova
atitude detrabalho,
em
que
elespossam
desenvolver suas capacidades”. (1986, p. 217),por outro lado
“Os
“problemas” de classe são apresentados de maneirasemelhante aos
que
ocorrem na
vida real. Este fato possibilitaráum
“treino”ao
jovem,
dando-lhe osmeios
para enfrentar situações semelhantesou
transferir seu conhecimento a novas situações
com
que
se depararno
futuro.”(1986, p. 217), o
que
é,no
mínimo, discutível.Há
também
outra questãocolocada pelo
mesmo
autor:“É certo que os “problemas” de classe têm
uma
certaartificialidade, o que na realidade não vai
em
desabono dosobjetivos dessa técnica, pois que os mesmos ocorrem ou são apresentados de maneira semelhante aos que se verificam na vida
rea1.”(HEN1NG, 1986, p.21s).
Sobre esta relação: problemas de sala de aula
X
HENING
(1986) reconhece que grande parte de seutrabalho está
fimdamentado
nas teorias de Ausubel.Segundo
ele, este autor:“Ao
desenvolver solução de problemas, fundamenta-a na teoria daassimilação (aprendizagem significativa), delimitando os fatores
que influenciam na solução de problemas,
como
técnica de ensino.Os
principais fatores referidos são as variáveis (fatores cognitivos,de tarefas, de personalidade e interpessoais), *pensamento e lógica,
formas de abordagem, discernimento e etapas de trabalho. Além
›
destes aspectos, são feitas referências às possibilidades de
treinamento para a solução de problemas, sucesso das pessoas que
habitualmente solucionam problemas e mudanças evolutivas que
ocorrem nos individuos, no decorrer do tempo,
em
relação àspossibilidades e sucesso
em
solucionarem problemas”.(HENING,
1986, p. 215).
Na
áreada
Física,Ausubel tem
sido difundidono
Brasiltambém
porMOREIRA
(1985) que,mesmo
sem
trabalhar diretamentecom
SP,nem
por isso deixade
oferecer subsídios importantes para amesma
através de
modelos
de organizaçãoda
instrução concordescom
as teoriasde
Ausubel.
Dentro da
mesma
linha de tratamentoda
SP
como
técnica de ensino, trabalhamMORAES
eRAMOS:
“Nesta (técnica) o professor apresenta aos alunos
um
problema e auxilia-os na investigação do mesmo... o professor dirige pouco otrabalho do aluno. Ele apenas propõe o problema ou promove o
seu aparecimento e, a partir daí, incentiva o aluno a encontrar as soluções.
O
professor acompanha o estudo. Auxilia o aluno aenfrentar as dificuldades que ele não consegue superar sozinho”.
(1988, p. 47).
A
despeitodo avanço
em
relação ao tratamento tradicionalda
solução deproblemas, tem-se aqui, ainda, a falta
da
problematização por partedo
aluno: oproblema
é dado.Mas
começa
a aparecer a funçãomediadora
do
professor.E
surgem,novamente
as duas questões polêmicas: “Estafonna
de trabalharmais segurança problemas
do
seu dia-a-dia.”(MORAES
eRAMOS,
1988, p.47).
Em
outras palavras, pode-se discutir a vinculação entre o “fazerCiências” - utilizar o assim
chamado
“método
científico”, eo
ensinar/aprender Ciências: ela é possível, é desejável e, se for, até que ponto
e
em
que nível?Além
disso, a transferência daaprendizagem
escolar para odia-a-dia, colocada nestes tennos, tarnbém é discutível.
'
BARBOSA
(1985), quenão
é propriamenteum
pesquisadorem
ensino de Matemática,mas
cuja obratem
influenciadoprofessores e outros autores de livros-texto, explica solução de problemas
também
sobo
prismade
técnica didática:“A
conceituação de problema poderia nos levar a imaginar que, acriança que já tenha adquirido a suficiente mecanização para a
apresentação de
um
“problema”, terem
mente ou fomecer asequência operatória imediatamente, não tenha para si realmente
um
problema. Esta criança teria a necessidade apenas da resoluçãoefetiva?
É
valido concluirrnos que essa criança temum
simplesexercício? Não, por pequeno que seja o período de tempo para o
afloramento da imagem resolutiva, a criança passou pela fase
reflexiva, quando ela raciocina por comparação, por analogia a
situações anteriores. Houve problemas. Problemas nessas
condições que se resumem praticamente na resolução efetiva são
também importantes.
O
seu uso no par ensirro-aprendizagem énecessário justamente para a criação de automatismos e
habilidades.”
(BARBOSA,
1985, p. 140).Mesmo
que o autor proponha, dentre três,uma
forma
eclética (além de: o professor
fomece
a resolução, e: o aluno procura aresolução
com
seus próprios recursos), a maneiracomo
tratada
solução deproblemas assemelha-se mais a