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Traços de personalidade e saúde mental : diferenças entre homens e mulheres

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

TRAÇOS DE PERSONALIDADE E SAÚDE MENTAL:

DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES

Isabel Cristina Reis Picado

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

FACULDADE DE PSICOLOGIA

TRAÇOS DE PERSONALIDADE E SAÚDE MENTAL:

DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES

Isabel Cristina Reis Picado

Dissertação orientada pela Professora Doutora Joana Henriques Calado

MESTRADO INTEGRADO EM PSICOLOGIA

(Secção de Psicologia Clínica e da Saúde / Núcleo de Psicologia Clínica Dinâmica)

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Agradecimentos

Começo por um especial agradecimento à Professora Doutora Joana Calado, pelo conhecimento que me foi transmitindo ao longo do tempo, pela disponibilidade e apoio, e pela paciência que teve comigo ao longo destes meses de trabalho.

De seguida, um especial agradecimento ao Tiago, pelo apoio incondicional, pelo encorajamento, por me fazer pensar que iria conseguir, por me transmitir calma, por acreditar em mim, e pela paciência que teve comigo.

Agradeço muito aos meus pais e à minha irmã, por tudo aquilo que me puderam e foram proporcionando ao longo do tempo, de modo que eu pudesse chegar até este ponto, sempre acreditando em mim e nas minhas capacidades para chegar longe.

Aos meus amigos, que me proporcionaram momentos de diversão e relaxamento em períodos de stress.

Agradeço a todos os professores e professoras que me proporcionaram muito do conhecimento que tenho hoje, e que me permitiram ter uma boa educação e cultura.

A todas as pessoas que participaram neste estudo, demonstrando gentileza e interesse no mesmo.

E, ainda, um agradecimento a todos os autores e autoras, psicólogos e psicólogas que trabalharam tão arduamente ao longo dos anos para que a Psicologia pudesse ganhar o estatuto que tem hoje - e que se encontra a crescer -, e que me proporcionaram e continuarão sempre a proporcionar mais e melhor no sentido do exercício das minhas futuras funções.

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Resumo

Este estudo insere-se na temática dos Traços de Personalidade e Saúde Mental, na sua diferenciação em termos dos sexos, no âmbito da Psicologia Clínica. O principal objetivo desta investigação prende-se com a exploração das relações entre as variáveis Sexo, Traços de Personalidade e Saúde Mental, procurando contribuir com dados científicos sobre a população geral portuguesa. Existem estudos que procuram documentar as relações que se encontram entre essas variáveis, mas pouco se tem estudado em termos do contexto português. A amostra do estudo é constituída por 330 adultos da população geral; 202 participantes são do sexo feminino (61.20%) com idades compreendidas entre os 18 e os 82 anos (M = 40.64 anos; DP = 13.34 anos), 128 participantes são do sexo masculino (38.80%) com idades compreendidas entre os 18 e os 83 anos (M = 41.91 anos; DP = 14.10 anos). Os instrumentos utilizados são o Inventário dos Cinco Fatores da Personalidade (NEO-FFI) e o Inventário de Saúde Mental (MHI-5). Os resultados demonstram que as mulheres pontuam mais em Neuroticismo, Amabilidade e Conscienciosidade, e que não há diferenças entre os sexos ao nível da Extroversão e da Abertura à Experiência. As mulheres apresentam um resultado mais baixo em termos de Saúde Mental comparativamente com os homens. Verifica-se que a Saúde Mental se relaciona inversamente com o Neuroticismo e diretamente com a Extroversão. Destacam-se diferentes padrões de traços de personalidade preditores de saúde mental: nas mulheres, são os traços Amabilidade (β = .44), Extroversão (β = .34), Conscienciosidade (β = .33) e Neuroticismo (β = -.13), que explicam 96% do resultado; nos homens, são os traços Conscienciosidade (β = .40), Amabilidade (β = .31) e Extroversão (β = .29), que explicam 97% do resultado. Estes dados aumentam a compreensão sobre a influência que os traços de personalidade podem ter na saúde mental de mulheres e homens, sugerindo implicações práticas ao nível da prevenção e intervenção psicológica, procurando melhorar a saúde mental da população em geral.

Palavras-chave: Traços de Personalidade; Saúde Mental; Diferenças de Sexo; Psicologia Clínica.

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Abstract

This study is part of the theme of the Personality Traits and Mental Health, in its differentiation in terms of the genders, within the scope of Clinical Psychology. The main objective of this research is to explore the relationships between the variables Sex, Personality Traits and Mental Health, seeking to contribute with scientific data on the Portuguese population at large. There are studies that seek to document the relationships that are found among these variables, but little has been studied in terms of the Portuguese context. The study sample consisted in 330 adults from the general population; 202 participants are female (61.20%), aged 18-82 years (M = 40.64 years, SD = 13.34 years), 128 participants are male (38.80%), aged 18-83 years (M = 41.91 years, SD = 14.10 years). The instruments used are the Inventory of Five Personality Factors (NEO-FFI) and the Mental Health Inventory (MHI-5). The results show that women score higher on Neuroticism, Agreeableness and Conscientiousness, and that there are no differences between the sexes on Extroversion and Openness to Experience. Women have a lower Mental Health score compared to men. It is verified that Mental Health is inversely related to Neuroticism and directly related to Extroversion. Different patterns of personality traits predicting mental health are highlighted: in women, are the traits Agreeableness (β = .44), Extroversion (β = .34), Conscientiousness (β = .33) and Neuroticism (β = -13), which explain 96% of the result; in men, are the traits Conscientiousness (β = .40), Agreeableness (β = .31) and Extroversion (β = .29), which explain 97% of the result. These data increase the understanding of the influence that personality traits can have on the mental health of women and men, suggesting practical implications for prevention and psychological intervention, seeking to improve the mental health of the general population.

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Índice Resumo i Abstract ii Índice iii Índice de quadros iv Introdução 1 1. Fundamentação teórica 3 1.1. Os Traços de Personalidade e as Diferenças de Sexo 3 1.2. A Saúde Mental e as Diferenças de Sexo 11 1.3. Os Traços de Personalidade, a Saúde Mental e as Diferenças de Sexo 16 2. Objetivos e Hipóteses 22

3. Método 23

3.1. Participantes 23

3.1.1. Caracterização sociodemográfica da amostra do sexo feminino e

do sexo masculino 23

3.2. Instrumentos 25

3.2.1. Questionário Sociodemográfico 25 3.2.2. Inventário dos Cinco Fatores da Personalidade (NEO-FFI) 26 3.2.3. Inventário de Saúde Mental (MHI-5) 27

3.3. Procedimento 28

3.3.1. Procedimento Estatístico 28

4. Resultados 29

4.1. Identificar os Traços de Personalidade característicos de cada um dos

Sexos (Objetivo 1) 29

4.2. Identificar diferenças de Sexo relativamente à variável da Saúde

Mental (Objetivo 2) 30

4.3. Identificar as relações entre a Saúde Mental, os Traços de Personalidade, e os Sexos (Objetivo 3) 31 4.4. Explorar quais os Traços de Personalidade que predizem a Saúde Mental em mulheres e homens (Objetivo 4) 33

5. Discussão 34

Conclusão 44

Referências Bibliográficas 47

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Índice de quadros

Quadro 1. Caracterização Sociodemográfica da Amostra do Sexo Feminino 24 Quadro 2. Caracterização Sociodemográfica da Amostra do Sexo Masculino 25 Quadro 3. Resultados da Análise de Variância (ANOVA) sobre o Efeito das Mulheres e dos Homens nos Cinco Traços de Personalidade do NEO-FFI 30 Quadro 4. Estatística de Teste t- de Student sobre a Comparação entre Mulheres e Homens em termos do MHI-5 Total 31 Quadro 5. Coeficientes de Correlação de Pearson entre as Dimensões do NEO-FFI e o MHI-5 Total na Amostra Geral 32 Quadro 6. Coeficientes de Correlação de Pearson entre as Dimensões do NEO-FFI e o MHI-5 Total nas Mulheres e nos Homens 32 Quadro 7. Análise de Regressão Múltipla dos Traços de Personalidade Preditores de Saúde Mental (MHI-5 Total) em Mulheres e Homens 33

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Introdução

O presente estudo insere-se numa investigação de âmbito mais lato sobre “Personalidade e Psicopatologia”, no âmbito da Psicologia Clínica, desenvolvida na Faculdade de Psicologia da Universidade de Lisboa. Tendo isto em conta, o tema escolhido para o presente estudo assenta na diferenciação entre os sexos no âmbito dos Traços de Personalidade e da Saúde Mental, em termos da população geral.

O interesse por este tema partiu daquilo que se verificam ser as crenças e considerações do senso comum acerca da sua perceção da realidade, nomeadamente em termos das diferenças que mulheres e homens apresentam na sua personalidade e modo de funcionamento, e do modo como isso se relaciona com a sua saúde mental.

O senso comum frequentemente comenta como mulheres e homens são diferentes em termos da sua personalidade e modo de funcionamento. As mulheres são classificadas como mais ansiosas, emocionais, sensíveis e amáveis. Os homens, por sua vez, são classificados como mais agressivos, frios/distantes, racionais e ativos.

Muitos estudos têm procurado estudar as diferenças de sexo ao nível dos traços de personalidade, nomeadamente ao nível do Modelo dos Cinco Fatores, demonstrando tanto evidências consistentes, como algumas evidências inconsistentes (e.g., Goodwin & Gotlib, 2004; Guo, Wang, & Rocklin, 1995; Lima et al., 2014; Löckenhoff et al., 2004). No entanto, poucas evidências se encontram em termos das diferenças de sexo no contexto português.

Para além disso, também parece ser ideia do senso comum de que são as mulheres que apresentam uma saúde mental mais baixa, mais fraca e debilitada, pelo modo como lidam com os problemas e exteriorizam as emoções. É importante perceber aquilo que caracteriza a saúde mental de mulheres e homens, e de que modo estes lidam e se comportam perante as situações negativas. Neste sentido, alguns estudos têm procurado explorar aquilo que diferencia os sexos em termos da saúde mental, nomeadamente ao nível da incidência de diferentes perturbações (e.g., Astbury, 2001; Hill & Needham, 2013; Hyde, 2014; Paris, 2007; Wendt & Shafer, 2015; World Health Organization [WHO], 2002). No entanto, novamente, poucos estudos se têm feito e poucas evidências se têm encontrado em termos da população geral portuguesa.

Por sua vez, percebe-se que haverá algum grau de relação entre os traços de personalidade e a saúde mental, e, se mulheres e homens são diferentes em termos da sua personalidade, também haverá diferentes relações entre os traços específicos de

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cada sexo e diferentes resultados em termos da saúde mental. Também a este nível, a literatura tem procurado dar resposta a estas considerações e questões (e.g., Furnham & Cheng, 1999; Goodwin & Gotlib, 2004; Lamers, Westerhof, Kóvacs, & Bohlmeijer, 2012; Vesely, Siegling, & Saklofske, 2013; Watson, Stasik, Ellickson-Larew, & Stanton, 2015). Ademais, tendo o acima referido em consideração, diferentes traços irão, ainda, predizer de maneira diferente a saúde mental de mulheres e homens. No entanto, mais uma vez, pouco se sabe sobre esta temática em termos do âmbito português.

Deste modo, o principal objetivo desta investigação prende-se, precisamente, com o estudo e exploração das relações que se estabelecem entre as variáveis Sexo, Traços de Personalidade e Saúde Mental, na população geral portuguesa, começando pela análise das diferenças de sexo na relação com os Traços de Personalidade e a Saúde Mental, e finalizando com o estudo das relações mútuas entre as três variáveis.

Neste sentido, este documento encontra-se organizado em seis capítulos. O primeiro é constituído pela fundamentação teórica, repartida em três partes, onde é feita uma revisão empírica sobre os temas em análise. Seguem-se, no segundo capítulo, o objetivo geral e objetivos específicos deste estudo, assim como as hipóteses levantadas no âmbito dos mesmos. Em termos do terceiro capítulo, encontra-se descrito o método de investigação adotado, que inclui a caracterização da amostra (amostra geral e amostras do sexo feminino e sexo masculino), dos instrumentos utilizados, e do procedimento de investigação. No quarto capítulo deste documento, são apresentados os resultados obtidos neste estudo, e, no quinto capítulo, apresenta-se a discussão dos dados empíricos, fazendo ainda alusão às limitações do estudo, às implicações práticas do mesmo e a considerações sobre investigações futuras. Por fim, no sétimo capítulo, é apresentada a conclusão geral desta dissertação.

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1. Fundamentação teórica

A literatura tem encontrado diferenças de sexo em várias áreas de funcionamento psicológico, nomeadamente ao nível da personalidade (e.g., Cohn, 1991; Costa, Terracciano, & McCrae, 2001; De Bolle et al., 2015; Del Giudice, Booth, & Irwing, 2012; Feingold, 1994; Guo et al., 1995; Hyde, 2014; Lima et al., 2014; Löckenhoff et al., 2014; Paris, 2007; Schmitt, Realo, Voracek, & Allik, 2008; Siegling, Saklofske, Vesely, & Nordstokke, 2012) e da saúde mental (e.g., Astbury, 2001; Hill & Needham, 2013; Hyde, 2014; Paris, 2007; Wendt & Shafer, 2015; WHO, 2002). Para além disto, os estudos têm demonstrado associações entre traços de personalidade e saúde mental/psicopatologia (e.g., Furnham & Cheng, 1999; Lamers et al., 2012) e, igualmente, entre traços associados a cada sexo e o peso da sua influência em diferentes resultados ao nível da saúde mental (e.g., Goodwin & Gotlib, 2004; Vesely et al., 2013; Watson et al., 2015).

1.1. Os Traços de Personalidade e as Diferenças de Sexo

Tendo em conta que homens e mulheres são ambos seres humanos, tanto têm muitas semelhanças como muitas diferenças (Del Giudice et al., 2012; Hyde, 2014). Procurando especificar as diferenças entre ambos os sexos, muitas têm sido as evidências encontradas ao nível de habilidades cognitivas, comportamentos sociais, habilidades físicas (Feingold, 1994) e personalidade (e.g., Cohn, 1991; Costa et al., 2001; Feingold, 1994; De Bolle et al., 2015; Del Giudice et al., 2012; Guo et al., 1995; Hyde, 2014; Lima et al., 2014; Löckenhoff et al., 2014; Paris, 2007; Schmitt et al., 2008; Siegling et al., 2012).

Relativamente às diferenças de sexo em traços de personalidade, estas podem começar a ser detetadas desde a infância, surgem essencialmente na adolescência e desenvolvem-se até àquelas que são encontradas na idade adulta (Cohn, 1991; De Bolle et al., 2015). Os seus efeitos levam a diferenças previsíveis nos comportamentos de lazer, preferências ocupacionais e resultados relacionados com a saúde de homens e mulheres (Schmitt et al., 2008).

Feingold (1994) realizou uma meta-análise, onde procurou detetar evidências e examiná-las à luz das diferenças de sexo ao nível dos traços de personalidade, e concluiu que os homens têm maior autoestima, e são mais assertivos, mais internamente controlados, dominantes e agressivos, e menos ansiosos que as mulheres. Estas, por sua

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vez, pontuam mais em termos da ansiedade, confiança, sociabilidade (Extroversão) e, especialmente, ternura. Não se encontraram diferenças de sexo relativamente a impulsividade, atividade, ideias (reflexão) e ordem (Feingold, 1994).

A revisão levada a cabo por Hyde (2014) relata diferenças ao nível das emoções, concluindo que, apesar de os estereótipos ditarem que as mulheres são mais emocionais do que os homens e que existem grandes diferenças de sexo relativamente a várias emoções (como o medo e o orgulho), os dados indicam que as diferenças de sexo em experiências emocionais são pequenas ou triviais, tanto em amostras com crianças como com adultos. Ainda assim, num estudo realizado no âmbito da inteligência emocional, Siegling et al. (2012) descobriram que as mulheres pontuam mais do que os homens em facetas interpessoais (emocionalidade, inteligência emocional, perceção e gestão de emoções) e os homens pontuam mais em componentes intrapessoais (autocontrolo emocional).

Especificando as evidências ao nível do Modelo dos Cinco Fatores da Personalidade, as descobertas nem sempre vão totalmente na mesma direção, apesar de alguns resultados serem congruentes: As dimensões que parecem apresentar resultados mais consistentes e mais constantes entre estudos são o Neuroticismo e a Amabilidade, com as mulheres a evidenciarem resultados mais elevados do que os homens (e.g., Goodwin & Gotlib, 2004; Guo et al., 1995; Lima et al., 2014; Löckenhoff et al., 2004). Relativamente às outras dimensões, as conclusões nem sempre convergem, com estudos a reportar níveis mais elevados de Extroversão nas mulheres (Goodwin & Gotlib, 2004; Löckenhoff et al., 2014) e outros nos homens (Guo et al., 1995); assim como estudos reportam níveis mais elevados de Abertura à Experiência nas mulheres (Löckenhoff et al, 2014) e outros nos homens (Goodwin & Gotlib, 2004; Guo et al., 1995). Em relação à Conscienciosidade, as evidências tendem a demonstrar uma vantagem feminina (Goodwin & Gotlib, 2004; Guo et al., 1995; Lima et al., 2014; Löckenhoff et al., 2004), mas outros resultados permanecem inconsistentes neste sentido (Löckenhoff et al., 2014).

Uma das explicações para os resultados relativamente à Conscienciosidade, Extroversão e Abertura à Experiência serem menos consistentes está subjacente ao facto de homens e mulheres pontuarem de maneiras diferentes em várias facetas de cada uma dessas dimensões (e.g., Del Giudice et al., 2012; Löckenhoff et al., 2014). A Extroversão inclui uma componente de energia, de dominância/ousadia (como sejam atividade, emoções positivas, e procura de entusiasmo - conceptualmente oposto à

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anedonia), e uma componente interpessoal, de afeição/afiliação (que inclui cordialidade, sociabilidade e assertividade - relacionado com uma orientação de afiliação, também associada à dimensão da Amabilidade, onde geralmente as mulheres pontuam mais) (De Bolle et al., 2015; Del Giudice et al., 2012). Neste sentido, o que se verifica é que os homens tendem a ser mais assertivos e a procurar mais entusiasmo, enquanto as mulheres pontuam mais em cordialidade, sociabilidade e emoções positivas (Löckenhoff et al., 2014). Um padrão semelhante tem sido encontrado relativamente à dimensão de Abertura à Experiência, no sentido em que homens e mulheres parecem diferenciar-se no tipo de experiências a que estão preferencialmente mais abertos (Costa et al., 2001). As mulheres parecem pontuar mais nas facetas de estética e de sentimentos, enquanto os homens, que são mais orientados intelectualmente, pontuam mais na faceta de ideias (Costa et al., 2001; Del Giudice et al., 2012; Löckenhoff et al., 2014; Schmitt et al., 2008). Parece não haver diferenças de sexo nas facetas de fantasia e valores (Costa et al., 2001). Quanto à dimensão da Conscienciosidade, as diferenças de sexo são também limitadas a apenas alguns dos seus componentes (Del Giudice et al., 2012), com as mulheres a pontuar em todas as suas facetas, exceto em competência e deliberação (Löckenhoff et al., 2014). Todas estas inconsistências parecem estar associadas à ênfase que cada instrumento dá a cada um dos constructos, nomeadamente, se nos encontramos ao nível do Modelo dos Cinco Fatores, dado os constructos serem tão latos (e.g., Del Giudice et al., 2012; Löckenhoff et al., 2014).

Outra diferenciação comum é a de Agência e Comunhão (Siegling et al., 2012; Vesely et al., 2013). Traços de Agência (que se referem a características intrapessoais como assertividade, competitividade, autoafirmação) são caracterizados por um foco no self e na autonomia. Traços de Comunhão (que se referem a características interpessoais como cooperação, compaixão, ternura) significam uma orientação para os outros e para as relações, a um foco na integração individual dentro de uma unidade social maior (Siegling et al., 2012; Vesely et al., 2013). A Agência relaciona-se negativamente com o Neuroticismo e positivamente com a Conscienciosidade, enquanto a Comunhão se relaciona positivamente com a Amabilidade (Siegling et al., 2012). As diferenças de sexo observadas mostram que os homens tendem a ser mais agentes e as mulheres mais orientadas para a Comunhão (Cohn, 1991; Feingold, 1994; Löckenhoff et al., 2014; Siegling et al., 2012). No entanto, apesar desta diferenciação, ambos possuem em si uma certa combinação de ambos os traços (Vesely et al., 2013).

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Para além disto, existem ainda estudos que documentam as diferenças de sexo entre diferentes culturas (e.g., Costa et al., 2001; De Bolle et al., 2015; Feingold, 1994; Löckenhoff et al., 2014; Schmitt et al., 2008). Feingold (1994) descobriu, na sua meta-análise, que as mulheres no Canadá, na China, na Finlândia, na Alemanha, na Polónia e na Rússia tendem a pontuar mais do que os homens em escalas de Neuroticismo, Amabilidade e Conscienciosidade, enquanto os homens tendem a pontuar mais na faceta de assertividade ao nível do traço de Extroversão. Para além disso, verificou que, nos EUA, as mulheres pontuam mais do que os homens em ansiedade generalizada, mas estes pontuam ligeiramente mais em ansiedade social. E ainda, que os homens só pontuam mais do que as mulheres em ansiedade em algumas culturas fora dos EUA. Por sua vez, Hyde (2014) comparou o estudo de Feingold (1994) e de Costa et al. (2001) e verificou que ambos iam na mesma direção, com resultados que reportam consistentemente que as mulheres apresentam maior Neuroticismo do que os homens, mas que tal não acontecia em amostras oriundas do Japão e da África do Sul.

No entanto, contrariamente ao que se podia pensar, são muitos os estudos que têm demonstrado invariâncias em termos dos padrões de diferenças de sexo encontrados entre diferentes culturas, sugerindo que as diferenças de sexo parecem ser passíveis de ser generalizadas (e.g., Costa et al., 2001; De Bolle et al., 2015; Feingold, 1994; Löckenhoff et al., 2014; Schmitt et al., 2008). Os resultados que se encontram essencialmente em comum reportam que as mulheres pontuam mais ao nível do Neuroticismo e da Amabilidade, assim como em facetas de cordialidade, sociabilidade e emoções positivas, mas pontuam menos em assertividade e procura de entusiasmo, na maioria das culturas.Para além disto, as mulheres parecem pontuar mais nas facetas de estética, sentimentos e acções, enquanto os homens pontuam mais na faceta de ideias, não havendo diferenças de sexo consistentes para fantasia ou valores (e.g., Costa et al., 2001; De Bolle et al., 2015; Feingold, 1994; Löckenhoff et al., 2014; Schmitt et al., 2008). Relativamente à dimensão da Conscienciosidade, poucas foram as diferenças consistentes entre culturas encontradas ao nível das facetas (Costa et al., 2001).

Aquilo que parece diferenciar-se nas diferentes culturas são as magnitudes em que os efeitos aparecem: Nações ocidentais com valores individualistas, assertivos e progressivos, com culturas mais modernas, desenvolvidas, ricas e igualitárias, apresentam maiores diferenças de sexo em traços de personalidade que as nações não-ocidentais e coletivistas, com culturas tradicionais, menos desenvolvidas e mais pobres (e.g., Costa et al., 2001; De Bolle et al., 2015; Löckenhoff et al., 2014; Schmitt et al.,

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2008). Deste modo, os resultados demonstram que as diferenças de sexo são mais marcadas nas culturas europeias e americanas e mais atenuadas em culturas africanas e asiáticas (e.g., Costa et al., 2001; De Bolle et al., 2015; Löckenhoff et al., 2014; Schmitt et al., 2008). Várias são as explicações dadas para este fenómeno, como: 1) os resultados serem artificiais (se em culturas tradicionais, as pessoas baseassem as suas descrições sobre questões de diferenciação entre papéis de género em comparações de si mesmo com pessoas do mesmo sexo, não existiriam diferenças de sexo, contrariamente ao que aconteceria nas culturas modernas, onde as pessoas se comparariam com outras de ambos os sexos, revelando assim diferenças de sexo); 2) os traços de personalidade serem menos relevantes para as culturas coletivistas; 3) as diferenças de sexo estarem geneticamente determinadas (diferenciando as culturas); 4) os processos de atribuição serem diferentes entre culturas (tendo em conta a conotação que cada cultura dá aos atos de cada pessoa – por exemplo, um ato de bondade feito por uma mulher pode ser percebido como uma escolha da pessoa nas culturas modernas, enquanto seria visto como algo complacente com as normas do seu papel social como mulher numa cultura tradicional) (Costa et al., 2001; Schmitt et al., 2008); 5) a existência de erros de medição ao nível da consistência/inconsistência das escalas de personalidade consoante o nível de literacia das culturas; 6) entre outras explicações (Schmitt et al., 2008).

Schmitt et al. (2008) acreditam que as diferenças entre homens e mulheres nos seus traços de personalidade se tornam mais extremas com o desenrolar do desenvolvimento da sociedade. O desenvolvimento humano, com condições favoráveis como uma vida longa e saudável, acesso à educação e riqueza económica, parece ser um mediador entre os traços de personalidade de homens e mulheres. Em sociedades onde estas condições não existem, o desenvolvimento da personalidade de cada um é mais restrito, levando a poucas variações ao nível dos traços de personalidade entre os indivíduos. Assim, em países tradicionais e menos desenvolvidos, homens e mulheres seriam semelhantes ao nível das suas tendências básicas para sentir, pensar e agir (Schmitt et al., 2008).

As perspetivas teóricas que tradicionalmente se encontram subjacentes aos mecanismos por detrás das diferenças de sexo e que tentam explicar a variabilidade cultural na magnitude das diferenças de sexo na personalidade fundamentam-se em explicações biológicas contra explicações socioculturais (e.g., Costa et al., 2001; Feingold, 1994; Hyde, 2014; Löckenhoff et al., 2014; Paris, 2007; Schmitt et al., 2008). As primeiras enfatizam os benefícios adaptativos dos comportamentos sexualmente

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diferenciados e o papel das pressões da seleção evolutiva. As segundas enfatizam os processos de socialização específicos de cada sexo e a influência dos papéis de género determinados culturalmente (e.g., Costa et al., 2001; Feingold, 1994; Hyde, 2014; Löckenhoff et al., 2014; Paris, 2007; Schmitt et al., 2008).

Os estudos transculturais podem ajudar a explicar a relativa importância que é dada a fatores biológicos e/ou fatores culturais sobre as diferenças de sexo nos traços de personalidade (Costa et al., 2001). Se estas são realmente baseadas em fatores biológicos, devem ser encontradas as mesmas diferenças em todas as culturas, providenciando evidências que suportam uma influência biológica, mediada por diferenças neurológicas ou hormonais entre os sexos. Mas também é possível que a consistência das diferenças entre culturas resulte de fatores universais em papéis de género aprendidos. Por exemplo, porque os homens tendem a ser fisicamente mais fortes do que as mulheres na maioria das culturas, podem ser universalmente colocados em papéis de liderança, onde aprendem a ser mais assertivos que as mulheres (Costa et al., 2001). Juntamente com evidências crescentes da existência e influência de mecanismos hormonais no desenvolvimento de comportamentos específicos e características de personalidade de cada sexo, o facto das diferenças de sexo serem consistentes entre as diferentes culturas sugere que os fatores biológicos são o principal mecanismo para o desenvolvimento dessas mesmas diferenças, apesar de os seus efeitos poderem ser amplificados por condições sociais e cognitivas (De Bolle et al., 2015; Löckenhoff et al., 2014).

O Modelo Biológico postula essencialmente que as diferenças de sexo refletem diferenças de temperamento inatas entre os sexos (Feingold, 1994), resultando em padrões fortemente diferenciados em termos de emoção, pensamento e comportamento (Del Giudice et al., 2012). Por detrás da sua fundamentação, encontram-se estudos que apresentam resultados ao nível da hereditariedade de traços de personalidade (Feingold, 1994; Goodwin & Gotlib, 2004) e das influências de substâncias hormonais e químicas do corpo ou de medidas fisiológicas (Feingold, 1994). Nomeadamente, é hipotetizado que as diferenças de sexo nos cromossomas sexuais possam levar a que as mulheres tenham maior probabilidade de desencadear depressões do que os homens, uma vez que apresentam dois cromossomas X (enquanto os homens apenas apresentam um), e as doenças afetivas possam ser causadas por um gene mutante no cromossoma X (Feingold, 1994). Esta maior vulnerabilidade das mulheres à depressão levá-las-ia então

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a pontuar mais em escalas de depressão, ansiedade e Neuroticismo (Feingold, 1994; Costa et al, 2001).

Um exemplo de uma teoria biológica é a Teoria Evolucionista, que tem enfatizado como as divergentes pressões seletivas em homens e mulheres produzem diferenças psicológicas consistentes (e.g., Costa et al, 2001; Del Giudice et al, 2012; Hyde, 2014; Schmitt et al., 2008). Baseia-se, assim, no princípio de que diferentes comportamentos são adaptativos de maneira diferente para homens e mulheres, tendo em conta os diferentes problemas a que ambos foram consistentemente sujeitos ao longo da história evolutiva (e.g., Costa et al, 2001; Del Giudice et al, 2012; Hyde, 2014; Schmitt et al., 2008). Os comportamentos são adaptativos se ajudam o indivíduo a produzir descendência e a garantir a sua sobrevivência, de modo que também esta se possa reproduzir para garantir a transmissão dos genes para gerações futuras e, assim, a continuação da espécie (Hyde, 2014). A diferenciação de sexo entra aqui no sentido em que as mulheres geralmente têm um investimento parental substancialmente superior ao dos homens na sua descendência, investindo desde a fecundação até ao parto, ao longo de 9 meses de gestação, e depois do nascimento, por meio de processos de cuidado e nutrição, assegurando a sua sobrevivência até à idade adulta (Costa et al., 2001; Hyde, 2014). Parece encontrar-se aqui patente a explicação evolutiva para o grande envolvimento das mulheres no cuidado das crianças (Hyde, 2014). Mulheres mais amáveis e ternurentas parecem ter promovido mais a sobrevivência das suas crianças e ganho, assim, vantagem evolutiva (Costa et al., 2001).

Ao nível do Modelo Sociocultural, existem várias explicações e teorias que tentam explicar as influências culturais na origem das diferenças de sexo (e.g., Costa et al., 2001; De Bolle et al., 2015; Feingold, 1994; Hyde, 2014; Schmitt et al., 2008). Este modelo postula que fatores sociais e culturais produzem diretamente diferenças de sexo em traços de personalidade (Feingold, 1994).

O Modelo dos Papéis Sociais propõe que as diferenças de sexo nos comportamentos crescem a partir de diferenças de sexo relativamente às exigências dos papéis sociais de cada género, que são internalizados desde o início do desenvolvimento e ditam as formas apropriadas de pensar, sentir e agir para homens e mulheres (e.g., Cohn, 1991; Costa et al, 2001; De Bolle et al., 2015; Feingold, 1994; Schmitt et al, 2008). Todas as culturas têm e enfatizam papéis de género distintos entre homens e mulheres, mas os comportamentos e atitudes específicos considerados apropriados para ambos os sexos podem diferenciar-se (De Bolle et al., 2015). Deste modo, este modelo

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acredita que existem diferenças de sexo entre as diferentes culturas (De Bolle et al., 2015; Hyde, 2014). Estas diferenças ao nível da personalidade serão atenuadas em culturas mais progressivas e igualitárias e serão mais acentuadas em culturas mais tradicionais, com base na crença de que as diferenças de sexo tendem a desaparecer quando homens e mulheres ocupam papéis sociais semelhantes (dado que a sua influência contribui diretamente para todas as diferenças psicológicas entre os sexos) (Schmitt et al., 2008). Este facto tem sido bastante refutado por vários estudos (e.g., Costa et al., 2001; De Bolle et al., 2015; Löckenhoff et al., 2014; Schmitt et al., 2008).

Outro exemplo de um Modelo Sociocultural é o Modelo da Expectativa, que argumenta que fatores sociais e culturais se desenvolvem em estereótipos de género, causando diferenças de sexo na personalidade, porque os detentores de crenças estereotipadas tratam os outros de maneira que os levam a comportar-se de acordo com os preconceitos dos perceptores (Feingold, 1994). Isto processa-se por meio do autoconceito, uma vez que pode mediar expectativas. Se, por exemplo, a assertividade é um traço tipicamente associado aos homens, então as pessoas comportam-se para com eles de maneira a que os levam primeiro a internalizar a assertividade como parte do seu autoconceito e só depois a se comportarem assertivamente, de modo a tornar os seus comportamentos congruentes com a sua autoimagem (Feingold, 1994).

Outro exemplo ainda é a Teoria Cognitiva da Aprendizagem Social, que se fundamenta no princípio de que o comportamento das pessoas é modelado por reforços e punições, e orientado pela imitação de outros no seu ambiente, particularmente se os mesmos são poderosos ou admiráveis (Hyde, 2014). Tecnicamente, aquilo que acontece é que as pessoas internalizam as normas de género e comportam-se consoante as mesmas, mediando-se por componentes cognitivas (como a atenção, a autorregulação e a autoeficácia) (Hyde, 2014).

Um exemplo diferente de uma abordagem sociocultural é o Modelo Artificial, que assume que as diferenças de sexo observadas são causadas pela variância de método e erros de medição, acabando por explicar as diferenças de sexo encontradas em escalas de personalidade em vez de diferenças ao nível dos constructos de personalidade subjacentes (e.g., Costa et al., 2001; Feingold, 1994; Schmitt et al., 2008). A este nível, a literatura fala essencialmente no recurso ao viés da desejabilidade social (Costa et al., 2001; Feingold, 1994; Schmitt et al., 2008), da existência de erros de medição (Schmitt et al, 2008) e da existência de problemas de medida (Del Giudice et al, 2012).

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No entanto, estas explicações não são mutuamente exclusivas e cada uma pode explicar parte dos mecanismos que influenciam o surgimento das diferenças de sexo (Costa et al, 2001; Paris, 2007; Schmitt et al, 2008). Tanto teorias biológicas como teorias socioculturais admitem a existência de causas proximais e distais, e, assim, a existência de influências tanto biológicas, como socioculturais, apenas diferenciando na ênfase que dão a cada uma (Feingold, 1994). Inclusive, vários autores têm tentado integrar ambas as influências e criar explicações biossociais que as integrem e lhes atribuam a mesma importância e o mesmo peso como causas proximais das diferenças de sexo (Feingold, 1994; Schmitt et al., 2008).

1.2. A Saúde Mental e as Diferenças de Sexo

O sexo (e as suas vertentes biológicas diferenciais) pode ser conceptualizado como um determinante estrutural da saúde e da doença mental (Astbury, 2001; WHO, 2002). Isto porque medeia o poder e o controlo que homens e mulheres têm sobre determinados fatores socioeconómicos, o seu acesso a recursos e o seu estatuto, papéis, opções e tratamento na sociedade. Deste modo, o sexo parece ter um poder explicativo grande no que diz respeito à suscetibilidade diferencial e à exposição a diferentes riscos, e, assim, a diferenças ao nível da saúde mental de cada um (Astbury, 2001; WHO, 2002).

Apesar de, aparentemente, não existirem diferenças de sexo na prevalência global em perturbações mentais, tais como a esquizofrenia e a perturbação bipolar, existem diferenças significativas nos padrões e nos sintomas das perturbações (Astbury, 2001; WHO, 2002). Isto acontece essencialmente ao nível da diferenciação das perturbações mentais em perturbações afetivas (internalizantes) e em perturbações comportamentais (externalizantes): As mulheres exibem taxas mais elevadas de perturbações afetivas, enquanto os homens apresentam mais perturbações comportamentais (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotlib, 2004; Hill & Needham, 2013; Paris, 2007; WHO, 2002). Particularizando, as mulheres tendem a exibir taxas mais elevadas de depressão e perturbações de ansiedade (i.e., respondendo aos problemas com um sofrimento interior), enquanto os homens tendem a apresentar maiores taxas de abuso de substâncias e comportamentos antissociais e de risco (i.e., lidando com os problemas através da ação) (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotblin, 2004; Hill & Needham, 2013; Paris, 2007; WHO, 2002), manifestando-se através da raiva e da violência (Wendt & Shafer, 2015).

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De facto, o sexo masculino parece ser um preditor robusto do desenvolvimento de comportamentos antissociais e parece estar fortemente relacionado com o crime (Eme, 2018). Segundo Eme (2018), a diferença entre os sexos na prevalência de três dos comportamentos antissociais mais graves (agressividade física crónica, violência e comportamento antissocial persistente) é tão grande, que estes comportamentos podem ser caracterizados como sendo quase exclusivamente masculinos.

Para além disso, verifica-se que as mulheres tendem a fazer mais tentativas de suicídio, mas as taxas de mortalidade por suicídio são mais altas para os homens (e.g., Astbury, 2001; Paris, 2007; Wendt & Shafer, 2015; WHO, 2002), o que parece fazer sentido dada a probabilidade de associação das tentativas de suicídio com as diferenças de sexo ao nível da depressão, e a utilização de métodos mais fatais e violentos por parte dos homens no ato em si (Paris, 2007).

Estas diferenças de sexo parecem ocorrer desde a infância e persistir ao longo do tempo (Paris, 2007; WHO, 2002), emergindo essencialmente na adolescência (Hyde, 2014), e verificando-se transculturalmente, apesar das diferenças de magnitude em que aparecem em cada cultura (Astbury, 2001).

Hill e Needham (2013) procuram explicar esta diferenciação através da Teoria da Saliência do Self, que se baseia na maneira como raparigas e rapazes posicionam o seu self perante os outros logo desde a adolescência. Deste modo, a teoria diz que as raparigas valorizam os outros em detrimento do self, gerando um excesso de problemas internalizantes (autoconceito negativo e dependência dos outros), enquanto os rapazes sobrevalorizam o self em relação aos outros, levando a um excesso de problemas externalizantes (superioridade e desconexão com os outros) (Hill & Needham, 2013).

A comorbilidade - associada ao aumento da severidade da doença mental e a altos níveis de incapacidade - tem sido considerada como mais elevada nas mulheres (Astbury, 2001; Paris, 2007; WHO, 2002). A depressão e a ansiedade são as perturbações comórbidas mais comuns (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotlib, 2004; Paris, 2007). Neste sentido, as mulheres podem enfrentar maiores incapacidades do que os homens, uma vez que a depressão pode ser tão ou mais incapacitante do que várias outras condições médicas crónicas em termos de funcionamento social, físico, psicológico e cognitivo(WHO, 2002).

De facto, o resultado mais robusto ao nível da saúde mental dita a maior prevalência da depressão nas mulheres, sendo que estas apresentam taxas de depressão duas vezes mais elevadas do que os homens (e.g., Astbury, 2001; Costa et al., 2001;

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Goodwin & Gotlib, 2004; Hyde, 2014; Paris, 2007; WHO, 2002). Para além disto, a depressão também parece ser mais persistente nas mulheres (Astbury, 2001; Paris, 2007), e o sexo feminino parece ser preditor de recaída (Astbury, 2001).

Outras diferenças de sexo em saúde mental relatam que as mulheres apresentam maior prevalência de distúrbios alimentares (Hyde, 2014; WHO, 2002), e que os homens apresentam maiores taxas de perturbação de défice de atenção e hiperatividade (Hyde, 2014). Existem também diferenças de sexo ao nível da perturbação de stress pós-traumático, com as mulheres a sofrerem e a persistirem mais nesta perturbação, devido essencialmente à vivência de violência na sua vida (Astbury, 2001). Relativamente a diferenças de sexo ao nível de perturbações mentais como a esquizofrenia e a perturbação bipolar, apesar de não haver diferenças na sua prevalência, existem diferenças de sexo no período de início da doença, na manifestação dos sintomas e na vivência social com a doença (Astbury, 2001; WHO, 2002).

Em termos de diagnóstico, as mulheres têm maior probabilidade do que os homens de serem diagnosticadas com depressão e apresentam menos probabilidades de serem diagnosticadas como tendo problemas de álcool, ainda que ambos apresentem sintomas idênticos (Astbury, 2001). O sexo feminino é ainda preditor da prescrição de substâncias psicotrópicas (Astbury, 2001). Mas antes disso, os homens são menos propensos a procurar e obter ajuda que as mulheres (e.g., Wendt & Shafer, 2015; WHO, 2002), e quando o fazem, é numa fase posterior ao início dos sintomas ou apenas quando estes se tornam graves (WHO, 2002). Muitas vezes, esta atitude dos homens parece estar associada a crenças e atribuições sobre si mesmos, o seu problema, a atividade do psicólogo e a perceção social da situação (Wendt & Shafer, 2015).

Também aqui, ao nível da saúde mental, parecem haver explicações biológicas, psicológicas e sociais, e uma tentativa de integração entre todas, para explicar os mecanismos e fatores por detrás destas diferenças de sexo, nomeadamente ao nível da depressão, dada a sua robustez na literatura relativa à saúde mental (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotlib, 2004; Hyde, 2014; WHO, 2002).

Hyde (2014), na sua revisão, fala num modelo que tenta aludir aos fatores por detrás das diferenças de sexo na depressão e ao porquê de estas surgirem essencialmente na adolescência: o Modelo ABC. De acordo com este modelo, fatores afetivos, biológicos e cognitivos convergem para criar uma vulnerabilidade global à depressão. É provável que a interação entre os múltiplos fatores contribua para as diferenças de sexo na depressão, gerando diferenças ao nível do stress que cada um vive e que começa na

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adolescência, e ditando a grande vulnerabilidade das raparigas aos efeitos negativos do início da puberdade e a grande objetificação da sua consciência corporal. Em suma, o modelo sustenta que eventos de vida negativos interagem com a vulnerabilidade depressiogénica de cada pessoa, levando a um aumento dos níveis de depressão na adolescência, especialmente nas raparigas (Hyde, 2014).

Na mesma linha, Goodwin e Gotlib (2004) aludem à existência de duas variáveis como contribuintes das diferenças de sexo na depressão: a orientação interpessoal e a ruminação. Níveis elevados destes constructos entre as mulheres parecem estar associados às suas elevadas taxas de depressão (Goodwin & Gotlib, 2004; Hyde, 2014). De facto, os autores falam na existência de um foco na influência de mudanças sociais e hormonais na vida das mulheres, na existência de necessidades de afiliação elevadas na altura da puberdade e numa reatividade depressiogénica, aumentada em eventos de vida interpessoal, como fatores por detrás das diferenças de sexo na depressão (Goodwin & Gotlib, 2004).

A Organização Mundial de Saúde (2002) também reconhece que os fatores genéticos e biológicos desempenham algum papel na maior prevalência de depressão e perturbações de ansiedade entre as mulheres, e um exemplo disso são as mudanças de humor relacionadas com as mudanças hormonais como parte do ciclo menstrual. Mas também reconhece que existe uma interação entre fatores hormonais e psicossociais que pode aumentar o risco do aparecimento dessas mesmas perturbações (e.g., falta de harmonia conjugal e existência de apoio social inadequado e de uma situação financeira fraca estão associados a um aumento do risco de depressão pós-natal; aparecimento de problemas ou condições de saúde reprodutiva, como a infertilidade, a histerectomia ou problemas de continência) (WHO, 2002).

Relativamente à influência de fatores sociais, a literatura parece centralizar os mecanismos causadores da depressão e perturbações de ansiedade na vulnerabilidade das mulheres perante esses mesmos fatores (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotlib, 2004; Hill & Needham, 2013; WHO, 2002). Muitos autores têm hipotetizado que elevadas taxas de pobreza, assédio sexual, abuso infantil, baixo nível de educação, e limitações no poder (de autonomia, controlo e tomada de decisão) e no estatuto social nas mulheres, contribuem para as elevadas taxas de depressão (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotlib, 2004; Hill & Needham, 2013; WHO, 2002).

Existem vínculos entre desigualdade de género, pobreza humana e diferenciais socioeconómicos em todos os países (Astbury, 2001). Os papéis tradicionais de género

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aumentam ainda mais a suscetibilidade das mulheres ao enfatizar a passividade, a submissão e a dependência, e impõem-lhes o dever de assumir o cuidado incessante de outros e do trabalho doméstico, e/ou outras condições de trabalho stressantes (empregos inseguros, ocasionais, não remunerados ou de mais baixo estatuto que o dos homens, sem poder de decisão e autonomia) (Astbury, 2001). Um baixo estatuto social a nível ocupacional associado a um estatuto de mãe solteira, falta de moradia e segurança habitacional, rendimento inadequado, apoio social fraco, menor capital social e experiência de eventos de vida negativos e incontroláveis, forma uma mistura de fatores fortemente preditiva da perturbações mentais comuns, uma vez que trabalham para reduzir o grau de autonomia, controlo e tomada de decisão das mulheres (Astbury, 2001; WHO, 2002).

Para além disso, parecem haver fortes associações entre a violência tipicamente direcionada a cada sexo e a saúde mental (Astbury, 2001; WHO, 2002). A violência física, sexual e psicológica está relacionada a altas taxas de depressão e psicopatologia comórbida, principalmente nas mulheres. A gravidade e a duração da exposição à violência são preditivas da gravidade dos resultados na saúde mental, que se podem manifestar sob diversos tipos de condições (Astbury, 2001; WHO, 2002). Níveis diferenciados de suscetibilidade e exposição ao risco de violência são uma causa particularmente importante de baixa saúde mental, uma vez que colocam limitações rigorosas sobre a capacidade das mulheres de exercer controlo sobre os determinantes da sua saúde mental. Isso enfraquece ainda mais a sua posição social, dado que esses níveis não só operam sobre os determinantes estruturais da saúde, como, ao mesmo tempo, aumentam a vulnerabilidade à depressão e a outras perturbações mentais (Astbury, 2001).

Ainda assim, apesar da violência sexual ser mais associada a pessoas do sexo feminino, também ocorre em pessoas do sexo masculino (por vezes, até acabando por se manifestar de forma mais grave), existindo uma forte associação entre a ocorrência de um abuso sexual infantil e a presença de múltiplos problemas de saúde mental mais tardia (Astbury, 2001; WHO, 2002). De facto, as evidências têm demonstrado que o abuso sexual infantil se apresenta como um preditor significativo de psicopatologia posterior, no geral (Astbury, 2001; WHO, 2002).

Por sua vez, as explicações sociais para os comportamentos e questões de saúde mental nos homens fazem alusão a que, passando por condições precárias semelhantes às das mulheres, também sofreriam, mas por meio de comportamentos e sintomas

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externalizantes (como o abuso de álcool e substâncias, e a violência), uma vez que o seu processo de socialização e papéis de género interiorizados lhes dizem que não devem exprimir as suas emoções (WHO, 2002). De facto, também Hill e Needham (2013) parecem defender uma perspetiva de construções culturais de masculinidade, referindo que os homens apresentam taxas mais elevadas de perturbações comportamentais, pois essas representam demonstrações de masculinidade e poder, que acabam por ser reforçadas pelos seus comportamentos e crenças, criando um ciclo vicioso.

Em suma, segundo uma perspetiva psicossocial, as experiências de autoestima, competência, autonomia, controlo, poder de decisão, rendimento adequado e uma sensação de segurança física, sexual e psicológica, são essenciais para uma boa saúde mental (Astbury, 2001). Neste sentido, é necessário que haja equilíbrio e igualdade nos papéis e obrigações de cada género, uma redução da pobreza, uma atenção renovada na manutenção do capital social, recursos psicossociais e exercício de atividades sociais igualitárias e favoráveis (Astbury, 2001).

1.3. Os Traços de Personalidade, a Saúde Mental e as Diferenças de Sexo

Mais recentemente, a saúde mental tem sido definida tanto pela ausência de sintomas psicopatológicos, como pela presença de sentimentos de bem-estar (Lamers et al., 2012). Os indivíduos que apresentam sintomas psicopatológicos podem experienciar uma baixa saúde mental positiva, mas, ao mesmo tempo, elevados níveis de bem-estar; e nem todas as pessoas que apresentem baixos níveis de bem-estar experienciam sintomas psicopatológicos (Lamers et al., 2012).

A definição de saúde mental positiva é composta pelos conceitos de bem-estar emocional, bem-estar psicológico e bem-estar social, refletindo perspetivas de saúde mental que se concentram na obtenção do prazer e no evitamento da dor (perspetiva hedónica), e no funcionamento ótimo que cada pessoa pode refletir na sociedade (perspetiva eudaimónica) (Lamers et al., 2012).

A literatura tem relatado a existência de associações entre as dimensões da personalidade e diferentes resultados ao nível da saúde mental (Vesely et al, 2013). Do mesmo modo, existem estudos que relatam a existência de diferenças individuais de personalidade na psicopatologia e na saúde mental positiva, tanto ao nível do conhecimento de quais são os traços de personalidade que estão associados a cada uma dessas duas dimensões da saúde mental (Lamers et al., 2012), como ao nível da

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compreensão de como traços específicos de cada sexo conseguem predizer uma gama tão vasta de resultados de saúde mental (Vesely et al., 2013).

Um padrão típico de traços de personalidade associado a perturbações mentais reflete um Neuroticismo elevado, baixa Conscienciosidade, baixa Amabilidade e baixa Extroversão (Lamers et al., 2012). Diferentes traços de personalidade contribuem para o bem-estar emocional, para o bem-estar psicológico e para o bem-estar social (Lamers et al., 2012). De facto, o Neuroticismo é o preditor mais forte e consistente de psicopatologia, onde a variância explicada pelos traços de personalidade é maior do que na saúde mental (e.g., Furnham & Cheng, 1999; Lamers et al., 2012). Por sua vez, a Extroversão e a Amabilidade apresentam-se como os traços que mais contribuem para a saúde mental positiva (Lamers et al., 2012). Para além disso, segundo Lamers et al. (2012), o Neuroticismo é o traço negativo mais importante e significativo do bem-estar emocional (não relacionado com o bem-estar psicológico e social), enquanto a Extroversão está mais forte e significativamente relacionada ao bem-estar psicológico e social (apesar de a literatura referir que este traço se encontra relacionado a níveis mais elevados de bem-estar emocional). Quanto aos outros traços, os resultados têm-se demonstrado algo inconsistentes (Lamers et al., 2012).

De facto, do ponto de vista da felicidade, esta parece relacionar-se negativamente com o Neuroticismo e positivamente com a Extroversão, que, por sua vez, parece relacionar-se com a satisfação e a participação em atividades de lazer/sociais (Furnham & Cheng, 1999) (acabando por fazer sentido de um ponto de vista eudaimónico). Para além disto, parece que a Extroversão predispõe as pessoas a acontecimentos de vida mais favoráveis, que, por sua vez, leva a um maior bem-estar e a um reforço dos níveis de Extroversão. Isto parece fazer das pessoas extrovertidas aquelas que seriam mais felizes independentemente da sua vida social, da sua raça, género ou idade (Furnham & Cheng, 1999).

Assim, ao nível das relações da felicidade com os diferentes traços de personalidade, tem-se verificado que existem relações positivas significativas com a Extroversão e a Conscienciosidade (apesar da Amabilidade e da Abertura à Experiência também apresentarem resultados positivos), e uma relação negativa com o Neuroticismo, indicando que são as pessoas extrovertidas, estáveis e conscienciosas que são as mais felizes (Furnham & Cheng, 1999).

Mas também aqui, no âmbito da saúde mental, existem diferenças culturais (Furnham & Cheng, 1999). Estas evidências têm-se essencialmente verificado em

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países anglo-saxónicos, o que terá levado Furnham e Cheng (1999) a avaliarem as relações entre os traços de personalidade, a felicidade e a saúde mental, transculturalmente. Descobriram que a Extroversão é um preditor consistente de felicidade nas três culturas avaliadas (Grã-Bretanha, Japão e China) e que o Neuroticismo é um preditor ainda mais forte de doença mental. Os participantes britânicos foram aqueles que tiveram as pontuações mais elevadas em felicidade e as mais baixas em doença mental. Para os participantes japoneses, o preditor de felicidade foi a Extroversão, e o Neuroticismo e a Introversão demonstraram ser preditores de morbilidade psiquiátrica minor. Curiosamente, o Neuroticismo não demonstrou ser um preditor negativo de felicidade para a amostra japonesa. Os dados parecem ir no sentido da literatura de que os britânicos são de facto os mais felizes e os japoneses os mais infelizes (Furnham & Cheng, 1999).

Ainda ao nível deste estudo, parece haver a crença que tal consistência de dados só poderá acontecer devido à existência de fatores biológicos, e não culturais, como causas predominantes da felicidade (Furnham & Cheng, 1999).

Relativamente às diferenças de sexo em termos dos traços de personalidade que levam a determinados resultados ao nível da saúde mental, os estudos centram-se em torno da influência do Neuroticismo nesses mesmos resultados (e.g., Costa et al., 2001; Goodwin & Gotlib, 2004; Paris, 2007). O Neuroticismo predispõe os indivíduos a uma ampla gama de perturbações mentais, e as diferenças de sexo ao nível desta dimensão refletem-se na epidemiologia psicopatológica (Costa et al., 2001). As diferenças de sexo no traço do Neuroticismo, onde as mulheres pontuam mais do que os homens, estão associadas a níveis mais elevados de ansiedade e depressão (Costa et al., 2001; Goodwin & Gotlib, 2004), e, assim, à experiência de emoções negativas (Lamers et al., 2012), e de níveis mais baixos de autoestima (Costa et al., 2001). Deste modo, perturbações como ansiedade generalizada, pânico, fobia, depressão major, distúrbio distímico e perturbação de personalidade borderline são frequentemente mais diagnosticados em mulheres (Costa et al., 2001). Contrariamente, níveis mais elevados de Extroversão e Conscienciosidade [ou Extroversão e Amabilidade, segundo Lamers et al. (2012)] têm sido associados a um risco reduzido de depressão e outras perturbações mentais, predizendo alguns resultados ao nível da saúde mental (Goodwin & Gotlib, 2004).

No caso particular da depressão, Goodwin e Gotlib (2004) descobriram que o facto de se ser do sexo feminino, por si só, já estava significativamente associado a uma

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maior probabilidade de depressão major (refletindo uma relação entre sexo e depressão), mas que a dimensão do Neuroticismo ainda funcionava como um moderador das diferenças de sexo ao nível desta perturbação nos adultos. Deste modo, as evidências indicam que um maior nível de Neuroticismo nas mulheres pode ajudar a explicar a elevada prevalência de depressão no sexo feminino (Goodwin & Gotlib, 2004).

Por outro lado, Watson et al. (2015) procuraram perceber como é que o traço de Extroversão estaria relacionado com a psicopatologia, nomeadamente ao nível das suas facetas. Os autores descobriram que as facetas deste traço se associam de maneira diferente com a psicopatologia: As facetas de emoções positivas e sociabilidade são as facetas que, de modo geral, se apresentam como mais adaptativas e associadas a um melhor funcionamento psicológico, em comparação com as facetas de assertividade e procura de entusiasmo (Watson et al., 2015). Por outro lado, as primeiras – onde as mulheres pontuam mais (Löckenhoff et al., 2014) - são as facetas que mais fortemente se encontram relacionadas com perturbações internalizantes, como a depressão e as perturbações de ansiedade (Watson et al., 2015) – cujas taxas de incidência são mais elevadas em mulheres (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotblin, 2004; Hill & Needham, 2013; Paris, 2007; WHO, 2002). Por sua vez, as facetas de assertividade e procura de entusiasmo – onde os homens pontuam mais (Löckenhoff et al., 2014) - encontram-se associadas a perturbações externalizantes, como comportamentos antissociais e abuso de substâncias (Watson et al., 2015) – cujas taxas de incidência são mais elevadas nos homens (e.g., Astbury, 2001; Goodwin & Gotblin, 2004; Hill & Needham, 2013; Paris, 2007; WHO, 2002).

A literatura também tem demonstrado um impacto dos traços de Agência e Comunhão em vários constructos de saúde psicológica (Vesely et al., 2013). Vesely et al. (2013) procuraram explorar as ligações que os traços de Agência e Comunhão possam ter com as perturbações internalizantes, por intermédio da mediação do constructo de inteligência emocional (IE). Como já tinha sido referido, os homens pontuam mais em domínios intrapessoais da dimensão de IE, enquanto as mulheres pontuam mais em domínios interpessoais (Siegling et al., 2012). Estas descobertas indicam que a Agência e a Comunhão subscrevem diferentes conjuntos de traços de personalidade relacionados à emoção (representados pela IE), que podem explicar os efeitos diferenciais dessas dimensões em perturbações internalizantes, dado que a IE afeta o processamento e a regulação do afeto dentro do self e em relação a outras pessoas (Vesely et al., 2013). A Agência tem demonstrado um efeito negativo

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significativo nas perturbações internalizantes, mas a Comunhão tem apresentado resultados inconsistentes. Isto parece indicar que indivíduos com maior Agência (ou traços masculinos) apresentam menores probabilidades de desenvolver e apresentar esse tipo de perturbações. Para além disso, no estudo de Vesely et al. (2013), este efeito foi completamente mediado pela variável de IE, explicando os efeitos protetores da Agência face a perturbações internalizantes. Deste modo, parecem ser os componentes emocionais das características de personalidade tipicamente masculinas que predizem uma melhor internalização do sofrimento individual (Vesely et al., 2013).

Também a Comunhão apresentou um efeito indireto nas perturbações internalizantes mediado por um efeito positivo significativo na variável IE, demonstrando também, assim, efeitos protetores no que diz respeito à internalização dos problemas (Vesely et al., 2013). No entanto, também houve um efeito direto positivo da Comunhão nessas perturbações na presença dessa variável, sugerindo que esta possui efeitos adversos adicionais, aparentemente sem relação com os aspetos emocionais da dimensão, indo de acordo com a inconsistência encontrada na literatura (Vesely et al., 2013). Parece, apesar de tudo, haver neste duplo sentido da Comunhão, a existência de fatores de resiliência nas mulheres, ao que Astbury (2001) também fez alusão, independentemente dos fatores de desvantagem que comprometem a sua saúde mental. É importante reconhecer que a Comunhão pode ter efeitos protetores mais fortes noutras variáveis da saúde mental, nomeadamente aquelas associadas a problemas de externalização (Vesely et al., 2013).

Resumidamente, os aspetos emocionais da Agência (características intrapessoais) e da Comunhão (características interpessoais) parecem explicar os efeitos protetores dessas dimensões face a perturbações internalizantes, com diferenças de sexo inerentes a cada dimensão a explicar as diferenças ao nível da prevalência e tipo de distúrbio que cada indivíduo sofre (Vesely et al., 2013).

Também neste âmbito, vários são os mecanismos propostos para explicar as associações entre traços de personalidade e saúde mental, principalmente em termos do Neuroticismo e da Extroversão em relação aos componentes hedónicos da saúde mental, que incluem perspetivas biológicas e comportamentais (Lamers et al., 2012).

A literatura tem mostrado que o Neuroticismo e a psicopatologia, por um lado, e a Extroversão e a saúde mental positiva, por outro, compartilham bases biológicas comuns (Lamers et al., 2012). Lamers et al. (2012) falam de uma teoria que distingue o Sistema de Inibição Comportamental (SIC – associado à inibição comportamental e ao

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evitamento diante do perigo e do conflito, com uma relação emocional primária com a ansiedade) do Sistema de Abordagem Comportamental (SAC – associado à regulação do comportamento de abordagem positiva, motivando comportamentos que visam alcançar objetivos e obter recompensas emocionais positivas), que são compostos por diversas áreas e circuitos do cérebro que estão ligados tanto à personalidade, como ao bem-estar. Os traços de personalidade do Neuroticismo e da Extroversão refletem diferenças individuais no funcionamento destes sistemas. Os neurotransmissores relacionados com o SIC e o SAC exibem conexões importantes tanto com a personalidade, como com a saúde mental: A serotonina está associada ao Neuroticismo e à psicopatologia, enquanto a dopamina está relacionada à Extroversão e ao afeto positivo (Lamers et al., 2012).

Para além destas vias, a personalidade pode facilitar os eventos de vida e criar condições que promovam a saúde mental através de mecanismos comportamentais (Lamers et al., 2012). No caso do Neuroticismo, as pessoas neuróticas, mais sensíveis a afetos negativos, geralmente experienciam acontecimentos de vida mais negativos, que acabam por ser interpretados de modo mais negativo do que o seriam por pessoas não neuróticas, e os sentimentos negativos tendem a espalhar-se pelas várias áreas da vida – é a chamada cascata neurótica. Por outro lado, as pessoas extrovertidas tendem a experienciar eventos de vida mais positivos e mais emoções positivas em situações sociais, e envolvem-se mais em situações sociais que ajudam a aumentar esse nível emocional (Lamers et al., 2012).

Resumidamente, o que Lamers et al. (2012) dizem é que o Neuroticismo e a Extroversão parecem influenciar os componentes afetivos da psicopatologia e da saúde mental através de mecanismos biológicos e comportamentais diferenciados.

Por sua vez, Goodwin e Gotlib (2004) parecem dar maior importância às influências sociais na explicação das diferenças de sexo, nomeadamente ao nível do Neuroticismo e da depressão. Os autores referem que essas influências ocorrem desde cedo e que levam homens e mulheres a desenvolver diferentes estratégias de coping e a experienciar o mundo de maneiras diferentes, afetando significativamente o risco de depressão, sem intervenção de fatores genéticos (Goodwin & Gotlib, 2004).

Para os traços de Amabilidade, Conscienciosidade e Abertura à Experiência, os mecanismos parecem ser, em grande parte, desconhecidos, mas, apesar disso, foram encontradas relações significativas entre os cinco traços de personalidade e todos os aspetos da doença e da saúde mental (e.g., Lamers et al., 2012).

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2. Objetivos e Hipóteses

O contributo que se procura proporcionar com este estudo está subjacente ao objetivo exploratório do tema e das relações entre três variáveis - Sexo, Traços de Personalidade, Saúde Mental – na população geral portuguesa. Pretende-se, assim, investigar as diferenças de sexo na relação com os Traços de Personalidade e a Saúde Mental, as relações entre Traços de Personalidade e Saúde Mental, e as relações mútuas entre as três variáveis.

Deste modo, tem-se essencialmente por base os estudos de Astbury (2001), Costa et al. (2001), Del Giudice et al. (2012), Goodwin e Gotlib (2004), Guo et al. (1995), Lamers et al. (2012), Lima et al. (2014) e Löckenhoff et al. (2004) na fundamentação e colocação das hipóteses.

Objetivo 1: Identificar os Traços de Personalidade característicos de cada um dos Sexos. H1a: As mulheres apresentam níveis mais elevados de Neuroticismo, Amabilidade e Conscienciosidade do que os homens.

H1b: Não se verificam diferenças entre mulheres e homens relativamente à Extroversão e à Abertura à Experiência.

Objetivo 2: Identificar diferenças de Sexo relativamente à variável da Saúde Mental. H2: As mulheres apresentam um valor total de Saúde Mental (MHI-5) mais baixo do que os homens.

Objetivo 3:Identificar as relações entre a Saúde Mental, os Traços de Personalidade, e os Sexos.

H3a: Em termos da amostra geral, a variável de Saúde Mental relaciona-se inversamente com o Neuroticismo e diretamente com a Extroversão.

H3b: A variável de Saúde Mental apresenta uma relação inversa mais forte com o Neuroticismo nas mulheres do que nos homens.

H3c: A variável de Saúde Mental apresenta uma relação direta mais forte com a Extroversão nos homens do que nas mulheres.

Objetivo 4: Explorar quais os Traços de Personalidade que predizem a Saúde Mental em mulheres e homens.

H4: Os Traços de Personalidade preditores de Saúde Mental são diferentes para mulheres e para homens.

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3. Método

3.1. Participantes

No presente estudo, participaram 330 sujeitos adultos da população geral, todos de nacionalidade portuguesa, e com idades compreendidas entre os 18 e os 83 anos (M = 41.13 anos; DP = 13.63 anos). Ao nível da Escolaridade, 7 participantes afirmaram ter estudos abaixo do 4º ano (2.10%), 5 afirmaram ter o 4º ano (1.50%), 16 afirmaram ter o 6º ano (4.80%), 51 disseram ter o 9º ano de escolaridade (15.50%), 96 participantes afirmaram ter o 12º ano (29.10%), e 155 afirmaram ter uma licenciatura ou um grau mais elevado (47.00%). Relativamente ao Estado Civil, 103 participantes seriam solteiros (31.30%), 194 seriam casados ou viveriam como tal (59.00%), 6 seriam viúvos (1.80%), e 26 estariam divorciados ou separados (7.90%). Em termos da Situação Laboral dos participantes, a amostra é constituída por 258 empregados (78.20%), 25 desempregados (7.60%), 17 reformados (5.10%), 3 donas de casa (.90%), e 27 estudantes (8.20%).

3.1.1. Caracterização sociodemográfica das amostras do sexo feminino e do sexo masculino

A amostra do estudo é constituída por 202 participantes do sexo feminino (61.20%) de nacionalidade portuguesa e idades compreendidas entre os 18 e os 82 anos (M = 40.64 anos; DP = 13.34 anos).

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Quadro 1

Caracterização Sociodemográfica da Amostra do Sexo Feminino

Variáveis n % M DP Me Mo Min Máx Idade Ensino 40.64 13.34 39.50 37.00 18.00 82.00 < 4º ano 3 1.50 4º ano 4 2.00 6º ano 7 3.40 9º ano 34 16.80 12º ano 45 22.30 Licenciatura ou mais 109 54.00 Estado Civil Solteiro 64 31.70 Casado ou a viver como tal 115 56.90 Viúvo 4 2.00 Divorciado ou separado 19 9.40 Situação Laboral Empregado 157 77.70 Desempregado 14 6.90 Reformado 9 4.50 Dona de casa 3 1.50 Estudante 19 9.40

Relativamente à amostra do sexo masculino, esta é constituída por 128 participantes (38.80%) de nacionalidade portuguesa e idades compreendidas entre os 18 e os 83 anos (M = 41.91 anos; DP = 14.10 anos).

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