Os mal-amados:
contributos para a
compreensão das atitudes dos jovens face
aos insectos e à conservação da natureza
Rosalina Gabriel, Ana Moura Arroz,
Isabel R. Amorim, Rita São Marcos & Paulo A. V. Borges
encontro sobre biodiversidade e conservação de
invertebrados em portugal – fcl, 3 a 5 de julho de 2013
PEERS
- Porque é que a perda de biodiversidade é
relativamente pouco valorizada?
- Porque se sente a necessidade de organizar este
encontro sobre biodiversidade e conservação de
invertebrados ?
- Que mensagens estão a ser escutadas pelo público
não especialista acerca do património natural?
- O que podemos aprender ao ouvir as perspectivas
dos cidadãos?
A conservação de invertebrados
reclama...
-
um enquadramento teórico próprio
-
mais conhecimento acerca da biologia das espécies
-
instrumentos eficazes e estratégias específicas
mas também...
-
mudança de concepções
-
mudança de atitudes
-
mudança de comportamentos do público não especialista
que muitas vezes vê a conservação de espécies como
uma barreira ao progresso e ao desenvolvimento
Modelos de comportamento ambiental
Kollmuss e Agyeman, 2002 Burgess et al. 1998 Conhecimento ambiental Comportamento pró-ambiental Atitudes ambientais FACTORES EXTERNOS sistema socio-cultural FACTORES INTERNOSPersonalidade, sistema de valores, etc.
comportamento pró-ambiental Infra-estruturas Factores sociais Factores históricos Factores culturais Factores políticos Situação económica Consciência Ambiental Valores e atitudes Conhecimento Envolvimento emocional BARREIRAS
Modelos de comportamento ambiental
Kollmuss e Agyeman, 2002 Burgess et al. 1998 Conhecimento ambiental Comportamento pró-ambiental Atitudes ambientais FACTORES EXTERNOS sistema socio-cultural FACTORES INTERNOSPersonalidade, sistema de valores, etc.
comportamento pró-ambiental Infra-estruturas Factores sociais Factores históricos Factores culturais Factores políticos Situação económica Consciência Ambiental Valores e atitudes Conhecimento Envolvimento emocional BARREIRAS
Se queremos alterar o
comportamento em prol da
conservação da natureza,
teremos de começar por apreciar
- as perspectivas,
- os conhecimentos,
- as atitudes,
- os valores,
- os padrões comportamentais
já existentes
o que diz a literatura etnoentomológica?
em diferentes contextos culturais e com públicos de
diferentes idades, os insectos são vistos como:
- AVERSIVOS – despertam fobias, antipatia e repugnância
- DANOSOS – transmitem doenças e destroem culturas e
- INÚTEIS – sem préstimo
- PRETERIDOS – relativamente à fauna maior e mais
semelhante ao ser humano
E quais são as perspectivas nos Açores?
1 – Animais como caracóis, formigas e moscasnão são importantes e podiam desaparecer da Terra.
2 – Está certo matar insectos sempre que nos apeteça.
4 – Aqueles animais que não servem para nós comermos não fazem falta no planeta.
5 – É importante haver muitos animais diferentes na Terra.
7 – Os animais que vivem no solo como as minhocas e as lesmas não servem para nada. 8 – Eu respeito todos os animais, qualquer que seja o seu tamanho.
9 – Precisamos de proteger as moscas e as aranhas tal como protegemos os cães e os gatos.
Gabriel, Silva, Borges & Arroz, 2009
Argumentos com
que as crianças
justificam a
importância da
biodiversidade de
invertebrados
N=74 idade média: 9,5 anos 4º ano do 1º CEB Ilha TerceiraE quais são os argumentos que suportam as
perspetivas?
CRITÉRIO
A FAVOR
CONTRA
ECONÓMICO Animais como recursos
Equidade no mercado
Potencial destruidor Ausência de mais valias
ECOLÓGICO Diversidade funcional Resiliência
ÉTICO, MORAL Direito à vida Está certo matar
RECREATIVO,
ESTÉTICO, FRUITIVO
Fazem-nos felizes; são interessantes; divertem-nos
Aborrecem
Matá-los [insectos] é divertido
PRAGMÁTICO __ Pode-se matar porque eu faço
BIOFILIA / BIOFOBIA Gostar deles (animais) Não gostar
AMBIVALÊNCIA Argumentos morais e económicos Argumentos recreativos e ecológicos
Gabriel, Silva, Borges & Arroz, 2009
porque as moscas fazem mal e as aranhas também, até doenças
provocam eles sabem cuidar de si mesmos e
se estivéssemos sempre com eles, acabavam por morrer
quando eu vejo um insecto em cima da mesa,
apetece--me matá-lo
Eu não gosto deles
E quais são as perspectivas nos Açores?
parece existir
uma má-vontade latente para com os insectos
Novo estudo para apreciar qual a importância atribuída
à biodiversidade
- mais recente:
Junho e Outubro de 2012
- mais amplo:
N=1528
- mais representativo:
em todas as ilhas dos Açores
- com jovens:
do
7º ao 12º ano de escolaridade
- forma:
questionário (PAPNA)
Qual é o lugar do “mundo natural” nas
prioridades de conservação?
1. Se tu mandasses
nos Açores quais
eram as 3 coisas que
achavas mais
importante
preservar/proteger
nesta Região?
N=1462 (95,7%) idade média: 14,5 anos 7º ao 12º ano Açores (9 ilhas) Outros 36,4% natureza / biodiversidade 63,6%
Borges et al., 2012; Gabriel et al. in prep.
O PATRIMÓNIO NATURAL ESTÁ
Que aspectos do “mundo natural” são referidos
nas prioridades de conservação?
1. Se tu mandasses
nos Açores quais
eram as 3 coisas que
achavas mais
importante
preservar/proteger
nesta Região?
Borges et al., 2012; Gabriel et al. in prep. Biodiversidade 38% Espaços naturais 55% Natureza 7% N=930 (60,9%) idade média: 14,5 anos 7º ao 12º ano Açores (9 ilhas)
OS SERES VIVOS (NOMEANDO OU NÃO AS
ESPÉCIES) APARECEM EM MAIS DE UM
TERÇO DAS RESPOSTAS
O que encontramos dentro do mundo
natural como prioridades de conservação?
4. Imagina que eras
Noé e tinhas de
escolher plantas e
animais que vivem
nos Açores para levar
na Arca. Quais destes
escolherias?
Borges et al., 2012; Gabriel et al. in prep.
N=1252 (81,9%) idade média: 14,5 anos 7º ao 12º ano Açores (9 ilhas) PLANTAS ENDÉMICAS PLANTAS EXÓTICAS ANIMAIS ENDÉMICOS ANIMAIS EXÓTICOS Cedro-do-
-mato Criptoméria Abelhão (nativo) Grilo
Faia-da-
-terra Hortênsia
Borboleta-
-castanha Lagartixa
Louro-bravo Incenso Morcego
Ouriço-cacheiro
Urze
Roca-de-velha Milhafre Pardal
SELECCIONAR OITO DE 16 SERES VIVOS
Qual é o lugar dos insectos em comparação
com outros seres vivos?
1000 857 831 827 645 607 604 581 567 563 562 479 457 416 405 270 0 200 400 600 800 1000 1200 m ilha fr e hor tênsia par dal b or b ol et a-cas tan h a Az m or ceg o ouriç o -c ac h eir o u rz e grilo ced ro -do -m at o lag artix a cript omé ria ab elh ão faia -da -t err a lo u ro -b ra vo inc en so roc a-de -v elh a
11 5 7 6 5 8 11 13 4 5 4 9 11 0 0 3 6 9 12 15 a) É inof en siv o. b ) É rar o. c) R ep resen ta os Aç or es. d ) Exis te.. . h á m ais t em p o. e) É n ec essár io n a cad eia alime n tar . f) Desem p en h a u m p ap el im p or tan te n a N atu re za. g) É b onit o. h ) Mer ec e v iv er . i) S ó e xis te aqui nos A ço res. j) Exis te em t odo o lad o. k) É ú til p ar a as p esso as. l) Go st o d ele . m ) C onh eç o -o. n ) O u tr a raz ão
Porque são as espécies seleccionadas?
Borges et al., 2012; Gabriel et al. in prep.
%
ARGUMENTOS BIOLÓGICOS (RARIDADE, ENDEMISMO, CADEIA ALIMENTAR)
SÃO POUCO MOBILIZADOS
Borges et al., 2012; Gabriel et al. in prep.
SER “INOFENSIVO” E “BONITO” E “CONHECIDO” É IMPORTANTE PARA
CONSERVAR OS INSECTOS. TODOS OS SERES VIVOS “MERECEM VIVER”.
Há argumentos próprios para conservar
insectos?
Há algum animal ou planta que de certeza
nunca incluirias nesta “Arca”?
...todos desempenham um
papel importante e temos de
preservá-los e protegê-los.
Não, todos são bem vindos.
Todos os animais e plantas
têm o direito à vida.
...gosto de todas as espécies.
...todos merecem uma
oportunidade de vida.
Há 67% Não há 10% ns 1% nr 22%10% DOS JOVENS NÃO
CONCEBEM A POSSIBILIDADE DE
EXCLUIR SERES VIVOS DA “ARCA”
Criptogâmica 0% Fanerogâmica 24% Fungo 0% Invertebrado 33% Vertebrado 43%
Há algum animal ou planta que de certeza
nunca incluirias nesta Arca? Qual seria?
125 ESPÉCIES FORAM MENCIONADAS COMO INDESEJÁVEIS. DESSAS 26 SÃO INVERTEBRADOS.
Porque não... artrópodes?
ESTES ARTRÓPODES DESPERTM SOBRETUDO SENTIMENTOS AVERSIVOS (medo, nojo, irritação)
OS INSECTOS SÃO EM GERAL MENOSPREZADOS COMPARATIVAMENTE A OUTROS SERES VIVOS, SOBRETUDO ANIMAIS.
Como é que estes resultados nos elucidam
sobre o que fazer?
O que fazer?
Argumentos a usar
VALORES ÉTICOS
-
Merece viver!
CONHECIMENTO
(SABER MAIS + RELACIONAR-SE)
-
Endemismo, antiguidade,
papel na cadeia alimentar
não parecem ser muito
valorizados
Argumentos a desconstruir
PREOCUPAÇÃO
Melhorar as percepções das
pessoas com espécies
ameaçadas de artrópodes
implicará tornar saliente
- funções nos ecossistemas
- diferentes formas de
utilidade para o homem
- mal-amados
- separar o trigo do joio em
termos de perigosidade
Envolvimento do público
PERSUASÃO MEDIAÇÃO
Envolvimento pelo público
INTERVENÇÃO COMPROMETIDA Té cn ic as e e str at é gias PAPNA CHAMA-LHE NOMES! AHMA
espectro dos dispositivos de comunicação da
ciência mobilizados neste projecto
Hind, 2010 PORTAL da
Biodiversidade
consultar
informar envolver colaborar empoderar
Fin
alid
Referências bibliográficas
Cass, N. (2006). Participatory-deliberative engagement: A literature review. Working paper 1.2. of the research project “Beyond Nimbyism: a multidisciplinary investigation of public engagement with renewable energy technologies”. Manchester, UK: School of Environment and Development. Extraído a 01.07.2013 de
http://geography.exeter.ac.uk/beyond_nimbyism/deliverables/bn_wp1_2.pdf. Borges, P. A. V. et al. (2012). O que é que as ilhas da Macaronésia nos podem ensinar sobre
especiação? Estudo de Tarphius (Coleoptera) e Hipparchia (Lepidoptera) de vários arquipélagos da Macaronésia. Relatório final do projecto FCT - PTDC/BIA-BEC-104571/2008.
Gabriel, R., Silva, A. C., Borges, P. A. V. & Arroz, A. M. (2009). Conservação da biodiversidade:
atitudes das crianças acerca dos invertebrados no âmbito de um projecto do 1º Ciclo de Ensino Básico. 10º Congresso em Psicologia Ambiental , Fundação Calouste
Gulbenkian, Lisboa, 28 a 30 de Janeiro.
Hind, E. (2010). Deliberative Engagement – A Literature Synthesis. Evolving Ways. Extrído a 01.07.2013 de
http://www.water.vic.gov.au/__data/assets/pdf_file/0014/74111/DeliberativeEngage mentLiteratureReview.pdf
Rowe, G. & Frewer, L. J. (2005) A typology of public engagement mechanisms. Science,
Comportamento pró-ambiental
FACTORES EXTERNOS Infra-estruturas Factores sociais Factores políticos Factores culturais Situação económica, etc.FACTORES INTERNOS
Personalidade, sistema de valores, etc.
Consciência Ambiental COMPORTAMENTO PRÓ-AMBIENTAL Padrões de comportamento anterior (hábitos) Poucas possibilidades e incentivos externos Feedback negativo ou insuficiente sobre o comportamento Falta de incentivos internos Falta de consciência ambiental Valores e atitudes Bloqueio emocional de atitudes ambi- entais Conhecimento Envolvimento emocional Valores existentes impedem conhecimento Conhecimento existente contradiz valores amb. BARREIRAS Envolvimento bloqueia novo conhe- cimento Falta de conhecimento impede envol- vimento Valores existentes impedem envolvimento (Kollmuss e Agyeman, 2002) Burgess et al. 1998 Conhecimento ambiental Comportament o pró-ambiental Atitudes ambientais
Metodologias
Activas
- dão à pessoa a possibilidade de expressar a sua posição
Não avaliativas
- o que interessa é a posição do sujeito e o tipo de
argumentos que usa
racionalidades de envolvimento do público
NORMATIVO SUBSTANTIVO INSTRUMENTAL
PROPÓSITO - Fim - Meio - Estratégia
IDEIA CHAVE - Democracia é um valor a perseguir
- A multiplicidade de pontos de vista é um meio para garantir qualidade
- Conseguir uma melhor posição no “jogo social”
BENEFÍCIOS - Aumentar o empowerment e a participação - Produzir políticas e práticas melhores e mais informadas - Fomentar a confiança para conquistar audibilidade e legitimar posições PONTOS CRÍTICOS - Democracia e instrumentalização - Representação e representatividade - Custo / Benefício - Acreditar numa vontade comum a ser descoberta - Defesa automática do consenso - Ética duvidosa do comportamento estratégico - Retórica - Manipulação Cass, 2006
racionalidades de envolvimento do público
NORMATIVO SUBSTANTIVO INSTRUMENTAL
PROPÓSITO - Fim - Meio - Estratégia
IDEIA CHAVE - Democracia é um valor a perseguir
- A multiplicidade de pontos de vista é um meio para garantir qualidade
- Conseguir uma melhor posição no “jogo social”
BENEFÍCIOS - Aumentar o empowerment e a participação - Produzir políticas e práticas melhores e mais informadas - Fomentar a confiança para conquistar audibilidade e legitimar posições PONTOS CRÍTICOS - Democracia e instrumentalização - Representação e representatividade - Custo / Benefício - Acreditar numa vontade comum a ser descoberta - Defesa automática do consenso - Ética duvidosa do comportamento estratégico - Retórica - Manipulação Cass, 2006
Perspectivas sobre a importância da
biodiversidade
Critério
A favor
Contra
Económico Animais como recursosEquidade no mercado
Potencial destruidor Ausência de mais valias
Ecológico Diversidade funcional Resiliência dos ecossistemas
Ético, Moral Direito à vida Está certo matar
Recreativo,
Estético, Fruitivo
Fazem-nos felizes; são
interessantes; divertem-nos
Aborrecem
Matá-los [insectos] é divertido
Pragmático __ Pode-se matar porque eu faço
Biofilia Gostar deles (animais) __
Biofobia __ Não gostar
Ambivalência Argumentos morais e económicos
Argumentos recreativos e ecológicos
N=74, (idade média: 9,5 anos) 2003, Ilha Terceira
E quais são as perspectivas nos Açores?
6,9 23,9 27,9 9,2 2,3 5 5,4 6,7 5 6 0,4 0,2 0 10 20 30 40 E c o n ó m ic o s E c o ló g ic o s M o ra is d e F ru iç ã o d e B io fi li a P ra g m á ti c o s A m b iv a lê n c ia n s / n r favor contra%
Gabriel, Silva, Borges & Arroz, 2009
Argumentos com
que as crianças
justificam a
importância da
biodiversidade de
invertebrados
Qual é o lugar dos insectos em comparação
com outros seres vivos?
Dados da pergunta 4a do PAPNA (Noé –
espécies que os jovens salvavam)
N=1252, (idade média: 14,5 anos) 2012, Açores