• Nenhum resultado encontrado

Relações historicas entre igreja e estado : a formação do pensamento educacional catarinense

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Relações historicas entre igreja e estado : a formação do pensamento educacional catarinense"

Copied!
221
0
0

Texto

(1)

M E L A Ç Õ E S H I S T Ó R I C A S E M T R E I G R E J A E E S T A D O

N i l t o n João R amos

(2)
(3)

I N T R O D U Ç Ã O ... .... ... ... ... ... . 05 C A P Í T U L O I - T E M A E P R E M I S S A S B Á S I C A S D A P E S Q U I S A 1 - T e m a e sua p e r i o d i z a ç ã o ... 11 1.1 - A r e n o v a ç ã o d a I g r e j a ... 12 1.2 - 0 p r o c e s s o i m i g r a t o r i o e a i n d u s t r i a l i z a ç a o .... 13 1.3 - Inic i o d a e f e t i v a o r g a n i z a ç a o d a i n s t r u ç ã o publi_ ca c a t a r i n e n s e ... ... ... 15 2 - P r e m i s s a s b á s i c a s da P e s q u i s a ... . 19 2.1 - T e m p o Soc i a l ... ... ... ... 19 2.2 - M e n t a l i d a d e ... ... ... . .. . 22 2.2.1 - C o n s i d e r a ç õ e s p r e l i m i n a r e s ... 22 2 .2.2 - M e n t a l i d a d e , p r o j e t o i d e o l o g i c o e utopico, 26 2.3 - " P a dr o a do " e " R eg a l i s m o " ... 30 2.3.1 - M e n t a l i d a d e r e g a l i s t a n a v e r s ã o i d e o l o g i c a da I g r e j a C a t ó l i c a ... ... 36 2 . 3 . 2 - M é n t a l i d a d e " R e g a l i s t a " n a v e r s ã o do Imperi ' o . . . ... ... 39 2.3.3 - M i n o r i a s P r o t e s t a n t e s e a m e n t a l i d a d e " R e ­ galista" . . . ... ^3 2.4 - S e c u l a r i z a ç a o da Soc i e d a d e e da E d u c a ç a o ... 47 2.4.1 - S e c u l a r i z a ç a o da E d u c a ç a o ... 53 2.5 A I l u s t r a ç ã o brasileira: T r a n s i ç ã o p a r a a R e p u -* 5 4 b l i c a c a f e z i s t a ...

(4)

t o l i c i s m o U l t r a m o n t a n o " ... ... 1.1 - Ç^atolicismo T r a d i c i o n a l ... . 66 1.1.1 - U n a n i m i d a d e R e l i g i o s a ... 70 1 .1.2 - 0 f o r m a l i s m o da r e l i g i ã o oficial ... 72 1.1.3 - A a m b i g ü i d a d e da r e l i g i ã o p o p u l a r ... 74 1.1.4 - 0 "Fato B a r r o c o " ... ... ... . ... 77 1 .1.5 - A m o r al n a d e v o ç ã o r e l i g i o s a ... 78 1 . 2 - 0 C a t o l i c i s m o " I l u m i n i s t a " ... 83 1 . 3 - 0 C a t o l i c i s m o " U l t r a m o n t a n o " ... ... 90 1.:3 .1 - A s C o n g r e g a ç õ e s ... ... 93 1 . 3 .2 - C o n s t r u ç ã o do s i s t e m a de r e s t a u r a ç ã o ... 95 1 .3.3 - A d e v o ç ã o i t a l i a n a ... . ... 96 2 - C a t o l i c i s m o em S a n t a C a t a r i n a ...101 2.1 - O c u p a ç ã o da t e r r a c a t a r i n e n s e ... ... .107 2.2 - E s t r a t é g i a s do c a t o l i c i s m o c a t a r i n e n s e e a r e l i ­ g i o s i d a d e p o p u l a r ... ... ... ... 109 2.2.1 - 0 c a t o l i c i s m o t r a d i c i o n a l ... . 113 2.2.2 - A r e l i g i ã o dos i m i g r a n t e s i t a l i a n o s e a l e ­ m ã e s ... . . . ... ... ...123 2.2.3 - 0 c a t o l i c i s m o "iluminista" em S a n t a Catari. n a ... .. . . ... ... ... 130 C A P Í T U L O III - A F O R M A Ç Ã O DO P E N S A M E N T O E D U C A C I O N A L C A T A R I N E N S E C o n s i d e r a ç õ e s P r e l i m i n a r e s ... 135 1 - U m b r^ v e h i s t ó r i c o da e d u c a ç ã o no B r as i l . . . 1 3 7 1.1 - Fase J e s u í t l c a ... ... 137 1.2 - T e n t a t i v a s r e f o r m i s t a s de P o m b a l ... ... 1^2 1.3 - A r e c o n s t r u ç ã o (1808 - 1834) ... ... iy ~ ' 1 4.7 2 - S i t u a ç a o da E s c o l a S e c u n d a r i a no 2- I m p ér i o ...

(5)

2.3.1 - E s c o l a S e c u n d á r i a e a f o r m a ç ã o do m a g i s t é ­ rio em S a n t a C a t a r i n a ... . ... 1^3 3 - A i n s t r u ç ã o p r i m a r i a e m S a n t a C a t a r i n a . . . . ... 163 3.1 - I n í c io d a O r g a n i z a ç ã o do e ns i n o p r i m á r i o em S a n ­ ta C a t a r i n a . . ... ... . 3.2 - A o r g a n i z a ç ã o da i n s t r u ç ã o p u b l i c a ... 165 3.3 - L i b e r d a d e e o b r i g a t o r i e d a d e do ensi no ... . . . . 1 6 7 3.4 - C l a s s i f i c a ç ã o das e s c o l a s ... I 7® 3.5 - A i n s p e ç ã o e s c o l a r ... . ... 17 8 3.5.1 r- P r i m ó r d i o s d a i n s p e ç ã o e s c o l a r ... 1 7 8 3 .5. 2 - A e s t r u t u r a ç ã o da i n s p e ç ã o e s c o l a r ... . .1 82 3 . 5 .3 - O r g a n o g r a m a da i n s t r u ç ã o p u b l i c a c a t a r i n e n se em 1854 . . . ... ... 183 3 . 5 . 4 - O r g a n o g r a m a da i n s t r u ç ã o p u b l i c a c a t a r i n e n se em 1869 ... ... ... ’... . . . . I87 3 .5.5 - A e x t i n ç ã o d a i n s p e ç ã o e s c o l a r ... . . 1 9 0 3 .5.6 - R e e s t r u t u r a ç ã o d e f i n i t i v a da i n s p e ç ã o esco lar em S a n t a C a t a r i n a ... ...191 3.5.7 - O r g a n o g r a m a da i n s t r u ç ã o p u b l i c a c a t a r i n e n se em 1879 ... ... ...192 3 .5.8 - A i n s p e ç ã o e s c o l a r no final do I m p é ri o ...194 3 .5.9 - A i n s p e ç ã o e s c o l a r no inic io da R e p u b l i c a . 200 R E F L E X Õ E S F I N A I S ... ... ...204 R E F E R Ê N C I A S B I B L I O G R Á F I C A S 206

(6)

E s te e s t u d o o b j e t i v a e x p l i c i t a r o r e l a c i o n a m e n to e os c o m p r o m e t i m e n t o s d a p r a t i c a e d u c a t i v a qu e r publica, qu er pa r t i c u l a r , com as v i s õ e s de h o m e m e de m u n d o d o m i n a n t e s ✓ ✓ n a s o c i e d a d e c a t a r i n e n s e que l e g i t i m a m e s t a p r a t i c a no p e r i o - do 1850-1910. A o se d e l i m i t a r o â m b it o d a p r o b l e m á t i c a d e s t a pesqu isa , b i b l i o g r a f i c o - d o c u m e n t a l , as r e l a ç õ e s h i s t ó r i c a s en tre I g r e j a e Estado, no p e r i o d o citado, se q ue r e s t u d a r a p o s t u r a do E s t a d o e da I g r e j a frent e ao f e n o m e n o d a m o d e r n i z a ção, isto é, da s e c u l a r i z a ç ã o do p o d e r civil e da e d u c a ç ã o en q u a n t o e x p r e s s õ e s c u l t u r a i s dos g r u po s d o m i n a n t e s ;.essas r e l a ­ ções h i s t ó r i c a s são a n a l i s a d a s ao n iv el do d i s c u r s o ,como p r o ­ p õ e m e c o n c r e t i z a m a p r a t i c a p e d a g o g i c o - e d u c a c i o n a l c a t a r i n e n s e .

A d m i t e - s e co mo q u e s t ã o n o r t e a d o r a d e s t a p e s q u i ­ sa que a a u s ê n c i a de u m a t e o r i a e / o u u m a f i l o s o f i a e d u c a c i o - nal n u c l e a d o r a q u er no e n sino publico, q u e r no p a r t i c u l a r , p o s si bi l i t e a c o m p r e e n s ã o dos d i s c u r s o s d i v e r g ent e s. E s t e s d i s ­ c u r s o s expres s a m, m e s m o i n c o n s c i e n t e m e n t e , r e p r e s e n t a ç õ e s cul tu ra i s dif e rentes.

(7)

"Igre-j a / C r i s t a n d a d e " de o r i g e m m e d i e v a l e n a de " S oc i e d a d e -Perfei^ ta" (de o r i g e m tridentina, ou seja, do C o n c i l i o de Trento, no séc u l o XVI), r e n o v a d a no século X I X p e l o m o v i m e n t o u l t r a - mo ntano, com o o Estado, b a s e a d o nas idei a s " i l u s m i n i s t a s " ,da R e v o l u ç ã o F r a n c e s a e m e r g e n t e s no d i s c u r s o n a c i o n a l no final do s é c u l o XIX, a c r e d i t a m n a f o r ç a m o r a l da e d u c a ç ã o p e l a ins trução, como u m c a m i n h o l eg i t i m o p a r a m e l h o r a r os homens, d a n d o - l h e s i n c l u s i v e u m d e s t i n o moral.

0 e m b a t e das luzes da fe e d a razao se ma n i - f e s t a no c o n f r o n t o das idéi a s entre a I g r e j a e o E s t a d o face à educação, nã o se r e d u z i n d o às e s t r u t u r a s s o c i a i s (conce it o de ide o logia), ma s como h i s t ó r i a das m e n t a l i d a d e s , que se c o n s t i t u i em rico fio c o n d u t o r de análises, e que, a p r e s e n t a

rs* /

u m a e x p r e s s ã o c o n c e i t u a i m a i s a b r a n g e n t e - e o c o n c e i t o de h i s t o r i a das m e n t a l i d a d e s ( V O V E L L E , . 1987 :14-18)..

De um lado, o E s t a d o imperiial br a s i l e i r o , com o m o v i m e n t o i l u mi nista, a l i m e n t a a c o nfiança, e m e s m o a c e r ­ t e z a m o r a l n a , f u n ç ã o d a e d u c a ç ã o p e l a instrução, como f o r m a de s u p e r a r o a t r a so c u l t u r a l do país, a b r i n d o c a m i n h o s p a r a o p r o g r e s s o geral, c u l t u r a l e m o r a l d a soc i e d a d e n a c i o n a l . E s

r+* * *

pe r a - s e que a i n s t r u ç ã o publica, a p e r f e i ç o a d a p e l a s idei as i l u m i n i s t a s c o n s i g a r e f o r m a r a soci e d a d e e i n t e g r á - l a no c o n ­ t e x to das n a ç õ e s c i v i l i z a d a s ao n í v e l do seculo. P r o c u r a -se

f a z er d a e s c o l a s p u b l i c a "focos de luz" p a r a t r a n s f o r m a r a s o c i e d a d e .

P o r o u t r o l a d o , . a I g r e j a C atólica, n a b a t a l h a e ntre o p r o f a n o e sagrado, entre o dado r e v e l a d o e o m u n d o 1 s e c u l a r i z a d o ou em v i a s de s e c u l a r i z a ç ã o em n o s s o meio, i n i ­ c i a u m a r e v i s ã o p r o f u n d a de s ua a u t o - c o n s c i ê n c i a c om o Igre - ja. A n o v a e c l e s i o l o g i a a p r e s e n t a v a r i e d a d e de tons: b u s c a n ­ do a l i b e r t a ç ã o de um p a s s a d o e m b a s a d o n a v i s ã o m e d i e v a l de " I gr ej a / Cri s ta n d a de " ( r el ig iã o e s oc i e d a d e i nte g radas) e de

(8)

I g r e j a " S o c i e d a d e / P e r f e i t a " , que se c a r a c t e r i z a p o r duas d i ­ m en sões, u m a que a a u t o r i z a a c o n d e n a r os c h a m a d o s "erros m od e r n o s " , é i a outra, p o s s i b i l i t a s u a r e n o v a ç ã o i n t e r n a ini- c i a n d o o m o v i m e n t o " u l t r a m o n t a n o " (r o m a n i z a ç ã o da Igreja).

A a t i t ud e " de f e n s i v a " d a I g r e j a face aos "er ros m o d ern o s" , e ntre os q u a i s a s e c u l a r i z a ç ã o e c o n s i d e r a d a u m dos m a i s e x p r e s s iv o s , n ã o.é u m a p o s t u r a unívoca. A s s i m , e s sa l i n h a de p e n s a m e n t o (que r e v e l a p r e o c u p a ç o e s co m o f u t u ­ ro) c o n f r o n t a - s e c om o u t r a c o r r e n t e de p e n s a m e n t o g e r a d a no seio da p r ó p r i a I g r e j a e que c o n s i s t e em t e n t a r se l i b e r t a r de um p a s s a d o a fi n a d o c o m a v i s ã o c o n s e r v a d o r a da I g r e j a m e ­ dieval. A s s i m h á duas m a n e i r a s a n t a g ô n i c a s de p e n s a r " I g r e j a " que se co n fronta, uma, a de " I g r e j a / C r i s t a n d a d e " (de o r i g e m m e d i e v a l ) , e a o u t r a " S oc i e d a d e P e r f e i t a " (de o r i g e m tri de n - tina, ou seja, do C o n c i l i o de Trento) (1545-1563); e s t a v i ­ são t r i d e n t i n a de I g r e j a e renovada, no s e cu lo XIX, p e l o m o ­ v i m e n t o u l t r a m o n t a n o .

E s t e e s t u d o r e l a c i ona- s e, port an to , c o m a his t ó r i a das m e n t a l i d a d e s , u m a v e r t e n t e d a h i s t o r i o g r a f i a c o m - t e m p o r â n e a que p r i v i l e g i a o que p e rm ane c e, o que p e r s i s t e , a o inves de se d e d i c a r ao c o n h e c i m e n t o h i s t o r i c o do que p a s s a , do que muda, da a r t i c u l a ç ã o da s u c e s s ã o c r o n o l ó g i c a e v o l u t i ­ va.

T a n t o a v i s ã o da " I g r e j a r e no v a d a " c omo o m o ­ v i m e n t o da " i l u s t r a ç ã o b r a s i l e i r a " que e m e r g e m n a s e g u n d a me tade do s é c u l o XIX, no Brasil, e s tã o c o n s t i t u i d o s p o r u n i v e r so m e n t a l a u t o n o m o entre si, ma s ao m e s m o t e m p o , a m b o s f orm u lados em o u t r o t e m p o d a h is t ó r i a . São duas v i s õ e s d i f e r e n t e s de mundo, são duas m e n t a l i d a d e s que tentam, c a d a u m a a seu modo, o r d e n a r nã o só os acontecimentos,futuros,mas t a m b e m os p a s s a d o s .

(9)

tres m o m e n t o s m u t u a m e n t e c o m p l e m e n t a r e s . N u m a p r i m e i r a a b o r ­ dagem, p r e m i s s a s b a s i c a s da pesquisa, p r o c u r a - s e j u s t i f i c a r o t e m a e su a p e r i o d i z a ç ã o , c o n t e x t u a l i z a n d o a n o ç a o de secu l a r i z a ç ã o d a s o c i e da d e e d a e d u c a ç ã o como a do c o n c e i t o de " P ad roa do" e de " R e g a li s mo" n a v i s ã o s i m b i ó t i c a da constitui^ ção i m p e r i a l b r a s i l e i r a , u n i n d o o trono ao a l t a r n u m a con t r a d i ç a o fu n da m e n ta l .

Ja, n u m s e g u n d o m om ento, se c a r a c t e r i z a m as a u t o - c o m p r e e n s õ e s da I g r e j a no e s f o r ç o de t r a n s i ç a o do c a t o ­ li ci smo " t r a d i c i o n a l " ao c a t o l i c i s m o " u l tr am on ta no ", t e nt a n do m o s t r a r como e l a e s t r u t u r a su a m e n t a l i d a d e frente ao feno m e n o da s e c u l a r i z a ç ã o da s o c i e d a d e civil e da " i l u s t r a ç ã o ' b r a s i l e i r a " e, d e s t a forma, se a f i r m a n d o a t r a v é s da e d u c a ç ã o p e l a i n s t r u ç ã o p u b l i c a c a t a r inense.

N u m a t e r c e i r a etapa, "A f o r m a ç ã o do p e n s a m e n ­ to e d u a c i o n a l c a t a r i n e n s e " , d e s c r e v e o d i s c u r s o o f i c ia l i n i ­ cial, a p a r t i r dos p r i m o r d i o s d a i n s t r u ç ã o c a t a r i n e n s e tanto n a sua e s t r u t u r a ç ã o legal co mo n a sua s e c u l a r i z a ç ã o p r o g r e s ­ siva.

N e s t a t e r c e i r a etapa, o d i s c u r s o do p o d e r p u ­ b l i c o c a t a r i n e n s e foi, i d e n t i f i c a d o na s leis e d u c a c i o n a i s . n a s "fallas", e n os " r e l a to rios" dos p r e s i d e n t e s da P r o v i n c i a de S a n t a C a t a r i n a no p e r i o d o citado.

E s t a s três fo nt e s d o c u m e n t a i s s e r v e m de base p a r a a r e c o n s t i t u i ç ã o f a ct u a l do id eá r i o no d i s c u r s o oficial. A r e c o n s t i t u i ç ã o dos d a dos e mpíricos, a p a r - tir das fon t e s d o c u m e n t ai s, p e r m i t e d e s c o b r i r a l g u m a s proprjl e d a d e s e s s e n c i a i s e / o u " r e g u l a r i d a d e s " , isto e, caracterist_i cas c o m u n s do p r o j e t o - p o l i t i c o - e d u c a c i o n a l c a t a r i n e n s e , que, aos poucos, f o r j a r a m as b a s e s e d u c a c i o n a i s da i n s t r u ç ã o pu - b l i c a c at a r i n e n s e . Os dois e l e m e n t o s c o n s t i t u t i v o s deste pro c e s s o e st ã o e n g e d r a d o s p o r duas m e n t a l i d a d e s c uja s as v e r t e n

(10)

tes h i s t ó r i c a s são d i f e r e n t e s ou até c o n t r a d i t ó r i a s . Uma, re p r e s e n t a d a p e l o d i s c u r s o da fe r e v e l a d a a l i c e r ç a d a f o r t e m e n ­

te, n a t r a d i ç a o l u s o - b r a s i l e i r a do " Padroado" e do " R eg a l i s - m o " , a s s u m i d a p e l a C o n s t i t u i ç ã o Imperial.

A outra, e c lode co m o m o v i m e n t o da " i l u s t r a - ção br.asileira"no f i n a l do i m p é r i o com a c r e n ç a de ■ que u m p a í s é o que é a sua e d u c a ç ã o o faz ser, como r e v e l a o teste m u n h o e l o q ü e n t e de S i l v i o Romero, q u a n d o a f i r m a que "n o sso s erros hã o n a s c e m t a n to de n o s s a maldade, como de n o s s a igno rância. A s leis m o r a i s não são os o p e r á r i o s do p r o g e s s s o ;e s ­ te p r i v i l e g i o pertence, quase e x c l u s i v a m e n t e as ideias'.'(in Ro que S. M. B A R R O S , 1959:23). É o d i s c u r s o d a luz d a r azão ten t and o s u b s t i t u i r o da fe.

A i n t e r p r e t a ç ã o dos d ad o s " e m p l r i c o s " b u s c a i- dent.if.icar as r e l a ç õ e s e as c o n e x õ e s que se i n f e r e m das "re ­ g u l a r Tclades" o b s e r v a d a s v i s a n d o a c o m p r e e n s ã o do f e n ô m e n o so ciai e studado. P o r este p r o c e d i m e n t o pr oc u r a - s e , n u m a sinte- se c o m p r e e n s i v a do t e m a estudado, e n c a m i n h a r a l g u m a s r e f l e ­ x õ e s c on c l u s i v a s , m o s t r a n d o , ao final do p r o c e s s o de pe s - q u i s a a p r e d o m i n â n c i a h e g e m ô n i c a da i n s t r u ç ã o p u b l i c a catar_i n e n s e s e c u l a r i z a d a .

(11)
(12)

A n a t u r e z a d este e s t u d o h i s t o r i o g r a f i c o v o l t a se p a r a a l ó g i c a das idéias p r e d o m i n a n t e s n a s e g u n d a m e t a d e do s é c u l o X I X e i n i c io do s e c u l o X X e n v o l v e n d o as r e l a ç õ e s entre o E s t a d o I m p e r i a l e a I g r e j a C a t ó l i c a no Br as i l e, e s ­ p e c i a l m e n t e , n a p r o v i n c i a de S a n t a C a t a r i n a , f r e n t e à educação. 0 T r a t a m e n t o dado ao t e m a o b j e t i v a e x p l i c i t a r os r e l a c i o n a m e n t o s e os comprom e t i m e n t o s , n a p r a t i c a educat_i v a » c o m as i d e o l o g i a s d o m i n a n t e s n a so c i e d a d e c a t a r i n e n s e o n ­ de e s t a p r a t i c a se efetua. A i n t e n ç ã o f u n d a m e n t a l e a r e c o n s t r u ç ã o das r e l a ç õ e s h i s t ó r i c a s en tre o E s t a d o e a I g r e j a n a f o r m a ç ã o do p e n s a m e n t o e d u c a c i o n a l catarinense, no p e r i o d o 1850-1910. É mister, p o r cons e g u i n t e , j u s t i f i c a r a p e r i o d i z a ç ã o cujos m a r c o s c r o n o l o g i c o s são p o u c o c o m u n s e p ouc o t r a d i c i o n a i s em ter mo s da h i s t o r i o g r a f i a c a t a r i n e n s e . E m b o r a e s t e s m a r c o s c r o n o l o g i c o s n ã o p r o i b a m u m a v i s ã o : h i s t ó r i c a m a i s ampla, t e n t a r - s e - a m o s t r a r n e s t a p e s q u i s a com o são s i g ­ n i f i c a t i v o s .

A p e r i o d i z a ç ã o tem sua razão de ser, prime ir o, v o l t a d a a i m p o r t â n c i a m e t o d o l o g i c a . E s t a p o s t u r a metodologi_ ca de p e r i o d i z a r s i g n i f i c a "... o e s t a b e l e c i m e n t o de r u p t u - ras, de d e s c o n t i n u i d a d e s , o r o m p i m e n t o co m a linearid a de; os a c o n t e c i m e n t o s são r e t i r a d o s do t r a ç a d o h o r i z o n t a l e i n f o r ­

mados por significados mais amplos" (in ARAÚJO, 1986:15).

(13)

A p e s a r das d i v e r g ê n c i a s a c a d ê m i c a s em torno da p e r i o d i z a ç ã o - do p o n t o de v i s t a da h i s t o r i o g r a f i a reli ■+■ g i o s a em razão da p r e s e n ç a s e c u l a r d a I g r e j a C a t ó l i c a n a his t o r i a - contudo, n e s t a p e s q u i s a se a f i r m a que h ou ve u m a des- c o n t i n u i d a d e na s re l aç õ e s d a I g r e j a com o E s t a d o I mp er i a l no p e r i o d o citado,

1.1 - A r e n o v a ç ã o d a I g r e j a

A Igreja, n e s t e p er iodo, c o mo i n s t i t u i ç ã o ,tor n a-s e m a i s " c a t ó l i c a r o ma n a " e m e n o s "nacional".

T od o o m o v i m e n t o de r e f o r m a leva d o a v a nt e p e ­ lo e p i s c o p a d o b r a s i l ei r o, no s e g u n d o Império, t i n h a como pre missa, a v i n c u l a ç ã o e a " s u je iç ão " à Sede Romana. E r a l ut a p e l a e m a n c i p a ç ã o d a I g r e j a face ao Estado, t o r n a n d o - s e mai s ortodoxa, m a i s r o m a ni z ad a. N e s t e contexto, "a f u n d a ç ã o do Co legio P i o L a t i n o - A m e r i c a n o , em 1858, r e v e l a a i n t e n ç ã o de ro m a n i z a r a Igr e j a " (ARAÚJO, 1986:24).

A a u t o c o n s c i ê n c i a da I g r e j a de "Me s t r a da V e r dade" f i r m a - s e a t r a v é s d a p r o c l a m a ç ã o de d o g mas como o da I- m a c u l a d a C o n c e i ç ã o de N o s s a S e n h o r a (1854), o d a i.nfatibili_ dade p a p a l (1870) e, p r i n c i p a l m e n t e o de u m a p o s t u r a d o u t r i ­ n á r i a c o n d e n a n d o os c h a m a d o s "erros m o d e r n o s " com a e n c í c l i - ca " Q u a n t a Cura" e o " S y l l a b u s er ro ru m" (1864) ( M I C E L I ,1988: 15). No B r a si l o m o v i m e n t o de r e n o v a ç ã o d a I g r e j a que l e v o u . à " q u e s t ã o r e l i g i o s a " e x p r e s s a não só a t e n t a t i v a de r u p t u r a das r e l a ç õ e s r e g a l i s t a s entre E s t a d o - I g r e j a , como t a m b é m e x p l i c a a t e n d ê n c i a de r o m a n i z a ç ã o da I g r e j a b r a s i l e i ra que é a n t e r i o r à " q u e s t ã o rel ig io sa ". E m b o r a a s e p a r a ç ã o form al d e f i n i t i v a vai se da r com o g olpe m i l i t a r de 1 8 8 9 , i s ­ to é, com a p r o c l a m a ç ã o d a R e publica, contudo, no c am po poli^ t i c o - a d m i n i s t r a t i v o , d u r a n t e a s e g u n d a m e t a d e do seculo-XIX,

(14)

h o u v e m u d a n ç a s de m e n t a l i d a d e e de e s t i l o s no c o m a n d o da I- g r e j a fre n te ao m u n d o s e c u l a r i z a d o que a f e t a r a m p r o f u n d a m e n ­ te as suas r e l a ç õ e s com o E s t a d o Imperial. P a r t e significat^L v a do e p i s c o p a d o b r a s i l e i r o s u s t e n t a que so a V e r d a d e Católi_ c a e n ã o o E r r o (liberal ou p r o t e s t a n t e ) tem d i r e i t o de exis t ê n c i a e de d i v u l g a ç ã o (BEOZZO, 1985:143). P o r i s s o a Igre - ja, n e st e periodo, mantem, a l e m de u m a a ti t u d e "d ef en si va " das d o u t r i n a s o f i c i a i s da Igreja, t a m b e m s u a reação m o s t r a - se a c e n t u a d a m e n t e "m i l i ta nt e" c o m u m a série de i n i c i a t i v a s que, a longo prazo, s i g n i f i c a r a m o f o r t a l e c i m e n t o o r g a n i z a - c io n al de c o n d i ç õ e s m i n i m a s de s o b r e v i v ê n c i a p o l i t i c a no a- c i r r a d o c a m p o de c o n c o r r ê n c i a i d e o l o g i c a c o m a " i l u s t r a ç ã o 1 b r a s i l e i r a " e c o m as d e n o m i n a ç õ e s p r o t e s t a n t e s que h a v i a m lo g r a d o ê x i t o c o n s i d e r á v e l c o m a p r e s t a ç ã o de s e r v i ç o s e d u c a - c i o n a i s e a s s i s t e n c i a i s (MICELI, 1988:13).

. A Igreja, em face do Estado, t o m a c o n s c i ê n c i a /mais n í t i d a de su a autonomia, e m b o r a m a n t e n d o u m a a ti t u d e ' I

! " c o n s e r v a d o r a " c o n t r a o libera li sm o; D. V i t a l i ra p r o c l a m a r c l a r a m e n t e "... os p r i n c i p e s e m o n a r c a s são o v e l h a s de J e su s Cristo, e nã o pasto r e s; são f i l ho s de S a n t a M a d r e Igreja, e na o pais; são seus súbditos, e nao pr e l a d o s " (in B E O Z Z O , 1985:

145). A p a r t i r d e s t a c o n s c i ê n c i a a I g r e j a b u s c a sua a u t o n o m i a em face do Estado. 1.2 - 0 : p r o c e s s a i m i g r a t ó r i o e a i n d u s t r i a l i z a ç ã o O u t r o m o t i v o d e s t a p e r i o d i z a ç ã o se configura|l co m o s u r g i m e n t o d a m a i o r i d a d e real de D, P e d r o II que co

in-✓ 0

cide com o p e r i o d o do a p o g e u do império; em 1848 i n i c i a - s e a c o n s o l i d a ç ã o d a " unidade" n a c io na l. É o m o v i m e n t o de c e n t r a ­ l i z a ç ã o i m p e r i a l ’, com o t é r m i n o das r e v o l u ç õ e s p r o v i n c i a i s 1 "a u t o n o m i s t a s " , o p a r t i d o c o n s e r v a d o r as c end e o p o d e r d ando

(15)

s u s t e n t a ç ã o p o l i t i c a ao Imperador.

E s t a c e n t r a l i z a ç ã o p o l i t i c a do império faz s u r g i r u m surto i n d u s t r i a l que e x p l i c a o s u r g i m e n t o da lei a n t i - t r á f e g o dos e s c r a v o s a f r i c a n o s e a p r i m e i r a lei f u n d i á ­ ria, a m b a s em 1850.

A p r o i b i ç ã o do traf i c o a fri c a n o junto 1 c o m o p r o c e s s o de i n d u s t r i a l i z a ç a o , a p o l i t i c a do cafe e do algo - dão v i n h a m da r u m d e s t a q u e e s p e c i a l à p o l i t i c a i m i g r a t ó r i a . T od o este c o n j u n t o de m e d i d a s p o l i t i c a s t i n h a a i n f l u ê n c i a d a p r e s s ã o inglesa, mas, p o r p a r a d o x a l que pareça, p r o m o v i d a s p e l o p a r t i d o co n se r v a do r .

0 p r o c e s s o de i n d u s t r i a l i z a ç ã o t r a z i a . n o seu b o j o a m ã o - d e - o b r a p a g a e n ã o m a i s servil. P r i n c i p a l m e n t e a c u l t u r a cafeeira foi o f a t o r que c a n a l i z o u em parte a i m i g r a ­ ção e uropéia, isto a c o n t e c i a nas p r o v i n c i a s do Ri o de J a n e i ­ ro, São P a u l o e M i n a s Gerais, mas o u t r a parte c o n s i d e r á v e l ' de i m i g r a n t e s l o c a l i z o u - s e n os e s t a d o s s u l i n o s , P a r a n a , Rio G r a n d e e S a n t a Catar i na .

M a s ao c o n t r á r i o dos g r a n d e s l a t i f u n d i a r i o s do café, n os e s t a d o s sulinos, a c o l o n i z a ç ã o d i s t r i b u i a p equ e na s p r o p r i e d a d e s . Ja no n o r d e s t e c o n t i n u o u o l a t i f ú n d i o liga do à c a n a - d e - a ç ú c a r e o m i n i f ú n d i o liga do à c u l t u r a de a l g o ­ dão .

■Neste c o n t e x t o a m i g r a ç ã o e u r o p e i a se l o ­ c a l i z o u em S a n t a Catarina,’ e m b o r a u m a p r i m e i r a g l e b a de a l e ­ mães, tiv e s s e c h e g a d o j á }em 1828, c o n t u d o foi a p a r t i r de 18 50 que se i n t e n s i f i c o u i m i g r a ç ã o c o n s o l i d a n d o a o c u p a ç ã o da t e r r a c a t a r i n e n s e c o m d i v e r s a s e t n i a s , m a s p r i n ci pa lm en te , com a l e m ã e s e italianos. A o c u p a ç ã o da t e r r a c a ta r i n e n s e , desde a é p o c a c o l o n i a l , s e g u n d o O s v a l d o R o d r i g u e s Cab ral f i c ou nas m a o s de p e s s o a s co m l i m i t a d o p o d e r p e c u niá r io, c om rar is si - m a s exceções, cpmp D i a s V e l h o e C o r r e i a Pinto. 0 s i s t e m a

(16)

de s e s m a r i a s f r a c a s s o u como f r a c a s s o u t a m b e m a t e n t a t i v a de c o l o n i z a ç a o açoriana, e ntre os anos de 1748 e 1756, com q u a ­ se cinco mil ilhé us a ç orianos, i m i g r a n t e s p a r a o litoral sul c a t a r i n e n s e (CABRAL, 1968:192).

A já c i t a d a p r i m e i r a g l e b a de m i g r a n t e s que ve io p a r a S a n t a C a ta r i n a, em 1828, se l o c a l i z o u n a c o l ô n i a de São P e d r o de A l c â n t a r a , com: 523 a l e m a e s (FIORI: 1976: 25 ).Mas os gran des e m p r e e n d i m e n t o s c o l o n i a i s a l e m ã e s e i t a l i a n o s a c o n t e c e - ram após 1950.

A s s i m no ano 1854, â c o l o n i a de B l u m e n a u " ja tinha, e n t r e sua pop u l aç ão, n u m e r o s o s artesãos, um m e d i c o e um n a t u r a l i s t a " (F I O R I :1976:26).

A p r i m e i r a t e n t a t i v a de i m i g r a ç a o i t a l i a n a ja ocorre ra, 1835, foi f u n d a d a a c o l ô n i a " N o va Italia" mas f r a ­ cassou. P o s t e r i o r m e n t e , 1875, foi f u n d a d a a c o l o n i a de N o v a T r e n t o , A z a m b u j a (1877) U r u s s a n g a ( 1 8 7 8 ) , ( F I O R I :1976:27). E s t e tipo de c o l o n i z a ç a o v i a b i l i z o u a o c u p a ç ã o da t e r r a cat a r i n e n s e . 1* 3 - I n í c i o d a e f e t i v a o r g a n i z a ç ã o d a i n s t r u ­ ç ã o p u b l i c a c a t a r i n e n s e O u t r o m o t i v o e a p r e o c u p a ç ã o e f e t i v a co m e d u c a ção em S a n t a Cata r in a . E m b o r a a p r i m e i r a lei date de 1836, foi a p a r t i r d a d é c a d a de 1850 que se p e r c e b e a p r e o c u p a ç ã o c o m a o r g a n i z a ç ã o h i e r á r q u i c a e e s t r u t u r a d a da i n s t r u ç ã o c o ­ i n c i d i n d o c o m o s u r g i m e n t o d a " i l u s t r a ç ã o b r a s i l e i r a " a"^ n í ­ vel naci o nal , c o m o se v e r á no d e c o r r e r deste t r a b a l h o (Roque S.M. BARROS, 1959:50).

"No ano de 1848, (...) a i n d a não se d e l i n e a r a u m ó r g ã o r e s p o n s á v e l p e l a a d m i n i s t r a ç ã o e o r i e n t a ç ã o do ens_i no catarinense"(FLORI.:1976:18)Porisso a Lei n 9 268 de l 9 de

(17)

m a i o de 1 8 4 8 , que c u i d o u da o r g a n i z a ç ã o do ensino c a tar i nen s e» c o m e ç o u a a p r e s e n t a r u m a e s t r u t u r a h i e r a r q u i c a ma is c l a r a m e n te d efinida. A t é e s t a d a t a a i n s p e ç ã o escolar, p o r e x e m p l o , e s t a v a sob a r e s p o n s a b i l i d a d e das c â m a r a s m u n i c i p a i s . Confcir me e s t a n o v a l e g i s l a ç ã o criou-i.se o c a rgo de " D i r e t o r Ge ral da I n s t r u ç ã o Publi c a " , sob a r e s p o n s a b i l i d a d e d i r e t a do P r e ­ s i d e n t e d a P r o v í n c i a que p o d i a n o m e a r ou d è m i t i r l i v r e m e n t e os D i r e t o r e s (M u n i c i p a i s e P a r o q u i a i s ) . J a em 1850 o u t r a leõ, n|2 313 de 13 de m a i o .tra nsferia n o v a m e n t e a i n s p e ç ã o e s c o l a r às C a m a r a s m u n i c i p a i s , m a s e s t a s i s t e m á t i c a de in s pe ç ã o não p r o d u z i u b o n s r e s u l t a d o s (Falia do P r e s i d e n t e da P r o v i n c i a , 1852). A r e e s t r u t u r a ç ã o do e ns i n o foi r e e l a b o r a d a p e ­ la lei nj3, 3 8 2 / 1 / 0 7 / 1 8 5 4 , p a s s a n d o n o v a m e n t e o p o d e r de inspe ção ao P r e s i d e n t e da P r o v i n c i a . E s t a lei h i e r a r q u i z a d e f i n i ­ tiva me nte, sem u n i f o r m i z a r , a i n s t r u ç ã o p u b l i c a c a t a r ine n se, que até e n t ão e r a c l a r a m e n t e um "joguet e " na s m ã o s de i n t e ­ r e s s e s p o l í t i c o s das p r e t e n s a s a u t o n o m i a s das C a m a r a s municjL pais.

E s t a lei (382) defi n e f u n çõe s e a t r i b u i ç õ e s 1 t a nto do P r e s i d e n t e da P r o víncia, q u a n t o do D i r e t o r G e r a l co mo dos s u b - d i r e t o r e s e dos p r ó p r i o s p r of e s s o r e s .

"A r e f e r i d a lei do ano 1854 que r e o r g a n i z o u a i n s t r u ç ã o c a t a r i n e n s e v i g o r o u p o r mai s de treze anos" (FIORI: 1976:45).

A p r o b l e m á t i c a do e n sino ca ta ri ne ns e, como se-r rá d e t a l h a d o n a r e c o n s t r u ç ã o e m p í r i c a deste trabalho, p a s s a ­ rá, em 1 8 68-1879, p o r n o v a s m ud an ça s, m a r c a d a m e n t e liberais, g a r a n t i n d o a l i b e r d a d e do e n s i n o p ar t i c u l a r .

Nos m e i o s e d u c a c i o n a i s do pai s se d i s c u t i a .. a tese do e n s i n o o b ri g a t o r i o , t anto que no m u n i c i p i o da Corte, em 1854, já a d o t a r a - o c o mo norma. Es te e x e m p l o foi seg ui do

/ / /

(18)

de discus s ão , as idéias l i b e r a i s t o r n a r a m o ensi no o b r i g a t ó ­ rio que foi i n s t i t u i d o p e l a lei nj2; 699 de 1 1 / 0 4 / 1 8 7 4 (FIORI, 1976:57).

0 i de á r i o liberal, a f i r m a d o n e s t a lei, a p o n t a n a d i r e ç ã o de que S a n t a Catari na , e s t a v a i n s e r i d a no c o n t e x ­ to n a c i o n a l d a " i l u s t r a ç ã o b r a s i l e i r a " , c u j a c o n s o l i d a ç ã o ' d e s t a t e n d ê n c i a vai se v e r i f i c a r no ano de 1880 p e l a lei n 9 898 de 01/ 0 4 / 1 8 8 0 . No a p a g a r das luzes do império, a i n s t r u ­ ção p u b l i c a c o n t i n u a v a u m a a s p i r a ç ã o e nã o u m a realidade.

N os p r i m e i r o s t e m p o s do p e r i o d o r e p u b l i c a n o ,em b o r a as idé i a s r e p u b l i c a n o - d e m o c r a t i c a s a p o n t a s s e m a necessi­ dade de i n s t r u ç ã o p a r a o e x e r c í c i o do voto, contudo, o p a n o ­ r a m a g era l da i n s t r u ç ã o p u b l i c a c a t a r i n e n s e a p r e s e n t a v a rr. se d e s o l a d o r (F I O R I ,1976:87).

S o m e n t e c om o g o v e r n a d o r do E s t a d o de S a n t a C a t a r i n a V ida l R a m o s ir á ocorrer, em 1911, u m a r e f o r m a signifjL c a t i v a e d e c i s i v a p a r a o e n s i n o p u b l i c o c a t a r i ne ns e.

0 C o r o n e l V i d a l Jose de O l i v e i r a Ramos, n a t u - ral de Lages, i n i c i a o g o v e r n o do E s t a d o de S a n t a C a t ar in a. , em 1 9 1 0 , o que m a i s tarde se t o r n a r á u m a v e r d a d e i r a o l i g a r q u i a p o l í t i c a d a f a m í l i a "Ramos" n este Estado, a l t e r n a n d o - s e no p o d e r co m o u t r a o l i g a r q u i a d a f a m i l i a "Ko n d e r Bornhausen',' de Itajai.

A R e f o r m a d a i n s t r u ç ã o p u b l i c a e r a u m a das me - tas da ação p o l í t i c a d e - V i d a l Ramos, " f u n d a r u m n o v o tipo de escola, dar §. m o c i d a d e um p r o f e s s o r a d o c h ei o de e m u l a ç ã o e e s t a b e l e c e r u m a f i s c a l i z a ç ã o t é c n i c a e a d m i n i s t r a t i v a real e con s t a n t e " , e r a o d i s c u r s o da M e n s a g e m a p r e s e n t a d a ao C o n ­ g r e s s o R e p r e s e n t a t i v o do E s t a d o (in F I O R I :1976:91). Hoje, a h i s t o r i a c a t a r i n e n s e r e c o n h e c e a a t u a ­ ção de V i d a l R a m o s como d e c i s i v a p a r a a e d u c a ç ã o c a t a r i ne ns e. A r e f o r m a p r o c e s s a d a n es te p e r i o d o (1910-1914) m a r c o u p r o f u n

(19)

d a m e nte a e d u c a ç ã o c at a r i n e n s e . E r a o s u r g i m e n t o de u m a esco la s e c u l a r i z a d a a s s u m i d a p e l o Estado.

(20)

2.1 - T e m p o S o cial

"Te mp o social é u m a d e s i g n a ç ã o s u s c i n t a p a r a o c o n c e i t o de r e p r e s e n t a ç ã o s o c i a l - d o tempo, c u n h a d a p e l a es c o l a s o c i o l ó g i c a f r a n c e s a . S e u s e n tido c o r r e n t e é o de que o tempo é u m a c a t e g o r i a de p e n s a m e n t o e, como tal, o r e s u l t a d o de u m e l a b o r a ç ã o ou c o n s t r u ç ã o s i m b ó l i c a s o l i d á r i a co m o sen tido e os r e c o r t e s g e r a i s de c a d a c u l t u r a " ( D i c i o n á r i o de C i ­ ê n c i a s Sociais', 1 9 67 : 1205). E s t a n o ç ã o de tempo da ênf as e ao c a r a t e r soci a l e p r o c u r a a c e n t u a r su a r e l a t i v i d a d e nao so em r e l a ç ã o às d i v e r s a s cultur as , mas t a m b e m às d i f e r e n t e s a- c e p ç õ e s d e n t r o de u m a m e s m a c u l t u r a ( h i s t o r i c i d a d e , tradição, evolução, revo l u ç ão , etc.).

P o d e s e d i z e r que, co m o p r i m e i r a c a r a c t e r i s

-«s* / > >w

tica, a n o ç a o de tempo social e s t a l i g a d a a o p o s i ç ã o entre o s a g r a d o / p r o f a n o que se d e s e n v o l v e u em rit m os d i f e r e n t e s n a c u l t u r a o c i de n t ál . E s t a luta..entre p r o f a n o / s a g r a d o , t endo r i t m o s d i f e r e n t e s n a secu-larização d a sociedade, m a r c a o con c e i t o de tempo, n ã o p e l a i d e i a de "medir" ma s p e l a .de " r i t ­ mar" , n e s t e s e n t i d o o t e m po e r e s g a t a d o pelos ri tos n u m a v i ­ são h o l í s t i c a d a r e a lidade. C r i o u - s e a t e o r i a dos ri tos de p a ss ag em , i n a u g u r a d a p o r A. V a n G e n n e p ( G E N N E P , 1978).

A s e g u n d a c a r a c t e r i s t i c a da noç.ão de te mpo social e s t a l i g a d a à i d e i a de que as p a r t e s s u c e s s i v a s do t empo n ã o são h o m o g ê n e a s , isto e, h a a p r e s e n ç a de e l e m e n t o s

(21)

d i f e r e n c i a d o s que d e l i m i t a m u m a c u l t u r a local. Is t o s i g n i f i ­ ca a f i r m a r que a n o ç ã o de tempo e s t a l i g a d a a de es pa ç o e a de o r g a n i z a ç ã o social local e regional, isto e, a u m a v i s ã o de t ot a l idade.

A n o ç ã o de te mpo social admite a i d e i a de sua r e l a t i v i d a d e c u l t ur a l. H o u v e e h a d i s c u s s ã o a c a d ê m i c a sobre e s t a r e l a t i v i d a d e c u l t u r a l do tempo social, ma s a a n a l i s e ar? tual a p r e s e n t a a l g u n s m o d e l o s f u n d a m e n t a i s que se ■ d e s i g n a m p el o s p a r e s de o p o s i ç ã o do tempo ciclico ou m i t i c o e o do tem po l i ne a r ou h i s t ó r i c o .

As n o ç o e s de tempo c i c l i c o .ou m i t i c o c a r a c t e ­ rizam. a percepç,ão e m e r g e n t e das c o n s t r u ç o e s c u l t u r a i s ho.lis t icas " t rad i c i o n a i s " , p o r o p o s i ç ã o ao tempo l i ne a r ou h i s t ó ­ rico, c a r a c t e r i s t i c o d a c u l t u r a o c i d e n t a l m o d e r n a e a s s o c i a ­ do a i d e o l o g i a s como a do i n d i v i d u a l i s m o ou do r a c i o n a l i s m o

(DURANT, T e m p o S o c i a l . D i c i o n á r i o de C i ê n c i a s Sociais, 1978: 06). A n o ç ã o de tempo l i n e a r ou h i s t o r i c o , d e nt r o da c u l t u r a o c i d e n t a l m o d erna, e u m a n o ç ã o r e l f i c a d a . A d e s r e i f i c a ç ã o da c a t e g o r i a - t e m p o , foi f e i t a po F. B R A U D E L q u a n d o diz que o t e m p o e e s trutura, a f i r m a n d o t e x t u a lm e nte : " .. . a l o n g a d u ­ r ação e a h i s t ó r i a i n t e r m inável, d u r á v e l das e s t r u t u r a s e g r u p o s de e s t ru t u r a. P a r a o h i s t o r i a d o r , u m a e s t r u t u r a não e s o m e n t e a r q u i t e tu r a , m ont a g e m , e p e r m a n ê n c i a e f r e q ü e n t e - m e n t e m a i s d ou q u e s e c u l a r {0 tempo é e s t r u t u r a ) : ésse grand e p e r s o n a g e m a t r a v e s s a i m e n s o s e s p a ç o s de t e mpo sem se a l t e ­ rar" ( B R A U D E L , 1978:106) .: E s t a noçião de te mpo social como e s ­ t r u t u r a de l o n g a d u r a ç ã o p e r m i t e d e s p r e n d e r - s e d a n o ç ã o de t e mpo c u r t o - h i s t o r i a o c o r r ê n c i a ! , e v o l u t i v a - p a r a possibi^ l i t a r a r e c o n s t r u ç ã o a n a l i t i c a da r e a l i d a d e e m p i r i c a , v a l o r i ­ z an do a h i s t o r i a das m e n t a l i d a d e s sem n e g a r a h i s t o r i a o co r - r encial. Tal o pç ã o p e l a l o n g a duração, p e l a p e r m a n Q n c i a é u- m a i n v e s t i g a ç ã o h i s t o r i c o - s o c i a l que p e r m i t e c o m p r e e n d e r d e ­ t e r m i n a d o c o n t e x t o h i s t o r i c o como f a z e n d o p a r t e da h i s t o r i a

(22)

u n i v e r s a l sem n e g a r os m a t i z e s r e g i o n a i s e locais .de - c a d a c o n t e x t o h i s t ó r i c o . N e s t a perspectiva,' o s o c i o l o g o - h i s t o r i a - dor c o n t e m p l a a r e a l i d a d e c i r c u n s t a n c i a d a e par t i c u l a r , b u s ­ c a n do c o m p r e e n d e r a m u l t i d i m e n s i o n a l i d a d e de f a t o r e s que a c o m p õ e m sem p e r d e r de v i s t a a u n i v e r s a l i d a d e d a hist ori a .

0 s o c i ó l o g o - h i s t o r i a d o r q u e s t i o n a a n o ç ã o de te mpo linear, p o r c o n s i d e r á - l a d e m a s i a d o s i m p le s p a r a co mp r e e n d e r a r e a l i d a d e social que é tão compl ex a. Isto p e r m i t e a- f i r m a r que nã o e a h i s t o r i a que o h i s t o r i a d o r social ..quer mal, m a s a r e i f i c a ç ã o do te mpo l i n e a r d a h ist o ria . A q u e r e l a se c o l o c a a s s i m n a n o ç ã o de t e m p o r e s t r i t o (demiurgo) v e r s u s t e m po de l o n g a d u r a ç ã o , pois, este e capaz de p e r m i t i r a r e ­ c o n s t r u ç ã o a p a r t i r do dado empirico, do s i g n i f i c a d o e s t r u t u ral do p a s s a d o " a c o n t e c i m e n t a l " . Este, p o r n a tu re za , c o n t e m

rupturas.,.; d e s c o n t i n u i d a d e s , isto e, o r o m p i m e n t o com a line aridade; e o t e mpo de " l o n g a du ra çã o" h i s t ó r i c a c r i a c ondi - ções p a r a q u e .os a c o n t e c i m e n t o s r e t i r a d o s do t r aç a d o h o r i z o n tal s e j a m i n f o r m a d o s p o r s i g n i f i c a d o s m a i s a m p l o s . E s t e procedi m e n t o p e r m i t e que a f o t o g r a f i a s o c i o l ó g i c a do p r e s e n t e se ja m a i s " v e r dad e ir a " , q u a n d o o p a s s a d o r e c o n s t r u i d o i l u m i n a r o p r e se nt e . S e g u n d o DURAND, o d e b a t e a c a d i m i c o entre h i s ­ t ó r i a e s o c i o l o g i a ( e tnografia) foi e n t e n d i d o e i n t e r p r e t a d o co m o se h i s t o r i a se a p o i a s s e no e st u d o e n a c r i t i c a dos do cu m e n t o s de n u m e r o s o s o b s e r v a d o r e s , ao p a s s o que a sociologiall se b a s e a v a n a o b s e r v a ç ã o de um so (...) Este p a r a l e l i s m o m e ­ t o d o l ó g i c o p a r a e s t a b e l e c e r r e l a ç õ e s entre h i s t o r i a e s o c i o ­ l o g i a e ilusorio. A d i f e r e n ç a f u n d a m e n t a l en tre s o c i o l o g i a . e h i s t ó r i a nã o e n e m de objeto, n e m de fim, n e m de m étodo. A m ­ bas têm o m e s m o o b j e t o (a v i d a social); o m e s m o fim (uma m e ­ lhor c o m p r e e n s ã o do h o m e m ) ; e um m e s m o m e t o d o em que so vari a a d o s a g e m dos p r o c e s s o s de pesquisa.. As p e r s p e c t i v a s m e t o ­

(23)

d o l ó g i c a s são c o m p l e m e n t a r e s : a h i s t o r i a o r g a n i z a seus d ados em r e l a ç ã o às p e r c e p ç õ e s c o l e t i v a s c o n s c i e n t e s e a s oc i o l o - g i a em r e la ç ã o às r e l a ç õ e s c o l e t i v a s i n c o n s c i e n t e s (DURAND, 1 9 8 2 : 3 5 1 / 3 5 2 ) . P o r t a n t o a a n á l i s e do s o c i ó l o g o recai, princi_ p a l m e n t e sobre os e l e m e n t o s i n c o n s c i e n t e s da visão social, ja a a n a l i s e h i s t ó r i c a b u s c a j u s t i f i c a r os c o n t e ú d o s c o n s c i e n ­ tes. E s t a c a m i n h a d a nao i n d i c a u m a v i a co m mã o e c on t r a - m ã o , m a s u m a d u p l a v i a com u m a m ã o unica. 0 s o c i o l o g o c a m i n h a do c o n s c i e n t e (que n u n c a ignora) p a r a o i n c o s n c i e n - te coletivo, ja o h i s t o r i a d o r a v a n ç a , r e c u a n d o , p a r t i n d o das a t i v i d a d e s c o n c r e t a s (conscientes) p a r a e n r i q u e c e r o p r e s e n ­ te c o m u m a p e r s p e c t i v a h i s t ó r i c a m a i s r i c a e m a i s c o m ­ pleta. 2.2 - M e n t a l i d a d e 2 .2.1 - C o n s i d e r a ç õ e s G e r a i s N a a n á l i s e das p e r c e p ç õ e s c o l e t i v a s c o n s c i e n ­ tes e i n c o n s c i e n t e s tem sido u t i l i z a d o o c o n c e i t o de " m en ta lidadeü, c o n s i d e r a d o c a p az de, no est u d o da v i d a social, a- b r a n g e r as d i m e n s õ e s c o n s c i e n t e s e i nc on sc i e n t e s .

0 c o n c e i t o de " m e nt al id ad e" , d e n t r o da atual r e f l e x ã o s o c i o l ó g i c a , e s t a r e l a c i o n a d o com a v i s ã o do h i s t o - r i c i s m o - c o s m o v i s ã o do h o m e m e do m u n d o -, que faz u m a re- l e i t u r a d a h i s t ó r i a b u s c a n d o a c o n t e x t u a l i z a ç ã o .do . co n jun t o' da h is t óri a , m u d a n d o o e n f o q u e da " h i s t o r i a d o s h o m e n s p a r a @ d â hi§ tória do s s e r e s h u m a n o s " n a p e r s p e c t i v a g en e ric a . A- b a n d o n a - s e a h i s t ó r i a o c o r r e n c i a l , e v o l u t i v a p a r a se t e n t a r u m a r e l e i t u r a d a h i s t o r i a n a d i m e n s ã o p r o c e s s u a l de l o n g a du r a ç ã o .

(24)

vi-são h i s t o r i c i s t a se d e f r o n t a c o m o de "i de ologia"*, h e r d e i ­ ro d a t r a d i ç ã o marx i s t a.

0 c o n c e i t o de " me n t a l i d a d e " r e l a c i o n a - s e com o h i s t o r i c i s m o ,e n q u a n t o u m p r i n c i p i o que nã o só o r g a n i z a o t r a b a l h o das c i ê n c i a s c u l t u r a i s com o t a m b e m o p e n s a m e n t o d_i ario. É a b a s e sobre a qual se c o n s t r o i as o b s e r v a ç õ e s da r e a l i d a d e s o c i o - c u l t u r a l .0. h i s t o r i c i s m o e a p r ó p r i a c o n c e p ç ã o de mundo, sendo os tem p o s m e d i e v a i s e o i l u m i n i s m o a d e q u a d a s

* E s t a s duas c o r r e n t e s da i n t e r p r e t a ç ã o s o c i o l ó g i c a são dife r e n t e s e r i v a i s e ntre si ou se c o m p l e m e n t a m m u t u a m e n t e ? E i s u m a q u e s t ã o que m e r e c e u m a d i s c u s s ã o aprofu n dad a , mas que, nos li m i t e s d e s t a p es q uisa, p o r nao se c o n s t i t u i r em seu o b j e t o e s p e c i f i c o de estudo, c o n s i d e r a - s e r e l e v a n t e e s t u ­ dar o livro " I d e o l o g i a s e M e n t a l i d a d e s " de M i c h e l VOVELLE, e d i t o r a b r a s i l i e n s e , p u b l i c a d o em 1987.

A c a t e g o r i a de i d e ologia, foi d e f i n i d a p o r M a r x em sua Intro du ç ão à " I d e o l o g i a Alemã", como d e c o r r e n t e do m odo de p r o ­ dução: "em todas as f o rmas de sociedade, e um m o d o de p r o ­ d u çã o d e t e r m i n a d o e as suas r e l a ç õ e s p o r ele e n g e n d r a d a s p o r e s t e s últimos, como t a m b e m seu nivel e sua impor ta nc ia . É co m o u m a luz geral onde estão m e r g u l h a d a s todas as cores e que lhes m o d i f i c a a s .t o n a l i d a d e s p a r t i c u l a r e s . É como um e t e r p a r t i c u l a r que d e t e r m i n a o peso e s p e c i f i c o de to - das as f o r m a s de e x i s t ê n c i a que dali eme r gem " (in VOVELLE, 1987:11). E s t a c a t e g o r i a de " ideologia", em Marx, e v a g a e geral, m a s foi r e i n t e r p r e t a d a p o r Engels, em 1890, no s s e ­ g u i n t e s termos: "s e gu n do a i n t e r p r e t a ç ã o m a t e r i a l i s t a ,da Hi s t o r i a , o f a t o r d e t e r m i n a n t e é, em u l t i m a instância, a p r o d u ç ã o e a r e p r o d u ç ã o d a v i d a real" (in V O V E L L E ,1987:12). A c a t e g o r i a de ideologia, como c a t e g o r i a de a n á l ise e in t e r p r e t a ç ã o marxi st a , e m b o r a t e n h a u m a c o n f i g u r a ç ã o o r g a ­ n i z a d a e c o n s i s t e n t e p a r e c e u m tanto l i m i t a d a p a r a se c a p ­ tar a a t m o s f e r a de u m a 'época, em termos, do e s t i l o de v i ­ da, de atitude, c o m p o r t a m e n t o s e, p r i n c i p a l m e n t e , de repre s e n t a ç Õ e s c o l e ti v a s , i n c o n s c i e n t e s , " i m a g i n a r i o s c o l e t i ­ v o s " . E s t a d i f i c u l d a d e se c o l o c a ao c o n c e i t o de i d e o l o g i a , pois, u m a m e s m a r e p r e s e n t a ç ã o c o l e t i v a i n c o n s c i e n t e pode t o m a r c o n t a do e s p í r i t o de u m a época, sem que n e c e s s a r i a - m e n t e e s t e j a lig ad o ao "modo de p r o d u ç ã o e r e p r o d u ç ã o da v i d a r e a l " . A s s i m , p o r e x e m p l o , o m o v i m e n t o de s e c u l a r i z a ç ã o 1 da s o c i e d a d e , o u o d e c l i n i o d a Idade M e d i a , e u m f e n o m e n o 1 que n ã o e s t á ligado às " e s t r u t u r a s sociaisVrpas as a t i t u d e s e " r e p r e s e n t a ç õ e s c o l e t i v a s " m a i s a m p l a s , e n v o l v e n d o em sua d i s c u s s ã o a s o c i e d a d e como um todo.

(25)

ilus t raç õ es.

A v i s ã o m e d i e v a l e r a u m a c o n c e p ç ã o e s t a t i c a II do mundo, d e t e r m i n a d a se gu n d o a r e l i g i ã o - t e o c e n t r i s m o m e d i e ­ val -, que vai se d e s i n t e g r a n d o diant e do i lu mi nismo: a luz da fé é s u b s t i t u i d a p e l a luz d a r azã o s u p r a t e m p o r a l . E s t a p r o p o s t a iluminista, p o r ser m a i s u m a das v i s õ e s de h o m e m e de mundo, ja c o n t i n h a em si m e s m a o g er me de su a p r ó p r i a dess truição.

N e s t e sentido, o c o n h e c i m e n t o h i s t ó r i c o e n ­ q u a n t o e c on s t i t u i d o , não pode ser d e s l i g a d o do c o n t e x t o hij5 tori c o c o n c r e t o em que ocorre. A l e m d i s t o ,o c o n h e c i m e n t o . h i $ tori c o se faz c o m o s en t i d o c u l t u r a l que e s t a em c i r cu la çã o. Assim, se o s e n t i d o c u l t u r a l em c i r c u l a ç ã o (isto e, m a n e i r a s de pensar, s e n t i r e agir de u m povo) for co ns e r v a d o r , pode - se i n f e r i r que o p a s s a d o de ste p o v o se b a s e o u em p a r a d i g m a c o n s e r v a d o r ; se, ao c o n trario, o s e n t i d o c u l t u r a l em c i r c u l a ção, for ren ov a do r , c e r t a m e n t e , a i n o v a ç ã o e a c r i t i c a , e r a m e l e m e n t o s i m p o r t a n t e s no p a s s a d o e s erão e l e m e n t o s n e c e s s á - rios p a r a a r e c o n s t r u ç ã o h i s t ó r i c a do mesmo. 0 s e n t i d o c u l t u ral em c i r c u l a ç ã o e a t m o s f e r a que e n v o l v e m a n e i r a s de pensar, sentir, a g ir e o l e t i v a s de um povo; e a m e n t a l i d a d e de u m p o ­ vo n u m d a do c o n t e x t o s ó c i o - c u l t u r a l , isto é, h i s t o r i c o (ARAÕ JO, 1 9 86: 1 2-1 3 ).

R o b e r t o M a n d r o u resu me o c o n c e i t o de m e n t a l i ­ dade c o m o h i s t ó r i a das " v i s õe s de m u n d o " ,( m a n i f e s t a em a t i tu des, c o m p o r t a m e n t o s e r é p r e s e n t a ç õ e s co le ti va s) , r e f e r e n t e s ta nto à d i m e n s ã o c u l t u r a l de elite, c om o n a h i s t o r i a da c u l ­ tu ra pop u lar . Assim, M a n d r o u mostra, a tr a v é s de u m a p e s q u i s a empírica, c o m o a p r o x i m a d a m e n t e em 1660, q u a n d o p a r l a m e n t a r e s d a F r a n ç a d e c i d i r a m nã o m a i s q u e i m a r f e i t i c e i r o s ( p r á t i c a do a nt i g o regime), h o u v e u m a m u t a ç ã o d a m e n t a l i d a d e nas elites, co m e s t a decisão.

(26)

e m p í r i c a passou, i n ic ialmente, p el o u n i v e r s o dos " m a r g i n a l i ­ zados". A s p e s q u i s a s se d e s e n v o l v e r a m co m a i n v e s t i g a ç ã o da h i s t ó r i a das i d é ia s e das " me nt al i d a d e s " , a m p l i a n d o - s e dos ca mp o s d a c u l t u r a p o p u l a r (folclore), p a r a a h i s t o r i a "lite- r a r i a " , "religiosa", "a rtistica", "estetica".

As c a r a c t e r i s t i c a s c o n c e i t u a i s de m e n t a l i d a d e p o d e m ser r e s u m i d a s em de scobrir, sem p r e s s u p o s t o s p r e v i a m e n te def inidos, o que c o n s c i e n t e m e n t e e s t a formulado, ou nã o e s t a f o r m u l a d o ( m o t i v a ç õ e s i n c o n s c i e n t e s ) . A l é m d e s t a c a r a c ­ te rística, o c o n c e i t o de " m e n t a l i d a d e " envolve, ainda, a d i ­ m e n s ã o de "um tempo m a i s longo", "p ri sõ es de l o n g a d u r a ç ã o " o u " f o r ç a da i n é r c i a das e s t r u t u r a s m e n t a i s " (VOVELLE, 1987 :

19) . '

Isto s i g n i f i c a a f i r m a r a a u t o n o m i a do mental, e n q u a n t o " i n c o n s c i e n t e c o l e t i v o " ou " i ma g i n a r i o " e s u a irre- d u t i b i l i d a d e ao e c o n ô m i c o e ao social. E s t a a u t o n o m i a de u m a a v e n t u r a m e n t a l c oletiva, que o b e d e c e a seus rit mos p r o p r i o s e a suas p r ó p r i a s c a u s a l i d a d e s i n d e p e n d e n t e s do d e t e r m i n i s m o s o c i o - e c o n ô m i c o , p o s s i b i l i t a ao p e s q u i s a d o r , d i an te de q u a l ­ quer f e n ô m e n o empirico, c r i a r o seu c o n s t r u c t o c o n c e i t u a i tipo ideal -, c o mo u m a a l a v a n c a p a r a h e r m e n ê u t i c a , f a c i l i t a n do o d o m i n i o m e t o d o l ó g i c o do seu o b j e t o de estudo, (VOVELLE, 1 987 :20-21)..

N e s t a pesquisa, pr oc u r a - s e , i n ic ia lm en te , i n ­ v e s t i g a r o f é n ô m e n o de s e c u l a r i z a ç ã o da s o c i e d a d e e da e d u c a ção, d e n t r o d a c u l t u r a l u s o - b r a s i l e i r a de u n i a o e ntre trono e altar, i d e n t i f i c a n d o as " pr i s õ e s de l o n g a d ur aç ão " do "Pa droa d o" e "Kegal i s m o" . J a n u m s eg u n d o mo mento, p r o c u r a - s e ca r a c t e r i z a r a t r a n s i ç ã o do c a t o l i c i s m o " t r a d i c i o n a l " ao c a t o ­ l i c i s m o "u l t r am o n t a n o " , que emerg e de e c l e s i o l o g i a s d i f e r e n

-A *

tes, mas, p r e s e n t e s no c o n t e x t o h i s t o r i c o em que se d a a edu c a ç ã o c a t a r i n e n s e no p e r i o d o em a na l i s e (1850-1910). P a r a l e ­ lamente, s e r a e n f o c a d o o m o v i m e n t o d a " i l u s t r a ç a o b r a s i l e i

(27)

-r a " , que foi -r e f o -r ç a d o c om as ideias p o s i t i v i s t a s no final do s e c u l o XIX, es tas i m p o n d o - s e como p r o j e t o - p o l i t i c o u to p i - co p e lo g olp e m i l i t a r que p r o c l a m o u a R e p u b l i c a em 1889.

E s t a v i s ã o d a s e c u l a r i z a ç ã o da s o c i e d a d e e da educação, p a s s a n d o p e lo c rivo de "Pa dr oa do " e do "Re g ali s mo" l u s o - b r a s l e i r o s , e a c o m p r e e n s ã o das e c l e s i o l o g i a s e n g e n d r a ­ das no p r o c e s s o h i s t o r i c o p a r a r e s i s t i r ao fen ô m e n o d a s e c u ­ larização, p o s s i b i l i t a m , c o m p r e e n d e r o f e n ô m e n o da s e c u l a r i ­ za ção d a e d u c a ç ã o c a t a r i nense; este expressg), às vezes, cons c i en te e p o r vezes, i n c o n s c i e n t e m e n t e , no c o r p u s documental'

(leis, f a l l as e r e l a t o r i o s ) que serão e s t u d a d o s no te r c e i r o m o m e n t o deste trabalho, como e x p r e s s ã o c u l t u r a l do e n t a o g o ­ v e r n o d a P r o v i n c i a e d e p o i s E s t a d o de S a n t a Catarina.

2 . 2 . 2 - M e n t a l i d a d e , p r o j e t o I d e o l ó g i c o e u t ó p i c o

No S e g u n d o R e i n a d o do i m p ér io br as i l e i r o , o E s t a d o e a I g r e j a C a t ó l i c a a l i m e n t a m u m a m e n t a l i d a d e c o n s e r ­ vadora, pois, os o b j e t i v o s e as f u n ç õ e s de a mbos são s i m i l a ­ res l e g i t i m a n d o - s e m u t u a m e n t e sem c o n f l i t o s a ação r e l i g i o s a e a civil. Ambos, E s t a d o e Igreja, a c r e d i t a m n a f o r ç a • da lei: a l e g i t i m i d a d e do tipo de v i d a social é en ge ndrada, não p e l o social, m a s p e l a lei. E s t a foi a e p o c a do " b a c h a r e l i s - mo" que a c r e d i t a v a n a f o r ç a r e d e n t o r a d a lei, da p a l a v r a e s ­ crita, A s leis i m p e r i a i s e r a m m o d e r n a s e avançadas, no con - t e x t o d a época, mas nao. c o n s e g u i r a m a f e t a r a r e a l i d a d e s o ­ cial, pois, nã o e r a m p o s t a s em execuç ão . C o n s t i t u i a m - s e mai s em a s p i r a ç õ e s do E s t a d o e das c l a s s e s d om in antes, do que em i n s t r u m e n t o s n o r m a t i v o s de i n t e r v e n ç ã o no social.

A I g r e j a Catól ic a, c om o s e r á a n a l i s a d o n e s t a p e s qui s a, no d e c o r r e r do S e g u n d o Reinado, i m p r e g n a - s e do m o ­ v i m e n t o " u l t r a m o n t a n o " c a r a c t e r i z a d o p o r b u s c a de " r e n o v a ç a o 1

(28)

i n s t i t u i ç ã o r e l i g i o s a or i enta-se, p ort ant o , p a r a o que M a n - n h e i m q u a l i f i c a d e " e s t a d o de e s p i r i t o id e o l o g i c o " ou " p r o j e ­ to ide o lóg i co" , no s e n t i d o de que as i d e i a s - f o r ç a nã o n a s c e m das n e c e s s i d a d e s reais, m a s sao e s t r a n h a s à e s t a r e a l i d a d e e t r a n s c e n d e m a e x i s t ê n c i a social.

Tai s ideias, s i t u a c i o n a l m e n t e t r a n sc en de nt es , p e r m a n e c e m "... no n i v el da r e a l i z a ç a o e n a m a n u t e n ç ã o d a or d em das c o i s a s " ( M A N N H E I M , 1972:213). Isto s i g n i f i c a a f i r m a r que a I g r e j a e n s i n a que suas v e r d a d e s são t r a n s c e n d e n t e s ,sem p r e o c u p a ç õ e s d i r i g i d a s à e x i s t ê n c i a do social. O r a tal e s t a ­ do de e s p i r i t o - p o r ser t r a n s c e n d e n t e a e x i s t ê n c i a soci al - e i n a d e q u a d o e i n c o n g r u e n t e com -a r e a l i d a d e , p o i s , i m p e d e a t o m a d a de c o n s c i ê n c i a do "vivido" e x i s t e n c i a l m e n t e . A I g r e j a ao d e s e j a r se " r e n o v a r i n t e r n a m e n t e 1,1 b a s e a v a e s t a r e n o v a ç ã o em v e r d a d e s t r a n s c e n d e n t e s , que v i s a ­ v a m m a n t e r a r e a l i d a d e tal como é, c o n t e n d o , p o r isto m e s m o , u m a o r i e n t a ç ã o c o n s e r v a d o r a . Aliás, a f a v o r d e s t a i n t e r p r e t a ­ ção h á v a r i o s t e s t e m u n h o s h i s t o r i o g r á f i c o - r e l i g i o s o s que s e ­ rão, l a r g a m e n t o c o m e n t a d o s e c o t e j a d o s no c a p i t u l o II d e s t a p es q uis a , q u a n d o se r e fe r e à t r a n s i ç ã o do c a t o l i c i s m o "tradi c io na l" ao c a t o l i c i s m o " u l t r a m o n t a n o " , af im de s u b s i d i a r o p o n t o de v i s t a d e s t a pesquisa. E s s a s c o n c e p ç õ e s que a p o i a v a m o a g i r c o n s e r v a d or da Igreja, no d e c o r r e r do S e g u n d o Reinado, e s tã o sendo d e no m i n a d a s , aqui, de idé ias Ideológic a s, e n q u a n t o i n t e g r a n ­ tes de u m p r o j e t o i de o l ógico; e e s s a q u a l i f i c a ç ã o j u s t i f i c a - se p o r d i v e r s a s razoes.

A primeira, c o n s i s t e no fato que os r e p r e s e n

-✓

tantes. d a I g r e j a ". . . s e m p r e p r e t e n d e r a m c o n t r o l a r e s t as

ide-✓ X

ias f o s s e m c o n f i n a d a s em u m m u n d o a l e m da h i s t o r i a e d a soc_i edade, onde n ã o p u d e s s e m a f e t a r o 's t a t u s q u o 1" ( M A N N H E I M ,19- 72 :2 1 6 - 1 7 ) . E s t a m e n t a l i d a d e pode ser e x e m p l i f i c a d a p a r a ser

(29)

m e l h o r c o m p r e e n d i d a . Assim, a i d e i a de f r a t e r n i d a d e c r i s t ã é

i nad e quada, i nc o ng r u e nt e, e p o r con s e g u i n t e , "i d e o l o g i c a " , pois, a s o c i e d a d e nã o se c o n s t r o i e n e m se o r g a n i z a a p a r t i r d e s t a idéia. A c a r i d a d e c r i s t ã não se c o n c r e t i z a p a r a r o m p e r c o m os laços d a o r d e m e xistente, n e s t e sentido, e i d e o l p g i c a

(ARAÚJO, 1986:43).

A s e g u n d a razão, p a r a c o n s i d e r a r as ide ia s da I g r e j a c omo s endo i de o l ógicas, c o n s i s t e no fato de que v i s a ­ v a m m a n t e r as c o i s a s como e s t a v a m , a o inves de q u e r e r r o m p er c o m a s i t u a ç ã o social v i g e n t e no d e c o r r e r do seg u n d o império. 0 m o v i m e n t o de " r e n o v a ç ã o interna" da I g r e j a traz no seu b o j o u m a a t i t u d e d e f e n s i v a c o n t r a os "erros mo

-* dernos", q u e r e n d o com isto p e r m a n e c e r c om os laços sociopoljL ticos c o n s e r v a d o r e s , a s s e g u r a n d o o seu l ugar de r e l i g i ã o o f ^ ciai. E s t a r e n o v a ç ã o c o n s t i t u i - s e n u m a atitude da I g r e j a b r a s i l e i r a b u s c a n o a p r o f u n d a r as v i n c u l a ç õ e s c o m o Vatic an o. E u m a q u e s t ã o de u n i d a d e i n s t i t u c i o n a l da p r ó p r i a I g r e j a C a ­ tólica.

0 E s t a d o b r a s i l e i r o , no s e g u n d o reinado, m a n ­ tem t a m b é m u m a m e n t a l i d a d e cons e r v a d o r a , m e s m o sob p r e s s ã o || da I n g l a t e r r a e do p a r t i d o liberal. P o s t e r i o r m e n t e , co m o mo v i m e n t o d a " i l u s t r a ç ã o b r a s i l e i r a " , p r o m o v e a l g u m a s r e f o r m a s como o p r o c e s s o de l i b e r t a ç ã o dos escravos, o m o v i m e n t o i- m i g r a t o r i o em l a r ga escala; contudo, o seu p r o j e t o p o l i t i c o p e r m a n e c e a t r e l a d o a u m a e s t r u t u r a s ó c i o - e c o n o m i c a latifund_i ária, d i v e r s i f i c a n d o a m o n o c u l t u r a d a c a n a - d e - a ç u c a r do n o r ­ d est e p a r a a do café, no c e n t r o- su l. A p r o c l a m a ç ã o d a R e p u b l i c a não r o m p e u a e s t r u t u r a s ó c i o - e c o n o m i c a . C o n s i d e r a n d o os p r i m e i r o s anos da Re p u b l i c a Velha, a e s t r u t u r a s ó c i o - e c o n ô m i c a n ã o mudou. A a v a l i a ção de h i s t o r i a d o r e s c om o V. L i c i n i o C a r d o s o é s i g n i f i c a t i - v a : " E x a m i n a d o s s e r e n a e severam en te , os a c o n t e c i m e n t o s que

(30)

e x i g i r a m . a i n s t i t u i ç ã o da R e pública, f o r ç o s o é c o n v i r n a ver dade c o n t i d a n a a s s e r ç ã o h u m i l h a n t e : a R e p u b l i c a não nos trou xe n e n h u m i d e a l i s m o cong ê nito; c o n s e q ü ê n c i a p o l i t i c a da evo-r lu çã o social sob o ideal a b o l i c i o n i s t a , o n o v o regim e f i xo u a p e n a s n a c a r t a c o n s t i t u c i o n a l p e q u e n a s ideologias, sem de^L x ar s e q u e r e s b o ç a d o o v e r d a d e i r o i d e a l i s m o o r g â n i c o e con s - t r u t o r n a c i o n a l " (in A RAÚJO, 1986:18). E f e t i v a m e n t e , a c a r t a c o n s t i t u c i o n a l de 1891, j u s t a p ô s i d e o l o g i a s c om o a do p a r t i d o lib e ral e a do p o s i t i ­ v i s m o que a s c e n d e m ao p o d e r p r o c l a m a n d o a R e p u b l i c a , s e m r o m ­ p i m e n t o de c o n t i n u i d a d e c om a fase imperial. 0 t e s t e m u n h o o- c u l a r do fato golpista, n a r r a d o p o r A r i s t i d e s Lobo, t a m b é m d e i x a c l a r a a v e r s ã o de h i s t o r i a d o r e s : "... p o r ora, a cor do g o v e r n o é p u r a m e n t e m i l i t a r e d e v e r a ser a s si m o fato foi deles, d e les so, p o r q u e a c o l a b o r a ç ã o do e l e m e n t o civil foi q uas e nula. 0 p o v o a s s i s t i u a q u i l o b e s t i a l i z a d o . a t o n i t o , s u r ­ preso, se m c o n h e c e r o que s i g n i f ic av a. M u i t o s a c r e d i t a v a m '

s i n c e r a m e n t e e s t a r v e n d o u m a p a r a d a . .." (in ARAÚJO, 1986:17). A m u d a n ç a do regim e m o n á r q u i c o p a r a o r e p u b l i c a n o n ão se e n ­ g e n d r o u no soci a l e n e m dele se a li mentou, m a s a f i r m o u a con t i n u i d a d e d a e s t r u t u r a s ó c i o - e c o n o m i c a .

Houve, co m a p r o c l a m a ç ã o d a R e p u b l i c a , u m a ten t a t i v a de i m p l a n t a r u m p r o j e t o p o l i t i c o utopico, mas não se t o r n o u h e g e m o n i c o dado as fo rç a s c o n s e r v a d o r a s que d e s l o c a - ram o foco do p o d e r p a r a os estados, u n i d a d e s f e d e r a d a s .. C o m a r e g i o n a l i z a ç ã o do poder, o c o r o n e l i s m o local r e f o r ç o u suas r a í z e s p o l í t i c a s que já se f a z i a m s e n t i r no final do Impé - rio, m a s que se t o r n a m u m a r e a l i d a d e m a d u r a co m o r e g ime r e ­ p u b l i c a n o .

0 E s t a d o r epublicano, c o m a a s c e n ç a o dos libe

/ *

rais ao poder, l a n ç o u u m p r o j e t o u t o p i c o b a s e a d o no ideário' p o s i t i v i s t a , q u e r e n d o r o m p e r com os laços s o c i o - p o í i t i c o s e- x is t e n t e s . Isto não a c onteceu, pois, a o p o s i ç ã o tanto dos

Referências

Documentos relacionados

Destinatários: 12 aos 18 anos Número mín: 15 adolescentes Número máx: 25 adolescentes Número de Monitores: 2 Duração: visita+oficina aproximadamente 3 horas Horários:

Este seguro prevê e regula a inclusão, automática dos cônjuges dos Segurados Principais que estejam em perfeitas condições de saúde, na qualidade de Segurados

Os sete docentes do cur- so de fonoaudiologia pertencentes à FMRP publica- ram mais artigos em periódicos não indexados no ISI, ou seja, em artigos regionais e locais, tais como:

Seu comportamento constante é de incentivo e motivação, dando instruções sobre como atender os desafios organizacionais, bem como incentivos emocionais para que o seu funcionário dê

O teste de tetrazólio é resultado de muitas pesquisas e sua aplicação em embriões zigóticos para estudo da viabilidade de sementes de coqueiro é importante por possibilitar

a) A DIRPS divulgará o resultado da prova escrita e a data e horário para que os candidatos possam fazer vista da mesma, cabendo interposição de recurso, endereçado à

Geral Utilizar a técnica da gaiola catódica para em seguida, avaliar a cinética de deposição de filmes finos de cobre, através do jato interno e externo da gaiola catódica, alterando

Porém, durante uma análise inicial de ementas das disciplinas e os resultados obtidos na sala de aula, o Cálculo Diferencial e Integral (CDI) mostra-se como uma