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Determinantes do voto nas eleições para o senado federal: cenários de 2002 a 2010.

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO Centro de Filosofia de Ciências Humanas

Departamento de Ciência Política

Programa de Pós-Graduação em Ciência Política Mestrado Interinstitucional com o Instituto Federal de

Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso

Laura Caroline Aoyama Barbosa

Determinantes do voto nas eleições para o Senado Federal: cenários de 2002 a 2010

Recife 2013

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Determinantes do voto nas eleições para o Senado Federal: cenários de 2002 a 2010

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco - Mestrado Interinstitucional com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso como parte dos requisitos para a obtenção do título de mestre em Ciência Política.

Área de Concentração: Política Eleitoral Orientador: Prof. Dr. Adriano Oliveira

Recife 2013

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Ata da Reunião da Comissão Examinadora para julgar a Dissertação da aluna Laura

Caroline Aoyama Barbosa, intitulada: “Determinantes   do   voto   nas   eleições   para   o   Senado  Federal:  cenários  de  2002  a  2010”, para obtenção do grau de Mestre em Ciência

Política pelo Mestrado Interisntitucional – MINTER UFPE/IFMT.

Às 16 horas do dia 29 de agosto de 2013, no Auditório de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco, reuniram-se os membros da Comissão Examinadora para defesa de Dissertação da Mestranda Laura Caroline Aoyama Barbosa, intitulada: “Determinantes  do  

voto nas eleições para o Senado Federal: cenários  de  2002  a  2010”, para obtenção do grau

de mestre em Ciência Política pelo Mestrado Interinstitucional - MINTER UFPE/IFMT, composta pelos professores doutores: Adriano Oliveira dos Santos (Orientador), Ricardo

Borges Gama Neto (Examinador Interno) e Michelle Vieira Fernandez de Oliveira (Examinadora Externa). Sob a presidência do primeiro, realizou-se a arguição da candidata

Laura Caroline Aoyama Barbosa. Cumpridas todas as disposições regulamentares, a Comissão Examinadora considera a Dissertação APROVADA. E nada mais havendo a tratar, eu, Daniel Neto Bandeira, secretário do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco lavrei a presente Ata que dato e assino com os membros da Comissão Examinadora. Recife, 29 de agosto de 2013.

__________________________________________ Daniel Neto Bandeira (Secretário)

____________________________________________ Profº Dr. Adriano Oliveira dos Santos (Orientador)

___________________________________________________ Profº Dr. Ricardo Borges Gama Neto (Examinador Interno)

___________________________________________________________ Profª Dra. Michelle Vieira Fernandez de Oliveira (Examinadora Externa) _____________________________________________

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DEDICATÓRIA Aos meus pais...

Adaptado de texto de autor desconhecido Pais nossos de todos os dias,

Imagem e semelhança Daquele lá do céu. Seres especiais, companheiros fiéis...

Fonte de amor, de esperança e de sabedoria! Tudo que sei e sou, aprendi com eles. Ensinaram-me dando exemplos, fazendo! Assim cresci, fazendo e aprendendo, sempre vendo em vocês, modelos, amigos. Seres insubstituíveis!

De vocês, trago no sangue e no nome, gotas e pedacinhos, verdadeiros símbolos de amor e de carinho, que se integraram à minha vida, fazem parte do meu ser.

Peço ao bom Deus que também é Pai, que os acompanhe e abençoe em todos os momentos da vida e da eternidade.

Pai e Mãe, obrigado pela vida. Obrigada por construírem meu caráter e meus valores. Obrigada por acreditarem, investirem e sonharem os meus sonhos.

Dedico esta conquista à minha mãe Reico, companheira de todas as horas e ao meu pai Francineto que há 13 anos cuida de mim ao lado de Deus.

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AGRADECIMENTOS

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida, que o mais importante é o decidir. Cora Coralina

Tantas pessoas passam por nossa vida, uns por poucos minutos, outros por uma vida inteira. Durante esses dois anos, descobri colaboradores e torcedores que eu sequer imaginava que iam fazer parte dessa conquista. Sou grata a Deus por ter colocado cada um deles no meu caminho.

Sou grata a Deus por estar ao meu lado em todos os momentos, pelos sorrisos e lágrimas, pelas perdas e ganhos. Sem dúvida, não sou a mesma pessoa que começou este programa de Mestrado Interinstitucional de Ciência Política. Descobri que a busca pela felicidade e pelo conhecimento é um caminho feito pelos sucessos e fracassos de cada dia.

Se enxerguei um pouco mais longe foi por estar sobre os ombros de gigantes. Isaac Newton

Sou grata à minha família pela torcida, por compreender minhas ausências e por colaborar com os sorrisos, as mensagens de otimismo nos momentos difíceis e pelos maravilhosos almoços de domingo. Sou grata especialmente à minha única irmã Leila Cristina, mestre e doutoranda em Educação, pelos conselhos, a preocupação e por revisar meus textos. Falar que te amo e te admiro já virou lugar-comum. Mana, obrigada por seu carinho e generosidade!

Sou grata a toda equipe da Universidade Federal de Pernambuco. Aos docentes que me apresentaram à Ciência Política e mostraram-se receptivos e pacientes às minhas dúvidas e pouca experiência. Ao meu orientador, Dr Adriano Oliveira sempre atencioso e preocupado, por sua influência decidi me aprofundar na Política Eleitoral, área com que mais me identifiquei desde o princípio. Ao Dr Enivaldo Rocha, admirável pesquisador e ser humano, agradeço por nos acolher tão bem em Recife e por participar da banca que qualificou meu projeto. Ao incomparável Dr Dalson Figueiredo Júnior, por sua disposição em me orientar nas análises estatísticas, mesmo preparando sua tese de doutorado. À Sueli, eterna secretária do programa, sempre pronta a colaborar através de seus e-mails, sem palavras para agradecê-la.

Sou grata aos amigos, alguns tornaram-se mais próximos, outros fizeram aumentar meu carinho e admiração. Carlos Câmara, Willian de Paula e Leone Covari obrigada por me incentivarem desde sempre a fazer pós-graduação e pela solidariedade com os problemas

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pessoais que enfrentei. Mano Thaleu Leonardo, meus pais do coração Dalci e Gildo e vovó Bela, a família que Deus me permitiu escolher. Dejenana e Natacha, obrigada pelo companheirismo, os quatro meses que passei em Recife não seriam tão bons e proveitosos sem vocês. Aos meus colegas do programa, especialmente Edna, Danilo e Thiago Marinho, que tive o privilégio de conhecer melhor em nossa convivência na UFPE e em Boa Viagem. A colega Lílian Maria, que também está na luta pelo mestrado na área de Informática e virou “piolho”  de  aeroporto  em  busca  desta  conquista,  admirável  seu  esforço.  

Sou grata aos colegas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Mato Grosso. Ao reitor, professor José Bispo Barbosa, que sempre me perguntava como estava indo meu mestrado, enfim estou finalizando. Às equipes da Pró-Reitoria de Pesquisa e a Diretoria de Pesquisa do Campus Cuiabá pelo suporte e apoio. Aos meus colegas do Campus Rondonópolis, servidores e terceirizados, por compreenderem e colaborarem nos momentos em que precisei deixar meu trabalho, especialmente à equipe do Departamento de Administração e Planejamento que tive a honra de chefiar. Ao Diretor Geral, professor Pedro José de Barros pela paciência e confiança e sua esposa Mazé pelo carinho. Aos mais que colegas, Flaviane Alvares, João Batista, Gabriela Rodrigues, Izabel Kamilla, Itamar Valério, Natalícia Marques, Ana Maria Zahner e Celeste Novaga (minha tradutora oficial). Aos novos amigos Márcio Gomes, Diogo Segalen, Diego Carneiro e Maria José Camargo com quem estou preparando meu primeiro evento científico.

Sou grata à equipe médica que esteve comigo, desde o diagnóstico da fibromialgia, do TAG (Transtorno de Ansiedade Generalizada) e nos momentos críticos da depressão. Dr César Rodrigues Neto, psiquiatra e conselheiro. Minha reumatologista, Dr Julianne Mazuco, depois de dez anos de peregrinação, enfim um diagnóstico e um tratamento eficaz. E a minha terapeuta Edivanéia, ou simplesmente Diva, sua ajuda foi fundamental para que eu conseguisse concluir este trabalho. Não é fácil falar das nossas fraquezas, mas este capítulo também faz parte da minha história, é preciso lembrar os momentos difíceis, para não esquecer as lições aprendidas.

Sou grata ao Kiko, com quem dividi profundamente a minha vida por mais de quatro anos. A história que vivemos contribuiu profundamente para o meu amadurecimento. Afinal, bem  definiu  o  poeta  Mário  Quintana  “a  vida  é  breve  e  o  amor,  mais  breve  ainda”.

Tenho certeza que deixei de mencionar alguém, já fica registrado um pedido de desculpas e o meu muito obrigada!

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“Fazer uma tese significa divertir-se,  e  a  tese  é  como  um  porco:  nada  se  desperdiça” Umberto Eco

“[...]  Meu  fado é o de não entender quase tudo. [...] Sobre o nada eu tenho profundidades. Não cultivo conexões com o real.

Para mim, poderoso não é aquele que descobre ouro,

Poderoso  para  mim  é  aquele  que  descobre  as  insignificâncias:  (do  mundo  e  nossas)”.

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RESUMO

Pesquisas demonstram que, entre os cargos públicos eletivos dos Poderes Executivo e Legislativo, as atribuições destinadas aos senadores foram as menos lembradas. E não sabendo o que realmente faz um senador da república, torna-se ainda mais difícil para o eleitor, escolher o candidato que melhor representa os interesses da coletividade, tornando mais forte o poder do carisma individual e a influência dos partidos. Atualmente, a Ciência Política brasileira tem produzido muitos estudos sobre o legislativo nacional, todavia, a maioria das análises têm na Câmara Federal seu objeto principal; já o Senado Federal tem despertado pouco interesse dos pesquisadores. O desinteresse tanto por parte dos eleitores, quanto dos estudiosos, está na contramão da importância da casa legislativa para a democracia brasileira. Já os partidos políticos, conscientes da necessidade de manterem uma bancada no Senado Federal para que a sigla tenha mais visibilidade e influência nas decisões do governo, em suas coligações, além de escolher os indivíduos com maior possibilidade de serem eleitos, mobilizam em torno da campanha eleitoral grande energia e interesse político. Assim, diante da importância do Senado Federal e da falta de estudos específicos de como eleitor escolhe seus representantes, investigamos, entre os determinantes clássicos de voto, quais influenciaram efetivamente a escolha dos senadores nas três últimas eleições (2002, 2006 e 2010) em todos os Estados brasileiros e no Distrito Federal. O resultado da análise demonstra que aspectos como o apoio do governador e do presidente eleitos tem grande peso na escolha dos representantes do senado federal em todo o país. E reforça que as eleições majoritárias têm aspectos e fatores diferentes das eleições proporcionais.

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ABSTRACT

Research shows that, among the public elected officials of the executive and legislative branches, the Senate’s  allocations were the least remembered. And not knowing what really makes a Senate of the Republic, it becomes even more difficult for the voters choose the candidate who best represents the community interests, making stronger the power of individual charisma and influence of the parties. Currently, the Brazilian Political Science has produced many studies of the national legislature, however, most analyzes have in Congress its principal object, since the Senate has aroused little interest from researchers. The lack of interest by both voters, as researchers, is against the importance of the legislative house to Brazilian democracy. On the other hand, the political parties, aware of the need to maintain a bench in the Senate, so that the acronym has more visibility and influence on government decisions in their coalitions, besides choosing individuals with a greater chance of being elected, mobilized around election campaigns great energy and political interest. Thus, considering the importance of the Senate and the lack of specific studies of how voters choose their representatives, we investigated, among classical determinants of voting, which effectively influenced the choice of senators in the last three elections (2002, 2006 and 2010) in all Brazilian states and the Federal District. The result of analysis shows that aspects such as the support of the governor and the president-elect have great weight in the choice of Federal Senate representatives all over the country. And this reinforces that majoritarian voting system have different aspects and factors from proportional elections. Keywords: Brazilian electoral politics, elections for senate, vot

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Quadro 1 – Eleitos para Governador nas eleições de 2002...37 Quadro 2 - Eleitos para o Governo Estadual em 2006...48 Quadro 3 – Eleitos para o Governo Estadual em 2010...57

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Eleitos para o Senado Federal em 2002 ...42 Tabela 2 - Eleitos para o Senado Federal em 2006 ...47 Tabela 3 - Eleitos para o Senado Federal em 2010 ...52 Tabela 4 - Taxa do sucesso eleitoral dos candidatos a senador nos anos de 2002, 2006 e 2010,

segundo o apoio ao governador eleito e em exercício e ao presidente eleito. ...68 Tabela 5 - Taxa do sucesso eleitoral dos candidatos a senador em 2002, segundo o apoio ao

governador eleito e em exercício e ao presidente eleito. ...69 Tabela 6 - Taxa do sucesso eleitoral dos candidatos a senador em 2006, segundo o apoio ao

governador eleito e em exercício e ao presidente eleito. ...71 Tabela 7 - Taxa do sucesso eleitoral dos candidatos a senador em 2010, segundo o apoio ao

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DEM - Democratas

FHC – Fernando Henrique Cardoso PAN – Partido dos Aposentados da Nação PC do B - Partido Comunista do Brasil PCB – Partido Comunista Brasileiro PCO – Partido da Causa Operária PDT – Partido Democrático Trabalhista PEN – Partido Ecológico Nacional PFL – Partido da Frente Liberal

PGT – Partido Geral dos Trabalhadores PHS – Partido Humanista da Solidariedade PL – Partido Liberal

PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMN – Partido da Mobilização Nacional

PP – Partido Progressista

PPB – Partido Progressista Brasileiro PPL – Partido Pátria Livre

PPS – Partido Popular Socialista PR – Partido da República

PRONA – Partido de Reedificação da Ordem Nacional PRB – Partido Republicano Brasileiro

PRN – Partido da Reconstrução Nacional PRP – Partido Republicano Progressista

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PSB – Partido Trabalhista Brasileiro PSC – Partido Social Cristão

PSD – Partido Social Democrático

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PSDC – Partido Social Democrata Cristão PSL – Partido Social Liberal

PSOL – Partido Socialismo e Liberdade PST – Partido Social Trabalhista

PSTU – Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado PT – Partido dos Trabalhadores

PT do B – Partido Trabalhista do Brasil PTB – Partido Trabalhista Brasileiro PTC – Partido Trabalhista Cristão PTN – Partido Trabalhista Nacional PV – Partido Verde

TRE – Tribunal Regional Eleitoral TSE – Tribunal Superior Eleitoral

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ... x

LISTA DE TABELAS ... xi

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ... xii

APRESENTAÇÃO ...15

1 INTRODUÇÃO ...17

2. O QUE DIZ A LITERATURA DA CIÊNCIA POLÍTICA BRASILEIRA SOBRE OS ESTUDOS ELEITORAIS ...20

2.1 O Senado Federal: algumas informações básicas ... 20

2.2 Voto e Racionalidade ... 22

2.3 O comportamento eleitoral no Brasil ... 25

2.3.1 O voto no candidato populista ... 26

2.3.2 O voto de acordo com a sofisticação política do eleitor. ... 27

2.3.3 A identificação ideológica como determinante do voto ... 29

2.3.4 O voto flutuante, volúvel e mudancista ... 30

2.3.5 O voto por avaliação de desempenho ... 32

2.3.6 A influência da emoção no comportamento do eleitor ... 33

2.4 As particularidades das eleições para o Senado Federal: levantamento de possíveis determinantes do voto ... 36

3 OS DETERMINANTES DO VOTO NAS ELEIÇÕES PARA O SENADO FEDERAL ...39

4.1.1 Eleições 2002 ... 40

4.1.2 Eleições 2006 ... 44

4.1.3 Eleições 2010 ... 49

4.2 Organização dos dados e escolha do método de análise ... 66

4.3 Análise das variáveis ... 67

4.3.1 Sucesso eleitoral em 2002 ... 68 4.3.2 Sucesso eleitoral em 2006 ... 70 4.3.3 Sucesso eleitoral em 2010 ... 71 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...75 REFERÊNCIAS ...78 ANEXOS...80

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APRESENTAÇÃO

Em relação ao comportamento do eleitor brasileiro, um diagnóstico recorrente na mídia e em parte da literatura especializada, é de que o mesmo é irracional, personalista e de pouca sofisticação política, de maneira que há influência muito mais de sua emoção e intuição para escolher seus eleitos. Comparado ao americano, que defende as cores e os valores de seu partido, seja Republicano ou Democrata, o eleitor brasileiro é considerado desinformado e desinteressado sobre as posições políticas dos partidos e não sabe avaliar quais são os que têm ideais semelhantes aos seus.

Desinformado ou não, o fato é que o eleitor faz suas escolhas, muitas vezes baseadas em critérios subjetivos e personalistas, não levando em consideração a representatividade do partido ou da coligação. Um exemplo da crise de representatividade por qual o Brasil passa, são as manifestações populares ocorridos no primeiro semestre de 2013. Além disso, o Índice de Confiança Social, medido em pesquisa divulgada pelo Ibope em 1º de agosto deste ano, apontam que os partidos políticos aparecem como a instituição em que os brasileiros menos confiam.

Todavia, ao analisarmos os determinantes clássicos do voto, percebe-se que a maioria dos eleitores baseia-se em um conjunto variado de informações e pistas. E será especificamente as variáveis que compõe o sucesso de uma candidatura nas eleições para o Senado Federal o objeto deste trabalho, sendo elas: o apoio aos candidatos eleitos para Presidente da República e Governador, o apoio ao governador em exercício, o apoio ao candidato a governador que tenta a reeleição.

Lavareda e Telles (2011, p. 369) sinalizam que os padrões diferenciados utilizados pelo eleitor para votar em cada uma das esferas eleitorais, é uma questão pouco debatida pela literatura brasileira.

Seja porque sua identidade com os partidos, embora suficientemente intensa para um nível, não faz sentido para outro, seja porque questões conjunturais podem ser mais consideradas para o cálculo do voto em um plano político ou, ainda, porque, apesar da sofisticação, ideologia e racionalidade, o eleitor seria motivado a utilizar distintas informações para alimentar sua decisão em cada um dos níveis das eleições: local, estadual e nacional.

Convém também lembrar que a escolha dos candidatos, pelo eleitor, também obedece critérios distintos em eleições para cargos proporcionais e majoritários.

Dessa forma, o trabalho realizado nesta pesquisa foi o de, através do teste sistemático de diversas hipóteses existentes na literatura, utilizando dados das três últimas eleições para o Senado Federal, verificar a existência de fatores que sejam relevantes nas três,

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simultaneamente, buscando, uma medida aproximada do grau de influência de cada um deles na decisão do voto.

Como não existem pesquisas específicas sobre os determinantes do voto para o Senado Federal, na primeira parte deste trabalho faremos um levantamento bibliográfico dos determinantes clássicos do voto no Brasil.

Na segunda parte, apresentaremos detalhadamente as variáveis escolhidas para aferir o sucesso eleitoral dos candidatos a senador e analisaremos os dados das três últimas eleições tendo como base, o contexto nacional de cada pleito e as alianças feitas entre os candidatos às eleições majoritárias. Assim, através de um conjunto de dados, demonstraremos de forma sistemática a tese de que o apoio do presidente e do governador é relevante no sucesso eleitoral de uma candidatura ao Senado, além de apontar alguns fatores que pesam nessa avaliação.

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1 INTRODUÇÃO

Em uma democracia representativa em que os papéis dos Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) estão bem definidos, parece fácil definir a função de cada membro. Contudo, muitos cidadãos, alguns inclusive com diploma universitário, têm dificuldade em respondê-la, principalmente no que tange ao papel dos senadores.

Em uma pesquisa realizada por Lourenço (2007, p. 100) durante as eleições de 2006, o eleitor comum foi indagado sobre a função dos cargos públicos eletivos (presidente, governador, deputado federal, deputado estadual e senador). As respostas foram vagas e imprecisas na diferenciação de alguns cargos, sendo que as atribuições destinadas ao senador foram as menos lembradas:

E a senhora sabe o que faz um senador? Não, diretamente assim não.

E qual a ideia que a senhora tem do que ele faz? Não tenho a mínima ideia.

E não sabendo o que realmente faz um senador da república, torna-se ainda mais difícil, para o eleitor, escolher o candidato que melhor representa os interesses da coletividade, tornando mais forte o poder do carisma individual e a influência dos partidos.

Atualmente, a Ciência Política brasileira tem produzido muitos estudos sobre o legislativo nacional. Todavia, a maioria das análises têm na Câmara Federal seu objeto principal, já o Senado Federal tem despertado pouco interesse dos pesquisadores, conforme constatado por Carreirão (2010, p. 99):

Enquanto a Câmara Federal brasileira tem sido bastante analisada, o Senado tem sido pouco contemplado pelos estudos mais recentes na Ciência Política brasileira, tanto no que se refere à arena parlamentar (grau de fragmentação do sistema partidário-parlamentar, coalizões governativas, disciplina partidária, tipo de produção legislativa, etc), quanto no que se refere à arena eleitoral (volatilidade eleitoral, estratégias dos partidos nas disputas eleitorais, etc).

Esse "desinteresse" pelo Senado Federal, tanto por parte dos eleitores, quanto dos estudiosos, está na contramão da importância da casa legislativa para a democracia brasileira, cujo mandato dos eleitos é de oito anos e a proporcionalidade da representação é a mesma para todos os estados da federação.

Já os partidos políticos, conscientes da necessidade de manterem uma bancada no Senado Federal, para que a sigla tenha mais visibilidade e influência nas decisões do governo, em suas coligações, além de escolher os indivíduos com maior possibilidade de serem eleitos, mobilizam em torno da campanha eleitoral destes, grande volume de publicidade, investimentos financeiros consideráveis, momentos exclusivos no Horário Gratuito de

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Propaganda Eleitoral e acionam os candidatos a presidente e governador para interceder pelo candidato a senador junto aos eleitores.

Os governadores, conforme veremos neste trabalho, são os grandes "cabos eleitorais" dos senadores, pois estes representam a Federação, por isso, há o mesmo número de eleitos para cada um dos 26 Estados e o Distrito Federal, totalizando 81 representantes. Assim, a eleição do senador de sua coligação, representa para o governador, além da demonstração do poder do seu capital político, o aumento de sua capacidade de governabilidade devido a presença de aliados próximos no Senado Federal.

Não obstante, os estudos que analisam a relação de causalidade entre a eleição do governador e do senador de uma mesma coligação são escassos no Brasil. A literatura recente tem discutido se as diferenças ideológicas entre os partidos se manifestam através das coligações partidárias (em ações e opiniões de seus membros). Em um dos trabalhos recentes sobre o tema, Carreirão (2010, p. 100) analisa as estratégias dos partidos brasileiros ao lançar candidatos ao Senado, em todos os Estados, entre 1990 e 2006, tendo como pano de fundo a influência da ideologia das siglas na consistência (ou não) das coligações. O autor defende que os pactos políticos visando a eleição para o Senado são imprescindíveis para os partidos, porém reconhece que este não foi o alvo de sua pesquisa:

Quanto a polaridade governo/oposição, há estudos recentes que verificam se as alianças formadas em torno do governo federal ou dos governos estaduais influenciariam as estratégias coligacionistas nas eleições municipais. Embora julguemos que a influência dos alinhamentos em torno dos governadores sobre as coligações realizadas para o Senado possa até ser maior do que aquela das alianças em âmbito federal, só esta última será objeto de investigação aqui, por limitações de tempo da pesquisa.

Investigar a importância do apoio do governador na eleição do senador e demonstrar os fatores que influenciam neste processo, em cada estado brasileiro, é algo que demanda tempo e uma imensa gama de informações que, ao serem analisadas, podem colaborar, na arena eleitoral, para identificar o pensamento do eleitor brasileiro e o direcionamento de seu voto. E na arena legislativa, permite uma análise dos rumos das ações e decisões do senador, tendo em vista a influência do governador que colaborou para elegê-lo.

Assim, diante da ausência de pesquisas na área e da riqueza que o estudo sobre o Senado Federal trará para a Ciência Política, defendemos o ineditismo deste trabalho e aceitamos o desafio de investigar quais fatores foram significativos para a eleição dos senadores de todos os Estados brasileiros e do Distrito Federal nas três últimas eleições (2002, 2006 e 2010),   para   assim   podermos   “iniciar”   a   abertura   da “caixa   preta”   do   voto   para   o  

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senador e, dessa forma, como já foi feito nas eleições presidenciais, estabelecermos parâmetros  para  analisar  se  o  senador  eleito  recebeu  votos  de  acordo  com  os  “determinantes   clássicos”  ou  se  houve  a  interferência  do  “acaso”  na  decisão  do  eleitor.

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2. O QUE DIZ A LITERATURA DA CIÊNCIA POLÍTICA BRASILEIRA SOBRE OS ESTUDOS ELEITORAIS

Em uma eleição, o eleitor é personagem principal. Toda a campanha de um candidato, desde a sua plataforma até a forma como sua imagem é vinculada no Horário Gratuito de Propaganda Eleitoral visa conquistar o voto dos cidadãos. Desta forma, Lourenço (2007,  p.  33)  considera  que  “a  explicação  da  direção  do  voto  (o  porquê  de  um  eleitor  votar   num   determinado   candidato/partido)   é   uma   das   grandes   questões   da   Ciência   Política”.   Ao   descobrir   “a   lógica   do   voto”, partidos, candidatos e pesquisadores tem nas mãos um conhecimento privilegiado que pode mudar o resultado de uma eleição, os rumos de uma campanha eleitoral e até uma teoria já construída sobre as razões para a decisão do voto. Todavia, Balbachevsky e Holzhacker (2004, p. 242), alertam que “apesar da compreensão desse processo ser o objetivo primordial da análise do comportamento eleitoral, as respostas a esta questão tendem a gerar polêmica entre os especialistas”.

Estando nosso trabalho relacionado à forma como os eleitores escolheram os seus representantes nas eleições para o Senado Federal nos últimos 11 anos, e havendo muitas dúvidas, por parte do eleitor, do papel dos senadores no Poder Legislativo, primeiramente faremos um breve relato das atribuições do Senado Federal de acordo com a Constituição Brasileira. Em seguida, levantaremos uma revisão da literatura na área de estudos eleitorais, iniciando por uma breve discussão sobre voto e racionalidade, para depois analisarmos os fatores clássicos, já definidos em outros trabalhos da Ciência Política, que caracterizam o comportamento eleitoral no Brasil, sendo que estes serão nosso ponto de partida para levantarmos as variáveis a serem analisadas nas três últimas eleições (2002, 2006, 2010) para o Senado Federal.

2.1 O Senado Federal: algumas informações básicas

Uma das casas do Congresso Nacional, ao lado da Câmara dos Deputados, o Senado Federal foi criado em 1824, com a primeira Constituição do Império e sua primeira sessão ocorreu em maio de 1826.

Dos representantes dos três poderes, o Senado Federal é o que aparece em menor relevância, no que tange ao conhecimento de sua história as atribuições por parte dos cidadãos. Assim, faremos um breve relato de seu papel, desde os deveres mais amplos - como

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a de legislar sobre temas de interesse nacional e fiscalizar a aplicação dos recursos públicos - como os de sua exclusiva competência.

A representatividade do Senado é federativa, por isso, há o mesmo número de representantes para cada um dos 26 Estados e o Distrito Federal, totalizando 81 senadores, conforme os Artigos 44 e 46 da Constituição Federal (1988):

Art. 44. O Poder Legislativo é exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da

Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos.

Art. 46. O Senado Federal compõe-se de representantes dos Estados e do Distrito

Federal, eleitos segundo o princípio majoritário.

§1º Cada Estado e o Distrito Federal elegerão três Senadores, com mandato de oito

anos.

§ 2ºA representação de cada Estado e do Distrito Federal será renovada de quatro em

quatro anos, alternadamente, por um e dois terços.

§ 3º Cada Senador será eleito com dois suplentes.

O  Senado  Federal,  apesar  de  ocupar  uma  posição  de  “coadjuvante”  na  memória  da   maioria dos brasileiros, tem uma inquestionável importância política, possuindo funções legislativas de caráter mais geral que são compartilhadas com a Câmara dos Deputados; outras são de sua exclusiva competência, como as descritas no Art. 52 da Constituição Federal:

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

I- processar e julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos crimes de responsabilidade e os Ministros de Estado nos crimes da mesma natureza conexos com aqueles;

II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade;

III - aprovar previamente, por voto secreto, após arguição pública, a escolha de: a) magistrados, nos casos estabelecidos nesta Constituição;

b) Ministros do Tribunal de Contas da União indicados pelo Presidente da República;

c) Governador de Território;

d) presidente e diretores do Banco Central;

e) Procurador-Geral da República;

f) titulares de outros cargos que a lei determinar;

IV - aprovar previamente, por voto secreto, após argüição em sessão secreta, a escolha dos chefes de missão diplomática de caráter permanente;

V- autorizar operações externas de natureza financeira, de interesse da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;

VI- fixar, por proposta do Presidente da República, limites globais para o montante da dívida consolidada da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; VII- dispor sobre limites globais e condições para as operações de crédito externo e

interno da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, de suas autarquias e demais entidades controladas pelo poder público federal;

VIII- dispor sobre limites e condições para a concessão de garantia da União em operações de crédito externo e interno;

IX- estabelecer limites globais e condições para o montante da dívida mobiliária dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;

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X- suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada inconstitucional por decisão definitiva do Supremo Tribunal Federal;

XI- aprovar, por maioria absoluta e por voto secreto, a exoneração, de ofício, do Procurador-Geral da República antes do término de seu mandato;

XII- elaborar seu regimento interno;

XIII- dispor sobre sua organização, funcionamento, polícia, criação, transformação ou extinção dos cargos, empregos e funções de seus serviços e fixação da respectiva remuneração, observados os parâmetros estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias;

XIV- eleger membros do Conselho da República, nos termos do art. 89, VII.

Parágrafo único. Nos casos previstos nos incisos I e II, funcionará como Presidente

o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.

O Regimento Interno do Senado Federal foi autorizado pela Resolução do Senado Federal nº 93, de 1970, publicado em conformidade com a Resolução do Senado Federal nº 18, de 1989, consolidado com as alterações decorrentes de emendas à Constituição, leis e resoluções posteriores, até 2010 (Publicado no Diário Oficial da União de 01.02.2011, Seção 1, página 4).

Para celebrar seus 189 anos, a Casa Legislativa lançou o livro O Senado Federal em

perguntas e respostas, com informações gerais sobre sua história e funcionamento. O formato

em perguntas e respostas foi pensado para tornar a leitura mais dinâmica. A obra está disponível em formato digital, no site do Senado Federal.

Ainda como forma de divulgar sua importância e os trabalhos desenvolvidos, o Senado Federal conta com vários canais de comunicação com o povo, como a TV Senado, a Rádio Senado, o Jornal do Senado, além de um portal na Rede Mundial de Computadores – Internet.

2.2 Voto e Racionalidade

Não há povo amorfo. Não há massa bruta e indiferente. A massa é formada de homens e a natureza de todos os homens é a mesma: dela é a paixão, a gratidão, a cólera, o instinto de luta e o instinto de defesa. Rachel de Queiroz

O economista Anthony Downs criou uma das teorias clássicas sobre racionalidade na política, valendo-se de conceitos da teoria econômica tradicional. No trabalho Uma teoria

econômica da Democracia (1999), a política partidária ocupa um lugar central em seu

pensamento sobre os problemas dos Estados democráticos, procurando entender como age a racionalidade entre os atores políticos (partidos, candidatos e eleitores). Segundo seu pensamento: a) o governo arregimenta apoio político visando sua reeleição, b) os partidos políticos buscam os votos e candidatos em condição de eleger-se, e c) os eleitores devem

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decidir em quem votar e buscar uma forma de influenciar diretamente na formulação das políticas de governo. A linha de pensamento de Downs ficou conhecida como rational choice. Através desta teoria pode-se prever cursos de ações que obedecem a padrões estabelecidos no interior de uma determinada lógica.

Para Downs (1999, p. 28) um homem racional é aquele que se comporta segundo cinco fatores:

1. toma sempre uma decisão quando confrontado com uma gama de alternativas; 2. consegue classificar todas as alternativas diante de si em ordem de preferência, elencando diferenças entre cada uma delas (preferida ou indiferente, superior ou inferior);

3. seu ranking de preferências é transitivo;

4. sempre escolhe, entre as alternativas disponíveis, a primeira colocada em seu ranking de preferência;

5. mantém a coerência, tomando sempre a mesma decisão, quando confrontado com as mesmas alternativas.

Lourenço (2007, p. 35), enfatiza que a teoria política de Downs faz uma comparação à  economia,  pois,  “o  voto  passa  a  ter  uma  similaridade  com  a  moeda,  e  as  políticas  expostas   nas plataformas eleitorais dos partidos se assemelham a produtos dentro do que podemos chamar  de  mercado  eleitoral”.  Todavia,  por  ser  uma  “escolha  racional”,  o  grande  objetivo  a   ser alcançado por todos os envolvidos no processo, é sem dúvida, a satisfação de interesses específicos. Balbachevsky e Holzhacker (2004, p. 243), percebem que para a corrente do pensamento racional o voto adquire um caráter instrumental:

A   escola   da   “escolha   racional”   tende   a   enfatizar   a   racionalidade   da   decisão   do   eleitor. O voto tem um caráter instrumental, o que vale dizer que, para esta escola, o eleitor é capaz de reconhecer seus interesses e, em função disto, escolher o candidato que pareça melhor representar seus objetivos (ENELOW & HINICH 1984). Muitos críticos apontam uma dificuldade intrínseca a este modelo, qual seja, a capacidade variável que cada eleitor tem para manipular a informação política. A resposta para esta   crítica   apontam   para   “redutores”   do   custo   da   informação:   a   ideologia   para   Downs (1957) ou a avaliação retrospectiva do desempenho do governo (FIORINA, 1981).

Posteriormente, ao discutirmos sobre o comportamento do eleitor brasileiro, retomaremos  a  questão  dos  “redutores”  mencionados  por  Balbachevsky  e  Holzhacker.

Não é de hoje que a questão da racionalidade do eleitorado é levantada pela Ciência Política e a teoria de Downs não finalizou este debate; conforme aponta a literatura, suscitou dúvidas, críticas e novas teorias. E o eleitor preconizado por Downs dificilmente seria

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encontrado na grande massa de votantes da atualidade, sendo que, segundo alguns pesquisadores, o grande problema é a desinformação do cidadão no momento de fazer suas escolhas eleitorais.

Para levantar se as intenções de um candidato atendem suas expectativas, o eleitor deve ter, à sua disposição, um elevado número de informações, entender como funciona o processo eleitoral democrático e ser capaz de analisar o contexto político e econômico do momento. Campbel (1960) e Converse (1964), apud Lourenço (2007, p. 37) classificam o eleitor   médio   como   incapaz   de   julgar   adequadamente   as   “ações   políticas   e   de   viabilizar   racionalmente suas escolhas eleitorais, concluindo que apenas uma pequena parcela do eleitorado  poderia,  de  fato,  ser  tida  como  racional,    informada  e  interessada”.

E   o   “desinteresse”   do   eleitor   parece   não   limitar-se a fronteiras geográficas ou econômicas, pois, Newman (1986) apud Lourenço (2007, p. 37) percebe atitude parecida no eleitor   médio   americano   que   ele   descreve   como   “desinteressado,   com   baixo   grau   de   informação política, sem opinião sobre assuntos políticos, com baixa estruturação do pensamento político,  entre  outras  características”.

Essa constatação de Newman derruba uma ideia que já tornou-se  “lugar  comum”,  de   que a falta de racionalidade política seria atributo dos eleitores de países em desenvolvimento, como o Brasil, e que nações com sistemas de governo e economias consolidados seriam melhores servidas de cidadãos aptos para escolher partidos e candidatos com posições e interesses mais próximos dos seus.

O eleitor brasileiro é visto, tanto pela mídia quanto pela literatura acadêmica, como irracional  e  “personalista”,  que  para  Carreirão  (2002,  p.  17)  “a  partir  não  da  sua  racionalidade   mas  de  sua  emoção  ou  ‘intuição’,   faria  uma  escolha,  ‘personalista’,  buscando  um  candidato   ‘carismático’   (cuja   ‘imagem’   seria   forjada   pelos   meios   de   comunicação     e   pelo marketing político)”.

Oliveira, Romão e Gadelha (2012, p. 192) também defendem a importância da imagem do candidato para explicar a escolha eleitoral:

As circunstâncias políticas, sociais, econômicas e administrativas fornecem subsídios para que o estrategista identifique a imagem que o candidato deve apresentar para o eleitorado. É necessário que o estrategista de um competidor identifique previamente os qualificativos que os eleitores desejam de um futuro prefeito, presidente da República ou governador, do mesmo modo aqueles que os eleitores atribuem aos competidores. Esses qualificativos fazem parte, ou melhor, dão vida à imagem do competidor.

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Contudo, o fato é que mesmo com um conjunto limitado de questões para guiar suas preferências e valorizando  fatores  subjetivos,  como  “a  imagem”,  o  eleitor  faz  suas  escolhas  e   neste processo alguns fatores são determinantes para o voto em um determinado candidato ou partido em detrimento dos outros.

2.3 O comportamento eleitoral no Brasil

Conforme já mencionamos anteriormente, a diminuição da identificação partidária no eleitorado é uma realidade marcante das democracias ocidentais na atualidade. Assim, identifica-se na maioria dos eleitores uma propensão a orientar seu voto utilizando um conjunto limitado de questões, o que, segundo Balbachevsky e Holzhacker (2004, p. 243) “trouxe   de   volta   para   o   centro   das   análises   a   importância   das   questões   políticas   e   sua   relevância  para  explicar  as  flutuações  de  curto  prazo  na  decisão  eleitoral”.

Carreirão (2002, p. 18) em uma pesquisa sobre o voto do brasileiro para Presidente da República, identificou que:

A maioria dos eleitores, qualquer que seja sua escolaridade, utiliza sua avaliação de características dos candidatos vistas como relevantes para governar, especialmente sua capacidade administrativa, sua honestidade (não ser corrupto) e sua credibilidade (o cumprimento de promessas), tal como as avalia.

Balbachevsky e Holzhacker (2004, p. 244) também realizaram uma investigação para entender a decisão de voto dos eleitores para presidente do Brasil:

A hipótese subjacente ao presente estudo é que é possível compreender o voto como uma ação social, tal como foi definida por Touraine (1965). Assim, as motivações subjacentes à decisão do eleitor são variadas, mas obedecem a um padrão bastante definido, que pode ser compreendido considerando-se três estratégias possíveis: a expressão de uma identidade com o candidato (ou com as forças políticas que o apóiam, especialmente seu partido), o seu potencial de oposição e a sua credibilidade como político capaz de realizar os objetivos que o eleitor valoriza. Observa-se, dessa forma, a existência de fatores que determinam o pensamento do eleitor,  todavia,  Balbachevsky  e  Holzhacker  (2004,  p.  245)  levantam  o  problema  de  que  “os   estudos sobre o comportamento eleitoral no Brasil vêm se aprimorando lentamente e esbarram frequentemente na falta de dados consolidados que permitam comparar a evolução do comportamento   e   preferência   dos   eleitores   brasileiros   ao   longo   do   tempo”.   Além   disso,   a grande maioria das investigações científicas trabalha com as eleições presidenciais, o que deixa as pesquisas para os outros cargos públicos ainda mais escassas. Como iremos

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investigar o comportamento do eleitor na escolha do senador, e não foi possível identificar teses específicas sobre o tema, iremos apresentar brevemente as principais teorias recentes que procuram explicar o voto do brasileiro, tendo como base as eleições para presidente. 2.3.1 O voto no candidato populista

Segundo essa teoria, o candidato  populista,  que  tem  como  "slogan”  de  campanha  a   defesa dos interesses do povo, tem a preferência dos eleitores pertencentes as classes sociais mais baixas e de menor escolaridade.

Mas, quem são os populistas na atual conjuntura política brasileira? Apesar das “táticas  populistas”  fazerem  parte  da  campanha  de  candidatos  de  partidos  das  mais  diversas   ideologias, atualmente nenhum deles assume este perfil publicamente. Devido a esta postura, Ferreira (2001, p. 124) discorre que a identificação depende do lugar político em que o personagem que acusa se encontra:

Para os conservadores, populismo é o passado político brasileiro, são políticas públicas que garantam os direitos sociais aos trabalhadores, são modelos de economia e de sociedade que, na Europa Ocidental, ficaram conhecidos como

Estado de Bem-Estar Social; outros talvez, diriam que populista é aquele que, diante

dos pobres, diz que ser rico é chato. O populista portanto, é o adversário, o concorrente, o desafeto. O populista é o Outro. Trata-se de uma questão eminentemente política e, muito possivelmente, político partidária, que poderia ser enunciada da seguinte maneira: o meu candidato, o meu partido, a minha proposta política não são populistas, mas o teu candidato, o teu partido e a tua proposta política, estes, sim, são populistas. Populista é sempre o Outro, nunca o Mesmo. O historiador brasileiro Jacob Gorender em entrevista à Folha da História (1997, nº 11, p. 8), discorre sobre a versão atual do populismo, denominada neopopulismo, na qual

[...]o poder executivo toma para si a ideia e a prática de uma acentuada personalização e autonomia, além de tentar, tal como os moldes tradicionais do populismo, harmonizar as diferentes classes sociais e capital e trabalho em torno de um compêndio comum. Nação, por exemplo.

Apesar   da   “nova   versão”   o   populismo continua baseado na emoção, no intenso trabalho da mídia e em discursos e atitudes inflamadas, por parte do candidato, em que este se “indigna”   com   o   abismo   que   separa   ricos   e   pobres,   se   colocando como defensor dos oprimidos e marginalizados.

Este tipo de candidatura, segundo Castro (1994) apud Carreirão (2002, p. 25), ganha destaque em momentos políticos em que as taxas de identificação partidária são baixas, pois, a referência dos eleitores das classes populares desvincula-se da figura do partido e das ideias defendidas por ele e passa a ser a imagem do candidato. Essa constatação demonstra que a

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eleição deste tipo de candidato não é aleatória e imprevisível, mas que há um fator determinante para   este   fenômeno,   que   pode   ser   definido   como   “a   imagem   que   o   candidato   consegue  transmitir,  entre  estes  eleitores,  de  defensor  privilegiado  dos  interesses  dos  ‘pobres’,   dos  ‘trabalhadores’,  da  ‘maioria  da  população’”.

Castro (1994) não reconhece essa condição   de   voto   como   “populista”,   pois,   não   admite  que  ela  é  baseada  apenas  na  emoção  (na  relação  entre  o  povo  e  seu  “salvador”),  em   detrimento da razão. O autor considera como um sinal de enfraquecimento dos partidos políticos, destacando que nos momentos da história política do Brasil em que o sistema partidário se manteve consolidado, a escolha do eleitorado era coerente com a sua situação social, elegendo partidos que defendiam seus interesses e aponta que foi justamente nos momentos de grandes mudanças políticas do sistema partidário que a escolha dos representantes dos poderes tornou-se dependente da posição social, do grau de escolaridade e do grau de sofisticação política dos eleitores.

Em momentos em que há uma crise de representatividade, o talento pessoal e o carisma do candidato tornam-se mais importante que a legenda que ele representa. Diante desta situação, a eleição depende muito mais da opinião que o eleitor tem do candidato, do seu desejo de mudança, de transformação da realidade, do que propriamente da sigla partidária e da ideologia que representa.

O grau de sofisticação política é, aliás, tido como um fator determinante do voto, sendo nosso próximo objeto de discussão.

2.3.2 O voto de acordo com a sofisticação política do eleitor.

Os eleitores não deveriam escolher representantes que fossem, tanto quanto possível, semelhantes a eles. Deveriam escolher governantes com capacidade de tomar decisões. Maurice Duverger

A sofisticação política é considerada, pela literatura como um dos principais fatores que determinam o comportamento eleitoral, pois, ela orienta a percepção dos eleitores sobre a posição dos candidatos. Carreirão (2002, p. 26) a define como:

[...] um construto que inclui as seguinte dimensões: saliência (que inclui aspectos como o interesse e o envolvimento políticos e a exposição aos meios de comunicação);;  “conhecimento  da  política”  (em  geral  medidos  a  partir  de  questões  de  

surveys sobre o governo, personalidades políticas e issues políticos)   e   “capacidade  

de conceituação política”   (que   envolve,   de   um   lado,   capacidade   de   diferenciar   os   diversos atores do processo político e, de outro, a capacidade de organizar as idéias políticas em termos de construtos abstratos ou ideológicos).

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Retomando a discussão sobre voto e racionalidade, o grau de sofisticação política está relacionado ao grau de informação política do indivíduo. Castro (1994, p. 208 apud Carreirão 2002, p. 27) descreve que este:

[...] varia segundo o grau de sofisticação política. Eleitores de baixa sofisticação política têm uma imagem da posição dos candidatos que, para o eleitor informado e atento, poderia ser considerada como distorcida, equivocada. Podem identificar como defensores dos interesses populares candidatos que o eleitor sofisticado dificilmente perceberia dessa maneira.

A defesa do eleitor em relação à falta de informação política é o que Downs chama de  “redutores”  do  custo  da  informação.  Um  deles  é  a  ideologia,  que, para o autor, é apenas um meio para se obter o poder, servindo como imagem para a boa sociedade e as formas para se chegar até ela.

Analisando o pensamento de Downs, Lourenço (2007, p. 36) afirma que a questão fundamental,

[...] estaria colocada pelas dimensões espaciais de disputas entre os partidos, cuja lógica explicativa dar-se-ia através de uma identificação entre eleitores e partidos políticos. Os eleitores observariam e se identificariam com a posição adotada e defendida por um partido, num dado espaço de competição e assim votariam nele. Quanto maior a proximidade entre as posições defendidas por um partido e aquelas valorizadas por um eleitor, maiores as chances de o partido obter o voto do eleitor. Isso, é claro, se o partido em questão detiver também chances de vencer; caso contrário,   o   eleitor   tenderá     a   “votar   em   outro   com   chances razoáveis, a fim de impedir  que  vença  o  partido  que  menos  apóia”  (Downs,  1999,  p.  70).  Mas,  mesmo   sem chances de vitória, o eleitor pode agir racionalmente, votando no partido com o qual   mais   se   identifica,   melhorando   ”as   alternativas   abertas   a   ele   (partido) em eleições  futuras”  (Downs,  1999,  p.  57).

Outro redutor do custo da informação é a avaliação retrospectiva do desempenho do governo, isto é, o eleitor tende a votar no candidato da situação, quando a avaliação do governo é positiva, pois, esta escolha transmite a ideia de continuidade. Rocha (2008, p. 36) alerta  que  essa  conclusão  demonstra  um  certo  grau  de  “miopia”  do  eleitor:

Ou seja, sem enxergar bem a longas distâncias, pois lhes falta informação e previsibilidade, o eleitor vota informado pela crença de que estará dando continuidade a algo que, pelo menos no atacado, lhe parece conveniente e racional escolher. Assim, além da ideologia, a avaliação retrospectiva, baseada no desempenho do governante que está no posto é, em última análise, uma fonte barata de informação. Nesse sentido, o fato do candidato ter o apoio de governantes bem avaliados  e  de  se  posicionar  “ideologicamente”  de  maneira  clara  e  de  tal  forma  que   possa baixar o custo da informação para ao seu eleitor nos parece uma estratégia bastante eficiente.

A avaliação de desempenho é uma das teses que compõe o comportamento eleitoral no Brasil, todavia, esta, sem dúvida, está relacionada ao grau de sofisticação política do

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eleitor, ou a falta dela. Sem meios e informações suficientes para analisar com coerência cada candidatura,   o   eleitor   tende   a   “perceber”   nos   interesses   defendidos   por   certos   candidatos,   independente   de   preferências   partidárias,   a   sua   intenção   de   voto.   Ou   seja,   “é   o   eleitor   que,   tendo escolhido o candidato por outras razões, imputa a ele as suas próprias (dele, eleitor) posições”  Carreirão  (2002,  p.  28).

Essa atitude demonstra um baixo grau de sofisticação política de uma parcela do eleitorado, gerando uma distorção entre as reais intenções do candidato e as qualidades atribuídas a ele pelo eleitor.

2.3.3 A identificação ideológica como determinante do voto

A identidade ideológica do eleitor é uma característica relacionada a conceituação política do indivíduo. Para determiná-la são utilizados conceitos de psicologia social que buscam identificar quais características da personalidade do indivíduo estão relacionadas ao ambiente em que foi criado e as suas experiências em sociedade. Neste sentido, segundo Rocha (2008, p.18):

[...] as predisposições individuais seriam reveladas, sobretudo, por pesquisas de opinião.  A  centralidade  no  indivíduo  e  a  “conceituação  política”  desse  indivíduo  são   os elementos centrais da teoria que explica o voto. Ser liberal ou conservador, por exemplo, tornaria possível a identificação ideológica do eleitor com seu candidato. Em última análise, o componente psicológico seria o determinante do voto.

Como determinante do voto, a noção ideológica não exige alta sofisticação. Em relação a este fator, destaca-se o estudo realizado por Singer, que defini a identificação ideológica  como  “a  adesão  a  uma  posição  no  contínuo  esquerda-direita ou liberal-conservador que, mesmo sendo difusa, isto é, cognitivamente desestruturada, sinaliza uma orientação política  geral  do  eleitor”  (Singer,  1998,  p.  43  apud  Carreirão, 2002, p. 29).

Através de respostas de survey, em que o eleitor declara seu posicionamento entre esquerda e direita, Singer define a identificação ideológica. A partir destas informações, o autor conclui que os eleitores não sabem definir, teoricamente, o que seja esquerda e direita. Todavia, mesmo sem dominar esses conceitos, ele é capaz de utilizá-los para definir qual candidato ou partido apoiar.

Estando   a   identificação   ideológica   associada   a   “visão   de   mundo”   do   eleitor   e   a   estímulos (acontecimentos) de curto prazo, como o caso da avaliação retrospectiva do desempenho do governo, a partir da análise dos dados das eleições presidenciais de 1989 e 1994, Singer verificou que havia uma pré-disposição das classes mais baixas em eleger o

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candidato da direita e das classes da elite em votar na esquerda. Este fato pode, segundo o autor, ser atribuído ao sistema político incipiente, em que os partidos consolidados e que conseguem relevância, independente de seu posicionamento político representam uma referência importante.

Ao analisar a questão ideológica frente à preferência do eleitor, convém valorizar a colaboração teórica de Singer, pois até a divulgação de seus estudos, este era um fator irrelevante para determinar o comportamento eleitoral. Carreirão (ibidem, p. 32), considera que o autor exagera na importância deste determinante, todavia, admite que, ele consegue demonstrar  que  certas  “predisposições  políticas”   tem  um   peso  próprio   nas  urnas.     Assim,   a   variável ideológica merece ser aprofundada, todavia, é preciso considerar suas limitações ao explicar o comportamento do eleitor.

2.3.4 O voto flutuante, volúvel e mudancista

O eleitor que não vincula seu voto a identificação partidária, ideológica ou política é chamado por Flávio Silveira, em sua tese de  doutorado,  de  “novo  eleitor  não  racional”,  sendo   este   “expressão   dos   tempos   atuais   da   mídia   eletrônica,   do   marketing   político   e   do   poder   sedutor  das  imagens”  (Silveira,  1998  apud  Radman,  2001,  p.  100).

A redemocratização do país e as transformações ocorridas tanto na área política, quanto econômica e no acesso à informação, ocasionaram, também, mudança na forma como o eleitor se comporta e faz suas escolhas. Silveira (1998) visualiza nesta nova fase um declínio na identificação e compromisso partidário do eleitor e, consequentemente, no grau de importância da posição social do indivíduo. Assim, o novo eleitor não racional, pauta suas escolhas em função de sua intuição, da imagem do candidato e da emoção que este transmite. O eleitor não vinculado a lideranças e partidos, age de forma autônoma, estabelecendo identificações pontuais e fugazes, principalmente com candidatos, tendo em vista os seus atributos simbólicos. Capta na mídia as imagens que necessita, para através de um juízo de gosto, escolher os candidatos considerados autênticos detentores das características simbólicas valorizadas (Silveira, 1998, p. 247 apud Radman, 2001, p. 101).

Silveira enfatiza em sua pesquisa que esta não é a única modalidade de escolha utilizada pelos eleitores, correspondendo a um comportamento particular que não pode ser generalizado como dominante e reconhece a existência de outros princípios orientadores da decisão eleitoral, apesar de destacar que os antigos comportamentos eleitorais não-racionais, pautados em características como lealdade, dependência, devoção, carisma, compromisso partidário, tradição, costumes e trocas clientelistas perderam a importância, mas ainda se

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mantêm na vida política do nosso país. Todavia é preciso reconhecer que este tipo de modalidade de escolha está em crescimento sendo que o voto, decidido a partir destes critérios,   é   considerado   pela   literatura   como   flutuante,   volúvel   e   mudancista,   pois,   o   “novo   eleitor  não  racional”  tem  baixa informação e saber político:

[...] suas idéias políticas são fragmentárias e logicamente desarticuladas, daí, porque ele é incoerente do ponto de vista político e volúvel eleitoralmente, Além disso, este eleitor escolhe basicamente a partir das imagens dos candidatos formadas a partir de informações fornecidas pela mídia e pelo marketing político, atribui maior importância, na sua escolha, aos elementos valorativos e simbólicos que possuem caráter marcadamente moral, e finalmente, toma suas decisões de forma marcadamente intuitiva e emocional, consultando sua sensibilidade. (Carreirão, 2002, p. 34)

Retomando a discussão sobre outro fator determinante da escolha eleitoral, Silveira atribui o voto volúvel, definido em função da imagem dos candidatos, à baixa sofisticação política da maioria dos eleitores do Brasil,  sendo  que  estes  “definem  seu  voto  de  uma  forma   sensível e emocional em função de atributos simbólicos dos candidatos e das imagens difusas da  campanha  eleitoral”  (Radman,  2001,  p.  102)

Silveira alerta que as escolhas dos eleitores são contraditórias aos olhos da lógica política, apontando que a incoerência é a regra e a coerência é a exceção. O eleitor não toma sua decisão de forma coerente, articulada   a   objetivos   e   interesses,   pelo   contrário,   o   “novo   eleitor   não   racional”   escolhe   basicamente   a   partir   das ‘imagens   dos   candidatos”,   que   ele   constrói,  tendo  sempre  como  referência  a   imagem  do  político  ideal”.  Silveira  constatou,  em   sua pesquisa, que os atributos mais valorizados pelo eleitor na escolha do candidato são honestidade e competência.

Assim, os eleitores com baixa sofisticação política concebem suas escolhas a partir de critérios morais, relacionados ao comportamento e a imagem do candidato, não se preocupando em avaliar sua proposta política, ideologia e interesses. Como se a campanha eleitoral fosse  uma  batalha  dos  “bons  contra  os  maus”.  

Para   Silveira,   esta   “nova   mentalidade”   do   eleitor   é   fruto   de   mudanças   políticas   e   tecnológicas nas campanhas eleitorais. A influência da mídia eletrônica e o crescimento do marketing político mudaram a forma dos candidatos se apresentarem ao eleitor, enfocando o lado pessoal e os atributos individuais em detrimento da ideologia partidária. Esta nova concepção tem levado a um processo de personalização da política, em que a decisão do eleitor   “processa-se de forma intuitiva com base em elementos de sua sensibilidade e capacidade  de  experimentar  e  julgar  sentimentos  e  emoções”  (Radman  2001,  p.  103).

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Todavia,  é  importante  ressaltar  que  o  “eleitor  não  racional”  valoriza  a  imagem  e  os   atributos individuais do candidato, sua volatilidade política é alta, mudando de opinião sempre que fisgado pela sensibilidade, intuição, gosto e emoção. Assim, diante deste novo cenário o comportamento volúvel do eleitor pode mudar os rumos de uma eleição e a posição dos atores políticos, devido a fatores conjunturais da campanha, perfil do candidato e fatores simbólicos ou morais.

2.3.5 O voto por avaliação de desempenho

O comportamento do eleitor nas urnas pode sofrer influência da avaliação que este faz dos envolvidos no pleito, sendo que existem diferentes tipos de observações que podem influenciar na decisão eleitoral, sendo:

1. Avaliação do desempenho do candidato;

2. Avaliação do desempenho (atuação) do governo atual; 3. Avaliação da política econômica aplicada;

4. Avaliação sobre o desempenho passado (voto retrospectivo); 5. Avaliação sobre o desempenho futuro (voto prospectivo).

Rubens Figueiredo (1994) enfatiza a importância do perfil do candidato e cita, como exemplo, a vitória de Fernando Henrique Cardoso nas eleições presidenciais de 1994. Neste caso específico FHC tinha a seu favor o impacto positivo do Plano Real (avaliação favorável da   política   econômica   aplicada)   e   a   “imagem”   do   “candidato   ideal”   que   representava   a   continuidade de um projeto de sucesso. O comportamento do eleitor, nesta ocasião, foi o de não  trocar  “o  certo  pelo  duvidoso”.  A  proposição  do  autor  é  a  de  que  o  eleitor,  diante  de  um   contexto  político  determinado,  tende  a  conceber  o  perfil  de  “candidato  ideal”  para  satisfazer   as necessidades daquele momento.

Ainda citando a primeira eleição de FHC, além de este demonstrar ser o mais preparado   para  o   cargo   de   presidente,   “um   dos   grandes   anseios   do   eleitorado   era   ter   como   candidato   alguém   que   projetasse   estabilidade   para   o   futuro”   (Figueiredo,   1994,   p.   78   apud   Carreirão, 2002, p. 37), ou seja, ao criar expectativas de um bom desempenho de FHC ao exercer o mandato, o eleitor já fazia uma análise dos ganhos futuros de sua escolha e depositava no candidato do PSDB um voto prospectivo.

Caminhando um pouco mais na história das eleições presidenciais brasileiras, temos a situação oposta com a candidata Dilma Roussef no pleito de 2010, em relação a imagem de “candidata  ideal”.  Sem  antecedentes  de  atuação  em  cargos  públicos  eletivos,  a  representante  

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do PT, contou explicitamente com a boa avaliação pública do governo Lula, seu principal cabo eleitoral, para garantir a vitória nas urnas. Foram decisivas para Dilma, a avaliação do governo e da política econômica aplicada, principalmente no início da disputa, quando os fatores emocionais não aproximavam o eleitor da imagem da candidata. A eleição da petista representou a ideia de continuidade do crescimento econômico iniciado pelo governo Lula, ou seja, foi uma escolha eleitoral retrospectiva, pois partiu da avaliação do desempenho do governo que estava deixando o Palácio do Planalto.

Assim, além de agregar votos para si, um candidato bem avaliado pelo eleitor pode colaborar na vitória dos candidatos a quem declarar seu apoio, esse fenômeno é chamado por Lavareda   (2011,   p.   15)   de   “capacidade   de   transferência   de   votos”,   sendo   que   o   maior   expoente deste fator determinante do voto foi o ex-presidente Lula no pleito presidencial de 2012.

Todavia, de acordo com a literatura especializada, o caso da eleição presidencial de 1994 é um dos melhores exemplos de como a avaliação de desempenho pode decidir uma eleição, pois o candidato Fernando Henrique Cardoso conseguiu agregar à sua campanha o peso do sucesso do Plano Real, a imagem de ministro da Fazenda competente e homem público mais bem preparado para governar o país, caracterizando a orientação personalista, em detrimento da força partidária.

2.3.6 A influência da emoção no comportamento do eleitor

Em seu livro Emoções Ocultas e Estratégias Eleitorais, o cientista político Antonio Lavareda discorre sobre emoção e razão nas campanhas eleitorais e relata sobre a avalanche de sentimentos que sua primeira participação em uma campanha eleitoral causou, quando ainda estava na 4ª série primária e impunha um broche em forma de espada dourada como correligionário do Marechal Teixeira Lott, candidato a presidente da república derrotado por Jânio Quadros em 1960.

Aquele ano marcaria o despertar o meu interesse pela política. [...] Depois como professor, continuei me aprofundando sobre o tema, do qual me tornaria consultor, trabalhando em dezenas de campanhas. Por quê? Eu já dei muitas explicações “racionais”  sobre  isso.  Mas,  hoje,  tenho  certeza  de  que  a  verdadeira  resposta  está  na   emoção do garoto que usava na gola aquela pequena espada dourada. Lavareda (2009, p. 13-14)

A literatura especializada levanta vários fatores que determinam o voto, sendo que alguns foram discutidos neste trabalho, todavia, a emoção é algo que transcende expectativas, projeções e previsões. A criatura humana como ser social está suscetível ao apelo da emoção,

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