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Prevalência da doença pulmonar obstrutiva crónica em Lisboa, Portugal: estudo burden of obstructive lung disease

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Academic year: 2021

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www.revportpneumol.org

ARTIGO

ORIGINAL

Prevalência

da

doenc

¸a

pulmonar

obstrutiva

crónica

em

Lisboa,

Portugal:

estudo

Burden

of

Obstructive

Lung

Disease

C.

Bárbara

a,c,∗

,

F.

Rodrigues

a,c

,

H.

Dias

a,d

,

J.

Cardoso

a,e

,

J.

Almeida

a,f

,

M.J.

Matos

a,g

,

P.

Simão

a,h

,

M.

Santos

a,i

,

J.R.

Ferreira

a,j

,

M.

Gaspar

k

,

L.

Gnatiuc

b

e

P.

Burney

b

aAdvisoryBoarddoProjetoBurdenofObstructiveLungDisease-Portugal,SociedadePortuguesadePneumologia,Portugal bNationalHeartandLungInstitute,ImperialCollege,London,ReinoUnido

cServic¸odePneumologiaII,CentrodeEstudosDoenc¸asCrónicas,HospitalPulidoValente,CentroHospitalardeLisboaNorte

---E.P.E.,FaculdadedeCiênciasMédicas,UniversidadeNovadeLisboa,Lisboa,Portugal

dEscolaSuperiordeTecnologiadaSaúdedeLisboa,InstitutoPolitécnicodeLisboa,Lisboa,Portugal

eServic¸odePneumologia,HospitaldeSantaMarta,CentroHospitalardeLisboaCentral---E.P.E.,FaculdadedeCiênciasMédicas,

UniversidadeNovadeLisboa,Lisboa,Portugal

fServic¸odePneumologia,HospitaldeSãoJoão,Porto,Portugal

gServic¸odePneumologia,HospitaisUniversitáriosdeCoimbra,Coimbra,Portugal

hServic¸odePneumologia,UnidadeLocaldeSaúdedeMatosinhos,HospitalPedroHispano,Matosinhos,Portugal iServic¸odePneumologia,CentroHospitalardeCoimbra,Coimbra,Portugal

jServic¸odePneumologia,LaboratóriodeFunc¸ãoPulmonar,HospitaldasForc¸asArmadas,Lisboa,Portugal kDepartamentodeMedicina,BoehringerIngelheimLda.,Lisboa,Portugal

Recebidoa30dedezembrode2011;aceitea7denovembrode2012

PALAVRAS-CHAVE

Prevalênciada doenc¸apulmonar obstrutivacrónica; EstudoBurdenof ObstructiveLung Disease;

Obstruc¸ãodasvias aéreas

Resumo

Introduc¸ão: A prevalênciadadoenc¸apulmonar obstrutivacrónica(DPOC) apresenta valores muitoheterogéneosemtodoomundo.AiniciativaBurdenofObstructiveLungDisease(BOLD) foidesenvolvidaparaqueaprevalênciadaDPOCpossaseravaliadacommetodologia uniformi-zada.OobjetivodesteestudofoiestimaraprevalênciadaDPOCemadultoscom40oumaisanos numapopulac¸ãoalvode2700000habitantesnaregiãodeLisboa,deacordocomoprotocolo BOLD.

Métodos: Aamostrafoiestratificadadeformaaleatóriamultifaseadaselecionando-se12 fre-guesias.Oinquéritocompreendiaumquestionáriocominformac¸ãosobrefatoresderiscopara aDPOCedoenc¸arespiratóriaautoreportada;adicionalmente,foiefetuadaespirometriacom provadebroncodilatac¸ão.

Resultados: Foram incluídos 710 participantes com questionário e espirometria aceitáveis. AprevalênciaestimadadaDPOCnapopulac¸ãonoestadioGOLDI+foide14,2%(IC95%:11,1; 18,1)ede7,3%noestadioii+(IC95%:4,7;11,3).Aprevalêncianãoajustadafoide20,2%(IC95%: 17,4;23,3)noestadioi+ede9,5%(IC95%:7,6;11,9)noestadioii+.AprevalênciadaDPOCno estadioGOLDII+aumentoucomaidade,sendomaiselevadanosexomasculino.Aprevalência ∗Autorparacorrespondência.

Correioseletrónicos:cristina.barbara@chln.min-saude.pt,cbarbara@netcabo.pt(C.Bárbara).

0873-2159/$–seefrontmatter©2011SociedadePortuguesadePneumologia.PublicadoporElsevierEspaña,S.L.Todososdireitosreservados. http://dx.doi.org/10.1016/j.rppneu.2012.11.004

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estimada da DPOC no estadio GOLD I+ foi de 9,2% (IC95%: 5,9; 14,0) nos não fumadores versus27,4%(IC95%:18,5;38,5)nosfumadorescomcargatabágica de20 UnidadesMac¸o Ano.Detetou-seumafracaconcordânciaentreareferênciaadiagnósticomédicoprévioeo diagnósticoespirométrico,com86,8%desubdiagnósticos.

Conclusões:OachadodeumaprevalênciaestimadadaDPOCde14,2%sugerequeestaéuma doenc¸acomumnaregiãodeLisboa,contudocomumaelevadaproporc¸ãodesubdiagnósticos. Estesdadosapontamparaanecessidadedeaumentarograudeconhecimentodosprofissionais de saúdesobre aDPOC, bemcomo a necessidadede maiorutilizac¸ão daespirometria nos cuidadosdesaúdeprimários.

©2011SociedadePortuguesa dePneumologia.Publicado porElsevier España,S.L.Todosos direitosreservados. KEYWORDS ChronicObstructive PulmonaryDisease prevalence; BurdenofObstructive LungDisease; Airwayobstruction

ChronicObstructivePulmonaryDiseasePrevalenceinLisbon,Portugal:TheBurden

ofObstructiveLungDiseaseStudy

Abstract

Background: ThereisagreatheterogeneityintheprevalenceofChronicObstructivePulmonary Disease(COPD)demonstratesagreatheterogeneityacrosstheworld.TheBurdenofObstructive LungDisease(BOLD)initiativewasstartedtomeasuretheprevalenceofCOPDinastandardized way.WeaimedtoestimatetheprevalenceofCOPDinPortugueseadultsaged40yearsorolder ofatargetpopulationof2,700000intheLisbonregion,inaccordancewithBOLDprotocol.

Methods:A stratified, multi-stagerandom sampling procedurewas used which included 12 districts.The surveyincludedaquestionnairewithinformationonriskfactorsforCOPDand reportedrespiratorydiseaseandapost-bronchodilatorspirometryperformedatsurveycentres.

Results:Forthe710participantswithquestionnairesandacceptablespirometry,theoverall weightedprevalenceofGOLDstageI+COPDwas14.2%(95%C.I.11.1,18.1),andstageII+was 7.3%(95%C.I.4.7,11.3).Unweightedprevalencewas20.2%(95%C.I.17.4,23.3)forstageI+and 9.5%(95%C.I.7.6,11.9)forstageII+.PrevalenceofCOPDinGOLDstageII+increasedwithage andwashigherinmen.TheprevalenceofGOLDstageI+COPDwas9.2%(95%C.I.5.9,14.0)in neversmokersversus27.4%(95%C.I.18.5,38.5)inthosewhohadsmoked>20pack-years.The agreementbetweenpreviousdoctordiagnosisandspirometricdiagnosiswaslow,with86.8%of underdiagnosedindividuals.

Conclusions:The14.2%ofCOPDestimatedprevalenceindicatesthatCOPDisacommondisease intheLisbonregion.Inaddition,alargeproportionofunderdiagnoseddiseasewasdetected. ThehighprevalenceofCOPDwithahighlevelofunderdiagnosis,pointstotheneedofraising awarenessofCOPDamonghealth professionals,andrequiresmoreuseofspirometryinthe primarycaresetting.

© 2011SociedadePortuguesa dePneumologia. Publishedby Elsevier España,S.L.All rights reserved.

Introduc

¸ão

A doenc¸a pulmonar obstrutivacrónica (DPOC) foi a sexta causademortemaiscomumnomundoem1990, prevendo-se que em 2030 seja a terceira1, estando em quarto lugar nos países desenvolvidos2---5 com aproximadamente 2,75milhõesdemortesporano,oque setraduzem4,8% dototaldemortes5.

AprevalênciadaDPOCnapopulac¸ãogeralaumenta subs-tancialmente nos indivíduos com mais de 40 anos para valoresacimade10%eaumentaconsideravelmentecoma idade4.

Em Portugal, os últimos dados de prevalência publica-dos eram de 5,34%6 e baseavam-se num estudo de 2002. No entanto, este estudo apresentava algumas limitac¸ões metodológicasrelacionadas não sócom o diminuto inter-valo etário estudado (35-69 anos), mas também com o critério utilizado para a definic¸ão de obstruc¸ão das vias aéreas (critério da relac¸ão fixa FEV1/FVC<70% avaliada

antes do broncodilatador) devido à ausência de teste de broncodilatac¸ão.Narealidade,osestudosepidemiológicos que excluem as faixas etárias mais elevadas (acima dos 70anos)tornam-selimitadosumavezqueaesperanc¸amédia de vida em Portugal é superior a 70 anos (76 e 82 anos, respetivamenteparaosexomasculinoefeminino)7.

Poroutro lado,a prevalênciadaDPOCnomundovaria consideravelmentedevidonãosóadiferenc¸as metodológi-cas amostrais e decritérios dediagnóstico, mastambém devidoadiferenc¸asnoshábitostabágicos.

Arealizac¸ãodeestudosrigorososdeprevalênciadaDPOC é de extrema importância para que se obtenham novas projec¸ões doimpacto destapatologia em cada país, bem comoparaauxiliarosresponsáveisdesaúdepúblicano pla-neamentoenarespostaàcrescenteutilizac¸ãoderecursos desaúde.

AtravésdainiciativaBurdenofObstructiveLungDisease (BOLD)desenvolveram-semétodosnormalizadospara esti-maraprevalênciadaDPOC.Estametodologiapodeserusada

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Prevalênciadadoenc¸apulmonarobstrutivacrónicaemLisboa,Portugal:estudoBurdenofObstructiveLungDisease 3 empaísesdetodososníveisdedesenvolvimentopara

ava-liaraprevalênciadaDPOCnomundoe osseusfatoresde riscoem adultoscom40e maisanosdeidade,bemcomo parainvestigaravariac¸ãona prevalênciaentrepaísespor idade, géneroe hábitostabágicos8. Nototal,20 países completaram a suaparticipac¸ão utilizando a metodologia BOLD,estandoaindaemcursonoutrostantos9.

O objetivodesteestudo foio deestimara prevalência daDPOCnumaamostrarepresentativadeadultosnão insti-tucionalizados,com40oumaisanos,habitantesnaregião deLisboa,Portugal,utilizandoaespirometriacomprovade broncodilatac¸ão(pós-BD),deacordocomoprotocoloBOLD.

Material

e

métodos

Foi implementado um estudo populacional, com desenho transversal,aplicadode acordocomo protocoloBOLD,já publicado10.

Todos os intervenientes (entrevistadores, técnicos e médicos)envolvidosnotrabalhodecampoforamtreinados ecertificadosnametodologiadoestudo.

Amostra

Assumindoumaamostragemcomaleatorizac¸ãosimples,foi consideradaumaamostramínimade600indivíduosparaa obtenc¸ão deumnívelde precisãoaceitável na estimativa deprevalência10.

Populac¸ãodeestudo

OestudoincidiunaregiãodeLisboacujapopulac¸ão repre-sentacerca de27% dototalda populac¸ão portuguesa, de acordo com a informac¸ão disponívelnos censos de 2007. Aáreaaestudarfoidivididaem 2zonas distintas,noque dizrespeitoàestruturademográfica,características socio-económicas,densidadepopulacionaleagressãoambiental: azonaurbana, comcercade800000residentes,e azona suburbana,comcercade1900000residentes.

A amostrafoi estratificadadeformaaleatória multifa-seada selecionando-se, numa primeira fase, 8 concelhos suburbanose4concelhosurbanos,deumtotalde173 conce-lhossuburbanose53concelhosurbanosdaregiãodeLisboa. Numasegundafaseforamselecionadosaleatoriamente,por amostragem telefónica (cobrindo mais de 90% dos habi-tantes),domicíliosdosconcelhosselecionados.Naterceira fasedeamostragem,osindivíduosdosdomicílios seleciona-dos foramconvidadosa participar setivessem 40oumais anos.Paraosparticipantesquenãoquiseramresponderao protocolocompleto(nãorespondedores)existiaum questio-nárioderecusacominformac¸ãomínima.Foicontratadoum centro profissional especializado em inquéritos para efe-tuaroscontactoseoconviteparaparticipac¸ãonoestudo. Ainformac¸ãofoirecolhidaentre16dejunhoe7de novem-brode2008.

Dos7123indivíduoscontactados2776aceitaram (tele-fonicamente) participar no estudo. Destes, 745 (27%) completaramoprotocolo(questionáriobaseeespirometria pós-BD),noentanto35participantes nãocumpriamos cri-térios dequalidade daespirometriadaAmericanThoracic

População alvo n = 7123 Recusaram ou não-respondedores n = 4347 Aceitaram participar n = 2776 Abandonos n = 1742 Dados parciais ou mínimos

n = 284 Idade inelegível n = 5 Questionário-base e espirometria pós-BD completa n = 745

Espirometria não aceitável n = 35

Respondentes com informação válida para análise

n = 710

Figura1 Amostrafinaldosparticipantesnoestudo.

Society(ATS).Destemodo,aamostraparaanálisefoi cons-tituídapor710respondentes(331dosexomasculinoe379 dosexofeminino)(fig.1).

Cadaparticipanteassinouumconsentimentoinformado tendooestudosidoaprovadopelaComissãodeÉticado Hos-pitalPulido ValenteepelaComissão NacionaldeProtec¸ão deDados(CNPD).

Espirometria

Noscentrosdeinquéritodecadaconcelhoforamrealizados portécnicostreinadosecertificadostestesdeespirometria préepós-BDcomorecursoaumespirómetronddEasyOneTM

(ndd Medizintechnik; Zurique, Suíc¸a), de acordo com as normas da ATS11. Foram realizados pelo menos 3 testes espirométricostecnicamenteaceitáveis,naposic¸ãode sen-tado,paraseobterummínimode2 testes reprodutíveis, comumavariabilidadeinferiora200ml,paraasmedic¸ões do volume expiratório forc¸ado no 1◦ segundo (FEV1) e

da capacidade vital forc¸ada (FVC). Foram administradas 2 inalac¸ões de salbutamol (200␮g) com um inalador de dosecontroladaacopladoaumacâmaraexpansora(15cm decomprimento/2,1cmdediâmetro),sendooteste repe-tido após 20min (espirometria pós-BD). As espirometrias foram definidas como aceitáveis desde que estivessem livres de artefactos, nãotivessem pausas bruscas e volu-mesdeextrapolac¸ão maiores que 5,0%daFVC ou150ml, considerando-seomaiordestes11.

Osdadosespirométricosforamenviadoseletronicamente para umcentro de controlo de qualidade da func¸ão pul-monar(CentrodeCoordenac¸ãonoReinoUnido)ondecada espirometriafoirevistaeclassificadadeacordocomasua qualidade,tendoemcontaoscritériosdoprojetoBOLD11. Ostécnicosdoestudoforammonitorizadoscontinuamente e sempre que os resultados de qualidade de um técnico

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diminuíramabaixodonívelpré-determinado,essetécnico foisubmetidoanovotreinoerecertificac¸ão.

Questionários

TodososparticipantesresponderamaosquestionáriosBOLD cominformac¸ãodemográficaeclínica,incluindoa referên-ciaacondic¸õesrespiratóriascomdiagnósticomédico10.

Os questionários originais do estudo BOLD foram tra-duzidos do inglês para o português e posteriormente retrovertidos para assegurar o seu rigor e equivalência conceptual.Osquestionários foramobtidosporentrevista presencial com técnicos treinados e certificados para o efeito. Todos os indivíduos considerados respondedores completaram o questionário base. No grupo de não res-pondedores foi preenchido o questionário de recusa com informac¸ãomínima.Osnãorespondedoreseramindivíduos elegíveis para o estudo que não responderam ao ques-tionário base ou não efetuaram espirometria pós-BD. Os respondedores completaram ambos. Todos os questioná-rios foram revistos até 48h após a entrevista, por uma equipa de 7 médicos certificados, de forma a confirmar a sua completude, rigor e consistência. Posteriormente, todaainformac¸ãorecolhida eraenviadaparaoCentrode Coordenac¸ãoBOLDnoReinoUnido,paracontrolode quali-dade.

Definic¸ões

A DPOC foi definida com base na espirometria pós-BD. De acordo com as normas da Global Initiative for COPD (GOLD)12, definiu-se obstruc¸ão das vias aéreas não total-mentereversívelcomoumvalordeFEV1/FVCpós-BD<0,7.

Estadefinic¸ãofoitambémusadaparaodiagnósticodaDPOC estadioi+.AgravidadedaDPOCfoidefinidacomoestadioii+ seovalordeFEV1pós-BDera<80%dovalorprevisto,estadio

iii+ se o valor de FEV1 pós-BD era <50% do previsto e

estadioivseovalordeFEV1pós-BDera<30%doprevisto.

Apercentagemdosvaloresprevistos13paracaucasianosde ambosossexosfoicalculadamedianteorecursoàsequac¸ões dereferênciadoNationalHealthandNutritionExamination Survey(NHANES)III13.

Em conformidadecomo protocoloBOLD,odiagnóstico daDPOCbaseou-senoscritériosdefunc¸ãorespiratória pós-BD independentemente da exposic¸ão ou não aos agentes causais8---10.

O diagnóstico médico prévio da DPOC foi considerado sempreque,noquestionário,oinquiridoreferisseter-lhejá sidodiagnosticadopelomédicoenfisema,bronquitecrónica ouDPOC.

Os indivíduos foram classificados como «fumadores atuais»,«algumavez fumadores» ou«nãofumadores». Os «algumavezfumadores»(incluindofumadoresatuaisou ex-fumadores)foramdefinidoscomoosindivíduosquefumaram maisde20mac¸osde cigarros navida oumaisdoque um cigarro por dia durante um ano. O número de Unidades Mac¸oAno(UMA)parafumadoresdecigarrosfoidefinidopela médiadonúmerodecigarrosfumadospordiadivididopor20 (ouseja,númerodemac¸osfumadospordia)vezesonúmero deanoscomofumador.

Devidoà baixaocorrênciadaDPOCestadioivna amos-trapopulacional,osestadiosiiie ivforamagregadosneste estudo.

Análiseestatística

Nestaanáliseforamincluídos710participantesportugueses quecompletaramoquestionáriobaseecomavaliac¸ões espi-rométricasapós-BDtecnicamenteaceitáveis.Osresultados são apresentadosestratificados por género, idade, UMAe valorestotais.

As estimativas de prevalência foram calculadas para a populac¸ão global de Lisboa e também para os sub-grupos definidos por género, idade e hábitos tabágicos. Verificou-se que a distribuic¸ão dos participantes respon-dentes no estudo diferia ligeiramente da distribuic¸ão da populac¸ão de Lisboa, pelo que os resultados foram ajus-tados de acordo com a idade e o género para que as estimativasdeprevalênciafossemrepresentativasdaregião de Lisboa.Noprocesso deajustamento dosresultados foi atribuídaumaponderac¸ãoacadaindivíduo,que correspon-diaaonúmerodepessoasqueesseindivíduorepresentava na populac¸ão. Desta forma, os resultados ajustados ou estimados para a populac¸ão ultrapassavam as limitac¸ões associadasàamostragem,taiscomoasdiferentestaxasde não resposta observadas ou a insuficiente abrangência dealgumassubpopulac¸ões.

As estimativas de prevalência da DPOC ajustadas à populac¸ãoecorrespondentesintervalosdeconfianc¸aa95% (IC)foramcalculadosatravésdemetodologiasaplicadas a inquéritos com o softwareSTATA(STATA Corporation, Col-lege Station,Texas,Estados Unidos).Estescálculos foram efetuadosdeformaaassegurarqueasprevalências estima-daseoscorrespondentesICa95%refletiamadequadamente odesenhoamostral.

Resultados

Natabela 1verifica-se quenãohouvediferenc¸asentreos gruposderespondedoreseosnãorespondedoresque com-pletaramoquestionáriodeinformac¸ãomínima,excetopara ogénero,emqueosnãorespondedoreseram predominan-tementedosexomasculino.

Atabela2correspondeàcaracterizac¸ãodaamostrafinal departicipantesnoestudo.Maisdemetadedos participan-tes(63,0%) tinham60oumaisanose 53,4%eramdosexo feminino.Osfumadores atuaise ex-fumadoresforammais frequentementedosexomasculino,enquantoosnão fuma-doresforammaisprevalentesnosexofeminino.Natabela 3apresentam-se asestimativasajustadas dehábitos tabá-gicos por sexo e idade (os resultados não ajustados são apresentadosnoanexoeletrónico[tabela1a]).A prevalên-cia defumadores atuais é de 17,9% (IC 95%: 12,5; 25,0). Neste grupo, os valores mais elevados de prevalência de hábitostabágicosverificaram-senosexofeminino,nogrupo comidadeentre40e 49anos(33,1%;IC95%:21,0;48,0), constatando-seumadiminuic¸ãocomaidade.Nosexo mascu-lino,aprevalênciamaiselevadaregistou-senafaixaetária dos50-59anos.Nogrupodos«algumavezfumadores»a pre-valênciamaiselevadaregistou-senosexomasculinonafaixa etáriados70oumaisanos.

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Prevalênciadadoenc¸apulmonarobstrutivacrónicaemLisboa,Portugal:estudoBurdenofObstructiveLungDisease 5

Tabela1 Comparac¸ãodaamostraderespondedoresenãorespondedoresdoBOLDPortugal

Respondedoresa Nãorespondedoresb Valordepc

Idade(anos) n=745 n=2026 40-49 99(13%) 252(12%) 0,89 50-59 174(23%) 473(23%) 60-69 217(29%) 581(29%) 70+ 255(34%) 720(36%) Sexo n=745 n=2030 Masculino 349(47%) 1086(53%) 0,002 Feminino 396(53%) 944(47%) Hábitostabágicos n=745 n=283 Fumadoratual 99(13%) 30(11%) 0,18 Ex-fumador 197(26%) 65(23%) Nãofumador 449(60%) 188(66%)

Diagnósticomédicodeasma, enfisema,bronquitecrónica ouDPOC n=743 n=283 Sim 113(15%) 33(12%) 0,15 Não 630(85%) 250(88%) Outrascomorbilidades n=745 n=283 Sim 397(53%) 159(56%) 0,41 Não 348(47%) 124(44%) Valoresapresentadosemn(%).

a Respondedoressãoindivíduosqueefetuaramespirometriapós-BDecompletaramoquestionáriobase.

b Nãorespondedoressãoindivíduoselegíveisparaoestudoquenãoresponderamaoquestionáriobase ouefetuaramespirometria

pós-BD,paraosquaisseconhecemosvaloresdestavariável.

c Valoresdepbaseadosnotestequi-quadradodePearsonbilateral.

Tabela2 Característicasdaamostradoestudo

Características Masculino Feminino Total

Sexo 331(47%) 379(53%) 710(100%) Idade(anos) 40-49 35(11%) 61(16%) 96(14%) 50-59 74(22%) 93(25%) 167(24%) 60-69 114(34%) 91(24%) 205(29%) 70+ 108(33%) 134(35%) 242(34%) Hábitostabágicos Fumadoratual 52(16%) 42(11%) 94(13%) Ex-fumador 149(45%) 41(11%) 190(27%) Nãofumador 130(39%) 296(78%) 426(60%) Sintomas Tossecrónica 20(6%) 54(14%) 74(11%)

Expetorac¸ãocrónica 38(11%) 55(15%) 93(13%)

Pieira 86(26%) 111(29%) 197(28%)

Dispneia 51(18%) 85(29%) 136(24%)

Diagnósticomédicodeasma, enfisema,bronquitecrónica

ouDPOC

48(15%) 60(16%) 108(15%)

Diagnósticomédicodeasma 35(11%) 47(12%) 82(12%)

DiagnósticomédicodeDPOC 2(1%) 2(1%) 4(1%)

Outrascomorbilidades 182(55%) 192(51%) 374(53%)

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Tabela3 Estimativadaprevalêncianapopulac¸ãodehábitostabágicos,porsexoeidade

40-49 50-59 60-69 70+ Total

Masculino

Fumadoratual 27,1(20,6;34,9) 29,5(12,8;54,3) 15,5(8,3;27,0) 11,0(3,8;28,1) 22,1(13,5;34,1) Algumavezfumador 57,7(34,5;77,9) 67,6(49,7;81,4) 53,0(40,4;65,3) 64,4(50,5;76,2) 60,7(54,3;66,7) Nãofumador 42,3(22,1;65,5) 32,4(18,5;50,3) 47,0(34,7;59,6) 35,6(23,8;49,5) 39,3(33,3;45,7)

Feminino

Fumadoratual 33,1(21,0;48,0) 12,3(7,3;19,9) 7,0(2,7;16,7) 3,0(1,0;8,6) 14,4(10,0;20,3) Algumavezfumador 51,0(34,4;67,3) 25,1(13,1;42,6) 21,6(15,4;29,4) 13,5(5,9;27,9) 28,3(21,3;36,6) Nãofumador 49,0(32,7;65,6) 75,9(57,4;86,9) 78,4(70,6;84,6) 86,5(72,1;94,1) 71,7(63,4;78,7)

Total

Fumadoratual 30,2(21,4;40,9) 20,4(12,9;30,7) 10,9(6,8;17,1) 6,0(3,1;11,5) 17,9(12,5;25,0) Algumavezfumador 54,2(40,7;67,0) 45,1(37,1;53,5) 36,0(30,2;42,2) 32,8(24,5;42,3) 42,9(36,6;49,4) Nãofumador 45,8(33,0;59,3) 54,9(46,5;62,9) 64,0(57,8;69,8) 67,2(57,7;75,5) 57,1(50,6;63,4) Estimativaajustadaàpopulac¸ão,comintervalodeconfianc¸aa95%entreparênteses.Resultadosnãoajustadosreferentesàamostrade respondedoressãoapresentadosnoanexoeletrónico.

Natabela2a(anexoeletrónico)apresentam-seas preva-lênciasnãoajustadasdaDPOCporgéneroecargatabágica, comvaloresde20,2%(IC95%:17,4;23,3)ede9,5%(IC95%: 7,6; 11,9), respetivamente para os estadios i+ e ii+. Glo-balmente, a estimativa ajustada da prevalência daDPOC na populac¸ão foi de 14,2% (IC 95%: 11,1; 18,1) para o estadioGOLDI+,comvaloresde18,7%(IC95%:12,6;26,8) nosexomasculino ede 10,5%(IC 95%:7,5; 14,7)no sexo feminino(tabela 4). Nosindivíduos que reportaram sinto-masrespiratóriosaprevalênciaestimadaparaapopulac¸ão paraoestadioi+foisuperior,comvaloresde19,9%(IC95%: 8,7;39,3)nosparticipantescomtossecrónica,de21,7%(IC 95%:13,1;33,7)paraaexistênciadeexpetorac¸ãocrónica, de23%(IC95%:17,3;29,8)parapieiraede22,7%(IC95%: 11,5;39,9)paradispneia(valoresnãoapresentados).Para oestadioGOLDII+ aprevalênciaestimadadaDPOCfoide 7,3%(IC95%:4,7;11,3)ede1,4%(IC95%:0,23;2,47)para oestadio GOLD III+,com registo devalores maiselevados

napopulac¸ãomaisidosa(+70anos:5%)eausentenogrupo 40-49anos(figs.2e3).

Deacordocomosdadosapresentadosnatabela4,a esti-mativa deprevalência daDPOC na populac¸ãofoi de 9,2% (IC 95%:5,9; 14,0) parao estadioGOLD I+nos não fuma-dores, verificando-se um aumento com a carga tabágica (UMA),atingindo 27,4%(IC95%:18,5;38,5)nosindivíduos comhábitostabágicos≥20UMA. Domesmo modo,parao estadioGOLDII+aestimativadeprevalêncianapopulac¸ão foide4,3%(IC95%:2,6;7,1)nosnãofumadoresede15,4% (IC95%;7,9;27,8)nosparticipantescomhábitostabágicos ≥20UMA.

Aprevalênciaglobalestimadadediagnósticomédico pré-vio daDPOCna populac¸ão foi muitomaisbaixa do que a detetadaatravésdaespirometria(6,3versus14,2%).A pre-valência daDPOCcom base nodiagnóstico médicoprévio nãomostrouassociac¸ão comoaumentodacargatabágica (tabela4).

Tabela4 EstimativadaprevalênciadeDPOCnapopulac¸ãodeacordocomosestadiosGOLDI+eII+,ediagnósticomédicoprévio porsexoecargatabágica(UMA)

Nãofumadores 0-10UMA 10-20UMA 20+UMA Total

GOLDestadioi+

Masculino 11,2(5,5;21,5) 19,8(6,8;45,4) 8,6(2,2;28,1) 27,9(20,4;40,0) 18,7(12,6;26,8) Feminino 8,2(4,5;12,2) 5,0(0,9;22,9) 22,6(6,3;55,7) 26,0(8,1;58,3) 10,5(7,5;14,7) Total 9,2(5,9;14,0) 11,5(4,7;25,4) 13,4(6,4;26,0) 27,4(18,5;38,5) 14,2(11,1;18,1)

GOLDestadioii+

Masculino 3,7(1,4;9,6) 3,6(0,7;17,0) 3,3(0,5;18,1) 17,2(8,6;31,5) 9,1(4,4;17,7) Feminino 4,6(2,7;7,6) 3,3(0,7;14,6) 22,6(6,3;55,7) 10,4(3,5;27,2) 5,8(3,8;8,8) Total 4,3(2,6;7,1) 3,4(1,3;8,6) 9,9(3,4;25,4) 15,4(7,9;27,8) 7,3(4,7;11,3)

Diagnósticomédicoprévio

Masculino 1,3(0,4;4,3) 3,5(0,4;23,2) 21,3(5,0;58,2) 9,8(5,1;18,1) 6,8(3,8;11,8) Feminino 5,0(3,1;8,1) 8,4(3,6;18,3) 10,9(3,1;32,2) 6,0(1,6;20,3) 5,8(4,4;7,6) Total 3,9(2,2;6,7) 6,2(2,4;15,0) 17,1(4,8;45,7) 8,8(5,9;12,9) 6,3(4,7;8,3) Estimativaajustadaàpopulac¸ão,comintervalodeconfianc¸aa95%entreparênteses.Resultadosnãoajustadosreferentesàamostrade respondedoressãoapresentadosnoanexoeletrónico.

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Prevalênciadadoenc¸apulmonarobstrutivacrónicaemLisboa,Portugal:estudoBurdenofObstructiveLungDisease 7 60% 40% 50% 30% 20% 10% 0% Prevaiência (%) 40-49 50-59 60-69 70+ Total

Grupo etário (anos)

Masculino Feminino Total

2,6% 1,4% 2,0% 11,5% 9,0%10,2% 27,0% 18,4% 10,6% 21,5% 47,2% 30,8% 18,7% 14,2% 10,5%

Figura2 PrevalênciadeDPOCnoestadioGOLDI+poridadeesexo.

DototaldeparticipantescomodiagnósticodeDPOC efe-tuadoporespirometria,86,8%nãoreferiramterdiagnóstico médico prévio (subdiagnóstico). Por outro lado, no grupo deindivíduosquereferiamterdiagnósticomédicoprévioda DPOC,em61,2%doscasos,omesmonãofoiconfirmadopela espirometria(sobrediagnóstico).

Discussão

AprincipalconclusãodonossoestudoéqueaDPOCéuma doenc¸amuitoprevalentenaregiãodeLisboa(Portugal),com umaprevalênciaestimadade14,2%em adultoscom40ou maisanos.

A prevalência global da DPOC definida pelo GOLD foi superiornosexomasculinocomparativamenteaosexo femi-nino.AprevalênciadaDPOCaumentoucomaidadeehábitos tabágicos, sendoa prevalência estimada maiselevada no sexomasculino(47,2%)com70oumaisanos.Osnossos resul-tadosconfirmamníveiselevadosdesubdiagnóstico (86,8%) evaloresinesperadamenteelevadosdeprevalêncianosnão fumadores(9,2%). 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% 40-49 50-59 60-69 70+ Total

Grupo etário (anos)

Prevalência (%)

Estadio l+ Estadio Il+ Estadio IIl+

2,0% 10,2% 18,4% 30,8% 14,2% 6,6% 10,2% 14,6% 7,3% 1,1% 5,0% 1,4%

Figura3 EstimativadeprevalênciadaDPOCporidadee gra-vidade.

A quantificac¸ão da prevalência da DPOC é importante para documentar os efeitos desta patologia na incapaci-dade, qualidadede vida e custos de saúdeque lhe estão associados, mas também para alertar os governos e as autoridades de saúde pública de forma a que o seu pla-neamento se adeque à crescente procura de cuidados assistenciais8,10.AiniciativaBOLDdesenvolveumétodos nor-malizados para estimar a prevalência da DPOC e obter informac¸ão sobre os fatores de risco. O primeiro estudo BOLD, reportando a prevalência mundial da DPOC, mos-trouheterogeneidade entreos paísese entreos géneros. Adicionalmente, os valores de prevalência encontrados revelaram-sesuperioresaosdisponíveisanteriormente8.

OestudoBOLDna regiãodeLisboaé oprimeiroestudo de prevalência português, implementado internacional-mente,commetodologiauniformizada,equepermiteuma comparac¸ãoentrepaíses.Opontofortedonossoestudofoi autilizac¸ãodoprotocoloBOLD,comoseumétodorigoroso nãosóparaobtenc¸ãodaprecisãomáximaecompletudedo inquérito,mastambémcomumaelevadaqualidadeda espi-rometriapós-BD.Estametodologiapermitegarantirqueos resultadossãocomparáveiscomoutrosestudosBOLD10.

Umadaslimitac¸õesaapontaraesteestudoéasuabaixa taxaderesposta(27%).

Este achado pode justificar-se por uma eventual ati-tudereativa dosparticipantes faceaoelevado númerode telefonemasusualmenteefetuadospelasempresasde mar-ketingem Portugal.No entanto,a nossataxade resposta foisemelhanteàpublicadaporoutrosestudosBOLD (Van-couvereKentucky)8quetambémusaramcomometodologia derecrutamentodosparticipantes atécnica demarcac¸ão aleatorizadadedígitos(Random-Digit-Dialling[RDD]).

Paragarantirqueaamostraestudadaerarepresentativa dapopulac¸ãoalvofoirecolhidainformac¸ãomínimadosnão respondedores,deforma a queambos osgrupos (respon-dedoresenãorespondedores)sepudessemcomparar.Não seencontraramdiferenc¸as entreosgruposnoquediz res-peitoaidade,fatoresderiscoehistóriaclínica,excetuando quantoaogénero.Assim,deformaaultrapassaraelevada taxadenãorespostaeasdiferenc¸asentregéneros,foram

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efetuadosmaistelefonemasparaseobterumarespostade pelomenos300homense300mulheres.Porúltimo,eafim deultrapassaropossívelviésderesposta,osresultadosde prevalênciaforamajustadosàpopulac¸ãoalvo10.

Antes deosresultadosdesteestudoBOLDestarem dis-poníveis,aprevalênciaoficialdaDPOCemPortugalerade 5,34%,combasenumestudoefetuadoem20026.Osdados doBOLDparaLisboa(Portugal)mostraramvaloresde pre-valência da DPOC mais elevados (14,2%). Até esta data, todososprojetoseplanosdeac¸ãorelacionadoscomaDPOC tiveramporbaseosvaloresdeprevalênciaanteriores, tra-duzindoportantoumasubestimac¸ãodorealimpactodesta doenc¸a.

Uma vez que as metodologias utilizadas nos 2 estudos (estudode2002e estudoatual)foramdiferentes,osseus resultadosnão sãocomparáveis14. No que dizrespeito ao estudode2002,algunsaspetosmetodológicosinviabilizam estacomparac¸ão.Efetivamente,nesteestudoapopulac¸ão abordadafoidiferente,tendosidorestritivarelativamente ao intervaloetário, ao critério dediagnóstico usadopara diagnosticare estadiaraDPOC(sem realizac¸ão de espiro-metriapós-BD)etambémnoquedizrespeitoàsequac¸ões dereferênciautilizadas.

Comparando os nossos resultados com outros estudos BOLD internacionais concluímos que a prevalência portu-guesadaDPOCfoiinferioràdealgunspaíses2,8,16---19,ainda que semelhante à prevalência noutros países da Europa como a Alemanha (13,2%)20 e a Suécia (16,2%)21. Estas diferenc¸aspodemseratribuídasadiferenteshábitos tabá-gicosdaspopulac¸õesestudadasoupossivelmenteaoutros fatores de risco, não analisados neste manuscrito e que necessitamdeinvestigac¸ãoadicional(p.ex.exposic¸ão ocu-pacionalabiomassasoupoluic¸ãodoar).

Nesteestudoforamusadasasequac¸õesNHANESIIIpara estimaraprevalênciadaDPOCestadioii+deformaapermitir comparac¸õescom outrospaíses.Noentanto,convém sali-entarqueaescolhaadequadadasequac¸õeséumaquestão controversaepodeinfluenciarasestimativasobtidas.

Nosnossos resultadosverificou-seque aprevalênciada DPOC aumenta com a idade, mostrando-se mais elevada acimados70anos.Denotarquecomoaumentodaidadea prevalêncianosexomasculinoé2vezesovalorda prevalên-cianosexofemininoparaomesmogrupoetário,refletindo provavelmenteaprevalênciadefumadoreseoefeito cumu-lativodotabacoaolongodosanos.Tendoem contaqueo estadioi+ da DPOC foi definidopelo critério fixo de uma razãoFEV1/FVC<0,7%equeestarazãodiminuicomaidade

emindivíduossaudáveis22,oselevadosvaloresde prevalên-ciaregistadosnosindivíduosmaisvelhospoderãosignificar queexisteumsobrediagnósticodestapatologia,nos esca-lõesetáriosmaiselevados(47,2%noestadioi+versus17,2% noestadioii+).Contudo,contraestaanálisetemosaapontar aconstatac¸ãodamesmatendênciadeprevalênciaelevada daDPOCnoestadioii+nosindivíduosmaisvelhos,aindaque menospronunciada.

No sexo feminino e para uma carga tabágica de 10-20UMA, a prevalência daDPOCencontrada para os esta-diosGOLDI+eII+foiexatamenteamesma(tabela4),oque significaquenaamostraemestudonãohouveparticipantes dosexofemininocomFEV1/FVC<0,7eFEV1>80%dovalor

previsto.Apesardepoucoprováveis,estesdadosforamos encontrados,tendosidoverificadosereconfirmados.

Conformeconstatadonoutrosestudos8,15,18---20, verificou-se também uma associac¸ão positiva de prevalência crescente com o aumento da carga tabágica, sugerindo queoshábitostabágicossãoumimportantefatorderisco para o desenvolvimentodadoenc¸a12. Acimade 20 UMA a prevalência da DPOC duplicou (27,4 versus 14,2%), o que representará certamente ummaior impacto na utilizac¸ão derecursosdesaúdeecustosassociados23.

Outro ponto importante deste estudo foi a estimativa da prevalência de 17,9% de fumadores atuais em adul-tos portugueses com mais de 40 anos. Estes resultados estão em concordância com a prevalência oficial (17,2%) obtidaatravésdoInquéritoNacionaldeSaúde2005/200624. Osvaloresmaiselevadosdeprevalênciadehábitos tabági-cosregistaram-senogrupoetário(40-49anos)dasmulheres mais novas, o que, no que diz respeito a projec¸ões para o futuroapontapara umaumentodaDPOC nosexo femi-nino,etambémparaanecessidadecrescentedeabordaros adolescentes e as mulheres jovens nas campanhas de cessac¸ão tabágica. Relativamente aos não fumadores, registaram-se valores inesperadamente elevados de pre-valência da DPOC (9,2%), o que pode sugerir um sobrediagnóstico associado ao diagnóstico espirométrico. Aindaassim,umaprevalênciadaDPOCde4,3%noestadio ii+ parece apontar para a existência de outrosfatores de risco quedevemviraserinvestigados(p.ex. exposic¸ão a biomassas em zonas rurais, infec¸õesdo trato respiratório na infância,históriadetuberculose).Por outrolado,para alguns indivíduos, estes valores elevados de prevalência podemtambémestar associadosaasmacomremodelac¸ão das pequenasvias aéreas8. Resultadossemelhantes foram descritosnoutrospaíses5.

O achado de valores mais elevados de prevalência da DPOCemindivíduossintomáticoscomparativamenteà pre-valência da DPOC na populac¸ão geral era esperado12, devendoalertar osmédicosdos cuidadosdesaúde primá-riosparaanecessidadederealizarespirometriasemdoentes sintomáticos.

Neste estudo encontrou-se uma grande discrepância entre a presenc¸a de obstruc¸ão das vias aéreas definida peloscritériosGOLDeaprevalênciadediagnósticos médi-cosprévios àrealizac¸ãodaespirometria.Nototal,apenas 6,3% dos participantes referiram diagnóstico médico pré-viodeDPOC,tendo-seregistado14,2%decasoscomDPOC estadioGOLDI+.Estadiferenc¸amostra-sedemaior dimen-sãose tivermos porbase o nível deconcordânciaentre o diagnósticomédicopréviodeDPOCe odiagnósticoobtido por espirometria. Narealidadeapenas13,2% dos diagnós-ticos efetuadoscombase na espirometriacoincidiam com a referência ao diagnóstico prévio (subdiagnóstico). Estes resultados estão deacordo comos resultadosde Espanha em que apesarde uma eventual diminuic¸ão da prevalên-cia da DPOC se continuam a verificar elevados níveis de subdiagnóstico25---27.Alémdisso,nonossoestudo,61,2%dos casos reportadospelos participantes como tendo diagnós-ticopréviodeDPOComesmonãoseveioaconfirmarapósa realizac¸ãodaespirometria(sobrediagnóstico).Estesdados revelam,claramente,umelevadoníveldeerrono diagnós-ticoeaurgênciaemaumentaroconhecimentodosmédicos sobre o diagnóstico da DPOC e a necessidade de aumen-tarorecursoàespirometria,particularmenteemindivíduos sintomáticos.

(9)

Prevalênciadadoenc¸apulmonarobstrutivacrónicaemLisboa,Portugal:estudoBurdenofObstructiveLungDisease 9

Conclusões

Aprevalênciaestimadade14,2%demonstraque aDPOCé umadoenc¸acomumnaregiãodeLisboa.Oselevados valo-resdeprevalênciadaDPOCencontrados,associadosauma elevadaproporc¸ãodedoenc¸asubdiagnosticada,salientam não só a importância da sensibilizac¸ão para a DPOC que deveser dirigidaaos profissionais desaúde, mastambém anecessidadedeaumentarautilizac¸ãodaespirometriano âmbitodoscuidadosdesaúdeprimários.

Apesardeaidadeeoshábitostabágicospermanecerem como osfatoresdemaior riscopara aDPOC, deverão ser investigados,emestudosfuturos,outrosfatoresderiscoque possamcontribuirparaapresenc¸adestapatologiaemnão fumadores.

Financiamento

OprojetoBOLDem Portugalfoi conduzidopelaSociedade PortuguesadePneumologiaem colaborac¸ãocom oCentro deCoordenac¸ãosediadonoImperialCollege,ReinoUnido, efoipatrocinadopelaBoehringerIngelheimepelaPfizer.

Conflito

de

interesses

OprojetoBOLDem Portugalfoi conduzidopelaSociedade PortuguesadePneumologiaem colaborac¸ãocom oCentro deCoordenac¸ãosediadonoImperialCollege,ReinoUnido, efoipatrocinadopelaBoehringerIngelheimepelaPfizer.

Agradecimentos

Os investigadores do BOLD gostariam de agradecer aos seguintesintervenientes:

- SoniaBuist(OregonHealthandSciences University, Por-tland,Oregón,EstadosUnidos),WilliamVollmer,MaryAnn McBurnieeSuzanneGillespie(KaiserPermanenteCenter for Health Research, Portland, Oregón, Estados Unidos) e Robert Jensen (Latter Day Saints Hospital, Salt Lake City, Utah, Estados Unidos) por todo o apoio prestado aFátimaRodrigues e HermíniaDiasnoprotocoloBOLD, incluindoacertificac¸ãodosquestionárioseespirometrias eavalidac¸ãodosquestionáriosparaalínguaportuguesa. - AopessoaldoCo-ordinatingCentrenoReinoUnido, espe-cialmente a Richard Hooper, Anamika Jithoo e Sonia Coton.

- Entrevistadores certificados: Ana Bandarra, Andreia Machado,JoãoSilva,TâniaFonsecaeÂngelaAntunes. - Médicoscertificados:InêsFaria,AnaSofiaOliveira,

Már-ciaMan,PatríciaGarrido,Ana Margarida Alvese Susana Carreira,pelasuaparticipac¸ãonarevisãodos questioná-riosem conjunto com FátimaRodrigues e submissão da informac¸ãoaoBOLDUKCentre;

- Técnicosdecardiopneumologiacertificados:AnaCristina Lutas,AnaSofiaCachola,AndreiaCarinadeJesusColac¸o, Andreia Descalc¸o, Cátia Lígia Oliveira, Cláudia Pereira, DanielaRicardo, Joana Quaresma,Marta Landeiro, Sara Matos,SaraSerranhoeSusanaFilipaGomesMarcelino,da

EscolaSuperiordeTecnologiadaSaúdedeLisboa/Instituto PolitécnicodeLisboa.

OsinvestigadoresdoBOLDgostariamaindadeagradecer aoProf.AntónioGouveiapelosuporteestatísticoeaCarlos Capela,comogestordoprojetoporpartedopatrocinador, eatodososenvolvidosdaBoehringerIngelheimPortugale Pfizerpelasuacolaborac¸ãonesteprojeto.

Apêndice.

Material

adicional

Pode consultar o material adicional para este artigo na suaversãoeletrónicadisponívelemdoi:10.1016/j.rppneu. 2012.11.004.

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