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A experiência do orçamento democrático no Estado da Paraíba (2011-2014)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS MESTRADO. RÔMULO LEITE AMORIM. A EXPERIÊNCIA DO ORÇAMENTO DEMOCRÁTICO NO ESTADO DA PARAÍBA (2011-2014). NATAL – RN 2017.

(2) RÔMULO LEITE AMORIM. A EXPERIÊNCIA DO ORÇAMENTO DEMOCRÁTICO NO ESTADO DA PARAÍBA (2011-2014). Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, como parte dos requisitos, para obtenção do título de mestre, sob a orientação da Professora Doutora Vânia de Vasconcelos Gico. Linha de Pesquisa: Complexidade, Cultura, Pensamento Social.. NATAL – RN 2017.

(3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes – CCHLA Amorim, Rômulo Leite. A experiência do orçamento democrático no Estado da Paraíba (2011-2014) / Rômulo Leite Amorim. - 2017. 172f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vânia de Vasconcelos Gico.. 1. Democracia Participativa - Paraíba. 2. Participação Popular. 3. Orçamento Democrático Estadual - Paraíba. I. Gico, Vânia de Vasconcelos. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 321.74(813.3).

(4) A EXPERIÊNCIA DO ORÇAMENTO DEMOCRÁTICO NO ESTADO DA PARAÍBA (2011-2014). RÔMULO LEITE AMORIM. Dissertação apresentada em 22 de fevereiro de 2017, e considerada aprovada. Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.. BANCA EXAMINADORA. ____________________________________________ Profª. Dra. Vânia de Vasconcelos Gico Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Orientadora. _____________________________________________ Prof. Dr. João Bosco de Araujo Costa Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) Examinador Titular Interno. _____________________________________________ Prof. Dra. Catarina da Silva Souza Centro Universitário do Rio Grande do Norte (UNI-RN) Examinadora Titular Externa.

(5) Dedico este trabalho a toda minha família e, de forma muito especial, aos meus pais Djalma Amorim da Silva e Mª da Penha L. Amorim por sua constante presença e incentivo..

(6) AGRADECIMENTOS À Santíssima Trindade, pela força renovadora. Aos meus familiares pelo apoio e compreensão ao longo do curso. À minha noiva Kátia Ramos, pela ajuda ao longo do curso, pelo incentivo na produção deste trabalho, pela paciência e compreensão. Sua colaboração foi muito valiosa. A minha orientadora Professora Drª. Vânia de Vasconcelos Gico - UFRN, pela colaboração, paciência e ensinamentos, não só na produção deste trabalho, mas durante o curso e por ter aceitado ser orientadora na produção deste trabalho. Ao Professor Dr. João Bosco de Araújo Costa - UFRN, pela contribuição e participação na banca examinadora, além dos ensinamentos durante o curso e na qualificação desta pesquisa. A Professora Drª. Catarina da Silva Souza – UNI-RN, pela disponibilidade em participar da banca examinadora e pela troca de experiência nos encontros do Observatório Boa-Ventura de Estudos Sociais e na qualificação desta pesquisa. Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais – UFRN e a todos os professores. e. professoras. que. durante. o. curso. partilharam. seus. conhecimentos. A todos os companheiros e companheiras que conheci ao longo destes dois anos, nas disciplinas e no Observatório Boa-Ventura de Estudos Sociais, por tudo que vivenciamos durante essa etapa do processo de formação. Aos. servidores. públicos. estaduais. que. trabalham. no. Orçamento. Democrático Estadual pela contribuição na realização da pesquisa. Aos Conselheiros e Conselheiras do ODE-PB (Sra. Francinete, Sra. Marlene, Sra. D. Lia, Sr. José João, Sr. Romualdo) que se disponibilizaram para contribuir com a pesquisa. Aos alunos e alunas, aos profissionais (docentes e técnicos administrativos) do IFPB – Campus Guarabira. Enfim, a todos os amigos e amigas, de perto e de longe, que contribuíram para que fosse possível chegar a este momento, especialmente a família do Prof. Dr. Edson L. Oliveira (UFRN) e sua esposa Helena Ramos pela acolhida em seu lar e pelo incentivo dado em cada momento..

(7) O sujeito da autoridade política é o povo considerado na sua totalidade como detentor da soberania (Compêndio da Doutrina Social da Igreja).

(8) RESUMO. Discute-se o Orçamento Democrático (OD) da Paraíba e a inserção das camadas populares na formulação de políticas públicas, refletindo sobre a experiência desse instrumento de consolidação da democracia participativa, nesta unidade da federação brasileira. A pesquisa teve como objetivo identificar como se caracteriza a Democracia Participativa na Paraíba, analisar a experiência prática do ODE-PB e elencar as experiências dos participantes do Orçamento Democrático no processo de emancipação social e luta pela cidadania. O referencial teórico metodológico se baseia nos aportes teóricos de democracia, democracia participativa e participação, discutidos por Santos (2002, 2010, 2013, 2016), complementado pelas reflexões de Avritzer (2002, 2007a, 2007b, 2016), Dagnino (2002, 2004, 2006); Jacobi (2000) e Teixeira (2001), aporte teórico- conceitual, visando alcançar uma melhor compreensão de como o campo político tem se desenvolvido no Estado da Paraíba, a partir das experiências do Orçamento Democrático Estadual, no período de 2011-2014. A estratégia metodológica do campo empírico foi a pesquisa documental, complementada por entrevistas com sujeitos sociais que participaram do processo, previamente escolhidos por suas experiências, na tentativa de responder as questões norteadoras da investigação: Ocorreu fortalecimento dos espaços de negociação na gestão do orçamento participativo no Estado da Paraíba? Houve transformação das práticas dominantes? Aconteceu a inserção política de sujeitos sociais excluídos? Os estudos realizados permitiram compreender que o ODE-PB vem conseguindo romper com a fórmula única de democracia liberal que vigorou na Paraíba até sua criação, se tornando um espaço público que inicia uma aproximação e promove a articulação entre a democracia representativa e a democracia participativa. Por fim, através da experiência investigada, se percebe que é um instrumento de ampliação da participação popular, com uma incipiente mudança na cultura política e administrativa do Estado da Paraíba. É a reinvenção da democracia participativa, por meio do Orçamento Democrático Estadual. Palavras-chave: Orçamento Democrático Participativa Participação Popular.. Estadual-PB.. Democracia.

(9) ABSTRACT The discussion of Democratic Budget in the State of Paraiba and the insertion of the lower classes in the public policy making reflects the experience of this instrument of consolidation of participatory democracy in that unit of the Brazilian federation. This paper has as its main objective to identify how the Participatory Democracy caracterizes itself, to analyze the practical experience of Democratic Budget of Paraiba and to catalogue the experience of the participants of the Democratic Budget in the process of social emancipation and the struggle for citizenship. The theorical and methodological reference is based on the concepts of democracy, participatory democracy and participations discussed by Santos (2002, 2010, 2013, 2016) and supplemented by the reflections of Avritzer (2002, 2007a, 2007b, 2016), Dagnino (2002, 2004, 2006), Jacobi (2000) and Teixeira (2001) in order to achieve a better comprehension of how the political field has been developing in the State of Paraiba through the experiences of Democratic State Budget during the period of 2011-2014. The methodological strategy of the emphirical field was the documental research with interviews made with social subjects who participated in this process and were previously chosen by their experiences in the attempt of answearing the research leading question: Were the negotiation spaces streghtened in the management of the participatory budget in the State of Paraiba? Was there transformation of the dominant practices? Were politically included the social subjects who were excluded? The analysis allowed us to comprehed that it has been able to break with the unique formula of liberal democracy that prevails in Paraiba until its creation by becoming a public space that promotes the approach and articulation between the representative and participatory democracy. Finally, it is through the experience investigated here it was perceived that it is an instrument of expansion of popular participation witn an insipient change in the policy and management culture of the State of Paraiba. It is the reinvention of the participatory democracy through the Democratic State Budget.. Keywords: Democratic State Budget - Paraiba. Participatory Democracy. Popular Participation..

(10) LISTA DE SIGLAS ARENA – Aliança Renovadora Nacional DEM – Democratas FMI – Fundo Monetário Internacional LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias LOA – Lei Orçamentária Anual LRF – Lei de Responsabilidade Fiscal OD – Orçamento Democrático Estadual ODE – Orçamento Democrático Estadual OP – Orçamento Participativos OGU – Orçamento Geral da União PMDB – Partido do Movimento Democrático Brasileiro PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira PPA – Plano Plurianual PPAD – Plano Plurianual Democrático PT – Partido dos Trabalhadores PSD – Partido Social Democrático (1945-1965)(2011- ) RGA – Região Geoadministrativa SEPLAG – Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão UDN – União Democrática Nacional URV – Unidade Real de Valor.

(11) LISTA DE QUADROS Quadro 1 – Divisão Geoadministrativa da Paraíba ....................................... 88 Quadro 2 – Organização da Secretaria do Orçamento Democrático ............ 89 Quadro 3 – Organização das Gerências Regionais do ODE – PB ................ 90 Quadro 4 – Etapas do Ciclo do ODE – PB .................................................... 96 Quaro 5 – Números da Participação 2011 – 2012 ....................................... 124.

(12) LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Mapa das Regiões Geoadministrativas ........................................ 88 Figura 2 – Prioridades apontadas nas regiões geoadministrativas 2011 – 2015 ........................................................................................................... 129.

(13) LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Eixos prioritário em 2011 ........................................................... 125 Tabela 2 – Eixos prioritário em 2012 ........................................................... 125 Tabela 3 – Eixos prioritário em 2013 ........................................................... 126 Tabela 4 – Eixos prioritário em 2014 ........................................................... 127 Tabela 5 – Eixos prioritário em 2015 ........................................................... 127 Tabela 6 – Ações demarcadas na Lei Orçamentária Anual ......................... 128 Tabela 7 – Participação Popular: Audiências Regionais dos Ciclos de 2011 a 2015 ........................................................................................................... 128.

(14) SUMÁRIO. 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 13 2 CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES DA PARTICIPAÇÃO POPULAR ..................................................................................................... 19 2.1 Democracia e democracias ..................................................................... 22 2.2 Espaços de Participação ......................................................................... 38 2.3 Participação da sociedade civil ............................................................... 51 2.4 Descentralização e participação .............................................................. 61 2.5 Planejamento e Orçamento Público ........................................................ 68 3 PROCESSO DEMOCRÁTICO E PARTICIPAÇÃO POPULAR ................. 72 4 A EXPERIÊNCIA ORÇAMENTO DEMOCRÁTICO ESTADUAL (2011 2014) ............................................................................................................ 82 4.1 Orçamento Democrático Estadual: uma estratégia para gestão pública . 86 4.2 Fases do Orçamento Democrático Estadual .......................................... 94 4.3 Conselho do Orçamento Democrático Estadual .................................... 105 4.4 Entrevistas com os Conselheiros e Conselheiras do ODE – PB ........... 108 4.5 ODE – PB: Resultados da Participação ................................................ 124 5 CONCLUSÃO .......................................................................................... 132 6 REFERÊNCIAS ........................................................................................ 140 APÊNDICES ANEXOS Anexo I Anexo II.

(15) 13. 1 INTRODUÇÃO O processo de redemocratização do Brasil possibilitou à implementação de direitos no campo social, econômico e político, por consequência da promulgação da Constituição Federal de 1988, denominada ―Constituição Cidadã‖. A Carta Magna que estabeleceu para todos os cidadãos o direito ao trabalho, a salários dignos, à educação, à previdência social, à licença materna e paterna, direito aos indígenas de possuir a terra, entre outros direitos. Assim, é no campo político que se destaca o maior poder de interferência da sociedade brasileira no regime democrático, que é possibilitada pela utilização do sufrágio universal, do plebiscito, do referendo e da iniciativa popular, que estão contidos na carta magna do país. Além disso, surgiram diversos mecanismos de participação da sociedade civil (Conselhos municipais e estaduais de saúde e educação e Orçamentos Participativos), pois ―A nova Constituição descentralizou poderes e estipulou importantes benefícios sociais similares às democracias mais avançadas‖ (ZAVERUCHA, 2005, p. 59), abrindo espaço para o florescimento das instituições participativas, nas diversas esferas de governo. Nesta perspectiva ao visualizar a história da participação popular Avritzer (2015, p. 189) exprime que, ―o Brasil se transformou, ao longo do século XX, de um país de baixa propensão associativa e poucas formas de participação da população de baixa renda, em um dos países com maior número de iniciativas de práticas participativas‖, iniciando um possível caminho de instauração de um modelo democrático-participativo, que enfrente o modelo liberal de representação da minoria elitista da sociedade brasileira e aproxime os cidadãos e cidadãs, ditos comuns do processo político, buscando minimizar a falta de participação social nos comandos do poder. Todavia, embora sendo mínimas as oportunidades, cria-se, na configuração de um processo constitucional, diferentes formas de participação no Brasil e nos diversos municípios, nos quais foram surgindo experiências de Democracia Participativa, que visavam complementar o modelo hegemônico da democracia representativa. Cria-se então a oportunidade para que os cidadãos e cidadãs tenham a possibilidade de dialogar, de forma mais direta, com a gestão pública, a partir do processo de descentralização do poder em nível local, corroborando com o que.

(16) 14. afirma Benevides (2003, p. 88): ―Logo, é função desses sagrados objetivos constitucionais que o povo deve participar – decidindo, cobrando e fiscalizando‖. Avançando na perspectiva de que a participação da sociedade civil não deve ficar restrita apenas ao voto, mas ir além deste ato, participando da formatação das políticas públicas. Desta maneira, a partir das reivindicações dos movimentos sociais, por maior participação nas decisões sobre as políticas públicas, foi possível desenvolver a experiência do Orçamento Participativo, que propõe aos cidadãos e cidadãs um maior controle sobre as ações governamentais. No entanto, para que este modelo de participação popular seja efetivado, depende da vontade política do governante e do poder de articulação e mobilização que os cidadãos e cidadãs desempenham ao pressionar o governo, para que este atue, de forma mais transparente e eficiente, na formulação das políticas públicas. Nessa. perspectiva,. as. atuações. dos movimentos. sociais. buscaram. implementar uma cultura democrático-participativa no Brasil, conforme se observa com o aparecimento das diversas instituições participativas. Entre estas instituições, é oportuno destacar o Orçamento Participativo, que surgiu a partir da atividade de uma instituição partidária – o Partido dos Trabalhadores, de Porto Alegre-RS – que compartilhou parte do poder no processo decisório da formulação do orçamento público, com a população que buscava ter acesso ao sistema político, por meio do direito de participar, pois, ―Os movimentos sociais estariam em movimentos pela ampliação do político, pela transformação de práticas dominantes, pelo aumento da cidadania e pela inserção na política de atores sociais excluídos‖ (Santos, 2002, p. 53), avançando na proposta de instaurar um espaço público nas gestões públicas, seja do município ou do Estado. Dessa. forma,. ao. visualizar. o. Estado. da. Paraíba,. percebe-se. o. desenvolvimento de um processo de implementação da democracia participativa no ente Estadual, a partir do ano de 2011. Pois no âmbito municipal, destacam-se as experiências de Orçamentos Participativos nas cidades de Campina Grande (1997) e João Pessoa (2005), não sendo uma prática inusitada, mas conhecida dos paraibanos e paraibanas que vivem nestas localidades. Por isso, com o Orçamento Democrático Estadual, busca-se ampliar a participação aberta e sem distinção dos cidadãos e cidadãs da Paraíba, que passaram a ter acesso ao espaço público criado para facilitar o diálogo sobre a.

(17) 15. distribuição dos recursos desta unidade da federação, indicando quais os caminhos para o investimento público, a partir das demandas elencadas pela sociedade civil. Essa perspectiva de democratização, na esfera estadual, visa superar o distanciamento dos membros do Estado e o poder central da unidade federativa, pois na Paraíba a discussão do Orçamento Público busca envolver neste processo de participação uma grande parcela da população espalhada nas 14 regiões geoadministrativas,. rompendo. com. a. visão. municipalista. dos. Orçamentos. Participativos. Dessa maneira, percebe-se que é incentivada uma mudança de hábito na sociedade, que passou de agente passiva – sendo apenas convocada para dar apoio eleitoral – para uma atitude mais ativa, dando uma contribuição no processo de distribuição orçamentária das cidades, respaldando as reivindicações dos movimentos sociais, que lutam por uma maior participação da sociedade civil, na definição das políticas públicas, e, na Paraíba, avança para o nível estadual. Ao fazer uma abordagem sobre a formulação do Estado brasileiro, pósConstituição de 1988, faz-se necessário uma reflexão sobre a abertura de espaços públicos, pois estes possibilitam a participação da sociedade civil na manutenção de diálogos com a sociedade política, através dos diversos Conselhos de participação, que contribuíram para o avanço dos modelos desenvolvidos pela democracia participativa. Por isso, a pesquisa em questão buscou analisar como ocorreu o processo de desenvolvimento da democracia participativa através do Orçamento Democrático na Paraíba, no período de 2011-2014. Desta maneira, diante do domínio político das oligarquias históricas, a Paraíba não conseguiu modificar seu cenário político com a redemocratização de 1988 até 2010. Mantiveram-se no poder as velhas oligarquias, que impediram o desenvolvimento de qualquer articulação contrária à vontade dos ―donos do poder‖, estabelecendo o mandonismo no Estado Democrático de Direito, reforçando um autoritarismo social e excludente, percebido pelo conjunto das práticas sociais que reproduz a desigualdade nas relações sociais em todos os seus níveis. Nesse sentido, sua eliminação constitui um desafio fundamental para a efetiva democratização da sociedade. A consideração dessa dimensão implica desde logo uma redefinição daquilo que é normalmente visto como o terreno da política e das relações de poder a serem transformadas (DAGNINO, 2004, p. 105)..

(18) 16. Desta maneira, com as eleições de 2010 surge, no cenário político da Paraíba, uma alternativa ligada aos movimentos sociais para concorrer ao cargo de governador, através da candidatura do Partido Socialista Brasileiro – PSB –, liderado pelo prefeito da capital, Ricardo Coutinho. Ex-sindicalista, que busca se consolidar como um político capaz de iniciar um processo de expansão do modelo democrático-participativo, que poderá romper com as práticas oligárquicas de revezamento e alternância no poder no ciclo de comando do governo estadual, de modo a desenvolver um projeto de ruptura política, mesmo que ainda incipiente. Essa proposta de Governo é apresentada com a possível implantação do Orçamento Democrático Estadual, que teria a responsabilidade de colocar em prática uma nova estratégica de administração pública, baseada na participação ativa dos paraibanos, nas decisões sobre as políticas públicas. Com a consolidação da candidatura e ascensão ao cargo máximo do Executivo Estadual, o governo do PSB passa a implementar o Orçamento Democrático (OD) no Estado da Paraíba. Por sua vez, ao visualizar o Orçamento Democrático Estadual, observa-se que este é um instrumento político e estratégico para gerir o Estado da Paraíba, pois carrega em si a busca por uma maior aproximação, entre cidadãos e cidadãs, do processo decisório, nas questões que afetam diretamente a sociedade civil, a qual passa a expor sua vontade nas decisões que são tomadas pelo Poder Executivo e consolidadas pelo Poder Legislativo. Desse modo, tendo como respaldo teórico a afirmação de Santos (2002, p. 53), de que os movimentos sociais ―estariam em movimentos pela ampliação do político, pela transformação de práticas dominantes, pelo aumento da cidadania e pela inserção na política de atores sociais excluídos‖, buscar-se- visualizar o caso da democracia participativa, a partir do Orçamento Democrático na Paraíba, no período de 2011-2014. De modo a contribuir com a visualização da participação popular nas decisões do governo estadual e sua ligação direta com o processo de institucionalização do espaço público, a partir da criação e fortalecimento dos espaços de negociação e descentralização do poder, a partir da participação dos.

(19) 17. sujeitos sociais1 envolvidos (FREIRE, 2006) na articulação do Estado e dos movimentos políticos. Nesses termos, tem-se como objetivo identificar como se desenvolve a Experiência da Democracia Participativa, através da prática desenvolvida na Paraíba, por meio do Orçamento Democrático Estadual, que é um espaço público criado para incentivar o diálogo entre a sociedade civil e o Estado, além de demonstrar as experiências dos participantes do Orçamento Democrático Estadual. Assim, delimitando-se o foco da pesquisa, têm-se como categorias teóricas, o conceito de democracia participativa e participação discutidos por Santos (2002, 2010, 2013, 2016), complementado pelas reflexões de Avritzer (2002, 2007a, 2007b, 2016), Dagnino (2002, 2004, 2006); Jacobi (2000) e Teixeira (2001), que serão os suportes de reflexão delimitadas nesse Estudo de Caso sobre o Orçamento Democrático no Estado da Paraíba, no período de 2011-2014, complementados pela pesquisa de campo, tendo como estratégia metodológica a pesquisa documental, complementada por entrevistas com atores que participaram do processo de implantação do ODE-PB. A coleta de dados foi realizada a partir de pesquisa documental: as leis do Estado que regulam o Orçamento Democrático e outros materiais (cartilhas informativas, panfletos, cartazes). Além da realização das entrevistas com cidadãos e cidadãs que participam do Orçamento Democrático, como Conselheiros e Conselheiros, que possuem uma história de vida dedicada à luta, à resistência ao mandonismo local, que permitam vislumbrar como ocorreu a participação popular. As entrevistas obedeceram a um roteiro pré-estabelecido, com perguntas semiestruturadas, gravadas em aparelho eletrônico, com a permissão dos interlocutores.. 1. Neste estudo, contextualiza-se Sujeito social para além de sua dimensão orgânica ou biológica, mas aberto ao mundo, possuidor de uma historicidade; um sujeito como sendo social e político, um ser que possui consciência de suas vontades, desejos, atos e atitudes, não apenas um indivíduo (OLIVEIRA, 2007). Torna-se sujeito a partir da consciência das causas e consequências dos problemas sociais e políticos de sua comunidade e age provocando mudanças. No processo de mudança, ele constrói identidade social. Como sujeito social, ele participa, articula-se compartilhando objetivos para a efetivação de direitos e conquista de mudanças, sejam elas sociais, políticas, econômicas e culturais, é agente da mudança. E como seres transformadores e criadores, transformam não só ―os bens materiais, as coisas sensíveis, os objetos, mas também as instituições sociais, suas ideias, suas concepções‖ (FREIRE, 2006, p. 108). Não há um sujeito social que no encontro com o outro, na problematização de sua opressão, não exerça uma ação no seu pronunciar e se revele na relação dialógica, provocando mudanças..

(20) 18. Desse modo, sustentadas pelas categorias de análise indicadas e suporte da pesquisa de campo, a investigação buscou responder as questões a seguir:. a) Ampliação do político (Ocorreu um fortalecimento dos espaços de negociação a partir do Orçamento Democrático no Estado da Paraíba?); b) Cidadania. (Houve. transformação. das práticas. dominantes na. formulação do orçamento público do Estado da Paraíba?); c) Democracia participativa (Aconteceu a inserção política de sujeitos sociais excluídos?). A Dissertação está dividida em três capítulos que se complementam, visando à compreensão do objeto estudado, incluindo a introdução e as considerações finais. Em ―Continuidades e descontinuidades da democracia‖,. apresenta-se um. diálogo com as teorias da democracia, democracia participativa e participação discutidos por Santos (2002, 2010, 2013, 2016), complementado pelas reflexões de Avritzer (2002, 2007a, 2007b, 2016), Dagnino (2002, 2004, 2006); Jacobi (2000) e Teixeira (2001), aporte teórico- conceitual que fundamenta a pesquisa, a análise e a produção escrita deste trabalho. Ao vislumbrar ―A Paraíba e suas histórias de participação política‖, é apresentada um breve histórico sobre o Estado da Paraíba, o poder local e a participação dos cidadãos e cidadãs nos espaços públicos de diálogos. Em ―A Experiência do Orçamento Democrático Estadual‖, apresenta uma reflexão sobre o funcionamento desse instrumento e a inserção das camadas populares na formulação de políticas públicas. Discutindo sobre a implementação da Democracia Participativa e resgatando as experiências dos sujeitos sociais que participaram deste processo. Buscando demonstrar como ocorre esta experiência. Por fim, apresenta-se as conclusões sobre as experiências do Orçamento Democrático Estadual, a partir do que foi investigado no período de 2011-2014..

(21) 19. 2 CONTINUIDADES E DESCONTINUIDADES DA DEMOCRACIA. ―Eu quero é cantar o nordeste Que é grande e que cresce E você não conhece doutor De um povo guerreiro, festivo e ordeiro De um povo tão trabalhador Por isso não pise, viaje e pesquise Conheça de perto esse chão Só pra ver que o nordeste Agora é quem veste 2 É quem veste de orgulho a nação‖. A discussão sobre a natureza do que é político sempre foi motivo de análises entre diversos campos de estudo, devido às distintas concepções do que pode ser considerado político ou não, movendo, desta forma, vários questionamentos, visando definir o que vem a ser o político, qual seu alcance e delimitações, conforme Rémond (2003, p. 442): ―Se o político é uma construção abstrata, assim como o econômico ou o social, é também a coisa mais concreta com que todos se deparam na vida, algo que interfere na sua atividade profissional ou se imiscui na sua vida privada‖, devido à sua complexidade, não existe uma única definição, mas múltiplas. Desta maneira, ao vislumbrar a concepção sobre a política na perspectiva de Dussel (2009), é necessário compreender a noção de campo, quando afirma: Esses campos são cortados dentro da totalidade do «mundo da vida cotidiana». Existem tantos cursos como tipos de atividades humanas. Os cursos práticos especialmente nos interessam. O assunto, então, através desses campos de colocação é em cada um deles funcionalmente de forma diferente (DUSSEL, 2009, p. 90, tradução nossa).3. Ao visualizar que existem na sociedade diversos campos que se recortam, são atravessados por forças, além de sujeitos com certa vontade de poder, Dussel (2009) observa como se configura o campo político e por meio dele observar como os indivíduos se comportam, buscando garantir suas conquistas e reivindicar seus direitos, pois 2. Música: Orgulho de ser nordestino – Autor: Flávio Leandro. Intérprete – Flávio José. Estos campos se recortan dentro de la totalidad del «mundo de la vida cotidiana». Hay tantos campos como tipos de actividades humanas. Nos interesarán especialmente los campos prácticos. El sujeto, entonces, atraviesa dichos campos situándose en cada uno de ellos funcionalmente de diversa manera. (DUSSEL, 2009, p. 90) 3.

(22) 20. Todo campo político é atravessado por forças, por sujeitos singulares, com vontade e com certo poder. Estas vontades se estruturam em universos específicos. Não em um simples agregado de indivíduos, mas de sujeitos intersubjetivos, relacionados, desde sempre, a estruturas de poder e de instituições de maior ou menor permanência (DUSSEL, 2009, p. 91, tradução nossa).4. Partindo dessa condição do campo político, Dussel (2009) expressa que cada sujeito é um ator que desenvolve uma relação em relação aos outros; uma relação de sujeitos que reconhecem o outro na busca por instituir uma nova estrutura na disputa pelo poder, fator necessário para que o modelo da democracia participativa se desenvolva, através de diversos instrumentos, como o Orçamento Participativo. Assim, para Dussel (2009, p. 91) o campo político é formado por diversos grupos. de. interesses,. estabelecendo. uma. organização. com. níveis. de. hierarquização, na qual as manobras ocorrem e se expressam a partir da linguística, dos símbolos, imaginações e expectativas, que refletem um emaranhado de ações que cada campo desenvolve, conforme se pode visualizar na organização de modelos contra-hegemônicos a democracia liberal. Quanto ao campo político, Dussel (2009) vê este espaço político como o lugar da cooperação, das coincidências e dos conflitos. Neste campo, os sujeitos atuam como agentes em relação ao outro, não havendo espaço para a dominação individual. Mas, configuram-se em espaços complexos, nos quais se desenvolvem relações bifurcadas e plurifurcadas, não havendo uma relação única, estática, mas diversa e dinâmica. Os campos guardam, em determinada proporção, certa unidade, quando se estabelecem as agendas em torno de temas, oposições urgentes e mesmo antagonistas. Ao focar no campo político, Dussel (2009) lembra que este é formado por diversas forças, que se entrecruzam, ligando-se por vários 'nós', que ligam e religam as estruturas existentes e as forças subjetivas, como uma rede de pescar. Corroborando o que Santos (2013, p. 54) expressa: Em tais períodos, os processos sociais são tão fluidos e turbulentos que resulta das intenções entre eles é, em grande medida, uma 4. Todo campo político es un ámbito atravesado por fuerzas, por sujetos singulares con voluntad, y con un cierto poder. Esas voluntades se estructuran en universos específicos. No son un simple agregado de individuos, sino de sujetos intersubjetivos, relacionados ya desde siempre en estructuras de poder o instituciones de mayor o menor permanencia (DUSSEL, 2009, p. 91)..

(23) 21. incógnita. Para utilizar o conceito de Prigogine, estamos numa situação de ‗bifurcação‘ em que a menor mudança no sistema pode produzir um desvio de largas proporções. Estamos numa época em que a contingência parece sobrepujar a determinação.. Ao dialogar com Dussel (2009, p. 94), verifica-se que o campo político é este espaço aonde os sujeitos realizam sua atividade política por meio do diálogo, visando manter e alcançar objetivos estratégicos, com disciplina racional, para manter e aumentar a perspectiva de vida, pois a política se contrapõe a guerra, que é o extermínio da vida. Assim, o Orçamento Democrático da Paraíba caminha nesta perspectiva de se consolidar como um novo campo político, espaço de diálogo entre os sujeitos sociais,. Quando nos referimos a este <<campo>> político o fazemos, tomando este espaço em que os atores políticos atuam publicamente, no sentido político – em primeiro lugar, o sujeito político, propriamente dito: os cidadãos (como potência); e, em segundo lugar, os representantes dos cidadãos nas instituições políticas (DUSSEL, 2009, p. 94, tradução nossa).5. Por isso, Santos (2005) enfatiza que o poder na sociedade contemporânea ocorre a partir das formas socialmente confirmadas do patriarcado, da exploração, do fetichismo das mercadorias, da diferenciação identitária desigual, da dominação e troca desigual, impedindo manifestações contrárias. Dessa forma, ao entregar aos representantes políticos o poder de representação, segundo o modelo hegemônico, os cidadãos passam a atuar como agentes passivos, confirmando sua posição de consumidores, de simples expectadores das lutas políticas, pois passam a associar seus interesses aos dos agentes ativos – os representantes, que impõem suas vontades políticas ao restante dos sujeitos, conforme se expressa no modelo da democracia liberal, que nega a fonte do poder na democracia. Nesse sentido, os cidadãos, ao perceberem que os representantes não conseguem ultrapassar seus interesses pessoais e que ocorreu um afastamento da sua representação, passam a contestar e a reivindicar que a concentração da. 5. Cuando nos referimos a este «campo» político lo hacemos tomando este espacio en el que los actores políticos actúan públicamente em tanto políticos —en primer lugar, el sujeto político propiamente dicho: los ciudadanos (como potentia); y, en segundo lugar, los representantes de los ciudadanos en las instituciones políticas (como potestas) (DUSSEL, 2009, p. 94)..

(24) 22. produção de políticas públicas não seja monopólio de um pequeno número de representantes, que, ao dedicar seu tempo ao campo político, constituem-se em verdadeiros manipuladores deste campo. Tal disposição de criar o habitus da participação aparece no modelo do Orçamento Democrático da Paraíba, que tenta abrir espaço no modelo hegemônico, para estabelecer uma relação de complementaridade, pois aos sujeitos é dada a possibilidade de criarem o habitus participativo. Ao analisar a experiência do Orçamento Democrático da Paraíba, percebe-se que este instrumento da democracia participativa busca superar o distanciamento entre os interesses particulares dos representantes e os interesses coletivos, por meio desta ferramenta que busca ser contra-hegemônica: ―dai a necessidade de conceber a democracia como uma nova gramática social que rompa com o autoritarismo, o patrimonialismo, o monopolismo cultural, o não reconhecimento da diferença‖ (SANTOS, 2016, p. 18), confrontando a colonialidade do poder definida pelo modelo hegemônico. Nesse contexto, o campo político hegemônico mantém a ideia liberal da igualdade, liberdade e fraternidade para todos, mas, na prática, o que ocorre é uma manutenção das desigualdades, pois estes princípios liberais ficam restritos a minoria da sociedade, aparecendo as diferenças existentes no tecido social, que faz restrições e exclusões aos cidadãos, a partir do lugar que ocupam no campo financeiro e que aparece de forma bastante emblemática nos modelos democráticos que foram estabelecidos ao longo do século XX.. 2.1 Democracias e democracias ―Eu só boto bebop no meu samba Quando Tio Sam tocar um tamborim Quando ele pegar No pandeiro e no zabumba. Quando ele aprender Que o samba não é rumba. Aí eu vou misturar Miami com Copacabana. Chiclete eu misturo com banana, 6 E o meu samba vai ficar assim‖. 6. Música: Chiclete Com Banana – Interprete: Jackson do Pandeiro.

(25) 23. Durante o século XX, novos regimes políticos foram despertando novas formas de atuação no campo político, fazendo florescer diversas discussões acerca do lugar que a democracia deveria ocupar nas sociedades ocidentais. Tais debates, em torno do modelo democrático a ser implantado pelos países ocidentais, tiveram início, sobretudo, logo após o término dos grandes conflitos mundiais, em 19141918, a Primeira Guerra Mundial, e em 1939-1945, a Segunda Guerra Mundial. Nessa busca pela institucionalização da democracia como forma de governo, verifica-se que novas concepções surgiram, porém, algumas se tornaram hegemônicas, enquanto outros modelos apenas serviram de parâmetro para os estabelecimentos dos diversos tipos de democracia. Entre esses modelos, surgiram concepções que defendiam uma participação restrita da população ao regime democrático, com participação somente no processo eleitoral, e concepções que se colocaram contrárias à forma hegemônica, pois concebem a democracia como uma maneira pela qual a convivência humana deveria ser aperfeiçoada, instituindo-se novas determinações, novas normas e novas leis. As concepções hegemônicas da Democracia, ao estabelecerem suas bases procedimentalistas como maneira de organizar politicamente a administração pública, produziram um elitismo democrático, na perspectiva de Santos (2016), pois afastaram as possibilidades de participação direta dos sujeitos nos processos decisórios. Assim, durante o século XX, o debate sobre a democracia girou em torno de concepções que defendiam a restrição do papel da mobilização coletiva na formação de governo, supervalorizando o papel da representatividade, conforme assevera David Held (apud RIBEIRO, 1993, p. 47): ―[...] denominada teoria democrática elitista (Held, s/d), que concebe a democracia como um procedimento de aquisição do poder através da competição, eleitoral entre políticos profissionais‖. E concepções que defendiam um maior envolvimento dos indivíduos, não havendo uma restrição à participação, mas, sim, o aumento da participação em todos os níveis sociais. Dessa maneira, a democracia foi forjada com base no pensamento ideológico, que predominava em cada período. No século XIX, segundo Bobbio (2015), o debate sobre o tipo de democracia foi desenvolvido através de fortes embates entre as doutrinas políticas liberais e socialistas. Estas doutrinas buscaram.

(26) 24. responder como os países deveriam se organizar politicamente, seja através de um modelo restritivo ou participativo, nos poderes constitutivos das nações:. Pretendemos dar um passo além, mostrando que o debate sobre a democracia ao longo do século XX ficou limitado a duas formas complementares de hegemonia: uma primeira forma hegemônica baseada na suposição de que a solução do debate europeu do período entre guerras teria sido o abandono do papel da mobilização social e da ação coletiva na construção democrática; uma segunda forma de hegemonia é aquela que supunha que a solução elitista para o debate sobre a democracia, com consequente supervalorização do papel dos mecanismos de representação, poderia ser hegemônica sem que esses últimos precisassem ser combinados com mecanismos societários de participação (SANTOS, 2005, p. 43).. A concepção liberal sobre a democracia recebeu forte influência do pensamento de Benjamim Constant, expresso em “Da liberdade dos antigos comparada à dos modernos‖ (1819), ganhando adeptos tanto nos Estados Unidos como nos demais países, que no século XX abraçaram a democracia liberal, conforme explicita Zakaria (2004, p.15-16): ―um sistema político caracterizado não só por eleições livres e justas, mas também pelo Estado de direito, separação dos poderes e a proteção das liberdades fundamentais de expressão, reunião, religião e propriedade‖. Para Jürgen Habermas (1997, p. 19), a concepção liberal de democracia se ajusta na seguinte condição: ―Na perspectiva liberal, o processo democrático se realiza exclusivamente na forma de compromissos de interesses‖, entre os membros de uma determinada sociedade. Ao assumir uma forma concreta, a democracia liberal, denominada também de democracia representativa, caracteriza-se pela entrega do poder a um número reduzido de indivíduos, que são escolhidos por meio de eleições. Neste sentido, a democracia liberal, segundo Bobbio (2015), não conseguiu cumprir suas promessas: não eliminou as elites no poder; não desenvolveu o autogoverno; não consolidou a integração da igualdade formal com a igualdade substantiva, não acabou com o poder invisível. Dessa maneira, esses indivíduos, ao assumirem o poder, são responsáveis por criar e executar leis comuns a todos os cidadãos, estabelecendo seus direitos e deveres, assim:.

(27) 25. A participação é também redefinida como manifestação daquela liberdade particular que indo além do direito de exprimir a própria opinião, de reunir-se ou de associar-se para influir na política do país, compreende ainda o direito de eleger representantes para o parlamento e de ser eleito (BOBBIO, 2004, p.324).. Nessa perspectiva, as teorias democráticas liberais do século XIX se caracterizavam por defender uma forma de governo majoritária, na qual a busca pelo bem comum alicerçava a elaboração deste novo modelo. Essa teoria democrática buscou então responder como seria possível desenvolver uma organização democrática em locais onde não existiam bases democráticas, como também questionava as formas de organização administrativa do Estado moderno e do poder que permeava tal estrutura e que incidia sobre os sujeitos, e se era possível que o povo governasse questões que receberiam respostas diversas. Essas perguntas foram amplamente discutidas pelos teóricos Max Weber (2009) e Joseph Schumpeter (1984), que desenvolveram uma teoria elitista de democracia, na qual a participação coletiva estava restrita, uma vez que a racionalidade do todo político era repassada para o indivíduo, pois, para eles, a democracia conseguia unir a racionalidade com a maximização dos interesses. Desta maneira, a democracia é percebida como algo formal, assim ―Para Schumpeter (1984, p. 242), o processo democrático é justamente o contrário: um método político, isto é, um certo tipo de arranjo institucional para se chegar as decisões políticas e administrativas‖. Já para Weber (2009), a democracia se constitui em uma simples formalidade, a igualdade existe apenas nos direitos políticos, não havendo espaço para que seja consolidada uma participação coletiva, uma soberania popular, pois ―a separação do trabalhador dos meios materiais de produção, destruição, administração, pesquisa acadêmica e finanças geral é a base comum do Estado moderno, nas suas esferas política, cultural e militar‖ (2009, p. 529), não havendo espaço na vida cotidiana dos sujeitos para se dedicar à política profissional. Na perspectiva elaborada por Schumpeter (1984), a democracia é apenas um método pelo qual se constitui um arranjo institucional, capaz de conduzir processos de tomadas de decisões políticas, produzindo, assim, governos que seriam compostos por agentes capazes de gerenciarem o Estado, sem que houvesse a necessidade de atuação coletiva dos sujeitos. Neste sentido,.

(28) 26. o balanço das contribuições de Weber e Schumpeter apontam na mesma direção. Ambos os autores perceberam que o pressuposto da soberania conflitava tanto com as formas complexas de administração do Estado moderno quanto com a pluralidade de valores e de orientações individuais (AVRITZER, 1996, p.108).. Desse modo, a crítica que Habermas (2012) desenvolve ao modelo liberal de democracia, que se prende apenas às formalidades dos atos institucionalizados e que dificulta a participação popular, esquecendo o sujeito, ―não consiste na autodeterminação democrática das pessoas que deliberam, e sim, na normatização constitucional e democrática de uma sociedade econômica, a qual deve garantir um bem comum apolítico‖ (HABERMAS, 1997, p. 20), dando respaldo ao processo sem observar os sujeitos que promovem e fazem a política acontecer. Partindo das concepções contra-hegemônicas, Habermas (1997) se destaca por expor que o procedimentalismo deve ser pensado como uma prática social, que seja capaz de proporcionar a criação de um espaço público que tenha por princípio a deliberação e discussão racional por parte dos sujeitos sociais envolvidos. Ao observar a concepção de democracia desenvolvida pelo socialismo, verifica-se a defesa de uma maior participação dos sujeitos sociais, com a defesa do sufrágio universal como início das modificações necessárias que deveria passar a sociedade, para efetivar a democracia, havendo a defesa de uma democracia direta, com maior participação popular e controle do poder sobre os diversos órgãos constitutivos da sociedade. Assim, Essas transformações são fundamentalmente duas: de um lado, a universalização do direito de voto e a implantação do sistema eleitoral proporcional e, do outro, o surgimento dos partidos de massa como instrumentos de mobilização, de canalização e de disputa do processo eleitoral. Ao mesmo tempo em que essas transformações ocorriam no campo político, na área social a crescente mobilização do proletariado urbano gerou também significativas mudanças políticas decorrentes da organização e do desenvolvimento do movimento sindical (ALBUQUERQUE JÚNIOR; MIRANDA, 2002, p. 9).. A democracia socialista se caracterizaria pela formação de um órgão que unificasse o executivo e o legislativo, ao mesmo tempo em que substituísse o parlamento na forma liberal, buscando estabelecer a constituição de um sistema eleitoral atingisse todos os órgãos do Estado e evitasse que alguns tivessem.

(29) 27. autonomias, que os conduzissem para longe da vontade geral, se fazendo necessário que houvesse a existência de conselhos municipais eleitos por sufrágio universal,. responsáveis. e. revogáveis. a. qualquer. momento,. além. da. descentralização das ações políticas. Essas ações foram desenvolvidas durante a Comuna de Paris e influenciaram a configuração de uma democracia socialista, que teria nos conselhos sua plena consolidação. Neste modelo de democracia, o controle é exercido pelo trabalhador, através dos conselhos de fábrica, onde um novo tipo de Estado é gestado, de modo que os trabalhadores lideram a organização estatal, contrapondo-se ao Estado dos cidadãos abstratos: Por isso, duas questões cruciais emergiram entre meados do século XIX e o início do século XX, como fundamentais para a continuidade dos sistemas políticos parcialmente representativos, idealizados pela burguesia, com base nos postulados do liberalismo: necessidade de uma reforma eleitoral e a "questão social" (ALBUQUERQUE JÚNIOR; MIRANDA, 2002, p.1).. Ao vislumbrar o despontar do século XX e as diversas influências ideológicas e doutrinais herdadas do século anterior e que haviam inspirado a forma de pensar e agir da sociedade europeia, percebe-se que a Democracia ainda aparece como algo incipiente, sem muitos contornos: ―Em 1900, não havia países que se ajustassem nos modelos que hoje designamos por Democracia: um governo constituído através de eleições em que participam todos os cidadãos adultos com direito a votar‖ (ZAKARIA, 2004, p.11), era um modelo restrito e elitista. O regime democrático, ao assumir um lugar de destaque no cenário político do século XX, trouxe para si diversas questões que foram abordadas ao longo de todo o século, despertando divergências sobre os procedimentos de implantação do regime sobre a participação da população, as incompatibilidades com o sistema econômico e outras questões que foram surgindo neste período: O século XX foi efetivamente um século de intensa disputa em torno da questão democrática‖ (SANTOS, 2016, p.14) e sua complexa organização. Dessa maneira, verifica-se que as concepções sobre a democracia no século XX fazem uma reflexão acerca da pluralidade com que ações humanas são desenvolvidas no campo da política, tendo por base uma formação social-histórica, neste aspecto: ―A teoria política liberal – o máximo de consciência teórica da.

(30) 28. modernidade capitalista – sempre privilegiou, como dispositivo ideológico, o universalismo antidiferencialista que acionou politicamente através das ideias da cidadania e dos direitos humanos‖ (SANTOS 2010, p.284), mas que mantém uma prática hegemônica, excludente e colonizadora do poder. Nas discussões políticas do século XX, sobre a Democracia, possibilitou que houvesse o desenvolvimento de várias reflexões que demonstraram a emergência de posições contraditórias, abrindo condições para que novas concepções fossem formuladas: ―A democracia tem em comum com outros conceitos políticos um traço marcante: é contestável‖ (DALLMAYR, 2001, p.11), não estando à margem de análises, construções e reconstruções próprias de cada período e lugar. Ao vislumbrar as concepções contra-hegemônicas, Santos (2005) explica que a Democracia deve ser percebida como uma nova gramática histórica, que articula a inovação social com a inovação institucional: A democracia, nesse sentido, sempre implica ruptura com as tradições estabelecidas, e portanto, a tentativa de instituição de novas determinações, novas normas e novas leis. Essa indeterminação produzida pela gramática democrática, em vez apenas de indeterminação de não saber quem será o novo ocupante de uma posição de poder (SANTOS, 2005, p.52).. Desta forma, ao rememorar as mais diversas concepções de regimes democráticos e sua difusão, presume-se que ―A polissemia do conceito democracia vincula-se. às. interpretações. teórico-ideológicas. que. atribuem. sentido. às. experiências de socialização, bem como a projetos de sociedade‖ (RIBEIRO; COUTINHO, 2006, p. 13). Entre estas teorias, destaca-se a ―Democracia Participativa‖, que tem em Pateman (1992) uma das principais defensoras. Para Autora a democracia se afastou dos seus pressupostos básicos, pois : [...] a teoria democrática não está mais centrada na participação do povo, na participação do homem comum, nem se considera mais que a principal virtude de um sistema político democrático reside no desenvolvimento das qualidades relevantes e necessárias, do ponto de vista político, no indivíduo comum; na teoria democrática contemporânea, o que importa é a participação da elite minoritária [...] (PATEMAN, 1992, p. 138).. Nessa perspectiva, a participação popular é vista como uma forma efetiva de fazer com que todos os sujeitos participem do processo democrático, não ficando.

(31) 29. restrito ao poder de votar. Esta via começou a ganhar força em todo o mundo, pois visava ultrapassar a visão reducionista que a democracia representativa havia desenvolvido. Pateman (1992) explica que: A teoria democrática participativa é construída em torno da afirmação central de que os indivíduos e suas instituições não podem ser considerados isoladamente. A existência de instituições representativas a nível nacional não basta para a democracia, pois o máximo de participação de todas as pessoas, a socialização ou o treinamento social, precisa ocorrer em outras esferas, de modo que as atitudes e qualidades psicológicas necessárias possam se desenvolver. Esse desenvolvimento ocorre por meio do próprio processo de participação. A principal função da teoria da democracia participativa é, portanto, educativa; educativa no mais amplo sentido da palavra, tanto no aspecto psicológico como no que se refere à aquisição de habilidades e de prática de procedimentos democráticos. Por isso, não há nenhum problema especial quanto à estabilidade de um sistema participativo; ele se auto-sustenta por meio do seu impacto educativo. A participação promove e desenvolve as próprias qualidades que lhe são necessárias; quanto mais os indivíduos participam, melhor capacitados eles se tornam para fazê-lo (PATEMAN 1992, p. 60).. Nesse sentido, Benevides (2003) ratifica e explica que a democracia se consolida a partir de pressupostos básicos: a soberania popular ativa, assim como o respeito aos direitos humanos, com uma política de inclusão social; como afirma: ―[...] Creio que as formas de democracia direta podem servir de corretivos aos vícios da democracia representativa, tão bem conhecidos entre nós, mas ninguém pensa que possam substituir a representação para os cargos executivos e legislativos‖ (BENEVIDES, 2003, p.87), é forma que produzirá a coexistência dos modelos, a democracia representativa se caracteriza por ter uma baixa intensidade e a democracia participativa que busca ampliar a participação popular nos processos de decisão. Segundo participação,. Santos fica. (2005),. visível. a. nesse. processo. interferência. dos. de. institucionalização. movimentos. sociais,. da que,. representando uma pluralidade cultural, na qual os sujeitos sociais passam a ressignificar a luta pela transformação social, ampliando o debate democrático e o aumento da participação social, ao incluir a busca pela ocupação de espaços de representação que contemplem a diversidade cultural e social, que ficam subrepresentadas no modelo hegemônico. ―Ao mesmo as formas de relativização da representatividade ou articulação entre a democracia participativa parecem.

(32) 30. promissoras na defesa de interesses e identidades subalternas‖ (SANTOS, 2005, p. 55), que não possuíam espaço para defender suas posições. Na segunda metade do século XX, a prática democrática começou a aparecer nos países que viveram sob regimes autoritários ou mesmo governos democráticos que cultivaram fortes desigualdades sociais e políticas, como Portugal, Brasil, África do Sul, entre outros. O processo de redemocratização possibilitou que houvesse uma abertura por parte dos governos para a participação popular nos acontecimentos que atingem diretamente a sociedade, ainda que de forma bastante restrita, a exemplo do que ocorreu na África do Sul, na luta pelo fim do apartheid, com o movimento cívico e o movimento sindical. No caso do Brasil, a luta pela redemocratização marcou esse processo. Conforme ressalta Avritzer (2002, p. 56), ―[...] Durante o processo brasileiro de democratização e de constituição de atores comunitários surgiu de modo semelhante à ideia do ―direito a ter direitos‖, uma disputa pela emancipação e participação‖. Para Santos (2005), a práxis democrática nos países do Sul, nos moldes participativos, foi uma experiência que somente ocorreu após os processos de redemocratização, durante as décadas de 70, 80 e 90 do século XX, redefinindo o significado da gramática social, […] os atores que implantaram as experiências de democracia participativa colocaram em questão uma identidade que lhes fora atribuída externamente por um Estado colonial ou por um Estado autoritário e discriminador. Reivindicar […] direitos a bens públicos distribuídos localmente (Brasil) […] implica questionar uma gramática social e estatal de exclusão e propor, como alternativa, uma outra mais inclusiva (SANTOS, 2005, p. 57).. Dessa maneira, há democracias e democracias, analisá-las na atualidade, aponta para uma reflexão sobre os diversos temas que envolvem o Estado e a participação da sociedade civil na organização desta instituição, que questionava a democracia representativa como única forma de participação do povo, que se reduz a eleitor, que não precisa agir como agente político, pois delega a quem foi eleito a função de representá-lo na gestão pública: ―[...] O homem e a mulher só são políticos no momento da escolha do voto. Essa é a única concessão da Democracia Representativa. Elegem e vão para casa, já desnudados de seu ser político‖ (SIGNORELLI, 2010, p. 45), tornando-se sujeitos apolíticos..

(33) 31. Nessa perspectiva, os processos de implantação de um modelo contrahegemônico implicam a consolidação de uma luta constante pela cultura de participação e inclusão, que exprime os projetos de libertação do colonialismo e suas práticas, por isso, ―Nas margens do discurso dominante sobre a democracia, estiveram sempre presentes, ao longo do século XX, as concepções contrahegemônicas de democracia‖ (SANTOS, 2016, p. 18). Diante da disputa entre a ampliação da participação dos sujeitos sociais nos diversos tipos de tomada de decisão e a restrição da participação do modelo hegemônico, Santos (2005) vê a disputa entre a democracia liberal e o capitalismo controlada por dois meios: pela prioridade conferida à acumulação de capital em relação à redistribuição social e pela limitação da participação cidadã, tanto individual, quanto coletiva, com o objetivo de não ―sobrecarregar‖ demais o regime democrático com demandas sociais que pudessem colocar em perigo a prioridade da acumulação sobre a redistribuição (SANTOS, 2005, p. 59).. Além de manter as duas patologias que caracterizam o modelo liberal: patologia da participação e da representação, que segundo Santos (2016, p. 17) ―eram, afinal, o resultado esperado pelas teorias democráticas liberais elitistas[…] uma vez que desencorajavam a mobilização social‖, que poderiam ampliar e aprofundar processos democráticos de participação. Ao olhar o debate contemporâneo, desenvolvido na América Latina sobre a Democracia, percebe-se que novas preocupações têm concentrado os esforços das análises realizadas no continente por diversos cientistas sociais, conforme aponta Dagnino (2006): análise da consolidação da democracia eleitoral em toda América Latina; reflexões sobre a insatisfação com os resultados dessas democracias quanto ao atraso na justiça social; a luta por aprofundar e consolidar um projeto político que proporcione o exercício dos direitos; abertura de novos espaços públicos, com capacidade decisória da participação política da sociedade, além do reconhecimento e da inclusão das diferenças, passaram a pautar estas análises. A partir dessas reflexões, é possível ter uma percepção do que está acontecendo nos processos de disputa pelo poder na América Latina. Segundo Dagnino (2006), esta disputa se dá entre dois projetos políticos, que, apesar de.

(34) 32. conterem semelhanças, são bem distintos, mesmo fazendo o uso de conceitos que favorecem os dois modelos: Referimo-nos de um lado, ao que chamaremos de projeto democrático participativo e, de outro, ao projeto neoliberal de privatização de amplas áreas das políticas públicas, que é acompanhado por um discurso participacionista e de revalorização simbólica da sociedade civil (entendida como Terceiro Setor) (DAGNINO, 2006, p. 14).. No entanto, o desenvolvimento desses dois projetos políticos de democracia não impende e nem tornam inviáveis as formas autoritárias, que se colocam como alternativa de poder, não havendo nenhum impedimento, como se verifica na história da América Latina. Por isso, ao vislumbrar o debate contemporâneo sobre a democracia participativa, Dagnino (2006) expressa que sua emergência ocorreu, visando a superação das características elitistas e excludentes das democracias eleitorais e das teorias que fundam e legitimam essas democracias, que não conseguem corresponder aos anseios da sociedade. Desta forma, Uma vez alcançada a democracia representantiva, a sociedade civil ativada deixa seu espaço de ação para a sociedade política, a qual assume as causas e os interesses da sociedade civil e monopoliza as funções da representação legítima. Não há uma consideração adequada da abertura de novos espaços públicos e da emergência de novos atores, agendas e práticas. Ao conceber a democracia como mero exercício de representação política(eleitoralmente autorizada) no campo do Estado, se reproduz uma separação conceitual entre elas e, portanto, o entendimento da democratização como um processo que se origina na sociedade mesma e a transforma. (DAGNINO, 2006, p. 18). Nesse sentido, ao analisar o processo de consolidação democrática na América Latina, Dagnino (2006) se reporta às reflexões coordenadas por O'Donnel em La Democracia em América Latina - 2004, nas quais aparecem diversas críticas ao modelo elitista, fornecendo uma definição que amplia o significado da democracia, não sendo apenas um regime político, mas um novo ―modo de vida‖. Assim, O'Donnel propõe […] que somente uma cidadania integral (isto é, o acesso pleno aos direitos civis, políticos e sociais) pode garantir a existência de uma verdadeira democracia. Enquanto o acesso ou desfrute dos direitos for parcial ou não existir para setores amplos da população, a.

(35) 33. democracia eleitoral será precária e manipulável (O'DONNEL, 2004 apud DAGNINO, 2006, p. 19).. Ao visualizar os projetos políticos, Dagnino (2006) expressa a necessidade de problematizar as esferas do Estado, da nação, do regime político, buscando visualizar a democraticidade do Estado, de modo a observar suas estruturas, que proporcionam o desenvolvimento da democracia de forma interna, considerando que o Estado é um ente bastante heterogêneo, no qual as instituições e suas estruturas se formam em períodos e ciclos distintos, não sendo uma estrutura permanente e homogênea. ―Dessa forma, é necessário entender o fenômeno da heterogeneidade do Estado na América Latina como um processo histórico e como uma condição que compõe o cenário em que se trava a disputa pela construção democrática‖ (DAGNINO, 2006, p. 19), que envolve a participação ativa da sociedade civil na atualidade. No início da década de 90, a proposta de democracia participativa ganhou vários. adeptos,. que. impulsionaram. seu. aparecimento. nos. países. subdesenvolvidos. No Brasil, esta forma do modelo democrático aparece com o chamado ―Orçamento Participativo – OP‖, que, depois de ser implantado em Porto Alegre e devido ao seu aparente êxito nesta cidade, espalha-se pelo Brasil afora, demonstrando que esse modelo de inserir atores sociais na discussão acerca do orçamento de uma determinada cidade deve ser um espaço conquistado pelos grupos de indivíduos organizados, a fim de que a proposta da participação da sociedade na elaboração orçamentária e intervenção nas decisões seja legitimada pela participação de todos, pois. A democracia participativa destaca a necessidade de ampliação dos espaços de decisão coletiva na vida cotidiana. O chamamento episódico à participação nas questões públicas, no período eleitoral, é julgado insuficiente para promover a qualificação das cidadãs e dos cidadãos. É necessário que as pessoas comuns estejam presentes na gestão das empresas, das escolas, enfim, que a participação democrática faça parte de seu dia-a-dia. Como se vê não se trata de uma volta à democracia direta, mas da combinação dos mecanismos representativos com a participação popular na base. Influente, sobretudo nas décadas de 1970 e 1980, ela se faz presente hoje, com ambições mais modestas, em iniciativas de reforma da política local, como, entre outras, o ―orçamento participativo‖ experimentado em vários municípios brasileiros (MIGUEL, 2005, p. 8)..

Referências

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