• Nenhum resultado encontrado

Avaliação in-situ da aderência de materiais de revestimento

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Avaliação in-situ da aderência de materiais de revestimento"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

Avaliação in-situ da aderência de materiais de revestimento

Inês Flores-Colen ICIST/IST Portugal ines@civil.ist.utl.pt Jorge de Brito ICIST/IST Portugal jb@civil.ist.utl.pt Fernando A. Branco ICIST/IST Portugal fbranco@civil.ist.utl.pt

Resumo: Os revestimentos devem garantir adequados valores de aderência durante o seu tempo de vida útil, evitando situações de descolamento e desprendimentos. O ensaio pull-off é uma técnica de ensaio destrutiva que permite avaliar in-situ a resistência ao arranca-mento por tracção (aderência) de diversos revestiarranca-mentos. Nesta comunicação, são discuti-dos os resultadiscuti-dos desta técnica de ensaio realizada em oito casos de estudo, revestidiscuti-dos a ladrilhos / azulejos cerâmicos, reboco colorido monocamada, reboco interior, estuque e tinta / argamassa impermeabilizante. Pretende-se, assim, avaliar a adequabilidade do ensaio pull-off numa avaliação in-situ em materiais de revestimentos.

Palavras-chave: aderência, revestimentos, in-situ, pull-off, ensaio.

1. INTRODUÇÃO

Os revestimentos de paredes e tectos devem garantir uma adequada aderência ao suporte durante o seu tempo de vida útil. A falta de aderência destes revestimentos conduz a des-tacamentos, que poderão ser agravados pela acção dos agentes de degradação e originar situações de perigo para os utentes ou transeuntes (por exemplo, queda de ladrilhos cerâ-micos). Vários factores influenciam a aderência: a natureza do suporte (rugosidade super-ficial, teor de humidade inicial e sucção capilar); o tipo de material de revestimento (mate-riais constituintes, espessuras, idade, condições atmosféricas durante a aplicação) [1]. A avaliação in-situ da aderência em revestimentos deve ser realizada periodicamente, durante as condições em serviço, permitindo detectar atempadamente potenciais proble-mas de descolamentos e desprendimentos. De acordo com a norma americana ASTM E2270-05, é recomendada numa inspecção detalhada a realização de, no mínimo, três testes de arrancamento por paramento [2].

O ensaio de arrancamento pull-off é uma técnica muito utilizada na avaliação in-situ da aderência de revestimentos. Esta técnica apresenta várias vantagens: (1) o aparelho tem um custo médio (500 € a 2500 €) e uma utilização relativamente fácil (os equipamentos mais actuais tendem a ser mais leves, portáteis e de fácil manuseamento); (2) permite obter informação sobre uma característica de desempenho (aderência) e sobre a sua perda em condições em serviço; (3) é de fácil interpretação de resultados; (4) não necessita de fonte de energia in-situ; (5) os resultados são fiáveis; (6) não necessita de trabalho em

(2)

laboratório [3]. No entanto, apresenta algumas desvantagens, tais como: (1) a realização do ensaio não é contínua (existe uma primeira fase de preparação e colagem das pastilhas, uma segunda de realização do ensaio e uma terceira de reparação dos locais ensaiados); (2) a duração do ensaio varia de 1 a 2 dias, dependendo do tempo de secagem da cola epóxida utilizada na colagem das pastilhas metálicas; (3) é uma técnica destrutiva que afecta a integridade do revestimento, pelo que necessita sempre de trabalhos de reparação; (4) recomenda-se pelo menos duas pessoas na realização da técnica (tendo um dos técni-cos alguma formação específica); (5) necessita de meios de acesso aos locais de ensaio (escadotes, bailéus, entre outros) [3].

A técnica mais expedita de verificação da aderência consiste na percussão de um martelo no paramento e detecção do som emitido (um som cavo permite detectar zonas não ade-rentes). Esta técnica expedita serve apenas para uma avaliação qualitativa, sendo por isso utilizada em conjugação com a técnica do ensaio pull-off. No entanto, começam a surgir novos estudos com outros equipamentos que vão no sentido de uma maior fiabilidade na avaliação da aderência, apostando em técnicas não-destrutivas: os ultra-sons (apesar de existirem vários estudos, ainda não ficou estabelecida uma correlação entre os resultados obtidos com esta técnica e a perda de aderência) ou o registo do som através de sonóme-tros conjugado com a termografia (identificação de zonas não aderentes por humidade). Pelo descrito anteriormente, e apesar das desvantagens do ensaio de pull-off, esta técnica continua a ser recomendada em normas e utilizada correntemente em revestimentos. Neste sentido, é importante analisar as suas potencialidades e criar procedimentos que permitam minimizar as suas desvantagens, em particular o grau de destruição que atinge o paramen-to. Neste contexto, esta comunicação apresenta e discute um conjunto de resultados de ensaios pull-off realizados em diversos revestimentos exteriores (na maioria dos casos) e interiores, nomeadamente: reboco colorido monocamada (um caso); ladrilhos / azulejos cerâmicos colados com cimento-cola (três casos), rebocos interiores (um caso), estuque (um caso) e tinta / argamassa impermeabilizante (dois casos).

2. O ENSAIO DE ARRANCAMENTO POR TRACÇÃO (PULL-OFF)

Este ensaio tem por objectivo avaliar a capacidade de aderência do revestimento ao supor-te. O ensaio pull-off está descrito na ficha de ensaio do LNEC FE Pa36 [4] para revesti-mentos de parede, na norma Europeia EN 10115-12 [5] para argamassas de revestimento e na EN 1348 [6] para cimentos-cola. O RILEM recomenda a mesma técnica para avaliar a aderência entre tijolos e argamassa e blocos, segundo a MR 21, e ainda a aplicação desta técnica, baseada na EN 10115-12, mas adaptada a in-situ, segundo a MDT.D.3 [7]. Esta técnica de ensaio consiste na extracção de uma pastilha metálica, com máquina pull-off, que é previamente colada ao revestimento através de uma resina epóxida. Para garan-tir que o arrancamento ocorra apenas sob a área da pastilha, é previamente criado um rasgo no seu contorno, com uma profundidade superior à espessura do revestimento. A máquina de ensaios mede a força necessária para proceder ao arrancamento da pastilha. A relação entre essa força e a área da pastilha corresponde à resistência ao arrancamento, ou seja, à máxima tensão que é possível aplicar ao revestimento.

O arrancamento pode ocorrer por perda de aderência, pela interface entre o revestimento e o suporte (rotura adesiva - tipologia a), por rotura do próprio material de revestimento (rotura coesiva no revestimento - tipologia b) ou do suporte (rotura coesiva do suporte - tipologia c). É frequente a rotura não ocorrer apenas numa destas formas, podendo combi-nar duas ou mais delas.

(3)

A tensão que provoca a rotura no plano de contacto do revestimento com o suporte (rotura adesiva) é a tensão de cedência. Se a rotura for coesiva (tipologias b ou c), o valor obtido equivale ao limite inferior da tensão de aderência, sendo válido para o cálculo de uma valor médio da resistência ao arrancamento [7].

3. ESTUDO DE CASOS

3.1 Descrição dos casos inspeccionados

Os casos de estudo analisados neste texto resultam de diversas inspecções realizadas, conforme os relatórios de peritagem indicados nas referências [8 a 14]. Os revestimentos inspeccionados visualmente, com a realização de ensaios pull-off, foram os seguintes:

• caso A - azulejos cerâmicos nas fachadas de edifício, em Lisboa; • caso B - ladrilhos cerâmicos nas fachadas de edifício, em Linda-a-Velha; • caso C - rebocos multicamada de paredes interiores de um parque de

estaciona-mento, em Lisboa;

• caso D - reboco monocamada em fachadas de moradia, em Tomar; • caso E - azulejos cerâmicos nas fachadas de edifício, em Lisboa; • caso F - estuques nas lajes de edifício, em Lisboa;

• caso G - pintura com membrana elástica e aplicação de argamassa impermeabili-zante em paredes exteriores de edifício, em Albufeira;

• caso H - tinta em aduelas, em Lisboa.

Na Tabela 1, encontra-se uma síntese dos casos de estudo em termos de tipo de revesti-mento, área revestida, idade do revestimento e fixação do revestimento ao suporte.

Tabela 1 - Caracterização geral dos sistemas de revestimento inspeccionados

Caso Tipo de revestimento Área

revestida

Idade do revestimento

Fixação / suporte Localização A azulejos cerâmicos com 40 x

40 cm2 e espessura de 7 mm 7500 m2 5 -6 anos cimento-cola / reboco / alvenaria de tijolo e de betão fachadas exterio-res

B ladrilhos cerâmicos com 22.5 x 8 cm2 e espessura de 10 mm 700 m2 5 - 6 anos cimento-cola / reboco / alvenaria de tijolo e de betão fachadas exterio-res

C rebocos cimentícios tradicio-nais

1864 m2 3 meses suporte de betão paredes interio-res

D reboco colorido monocamada - 1.5 anos suporte em betão e em alvenaria de tijolo

fachadas exterio-res

E azulejos cerâmicos com 15 x 15 cm2 e espessura de 5 mm

9000 m2 5 - 6 anos cimento-cola / alvenaria de tijolo

fachadas exterio-res

F estuque projectado aplicado directamente em betão

- poucos meses suporte de betão lajes de betão armado em tectos G membrana elástica /

argamas-sa impermeabilizante

- - suportes de alvenaria fachadas

exterio-res

H tinta - - suporte de betão aduelas

Nota: (-) significa que não foi indicada essa informação nos relatórios.

3.2 Metodologia adoptada para as inspecções / ensaios

As inspecções realizadas incluíram, de um modo geral, dois dias distintos de inspecção. Na primeira fase, procedeu-se à observação visual com levantamento fotográfico e

(4)

cola-gem das pastilhas em locais adequados. Na segunda fase, procedeu-se à realização da campanha experimental. Nos casos com anomalias de descolamento, os ensaios foram efectuados nos locais em que o revestimento se encontrava aderente. Para esta verificação, recorreu-se à percussão do paramento e à avaliação qualitativa do som emitido.

Na Tabela 2, encontram-se sintetizadas as informações relativas a cada caso de estudo, em termos de: causa dos ensaios, sua localização, extensão das anomalias e tipo de observa-ção (se foi unicamente visual ou se ocorreram outras técnicas expeditas). Verifica-se que, em cinco casos, o estudo incidiu na degradação dos revestimentos e nos restantes três no controlo da qualidade (avaliação do modo de preparação das superfícies que serão revesti-das, avaliação de diferentes opções de revestimento escolhidas pelo dono-de-obra e da aderência do revestimento após a sua aplicação nas instalações de fabrico).

Tabela 2 - Caracterização geral das anomalias observadas

Caso Causas dos ensaios Localização Extensão das

anomalias

Tipos de obser-vação A descolamentos com

queda de elementos

fachadas, em especial nas zonas curvas, ao nível dos pisos e em suportes de betão

elevada visual e por percussão B descolamentos com

queda de elementos

fachadas, em especial nas vergas de portas e janelas, e muros circundantes

média visual e por percussão C descolamentos e

desprendimentos

paredes interiores 30% da área

revestida

visual e por percussão

D pulverulência nas fachadas elevada visual e por

percussão E descolamentos com

queda de elementos

fachadas com destaque nos cantos de vãos, na zona corrente e de transição entre lajes e paredes de alvenaria

média visual e por percussão

F controlo da qualidade tectos interiores n.a. visual

G controlo da qualidade fachadas n.a. visual

H controlo da qualidade aduelas n.a. visual

Nota: (n.a.) significa que não é aplicável ao caso de estudo.

A realização dos ensaios baseou-se nos documentos técnicos anteriores [4; 5; 7]. Seguem indicações sobre alguns procedimentos do ensaio:

• foram escolhidos no mínimo 6 locais de ensaio, conforme Tabela 3 (encontram-se apenas indicados o número de ensaios válidos; na prática 1 a 2 ensaios foram nulos durante uma campanha experimental); conforme indicação das normas e recomendações técnicas, deverão ser realizados no mínimo cinco ensaios, em laboratório, para o mesmo material de revestimento [4; 5]. Para o ensaio in-situ, o MDT. D.3 recomenda, no mínimo, seis ensaios [7] e o LNEC três determina-ções da aderência por cada 50 m2 por paramento [4]]; esta última recomendação, a ser seguida por exemplo no caso A, levaria à realização de 450 determinações o que tornaria inexequível a realização do ensaio por questões económicas;

• na maioria dos casos, utilizou-se pastilhas de secção quadrada, com 5 x 5 cm2 (Tabela 3), sendo necessário a realização de rasgos no paramento através de uma rebarbadora (Figura 1), conforme alternativa proposta pelo RILEM MDT D3; este procedimento revelou-se mais adequado para in-situ do que a utilização de uma caroteadora, em particular nos revestimentos menos resistentes (Figura 2),

(5)

por ser mais fácil de transporte (rebarbadora com pequeno disco diamantado), não necessitar de água para o corte, a execução dos cortes ser mais rápida e não criar interferência no revestimento (que afecta a integridade do revestimento);

Tabela 3 - Caracterização geral dos ensaios realizados

Figura 1 - Execução dos rasgos até cerca de 3 cm (à esquerda) e aspecto final da zona a ensaiar após a execução dos rasgos (à direita)

• na maioria dos casos, utilizou-se fita-cola após a colagem das pastilhas para apoio na fase de secagem, em especial até a cola ter algum poder de colagem (Figura 3, à esquerda); no caso de tectos estucados, foi necessário colocar um prumo e um material resiliente entre o prumo e a pastilha para garantir mobiliza-ção da pastilha no processo de secagem da cola (Figura 3, à direita);

• utilizou-se dois tipos de aparelhos de pull-off, consoante a disponibilidade de equipamento para cada inspecção; a máquina de pull-off da Figura 4, à esquerda, é da marca S.A.T.T.E.C., com capacidade de 10 kN (correspondente a uma ten-são de 4.0 MPa para as pastilhas utilizadas), e um curso máximo de 30 mm; a lei-tura deste equipamento, é dada pela força que provoca a rolei-tura em daN; na Figu-ra 4, à direita, ilustFigu-ra-se o outro equipamento também utilizado, da marca PROCEQ, modelo DYNA Z6, com capacidade de 6 kN (correspondente a uma tensão de 2.4 MPa para as pastilhas utilizadas), e um curso máximo de 4 mm;

Caso Nº de ensaios válidos

Tipo de pastilhas utilizado Localização geral dos ensaios A 9 secção quadrada, 5 x 5 cm2 fachadas Norte, Sul, Poente e Nascente,

superfícies verticais e horizontais (ver-gas das janelas)

B 8 secção quadrada, 5 x 5 cm2 fachadas (zonas correntes, platibanda de betão, verga de janela), muro de entrada C 5 secção quadrada, 5 x 5 cm2 paredes do piso 0, -1, -2

D 16 secções quadradas, 5 x 5 cm2 e 10x10 cm2

fachadas a Norte, a Sul e a Nascente E 6 secção quadrada, 5 x 5 cm2 fachadas a Este, Sul, e Oeste F 6 secção quadrada, 5 x 5 cm2 três salas nos tectos do 1º piso G 10 secção circular, 5 x 5 cm2 fachadas viradas a Poente e a Norte H 11 secção circular, 5 x 5 cm2 zonas laterais, superiores e de topo

(6)

este aparelho fornece uma leitura digital, da tensão associada à rotura em pasti-lhas circulares de diâmetro 5 cm; na Tabela 4, exemplificam-se as fórmulas utili-zadas no cálculo da resistência ao arrancamento (

f

u), em N/mm2 (MPa).

Figura 2 - Caroteadora para a execução de rasgos circulares (à esquerda) e aspecto antes da colagem das pastilhas, com a queda do revestimento de argamassa (à direita)

Figura 3 - Aplicação de fita-cola para fixação da pastilha em azulejos cerâmicos (à esquerda) e utilização de prumos e material resiliente em tectos estucados (à direita)

Figura 4 - Realização do ensaio de arrancamento em superfícies verticais com máquina da marca SATTEC (à esquerda) e horizontais com máquina da marca PROCEQ (à direita)

(7)

Tabela 4 - Fórmulas de cálculo da tensão

f

upara cada equipamento de pull-off

3.3 Resultados obtidos

Os resultados obtidos para os oitos casos encontram-se sintetizados na Tabela 5. Como os valores médios podem ser enviesados por apenas alguns valores extremos, foi elaborado o diagrama box-plot na Figura 5 que facilita a análise comparativa entre os casos de estudo, através da indicação de: média e mediana dos resultados, quartil inferior (25%), quartil superior (75%), observação mais pequena e maior.

Por último, apresenta-se na Tabela 6 uma síntese das tipologias de rotura (adesivas e coe-sivas). As roturas que ocorreram na cola epóxida (interface entre a pastilha e a camada superficial do revestimento) foram consideradas nulas, à excepção do caso H.

Tabela 5 - Caracterização geral dos resultados obtidos em MPa

Caso Média ensaios Desvio padrão Valor míni-mo Quartil infe-rior (25%)

Mediana Quartil supe-rior (75%) Valor máximo A 0.69 0.33 0.30 0.46 0.55 1.02 1.14 B 0.55 0.57 0.09 0.14 0.24 0.76 1.63 C 0.79 0.46 0.11 0.63 0.82 1.16 1.25 D 0.13 0.07 0.07 0.08 0.12 0.15 0.31 E 0.63 0.63 0.02 0.08 0.53 1.16 1.38 F 0.67 0.22 0.32 0.55 0.70 0.84 0.91 G 1.16 0.83 0.31 0.51 0.97 1.78 2.80 H 3.11 0.57 2.60 2.76 3.06 3.21 4.59

4. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os valores médios dos resultados das tensões não são, na maioria dos casos, representati-vos do comportamento global do sistema de revestimento, apesar de servirem de termo de comparação com os requisitos / recomendações técnicas. Nos sistemas de ladrilhos / azu-lejos cerâmicos aderentes, os casos A (fu

média

= 0.69 MPa) e B (fu média

= 0.55 MPa) e E (fumédia= 0.63 MPa) apresentam valores médios satisfatórios (Tabela 5) superiores a 0.3 MPa. De acordo com Sá [15], este valor considera-se o termo de vida útil do sistema de revestimento cerâmico aderente por se entender que a partir dele o sistema já não é capaz de realizar, nas condições mínimas de segurança, as funções a que se destina. No entanto, nos casos B e E, existe uma tendência para valores muito mais baixos do que essa média, razão que justifica uma mediana inferior (0.24 MPa no caso B e 0.53 MPa no caso E). Nestes dois casos, dizer que o comportamento à aderência é satisfatório com base unica-mente na média dos valores não é suficiente para explicar a queda do revestimento.

Equipamento SATTEC Equipamento PROCEQ

A

F

f

u u

=

, em que: u

F

= força de rotura, em N A = área da pastilha, mm2 quadradas circulares aparelho u

A

A

f

f =

, em que: aparelho

f

= tensão lida no aparelho, em N/mm2; circulares

A

= área de uma pastilha circular, com diâmetro de 50 mm; quadradas

A

= área da pastilha de secção quadrada, utilizada no ensaio, em mm2.

(8)

Resultados dos ensaios de arrancamento de pull-off 0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.5 5 A B C D E F G H Casos estudados A d e r ê n c ia ( M P a )

Figura 5 - Diagrama box-plot com os resultados dos ensaios de arrancamento para os oito casos de estudo

Tabela 6 - Caracterização geral dos resultados obtidos

Caso Tipologia adesiva

Localização da interface Tipologia coesiva

Localização da camada do reves-timento ou suporte

A 47% cimento-cola/reboco 28% reboco

6% ladrilho/cimento-cola 19% cimento-cola

B 16% cimento-cola/reboco 26% reboco

47% ladrilho/cimento-cola 11% cimento-cola

C 31% salpisco/suporte de betão 3% reboco (2 camadas)

16% 1ª camada de base/salpisco 24% 1ª camada de base

20% 1ª e 2ª camadas de bases 6% suporte de betão

D 16% reboco/ suporte de betão 84% reboco monocamada

E 26% cimento-cola/reboco 31% cimento-cola

43% ladrilho/cimento-cola

F 6% camada de acabamento/de regularização 54% estuque (camada de regularização) 40% camada de regularização/suporte de betão

G 10% 1ª e 2ª demãos da 2ª pintura 10% reboco inicial existente 50% argamassa impermeabilizante e reboco

inicial

15% 2ª pintura e 1ª pintura 15% 1ª pintura / reboco inicial H 100% pastilha/tinta

Nos sistemas de reboco, o caso C (fumédia = 0.79 MPa) apresenta valores aceitáveis de aderência e o caso D (fumédia = 0.13 MPa) não cumpre o requisito para rebocos monoca-mada (apesar de 84% dos ensaios apresentarem roturas coesivas, Tabela 6, existem 16% com roturas adesivas na interface reboco / suporte de betão); considera-se como recomen-dação técnica o valor de resistência ao arrancamento de 0.3 MPa ou rotura coesiva, de acordo o LNEC [16]. No caso C, apesar de o valor médio ser satisfatório, existe um valor mínimo bastante inferior (0.11 MPa) que deve ser analisado.

(9)

quan-do comparaquan-do com o valor de 0.5 MPa indicaquan-do no quan-documento de homologação quan-do produ-to 196/95-NCCt; no entanprodu-to, existe um valor mínimo de 0.32 MPa que deve ser analisado. Nos sistemas de pinturas / argamassa impermeabilizante, os valores médios são aceitáveis no caso G (1.16 MPa) e H (3.11 MPa), com valores mínimos acima dos 0.3 MPa.

A análise das tipologias de roturas e respectivos valores das tensões, permitiu analisar o comportamento de cada constituinte do sistema e complementar a informação anterior. Ao nível do reboco utilizado como suporte de revestimento cerâmico, nos casos A e B, verifi-cou-se que os valores mais baixos correspondiam a roturas coesivas nesta camada (28% no caso A e 26% no B). No entanto, os valores de tensão obtidos para estas roturas encon-travam-se acima dos 0.3 MPa (por exemplo, no caso A, o valor mínimo de 0.3 MPa, para uma rotura coesiva, foi atingido numa zona onde o reboco se encontrava com alguma fissuração). Salienta-se a frequência das roturas adesivas na interface cimento-cola e rebo-co (47% no caso A e 26% no caso E) que, apesar de valores aceitáveis, revelam a menor resistência da camada superficial do reboco, associada provavelmente a uma secagem excessiva e prematura da mesma após aplicação ou deficiente preparação da superfície). Ao nível do cimento-cola, verificou-se com frequência a sua rotura coesiva no caso E (31%), com 19% no caso A e 11% no caso B. Os valores das respectivas tensões são acei-táveis para os casos E e A, admitindo a recomendação técnica do Cahier 3264 do CSTB [17], em que a aderência mínima do cimento cola após a acção do calor ou do gelo/degelo é de 0.8 MPa. No caso B, o insuficiente comportamento do cimento-cola encontra-se relacionado com erros de execução, nomeadamente: aplicação de diferentes cimentos-cola (3 a 16 mm), utilização de espessuras excessivas de cimento-cola e a não humidificação dos ladrilhos antes da sua colocação que poderá ter contribuído para a perda excessiva e pulverulência da camada superficial do cimento-cola, incluindo eventuais condições cli-matéricas durante a aplicação. Salienta-se a frequência da rotura adesiva na interface ladrilho e cimento-cola (47% no caso B e 43% no caso E), que evidenciou total falta de adesão nesta interface, independentemente da orientação das fachadas. Estes valores cor-respondem, de um modo geral, ao facto de a superfície aderida entre o cimento-cola e o suporte não corresponder à totalidade da área do azulejo, em virtude de este não ter sido convenientemente pressionado após a passagem da talocha de dentes (em alguns casos, a percentagem aderida ronda apenas os 60%).

A análise dos valores mais extremos, representados na Tabela 5 e na Figura 5, foi possível através da observação das amostras após ensaio de arrancamentos. No caso C, o valor mínimo de 0.11 MPa (muito abaixo da média de 0.79 MPa) correspondeu a uma zona em que o suporte de betão foi reparado (juntas entre painéis de betão); no caso B, o valor mínimo de 0.09 MPa registou-se na verga de uma janela onde foi utilizada argamassa de enchimento que, na observação visual, apresentava fraca coesão.

A recolha das amostras e respectiva observação do suporte permitiu aferir outras informa-ções sobre os locais de ensaio, tais como: aplicação de espessuras diferentes de cimento-cola e utilização, na mesma obra, de mais do que um tipo de cimento-cimento-cola (sem especifi-cação nos elementos de projecto) nos casos A e B, deficiências na apliespecifi-cação (insuficiente embebimento na argamassa) da malha de vidro nas zonas de ligação entre caixas de esto-res e superfície corrente no caso B, aplicação de rebocos com diferentes espessuras e camadas (uma camada de 11 mm e duas camadas com total de 25 a 30 mm) no caso C. Os casos em que o objectivo foi avaliar os fenómenos de degradação incluíram ainda a análise de outros aspectos, para além dos erros de execução mencionados. Estes aspectos complementaram a análise e justificaram, em alguns casos, a queda do revestimento e/ou a aceleração dos fenómenos de degradação:

(10)

caso A;

• ausência de juntas de fraccionamento (em especial, em fachadas curvas sujeitas a esforços higrotérmicos significativos) nos casos A, B e E, que deviam localizar-se à altura das lajes dos pisos e verticais afastadas entre 4 a 5 m no máximo, de modo a definir uma área de cerca de 20 m2 [18];

• infiltrações no intradorso do revestimento nos casos A e B, resultantes das escor-rências originadas pela acção da chuva nos paramentos e da ausência ou inade-quação de pingadeiras nos capeamentos, vergas e peitoris;

• condições climatéricas elevadas durante a execução sem respeito pelos tempos de secagem, nos casos C e D;

• erros de execução associados ao salpisco (31% das roturas na interface salpisco e betão) no caso C, nomeadamente a não limpeza do suporte de betão com idade de 4 anos, ausência de cura do salpisco (com molhagem e durante 48 horas); • falta de redes de fibra de vidro entre elementos com coeficiente de dilatação

tér-mica diferentes (tijolo e betão) e nos cantos dos vãos, no caso E.

Por último, refere-se os três casos em que os ensaios tiveram como objectivo o controlo de qualidade, destacando-se o seguinte:

• no caso F, os ensaios permitiram concluir que a lavagem e limpeza do betão das lajes dos tectos, sem aplicação do chapisco, não afectou a aderência dos estu-ques; no entanto, como existiram pontos singulares de menor aderência (valor mínimo de 0.32 MPa na Tabela 4), foi recomendada a aplicação de chapisco nas zonas ainda não revestidas e com a aplicação do reboco a decorrer;

• no caso G, verificou-se que as tensões de aderência foram mais uniformes no soco das paredes onde a rotura ocorreu sempre pela interface entre a argamassa impermeabilizante e o reboco inicial (50% dos casos), do que se depreende que a pintura aderiu em boas condições à argamassa impermeabilizante; verificou-se que a aderência da segunda pintura à pintura existente e ao reboco inicial apre-sentou valores satisfatórios;

• no caso H, embora os ensaios não sejam adesivos na interface tinta e pintura de betão (100% adesiva na interface pastilha / tinta), revelaram valores já elevados; de referir que outros ensaios realizados pelo fornecedor da tinta, não indicados nesta comunicação, com pastilhas de menores dimensões, permitiram obter o arranque da tinta com betão associado, o que demonstrou que a aderência da tinta ao betão é superior à resistência à tracção superficial do betão.

5. CONCLUSÕES

Os oito casos de estudo analisados nesta comunicação permitiram identificar as potencia-lidades da aplicação in-situ da técnica de ensaio de arrancamento pull-off a casos de degradação de descolamento / desprendimentos e no controlo da qualidade. Verificou-se que foram poucos os casos em que apenas uma análise ao valor médio das tensões de aderência foi suficiente para fazer o diagnóstico da situação, devido à elevada dispersão dos valores e diferentes tipologias de rotura (adesivas nas interfaces e coesivas nos ele-mentos constituintes do sistema de revestimento). De facto, só a avaliação do tipo de rotu-ra (e incidência em cada caso) e respectiva tensão permitiu aprofundar o conhecimento das causas de degradação ou deficiente qualidade, muitas das vezes associadas a erros de execução tão diferenciados em cada caso. Por outro lado, sendo esta técnica destrutiva, isso permitiu-lhe funcionar como uma técnica de “sondagem”, possibilitando a análise das

(11)

amostras e do suporte após os ensaios de arrancamento. Esta observação revelou-se muito importante para justificar valores mínimos de tensão devidos, essencialmente, a erros grosseiros de execução, complementando a observação visual, análise do projecto e a recolha de testemunhos no local.

Por último, conclui-se que a escolha do número de ensaios e a sua localização é muito importante. O número de ensaios válidos, entre 5 a 10, revelou-se suficiente na maioria dos casos. No entanto, cada caso deverá ser analisado, incluindo a avaliação do balanço entre os recursos humanos e económicos disponíveis, e a satisfação do objectivo imposto.

6. REFERÊNCIAS

[1] Miranda, V. - Análise da aderência de soluções de reboco tradicional sobre suportes de betão. Dissertação de Mestrado em Construção, IST, Lisboa, Maio 2004, 147 p.

[2] ASTM - Standard practice for periodic inspection of building facades for unsafe conditions. ASTM E 2270-05, ASTM, USA, March 2005, 6 p.

[3] Flores-Colen, I.; Brito, J. de; Freitas, V. P. - Expedient in situ test techniques for predictive maintenance of rendered façades. Journal of Building Appraisal, vol. 2, Nº 2, Palgrave Macmillan, June 2006, pp. 142-156.

[4] LNEC - Revestimento de paredes. Ensaio de arrancamento por tracção. Ficha de ensaio FE Pa36, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Abril 1986, 3 p.

[5] CEN, Methods of test for mortar for masonry - Part 12: Determination of adhesive strength of hardened rendering and plastering mortars on substrates. EN 1015-12, European Committee for Standardization, Brussels, February, 2000, 10 p.

[6] CEN - Adhesives for tiles. Determination of tensile adhesion strength for cementitious adhe-sives. EN 1348:1997, European Committee for Standardization, Brussels, September 1997.

[7] RILEM - RILEM Recommendation MDT. D.3. Determination “in situ” of the adhesive strength of rendering and plastering mortars to their substrate. Materials and Structures, RILEM Publica-tions, vol. 37, August-September 2004, pp. 488-490.

[8] Brito, J. de; Flores-Colen, I.; Branco, F.A. - Peritagem sobre as anomalias de aderência nos rebocos do Parque de Estacionamento do Metro do Lumiar, em Lisboa. Relatório ICIST EP n.º 62/06, IST, Outubro 2006, 16 p.

[9] Araújo, A.; Gaspar, F.; Flores-Colen, I. - Parecer técnico de monomassa projectada. Relatório, ESTG, Leiria, Setembro 2005, 40 p.

[10] Brito, J. de; Flores-Colen, I.; Branco, F.A. - Análise da aderência de azulejos cerâmicos no Hospital das Descobertas, em Lisboa. Relatório ICIST EP n.º 25/06, IST, Maio 2006, 10 p.

[11] Branco, F.; Paulo P. - Caracterização da aderência dos azulejos do edifício Gil Eanes, em Lis-boa, Relatório ICIST EP n.º 68/06, IST, Dezembro 2006, 10 p.

[12] Branco, F. - Ensaio de aderência da tinta nas aduelas do Metro, Relatório CMEST EP nº 23/94, Lisboa, Junho 1994, 3 p.

[13] Branco, F.; Brito, J. de; Ferreira, J.; Flores-Colen, I. - Análise da aderência de estuques num edifício na Rua Abel Salazar, em Lisboa. Relatório ICIST EP n.º 11/06, IST, Fevereiro 2006, 9 p. [14] Brito, J. de; Flores-Colen, I. - Análise de ladrilhos cerâmicos no Edifício Sede da Securitas, em Linda-a-Velha. Relatório ICIST EP nº 48/06, IST, Setembro 2006, 12 p.

[15] Sá, A. - Durabilidade de cimentos-cola em revestimentos cerâmicos aderentes a fachadas. Dissertação de Mestrado em Construção de Edifícios, FEUP, Porto, Janeiro 2005, 148 p.

[16] LNEC - Regras para a concessão de documentos de aplicação a revestimentos pré-doseados de ligante mineral com base em cimento para paredes. Relatório 427/05 - NRI, Laboratório Nacional de Engenharia Civil, Lisboa, Dezembro 2005, 30 p.

[17] CSTB - Classification des colles à carrelage - Définitions et spécifications. Cahier 3264, Ca-hier do CSTB, livraison 413, Octobre 2000.

[18] Silvestre, J. - Sistema de apoio à inspecção e diagnóstico de anomalias em revestimentos cerâ-micos aderentes. Dissertação de Mestrado em Construção, IST, Lisboa, Setembro de 2005, 172 p.

Referências

Documentos relacionados

Após a implantação consistente da metodologia inicial do TPM que consiste em eliminar a condição básica dos equipamentos, a empresa conseguiu construir de forma

Em todas as vezes, nossos olhos devem ser fixados, não em uma promessa apenas, mas sobre Ele, o único fundamento da nossa esperança, e em e através de quem sozinho todas as

Assim sendo, no momento de recepção de encomendas é necessário ter em atenção vários aspetos, tais como: verificar se a encomenda é para a farmácia; caso estejam presentes

Na investigação da variação sazonal dos subgrupos que compunham os grupos de alimentos que não apresentaram variações sazonais significativas, verificou-se que também

A agenda de atividades pode ser considerada um dos instrumentos que contribuem para o sucesso ou fracasso da proposta de disseminação dos resultados. Essa é

Essa modalidade consiste em um “estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, com contornos claramente definidos, permitindo seu amplo e detalhado

Foi possível recomendar melhorias na gestão, nomeadamente relacionadas com a capacidade instalada face ao serviço pretendido, tendo em conta os recursos presentes e

Este trabalho tem como objetivo contribuir para o estudo de espécies de Myrtaceae, com dados de anatomia e desenvolvimento floral, para fins taxonômicos, filogenéticos e