tura atenta a que submeti o diploma legal em tela, não me ficou a impressão de que os apelantes tenham sido bene-ficiados com êle, de forma ampla e ir-restrita, consoante o entendimento dos eminentes senhores Ministros Relator e Revisor.
Não importa haja manifesta desigual-dade de tratamento, no que toca a ven-cimentos, entre funcionários de atri-buições idênticas. Tais desigualdades só podem e devem ser corrigidas pelos po-deres competentes, mediante legislação adequada.
Ao Judiciário é que não incumbe re-mediá-los, por equidade, na ausência de texto positivo. Face ao exposto, e,
la-mentando divergir dos eminentes senho-res Ministros Relator e Revisor, nego provimento ao recurso, para confirmar a decisão de primeira instância que, a meu ver, dirimiu com inegável acêrto a controvérsia.
DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte:
Prosseguindo-se no julgamento, deu-se provimento ao recurso para julgar a ação precedente, contra o voto do Exmo. Sr. Ministro Presidente. Pre-sidiu o julgamento o Exmo. Sr. Minis-tro Henrique D'Ávila.
FUNCIONÁRIO PúBLICO -
EQUIPARAÇÃO DE VENCIMENTOS
-
A equiparação de vencimentos estabelecida em
lei
não
abrange as vantagens de caráter extraordinário.
TRIBUNAL FEDERAL DE RECURSOS União Federal versus Felix Coelho e outros Apelação cível n.O 1.320 - Relator: Sr. Ministro
ROCHA LAGOA
ACÓRDÃO Vistos, etc.
Acordam os Juízes do Tribunal Fe-deral de Recursos, por unanimidade de votos, em Segunda Turma, preliminar-mente admitir a assistência pedida, exceto quanto aos que não fazem parte integrante da Secretaria, e no mérito dar em parte provimento ao recurso da União para excluir da equiparação de vencimentos a condenação à grati-ficação de antiguidade, e os assistentes não admitidos, nos têrmos das notas dactilográficas retro.
Custas ex-lege.
Rio de Janeiro, 30 de março de 1949 (data do julgamento). - Rocha La-goa, relator do acórdão nos têrmos do art. 81 do Regimento Interno.
Presidiu o julgamento o Exmo. Sr. Mi-nistro Ábner de Vasconcelos.
RELATÓRIO
o
Sr. Ministro Abner de Vasconcelos(Relator) - Os autores apelados, fun-cionários da Secretaria do Supremo Tri-bunal, em 1937, moveram ação contra a União a fim de serem assemelhados aos vencimentos de iguais funcionários das Secretarias do Senado Federal e da Câ-mara dos Deputados, ex-vi da Lei nO. 5.622, Je 28 de dezembro de 1928. Por unanimidade, em 16 de maio de 1938, ob-tiveram a confirmação da sentença que julgara procedente o pedido. Motivado pelo reconhecimento dêsse direito, os autores tiveram de ir novamente a juízo para obter a diferença de venci-mentos. Que de novo, o Supremo Tri-bunal afirmou o seu direito proclamando o Ministro Castro Nunes que, baseado no caso julgado, a assemelhação decre-tada é para todo sempre. Assim,
qual-quer majoração feita nos vencimentos dos funcionários do Senado e da Câ-mara importava em idêntica fixação nos do Supremo Tribunal. Tendo a União proposto ação rescisória para anular a concessão dessa prerrogativa, foi a mesma julgada improcedente.
Posteriormente, a reorganização dos quadros das Secretarias das duas Casas do Congresso, constante do decreto-lei n.o 9.291, de 27 de maio de 1946, ma-jorou os vencimentos dos seus funcio-narlOS. Ao mesmo tempo, a Constitui-ção Federal nas Disposições Transitó-rias, art. 25, assegurou aos referidos funcionários legislativos o direito à gra-tificação de antiguidade, percebíveis des-de 18 des-de setembro do mesmo ano. Que a Câmara dos Deputados, em virtude da Resolução n.o 3, de 30 de janeiro de 1947, reorganizando o quadro de sua Secretaria, elevou os padrões dos seus vencimentos, pelo que, por fôrça da lei de equiparação e dos julgados referidos, os autores, devem ser alcançados pelo benefício, pois acompanham todos os vencimentos e vantagens que fôrem con-cedidos aos funcionários ocupantes dos cargos considerados como padrões, desde a data do decreto n.O 9.291, de 1946, Resolução n.o 3 e disposto no art. 25 das Disposições Transitórias da Cons-tituição Federal. Para êsse fim, os au-tores expõem a situação pessoal e fun-cional de cada um com a respectiva com-provação documental.
Citada, a União contestou a ação, e enunciando o seu objetivo e as deci-sões que têm amparado as pretendeci-sões dos autores, nega-lhes o direito ora pre-tendido, juntando aos autos a longa de-fesa apresentada pela ré na rescisória para anular um dos julgados anterio-res, que assegurou aos autores os efei-tos da assemelhação. Os autores jun-taram às fls. 162-173 os acórdãos do Egrégio Supremo Tribunal que lhes de-ram ganho de causa. A fls. 178, ou-tros funcionários da Secretaria do Su-premo, o Dr. Augusto Cordeiro de Melo, D. Clotilde Neiva de Figueiredo Pim-poni, Ana Maria de Paula Fonseca Cor-deiro e D. Ena Maria Lins de Barros,
requereram sua admissão como litiscon, sortes, para que lhes fôssem extensivos os efeitos da sentença a ser proferida, oferecendo igualmente sua situação fun-cional. A União concordou com o pe-dido dos dois primeiros funcionários, opondo-se ao dos dois últimos, por não haver igualdade de condições, não se en-quadrando aos têrmos do art. 88 do Có-digo de Processo Civil. Nisso, quatro dactilógrafas, também do Supremo, Oné-lia Leão Siqueira, Isa Moura da Costa, Maria das Mercês Pereira e Gerôncia Pereira da Silva, requereram fôssem ad-mitidas como assistentes equiparadas aos litisconsortes. J á nesta instância, pediram também para ingressar na causa como litisconsortes, D. Sílvia Nair Valdetaro, dactilógrafa recentemente nomeada, e Valdemar Rodrigues Fer-reira, auxiliar de Portaria aposentado em 9 de novembro de 1946, e interes-sados na diferença de vencimentos.
Os autores, pela petição de fls. 203, cientificaram ao Juízo da Resolução n.O 11 do Senado Federal, de 17 de ou-tubro de 1947, publicada no Diário do Congresso do dia seguinte, e que
mo-difica, em parte, o pedido da inicial, não sôbre a diferença dos vencimentos mas sôbre o quantum, e que deve pre-valecer, conforme a documentação ora oferecida.
N esse tocante, falando a respeito, a União disse que a Resolução do Se-nado não altera a posição dos autores em face da contestação. O Juiz a quo mandou que os litisconsortes melhor elu-cidassem os seus objetivos, no que ime-diatamente foi atendido com os ofícios
de fls. 219 e seguintes, devidamente documentados.
Saneado o processo, seguiu-se a au-diência de instrução e julgamento, na qual, depois de falarem as partes, o Juiz a quo, Dr. Alcino Pinto Falcão, proferiu sua decisão julgando proce-dente a ação para mandar equiparar os vencimentos dos autores, inclusive os litisconsortes, aos dos funcionários legislativos, segundo os maiores pa-drões por êstes últimos recebidos em razão do decreto-lei n.o 9.291, de 1946,
e Resoluções Legislativas ns. 3 e 11, de 1947, obedecida a correspectividade de funções, conforme se apurar em liquida-ção, além de percepção de gratificações adicionais pedidas e diferença de venci-mentos atrasados, juros, mora e custas. Houve recurso ex-officio. No prazo le-gal, a União apelou para êste Tribu-nal. Em suas razões, diz o Dr. 5.0 Pro-curador da República que, "a ser aten-iida a pretensão dos autores, seria man-dar revigorar, após a vigência da lei n.O 284, de 1936, a equiparação da lei n.O 5,622, de 1928, que aquela em tudo revogara, e que a sentença apelada des-prezou em grande parte a defesa da União, do 2.° Procurador da República. Os apelados produziram extensas razões justificativas do seu direito e do acêrto da decisão recorrida. Nesta instância o Dr. Subprocurador Geral ofereceu o se-guinte parecer: (lê)
É o relatório,
VOTO-PRELIMINAR
o
Sr. Ministro Abner de Vas-concelos (Relator) - De início, voto por que sejam admitidos como assisten-tes todos os que, mesmo posteriormente à sentença, ingressaram em Juízo, dado o seu manifesto interêsse relacionado com o direito pleiteado pelos autores. Exceto os que não fazem parte do qua-dro da Secretaria do Tribunal. É o que dispõe o art. 93 do Código de Pro-cesso Civil:"Quando a sentença houver de influir na relação jurídica entre qualquer das partes e terceiros, êste poderá intervir no processo como assistente, equiparado ao litisconsorte."
A lei não estabelece o momento dessa intervenção, mas, desde que o interêsse consiste na mesma relação jurídica em tôdas as fases da ação, até mesmo de-pois do julgamento, ela é cabível. É esta a tradição do nosso direito, como se vê de Paulo Batista - Teoria e Prá-tica, § 127.
Não vejo motivo para a recusa, data i'enia.
VOTO-PRELIMINAR
o
Sr. Ministro Macedo Ludolf(Re-visor) - Não obstante o douto pro-nunciamento do eminente Dr. Subpro-curador Geral da República, sou por que se reconheça o direito de assistência plei-teado a fls. 258, pôsto que êsse direito consubstancia uma situação de litiscon-sórcio ativo, voluntário, nos têrmos do Código de Processo Civil, art. 88, aten-dendo à arguição de perfeita identidade de interêsse entre assistentes e assis-tidos, quer de direito, quer de fato, cor-respondendo a isso uma mesma obri-gação atribuída à União Federal, qual seja a pretendida assemelhação de ven-cimentos.
Para essa intervenção na causa, não está fixado ou delimitado, como já tive ocasião de sustentar na apelação cível n." 313, o momento em que caiba ser exercitado o cogitado direito, assegu-rado no predito art. 88; apenas incumbe ao Juiz, in concreto, verificar da pos-sibilidade ou não de se admitir o in-gresso de terceiro na lide.
A possibilidade dês se ingresso, na hi-pótese, já deixei há pouco evidenciada, eis que os suplicantes, na qualidade de funcionários do serviço da Secretaria do Supremo Tribunal Federal, preten-dem que sejam a êles extensivos os mes-mos direitos que, porventura, fôrem ju-dicialmente reconhecidos, em relação aos seus demais colegas, autores na de-manda. Isso ainda está oportuno.
Assim, não procede a preliminar de intempestividade suscitada no parecer da Subprocuradoria Geral, desprezando eu essa preliminar.
VOTO-PRELIMINAR
o
SI'. Ministro Rocha Lagoa - Acom-panho o voto de V. Ex., pois, entendo que provado que seja o interêsse eco-nômico ou moral daquele que pretende vir na qualidade de assistente e, dado que a lei processual não fixou momento apropriado para isso, pode ser admitida assistência em qualquer fase do julga-mento, até a decisão definitiva. Ainda há poucos dias votei por um pedido deassistência, formulado oralmente, por ocasião da assentada do julgamento.
É o meu voto, Sr. Presidente.
VOTO-MÉRITO
O Sr. Ministro Ábner de Vas-concelos (Relator) - O direito básico dos apelantes, relacionado com a sua qualidade funcional, já se acha reconhe-cido por sucessivos acórdãos do Egrégio Supremo Tribunal. O que ora pleiteiam, é o desdobramento jurídico do que já constitui um direito adquirido de ordem judicial. Declarado que a sua classifi-cação no quadro das funções públicas se-ria de assemelhação à que é peculiar às Casas do Congresso, a equiparação de vencimentos passou a ser uma decor-rência imediata das alterações por que passaram as secretarias legislativas. Depois da obtenção judicial de dois au-mentos, foi-lhes negado o benefício pro-veniente de uma terceira melhoria.
Se o Egrégio Supremo Tribunal pro-clamou que as modificações sobrevindas à assemelhação, importariam em aumen-tos de vencimenaumen-tos para os funcionários da sua Secretaria, não cabe a oposição feita pela União. É um direito já reco-nhecido. Entretanto, não compete aos apelados a pretendida gratificação de antiguidade. Esta constitui um direito de natureza especial e a sua aquisição só se objetiva por meio de expressa dis-posição de lei. A equiparação de ven-cimentos assegurada aos autores e assis-tentes é a normal, ordinária, enquanto que a gratificação por tempo de ser-viço é de caráter extraordinário. Den-tro de uma mesma classe pode não ha-ver uniformidade. O Congresso conce-deu antigamente aos juízes de primeira e de segunda instância da justiça local, e não a estendeu ao Supremo Tribunal Federal. Não havendo lei que especi-ficadamente outorgue a concessão aos autores, não há que subentender a van-tagem concedida aos funcionários do Poder Legislativo.
A sentença apelada apreciou muito bem a hipótese, embora mereça ser
re-formada, em parte, quanto à gratifica-ção adicional e à exclusão dos
assisten-tes que não pertençam ao quadro da Secretaria do Tribunal. Os autores e assistentes têm direito a vencimentos anteriores não percebidos, exceto os
que,
porventura, tenham caído em prescri-ção. E a juros da mora a partir do trânsito em julgado da sentença.
Dou provimento em parte, para refor-mar a decisão apelada, pagas as custas em proporção.
VOTO-MÉRITO
O Sr. Ministro Macedo Ludolf
(Re-visor) - A decisão apelada, reconhe-cendo o direito pleiteado pelos autores todos funcionários do Supremo Tribu-nal, de terem os seus estipêndios equi-parados aos dos funcionários legisla-tivos, nada mais fêz senão respeitar uma situação que se consolidara em de-finitivo e para todo sempre, por fôrça de vários julgados do Pretório Excelso, a que se fêz menção no processo-situação que esta Egrégia Turma já teve oca-sião de examinar e proclamar pelo me-nos na apelação cível n.o 350.
f:sses julgados, encarando e interpre-tando a . legislação do país anterior à Constituição de 1946, firmaram exata-mente o princípio da assemelhação de vencimentos entre aquêles funcionários da Secretaria do aludido Tribunal e os das Secretarias do Senado e Câmara Fe-derais, observada a identidade de cate-gorias.
Os autores ora apelados, reclamam terem seus colegas que trabalham no Congresso Nacional obtido mais alta re-muneração, em virtude de resoluções le-gislativas, e que a êles apelados assiste o direito adquirido àquela assemelha-ção, competindo-lhes, assim, a diferença proveniente da majoração havida, atê que o Govêrno efetive a devida equipa-ração.
Aliás, em razão da jurisprudência fir-mada, o assunto da invocada assemelha-ção foi objeto do decreto-lei n.O 8.626, de 1946, voltando a ser regulado com amplitude pela recente Lei n.o 264, de 1948, conforme propusera ao Poder Le-gislativo a nossa suprema instância ju-diciária.
Ora, está patente que a cogitada ma-joração verificou-se pela forma exposta na causa, achando-se, além disso, com-provada a situação funcional dos auto-res e dos assistentes a fls. 160, 178 e 258, todos mencionados na sentença à
exceção de Sílvia Nair Valdetaro e Val-demar Rodrigues Ferreira, que somente ingressaram no feito já em fase de re-curso nesta instância. Uns e outros, realmente, merecem o amparo judicial pedido, para que lhes seja garantido o direito de equiparação de que se trata, conforme se apurar em execução.
Não assim, quanto aos assistentes de fls. 183 e 190, porquanto não perten-cem êles ao quadro da Secretaria do Su-premo Tribunal, mas apenas estão ali lotados provisoriamente, na qualidade de funcionários do Ministério da Justiça, por onde fazem a sua carreira.
Pouco importa que, em relação a Is-mael Gruvêlo Cavalcãnti, oficial admi-nistrativo do referido Ministério, em função naquela Secretaria, se tenha as-segurado, em outra ação, semelhantes vencimentos, correspondentes a cargos ali idênticos. É que êsse funcionário, por sua categoria, podia ser equiparado aos demais oficiais da predita Secreta-ria, enquanto que os assistentes a que venho de me referir exercem cargos que não têm similares no Tribunal, ou sejam
escriturários e dactilógrafos, como se deixou assinalado na impugnação a fô-lhas 188.
Em atinência às gratificações adicio-nais por tempo de serviço, não vejo por onde se possa considerar legítima a pre-tensão ajuizada.
A assemelhação configurada apenas se concretizou em relação a vencimen-tos, diante da considerada situação le-gal anterior à atual Magna Carta, quan-do, então, não se proporcionava a vanta-gem decorrente daquelas adicionais.
Não há negar que essa vantagem
s0-mente pode constituir direito do cida-dão, em virtude de disposição expressa de lei, atendendo a natureza especial de
que se reveste, dês que é concedida em caráter de exceção.
No entanto, entendem os autores, se-gundo deflui do seu petitório, que lhes devem ser pagas as referidas adicio-nais, unicamente porque o art. 25, das Disposições Transitórias da nossa vi-gente Constituição, assegurou-as aos funcionários legislativos.
Mas, o preceito há que ser interpre-tado restritivamente, em função da sua apontada excepcionalidade, estando bem nítido e delimitado àqueles funcionários o pensamento do legislador constituinte no dispositivo em foco.
Assim, dou em parte provimento ao recurso de ofício e à apelação da União, a quem condeno a pagar, em .conse-quência da assemelhação, aos autores e assistentes, excluídos os de fls. 183 e 190, as diferenças entre os vencimen-tos que receberam e aquêles que são per-cebidos a maior por funcionários das Secretarias do Congresso Nacional, ocupantes de cargos idênticos, acrescen-do-se juros da mora na forma da lei e custas em proporção.
VOTO
o
Si·. Ministro Rocha Lagoa - Es-tou de inteiro acôrdo. Deixo de apre-ciar o pedido dêsses funcionários que não integram o quadro porque, preliminar-mente, êles já estão excluídos.DECISÃO
Como consta da ata, a decisão foi a seguinte:
Preliminarmente, a Turma admitiu, por unanimidade, a assistência pedida, exceto quanto aos que não fazem parte integrante da Secretaria, e pela mesma votação deu, em parte, provimento à
apelação da União, para excluir da equi-paração de vencimentos a condenação à gratificação de antiguidade e os assis-tentes não admitidos.
Usou da palavra o Exmo. Sr. Dr. Al-ceu Barbedo, Subprocurador Geral da República, sustentando o seu parecer.