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ECLI:PT:TRP:2015:4.04.4TBVLG.P2.A1

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ECLI:PT:TRP:2015:4.04.4TBVLG.P2.A1

http://jurisprudencia.csm.org.pt/ecli/ECLI:PT:TRP:2015:4.04.4TBVLG.P2.A1

Relator Nº do Documento

Carlos Querido rp201503164/04.4tbvlg.p2

Apenso Data do Acordão

16/03/2015

Data de decisão sumária Votação

unanimidade

Tribunal de recurso Processo de recurso

Data Recurso

Referência de processo de recurso Nivel de acesso

Público

Meio Processual Decisão

Apelação revogada

Indicações eventuais Área Temática

5ª Secção . Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores

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Sumário:

I. - A enumeração das nulidades da sentença prevista do n.º 1 do artigo 615.º do NCPC

(correspondente ao n.º 1 do artigo 668.º do CPC na versão anterior) tem carácter absolutamente taxativo, como é pacificamente aceite pela doutrina e pela jurisprudência

II - A fundamentação da sentença deverá permitir de forma transparente aos destinatários, a percepção das razões de facto e de direito da decisão judicial, revelando o iter «cognoscitivo» e «valorativo» percorrido pelo julgador, garantindo assim às partes a sua plena impugnabilidade, nos casos em que estejam reunidos os restantes requisitos.

III - O direito de propriedade de água nascente em prédio alheio não se confunde com a servidão traduzida no direito de uso dessa água.

IV - O direito de servidão realiza-se no aproveitamento de uma nascente existente num prédio (serviente) concedido a terceiro em benefício de um seu prédio (dominante) e para as

necessidades deste.

V - Definindo-se o direito dos autores como mero direito de servidão da água nascente em mina situada no prédio serviente, propriedade da ré, tal mina (estrutura externa englobando os pórticos), não pertence aos autores, não lhes assistindo o direito a exigir que se mantenha ou se altere a sua configuração.

VI - O que os autores podem exigir, baseados no seu direito (de uso da água da mina), é apenas isto: que tal direito (traduzido na servidão do prédio onde a mina se encontra instalada), se

mantenha inalterado (salvo se a nascente perder caudal ou secar naturalmente), devendo o dono do terreno ou qualquer terceiro lesante, repor a situação anterior e indemnizar pelos danos

causados com a privação do uso da água, desde que verificados os requisitos enunciados no artigo 483.º do Código Civil.

Decisão Integral:

Processo n.º 4/04.4TBVLG.P2 Sumário do acórdão:

I. A enumeração das nulidades da sentença prevista do n.º 1 do artigo 615.º do NCPC

(correspondente ao n.º 1 do artigo 668.º do CPC na versão anterior) tem carácter absolutamente taxativo, como é pacificamente aceite pela doutrina e pela jurisprudência

II. A fundamentação da sentença deverá permitir de forma transparente aos destinatários, a percepção das razões de facto e de direito da decisão judicial, revelando o iter «cognoscitivo» e «valorativo» percorrido pelo julgador, garantindo assim às partes a sua plena impugnabilidade, nos casos em que estejam reunidos os restantes requisitos.

III. O direito de propriedade de água nascente em prédio alheio não se confunde com a servidão traduzida no direito de uso dessa água.

IV. O direito de servidão realiza-se no aproveitamento de uma nascente existente num prédio (serviente) concedido a terceiro em benefício de um seu prédio (dominante) e para as

necessidades deste.

V. Definindo-se o direito dos autores como mero direito de servidão da água nascente em mina situada no prédio serviente, propriedade da ré, tal mina (estrutura externa englobando os pórticos), não pertence aos autores, não lhes assistindo o direito a exigir que se mantenha ou se altere a sua configuração.

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VI. O que os autores podem exigir, baseados no seu direito (de uso da água da mina), é apenas isto: que tal direito (traduzido na servidão do prédio onde a mina se encontra instalada), se

mantenha inalterado (salvo se a nascente perder caudal ou secar naturalmente), devendo o dono do terreno ou qualquer terceiro lesante, repor a situação anterior e indemnizar pelos danos

causados com a privação do uso da água, desde que verificados os requisitos enunciados no artigo 483.º do Código Civil.

Acordam no Tribunal da Relação do Porto I. Relatório

B…, C… e D… intentaram em 19.12.2003 a presente acção declarativa com processo ordinário contra E…, S.A, F…, Lda., e G…, pedindo:

i) que sejam os réus condenados na reconstrução natural da mina e da represa, com as mesmas características das referidas na petição inicial, ou seja:

a) a mina era constituída por duas lousas de grande porte, uma no seu interior e outra à vista; b) a represa existente na saída da mina, tinha uma área de cerca de 20 m²;

c) a mina dava, por dia, entre 80.000 a 100.000 litros de água, a qual ficava em represa durante 24 horas.

ii) que sejam ainda os réus condenados a pagarem aos autores a quantia que se vier a liquidar em execução de sentença;

iii) que sejam, finalmente, os réus condenados a pagarem ao autor a quantia de 18.000 € a título de lucro cessante, à qual acresce os juros legais calculados desde a data da citação até ao efectivo pagamento;

Como fundamento da sua pretensão, alegaram os autores em síntese: por sentença, proferida em 5/1/2001, no processo 342/98, que cujo processo correu termos pelo 1° Juízo do Tribunal Judicial de Valongo, foi o 1° réu condenado a reconhecer que os aqui autores adquiriram direito ao uso da água proveniente da H…, na qualidade de proprietários dos terrenos rústicos descritos na C.R.P. de Valongo sob os n°s 02267/171193 e n.° 3809, beneficiando aquela água de rega, com direito a dia e meio numa semana (12 horas de Sexta feira e 24 horas de Sábado) e dois dias noutra,

alternadamente, (24 h de Sábado e 24 h de Domingo) e a Segunda com direito a quatro dias numa semana (24h de Domingo, de Segunda, de Terça e de quarta) e três noutra, alternadamente (24 h de Segunda, Terça e Quarta); foi ainda reconhecido pela mesma sentença judicial que da mesma H… ou I… era ainda proveniente água de lima, isto é, água de nascente que corre para a primeira propriedade descrita sob o n° 02267/171193, 24 h por dia ininterruptamente; bem assim como foi o aqui 1° réu ali condenado a proceder de modo a restabelecer o curso normal da água desde a sua nascente até aos terrenos, por forma a fazer chegar a água aos terrenos dos aqui Autores. Para tal finalidade, o curso da água deveria ser efectuado por encanamento, tudo conforme cópia integral da dita sentença; acontece que logo imediatamente à publicação desta decisão todos os réus, em comum e em conjugação de esforços, destruíram completamente a entrada e a represa da mina, com trabalhos a fundo de terraplanagem; bem assim como iniciaram grandes obras de desaterro e início de construção de obra, mesmo no local onde se encontra instalada a H…, há mais de cem anos; neste momento, todo o pórtico de entrada na mina, que era constituído por duas lousas de grande porte, uma no seu interior e outra à vista, já foi totalmente destruído pelos réus com os trabalhos iniciados imediatamente após a publicação da sentença; bem assim como foi totalmente destruída a represa existente na saída da mina, com uma área de cerca de 20 m²; essa mina dava,

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por dia, entre 80.000 a 100.000 litros de água, a qual ficava em represa durante 24 horas; é certo que a destruição da entrada da mina e da sua represa foi efectuada pelo 2° e 3° réus a mando do 1° réu e tais factos se sucederam no dia imediatamente após a publicação da sentença judicial; na presente data não é possível apurar por quanto tempo é que os autores irão continuar privados do uso da água que lhes foi legitimamente reconhecido, o que impede, de todo, de proceder à

liquidação total dos prejuízos a sofrer por via desse facto; para além disso, pelo facto de terem os réus destruído a represa e, consequentemente, a mina, deixou o autor de poder usufruir da água de rega a que tinha direito, deixando, com isso, de poder regar as terras, cultivá-las e colher os

respectivos frutos; tendo, com isso, o autor deixado de obter os lucros inerentes à venda e

comercialização desse mesmos produtos agrícolas, lucros esses que correspondem a 9.000 €, por ano.

A 1ª ré, E…, S.A, contestou impugnando a matéria alegada, quer no que se reporta à interpretação que os autores fazem da sentença identificada na petição, quer quanto à restante matéria alegada, afirmando: que não destruiu o que os autores invocam; que o que os autores alegam poderia ter ocorrido por outras causas: a mina situa-se em terrenos de baixa densidade e dureza, têm acentuado declive, a mina tem centenas de anos, são pedras velhas, carcomidas pelo tempo, instáveis no solo, próximo do local há camiões em movimento, construções, ruas em execução, movimentos de terras e chuvas intensas no local.

A 2ª ré J…, SA impugnou toda a matéria de facto alegada na petição, com excepção do alegado no art. 12.º, aceitando que a demolição do pórtico de entrada da mina e de parte da represa (não foi totalmente destruída) foram por si realizadas, em data anterior à indicada pelos autores, e que se tratou de uma decorrência do projecto da obra e ordens e instruções dadas pelos representantes do dono da obra, ora 1ª ré, já que a segunda ré era empreiteira a trabalhar para a 1ª ré. Mais alegou que se encontrava a fazer trabalhos de limpeza e escavação de terreno, no âmbito do projecto da obra, a pedido do dono da obra e de acordo com os mapas de trabalhos, plantas topográficas entregues pela 1.ª ré. Impugnou a restante matéria de facto respeitante aos danos invocados pelos autores, tanto mais que, conforme alegam, a impossibilidade de usar as águas da mina para rega ocorre já desde 1997, pelo que os danos invocados não poderiam ter como causa os factos alegados na petição, sendo certo que os terrenos continuam a ser cultivados. Conclui com o pedido de condenação dos autores como litigantes de má fé em multa e indemnização, em montante nunca inferior a 2000€ correspondente ao valor de reembolso de todas as despesas que teve, incluindo honorários do seu mandatário.

O 3º réu, G…, contestou, sustentando em síntese a posição assumida pela 2ª ré, esclarecendo que trabalha, às ordens e sob a direcção desta.

Foi elaborado despacho saneador, com definição dos factos assentes e organização da base instrutória, tendo sido produzida prova, nomeadamente pericial.

Após várias vicissitudes processuais, foi realizada a audiência de julgamento em duas sessões -26.09.2011 e 24.10.2011 -, na sequência da qual foi proferida decisão sobre a matéria de facto (em 7.11.2011), sem qualquer reclamação.

Em 14.11.2011 foi proferida sentença com o seguinte dispositivo:

«Nos termos e pelos fundamentos expostos, julgo a presente acção parcialmente procedente por provada e, em consequência:

- condeno a 2.ª R a reconstruir o pórtico de entrada na mina com duas lousas de grande porte, uma no seu interior e outra à vista ; e

- Na saída da mina deverá reconstruir uma represa com uma área de cerca de 20 m2;

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- No mais, absolvo todos os RR dos demais pedidos.

Custas a cargo dos AA e 2ª R na proporção de metade para cada um. Registe e notifique.».

Não se conformaram, nem os autores nem a 2.ª ré – J…, SA, e interpuseram recurso de apelação para este Tribunal, onde em 19.12.2012 foi proferida decisão com o dispositivo que se transcreve parcialmente:

«[…] acorda-se neste Tribunal da Relação em

1- julgar prejudicada a apreciação das restantes questões colocadas pelo recurso interposto, 2- Nos termos do disposto no artigo 712.º - 4 do C.P.C. anular a decisão de mérito e de facto proferida na 1.ª instância, e ordena-se a repetição do julgamento relativamente à matéria de facto que se ordena se formule – conforme a solução – em alteração indispensável para a boa decisão da causa – podendo aproveitar-se a prova já produzida […]».

Baixaram os autos à 1.ª instância em 23.01.2013, e em 11.02.2013 foi proferido despacho a determinar o aditamento à base instrutória (datada de 11.02.2013), dos seguintes quesitos, em cumprimento do que fora decidido nesta Relação:

22º A ré J… trabalha desde 1995 como empreiteira para a 1ª ré, num empreendimento imobiliário designado “E…”, sito em Valongo?

23º É algures no terreno de implantação desse empreendimento que estavam situados a mina, a represa e o circuito da água retida e da água de lima até entrarem no terreno dos AA?

24º Na verdade, junto à referida mina apenas se realizaram trabalhos de limpeza e de escavação dos terrenos?

25º Os quais se iniciaram antes da data referida pelos AA, a pedido do dono da obra, a empresa “E…, SA”, também ré nos presentes autos?

26º E esses trabalhos iniciaram-se após a ré ter sido informada de que a Câmara Municipal … tinha aprovado todos os projetos das obras de urbanização do loteamento em causa (loteamento E)? 27º Os referidos trabalhos foram realizados de acordo com o projeto de obra, incluindo mapa de trabalhos, plantas topográficas, etc., entregues à ré pelo dono da obra?

28º Sendo que a demolição do pórtico da entrada da mina e de parte da represa (ela não foi totalmente destruída), realizadas em data anterior à indicada pelo AA, foram uma decorrência do projeto de obra e, também de ordens e instruções dadas pelos representantes do dono da obra, a quem incumbia acompanhar os trabalhos realizados pela ré?

29º Refira-se aliás que, durante a realização desses trabalhos de limpeza e escavação, nunca houve qualquer alteração anormal ao plano de trabalhos desenvolvidos pela ré, nem foi

apresentada qualquer reclamação?

30º A 1ª ré jamais informou a 2ª ré da situação decorrente de E) e F), não lhe tendo sido sinalizado a existência da mina, represa e circuito das águas, que assim entrou em obra com o terreno

completamente livre de obstáculos?

31º O réu G… trabalha há vários anos sob as ordens e direção efetiva da ré J…, exercendo as funções de encarregado geral?

32º O réu no exercício da sua atividade teve e ainda tem a seu cargo a supervisão do empreendimento designado por “E…”, cujo dono da obra é a 1ª ré?

33º No desenvolvimento da obra, o réu recebeu ordens da empresa a onde trabalha para iniciar os trabalhos referentes ao “loteamento E”, tendo para o efeito, e durante a realização dos mesmos, recebido várias instruções sobre a realização do trabalho por parte dos representantes do dono da

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obra, a ré “E…, SA”, os quais acompanhavam esses trabalhos assiduamente?

34º Na verdade, junto à referida mina apenas se realizaram trabalhos de limpeza e de escavação dos terrenos?

35º Os quais foram realizados por outros funcionários da ré J…, SA.?

36º E iniciaram-se antes da data referida pelo AA, a pedido do dono da obra, e empresa “E…, SA”, também ré nos presentes autos?

37º No acompanhamento desses trabalhos, o réu sempre atuou de acordo com o projeto de trabalhos que lhe foi entregue pela sua entidade patronal, bem como atuou de acordo com as ordens e instruções que lhe iam sendo dadas por representantes na obra da ré “J…, SA”? 38º Sendo que a demolição do pórtico da entrada da mina e de parte da represa (ela não foi totalmente destruída), realizadas em data anterior à indicada pelo AA, foram uma decorrência do projeto de obra e, também de ordens e instruções dadas pelos representantes do dono da obra, a quem incumbia acompanhar os trabalhos realizados pela entidade patronal do ré?

39º Refira-se aliás que, durante a realização desses trabalhos de limpeza e escavação, nunca houve qualquer alteração anormal ao plano de trabalhos desenvolvido pela entidade patronal do réu, nem foram apresentadas quaisquer reclamações?

40º A destruição da entrada e da represa da mina ficou a dever-se aos factos dos artigos 7º a 17º da contestação da 1ª ré a fls. 74 verso?

Em cumprimento da mesma decisão, foi alterada a redacção do quesito 1.º da base instrutória, que passou a ter o seguinte teor: «Imediatamente após a publicação da sentença supra referida em F) os réus em comum e em conjugação de esforços destruíram completamente a entrada e a represa da mina?» (fls. 175 – com referência ao despacho de 11.22.2013).

Realizou-se nova audiência de discussão e julgamento em três sessões: 6.01.2014; 10.02.2014 (com inspecção ao local); e 3.03.2014.

Foi proferida nova sentença, em 10.03.2014, com o seguinte dispositivo:

«Nos termos e pelos fundamentos expostos, julgo a presente ação parcialmente procedente por provada e, em consequência:

- condeno a 2ª R a reconstruir o pórtico de entrada na mina com duas lousas de grande porte, uma no seu interior e outra à vista ; e

- Na saída da mina deverá reconstruir uma represa com uma área de cerca de 20 m2; - No mais, absolvo todos os RR dos demais pedidos.

Custas a cargo dos AA e 2ª R na proporção de metade para cada um. Registe e notifique.».

Não se conformaram, novamente, nem os autores nem a 2.ª ré – J…, SA, e interpuseram recurso de apelação para este Tribunal.

Os autores terminam as suas alegações formulando as seguintes conclusões[1]:

I. O objecto principal deste recurso é a decisão supra referida, mas vão passar a ser alegadas as questões com as quais os Recorrentes não se conformam.

II. O recurso ainda se estende ao facto de, compulsada a decisão, se verificar que inexiste qualquer tipo de fundamentação, inexiste uma qualquer referência ou valoração da prova produzida e dos factos concretos.

III. Entendendo-se ainda à impugnação da matéria de facto, uma vez que os Recorrentes não se conformam com a decisão que foi dada à matéria de facto e, por consequência, com a sua conclusão de direito, e ao valor probatório atribuído aos vários documentos e depoimentos que comportam a decisão de facto e de direito.

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Posto isto,

IV. Compulsado o teor da sentença, resulta que não apresenta os fundamentos, quer de direito, quer de facto que a sustentem, não contem uma a análise crítica das provas (documental,

testemunhal, relatórios periciais), da qual o julgador abstraiu, nem a especificação dos fundamentos de facto e de direito que foram decisivos para a convicção do julgador, argumentando de facto e de direito e aplicando as respectivas normas legais, em manifesto desrespeito pelo disposto nos artigos 653º, n.º 2, do CPC.

V. A sentença recorrida não assegura o cumprimento do dever constitucional de fundamentação das decisões judiciais, é omissa quanto a factos objectivos que resultam do processo, os quais a serem considerados levariam a uma decisão diferente, onde a análise do caso concreto subjacente aos presentes autos se resume a pouco mais que meia página.

VI. O Julgador não explica em que se baseou a sua convicção. Baseou-se no conjunto da prova produzida? Baseou-se apenas na prova documental? Baseou-se apenas na prova testemunhal? Nos relatórios periciais? O Tribunal abstrai.

VII. O dever de fundamentação das decisões é um princípio basilar, cujo cumprimento, possibilita às partes a sua conformação ou não de forma consciente e esclarecida, bem assim como

possibilita às partes a sua não conformação e até contradita-las, mas de forma consciente e esclarecida.

VIII. Em matéria de fundamentação de facto, e para efeitos do no art. 653º nº 2 do CPC, relativamente as provas constantes do processo e as produzidas em audiência de julgamento ficamos sem saber quais as que relevaram para a formação da convicção do julgador,

relativamente aos factos controvertidos que constavam da Petição Inicial e das Contestações. IX. Também o exame crítico que deveria ter sido feito pelo Julgador e a que se refere o n.º 2 do art. 659.º do CPC, não se verifica, pois impunha o ónus de examinar criticamente as provas, de verificar atentamente se existiram os factos em que se baseia a presunção legal (lato sensu) e delimitá-los com exactidão para seguidamente aplicar a norma de direito probatório.

X. E foi esta operação – determinar se esse facto se deve considerar provado face ao respectivo regime legal probatório – que consiste, no exame crítico de que fala o art. 659.º n.º 3, que na perspectiva dos Recorrentes, falhou o julgador.

XI. Termos em que atento o atrás exposto entendem os Recorrentes que a sentença recorrida não especifica os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão, que nos termos do

disposto no art. 668º, n.º 1, alínea b), do CPC, consubstancia uma nulidade que aqui expressamente se invoca com todas as cominações legais.

Sem prescindir,

XII. Esta decisão e respectiva ausência de fundamentação constituem, ainda, objecto de

impugnação pelos Recorrentes nos termos previstos no art. 690º-A, conjugado com o 712º, ambos do CPC.

XIII. Considerando a matéria de facto dada como provada, para efeitos do disposto no art. 690º-A, do CPC, pretende-se impugnar a decisão de facto constante do 20º, que foi considerado provado e deve ser considerado como não provado.

XIV. Pretende-se ainda impugnar a decisão de facto constante dos quesitos 12º a 14º, foram considerados por não provados, mas devem ser considerados como provados.

XV. Bem como os factos constantes dos quesitos 1º, a 5º, 10º, 15º a 19º, que foram julgados parcialmente provados.

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XVI. Em primeira instância convém que tenhamos presente que nos autos se discute os danos causados pelos RR. em DOIS prédios rústicos propriedade dos Recorrentes, com uma área total de 18.500 m2, conforme se alcança do alegado no art. 2º a 4º, da PI, cujo teor aqui se dá como

reproduzido.

XVII. Deste modo, e no que concerne à resposta dada aos quesitos 1º a 5º, resultou provado que a 2ª Ré, aquando da realização de trabalhos de construção civil, destruiu o pórtico de entrada da mina e uma represa.

XVIII. O dono da obra era a 1ª Ré, que celebrou um contrato de empreitada com a 2ª Ré, onde esta se obrigou a realizar obras no empreendimento “E…” e, no decurso dessas obras foram destruídas a entrada da mina e a represa.

XIX. Entendem os Recorrentes que estamos perante um caso excepcional de responsabilidade civil extracontratual pois, o dever de a 1ª Ré de indemnizar os Recorrentes pelos prejuízos sofridos não depende aqui da verificação de culpa, pelo que ocorre uma excepção à regra geral proclamada no art. 483, n.º 2, do CC.

XX. A lei impõe ao autor das escavações, embora lícitas, que indemnize qualquer proprietário vizinho, lesado pela obra, ainda que tenham sido adoptadas as cautelas que se consideraram necessárias, atendendo assim a critérios de razoabilidade.

XXI. Não esqueçamos que o dono da obra é, em regra, o primeiro beneficiário das obras levadas a efeito na sua propriedade e, por isso, terá de assumir os riscos com tais obras, ressarcindo os prejuízos causados nos prédios vizinhos, devendo os prejuízos causados devem ser imputados, ao dono do prédio que contrata outrem para nele fazer uma obra sob a sua direcção e fiscalização, por empreitada.

XXII. Mesmo no caso de empreitada, o dono da obra não deixa de ser o autor das escavações, no sentido de que foi ele que, no exercício do seu poder de disposição, contido no seu direito de propriedade, ordenou a construção do imóvel, com as inerentes escavações, apesar de o fazer através de empreiteiro.

XXIII. Sendo totalmente irrelevante, na perspectiva do vizinho lesado, que a obra seja levada a cabo pessoalmente pelo dono da do prédio (através de pessoal que dele dependa por vinculo laboral), ou antes por contrato de empreitada (sob a direcção do próprio empreiteiro e sem vínculo de subordinação ao dono da obra).

XXIV. Nem se diga que, havendo empreitada, o dono da obra não está obrigado a fiscalizar a sua execução pois, tal fiscalização funciona no interesse do dono da obra, tendo como fim principal impedir que o empreiteiro oculte vícios de difícil verificação, no momento da entrega (Pires de Lima e Antunes Varela, Cód. Civil Anotado, Vol. II; 3ª ed. , pág. 793).

XXV. O dono da obra pode ou não valer-se desse direito de fiscalização, que só o beneficia - art. 1209 do C.C.

XXVI. De qualquer modo, tal faculdade diz respeito apenas às relações contratuais entre ele e o empreiteiro, aos vizinhos lesados são indiferentes as relações jurídicas ou contratos celebrados entre o dono da obra e o empreiteiro, pois são alheios a tais relações contratuais.

XXVII. Do depoimento prestado em audiência pelo Agente da PSP à data dos factos, que logo após a destruição da mina e represa, se deslocou ao local, K… (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 – 15:28:53 a 15:39:47), que com um depoimento claro, de pessoa perfeitamente

conhecedora da situação, sustentado na visita que fez ao local referiu que:

“… Foi chamado ao local. Estava de serviço. Estavam lá os homens a trabalhar. Perguntei a um deles quem era o responsável e eles indicaram-me o senhor que era naquela altura o senhor da

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máquina.

E perguntei: porque é que fez isto? Ele respondeu: Porque recebi ordens. Na E…, lá ao fundo, na parte de cima. A parte da frente da mina, normalmente aquilo é tapado com uma lousa, na minha aldeia é assim e ali parece que também era. Não vi lousa nenhuma e a água a correr pelo rego abaixo.

Estavam 3 ou 4 elementos a trabalhar... Disseram que era uma empresa de Penafiel, deu o nome da empresa. Ficou escrito.

Foi o Senhor que foi identificado. Que era o que andava com a máquina na altura.“

XXVIII. O mesmo Agente da PSP, K… (cujo depoimento se encontra registado – 06/01/2014 – 12:14 a 15:39:47), na sessão de Audiência de julgamento, de 06/01/2014, quando confrontado com o teor da participação policial de fls. 1032, referiu que:

“Dr. L…: Sr. K… nesta participação o Sr. identificou as pessoas… Testemunha: Sim.

Dr. L…: E, o que está aqui faz fé do que se passou naquela obra… Testemunha: Sim. E que eu vi.

Dr. L…: E que o sr. viu?

Testemunha: Normalmente a nossa missão é descrever e identificar os intervenientes e escrever aquilo que vê.

XXIX. Depoimento prestado que, conjuntamente com a certidão da participação policial que o mesmo elaborou e cujo teor por manifesta economia se dá aqui como integralmente reproduzido, contribui para dissipar todas as dúvidas quanto à localização temporal dos factos e seus

intervenientes.

XXX. Já a depoimento da testemunha arrolada pela 2ª Ré, M… (cujo depoimento se encontra registado – 06/01/2014 – 11:22:57 a 11:36:26), funcionário da 2ª Ré, na sessão de Audiência de julgamento, de 06/01/2014, referiu que:

“… para quem nos trabalhávamos é que faziam os projectos. A E… fornecia o projecto e nós executávamos… Trabalhou na E… e depois disso em vários sítios. Era encarregado para mandar. Não fiscalizava nada…

XXXI. Quando questionado sobre de quem era funcionário G… (Identificado pelo Agente da PSP na participação policial de fls. 1032), respondeu: “Da J…”.

XXXII. Termos em que, do exposto, entendem os Recorrentes a que a 1ª Ré deve ser condenada nos precisos termos em que o foi (ou venha a ser) a 2ª Ré - responsabilidade solidária.

Sem prescindir,

XXXIII. Relativamente ao quesito 10º, importa ter presente o teor do alegado pelos Recorrentes nos art. 2º a 6º, cujo teor aqui se dá como reproduzido.

XXXIV. E, da sentença proferida no âmbito do processo 342/98, que cujo processo correu termos pelo 1º Juízo do Tribunal Judicial de Valongo, já transitada em julgado, resultou provado o facto 13): “Tal mina dá por dia entre 80 a 100 mil litros de nascente de água, a qual fica em represa

durante 24h; e, o facto 20): Da mesma H… ou I… era ainda proveniente água de lima, isto é, água de nascente que corre para a propriedade referida em 17) 24 horas por dia ininterruptamente;

(sublinhado nosso)

XXXV. Pelo que nunca poderia o Julgador dar como “provado apenas que a mina dava vários litros de água por dia não apurados”, pois, por sentença proferida no âmbito do processo 342/98, já transitada em julgado, está já tal provado.

(10)

tomar conhecimento, o que nos termos do disposto no art. 668º, n.º 1, alínea d), in fine, do CPC, consubstancia uma nulidade que aqui expressamente se invoca com todas as cominações legais. XXXVII. No entanto e, sem prescindir, e para a hipótese de se julgar improcedente a invocada nulidade por violação art. 668º, n.º 1, alínea d), in fine, do CPC, entendem os Recorrentes que a prova produzida em sede de julgamento, deve ser reapreciada e, nessa sequência, relativamente aos artigo 10º da base instrutória, a decisão da matéria de facto ser alterada dando este facto como provado.

Sem prescindir,

XXXVIII. Quanto aos quesitos 12º a 14º, que foram considerados por não provados, bem como o quesito 19º, importa não esquecer que da sentença proferida no âmbito do processo 342/98, já transitada em julgado, resultou provado o facto 10): Sendo que tais culturas sempre foram regadas com a água proveniente da denominada mina H… ou I…”, o facto 13): Tal mina dá por dia entre 80 a 100 mil litros de nascente de água e fica em represa durante 24h”, e o facto 20): Da mesma H… ou I… era ainda proveniente água de lima, isto é, água de nascente que corre para a propriedade referida em 17) 24 horas por dia ininterruptamente” (sublinhado nosso)

XXXIX. Desta sentença resulta que já se encontra provado que os terrenos dos Recorrentes sempre eram regados com a água proveniente da mina e represas (cfr. facto provado 10), no

entanto, o Julgador para sustentar a resposta negativa aos quesitos 12º a 14º, o Julgador refere: “… E da prova produzida, nomeadamente do depoimento das testemunhas arroladas pelos AA

(nomeadamente N…, O…) foi dito que os Autores desde pelo menos, 1993 que não usufruem da água para a rega provinda da mina. Contudo, também conjugando-se a prova que se fez e

constante das perícias juntas aos autos (de que os campos estão cultivados), então os campos dos AA. recebem água para rega. Agora provinda da mina não o será e desde 1993. Aliás era o que se discutia na acção já intentada e com sentença proferida e referida na matéria assente. Então e se assim era não deixaram os AA. de usufruir da água para rega tendo como causa a destruição do pórtico da mina e represa. Bem assim como não foi por essa causa que não podem regar as terras com aquela água da mina. Aliás, vejam-se os relatórios periciais maioritários (sendo que um deles é unânime apenas divergindo na sugestão de solução aventada para a caso concreto) e aos quais se adere por não se vislumbrar sequer falta de imparcialidade e objectividade, e seguindo as legis artis da matéria em causa, confirmarem, apesar de não serem unânimes, no essencial, que corre água, mas não é suficiente para a rega dos campos, seja porque não foi feito correctamente o

encanamento ou outra técnica qualquer.

Contudo a água já não estava canalizada e não se direcccionava para os campos dos AA. aquando da destruição do pórtico da entrada da mina e represa aqui em causa (veja-se a acção e sentença referidas em F) da matéria assente, onde já se alegou e provou que a água da mina não corria para os campos dos AA). Vale tudo por dizer que as causas de não correr água da mina para os campos dos AA foram já discutidas naquela outra acção, e já aí se deu como provado que não corria e não regava os campos dos AA. a água da mina, pelo que os factos em discussão nos presentes autos, muito, muito posteriores, nunca poderiam ter aquelas consequências alegadas e provadas naquela acção(!).…”

XL. Na sentença recorrida pode ler-se: “… Provou-se até que já não têm água da mina desde 1993…”

XLI. Não se pode esquecer o alegado pelos Recorrentes nos art. 16º a 18º, 22º, 23º, 25º, da sua PI, cujo teor se dá como reproduzido, onde se alega e prova que antes da destruição existia uma mina em terreno dos Recorrentes, e uma represa, com a área de cerca de 20m2, que dava dá por dia

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entre 80 a 100 mil litros de nascente de água e ficava em represa durante 24h e essa represa deixou de existir em 2001, como consequência directa dos actos de destruição praticados pelos Recorridos.

XLII. Portanto, os Recorrentes estão até à presente data impossibilitados de regar os seus terrenos, porque pura e simplesmente as águas não estão represadas, não existe água de rega e de lima. Se a água chega nas condições ideais aos terrenos dos Recorrentes é uma outra questão…

XLIII. No processo n.º 342/98, foi a “E…, S.A.” condenada a reconhecer que os aqui Recorrentes adquiriram Direito ao uso da água de rega de lima proveniente da H…, na qualidade de proprietários dos dois terrenos rústicos, e, ainda, condenada a proceder de modo a restabelecer o curso normal da água desde a sua nascente até aos terrenos, por forma a fazer chegar a água aos terrenos dos Recorrentes.

XLIV. E desse Direito de uso foram os Recorrentes privados desde a data da destruição da entrada da mina e da represa, desde 2001, basta para o efeito compulsar os relatórios periciais para se verificar que ainda hoje a água não chega aos terrenos dos Recorrentes nas condições e quantidade suficientes para possibilitarem a rega.

XLV. Bem assim como, considerar os esclarecimentos prestados em audiência pelo Perito Eng. N… (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 10:15:19 a 10:40:11), sustentado nas visitas que fez ao local referindo que: “…Portanto, a minha experiencia diz-me que não há rega, sem represa. Alias,… Não há rega sem represa, impossível, E com uma grande capacidade de

armazenamento para se poder fazer a rega. Senão não se faz, não se consegue. Quer dizer, não é uma… Há dois tipos de água. …”

XLVI. Não esquecendo os esclarecimentos prestados em audiência pelo Perito Eng. P… (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 10:40:53 a 10:54:09), sustentado nas visitas que fez ao local referiu que: “… A mina faz uma pequena represa de água, nós temos aqui escrito… que dá… que até perguntavam quantos metros quadrados… Se era 20 m2? E nós dissemos que era aproximadamente 10 m2. Foi isso que lá verificamos. É assim… uma tira, com pouca largura e algum comprimento, que nos atribuímos, à volta de 10 m2. Isso foi o que nós verificamos. Com uma altura, para aí de um metro, um metro e pouco. O que dá à volta de 15m3 de água na represa. Mais ou menos, é assim,…”

XLVII. Pelo que, dúvidas não restam que ainda hoje os Recorrentes estão bem longe de poder usufruir dos 80 a 100 mil litros de nascente de água que a mina dava por dia e que ficavam em represa durante 24h, acrescendo a água de lima que corria para os terrenos dos Autores. XLVIII. Sem esquecer os esclarecimentos prestados em audiência pelo Perito Eng. Q… (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 – 14:09:00 a 15:09:44), que teve em consideração os dois terrenos em causa, com uma área total de 18.500 m2, sustentado nas visitas que fez ao local, o qual refere: “… Os terrenos que me foram mostrados, são dois terrenos. Se havia está tudo desfeito. Não, não há represa. A represa que há é dentro da própria mina. E como é que se vai fazer agora uma represa em terra. A represa tem que ser feita em betão. O Tanque tem que ser feito acima da cota do terreno. Para ter peso para a água sair.”

XLIX. Já no relatório pericial elaborado pelos Peritos em 20 de Julho 2006, e junto aos autos em 04 de Setembro de 2006, pode ler-se: “… O Perito do Autor acrescenta que tal como hoje se apresenta o local, torna-se evidente que as obras das infra-estruturas realizadas, destruíram todos os

equipamentos naturais e artificiais que pudessem existir à data do início dessas obras.

O perito do Réu tem a mesma opinião do perito dos autores, no entanto, confirma que o caudal da mina está a ser canalizado para os terrenos dos autores através de dreno com diâmetro de 200mm.

(12)

… O perito observou igualmente de que o caudal de água nesta data na manilha é insuficiente para formar um rego de água continuo e com água bastante para regar o prédio rústico.

… O perito do autor confirma que à data da visita dos peritos ao local, o Autor não pode dispor da água da H… para regar os terrenos agrícolas, porquanto a agua não está a ser drenada para esses terrenos. Mais verificou haver indícios de que nem toda a água da mina está a ser conduzida para a tubagem implantada para esse efeito. Por outro lado a água está a ser conduzida para o terreno mais a montante, faltando conduzi-la para o terreno mais a jusante e para a habitação. No seu percurso não dispõe de qualquer equipamento de retenção e controle de caudal que permita dosear a quantidade de água destinada à rega.” (sublinhado nosso)

L. E, no relatório pericial elaborado pelos Peritos em 12 de Dezembro de 2009, pode ler-se: “… A água da mina é aproveitada e conduzida para a conduta que o Réu instalou para o efeito… O perito indicado pelo Autor, para além de subscrever o referido em acima é de opinião que, muita da água da mina, perde-se através da parede lateral e através do sistema de tubos e caixas instalado pela Ré para conduzir a água da mina até aos terrenos do Autor. Como é possível e verificar no local, tal como foi verificado nas visitas efetuadas pelos peritos ao local anteriormente e pelas fotografias juntas a água que sai junto ao terreno do autor é uma pequeníssima parte da água produzida na mina.

… o perito do autor achando estranho que o Réu tenha feito chegar uma conduta junto ao local onde a água da mina fica retida antes de ser conduzida para o tubo de 200,00 mm de diâmetro que se destina à rega, a menos de 1,0 m do fundo desta, é de opinião que tudo indica ser o objectivo, o de desviar a água da mina para a caixa das águas pluviais.” (sublinhado nosso)

LI. A estes quesitos respondeu a testemunha S… (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 10:54:41 a 11:20:24), com um depoimento também ele claro, coerente, de pessoa perfeitamente conhecedora da situação, esclareceu o Tribunal que: “… Mas sei que dava muita água, porque ele regava um rego de água, porque a terra é plana. E ele tinha que trazer a água, bastante água, para conseguir regar. Porque com pouca água não conseguia. Porque a terra não é encostada, é uma terra que é praticamente certa. E ele tinha que trazer um rego grande de água para conseguir regar, senão a agua não saía do rego. Regavam tudo. Tudo o que queria. Tinha lá… Tinham milho, tinham pencas, que eram uma maravilha, tinham batata, tinham lá tudo. Porque ela tinha muita água, ela regava aqueles campos todos. Tanto o de cima, como o de cá. Regava os dois campos. E eu disse que ele tinha que trazer um rego muito grande de água para chegar ao campo e poder regar. Porque se for um rego pequeno de água, num campo assim plano, a água não corre. Tem que ser bastante, para ela poder regar. Era. Antes havia um rego da mina. Que andei lá eu e o meu marido muitas vezes a ajudar o pai do B1…, pronto, para dizer assim. Andei lá muitas vezes a ajuda-lo a fazer o rego de lá de cima até ao campo, até à beira da casa. Portanto, estou-lhe a dizer que conheço isso muito bem. Mas eu não vi lá água nenhuma no rego a correr para poder regar.”

LII. A estes quesitos respondeu também a testemunha T… (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 11:21:29 a 11:51:44), agricultor, com um depoimento também ele claro, coerente, de pessoa perfeitamente conhecedora da situação, esclareceu o Tribunal que: “… Porque eles

tentaram fazer lá uns tubozitos para as águas ir, mas as águas nunca lá chegaram ao campo. Não é... E daí temos andado sempre assim no Tribunal a tentar com que a água chegasse ao campo para fazer a rega. Mas nunca mais conseguiu regar o campo. Conheci sempre. Eram umas presas que tinham lá, para juntar a água no local e ele… ele e mais dois consortes. Aquilo era de

Consortes. Onde regavam os campos. A partir das obras, aquilo ficou logo… começou a danificar,

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por fim destruíram as presas todas. E, hoje as águas andam perdidas nas águas fluviais, como está lá à vista. Para quem quer… pode ver. Datas, é assim… As datas não consigo fixar as datas todas, não é. Mas sei que… Logo que começaram a destruir aquilo, ele entrou logo em litígio com a E…. Litros? Não consigo. Mas sei que dava muita água. Regava a quinta toda sem problemas nenhuns e ainda sobrava água. Agora, os litros!... Não consigo dizer. Sei que era água em abundância.” LIII. O mesmo se diga dos depoimentos de O…, (cujo depoimento se encontra registado –

26/09/2011 – 11:53:47 a 12:16:45) que bem conhecedor do local e dos factos, á mais de 50 anos, descreveu com segurança e exactidão toda a situação antes de depois da destruição da mina e represa, inclusivamente ajudava os Recorrentes a limpar os regos, a semear e a colher os produtos agrícolas, esclareceu o Tribunal que: “… Havia uma lousa grande que fazia a vedação da água. Havia logo outra mais pequenita… E aquelas águas eram todas aproveitadas… Todos os anos nós lá íamos. Íamos cinco pessoas ajudar a limpar aqueles regos todos para a água ir por ali abaixo… Não tem, não e tanto é que ainda tem lá um serviço com um rego a beira da casa dele… Há lá um rego que foi vendido por esse senhor que veio aqui servir de testemunha, veio aqui. A “E…” meteu-lhe uma camada, para aí de cinco metros de altura, arrasou-lhe o rego. Está todo… Á porta da casa do B… e à entrada do resto do campo para baixo… O rego passava por baixo da casa para ir regar a outra propriedade logo à entrada. Era da mesma mina. Ta lá um furito mas é só para consumo da casa. Às vezes ainda vai buscar água ao tanque, com um regador, para regar lá umas

novidadezitas, umas saladazitas…”

LIV. No mesmo sentido foi o depoimento da testemunhas U…, (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 12:17:25 a 12:40:01) que bem conhecedor do local e dos factos, á mais de 30 anos, bem como a testemunha V…, (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 – 15:40:31 a 16:04:17) que bem conhecedor do local e dos factos, há mais de 70 anos, descreveram também eles com segurança e exactidão toda a situação antes e depois da destruição da mina e represas.

LV. Já a testemunha W… (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 – 16:05:30 a 16:30:04), saliente-se que afirmou ter conhecimento dos factos até 1999, altura em que vendeu a sua propriedade e que depois dessa data não mais de deslocou ao local.

LVI. Reportando-se os factos em causa a 2001, e anos seguintes, certo é que sobre estes factos esta testemunha não tem conhecimento directo, trata-se de um depoimento indirecto, cujo valor probatório inexiste.

LVII. Pelo que a valoração do seu depoimento, não pode e não deve ter o mesmo peso das testemunhas arroladas pelos Recorrentes, que bem conhecedoras dos factos ocorridos antes de 2001, mas muito principalmente, depois de 2001, com depoimentos coerentes e demonstrativos do seu perfeito conhecimento da situação, esclareceram o Tribunal sobre a destruição ocorrida e posterior a impossibilidade daqueles poderem usar a água, nas quantidades de que dispunham anteriormente, regar os terrenos e colher nas quantidades referida no facto 26) dado como provado pela sentença proferida no processo 342/98.

LVIII. Finalmente importa considerar que a sentença proferida no âmbito do processo 342/98, que cujo processo correu termos pelo 1º Juízo do Tribunal Judicial de Valongo, resultou provado que: “24) No ano de 1996, a Ré só a partir de 20 de Agosto deixou a água correr pelos regos existentes, há muitos anos para esse efeito;”

LIX. Não de compreendendo que na resposta aos quesitos se afirme que: “Agora provinda da mina não o será e desde 1993.” e que na sentença de recorrida diga: “Provou-se até que já não têm água da mina desde 1993…”

(14)

LX. Quando, na verdade, e como resulta do supra exposto em 1996 a água ainda corria para os terrenos dos Recorrentes e, em 2006 e 2009 e, ainda corre, actualmente, para o terreno dos Autores, conforme se alcança dos relatórios periciais e dos testemunhos supra identificados, mas não na quantidade suficiente para formar um rego de água continuo e com água bastante para regar os terrenos dos Recorrentes.

LXI. Do exposto, entendem os Recorrentes que da prova documental junta aos autos, bem como a testemunhal produzida em sede de audiência de julgamento, deve ser reapreciada e, nessa

sequência, relativamente aos artigos 12º a 14º e 19º, da base instrutória deve a decisão da matéria de facto ser alterada dando-se como provados os factos ali vertidos.

LXII. E isto porque as testemunhas foram unânimes em confirmar a destruição da mina e represas, consequente impossibilidade posterior dos Recorrentes poderem usar a água para rega dos seus terrenos e obter as colheitas nos moldes em que o vinham fazendo conforme se alcança também da sentença proferida no processo 342/98, que cujo processo correu termos pelo 1º Juízo do Tribunal Judicial de Valongo, impossibilidade de usar a água que subsiste, mesmo após a Recorrida “E…, S.A.”, ter procedido ao encanamento para conduzir a água da mina para os terrenos dos Recorrentes, como resulta das declarações dos Peritos e dos relatórios elaborados. LXIII. Com esta alteração da decisão da matéria de facto deve o pedido formulado na PI ser julgado totalmente procedente (art. 690º-A e 710º, ambos do CPC).

Ainda sem prescindir,

LXIV. Desta matéria de facto e, nos termos e para os efeitos do disposto no art. 690º- A, do CPC, pretende-se finalmente impugnar a decisão de facto constante dos quesitos 15º a 18, que foram julgados parcialmente provados, bem como decisão de facto constante do 20º, que foi considerado provado e deve ser considerado como não provado.

LXV. Da sentença proferida no âmbito do processo 342/98, que cujo processo correu termos pelo 1º Juízo do Tribunal Judicial de Valongo, já transitada em julgado, resultou provado o facto 9): “Neles sempre se cultivou milho, batata e feijão produtos hortícolas e vinho”; o facto 26): “No ano de 1997, os AA. plantaram nas suas duas propriedades semente para com o seu normal

desenvolvimento poderem colher 50 toneladas de batatas, 2.000 Kg de milho e vários produtos hortícolas; e o facto 27): “No ano de 1998 os AA. semearam as terras com as mesmas quantidades de semente referidas em 26)”.

LXVI. Na sentença recorrida quanto a esta matéria apenas se refere o seguinte: “Provou-se até que já não têm água da mina desde 1993 e que os campos estão cultivados.”

LXVII. Ora como se referiu supra em causa nos presentes autos estão dois terrenos dos

Recorrentes e, tenhamos presente o alegado pelos Recorrentes nos art. 24º a 29º, que aqui se dá como reproduzido.

LXVIII. Assim, os Recorrentes semeavam semente para, com o seu normal desenvolvimento poderem colher 50 toneladas de batatas, 2.000 Kg de milho e vários produtos hortícolas.

LXIX. Existe um facto provado que atesta que, pelo menos, os Recorrentes em condições normais e antes dos factos que motivaram a destruição da mina e represas obtinham aquelas quantidades. LXX. E continuariam em situações normais a obtê-las, caso pudessem dispor da água da mina nas condições e quantidades em que o vinham fazendo antes dos factos ocorridos em 1993 (destruição do curso normal da água) e 2001 (destruição da mina e represas).

LXXI. Os Recorrentes estão até à presenta data impossibilitados de colherem, pelo menos, 50 toneladas de batatas, 2.000 Kg de milho e vários produtos hortícolas.

LXXII. E isto porque, como se referiu, no processo n.º 342/98, foi a “E…, S.A.” condenada a

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reconhecer que os aqui Recorrentes adquiriram Direito ao uso da água proveniente da H…, e condenada a proceder de modo a restabelecer o curso normal da água desde a sua nascente até aos terrenos, por forma a fazer chegar a água aos terrenos dos Recorrentes.

LXXIII. E desse Direito de uso foram os Recorrentes privados desde a data da destruição da entrada da mina e da represa, desde 2001 (os tais 80 a 100 mil litros de rega, acrescendo a água de lima).

LXXIV. Ainda assim e por forma a sustentar o alegado quanto à capacidade produtiva dos terrenos dos Recorrentes foi solicitada realização de perícia.

LXXV. E, nos esclarecimentos prestados em audiência pelo perito Perito Eng. X… (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 – 13:49:48 a 14:08:11), referiu que: “… Encargos culturais são as despesas que a pessoa tem, que o agricultor tem em relação às culturas que vai fazendo. O adubo, o trator, o gasóleo… O milho, a batata são culturas de maior área. As hortícolas

normalmente, fazem-se em áreas mais pequenas, mas conseguimos um rendimento por metro quadrado muito superior. Qualquer cultura tem sempre um intervalo de produção. Se estivesse devidamente aproveitado com todas as necessidades que a cultura necessita, não é… portanto se fosse um terreno bem trabalhado, bem corrigido bem adubado, bem regado, conseguíamos estas produções. Os terrenos não estavam a ter uma exploração normal.…”

LXXVI. Já nos esclarecimentos prestados em audiência pelo Perito Eng. Y… (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 – 15:11:27 a 15:27:25), este referiu que: “… 4.100 m2, Z…. Só foi esse que me foi dado. Vi uma descrição predial que era o Z…. Em relação ao valor por m2, se é isso que pretende, de uma produção e de um mix de rotações que eu fiz. Pode retirar-se um valor

unitário por m2. Porque eu determinei o valor unitário por… acordo com aquela rotação feita. Uma rotação trianual. E em que me deu um valor de… 29,45 €/m2 de rendimento liquido fundiário. Que é o que determina o valor fundiário. Portanto se quisermos saber o valor do terreno, para o caso de se pretender uma avaliação, basta multiplicar pelo factor de capitalização. E o factor de

capitalização que é normalmente utilizado para os terrenos agrícolas é de 4%. Atendendo a estar próximo de um centro de comércio fácil de produtos, etc... pode-se aduzir essa capitalização. Isto é, aumentar o preço. A capitalização é inversa do valor. E, portanto, isto dava-me 10,00 €/m2. Mais concretamente 9,81 €.”

LXXVII. Ou seja, do depoimento do perito do tribunal resulta que, nos relatórios elaborados conjuntamente com o perito dos Réus, apenas tiveram em consideração, um dos terrenos, com a área 4.100 m2, quando, na verdade, estão em causa dois terrenos, com uma área total de 18.500 m2.

LXXVIII. Os Recorrentes, nos seus requerimentos, sempre se referiram aos dois terrenos

identificando-os separadamente, nomeadamente, nos seus pedidos de esclarecimentos (veja-se a titulo de exemplo, os esclarecimentos requeridos nos art. 30º e 31º, do requerimento de

21/09/2006) e, no seu requerimento de 05/06/2008, os Recorrentes solicitam, os seguintes esclarecimentos:

“6. Devem os Sr.es Peritos explicar:

I - Se a água que referem no quesito 1º é na ordem dos 80.000 a 100.000 litros, por dia e, se ainda fica em represa 24 horas, por dia ininterruptamente?

II - Considerando que os terrenos dos A. possuem uma área conjunta de 18.500 m2 (terreno de cultivo), sendo que a área bruta dos terrenos é superior, abstraíram os Sr.es Peritos a área real e limitaram-se a trabalhar com a área constante da descrição predial?

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18.500 m2 e outra 4.100 m2, queiram os Sr.es Peritos esclarecer se os 18.500 m2 existem realmente no local, uma vez que se deslocaram lá, pelo menos a um dos terrenos?”

LXXIX. Das declarações do Sr. Perito conclui-se que fácil se torna chegar a um valor dos terrenos em termos agrícolas, tendo elucidado o Julgador sobre o tipo de cálculo a efectuar e factores a considerar, basta para o efeito atender ao seu relatório pericial junto pelos Peritos do Tribunal e dos Réus de 30 de Janeiro de 2009.

LXXX. Sem esquecer o Código das Boas Práticas Agrícolas, do Ministério da Agricultura, que permite e permitiria facilmente apurar o rendimento médio dos terrenos dos Recorrentes

LXXXI. No relatório pericial junto pelo Perito Eng. AB… em 15 de Abril 2008, e junto aos autos em 04 de Setembro de 2006, pode ler-se: “… Ao semear 2.000 m2 de milho grão, obtém-se uma produção média, em regadio, de 2.000 kg de milho, o qual, valorado em 0,30 €, origina uma receita bruta de 600,00 €. Ao plantar 15.000 m2 de batata de consumo, obtém-se uma produção média, em regadio, de 60.000 kg de batata de consumo, o qual, valorado em 0,30 €, origina uma receita bruta de 18.000,00 €. Cultivar 1.5000 m2 com diversos produtos hortícolas (tomate, feijão, pimento, alface, pepino e cenoura), obtém-se uma receita média bruta de 4.000 €. Contabilizando as

despesas com consumíveis para as referidas culturas, obtemos um valor médio de 3.190,00 €. … Assim, consideramos perfeitamente aceitável que se obtenha uma receita liquida, para as áreas e culturas referidas, de 9.000,00 €.“

LXXXII. A estes quesitos respondeu a testemunha S… (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 10:54:41 a 11:20:24), esclareceu o Tribunal que: “…Regavam tudo. Tudo o que queria. Tinha lá… Tinham milho, tinham pencas, que eram uma maravilha, tinham batata, tinham lá tudo. Não havia… Agora não tem nada, porque sem água não pode dar nada. Sem água não há nada. Semeavam milho e batata. Tinham alguma hortaliça. Semeavam naval, agora neste tempo de tirar a batata. Semeavam naval, punham pencas e, sabe que a penca não dá nada sem a regar. Nem a batata, nem o milho. Porque eu também o tenho lá e tenho lá um sítio que até o regamos bastantes vezes. Mas a terra é encostada e, ele está lá muito fraquinho este ano. Mesmo com a rega. Colhem batatas pequeninas, que não dão para venda. A batata não aparece sem água. Nem a batata, nem o milho. Continua a semear. Só que não tem é resultados. Não têm coisas que dê para tirar. E o milho também não dá. O milho… Se não tiver água, nem espiga deita. Deita uma espiga…” LXXXIII. A estes quesitos respondeu também a testemunha T… (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 11:21:29 a 11:51:44), agricultor, esclareceu o Tribunal que: “…Continua a semear batata, milho e produtos hortícolas, também. Sem rega também não… não colhe quase nada… Agora não tem nada a ver… é uma produção para cultivar a terra e não estar a monte. À mais para isso. Ao menos as batatas… é umas batatinhas que não dá nada, miudinhas. Milho também, quase seca. Está muito sujeito a alguma chuva que apareça, pela natureza. Mas, de resto, não colhe mais nada. Pois. Ele agora vai cultivando aquilo para não estar a monte, senão… até tinha silvas como tem o vizinho, ao lado. Tem lá um silvado que até lhe está a assombrar o terreno dele, não é? Batata? 6 kg/m2. Milho? Á volta de quilo e meio. A penca também, à volta de 4, 5 Kg.

Milho? 1,5 kg. A penca, à volta de 4 kg, 5. E depois há as hortícolas, que isso também… a gente não faz muito a conta aos m2. Mas são produtos hortícolas que até são mais rentáveis que o milho…” LXXXIV. O mesmo se diga do depoimento de O…, (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 11:53:47 a 12:16:45) que bem conhecedor do local e dos factos, há mais de 50 anos, inclusivamente ajudava os Recorrentes a semear e a colher os produtos agrícolas, esclareceu o Tribunal que: “… Quando era regado, que era milho, tinha lá milho que era de tremer e batatas. Agora… semeia batatas parecem bogalhos. Não são regadas. Parecem coitaditas todas torciditas.

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Milho precisamente a mesma coisa. Também cultivo, também sei como é. Cada m2 de batata pode dar 6, 7 kg, 5 kg, depende. Os anos não são todos iguais. E no milho andava na casa de 1,5 kg, por m2.”

LXXXV. No mesmo sentido foi o depoimento da testemunhas U…, (cujo depoimento se encontra registado – 26/09/2011 – 12:17:25 a 12:40:01) que bem conhecedor do local e dos factos, há mais de 30 anos, esclareceu o Tribunal que: “… Cultivava lá tudo, era batata, era feijão, era milho, era centeio, era hortaliça. Tudo. O filho cultiva batata, tem lá pencas, nabal. Semeia ervas para enfardar para o gado. Agora, geralmente tem tido, desde que lhe cortaram a água… o terreno se não tiver água não dá fruto. Uma batata pequenina. Fica meia batata, dá meia produção. Mas o que não dá é produção.”

LXXXVI. Bem como a testemunha V…, (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 – 15:40:31 a 16:04:17), que bem conhecedor do local e dos factos, há mais de 70 anos, agricultor, esclareceu o Tribunal que: “… Produzia grandes quantidades que os terrenos dele são bastante grandes. Salvo erro, por m2 se regar… 5 a 6 kg batatas. Também não vai ter uma terra e ir comprar uma penca ao mercado. O milho nem espigou. O outro vizinho tem lá milho e deita-lhe a água que ele precisa por isso é que ele está bonito e bem espigado e dá produção que é necessária. E tudo na mesma zona. Onde está o milho verdinho e onde está o dele a morrer de sede e que não espigou, a zona é a mesma. As terras ali são mais ou menos da mesma qualidade.”

LXXXVII. Quanto à testemunha W… (cujo depoimento se encontra registado – 24/10/2011 –

16:05:30 a 16:30:04), como se referiu afirmou ter conhecimento dos factos até 1999, altura em que vendeu a sua propriedade e que depois dessa data não mais de deslocou ao local. não tendo sobre estes factos esta testemunha não tem conhecimento directo.

LXXXVIII. Do exposto, entendem os Recorrentes que da prova documental junta aos autos, bem como a testemunhal produzida em sede de audiência de julgamento, deve ser reapreciada e, nessa sequência, relativamente aos artigos 15º a 18º e 20º, da base instrutória deve a decisão da matéria de facto ser alterada dando-se como provados na integra os factos ali vertidos.

LXXXIX. E isto porque as testemunhas foram unânimes em confirmar a destruição da mina e represas, consequente impossibilidade posterior dos Recorrentes poderem usar a água para rega dos seus terrenos e obter as colheitas nos moldes em que o vinham fazendo conforme se alcança também da sentença proferida no processo 342/98, que cujo processo correu termos pelo 1º Juízo do Tribunal Judicial de Valongo.

XC. Foram também unânimes em afirmar que os Recorrentes vêm cultivando os terrenos apenas para não ficarem a monte e sempre na esperança de que a Ré E… cumprisse a sentença proferida no processo 342/98.

XCI. Foram também unânimes em afirmar que não colhe produtos com qualidade mínima para poderem ser comercializados, porque, pura e simplesmente não dispõe da água da mina nos moldes e quantidades anteriores aos factos.

XCII. Impossibilidade de usar a água que subsiste, mesmo após a Recorrida “E…, S.A.”, ter

procedido ao encanamento para conduzir a água da mina para os terrenos dos Recorrentes, como resulta das declarações dos Peritos e dos relatórios elaborados.

XCIII. Com esta alteração da decisão da matéria de facto deve o pedido formulado na PI ser julgado totalmente procedente (art. 690º-A e 710º, ambos do CPC).

Sem prescindir

XCIV. Considerando tudo o atrás exposto, e no que concerne à responsabilidade civil, de acordo com o disposto no art. 483º, do CC “aquele que, com dolo ou mera culpa, violar ilicitamente o

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direito de outrem em qualquer disposição legal destinada a proteger interesses alheios fica obrigado a indemnizar o lesado pelos danos resultantes da violação”.

XCV. Portanto, como bem se refere na sentença recorrida, para que se verifique tal

responsabilidade exige a lei os seguintes elementos constitutivos: um facto voluntário do agente, ilícito; a culpa do agente; a existência de um prejuízo ou dano; um nexo de causalidade entre a conduta ilícita e culposa e o prejuízo.

XCVI. Ora, tendo-se provado que, pelo menos, a 2ª R foi quem destruiu o pórtico de entrada da mina e uma represa.

XCVII. Certo é que, pelo menos sobre, a 2ª Ré impendia a obrigação de indemnizar os

Recorrentes, pois nos termos do art. 562º, do CC, “quem estiver obrigado a reparar um dano deve reconstituir a situação que existiria se não se tivesse verificado o evento que obriga à reparação”. XCVIII. Sendo que, segundo o art. 565º, do CC, “o dever de indemnizar compreende não só o prejuízo causado, como também os benefícios que o lesado deixou de obter em consequência da lesão”, impondo o n.º 2 deste normativo que “na fixação da indemnização pode o Tribunal atender aos danos futuros, desde que sejam previsíveis”.

XCIX. Entendem que dos documentos juntos aos autos, do depoimento de todas as testemunhas resulta provado que os Recorrentes ficaram privados de usar a água de rega e de lima na forma e quantidades descritas na sentença proferida no âmbito do proc. 342/98.

C. Dos documentos juntos aos autos, dos depoimentos prestados e dos próprios relatórios periciais, resulta provado que os terrenos dos Recorrentes foram afectados na sua capacidade produtiva. CI. Deixaram de produzir nas quantidades e qualidade com que vinham produzindo.

CII. Por conseguinte, entendem os Recorrentes que se encontram preenchidos os requisitos legais da responsabilidade civil e da obrigação de indemnizar, pelo menos por parte da 2ª Ré.

CIII. O Julgador dispunha de elementos, informações, factos suficientes para poder imputar aos responsáveis, a obrigação de indemnizar quer, quanto aos lucros cessante, quer quanto aos danos emergentes, mas não o fez.

CIV. Quando muito poderia, como aliás requereram os Recorrentes na sua PI (cfr. art. 19º, 20º e 21º, que aqui se dão como produzidos) e deveria, em última instância, condenar os responsáveis no pagamento de quantia ilíquida a quantificar em sede de execução de sentença.

CV. Pelo que entendem os Recorrentes e também nesta parte, que a sentença não valoriza de forma correcta os documentos que se encontram juntos aos autos e depoimentos prestados em sede de audiência de julgamento, e que permitiriam ao Julgador decidir nos moldes supra referidos. CVI. Pelo que pretendem também com o presente, seja arbitrada quantia indemnizatória ao

Recorrentes decorrente da privação da água de rega e de lima, bem assim como pelo lucro cessante, e danos emergentes.

CVII. Por isso, deve o presente recurso levar provimento e ser alterada a decisão proferida em 1ª Instância nos termos em que vêm formuladas as conclusões.

Também a ré J…, SA, interpôs recurso de apelação, terminando as suas alegações formulando as seguintes conclusões[2], que se passam a sintetizar:

Conclusões I a LVIII:

1) Alega a recorrente, repetidamente, que, ao contrário do que consta da motivação da decisão da matéria de facto, não confessou o facto constante do quesito 1.º da base instrutória;

2) Mais alega que para além de não haver confissão da factualidade condensada na resposta aos quesitos 1.º a 5.º, nenhuma testemunha referiu que a recorrente tivesse destruído a entrada e a represa da mina;

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3) Conclui arguindo a nulidade da sentença porque o Tribunal “se pronunciou sobre uma questão que não podia conhecer”, e pede que seja (uma vez mais) anulado o julgamento.

Conclusões LVIX a XCVII:

A recorrente impugna a decisão sobre a matéria de facto no que respeita à resposta dada globalmente aos quesitos 1.º a 5.º, invocando os depoimentos das testemunhas K… (agente da

PSP), U…, T…, O… e S… que, na versão da recorrente, afirmaram que não viram destruir a entrada e a represa da mina.

Conclusões XCVIII a CXXIV:

A recorrente impugna a decisão sobre a matéria de facto no que respeita à resposta dada

globalmente aos quesitos 6.º a 9.º, invocando os depoimentos das testemunhas U…, T… e O…. Conclusões CXXV a CLXV:

Alega a recorrente que na sentença recorrida se confunde “direito de propriedade com direito de uso”, daí decorrendo a “falta de legitimidade substantiva dos autores”, na medida em que “[a] existir qualquer destruição da mina, das lousas e dos pórticos, tal sucedeu num terreno que é propriedade de um sujeito que não é parte nesta lide, sendo certo que nunca tal terreno, bem ou objecto, faz (ou fez) parte do património dos autores” (conc. CXXXIX).

Conclusões CLXVI a CCVIII:

Alega a recorrente que os autores deveriam ter sido condenados como litigantes de má fé, dado que já no processo-crime n.º 3842/1988 foi dado como provado que desde 1993 os autores regam os campos com outra água que não a da mina, e que “a água já não estava canalizada e não se direccionava para os campos dos AA aquando da destruição do pórtico da entrada da mina e represa aqui em causa” (conc. CXCIV)[4].

Conclusões CCIX a CCXXXII:

Alega a recorrente que se verifica a nulidade da sentença, porquanto a mesma se revela ambígua e obscura nos termos do artigo 615.º, n.º 1, c), do CPC. No seu entendimento a sentença é obscura porque a recorrente não sabe como lhe dar cumprimento, pese embora o facto de ser uma

“sociedade comercial que opera no sector da construção civil já há largos anos”, não sabendo o que quer dizer o Tribunal com a imposição da obrigação de «reconstruir o pórtico de entrada na mina com duas lousas de grande porte, uma no seu interior e outra à vista». Mais alega que não sabe “o que são lousas de grande porte, qual o formato, qual a sua dimensão, bem como qual a profundidade da represa. Conclui que não há nos autos “quaisquer elementos para fixar o objecto e a quantidade”, com vista a poder proceder à realização das obras de forma adequada.

II. Do mérito do recurso

1. Definição do objecto do recurso

O objecto do recurso, delimitado pelos recorrentes nas conclusões das suas alegações (artigos 635º, nº 3 e 639º, nºs 1 e 3, ambos do Código de Processo Civil[5], salvo questões do

conhecimento oficioso (artigo 608º, nº 2, in fine), consubstancia-se nas seguintes questões:

1) Apreciação da nulidade por falta de fundamentação invocada pelos recorrentes/autores (conc. I a XI)

2) Apreciação da nulidade por excesso de pronúncia invocada pelos recorrentes/autores (conc. XXXIII a XXXVII e XXXVIII a LXIII)

3) Apreciação da nulidade por excesso de pronúncia invocada pela recorrente/ré

4) Apreciação da nulidade por “obscuridade” e “ambiguidade” da sentença, invocada pela recorrente/ré (conc. CCIX a CCXXXII)

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5) Apreciação dos recursos da matéria de facto: i) quanto aos quesitos 1.º a 5.º; ii) quanto aos quesitos 6.º a 9.º; iii) quanto aos quesitos 12.º a 14.º e 19.º; iv) quanto aos quesitos 15.º a 18.º e 20.º

6) Apreciação da natureza jurídica do direito dos autores.

7) Apreciação do mérito jurídico da pretensão dos autores, no que respeita à ré/recorrente. 2. As nulidades invocadas

A presente acção arrasta-se desde Dezembro de 2003, já foi objecto de uma anulação de julgamento, e ambos os recorrentes vêm arguir nulidades, susceptíveis de nova anulação. Vejamos cada uma das nulidades invocadas.

2.1. A nulidade por falta de fundamentação invocada pelos recorrentes/autores (conc. I a XI) Entendem os recorrentes/autores, que “a sentença recorrida não especifica os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão, que nos termos do disposto no art. 668º, n.º 1, alínea b), do CPC, consubstancia uma nulidade que aqui expressamente se invoca com todas as cominações legais”.

Alegam em síntese, que na sentença não são apresentados os fundamentos, quer de direito, quer de facto que a sustentem, não é realizada a análise crítica das provas (documental, testemunhal, relatórios periciais)[6], não é assegurado o cumprimento do dever constitucional de fundamentação das decisões judiciais.

As nulidades invocadas pelas partes ou suscitadas oficiosamente devem ser apreciadas em

momento prévio à pronúncia sobre o mérito do recurso, face ao disposto no artigo 660.º, ex vi artigo 613.º, n.º 2, ambos do CPC[7].

Vejamos.

Nos termos do disposto no art.º 668º, n.º 1, alínea b) (art. 615.º do NCPC), é nula a sentença quando não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão.

Por imperativo constitucional (art. 205/1 CRP), vertido no artigo 158.º do CPC, as decisões dos tribunais que não sejam de mero expediente são fundamentadas.

O dever de fundamentação, para além de legitimar a decisão judicial, constitui garantia do direito ao recurso, na medida em que uma decisão só pode ser objecto de impugnação eficaz, se o

destinatário tiver acesso aos seus fundamentos de facto e de direito.

Nos termos do disposto no art.º 668º, n.º 1, alínea b), é nula a sentença quando não especifique os fundamentos de facto e de direito que justificam a decisão.

Ensinava o Professor Antunes Varela[8]: «Para que a sentença careça de fundamentação, não basta que a justificação da decisão seja deficiente, incompleta, não convincente; é preciso que haja falta absoluta […]»[9].

O entendimento enunciado vem de longe, do ensinamento do Professor Alberto Reis[10], que já defendia que o vício em análise apenas se verifica quando ocorre falta absoluta de especificação dos fundamentos de facto ou dos fundamentos de direito.

No actual quadro constitucional (artigo 205º, nº 1, da Constituição da República Portuguesa), em que é imposto um dever geral de fundamentação das decisões judiciais, de forma a que os seus destinatários as possam apreciar e analisar criticamente, designadamente mediante a interposição de recurso, ou seja, garantindo a sua impugnabilidade nos casos em que estejam reunidos os restantes requisitos, deverá concluir-se que a fundamentação insuficiente, em termos tais que não permitam ao destinatário da decisão judicial a percepção das razões de facto e de direito da

decisão judicial, deve ser equiparada à falta absoluta de especificação dos fundamentos de facto e

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Referências

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