• Nenhum resultado encontrado

A Construção de uma câmera de grande formato - 4x5 em madeira.

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A Construção de uma câmera de grande formato - 4x5 em madeira."

Copied!
8
0
0

Texto

(1)

Universidade de São Paulo

Escola de Comunicações e Artes - Departamento de Artes Plásticas Projeto de pesquisa para iniciação científica

Isabella da Silva Finholdt

(2)

Introdução

Este projeto contempla a realização de uma pesquisa sobre câmeras de grande formato, sobretudo uma pesquisa prática que visa a concepção e construção de uma câmera fotográfica de madeira no tamanho de 4x5 polegadas.

O ponto de partida desta pesquisa é a construção de uma câmera de madeira de trilho (monorail view camera) em grande formato (4x5 polegadas), para isso será feito uma pesquisa prévia de dados e material bibliográfico que auxiliarão passo à passo a construção. Fotografia significa grafar, desenhar com a luz e é também uma linguagem artística, podemos situar sua invenção em 1826 por Joseph Nicéphore Niépce com a realização da primeira fotografia 1, entretanto outros

inventores como Louis Jacques Mandé Daguerre e Henry Fox Talbot2 desenvolveram técnicas e

processos tão importante quanto Niépce. A pesquisa em torno da fotografia remota à antiguidade com investigações sobre a câmera escura3 e seu desenvolvimento se deve à uma série de pesquisas

de inúmeras pessoas em momentos distintos que contribuíram para o que conhecemos hoje como fotografia. Por exemplo, Hercules Florence, francês radicado no Brasil que no século XIX desenvolveu um processo fotográfico. Com o advento de tecnologias cada vez mais rápidas e numerosas as câmeras foram se transformando: de uma simples caixa pequena de madeira (utilizada para fazer a primeira fotografia) até os aparelhos mais sofisticados e de uso cotidiano como os celulares com micro lentes. As câmeras de grande formato são conhecidas por duas importantes características: seu formato ou o tamanho do filme (4x5, 5x7 ou 8x10 polegadas) ou por seu design. Há dois modelos mais conhecidos de câmeras de visor (view cameras): a flatbed (base plana) e monorail (câmera de trilho)*.

Neste projeto pretende-se construir o modelo de uma câmera de trilho de madeira, pois seu design é mais comum e versátil apresentando relativo baixo-custo, facilidade e adaptabilidade para se produzir de forma artesanal.

Objetivo

Um dos principais meios de (re)produção, divulgação e circulação de imagens do mundo atual a fotografia desempenha um papel fundamental em nossa sociedade. Seu estudo é fundamental para a compreensão do mundo pois “ser educado por fotos não é o mesmo que ser educado por imagens mais antigas, mais artesanais (...)as fotos modificam e ampliam nossas ideias sobre o que vale a pena olhar e sobre o que temos direito de observar. Constituem uma gramatica e, mais importante ainda, uma ética do ver.”4

A história da fotografia está intrinsecamente relacionada ao modo como vemos, e ao observar que a fotografia e a realidade são coisas distintas, assume-se que ao fotografar estamos lidando com um recorte, uma interpretação do momento presente. Assim sendo, há a importância do aprendizado de diferentes equipamentos, pois ao usá-los aprendemos não só outra técnica como também outro

1“View from the Window at Le Gras”, Nicéphore Niépce, 1826 ou 1827. Disponível em:

http://www.hrc.utexas.edu/exhibitions/permanent/firstphotograph/#top/

2Daguerreótipo e Calótipo são as outras invenções que deram origem a fotografia e foram realizadas respectivamente por Louis-Jacques M.

Daguerre e William F. Talbot. In “História general de La fotografia”, Marie-Loup Sougez (coord.).

3A câmera escura trata-se de um princípio físico básico que envolve um lugar escuro, uma caixa de madeira preta, por exemplo, em que um orifício é

feito e uma imagem invertida é projetada. * Tradução Livre.

(3)

modo de observar. A abordagem e o funcionamento de cada câmera é diferente embora sua finalidade seja a mesma: captar uma imagem, gravar e posteriormente revelá-la, ampliá-la ou imprimi-la. Pois quando fotografamos algo com câmeras analógicas - de pequeno, grande ou médio formato - ou câmeras digitais ou celulares estamos utilizando linguagens e tecnologias que podem ou não explorar o máximo o potencial da imagem, necessitam habilidades diferentes e suscita reflexões intrínsecas à seu meio.

As câmeras de trilhos são nomeadas assim por seu suporte principal ser um trilho de metal que permite os movimentos e ajustes com mais liberdade em sua estrutura. No trilho estão fixadas as partes que formam a câmera e os ajustes são possíveis em ambas as partes: no suporte frontal que sustenta a lente e na parte posterior que sustenta o filme. Além disso, a câmera se constitui do fole que têm a função de vedar luz, do vidro despolido onde se visualiza a imagem grande que irá ser fotografada e exige também o uso de um tripé.

Considerando tais questões a pesquisa se propõe o objetivo de investigar e criar uma câmera através da elaboração e construção de um design inspirado no modelo produzido por Jon Grepstad. Além do processo de construção, pretende-se desenvolver uma série de trabalhos com o equipamento uma vez que é tão interessante quanto a construção propriamente dita. Há também a intenção e a possibilidade da construção de uma segunda câmera para utilização coletiva dos alunos (e demais interessados) do Departamento de Artes Plásticas. Vale ressaltar que a analise da construção dos sistemas de projeção e da captação das imagens fotográficas são fundamentais na história da linguagem e de sua retórica. A reflexão e o entendimento dessa evolução técnica dos aparelhos e dos processos estão intrinsecamente relacionados aos aparatos construídos para a formação da imagem.

Justificativa

A escolha do material para a pesquisa se justifica no fato da fotografia de grande formato possibilitar uma experiência com a fotografia e com a imagem completamente distinta da experiência que temos hoje em dia. Aprender a fotografar com uma câmera de grande formato é aprender outro modo de olhar e situar-se no espaço-tempo de outra maneira, pois é uma atividade que demanda um processo mais mecânico e uma observação contemplativa por sua operação ser mais lenta. Tempo adicional é exigido, pois para fotografar precisamos de uma série de ajustes como montar a câmera, inserir o chassi, ajustar a abertura, o obturador e compor e expor a imagem. O preparo e os arranjos com a câmera demandam mais tempo e é evidente que não é uma máquina para trabalhos rápidos, porém o trabalho e as restrições maiores impostas pela câmera de grande formato são compensados pelo o que ela oferece em termos de precisão na visualização e desempenho mecânico superior5.

Além disso, a construção de uma câmera possibilita um grande aprendizado, pois demanda pesquisas com diversos materiais (madeira, compensado, mdf, metal, tecido, cola, papel, vidro, etc), estudo da história e teoria da fotografia, trabalho de marcenaria, desenvolvimento de novas capacidades, entre outras habilidades. A elaboração de uma máquina também une o prazer de desenvolver e conhecer cada parte e detalhe da câmera e a possibilidade de desenvolver trabalhos,

(4)

sendo em suma uma experiência única e gratificante. Porém o aprendizado não se limita à produção do objeto, pois construir uma câmera requer paciência, atenção e precisão envolvendo diálogo e troca de ideias e conhecimentos, sendo também um trabalho que exige colaboração.

A visualização da imagem no vidro despolido é uma experiência única, apresenta inúmeras qualidades gráficas e difere do visor das câmeras que estamos acostumados. No vidro despolido a imagem aparece invertida e aprendemos a enxergá-la deste modo. Da mesma forma os movimentos do plano da lente e do filme que se deslocam vertical ou lateralmente em relação entre si e o sistema de lentes intercambiáveis que as câmeras de grande formato possibilitam também são fundamentais para o aprendizado da fotografia, pois apresentam possibilidades de um controle extraordinário da imagem que somente este tipo de câmera possui. A abordagem tranqüila e prolongada que este tipo de câmera necessita estimula uma prática consciente da fotografia. A primeira câmera de trilho foi provavelmente elaborada depois do “optical bench” o trilho reto usado para pesquisas óticas para segurar os elementos alinhados. Diversos modelos surgiram da década de 1850, entretanto nenhum modelo de câmera de trilho “popular” veio à tona até mais ou menos um século depois. Os modelos de metais se originaram nos Estados Unidos com a “Graphic View” em 1941.6

Câmeras de grande formato normalmente apresentam alto custo de aquisição, portanto a construção de uma câmera modular (as únicas partes que não serão construídas são a lente e o chassi do filme) é uma alternativa mais barata e acessível. O estudo para a fabricação própria de uma câmera necessita de técnicas diferentes e possibilita a constituição de um trabalho múltiplo. Embora a fotografia analógica e de grande formato seja considerada por alguns como um processo “ultrapassado” do ponto de vista tecnológico e que “perdeu” aos poucos sua função representativa na sociedade, sua atualidade e presença na produção artística são inquestionáveis. Assim como a crescente procura por fotografia analógica e processos fotográficos alternativos.

Um exemplo da atualidade no uso das câmeras de grande formato são os trabalhos de artistas e fotógrafos contemporâneos como Abelardo Morell, Gregory Crewdson e Navad Kander. Pode-se mencionar ainda o seu uso ativo no passado com trabalhos realizados por fotógrafos consagrados como Félix Nadar e Julia Margaret Cameron no século XIX, e os “modernos” do século XX como Ansel Adams, Richard Avedon e Berenice Abbott. Observa-se nos trabalhos destes artistas estudos e investigações precisas sobre a imagem e o melhor meio de reproduzi-la considerando atributos fundamentais como luz, composição, cor, papel e melhor aspecto visual e estético, ou seja, também a escolha do tipo de câmera. Internacionalmente há um movimento de amadores e profissionais que trabalham com fotografia em grande formato e que procuram construir sua própria câmera e compartilhar sua experiência. A idéia de construir sua própria câmera de grande formato e compartilhar a experiência promove e estimula o livre conhecimento, a pesquisa e investigações não só no plano prático como também no teórico.

(5)

Câmera Escura do século XIX, ilustrador desconhecido 1° Câmera a ser comercializada feita por Alphones Giroux para o daguerreotipo

.

Câmera 4 x 5 Deardorff. Moonrise, Hernandez, New Mexico. Ansel Adams, 1942

(6)

A intenção desse projeto também é refletir sobre o uso experimental das variadas formas de fotografia na arte atual. Por meio da singularidade de cada linguagem e a possibilidade de investir nas muitas combinações desta com outras técnicas. E o constante avanço tecnológico no campo da imagem não deve suprimir os antigos métodos e sim suscitar reflexão, discussão e investigação entre eles. Um exemplo é a possibilidade de usar a câmera de grande formato para processos fotográficos alternativos que demandam negativos maiores por serem feitas diretamente em contato com o papel ou superfície (vidro, metal) emulsionada/fotossensível. Estes trabalhos podem feitos a partir de diferentes técnicas como papel salgado, albumina, clichê-verre, cianótipo, entre outros.

Há também o interesse na possibilidade de experimentar ao máximo a linguagem fotográfica em um processo que requer reflexão e diálogo sobre as técnicas e suas variadas utilizações. A produção da câmera demanda re-construção e interferências constantes para se chegar no resultado final. Além da sua grande possibilidade de trazer novas soluções para o âmbito estético e plástico, pois a fotografia quebra padrões, e rompe limites tradicionais da linguagem alargando a possibilidade de construção plástico-visual e de conceitos.

Considerando esses apontamentos, esta pesquisa acredita que o estudo da linguagem fotográfica através da construção de uma câmera de grande formato é algo essencial para a formação. E possibilitará uma vivência e experiência diferente não apenas para quem construiu ou para aqueles que se dedicam à prática fotográfica como também para os demais interessados. Pois como dito anteriormente a fotografia domina o espaço visual da atualidade, e a popularização de seu estudo é uma grande contribuição para educação visual e para educação como um todo. As linguagens anteriores possuem uma qualidade diversa e que são necessárias para a compreensão plena dos avanços tecnológicos.

Metodologia

A pesquisa parte da produção de uma série de estudos teóricos e práticos sobre câmeras de grande formato através de desenhos, anotações, pesquisas em livros e em sites, e pesquisas de campo sobre materiais (madeira, metais, tecidos, parafusos, vidros, papéis, etc).

O projeto será iniciado com a construção de um protótipo completo de MDF das partes da câmera: parte frontal que suporta a lente e da parte traseira que sustenta o chassi e o vidro despolido, ambas na mesma medida externa de 18,4 cm x 18,4cm. Continuará com os testes para o despolimento do vidro e a construção de sua moldura. Passa-se a construção do fole, em papel cartão preto e posteriormente, couro preto ou tecido que veda a passagem de luz. Após essas etapas, serão desenhadas as partes em metal que servem de encaixe, sustentação e deslocamento da câmera assim como as partes que movimentam o trilho de foco. Depois de construído o modelo de MDF será testado, corrigido possíveis erros e falhas para iniciar a construção com uma boa madeira. Além da pesquisa prática haverá anotações, fotografias e desenhos do processo e de pequenas reflexões críticas sobre o trabalho, em relação à utilização histórica da fotografia. Por fim os trabalhos que podem ser produzidos com a construção da câmera 4x5 de madeira têm a possibilidade de serem apresentados de varias formas como álbuns, pequenos livros artesanais ou reprodução fotográfica digital dos trabalhos para a elaboração de um pequeno livro.

(7)

Bibliografia

ADAMS, Ansel. A Câmera SENAC. São Paulo, 2001. ADAMS, Ansel. A Cópia. SENAC. São Paulo, 2001. ADAMS, Ansel. O Negativo. SENAC. São Paulo, 2000.

BEAUMONT, Newhall. The History of Photography from 1839 to the present. BARTHES, Roland. A câmara clara: nota sobre fotografia. Edições 70 – Brasil. 2006 GREPSTAD, Jon. Building a Large Format Camera. Publicação Própria. 2° edição, 2000.

KOSSOY, Boris. Hercules Florence - 1833 - a descoberta isolada da fotografia no Brasil (2ª ed.). São Paulo: Duas Cidades, 1980.

KOSSOY, Boris. Fotografia e História, São Paulo: Ateliê Editorial, 2003

BENSON, Richard. The Printed Picture. The Museum of Modern Art. New York. 2008. FLUSSER, VILÉM. Ensaio sobre a fotografia Para uma filosofia da técnica, Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1998.

ROBERT, Pam. (org). Alfred Stieglitz: Camera Work. Taschen. 2013.

SIMMONS, Steve. Using the View Camera. A Creative Guide to Large Format Photography. Echo Point Books & Media; Revised ed. Edition, 2015.

SONTAG, Susan. Sobre a Fotografia, São Paulo, Cia. Das Letras, 2004.

SOUGEZ, Marie Loup (coord). História general e la fotografia. Manuales Arte Cátedra. Espanha. 2007.

TALBOT, William Henry Fox. The Pencil of Nature. New York : Da Capo, 1969.

WALL, E. S. & JORDAN, Franklin I. Photographic facts and formulas. Revised by Johns Caroll. Amphoto, 1976.

Anexos - (estudos e pré produção)

Exemplo de protótipo do fole.

(8)

Referências

Documentos relacionados

O TBC surge como uma das muitas alternativas pensadas para as populações locais, se constituindo como uma atividade econômica solidária que concatena a comunidade com os

Outro ponto importante referente à inserção dos jovens no mercado de trabalho é a possibilidade de conciliar estudo e trabalho. Os dados demonstram as

Estudar o efeito da plastificação do ATp com glicerol nas características físico-químicas da blenda PLA/ATp; Analisar a mudança na cristalinidade dos laminados submetidos a

Local de realização da avaliação: Centro de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação - EAPE , endereço : SGAS 907 - Brasília/DF. Estamos à disposição

Foram utilizados como descritores, os termos: Streptococcus pyogenes AND Rheumatic Fever; Streptococcus pyogenes AND Arthritis; Streptococcus pyogenes AND

Considera-se que a interdisciplinaridade contribui para uma visão mais ampla do fenômeno a ser pesquisado. Esse diálogo entre diferentes áreas do conhecimento sobre

Alvarás/breves/estatutos/leis/normas/ordens/provisões; Autos de arre‑ matação; Autos de avaliação; Autos de demarcação; Autos de embargo; Autos de posse; Cartas citatórias;

Nos escoamentos incompressíveis, p e V são as duas variáveis principais de interesse, e por isto são necessárias duas equações de conservação: continuidade e quantidade