Tecnologias digitais de informação e
comunicação (TDIC) e o contexto educacional
THE WEB AS AN INTERA CTIVE EDUCA TIONAL
Objetivos de Aprendizagem
• Compreender as implicações que envolvem a integração das TDIC no contexto educacional.
Tecnologias digitais de informação e comunicação
(TDIC) e o contexto educacional
Conteúdo organizado por Priscila Costa Santos em 2018 do livro Unleashing
Web 2.0: From Concepts to Creativity, publicado em 2007 por Morgan
Introdução
Reforçando o nosso olhar para as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) e a relação com o contexto educacional, novamente enfatizamos que não podemos cair no equívoco de limitar a tecnologia exclusivamente aos instrumentos ou artefatos digitais. As tecnologias, dentre as inúmeras facetas, podem alterar nossa forma de comunicar, de conceber e de interagir com a realidade, além de cooperar como instrumentos estruturantes das nossas atividades cotidianas (COLL, 2010; SANTOS, 2015).
Na obra The onlife manifesto – being human in a hyperconnected era, organizada por Floridi (2015), o uso do termo “onlife” demonstra como as TDIC estão
inseridas socialmente, a ponto de a fronteira entre o online e o offline ser apenas um tracejado. Ou seja, é pensar em como seriam as nossas práticas sociais sem o uso dos instrumentos digitais e da internet. Nessa obra, os autores discorrem sobre as TDIC, que estão: 1) exponencialmente afetando quem somos, como nos socializamos, como distinguimos e interagimos com a realidade, veja os exemplos no uso da realidade aumentada; 2) questionando cada vez mais as concepções de humano, máquina e natureza, a exemplo das inteligências artificiais; 3) causando uma inversão, de escassas informações para o crescente e célere quantitativo de informações sendo processadas e produzidas, e enfatizando os processos de interação em rede serem transformações notórias.
Paralelamente, no contexto educacional pesquisadores (ALMEIDA; VALENTE, 2015, ROJO [s.d.]; COLL; MAURI; ONRUBIA, 2010) trazem duas importantes reflexões sobre a integração entre TDIC e educação. A primeira diz respeito às formas de letramento, que a partir do crescente uso das TDIC e da internet no ensino incidem em alterações nos letramentos já existentes, como a leitura de um livro, assim como exigem a construção de novas formas de letramento.
Almeida e Valente (2015), em um olhar para as mudanças nos processos de leitura e escrita, discorrem sobre as TDIC terem introduzido outros modos de expressão dos pensamentos através da combinação de modalidades de comunicação com a hipermídia. Assim, através de elementos hipertextuais, do uso de multimídias e de ferramentas de interatividade, dentre outros recursos, são exigidas novas
esses instrumentos. Para Rojo (s.d.), à medida que as TDIC são apropriadas pelos seus usuários, cotidianamente são originadas práticas de letramentos diversificadas por meio da leitura e da escrita verbal, não verbal, por imagens, com múltiplas linguagens mediadas pelos artefatos tecnológicos.
O termo “letramentos”, como ressaltam Almeida e Valente (2015, p. 23), “está sendo utilizado para expandir ainda mais o conceito de letramento para além do alfabético e do digital, como o imagético, o sonoro o informacional”. Nesse sentido, saber como ler um
meme , por exemplo, é compreender como este se insere no contexto
atual, qual a representação daquela imagem para o significado do meme e, ainda, como o texto escrito através da ironia ou da diversão transmite uma informação.
Antes de apresentarmos a segunda reflexão, gostaríamos de convidá-lo a pensar sobre algumas indagações. Se você é professor, como é o seu processo de planejamento de uma aula? Você elabora um Plano de Aula? Nele, destaca os objetivos da aula, os conteúdos e a avaliação? Como a sua aula será realizada? Será expositiva? Os discentes farão atividades individuais ou coletivas? Quais recursos você utilizará?
Serão apenas o caderno, o livro didático e as canetas?
Se você não estiver inserido em sala de aula, relembre como foi a melhor aula que já teve em sua vida. Quem eram os seus melhores amigos? Quanto tempo durou a aula? Foi na escola ou na universidade? O professor incentivou você a participar da aula? Você fez atividades em grupo ou individuais? Essa aula fez você querer saber mais sobre a temática ministrada? Por que ela foi tão especial?
Agora o convidamos a inserir as TDIC nessa aula! Ainda seria possível
realizar a aula utilizando esses recursos? Quais modificações teriam que ser
realizadas? Quais recursos tecnológicos poderiam ser utilizados? Seria o giz, a cartolina, o Datashow, Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), vídeos do YouTube ou, quem sabe, um grupo no Facebook? Por que você escolheu esses recursos tecnológicos? Pode ser que o desafio tenha sido eleger uma aula que você planejou ou a aula mais especial, ou ainda, o grande desafio foi a inserção das TDIC. Para todos os casos, esperamos que você tenha percebido que a mera inserção das TDIC no contexto educacional não pressupõe a qualidade da aula ministrada.
Em seus estudos, Coll, Mauri e Onrubia (2010) argumentam que apesar de as TDIC e da internet serem instrumentos que limitam as barreiras geográficas e temporais, possibilitando que a aprendizagem ocorra em praticamente qualquer contexto, “a verdade é que resulta extremamente difícil estabelecer relações causais confiáveis e passíveis de interpretação entre a utilização das TIC e o aperfeiçoamento da aprendizagem dos alunos em contextos complexos” (p. 29). Ou seja, existem
inúmeras outras variáveis que interferem no processo de ensino e aprendizagem, seja utilizando as TDIC ou não.
Nesse sentido, a segunda importante reflexão consiste na alteração do
pressuposto de que as TDIC são o principal instrumento para o avanço educacional para um novo olhar em que o enfoque seja a modificação das práticas pedagógicas a partir das TDIC.
Nesse sentido, o uso das TDIC vai além da escolha de quais artefatos tecnológicos utilizar, sejam eles o Datashow, Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA), vídeos do YouTube ou grupos no Facebook, requer, também, a reflexão sobre por que, como e se é necessário o seu uso em sala de aula.
Almeida (2010), em seus estudos sobre a integração entre as TDIC e a educação, reforça o papel do currículo, apontando que este deve ser desenvolvido a partir da realidade vivenciada, na interação entre os sujeitos e contextos de conhecimento, indo além de meramente grades horárias e sequências didáticas. Ou seja, através da
participação ativa na construção do currículo é que as pessoas exercitam a participação na sociedade e podem questionar as tecnologias, criticá-las, analisar suas contribuições e possibilidades de uso em contexto com vistas à resolução de problemas da vida, ao desenvolvimento humano e à emancipação política e social. (ALMEIDA; VALENTE, 2011 p. 37)
Os pesquisadores Coll, Mauri e Onrubia (2010) acrescentam que somente após estabelecidas as necessidades de forma crítica pela comunidade escolar para o uso de efetivo das TDIC, condizentes com o currículo, com as práticas pedagógicas e com os objetivos de aprendizagem, podem ser iniciadas a identificação e descrição no uso desses instrumentos. Tais autores destacam cinco categorias no uso das
TDIC:
Quadro 3.1 – Cinco tipos de categorias no uso das TDIC
Tipo Uso educacional
As TDIC como mediadores das relações entre alunos e conteúdos de aprendizagem
Nesse tipo de uso a sua principal característica é a busca por conteúdos através das bases de dados ou repositórios educacionais.
As TDIC como instrumentos mediadores das relações
entre professores e conteúdos (e tarefas) de ensino e
aprendizagem
Esse tipo de uso centra-se no papel do docente no processo de “planejar e preparar atividades de ensino e aprendizagem para seu desenvolvimento posterior em salas de aula” (p. 84). Faz parte do planejamento a procura, a seleção e a organização de informações relacionadas com os objetivos de aprendizagem em bases de dados e repositórios de aprendizagem.
Tipo Uso educacional As TDIC como mediadoras das
relações entre professores e alunos ou dos alunos entre si
A principal característica no uso educacional desse tipo versa sobre as trocas comunicacionais, principalmente aquelas que não possuem relação direta com os processos de ensino e aprendizagem, realizadas entre professores e alunos ou entre alunos e alunos.
As TDIC como mediadoras da atividade conjunta desenvolvida por professores e alunos
durante a realização das tarefas ou atividades de ensino e
aprendizagem
Dentre as características desse tipo destaca-se o suporte no acompanhamento dos avanços e das dificuldades dos alunos, assim como auxílio para que os discentes possam verificar o seu processo de aprendizagem.
As TDIC como instrumentos configuradores de ambientes ou espaços de trabalho e de aprendizagem
Dentre as características desse tipo destaca-se a
possibilidade de configurar ambientes ou espaços de trabalho e de aprendizagem, sejam eles individuais ou coletivos.
Fonte: adaptado de Coll, Mauri e Onrubia (2010).
Em contrapartida, a fim de que os cinco tipos de categorias do uso das TDIC possam fazer parte do processo de integração desses recursos no contexto
educacional, autores como Nóvoa (2011), Santos (2015), Pedroza (2014) e Veiga (1998) adicionam que essa integração deve perpassar a formação docente. Para Santos (2015), a formação docente para o uso de recursos digitais e não digitais deve considerar três elementos:
• Contribuir para a reflexão sobre a prática tecendo relação com campos teóricos, em que a teoria possa fazer sentido no campo prático.
• Enfatizar o pensamento crítico, em que o professor possa analisar, questionar e ser responsável pelas propostas que utiliza.
• Valorizar a profissionalização docente, por meio de melhores condições de trabalho, remuneração adequada, processos de avaliação e acompanhamento profissional.
A partir das colocações de Santos (2015), é possível verificar que as atividades docentes, sejam elas na formação do professor ou em sala de aula, transitam pela confluência entre a teoria e a prática, a ponto de que
ambas possam contribuir para a crítica e reflexão sobre os recursos pedagógicos, práticas pedagógicas e, até mesmo,
sobre as condições profissionais que perpassam o contexto educacional. Em suma, quando se tratar da relação entre TDIC e educação, espera-se que o docente “possa apoderar-se de suas propriedades intrínsecas, utilizá-las na própria aprendizagem e na prática pedagógica e refletir sobre por que e para que usar a tecnologia, como se dá esse uso e que contribuições ela pode trazer à aprendizagem e ao desenvolvimento do currículo” (ALMEIDA, 2010, p. 68).
No tema seguinte, discutiremos sobre o uso igualitário da internet e das TDIC. Essa discussão faz-se essencial para nos aprofundarmos em relação ao papel da escola na Cultura Digital.
Saiba Mais
O texto a seguir, disponível no livro Web currículo: aprendizagem,
pesquisa e conhecimento com o uso de tecnologias digitais, discorre
sobre os caminhos existentes na integração entre TDIC na escola a partir do currículo.
“A integração currículo e tecnologia: concepção e possibilidades
de criação de web currículos.” Disponível em: <https://issuu.com/
letracapital/docs/web_curr__culo>.
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, M, E. Transformações no trabalho e na formação docente na educação a distância on-line. Em Aberto, v. 23, n. 84, 2010. Disponível em: <http://rbep.inep.gov.
br/ojs3/index.php/emaberto/article/view/2468>. Acesso em: 7 dez. 2020.
ALMEIDA, M. E.; VALENTE, J. Tecnologias e currículo: trajetórias convergentes ou divergentes?. São Paulo: Paulus, 2011.
COLL, C.; MAURI, T.; ONRUBIA, J. A incorporação das tecnologias de informação e comunicação na educação: do projeto técnico-pedagógico às práticas de uso. In: COLL, C.; MONEREO, C. (Orgs.). Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010, p. 66-96.
COLL, C.; MONEREO, C. Educação e aprendizagem no século XXI: novas
ferramentas, novos cenários, novas finalidades. In: COLL, C.; MONEREO, C. (Orgs.) Psicologia da educação virtual: aprender e ensinar com as tecnologias da informação e comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2010, p. 15-46.
FLORIDI, L. The onlife manifesto: being human in a hyperconnected era. Oxford: Springer, 2015.
NÓVOA, A. O regresso dos professores. Pinhais, SP: Melo, 2011.
PEDROZA, R. A formação do professor: possibilidades para o desenvolvimento profissional e pessoal. In: DESSEN, M. A.; MACIEL, D. A. (Eds.) A ciência do
desenvolvimento humano:
desafios para a psicologia e a educação. Curitiba: Juruá, 2014.
ROJO, R. Letramento e capacidades de leitura para a cidadania. [s.d.] Disponível em: <https://www.academia.edu/1387699/Letramento_e_capacidades_de_leitura_
para_a_cidadania>. Acesso em: 7 dez. 2020.
SANTOS, P. A coconstrução como fio condutor para formação de professores-tutores online. 89 f. Dissertação (Mestrado em Processos de Desenvolvimento Humano e Saúde)— Universidade de Brasília, Brasília, 2015.
VEIGA, I. P. A. Caminhos da profissionalização do magistério. Campinas: Papirus, 1998.
a) Somente a assertiva I é verdadeira.
b) Somente as assertivas II e III são verdadeiras. c) Somente as assertivas I e II são verdadeiras. d) Somente a assertiva II é verdadeira.
1. Ao propor a integração das tecnologias
digitais de informação e comunicação (TDIC)
ao contexto educacional, a formação docente
é apresentada como um dos elementos
propulsores dessa relação. Santos (2015)
aponta três elementos que devem ser
considerados na formação docente:
I. Contribuir para a reflexão sobre a sua prática tecendo relação com campos teóricos, em que a teoria sobrepõe o campo prático.
II. Enfatizar o pensamento crítico, em que o professor possa analisar, questionar e ser responsável pelas propostas que utiliza.
III. Valorizar a profissionalização docente, por meio de melhores condições de trabalho, remuneração adequada, processos de avaliação e
acompanhamento profissional. Assinale a opção correta:
a) somente a assertiva I é verdadeira. b) somente a assertiva II é verdadeira. c) somente a assertiva III é verdadeira. d) todas as assertivas são verdadeiras.
2. De acordo com Coll e Monereo (2010),
o desenvolvimento das tecnologias da
comunicação pode ser estudado a partir
de três etapas. Assinale a alternativa que
indica essas etapas conforme a sua ordem de
desenvolvimento:t
I. A integração das TDIC no contexto educacional exige a compreensão de que estas estão inseridas socialmente, a ponto de a fronteira entre o online e o offline ser apenas um tracejado.
II. A integração das TDIC no contexto educacional introduz outros modos de expressão dos pensamentos através da combinação de modalidades de comunicação com a hipermídia.
III. A integração das TDIC no contexto educacional envolve a alteração do pressuposto de que as TDIC são o principal instrumento para o avanço educacional, para um novo olhar em que o enfoque seja a modificação das práticas pedagógicas a partir das TDIC.
Em relação à integração entre as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) no contexto educacional, é correto afirmar que:
a) somente a assertiva I é verdadeira. b) somente a assertiva II é verdadeira. c) somente a assertiva III é verdadeira. d) todas as assertivas são verdadeiras.
3. Almeida (2010), em seus estudos sobre a
integração entre as TDIC e a educação, reforça
o papel do currículo, apontando que este
deve ser desenvolvido a partir da realidade
vivenciada, na interação entre os sujeitos e
contextos de conhecimentos, indo além de
meramente grades horárias e sequências
didáticas.
I. A partir da construção do currículo pela comunidade escolar, as pessoas exercitam a participação na sociedade e, assim, podem questionar o uso das tecnologias.
II. A integração entre as TDIC e a educação deve ser realizada a partir das sequências didáticas e das grades horárias presentes no currículo.
III. As sequências didáticas e as grades horárias são as principais responsáveis pela integração entre as TDIC e a educação. Com base no exposto, é correto afirmar que:
Você pode acessar o livro base deste tema na Biblioteca Lirn:
Unleashing Web 2.0: From Concepts to Creativity
Gottfried Vossen and Stephan Hagemann Morgan Kaufmann Publishers © 2007
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