Registro: 2016.0000515440
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº 0011948-82.2012.8.26.0562, da Comarca de Santos, em que são apelantes NIVALDO DE ARAUJO DE ALMEIDA (JUSTIÇA GRATUITA) e JAILTON ARAUJO DE ALMEIDA, é apelado IVAN DE ARAÚJO PINTO.
ACORDAM, em 27ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores CAMPOS PETRONI (Presidente sem voto), DAISE FAJARDO NOGUEIRA JACOT E MOURÃO NETO.
São Paulo, 26 de julho de 2016
TERCIO PIRES RELATOR Assinatura Eletrônica
Voto n. 4683– 27ª Câmara de Direito Privado Apelação n. 0011948-82.2012.8.26.0562 Comarca: Santos 2ª Vara Cível
Apelantes: Jailton Araújo de Almeida e Nivaldo de Araújo Almeida Apelado: Ivan de Araújo Pinto
Juiz de Direito: Claudio Teixeira Villar
Apelação cível. Indenizatória por danos materiais e morais. Prestação de serviços. Execução de obra particular (sobrado). Vícios relevantes informados em laudo pericial. Culpa recíproca - a dos requeridos consistente na assunção de obrigação para a qual não contavam a necessária técnica; a do autor substanciada na não contratação de engenheiro para elaboração de projeto e acompanhamento. Dano moral configurado. Recurso parcialmente provido.
Vistos.
Insurreição apresentada por Jailton Araújo de Almeida e Nivaldo de Araújo Almeida em recurso de apelação extraído destes autos de ação indenizatória por danos materiais e morais, fundada em contrato verbal de prestação de serviços, que lhes move Ivan de Araújo Pinto; observam reclamar reforma a r. sentença em folhas 162/166 - que assentou a procedência da inaugural; dizem que executaram a obra no imóvel do autor de acordo com as diretrizes por ele traçadas, ajuntando que, na condição de pedreiros, não guardavam responsabilidade por falhas técnicas ocorridas na construção; sustentam que o requerente negligenciou em não contratar engenheiro para a supervisão, cabendo-lhe responsabilidade pelas apontadas falhas
na execução da obra; aduzem ausentes, enfim, os pressupostos do dever de reparação.
Recurso tempestivo e sem preparo mercê da condição de beneficiários de justiça gratuita (fl. 26), anotada a oferta de contrarrazões (fls.184/188).
É, em síntese, o necessário.
Cuida-se de demanda indenizatória por danos materiais e morais deflagrada em face de pedreiros - a quem atribui o autor responsabilidade por falhas técnicas ocorridas em obra.
A r. sentença guerreada trouxe chancelada a procedência da inaugural; “verbis”: “Ante o exposto, JULGO
PROCEDENTE o pedido inicial, com fundamento no artigo 269, inciso I do Código de Processo Civil, e o faço para condenar os réus da seguinte maneira: a) danos materiais, no importe de R$3.900,00 (três mil e novecentos reais), acrescido de correção monetária e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês, tudo contado a partir da citação; b) indenização por danos morais, no valor de R$4.000,00 (quatro mil reais), acrescidos de correção monetária, a partir desta data, e juros de mora de 1% ao mês, contados desde a citação”.
Incontroversa a celebração, pelas partes, de contrato verbal de prestação de serviços; seu objeto a construção de sobrado e execução de reboco; incontestes,
outrossim, vícios dela emergentes, constatados que foram por perito judicial e não refutados pelos requeridos.
Centra-se, assim, a testilha em conhecer-se da eventual responsabilidade dos apelantes pelas falhas técnicas, bem como da contingente existência de quadro gerador de abalo moral indenizável.
O experto judicial, sublinhe-se, constatou
múltiplos anomalias no imóvel, destacando, de largada, que “nos
respaldos da alvenaria deveria haver cintas de amarração, nivelada na altura da laje, com a finalidade não só de estruturar a alvenaria, mas de melhor distribuir os carregamentos oriundos da laje, as quais não foram executadas na mesma” (fl. 117); e
prosseguiu afirmando que “com base no que se constatou na
inspeção realizada, os escoramentos de trecho da laje do dormitório não foi realizado de maneira correta” (fls. 118); mais,
que “os pregos inseridos nos “chapus” não suportaram o
carregamento aplicado na tábua guia, em decorrência da concretagem da laje, ocasionando o rebaixo da tábua guia, com o conseqüente “arriamento” da referida laje” (fl. 119), e assim para
a final chancelar que, “diante do exposto, o perito evidencia que
todas as anomalias encontradas no imóvel do autor são vícios de construção, decorrentes de falha na execução, ou seja, são de origem endógena, tendo como responsável o construtor”.
Os vícios detectados pelo perito judicial
dos pedreiros/apelantes; no entanto, consoante extrai-se dos excertos reproduzidos, contam natureza eminentemente técnica; a edificação, a teor do noticiado pelo caderno processual, não foi precedida de projeto estrutural, tampouco acompanhada por
engenheiro especializado, fatores que decisivamente
concorreram para a ocorrência dos apontados danos.
E é cediço que a construção de imóvel exige a contratação de profisisional especializado; tanto para elaboração de projeto como para fiscalização da obra providência a cargo do autor e não levada a efeito.
Inarredável, em vértice outro, a culpa dos recorrentes; assumiram obrigação para a qual exigida apurada técnica, chamando para si, com isso, a responsabilidade por eventuais prejuízos a final ocorridos.
Tem-se, na esteira, caracterização de culpa recíproca, de modo que ambas as partes devem arcar com os valores necessários ao reparo do imóvel.
Confira-se, na toada, julgado desta c. Câmara: “Prestação de serviços. Cobrança. Construção
de sobrado, combinada verbalmente com
pedreiro (mestre de obras). Ausência de
profissional habilitado, responsável pela
fiscalização e acompanhamento da obra.
avença. Culpa recíproca. Laudo técnico atribuindo ao serviço do obreiro o preço de R$ 5.900,00. Nega-se provimento ao apelo das acionadas.” (27ª Câmara de Direito Privado,
Apelação n. 0113266- 92.2005.8.26.0000, Rel. Des. Campos Petroni, j. 19/08/2008)
A indenizatória por danos extrapatrimoniais, de outra parte, salta devida; o que caracteriza o dano moral,
deveras, é a consequência da ação - ou omissão -
desencadeadora de aflição física ou espiritual, dor ou qualquer padecimento à vítima, em conjugação com o menoscabo a direito inerente à personalidade da pessoa, como a vida, integridade física, liberdade, honra, vida privada ou ainda a de relação.
E nessa ordem de ideias, em empolgação, de se lembrar que, em situações excepcionais, a frustração decorrente
de inadimplemento contratual é indenizável; basta seja
evidenciada ofensa a direito da personalidade, com a produção de sofrimento intenso, agudo.
Na hipótese, de se ver, a impossibilidade de o autor usufruir plenamente seu imóvel, circunstanciada pelo incessante receio de desabamento da laje, resultou em dano moral indenizável; a intranquilidade vivenciada pelo requerente dentro em seu lar afetou substancialmente os seus direitos fundamentais, comprometendo o desenvolvimento de vida digna
constitucionalmente assegurada.
O valor da indenização pelo dano moral deve ser aferido sob os enfoques da compensação e inibição; razoável, sublinhadas as particularidades da presente culpa recíproca - à atenuação da lesão experimentada pelo autor, a fixação da indenizatória no importe de R$ 2.000,00, atualizado e acrescido de juros de 1% ao mês desta sessão de julgamento, volume que melhor abriga o quanto do episódio em nível de prejuízo emergiu; nenhum aviltamento, tampouco produção de enriquecimento despido de causa, reduzida, destarte, à metade, a fixada em primeiro grau R$ 4.000,00.
Dá-se, pois, nesses termos, pelo meu voto, parcial provimento ao recurso, e assim para, reconhecida a culpa
recíproca, condenar-se os apelantes ao pagamento de
indenização, em título de dano moral, no importe de R$ 2.000,00, bem como metade dos valores necessários à reparação das anomalias detectadas pelo experto judicial, os quais ganharão aferição em liquidação de sentença e limite, em nível de execução, no montante do contrato em debate.
TERCIO PIRES RELATOR