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Nº COMARCA DE VACARIA MARCON E SEIBERT LTDA ACÓRDÃO

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Academic year: 2021

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AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUE PRESCRITO, EMPRESA DE FACTORING. POSSIBILIDADE.

Considerando que o cheque prescrito enquadra-se no conceito de “prova escrita sem eficácia de título executivo” a que alude o art. 1.102-A do CPC, revela-se apto a instruir ação monitória. A empresa de factoring, como portadora do título, possui legitimidade para cobrar o crédito nele representado. Irrelevância da discussão sobre a legalidade da operação de factoring travada, notadamente pelo fato de o emitente não fazer parte do negócio.

APELO DESPROVIDO.

APELAÇÃO CÍVEL VIGÉSIMA CÂMARA CÍVEL

Nº 70012909164 COMARCA DE VACARIA

JOAO FAORO APELANTE

MARCON E SEIBERT LTDA APELADO

A C Ó R D Ã O

Vistos, relatados e discutidos os autos.

Acordam os Desembargadores integrantes da Vigésima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em desprover o apelo.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. RUBEM DUARTE (PRESIDENTE) E DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI.

Porto Alegre, 05 de outubro de 2005.

DES. JOSÉ AQUINO FLÔRES DE CAMARGO, Relator.

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DES. JOSÉ AQUINO FLÔRES DE CAMARGO (RELATOR) - JOÃO FAORO interpôs apelação em face de sentença de rejeição dos embargos e procedência da ação monitória ajuizada por MARCON E SEIBERT LTDA.

Sustentou não saber qual a origem do cheque. Destacou que a origem da cártula não se encontra esclarecida. Referiu que o cheque decorrente de operação de compra e venda mercantil a prazo não pode ser objeto de faturização. Postulou, por fim, o provimento do apelo.

Em sede de contra-razões, a apelada afirmou que o apelante, na condição de emitente do cheque, é o responsável pelo seu pagamento. Defendeu a viabilidade de instruir ação monitória com cheque prescrito. Entendeu que todo e qualquer título com possibilidade de circulação pode ser objeto de contrato de factoring. Alegou ser desnecessária a prova da origem cheque, pois cabe ao recorrente demonstrar o seu pagamento. Pugnou, por fim, pelo desprovimento do recurso.

Após, subiram os autos a esta Superior Instância. É o relatório.

V O T O S

DES. JOSÉ AQUINO FLÔRES DE CAMARGO (RELATOR) - A irresignação presente no recurso não merece acolhida.

Pelo que se depreende dos autos, a presente ação monitória encontra-se instruída com cheque emitido pelo ora apelante em 22 de janeiro de 2001, no valor de R$ 4.550,00 (quatro mil e quinhentos e cinqüenta reais), em favor de Francisco, cujo sobrenome não se encontra legível. Houve o endosso da cártula em favor de Renato Rech Baterias, a qual se utilizou do crédito consubstanciado no título para realizar operação de fomento mercantil com a autora, ora apelada. O título foi recusado pela instituição sacada

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Bansicredi sob a justificativa de número 13 (conta encerrada). Tudo consoante cheque de fl. 13.

A possibilidade de a ação monitória ser instruída com cheque já prescrito é inquestionável. Isso porque os cheques prescritos não mais se revestem dos atributos inerentes aos títulos de crédito e, sendo assim, enquadram-se no conceito de “prova escrita sem eficácia de título executivo” a que alude o art. 1.102.A do CPC.

A defesa, durante todas as suas manifestações nos autos, não nega que, de fato, o requerido sacou o cheque. A tese defensiva consiste em desnaturar o negócio jurídico realizado entre o endossatário do título e a portadora da cártula, transação esta da qual o réu sequer participou. No mínimo questionável o seu interesse em discutir a higidez de negócio jurídico do qual não fez parte.

Demais disso, essa discussão acerca da validade da faturização ocorrida revela-se inócua. É que a nulidade de uma obrigação cambiária não contamina todas as outras obrigações, pois há pluralidade de prestações autônomas. Isso decorre do fato de que, nos títulos de crédito, todos os devedores – no caso o requerido e os endossantes – encontram-se ligados por causa distinta, apenas representada em um mesmo documento – cheque. Em outras palavras: o motivo pelo qual o requerido, emitente do título, devia a Francisco não é o mesmo pelo qual este devia à Renato Rech Baterias, que, por sua vez, é diverso da razão pela qual Renato Rech Baterias obrigou-se perante à autora. Sendo, portanto, distintas as relações débito x crédito consubstanciadas no cheque, torna-se irrelevante o debate sobre eventual ilegalidade da utilização do cheque como objeto de operação de fomento.

No ponto, oportuno transcrever trecho do voto condutor do acórdão que decidiu a apelação cível nº 70005438874, de lavra da Dra. Leila Vani Pandolfo Machado, cujo conteúdo encaixa-se perfeitamente ao caso em

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“Se a empresa de faturização adquiriu direitos sobre os títulos recebidos pela empresa cedente, em decorrência de vendas realizadas, ainda que irregularmente, porque a compra e venda a prazo exigiria emissão de duplicatas e não cheques pré-datados, tal circunstância não é oponível pelo emitente do cheque. Não lhe diz respeito.

Nesse sentido:

ACAO MONITORIA. O OBJETO DA ACAO MONITORIA SAO OS CHEQUES E NAO O CONTRATO DE FACTORING. DESNECESSARIO PERQUIRIR ACERCA DO CUMPRIMENTO DOS REQUISITOS FORMAIS DO CONTRATO DE FATURIZACAO. APELO IMPROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70000404590, DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: GENACÉIA DA SILVA ALBERTON, JULGADO EM 04/10/2000).

AÇÃO MONITÓRIA. FACTORING. CHEQUE. O cheque prescrito, portanto destituído de eficácia executiva, é título hábil à instrução da ação monitória. Se os cheques estão em poder de empresa de factoring, desimporta saber a relação negocial entre estranhos a esta lide. Não demonstrada agiotagem, impõe-se ao réu o pagamento. APELO DESPROVIDO. (APELAÇÃO CÍVEL Nº 70006364079, DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO RS, RELATOR: HELENA RUPPENTHAL CUNHA, JULGADO EM 20/08/2003).

Ao emitente do cheque só cabem discussões relativas ao título. Regularidade do negócio realizado entre a empresa que o transferiu e a

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Do mesmo modo, o demandado jamais argüiu qualquer exceção pessoal que tivesse contra a demandante. O endosso, como se sabe, constitui-se em forma particular de transferência dos títulos de crédito. In casu, o endosso realizado transferiu todos os direitos e obrigações previstos no título.

Diferentemente do sustentado pelo recorrente, o ajuizamento da monitória não pressupõe discussão acerca da causa que originou o negócio. O cheque é, por definição legal, ordem de pagamento à vista e, não tendo o embargante, ora apelante, negado a emissão do título, não há falar em cerceamento de defesa.

Neste sentido é o entendimento desta Câmara:

“AÇÃO MONITÓRIA. CHEQUES. ORDEM DE PAGAMENTO À VISTA.

DESNECESSÁRIA A COMPROVAÇÃO DA CAUSA QUE DEU ORIGEM AO TÍTULO. RECONHECIMENTO DA EMISSÃO DO TÍTULO E NÃO

COMPROVADA A MÁ-FÉ DO EXEQÜENTE. SENTENÇA MANTIDA. APELO DESPROVIDO. UNÂNIME.” (Apelação Cível Nº 70010337186, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Rubem Duarte, Julgado em 08/06/2005) (negritei).

“ALEGAÇÃO DE ILEGITIMIDADE PASSIVA. EMITENTE DO CHEQUE. DESCABIMENTO. Verificando-se que a ré é a pessoa que emitiu o cheque que aparelha o procedimento injuncional, não há cogitar de sua ilegitimidade passiva devido à inexistência de negócio jurídico entabulado entre as partes, em razão do princípio da abstração e o fato de o título ter circulado. AÇÃO MONITÓRIA E

CHEQUE PRESCRITO. DESCRIÇÃO DA CAUSA DEBENDI. DESNECESSIDADE. ORIENTAÇÃO DO STJ. Revela-se sem qualquer pertinência perquirição acerca da origem da dívida, em se tratando de ação monitória em que se exige pagamento de débito incorporado a cheque prescrito, entendimento que não discrepa de uníssona orientação do STJ.

JUROS DE MORA E PERCENTUAL. TERMO INICIAL. Os juros moratórios são devidos a taxa de 6% ao ano, até a entrada em vigor do novo Código Civil, quando então passa a prevalecer o percentual de 12%, idêntica periodicidade, observado como termo inicial da sua fluência, em sendo o cheque ordem de pagamento à vista, a data da sua emissão.” (Apelação Cível Nº 70011703915, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Armínio José Abreu Lima da Rosa, Julgado em 01/06/2005) (negritei).

“Ação monitória. Nota promissória. Ausência de descrição da causa. Alegação de pagamento. Inexistência de vencimento no título. Para a

propositura de ação monitória representada por nota promissória, desnecessária a descrição da causa da dívida, que os embargos à ação

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ação monitória o ônus de provar a sua defesa, ônus do qual não se desincumbiu no caso quanto à dação em pagamento. Será pagável à vista a nota promissória que não indicar a época do vencimento.” (Apelação Cível Nº 70008291866, Vigésima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Cini Marchionatti, Julgado em 06/04/2005) (negritei).

O requerido, na condição de emitente do cheque – fato este incontroverso nos autos -, seguramente obrigou-se ao pagamento da quantia representada neste título. O recorrente não suscitou falsidade de sua assinatura ou qualquer vício formal na cambial. Eventual alegação a fim de afastar a obrigação assumida ao emitir o cheque era providência que lhe incumbia. Não se desincumbindo dela, forçosa a procedência da ação monitória.

Estou, pois, em negar provimento ao apelo, mantendo-se, na íntegra, as disposições sentenciais.

É o voto.

DES. CARLOS CINI MARCHIONATTI (REVISOR) - De acordo. DES. RUBEM DUARTE (PRESIDENTE) - De acordo.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 70012909164 DE VACARIA: “NEGARAM PROVIMENTO. UNÂNIME.”

Referências

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