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Revista Saúde Física & Mental

Artigo de Revisão

ESTABILIZAÇÃO DO CORE NA PREVENÇÃO DE LESÕES DE

CORREDORES DE RUA: UMA REVISÃO DA LITERATURA

CORE STABILIZATION IN PREVENTION STREET RUNNERS INJURY: A REVIEW OF THE LITERATURE

Rodrigo Kaskus do Valle 1, Camilo Máximo Araújo2

1

Bacharel em educação física/UERJ 2

Professor Assistente do IEFD/UERJ

Resumo: Com o crescente número de corredores de rua e consequente aumento no número de lesões, este trabalho foi elaborado buscando, a partir de uma revisão da literatura, relacionar o treinamento de estabilização da região do Core com a prevenção de lesões de joelho em corredores de rua amadores. Como forma de contextualização, este trabalho inicia-se com uma introdução a corrida e a sua biomecânica, dando sequência às lesões mais encontradas em corredores e sua relação com o Core. Posteriormente conceitua-se a região do Core, e sua estabilidade, para logo após descrever anatomicamente todos os seus componentes e sua possível relação com a articulação do joelho, mostrando, assim, sua capacidade de estabilizá-los, demonstrando que a instabilidade é uma das causas de lesões. Por fim, é proposto um programa de exercícios, com o objetivo de melhorar a estabilidade da região do Core e, consequentemente, prevenir as lesões de joelhos mais comumente encontradas em corredores de rua amadores.

Palavras-chave: Estabilização do Core; Corrida de rua; Lesões em corredores.

Abstract: With the increasing number of street runners and a consequent increase in the number of injuries, this work was elaborated seeking, from a review of the literature, to relate the stabilization training of the Core region with the prevention of knee injuries on amateur street runners. As a form of contextualization, this work begins with an introduction to the running and its biomechanics, following the most frequent injuries in the runners and their connexion with the Core. Subsequently, the

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Core region and its stability are conceptualized, and soon afterward describe anatomically all its components and its possible relation with the knee joint. Finally, an exercise program is proposed with the aim of improving the stability of the Core region and consequently preventing the knee injuries most commonly found in amateur street runners.

Keywords: Core stabilization; Street running; Runners injury.

INTRODUÇÃO

Atualmente, em consequência dos hábitos da sociedade moderna, tornamo-nos cada vez mais tecnológicos. Porém, em contrapartida, cada vez mais sedentários. Na maior parte do tempo, as pessoas se encontram na posição sentada e com uma postura inadequada. Isso tem trazido diversos problemas de saúde à população, como as doenças hipocinéticas, desvios posturais, perda de mobilidade, fraqueza coordenativa, dentre outros. A partir destes fatores, tem se tornado cada vez mais expressivo o número de pessoas que estão em busca da prática de alguma atividade física, principalmente ao ar livre. As caminhadas, corridas de rua, corridas em parques são as mais procuradas pelas pessoas. Por conta disso, tem apresentado um rápido crescimento, tanto no número de praticantes quanto no número de provas de corrida1,2.

Porém, uma das consequências da grande popularidade da prática da corrida é que muitas vezes praticantes dessa modalidade esportiva não possuem orientações técnicas a respeito de como começar a praticar de forma eficiente e segura. Devido a isso, as ocorrências de lesões musculoesqueléticas entre seus praticantes têm aumentado cada vez mais.

O treino de fortalecimento da musculatura do Core tem sido amplamente utilizado nas áreas de treinamento de força e condicionamento de atletas, além das áreas da saúde, fitness e reabilitação, com o intuito de melhoria do desempenho e redução dos riscos de lesões3,4. O termo tem sido usado para indicar estabilização lombar, treinamento de controle motor e prevenção de lesões. A estabilização do Core é, em essência, uma descrição do controle muscular requerido ao redor da coluna lombar e do quadril para manter a estabilidade funcional. A importância dessa região dentro de um programa de treinamento dá-se pelo fato de ser desse

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lugar que partem os movimentos, que ocorre a transferência de energias entre membros inferiores e superiores e por ser responsável pela estabilidade central. Suas funções são: produção e redução de força, geração de estabilidade, manutenção do alinhamento postural e aceleração e desaceleração de qualquer movimento corporal 4.

Durante muito tempo, a visão segmentar predominou nos campos de treinamento, sustentando que, se havia uma área lesionada, as estruturas ali presentes eram as responsáveis. No entanto, nosso corpo não funciona de maneira segmentar, mas sim de forma estrutural, ou seja, todos os segmentos estão interligados, um tendo influência sobre o outro, portanto uma visão do corpo como um todo, podendo, assim, a causa de uma lesão não estar relacionada apenas à área acometida.

Portanto, fraqueza ou falta de coordenação suficiente na musculatura do Core pode acarretar em uma menor eficiência do movimento, padrões de movimentos compensatórios, tensão muscular desnecessária e uso excessivo de uma musculatura, o que pode acarretar em lesões4,5 .

Os avanços nos estudos e a prática sobre a capacidade que o fortalecimento do Core tem sobre a qualidade do movimento corporal e a redução no número de lesões em praticantes de atividades físicas em geral foi um outro fator relevante para a escolha desse tema.

Além disso, a importância dessa revisão dá-se pelo fato de que poucos estudos foram encontrados que relacionassem a estabilização do Core com a prevenção de lesões em corredores de rua, e também para demonstrar a capacidade e a importância que o Core possui dentro de um programa de treinamento, desde que os exercícios para a estabilização dessa região do corpo sejam prescritos de maneira eficiente.

A atual pesquisa tem importância fundamental para verificar se há relação entre o fortalecimento da musculatura do Core e a prevenção de lesões em corredores de rua amadores, sendo assim um indicador de que a instabilidade das musculaturas do Core possa ser um dos princípios de incidência de lesões.

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MÉTODOS

Inicialmente foi realizada uma busca de artigos específica para os seguintes temas: estabilização do Core, corrida de rua e lesões em corredores de rua. As fontes de pesquisa utilizadas foram o Google Acadêmico, Scielo e Pubmed, com utilização do Portal Capes e do Research Gate para auxiliar na aquisição de materiais não disponíveis gratuitamente. Neste contexto, 69 artigos foram analisados; assim como um acervo pessoal de livros e conteúdos adquiridos em curso de extensão. Posteriormente, 27 referências foram utilizadas de acordo com a necessidade de complementar a revisão. Desta forma, foi possível integrar os conhecimentos por meio de uma busca não sistemática para uma revisão do tipo narrativa.

REVISÃO DE LITERATURA

1. Corrida

As Corridas de Rua surgiram na Inglaterra no século XVIII, onde se popularizou e expandiu-se para o restante da Europa e Estados Unidos. No final do século XIX, após a primeira Maratona Olímpica, as Corridas de Rua ganharam impulso e popularizaram-se, particularmente nos Estados Unidos6. No momento, devido à busca de hábitos de vida mais saudáveis e por ser uma atividade física de baixo custo e fácil execução, é um dos esportes mais populares no mundo, e no Brasil o número de praticantes equivale a aproximadamente 5% da população brasileira1,2.

Por volta de 1970, com a teoria do médico norte-americano Kenneth Cooper, criador do ''Teste de Cooper' e que pregava a prática da corrida, a modalidade cresceu de forma extraordinária. Na mesma década surgiram provas onde foi permitida a participação popular junto aos corredores de elite, porém com largadas separadas para os respectivos pelotões7. A Federação Internacional das Associações de Atletismos (IAAF) define as corridas de rua como provas de pedestrianismo disputadas em circuitos de rua com distâncias oficiais variando de 5km a 100km.

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A corrida de rua pode ser classificada como uma modalidade cíclica, tendo em vista que há uma constante repetição da estrutura biomecânica do movimento. A análise biomecânica da modalidade esportiva consiste na identificação dos movimentos articulares, dos grupos musculares utilizados na mecânica da corrida, a forma com que estes atuam durante o movimento e a força de reação do solo. Esta análise é importante para que o treinamento seja o mais específico e direcionado às ações motoras provenientes da modalidade8.

Na corrida, como o próprio nome já diz, a habilidade correr é determinante para a prática da modalidade, sendo essa habilidade dividida em fase de apoio e fase de vôo. A diferenciação do correr e do andar está na fase de vôo, presente apenas na corrida.

A fase de apoio começa com um dos pés tocando o solo e termina quando o mesmo perde o contato com o solo. Esta fase pode ser dividida em fase de desaceleração, que consiste no momento em que o pé toca o solo desacelerando o impacto e termina quando o centro de gravidade o ultrapassa. Nesta fase observa-se um aumento na flexão de quadril, flexão de joelho e dorsiflexão de tornozelo, os músculos glúteo médio e o tensor da fáscia lata estão mais ativados nessa fase, cuja ação impede que o quadril se incline para o lado oposto ao apoio; e fase de impulsão, momento em que antecede a perda de contato do pé com o solo e é gerada a impulsão no movimento, nesta fase ocorre progressiva extensão de quadril e joelho, e o tornozelo realiza uma flexão plantar9.

A fase de vôo consiste no momento em que não há contato de nenhum dos pés com o solo. Nesta fase ocorre o balanço da perna que gerou o impulso se preparando para realizar um novo contato com o solo.

A corrida caracteriza-se por ser um movimento unipodal, portanto o apoio do corpo concentra-se alternadamente em uma das pernas em todo o momento da corrida. Considerando as forças externas e internas que atuam sobre o corpo na corrida, o contato do pé com o solo produz uma elevação das forças verticais de reação do solo (FVRS), nas quais mostrou ser o fator mais importante para o surgimento das lesões de sobrecarga10.

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Os momentos externos, criados pelo

solo, são resistidos pelas estruturas musculares, ligamentares e articulares. A orientação desse vetor determina a sua direção e sua magnitude em relação ao centro da articulação. A localização do Centro de Gravidade

centro de pressão pode influenciar na orientação e na resultante desse vetor. O CG por ser altamente influenciado pela distribuição de massa na zona neutra

movimento ou deslocamento indesejado nessa

desse vetor e gerar um aumento do momento e da magnitude dessas FVRS em uma estrutura não tão resistente a elas

Durante atividades de suporte de peso, como caminhada e corrida, o vetor de FVRS, tendo em vista a partir do plano frontal, passa medialm

articulação do joelho gerando um momento varo na mesma, porém dentro das condições normais. A manutenção dessa articulação nessa postura ideal deve pela sustentação, principalmente das estruturas laterais de tecido mole, no caso o trato iliotibial e o ligamento colateral lateral (LCL), isso faz com que haja um aumento na força de compressão no compartimento medial da articulação

Figura 1: Forças Verticais de Reação do Solo

Fonte: POWERS, 2010.

No entanto, movimentos no tronco gerados a partir de instabilidade, mostrados nas imagens B e C da

posição do joelho e, consequentemente Powers11 (2010), de duas formas:

Os momentos externos, criados pelo vetor de forças verticais de reação do solo, são resistidos pelas estruturas musculares, ligamentares e articulares. A orientação desse vetor determina a sua direção e sua magnitude em relação ao centro da articulação. A localização do Centro de Gravidade (CG) em relação ao centro de pressão pode influenciar na orientação e na resultante desse vetor. O CG por ser altamente influenciado pela distribuição de massa na zona neutra

movimento ou deslocamento indesejado nessa região pode afetar a orienta desse vetor e gerar um aumento do momento e da magnitude dessas FVRS em uma estrutura não tão resistente a elas11.

Durante atividades de suporte de peso, como caminhada e corrida, o vetor de FVRS, tendo em vista a partir do plano frontal, passa medialmente ao centro da articulação do joelho gerando um momento varo na mesma, porém dentro das condições normais. A manutenção dessa articulação nessa postura ideal deve pela sustentação, principalmente das estruturas laterais de tecido mole, no caso o

o iliotibial e o ligamento colateral lateral (LCL), isso faz com que haja um aumento na força de compressão no compartimento medial da articulação11.

Figura 1: Forças Verticais de Reação do Solo

POWERS, 2010.11

movimentos no tronco gerados a partir de instabilidade, mostrados nas imagens B e C da Figura 1, podem influenciar diretamente na consequentemente, na direção do vetor, de acordo com (2010), de duas formas:

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vetor de forças verticais de reação do solo, são resistidos pelas estruturas musculares, ligamentares e articulares. A orientação desse vetor determina a sua direção e sua magnitude em relação ao (CG) em relação ao centro de pressão pode influenciar na orientação e na resultante desse vetor. O CG por ser altamente influenciado pela distribuição de massa na zona neutra. Qualquer afetar a orientação desse vetor e gerar um aumento do momento e da magnitude dessas FVRS em uma

Durante atividades de suporte de peso, como caminhada e corrida, o vetor de ente ao centro da articulação do joelho gerando um momento varo na mesma, porém dentro das condições normais. A manutenção dessa articulação nessa postura ideal deve-se pela sustentação, principalmente das estruturas laterais de tecido mole, no caso o o iliotibial e o ligamento colateral lateral (LCL), isso faz com que haja um aumento

movimentos no tronco gerados a partir de instabilidade, 1, podem influenciar diretamente na na direção do vetor, de acordo com

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– Com a pelve contralateral cedendo e caindo, ocasionando em uma posição varo do joelho em excesso, de acordo com a imagem B, fazendo com que o CG se desloque para longe do ponto de apoio, aumentando a distância do vetor em relação ao centro da articulação do joelho, a tensão no LCL e no trato iliotibial e a compressão do compartimento medial.

– A outra forma seria para compensar esse movimento anterior, gerando uma posição valgo do joelho, deslocando excessivamente o CG sobre o membro de apoio, direcionando o vetor resultante lateralmente a articulação do joelho, como pode ser visto na imagem C. Por ser um movimento compensatório, ele causa um estresse muito grande em todas as estruturas da articulação do joelho.

Com relação ao plano sagital o vetor resultante das FVRS encontra-se anterior ao quadril e posterior ao joelho, acarretando em uma flexão em ambas as articulações no momento do apoio. Assim como no plano frontal, a posição do tronco interfere diretamente na direção do vetor e nas sobrecargas que isto pode ocasionar. Um tronco mais fletido mostrou gerar uma ativação maior dos extensores do quadril (glúteo máximo e isquiotibiais) em fase excêntrica se comparado aos extensores de joelho (quadríceps), pois com o CG deslocado à frente o vetor resultante distancia-se do quadril. No entanto, um tronco mais ereto gera uma ativação maior dos extensores de joelho, pois o vetor resultante distancia-se do joelho, assim como o CG. Esse movimento compensatório do tronco mostrou ter implicações em algumas lesões de joelho, como tendinopatia patelar, compressão da articulação femoropatelar e aumento de tensão no ligamento cruzado anterior (LCA), devido a uma tensão maior no quadríceps11.

Isso faz com que os atletas corredores de rua estejam mais predispostos aos efeitos prejudiciais das alterações morfofisiológicas que acometem a cartilagem articular, ossos, músculos, tendões e ligamentos, uma vez que o peso corporal é aumentado aproximadamente 2,5 vezes durante a corrida e aplicada em apenas um dos membros. O joelho é uma das articulações que recebem maiores valores de sobrecarga durante uma corrida, são exercidas grandes forças de impactos com valores que podem chegar a 3 vezes o peso corporal do indivíduo1. Esses valores combinados com o movimento repetitivo, que é encontrado na corrida, são uma das maiores causas de lesões em corredores.

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2. O que é o Core

A estabilidade do Core têm sido objeto de pesquisa desde o início dos anos 80. O que é referido como o núcleo varia entre os estudos, incluindo membros superiores e inferiores do corpo (ombros e coxas) além do tronco e dos quadris, ou somente a região do tronco.

A nomenclatura Core está associada a centro, núcleo, de onde parte algo. Foi dada uma atenção especial a região do Core, pois esta pode ser vista como um cinto muscular, que funciona como uma unidade capaz de estabilizar o corpo e a coluna vertebral, tanto com quanto sem movimento dos membros. Ou seja, essa região serve como o centro da cadeia cinética funcional e tem sido referida como o motor, a fundação de todos os movimentos dos membros12.

O núcleo do corpo consiste na coluna, nas estruturas abdominais, nos quadris, na pelve e nos membros inferiores proximais. O Core tem sido descrito como uma caixa, onde os músculos abdominais representam a parte da frente, os paravertebrais e os glúteos à parte de trás, o diafragma como o teto da caixa, o assoalho pélvico como o fundo e os oblíquos e o latíssimo do dorso como a lateral da caixa.

A ativação coordenada e sequenciada dessas estruturas do corpo coloca os segmentos distais na posição e na velocidade ideais, com o tempo ideal, para produzir a tarefa atlética desejada. Por isso é fundamental que o núcleo apresente força e estabilidade local, pois o controle dessas duas capacidades (força e estabilidade) maximizará as funções das cadeias cinéticas da extremidade superior e inferior do corpo.

2.1. Estabilidade do Core

O Conceito de estabilidade é a capacidade de limitar o deslocamento e manter a integridade estrutural. O Core refere-se ao centro da cadeia cinética funcional, como foi dito anteriormente, portanto a estabilização do Core ocorre a partir da eficiência do complexo lombopélvico e quadril de retornar ao equilíbrio após uma perturbação sem haver um movimento excessivo da coluna3.

A estabilização central tem como objetivo proporcionar ao indivíduo força, potência, controle neuromuscular eficiente e de forma antecipatória nos músculos da zona neutra. A zona neutra é uma região de movimentos intervertebrais onde pouca

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resistência é oferecida pela coluna vertebral passiva. É o local em que se situa o centro de gravidade, e onde têm início todos os movimentos corporais. Nela ocorre controle dinâmico do tronco e da pelve permitindo produção, transferência e controle de forças; aceleração, desaceleração, estabilização dinâmica e movimento dos segmentos distais da cadeia cinética, sem que ocorram movimentos compensatórios na coluna vertebral ou pelve13.

Os escapes de energia são definidos como pontos em que durante a transferência de força vinda do solo, a energia é perdida. Essa perda de energia pode ser causada por uma incapacidade do corpo de estabilizar uma articulação14.

2.2. Integração dos sistemas

A estabilidade não depende apenas da força muscular, mas também de uma interação de fatores estruturais articulares e de uma reação sensorial adequada que alerta o sistema nervoso central sobre a interação entre o corpo e o ambiente, proporcionando feedback constante e permitindo refinamento do movimento15. O sistema nervoso central (SNC) tem a função de determinar o que é necessário ao corpo para manter a estabilidade, além de esquematizar e implementar as estratégias que serão capazes de mantê-la. Um dos conceitos capazes de demonstrar como ocorre essa integração dos sistemas para a manutenção da estabilidade é a partir da tensegridade.

Tensegridade foi nomeado a partir da expressão integridade da tensão. Refere-se às estruturas que mantém a sua integridade devida principalmente a um equilíbrio de forças de tensão entrelaçadas. É um princípio de relação estrutural em que a forma estrutural é garantida pelos comportamentos tensionais conjuntos16.

No nosso corpo, a tensegridade ocorre a partir das interações entre diversas estruturas, sendo algumas delas os músculos, os tendões, os ligamentos, a fáscia e os ossos, onde uns geram compressão (ossos) e outros (músculos, fáscia, ligamentos e tendões) são responsáveis por gerar tensão no sistema. O corpo humano é organizado em um sistema mecanicamente estabilizado, caracterizado pelo perfeito equilíbrio das forças de tensão e compressão.

De acordo com Myers16, em um modelo de tensegridade corporal as forças de tensão são distribuídas, ao invés de serem localizadas, gerando um baixo gasto

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energético para a manutenção estrutural, portanto se um ponto da estrutura corporal sofre uma sobrecarga, todo o entorno irá reagir, gerando uma maior tensão ou maior flexibilidade, para evitar que essa estrutura se quebre ou entre em colapso.

Portanto a estabilidade central depende da integridade óssea, da integridade articular e ligamentar; da integridade miofascial, do controle neural e da forma como ocorre a transferência da carga dos membros inferiores para o tronco. Ela consiste na interação de três subsistemas: passivo (articulações, ligamentos e vértebras), ativo (músculos, tendões e fáscias) e controle neural (nervos e SNC). As funções desses três subsistemas estão interligadas, e a reduzida função de um subsistema pode colocar exigências crescentes sobre os outros17.

O fortalecimento da musculatura do Core serve de princípio para a manutenção da saúde da região central, do tronco do corpo. Nem sempre as lesões dos membros inferiores podem ser associadas com a deficiência da musculatura responsável pela estabilidade central. Porém, talvez a grande influência do fortalecimento do Core fora do centro do corpo (complexo lombopélvico) esteja no joelho, relacionado com a prevenção de lesões como a síndrome da dor femoropatelar, lesões dos ligamentos cruzados do joelho, tendinopatia do tendão patelar e síndrome do trato iliotibial3.

A ativação da musculatura do Core tem mostrado ocorrer antes da atividade dos membros superiores e inferiores, independentemente da direção do movimento dos membros. Especificamente, o músculo abdominal mais profundo, o transverso abdominal, foi invariavelmente o primeiro músculo a ser ativado automaticamente em preparação para o movimento, seguido pelo multífidos. Eles têm mostrado contrair 30 ms antes do movimento do ombro e 110 ms antes do movimento da perna em pessoas saudáveis. Com base nesses resultados, os autores concluíram que o sistema nervoso central cria uma base estável para o movimento dos membros inferiores e superiores por meio da co-contração desses músculos15.

Os músculos do quadril também possuem grande importância juntamente com os músculos do tronco no desempenho muscular e no alinhamento das extremidades inferiores durante atividades em cadeia cinética fechada, que é o caso da corrida. Movimentos excessivos do tronco no plano frontal e sagital podem refletir em ajustes compensatórios devido a fraqueza dos músculos do quadril, implicando em uma incapacidade de manutenção do alinhamento da pelve. Em teoria, melhorar

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o desempenho dos abdutores do quadril resultaria em um alinhamento mais ideal da pelve durante as atividades unipodais como a corrida, que, por sua vez, protegeria a articulação do joelho nos momentos de valgismo criados por ajustes compensatórios do tronco.

Leetun et al.18 realizaram um estudo onde foi analisado parâmetros da estabilidade do Core. O resultado do estudo mostrou que a incidência de lesões no joelho está relacionada com a fraqueza das musculaturas rotadoras externas e abdutoras de quadril. Ekstrom19 corrobora com os achados de Leetun et al.18 (2004). Em seu estudo, mulheres que apresentaram dor femoropatelar demonstraram um pico de ativação dos músculos rotadores externos, extensores e abdutores de quadril diminuído, quando comparado ao grupo saudável. Isso reforça ainda mais que a incapacidade de resistir aos movimentos de rotação interna e adução de quadril, gera alto nível de pressão na região da articulação do joelho.

Isso demonstra como a musculatura do Core possui a capacidade de modificar o posicionamento do joelho. Podemos observar então que o tronco, o quadril e o joelho funcionam em um elo conjunto, um tendo total influência sobre os outros. Seguindo essa linha de raciocínio, Boyle14 diz, na teoria da articulação por articulação, que as articulações do corpo possuem necessidades diferentes e funções diferentes dentro de um treinamento. Para ele, as funções e necessidades das articulações se distinguem entre questões de mobilidade e estabilidade. O aspecto mais importante dessa teoria é de que as articulações se alternam entre mobilidade e estabilidade.

As lesões se relacionam intimamente com a função adequada da articulação. Na maioria dos casos, os problemas em uma determinada articulação se revelam na forma de dor na articulação acima ou abaixo. Isso segue a ideia da tensegridade, portanto, se a articulação que era para ser móvel se torna imóvel, a articulação estável é forçada a se movimentar em compensação, se tornando menos estável e consequentemente dolorosa.

O quadril é a única articulação que foge à regra, devendo ser móvel e estável, pois um quadril imóvel e instável pode acarretar em movimentos de compensação tanto nos joelhos quanto na coluna lombar. A falta de força em uma das estruturas, gera perda de mobilidade em outra e vice-versa, seguindo assim em um ciclo vicioso.

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Portanto qualquer alteração no padrão de movimento da corrida pode levar a incidência de lesão, tendo em vista que na corrida as forças de impacto geradas na fase de apoio são muito altas, podendo chegar a 3 vezes o peso corporal na articulação do joelho. Por isso, esta região foi apresentada como a estrutura anatômica mais acometida pelas lesões relatadas por corredores, de acordo com os estudos referenciados em 2,20-25 .

Como observado acima, a tendência do quadril é movimentar-se em adução e rotação interna, à medida que o quadril se flexiona durante a sustentação de peso, em indivíduos que apresentaram um Core enfraquecido. Este movimento é comumente observado durante a fase de apoio do corpo em atividades de alta demanda, como a corrida, sendo uma das causas das principais lesões citadas neste estudo. No entanto, um estudo demonstrou que mulheres, atletas de futebol, vôlei e basquete, que participaram de um treinamento de estabilização central, apresentaram uma diminuição de 72% de lesões sérias nos ligamentos do joelho, comparadas com atletas que não participaram do treinamento26

Quando relacionamos o fortalecimento do Core em corredores, um estudo feito por Fredericson et al.27 com corredores que apresentaram síndrome do trato iliotibial, os mesmos demonstraram fraqueza nas musculaturas responsáveis pela abdução e rotação externa de quadril se comparados ao membro contralateral saudável e a um grupo controle. Após um programa de 6 semanas de fortalecimento dessas musculaturas, foi verificada melhora significativa da dor. Isso indica que uma possível intervenção com um programa de estabilização do Core possa reduzir e prevenir corredores de lesões, principalmente as ocasionadas no joelho.

Em suma, exercícios direcionados à região do tronco, do quadril e do joelho, ou seja, para estabilização central, devem ser pesquisados e incluídos em um programa de treinamento. O objetivo: melhorar o controle dinâmico postural, controle muscular apropriado da região do Core, promover estabilidade proximal para movimentos distais eficientes, além de promover o reaprendizado neuromuscular dos músculos inibidos e conscientização do padrão motor.

Os exercícios podem ser divididos em estágios. Portanto, no início, serão exercícios para o aprendizado da contração, ativação neuromuscular da musculatura estabilizadora e da sua manutenção, havendo um isolamento da contração até a

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incorporação da ativação neuromuscular dessas musculaturas durante as atividades específicas da corrida.

Revisando a progressão ela deve ser do simples para o complexo, do isométrico para o dinâmico e do geral para o específico. Por conta disso inicia-se com exercícios de isometria com o objetivo de progredir para exercícios dinâmicos. Os exercícios presentes nesta proposta seguirão como referência os trilhos anatômicos de Myers16, o conceito de articulação por articulação, Boyle14, e treinamento de estabilização do Core para corredores de média e longa distância, Fredericson27.

O treinamento de estabilidade da região do Core pode ser dividido em estabilidade da parede anterior (antihiperextensão), parede posterior, de antiflexão lateral e de antirrotação. Pode-se iniciar o programa realizando duas séries de 15 a 20 segundos de manutenção da postura, progredindo para três series e futuramente aumento do tempo de permanência na postura para 30 segundos.

CONCLUSÃO

Através do estudo realizado, concluiu-se que o complexo do Core eficiente permite uma manutenção de relações ótimas de comprimento-tensão de músculos agonistas e antagonistas, e das forças produzidas nessa região. Além de contribuir com uma maior eficiência neuromuscular em toda a cadeia cinética. Isso permite ao sistema musculoesquelético acelerar, desacelerar e estabilizar toda a cadeia muscular de forma integrada e dinâmica durante os movimentos.

O fortalecimento dos músculos do Core pode atuar como uma forma de prevenir e reabilitar vários tipos de distúrbios musculoesqueléticos principalmente os encontrados na articulação do joelho, que se apresentou como a área mais acometida em corredores de rua. Mas também como uma forma de melhorar o desempenho atlético, pois um atleta com menor incidência e números de lesões consegue manter-se ativo e consequentemente em condições de treinamento por um período de tempo maior.

Existem evidências científicas bastante convincentes que demonstram que a estabilização do Core possui relação com a prevenção de lesões, principalmente de

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fortalecimento da musculatura do Core com a corrida, principalmente com relação à prevenção de lesões em corredores. A maior parte dos estudos encontrados relacionou o fortalecimento do Core com a diminuição das mesmas lesões encontradas em corredores, porém em indivíduos praticantes de outras modalidades.

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Recebido em 28/06/18. Revisado em18/07/18. Aceito em 25/07/18. Endereço para correspondência: Rua São Francisco Xavier, 524, IEFD/UERJ, Rio de Janeiro/RJ.

Referências

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