Aspectos relevantes relacionados
aos cuidados de doença pulmonar avançada
(DPA)
XVI Curso Nacional de Atualização em Pneumologia 16 a 18 de abril de 2015
Centro de Convenções Rebouças São Paulo/SP
Maria Christina Lombardi Machado
Ambulatório de Doença Pulmonar Avançada/Oxigenoterapia Disciplina de Pneumologia da UNIFESP/EPM/HSP
Conceito = toda pneumopatia crônica não neoplásica que determina limitação para realização das AVDS
No Brasil estima-se ~ 1,5 milhões de pacientes com DPA e que 4 em cada 100.000 hab. = hipoxemia crônica
Murray CJL and Lopez AD, eds. 1996, Boston, MA: Harvard University Press Holman H, 2000 BMJ; 320:526-527 / Davis R, 2000 BMJ 320: 525-526
www.sbpt.org.br – material evento Diretrizes sobre DPA
Doença pulmonar avançada (DPA)
1 - dependência de cuidadores para realizar AVDS 2 - dispnéia incapacitante
3- função pulmonar e trocas gasosas reduzidas 4 - depressão e isolamento social
5 - inúmeras internações 6 - idade avançada
7 - comorbidades associadas
Fatores de risco para
> morbi-mortalidade
Garrot 2006, Eur Resp J; 27:788
Características comuns dos
pacientes com DPA
- A maioria = idososcom dificuldades próprias da idade
e inúmeras internações
- Raramente saem de casa, procuram médico somente na
urgência e dependem de familiares/ cuidadores
- Apesar da DPA = 5 - 10% casos de doenças pulmonares
crônicas consomem > 70% dos gastos direcionados às pneumopatias
In: Non - Neoplastic Advanced Lung Diseases Janet R Maurer, editora Marcel Dekker, 2003
DPOC = 70%
Doença pulmonar avançada
não-DPOC = 30%
- Doenças pulmonares intersticiais - Bronquiectasias
- Doenças da circulação pulmonar - outras
Non - Neoplastic Advanced Lung Diseases. Janet R Maurer, editora Marcel Dekker, 2003 SBPT- resumo evento Diretrizes sobre DPA –www.sbpt.org.br
Na fase terminal = tratamento de base é similar em todas
DPOC=70% Não-DPOC
Marcadores de > mortalidade
nas doenças pulmonares intersticiais
- idade > 70 anos - uso crônico c.oral -CVF < 60% predito - inúmeras internações
-DLCO < 45% predito - 2 ou + co-morbidades
- hipoxemia crônica - sedentários/depressão
Marcadores de > mortalidade nas
doenças da circulação pulmonar
-PAP (m) > 85 mmHg - inúmeras internações
-IC < 2L/min./m2 - 2 ou + comorbidades
-SvO2< 63% - sedentários/depressão - hipoxemia crônica -PAD (m) > 20 mmHg
Mclaughlin 2006, Circulation; 114: 1417.
Preditores de > mortalidade na DPOC
- idade > 70 anos - IMC ≤ 24,9 Kg/m2
- tabagismo - inúmeras internações - VEF1< 1,0 L ( < 30 % pred. ) - 2 ou + comorbidades
- hipoxemia (PaO2≤55 mmHg) - sedentar./depressão
- sexo feminino - uso crônico cort.oral
Consensos GOLD e SBPT; Mannino Surveill Summ, 2002; Ambrosino Resp Med , 2007 Machado AJRCM, 2006
IMC
Chailleux 2003, Chest ; 123: 1460-1466 Morre + os mais magros
Hipoxemia crônica
Marcadores de pior sobrevida na DPOC
NOTT- Ann Intern Med 1980; 93: 391, MRC - Lancet 1981; 1: 68
Etiologias da DPA no estudo de coorte
n = 930 pacientes
Ambulatório de DPA/ODP da Unifesp – 1997 a 2015 1= 75% 2=18% 3=7% 4,2%=4 5,6%=5 1- DPOC (~2/3 casos) 2- Fibroses pulm. 3- Bronquiectasias 4- D. circulação pulm. 5- Outras
A DPOC é a DPA
mais prevalente
Sexo feminino 539 (58,0 ) Idade, anos 65,8 (+ 10,5) DPOC 697 (75,0)VEF1,% predito / DPOC 31,4 (+ 7,5)
CVF, % predito / Não-DPOC 55,0 (+ 4,9) Índice massa corpórea, Kg/m2 24,3 (+ 5,9)
PaCO2, mmHg 45,2 (+ 6,9)
PaO2, mmHg 50,2 (+ 5,5)
Tabagismo pregresso 781 (84,0)
Cor pulmonale clínico + 782 (85,0)
Índice de co-morbidades 2,42 (+ 1,2) Sobrevida, meses 64,3 (+ 23,1)
Caracter
í
sticas basais dos 930 pacientes com DPA
Valores expressos como n (%) ou média ( ±±±±DP)
Amb DPA/ODP da Unifesp – estudo de coorte : 1997-2015
Maior sobrevida em pacientes com DPOC avançada
do que em pacientes com outras DPAS
Log rank test: * p<0,004
DPOC não-DPOC
Cox multivariada : RR = 0,21 , 95% IC= 0,05-0,90 , * p<0,03
Pior sobrevida em 426 portadores de DPA
hipoxêmica com > 2 comorbidades
Log Rank test: *p < 0,001
≤2 comorbidades
>2 comorbidades
Queiroga –Jr, Machado et al, AJRCCM 179; 2009: A 1079 Característica RR 95% IC valor p > 2 comorbidades 0,16 0,039 - 0,72 p< 0,001
FE < 0,45 é preditor de pior sobrevida em
portadores de DPOC hipoxêmica
Log rank test: p=0,01
FE >0,45 FE ≤ 0,45
FE≤ 0,45 em 140 pacientes (25,5%)
Coorte de 550 pacientes com DPOC hipoxêmica Ambulatório de DPA/ODP da Unifesp, 1997- 2010
Machado et al. AJRCCM, 2008. v. 177. p. A-780. Log-rank test, p<0,01
Pior sobrevida em portadores de DPOC avançada
com SAOS grave sem o uso de CPAP
n= 94 pacientes com DPOC hipoxêmica + SAOS grave = 15% da coorte total = 550 pacientes com DPOC hipoxêmica
Machado et al. 2010, Eur Respir J ; 35: 132-137 Característica RR IC 95% Valor p Uso de CPAP 0,19 0,08 – 0,48 < 0,001*
*p< 0,001
com CPAP
Pior sobrevida em mulheres com DPOC avançada
n= 435 pacientes com DPOC hipoxêmica
Machado et al 2006, AJRCCM ; 174: 524 - 529 Survival Functions SURVIVAL 100 80 60 40 20 0 C u m S u rv iv a l 1,2 1,0 ,8 ,6 ,4 ,2 0,0 GENDER 2,00 2,00-censored 1,00 1,00-censored Características RR IC 95% Valor p Sexo fem. 1,54 1,14 - 2,07 0,004* PaO2 0,54 0,45 - 0,72 < 0,001* IMC<18,5 2,22 1,15 – 4,28 0,01* mulheres homens
Mulheres fumam menos, são + jovens, tem mesmo grau de disfunção pulmonar
que homens, mas morrem 54% +
DPOC - Pacientes no Brasil
195.000.000 hab.~30 % fumantes com > 40 anos =
~ 40 milhões de indivíduos
Prevalência da DPOC : 15,8% = 7 milhões de brasileiros 1/3 = leve - 1/3 = moderada - 1/3 = grave DPOC extremamente grave = 3 a 15% do total =
~ 200 mil a 1 milhão de indivíduos DPOC = 5ª causa de
morte no Brasil
DPOC na cidade de São Paulo
Internações e mortalidade
11 milhões de habitantes 30% fumantes > 40
anos = 1.500.000
15,8% = 150.000 pacientes com DPOC (40 a 50 mil com DPOC grave)
Internações/ano por DPOC : 12.000 = 20% total das internações
por doenças respiratórias
Causas óbito na cidade SP 1ª : D. C-V = 35% total 2ª : Câncer = 20% total 3ª : Doenças respiratórias = 15%
64.518 dias/ internação por DPOC duração em média = 9 dias
Coordenação de Epidemiologia e Informação -Ceinfo/SMS-SP,
Internações e mortalidade na DPOC
> 70% gastos com DPOC
é com internações
Morre + DPOC grave
em qualquer faixa etária
Devereux 2006, BMJ ; 332: 1142-1144
GOLD 2011: estadiamento
da DPOC
(C)
(B)
VEF1≤30% prev. Hipoxemia + Hipercapnia crônicas MRC 4 >2 exacerb/ano(D)
(A)
E x a c er b a ç õ es / a n o ≥21
GOLD 1 GOLD 2 GOLD 3 GOLD 4 MRC > 2 CAT > 10 MRC 0−−−−1 CAT <10 R is c o zero SintomasManejo da Dispnéia
A dispnéia é um sintoma incapacitante que geralmente indica o início da fase final da doença
Os tratamentos mais eficazes para a dispnéia são: 1 - otimização do uso do O2
2 - otimização da terapêutica com BD 3 – CRVP
4- VNI
melhoram a mecânica da caixa torácica 5 - reabilitação pulmonar
6- uso de opiáceos e ansiolíticos reduzem a demanda ventilatória
Transporte de O2e programa educacional
Estudos clássicos mostram que a ODP aumenta a sobrevida
de portadores de DPOC com PaO2< 60 mmHg
NOTT 1980, Ann Intern Med 93: 391 - MRC 1981, Lancet ; 1: 68 Agusti et al, Eur Resp J, 2000;16,1035-1036
O uso de oxigenoterapia domiciliar
aumenta a sobrevida
Otimização do uso de O
2O
2suplementar diminui a carga metabólica - a hipóxia
aumenta o VM e causa dispnéia
O
2aos esforços na DPOC hipoxêmica = diminui a
dispnéia e melhora a tolerância aos exercícios pelos
seguintes mecanismos :
1-reduz estímulo hipoxêmico nos corpos carotídeos 2- vasodilata as artérias pulmonares
3- aumenta o conteúdo arterial de oxigênio
maior liberação de O2 para mm. esqueléticos e diminuição da acidemia láctica diminui a dispnéia
Ambrosino 2007, Resp Med ;101: 1613
Uso de
O2 aos esforços
O
2= reduz a hiperinsuflação pulmonar dinâmica
durante exercícios por diminuir a impedância
ventilatória
Uso de O
2na DPOC não-hipoxêmica em RP =
aumenta a intensidade e duração dos exercícios
Fontes de oxigênio
Cilindro de gás Concentrador de O2 O2liquido O2gasoso Estacionárias PortáteisAs fontes portáteis se associam a melhor qualidade de vida e a maior adesão ao tratamento quando comparadas as fontes estacionárias
www.sbpt.org.br– Machado; Revisão Oxigenoterapia/SBPT , 2008
Titulação dos fluxos ideais de O
2SpO2ideal = 92 %
De noite: 1 L a mais que o fluxo de O2em repouso de dia
Uso do O2no mínimo por 15 h/dia
em repouso
aos esforços
www.sbpt.org.br– Machado; Revisão Oxigenoterapia/SBPT , 2008
Currie & Lipworth 2006, BMJ; 332: 1439-1441
Otimização da terapêutica com BD
BDLA diminuem o volume de ar aprisionado
no repouso e exercício
DPA/DPOC: manejo farmacológico
Otimização do tratamento
Associação de BDLA inalatórios melhora o VEF
1Currie & Lipworth 2006 BMJ; 332: 1439-1441
Aaron SD et al. 2007 Ann Intern Med;146:545-556
Effects of 12-Months tiotropium treatment on spirometric variables and arterial blood gases in hypoxemic patients with chronic obstructive pulmonary disease
Machado et al, AJRCCM 181;2010: A 4491
Melhora da função pulmonar e trocas gasosas
após Tiotrópio + LABA/CI na DPOC hipoxêmica
*p<0,001
*p<0,01 **p<0,001
*TREAT 1 & 2 vs. BASAL **TREAT 2 vs. BASAL
n = 67 pacientes
Importância do Programa Educacional
e da Reabilitação Pulmonar
Equipe Multiprofissional
Paciente = parceiro da Equipe
www.sbpt.org.br– Machado; Revisão Oxigenoterapia/SBPT , 2008 GOLD, SBPT, Freedman & Price 2006, BMJ ; 333: 188
Wedzicha et al 1998, Eur Respir J; 12: 363
RPD = Programa Educacional Automanejo sob orientação médica RP diminui a demanda ventilatória
Manejo da dor
Analgesia com esteróide não-hormonal, calor local, vitamina B12, relaxantes mm, técnicas relaxamento, outros
Rocker 2007, J Palliative Med : 3: 783
Committee on Quality of Health Care in America, Institute of Medicine. (2001). Crossing the Quality Chasm: A New Health System for the 21st Century.
Washington, DC: National Academy Press.
Prevalência da dor: Câncer = 96%
SIDA = 80%
DPOC = 77%
Uso de opiáceos para dispnéia
Diminuem a demanda ventilatória Doses terapêuticas atuam +:
- no controle respiratório/SNC - diminuem a ansiedade x dispnéia - produzem vasodilatação periférica - reduzem a resistência vascular periférica - inibem a resposta dos baroreceptores efeitos que minimizam a sensação de dispnéia Morfina = 2,5 - 5 mg 4 x/dia – náuseas, vômitos, tonturas, obstipção / depressão resp. = soment
e com
doses altas
Ambrosino 2007 Resp Med ,101: 1613Cirurgia redutora de volume e
transplante pulmonar
Indicações
CRV
• idade < 75 anos
• não fumar há pelo menos seis meses
• VEF1= 20 a 35% do previsto
• oxigênio - dependência total ou eventual • enfisema predominando LLSS
• não- melhora após Reab Pulm • alta morbi-mortalidade na DPOC grave
Transplante pulmão
• portador de enfisema
• VEF1< 20%
• sem co-morbidade • boa condição psico – social
• Complicação: bronquiolite obliterante • Sobrevida : 80%=12m, 50%= 60m, 35%=120m
Critérios para identificar pacientes com alto
risco de morte em 6 a 12 meses = HOSPICE
Escarrabill J et al. Arch Bronconeumol 2009;45:297-303
Há muitos motivos para se otimizar
o tratamento na DPA
Aumento da sobrevida, melhora da qualidade de vida, diminuição das internações e melhora da gestão dos recursos econômicos
Antes Após 12 anos