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Hemocromatose em Ranfastídeos: patogenia e tratamento, uma revisão. Docente do curso de Medicina Veterinária Universidade Guarulhos.

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Academic year: 2021

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PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia.

Hemocromatose em Ranfastídeos: patogenia e tratamento, uma revisão

André Luiz de Oliveira Faccioni1, Bruna Cristina Perticarrari da Silva1, Edson Ronaldo Bueno1, Mariana Jungers Calderaro Nahum1, Maria Carolina Gonçalves

Pita2

1 Discente do 6º semestre de Medicina Veterinária – Universidade Guarulhos; 2

Docente do curso de Medicina Veterinária – Universidade Guarulhos.

Resumo

Hemocromatose é uma afecção que ocorre por depósito excessivo de ferro em diversos órgãos, principalmente no fígado, em níveis que provocam alterações patológicas estruturais e funcionais ao órgão. Esta doença acomete comumente espécies da família Ramphastidae em cativeiro, pois estes animais são onívoros e desenvolveram mecanismos para a eficiente absorção de ferro em dietas com baixa disponibilidade deste micronutriente, o que causa em caso de dietas com níveis elevados do mesmo, sobrecarga. As principais causas relacionadas à hemocromatose são a predisposição genética, o consumo de dietas desbalanceadas ricas em ferro, doenças que causem hemólise e iatrogenia. O diagnóstico clínico é dificultado por manifestações inespecíficas, geralmente relacionadas à lesão hepática. Como diagnóstico laboratorial pode-se utilizar exames bioquímicos como nível sérico de ferro, ferritina, enzimas hepáticas, ácidos biliares, capacidade total de ligação de

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ferro e índice de saturação da transferina. O diagnóstico definitivo é feito pela biópsia hepática. Para tratamento, utiliza-se flebotomias ou o uso de quelantes de metal. Conclui-se que são necessários mais estudos que facilitem o diagnóstico precoce da doença e que confirme a eficácia dos tratamentos

utilizados, uma vez que a hemocromatose é comum em

Ranfastídeos criados em cativeiro.

Palavras-chave: Ranfastídeos, Tucanos, Hemocromatose, Ferro.

Hemochromatosis in Ramphastidae: pathogenesis and treatment, a review

Abstract

Hemochromatosis is a disease that occurs by the excessive deposition of iron in various organs, in special at the liver, at levels that cause pathological changes in the structural and functional organ. This disease usually affects species of Ramphastidae’s family in captivity, it because this animals are omnivorous and they have an efficient mechanisms that can result in with high levels, as overload. The most of the causes of hemochromatosis can be a genetic predisposition, or a consumption of unbalanced diets with a rich tenor or iron, diseases that can causinghemolysis and iatrogenic. The clinical diagnosis could be used as biochemical serum iron. Ferritin, liver enzymes, bile acids, total capacity binding of iron and transferrin saturation index. The diagnosis definitive can be made by the biopsy. But, for an effective treatment, it can do by a use of phlebotomy or the use of metal chelating. We conclude that further studies are needed to facilitate early diagnosis and confirming the effectiveness of treatments since hemochromatosis is common in ramphastidae bred in captivity.

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Introdução

A família Ramphastidae, é conhecida popularmente por tucanos e araçaris e pertence à ordem Piciformes. Dentre as espécies da Família

Ramphastidae, o tucano-toco (Ramphastos toco) é o maior representante e

tem distribuição extensa no território Brasileiro, são aves onívoras, sua dieta baseia-se em frutos, insetos, lagartos, ovos e filhotes de pássaros, são arborícolas e uma das espécies que desenvolveu mecanismos para maior eficiência na absorção intestinal do ferro, estando mais suscetíveis à retenção de ferro no caso da ingestão de níveis excessivos do mesmo, acredita-se que isso ocorre pois as espécies que tem como dieta natural frutas e insetos que tem baixa disponibilidade deste nutriente, desenvolveram mecanismos para a eficiente absorção do mesmo (Ragusa-Netto, 2006; Cubas, 2007; Cubas, 2008; Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010).

A regulamentação de criatórios reforça a importância de estudos sobre a nutrição de aves silvestres, pois este conhecimento é essencial para a manutenção da saúde destes animais em cativeiro (Silva, Santos, Hirano, et al., 2011). Uma vez que diferentes necessidades nutricionais e manifestações clínicas variáveis associadas às deficiências nutricionais tornam a alimentação de animais silvestres de diferentes espécies em cativeiro um desafio (Baggio Júnior,Pita, 2013). 90% dos casos clínicos ainda são associados a dietas inapropriadas, uma vez que inclusive dietas vendidas especificamente para aves não contém uma alimentação verdadeiramente adequada para a nutrição da espécie em questão(Harrison, 1998). Os principais sinais clínicos da

má-nutrição são a obesidade, síndrome de deficiência generalizada,

hiperqueratoses, metaplasias resultando em alterações de pele e pena, lipidose hepática, hipocalcemia, gota, calcificação renal, imunossupressão, alterações reprodutivas, de comportamento, dentre outras doenças (Harrison, 1998).

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Ferro

O ferro é um elemento metálico que se apresenta em duas formas oxidativas, sua absorção varia conforme a idade do indivíduo, estado de saúde, integridade do trato gastrointestinal e da forma química disponível, é necessário na dieta para prevenção de anemia, de alterações imunológicas dentre outras funções, sendo fundamental na formação da hemoglobina e portanto essencial para o transporte de oxigênio. Entretanto sua ingesta deve ser limitada.Uma vez que a ingestão crônica de grande quantidade de ferro na dieta pode acarretar na sua estocagem no fígado e em outros tecidos de várias espécies vertebradas, incluindo humanos. Seu acúmulo se dá através da ferritina e da hemossiderina, que são ferroproteínas. Grande parte do ferro encontra-se na forma de ferritina, que em excesso acumula-se no fígado na forma de hemossiderina, mas é encontrada normalmente em células fagocitárias mononucleares, medula óssea, baço e fígado, formada por grandes agregados de moléculas de ferritina(Cork, 2000; Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010; Silva, Santos, Hirano, et al, 2011).

Hemocromatose– Definição

Os termos Hemocromatose e Hemossiderose são utilizados para o acúmulo de hemossiderina nos tecidos, todavia estes são diferentes, pois a Hemossiderose refere-se ao acúmulo não patológico, neste caso não há alterações morfológicas. Já a Hemocromatose é o acúmulo patológico e exacerbado de grânulos de hemossiderina em vários órgãos, principalmente no fígado, provocando alterações estruturais,funcionais e manifestações clínicas nos mesmos, (Cubas, 2008;Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010).

Não há Consenso quanto à etiologia da hemocromatose em aves silvestres, acredita-se que os principais fatores sejam a falta de controle na absorção intestinal do ferro, o excesso do microelemento na dieta, taxa de destruição de hemácias maior que a normal, a uma redução da utilização do

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ferro para a produção de hemoglobina, ao aumento das reservas de ferro por ingestão ou causa iatrogênica e a predisposição genética. Outras causas sugeridas são estresse, parasitismo intestinal, doenças e a ingestão contínua de dietas com deficiência ou desequilíbrio de aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais (Cork, 2000; Carciofi e Oliveira, 2007; Rodenbusch, 2004).

Patogenia

A patogenia em aves não está plenamente conhecida, sabe-se que em aves suscetíveis, além da alta taxa de absorção de ferro, não há mecanismo de bloqueio da absorção na mucosa intestinal, sabe-se que a absorção do ferro se dá no duodeno e na porção inicial do jejuno, pois estas regiões apresentam maior acidez, facilitando a dissociação do ferro, esta absorção chega a 90% no caso de aves predispostas. Após a absorção, o ferro se liga a apoferritina produzida pelo enterócito, formando a ferritina. Para ser carregado do enterócito para a reserva, o ferro se liga a transferrina, que o distribui à medula óssea para a formação da hemoglobida, aos órgãos-estoque e aos músculos para formação da mioglobina (Cubas, 2008; Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010).

Quando o ferro se separa da hemoglobina por hemólise ou desintegração da hemoglobina do sistema retículo endotelial, este se deposita nas células dos tecidos do organismo sob forma de micélios que formam grânulos visíveis de ferritina insolúvel em água, conhecida como hemossiderina, que por sua vez acumula-se nos tecidos, principalmente fígado, causando a hemossiderose

(Cubas, 2008; Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010). Esta excessiva

deposição de ferro intracelular ocorre principalmente nas células de Kupffer, macrófagos, hepatócitos e outras células parenquimais. Entretanto o simples acúmulo de ferro pode não ser suficiente para a manifestação clínica, são necessárias lesões de grande extensão para caracterizar a hemocromatose, em estágio avançado da doença, ocorre necrose hepática e fibrose (Cubas, 2008).

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Sinais Clínicos

Os sinais clínicos são inespecíficos e normalmente estão relacionados com o acometimento do fígado, embora insuficiência cardíaca já tenha sido relatada, geralmente as aves não apresentam manifestações clínicas, podendo morrer sem qualquer sinal (Cubas, 2008). Pode-se observar apatia, anorexia, perda de peso, ascite, dispneia, hepatomegalia, cardiomegalia, debilidade progressiva, má aparência das penas, encefalopatia hepática com hipofagia, polidipsia, poliúria, diarréia, convulsão, ataxia e coma. Também tem sido associada com neoplasias, principalmente carcinoma e adenoma hepatocelular (Spaldinget al, 1986; Cubas, 2008; Cork, 2000; Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010)

Diagnóstico

Os sinais clínicos inespecíficos dificultam o diagnóstico clínico, pode-se mensurar níveis séricos do ferro, pois estudos observaram correlação positiva entre a concentração sérica do ferro e concentração aumentada do ferro no exame histopatológico. Recomenda-se também exames bioquímicos como a dosagem de lactato desidrogenase, aspartato transaminase, ácidos biliares, ferritina, capacidade total de ligação de ferro e índice de saturação da transferrina. O diagnóstico definitivo é feito pela biópsia hepática (Cork, 2000; Cubas, 2008).

Como achados post-morten, observa-se hepatoesplenomegalia, congestão hepática, alteração na coloração hepática para a cor ferrugem, proventriculite, ventriculite, enterites, hiperplasia de tecidos hematopoiéticos, focos necróticos no fígado, observa-se que a maior parte do ferro apresenta-se em região periportal hepática, no interior dos hepatócitos e nas células de Kupfer na forma de grânulos, observam-se ainda agregação de macrófagos pigmentados (Cubas, 2008; Massarotto,Marietto-Gonçalves, 2010).

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Tratamento e Prevenção

O tratamento é prolongado e não se sabe exatamente o quanto é eficiente, o ferro depositado deve ser retirado através de flebotomias semanais, em um estudo realizou-se flebotomias com retirada de sangue em volume equivalente a 1% do peso da ave por semana para a utilização do estoque de ferro dos órgãos, ou agentes quelantes, como deferoxamina, que tem sido usada por quatro décadas no tratamento de sobrecarga de ferro em seres humanos, em aves utiliza-se a dose de 100mg/kg por via subcutânea por várias semanas, relatou-se também o uso de deferiprona na dose de 50mg/kg via oral a cada 12 hs por 30 dias, deve-se tomar cuidado nos tratamentos com quelantes, para que o animal não apresente deficiências de outros metais (Cork, 2000; Cubas, 2008).

Para prevenção, deve-se oferecer dietas com baixos níveis de ferro, através de rações com no máximo 80 partes por milhão de ferro, pode-se associar também quelantes naturais à dieta, como taninos, fibras e fitatos (Cubas, 2008; Cork, 2000).

Conclusão

A hemocromatose é uma doença comum em Ranfastídeos criados em cativeiro, todavia seu diagnóstico é dificultado por sinais clínicos inespecíficos e o tratamento não foi completamente comprovado. É fundamental o desenvolvimento de novas pesquisas para desenvolvimento de métodos diagnósticos precoces e comprovação da eficácia dos tratamentos propostos, bem como alimentação balanceada.

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Referencial Bibliográfico

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Referências

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