•Área que estuda a contribuição da constituição
genética na variação à resposta a drogas
.
Farmacologia + Genética
O efeito de uma droga em diferentes pessoas raramente
é igual. Pacientes tomando uma dose padronizada de
determinado medicamento podem:
Não responder Responder
parcialmente Responder ao medicamento
Resposta ao fármaco pode ser influenciadas por
diversos fatores
-Idade -Gênero -Doenças -Gravidez -Tabaco -Álcool -Drogas -Exercícios físicos -Outros medicamentos GENÉTICA•Genética: 20 a 95% da variação na biodisponibilidade do medicamento e em seus efeitos (Kerb et al., 2006).
Contribuição genética na variação da resposta
a um fármaco
•Estados Unidos: 2.000.000 de hospitalizações e 100.000 mortes por ano - reações adversas a medicamentos.
• ~ 4% de todos os novos medicamentos lançados são retirados do mercado devido às reações adversas.
Objetivo da Farmacogenética
Otimizar o tratamento através da personalização terapêutica - prescrição individualizada
•Identificar genes que modulem respostas aos medicamentos,
•Desenvolvimento de testes genéticos para a escolha de medicamentos,
•Reavaliação de medicamentos retirados do mercado devido a efeitos tóxicos em alguns indivíduos.
•Hemólise causada por antimalárico em soldados
afro-americanos (G6PD).
•Efeito
prolongado
da
succinilcolina
–
relaxante
muscular - em certos pacientes
(BChE).
•Início - década de 50
Deficiência de G6PD
•A deficiência em Glucose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) é uma doença hereditária recessiva ligada ao cromossomo X.
•A G6PD catalisa o primeiro passo da via glicolítica nas hemácias - obtenção de energia - produzindo NADPH, que é crucial para a proteção das células - manutenção da membrana celular protegendo do stress oxidativo.
Deficiência de G6PD
•Deficiência – ruptura da membrana das hemácias
levando a anemia
-Crises hemolíticas – ação oxidativa de:
- Infecções virais ou bacterianas
-Medicamentos:
anti-maláricos,
aspirina
e
sulfanilamida
•Deficiência enzimática mais comum em humanos (400 milhões de pessoas)
•Mais de 400 variantes da enzima identificadas
•Variante 202: G > A é a mais frequente entre os indivíduos que apresentam deficiência da G6PD.
Deficiência de G6PD
•Deficiência da G6PD é comum em Afrodescendentes e rara em Euro descendentes.
Nome Variante Atividade Distribuição
GdA Normal África GdB Normal Mundial GdA- 8 – 2% África
GdMed < 5% Irã, Iraque,Paquistão, Grécia
Deficiência de G6PD
•Brasil: GdA-
-Afrodescendentes de diferentes regiões do país: 10%
-Euro-descendentes: 2%.
•Encontrada: no plasma, músculo liso, pâncreas, adipócitos, pele, cérebro e coração.
•Síntese hepática e ampla distribuição no organismo.
Enzima butirilcolinesterase (BChE)
•Codificada – gene BCHE - 3q26.1-q26.2
EXON 1
167 pb
149 pb 1525 pb 603 pb
Enzima butirilcolinesterase (BChE)
• Em algumas pessoas: efeito prolongado – paralisia
muscular e apnéia respiratória
•Metaboliza a
Succinilcolina
: relaxante
muscular - efeito passageiro.
Enzima butirilcolinesterase (BChE)
Succinilcolina
Colina + ácido succínico
•Mutações no gene BCHE: GAT para GGT
aminoácido 70 (D70G) - Asp > Gli
•Aminoácido 70: local de ligação do substrato
-Menor afinidade da enzima pelo substrato
-Succinilcolina agindo por mais tempo
•Frequência:
-2% – América do Norte
-1,8% população de Curitiba – doadores de sangue
• Friedrich Vogel - 1952: primeiro a usar o termo
farmacogenética
– resposta diferencial a uma
mesma droga ministrada em doses equivalentes e
que algumas respostas apresentavam padrão de
herança mendeliana.
Início da Farmacogenética
•Werner Kalow, da Universidade de
Toronto - 1962: livro “Pharmacogenetics
- Heredity and the Response to Drugs”.
Como os Fármacos atuam
•Após administrado: absorvido e distribuído até seu sítio
de ação, onde produz a resposta farmacológica e é então
excretado.
•Quando o medicamento é administrado, ele passa pelos
processos de:
Como os Fármacos atuam
-
Farmacocinética
: envolve os processos de
absorção,
distribuição,
biotransformação
e
eliminação.
-
Farmacodinâmica
:
envolve
a
interação do fármaco com o alvo,
através de um receptor.
•Polimorfismos genéticos
- associados a diferenças
individuais na eficácia e toxicidade de muitos
medicamentos:
•Enzimas metabolizadoras
•Transportadoras e
•Receptoras de drogas
Polimorfismos que Afetam
Enzimas Metabolizadoras
Metabolismo dos medicamentos
-Metabolismo ou reação de biotransformação é
classificado como:
metabolismo de fase 1
e
de fase 2
-As enzimas envolvidos na biotransformação estão
localizadas principalmente no
fígado
, outras no plasma,
pulmões, cérebro e no intestino.
-Alterações químicas transformando o medicamento em
compostos inativos ou ativos.
•Catalisado por enzimas da superfamília das enzimas do
Citocromo P450 (CYPs)
, Flavinas monoxigenadas
(FMOs) e Epoxis hidrolases (EHs)
Metabolismo de fase 1
•Introdução de grupos funcionais (-OH, -COOH, -SH, -O-
ou NH
2)
•Inativação de fármacos,
•Ativação de fármacos - moléculas originalmente
inativa tornem-se ativas -
pró fármacos
.
•As reações de fase 2 envolvem a
conjugação
com um
substrato endógeno:
-Tornando os metabólitos
hidrofílicos
e passíveis de
excreção
e
-
Inativando
o produto do metabolismo fase 1
•Enzimas de fase 2 que catalisam reações de conjugação:
Glutadiona-S-transferase
(GSTs),
UDP-glucoronil
transferase
(UGT),
sulfotransferase
(SULTs),
N-acetiltransferase (NATs), metiltransferases (MTs)
Metabolismo de Medicamentos
Genes mais Estudados
Metabolismo Fase I
Citocromo P450 (CYPs)CYP1A1
CYP2E1
CYP2D6
GSTM1
GSTT1
GSTP1
Metabolismo Fase II
Glutadiona-S-transferase (GSTs)Metabolismo de fase 1 -
Superfamília Citocromo
Superfamília Citocromo P450 (CYPs)
•
Principal classe de enzimas de metabolismo de fase I,
•
Mais de 500 isoenzimas – correlação evolutiva e
homologia gênica
•
Reações ocorrem preferencialmente no fígado
0% 20% 40% 60% 80% 100% CYPs Outras
•Responsável pelo metabolismo de cerca de 60% dos 200 medicamentos mais prescritos nos EUA.
•Polimorfismos das enzimas CYPs:
• têm um grande efeito nas variações das respostas a medicamentos utilizados nos tratamentos de muitas doenças.
•Ex.: depressão, psicose, câncer, doenças cardiovasculares, gastrintestinais, dor, epilepsia e outras.
• A variação na atividade da CYP2D6 resulta de mutações: -SNPs
-Deleção do gene
-Múltiplas cópias do gene.
•O gene CYP2D6 (22q13.1) codifica a enzima CYP2D6 - 9 exons e 4378 pb.
Enzima CYP2D6
•Altamente polimórfico: mais de 90 alelos •Tecidos de expressão: pulmão e fígado
-Enzimas defeituosas, parcialmente defeituosas, com especificidade alterada ao substrato, ausência de enzima, atividade aumentada.
-10% Europeus; -2% Asiáticos -19% Africanos
•Fenótipos: desde a completa deficiência até metabolismo ultra-rápido.
•Os efeitos das variantes enzimáticas dependem do medicamento e das variantes alélicas envolvidas
Enzima CYP2D6
•Variação étnica - Fenótipo Lento - Média de todos os alelos de metabolismo lento:
Enzima CYP2D6 e Metabolismo da
Debrisoquina
•O primeiro polimorfismo genético da superfamília CYP foi descrito para o gene CYP2D6 – atividade reduzida da enzima
Debrisoquina Hidroxilase .
– no início: análises da concentração sérica do medicamento – pacientes que apresentaram reações adversas (hipotensão grave e prolongada) tinham concentração maior do fármaco no soro.
-Metabolizadores lentos
-Metabolizadores extensivos ou normais •Debrisoquina: droga anti-hipertensiva
•Mais tarde a base genética foi elucidada:
-Alelo CYP2D6*4: responsável por até 80% dos fenótipos metabolizadores lento - defeito no splicing - não codifica produto funcional.
-Alelo CYP2D6*3 - deleção completa do gene
Enzima CYP2D6 e Metabolismo da
Debrisoquina
•Através da técnica de PCR-RFLP, foram determinados mais de 20 alelos
-Identificação de genes multiplicados (13 cópias) - Metabolizador ultra rápido.
Brasil (Rio Grande do Sul) – Metabolizadores Lentos - Alelo CYP2D6*4: 13,2% - splicing
-Alelos CYP2D6*3: 1,1% - deleção completa -Metabolizadores lentos/intermediários
-Metabolizadores normais -Metabolizadores ultra rápidos
Enzima CYP2D6 e Metabolismo da
Debrisoquina
Sem o efeito desejado do
medicamento anti-hipertensivo em doses usuais
Maior toxicidade – reações adversas
Enzima CYP2D6 e Metabolismo da
Debrisoquina
Gene CYP2D6 e Metabolismo da
Debrisoquina
0 50 100 150 200 250 % doseLento Intermediário Extensívo Ultra Rápido
Dose Padrão
Ajuste baseado no genótipo
• Medicamento usado no controle da dor
- Pró-fármaco - na forma original é inerte - efeito analgésico após ativação pela enzima CYP2D6
• Metabólito ativo: morfina
•Metabolizadores lentos/intermediários: droga não é eficaz na dose padrão - não atinge concentrações plasmáticas suficientes para obter resposta terapêutica desejada
•Metabolizadores normais
•Metabolizadores ultra rápidos: efeito tóxico
Enzima CYP2D6 e Metabolismo da
Codeína
•40% das lactantes nos EUA usam
Codeína para alívio de dores associadas ao parto.
•Relato de morte de neonatos devido a intoxicação - amamentados por mães de Metabolismo Ultra rápido - várias cópias do gene - que faziam uso de codeína
•Mães tipo Metabolismo Ultra rápido que fazem uso de codeína, quando amamentam podem oferecer risco a seus filhos recém nascidos.
Enzima CYP2D6 e Metabolismo da
Codeína
Metabolismo de fase 2 -
Família Glutationa
S-transferases (GST)
Família Glutationa S-transferases (GST)
•
Agem na
detoxificação
de fármacos e Carcinógenos -
impedindo a ligação destes ao DNA
•
Expressão: maior concentração no fígado, menores
concentrações no pulmões e intestino delgado.
•Enzima que atua no metabolismo de fase 2 - tornando
os metabólitos hidrofílicos e passíveis de
excreção
e
-Existem pelo menos 20 GSTs em humanos
•Dentre as enzimas GSTs mais conhecidas estão as GSTM1 e
GSTT1
•Enzima GSTM1 - gene GSTM1: polimórfico na população humana
-GSTM1*A e GSTM1*B - alelos funcionais - têm a mesma
eficácia metabólica.
-GSTM1*0 - alelo com atividade nula - deleção.
•Enzima GSTT1 é codificada pelo gene GSTT1 – polimórfico, podendo apresentar fenótipo nulo por deleção
•A deleção em homozigose do gene GSTM1 - taxas que variam entre 20 a 70% - variação étnica
•A deleção em homozigose do gene GSTT1 - taxa é de 11 a 38% - variação étnica
•Como essas enzimas catalisam a detoxicação do organismos, a sua ausência reduzir a capacidade do organismo de desintoxicar-se de metabólitos reativos.
•Diversos estudos detectaram - frequência elevada do fenótipo nulo deste gene em indivíduos portadores de diferentes neoplasias, como: câncer de pulmão, colorretal, pele e de bexiga.
Polimorfismos que
Afetam Transportadores
de Medicamentos
•Localizadas principalmente - células intestinais, hepáticas e no epitélio renal
•Responsáveis pela absorção, biodisponibilidade e eliminação de vários medicamentos
TRANSPORTADORES DE
MEDICAMENTOS
•Moléculas transportadoras de medicamentos são proteínas transmembrânicas.
•A glicoproteína-P (GpP) - gene ABCA1 - muito estudada por ser um transportador de vários medicamentos.
-Polimorfismos:
•+ 28 variantes genéticos no gene ABCA1
•SNP no exon 21 (G2677T)
•SNP no exon 26 (C3435T)
Glicoproteína-P (GpP)
Interesse particular porque afetam a expressão e a
conformação, afetando sua afinidade pelo substrato
•Todos os inibidores de protease utilizados no tratamento do HIV são substratos da glicoproteína-P.
Glicoproteína-P (GpP)
•Estudo - após seis meses de tratamento do HIV com inibidores de protease, os pacientes responderam de forma diferente conforme o genótipos para o polimorfismo do exon 26 da
ABCA1.
• Proteases do HIV cortam a poliproteína viral gag-pol em sub-unidades funcionais. A inibição da protease, previne a fragmentação da poliproteina viral gag-pol e a maturação, levando à libertação de
Polimorfismos que
Afetam Receptores
•Genes que codificam receptores também apresentam polimorfismos.
•Receptores: proteínas ou glicoproteínas - membrana plasmática, membrana das organelas e no citoplasma.
•A união de uma molécula sinalizadora (fármaco) a seus receptores específicos
•Canais de sódio SCN1 e os Receptores Adrenérgicos apresentam importância quanto a resposta a medicamentos
POLIMORFISMOS QUE AFETAM
RECEPTORES
desencadeia uma série de reações no interior das células (resposta ao fármaco).
•Genes que codificam os receptores adrenérgicos apresentam uma série de SNPs - diferentes polimorfismos estão associados a diferentes graus de atividade do receptor .
• Homozigotos Gln27 e Arg16 apresentam menor vasodilatação arterial que a forma homozigota Glu27 e Gly16 (Usuais) ao utilizar
Isoproterenol.
Receptores Adrenérgicos
•Receptores adrenérgicos são alvos da adrenalina e noradrenalina e interagem com vários medicamentos.
•Isoproterenol - tratamento da asma e bronquite relaxando as vias aéreas permitindo fluxo maior de ar.
Perspectivas Futuras e
Considerações Finais
PERPECTIVAS FUTURAS E
CONSIDERAÇÕES FINAIS
•A farmacogenética - futuros benefícios à saúde pública evitando reações adversas a medicamentos em subgrupos de pacientes geneticamente distintos.
•Será necessário traçar o perfil genético de cada paciente com exames que poderão se tornar de rotina.
• Genotipagem e estudo da expressão do gene:
-Detectar problemas terapêuticos prevenindo efeitos adversos (metabolizadores ultra-rápidos e lentos)
-Individualização da dosagem
A REFARGEN é uma iniciativa de pesquisadores brasileiros
com o objetivo principal de promover o estudo da farmacogenética/farmacogenômica na população brasileira.
http://www.refargen.org.br/
PERPECTIVAS FUTURAS E
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Características brasileiras: heterogeneidade - extensa miscigenação indígena, européia e africana.
Estas características distinguem a população brasileira da dos países industrializados, nos quais são gerados e desenvolvidos, em sua vasta maioria, os medicamentos em uso clínico.