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A construção da sustentabilidade ambiental pela metáfora e a sua tradução

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS

A construção da Sustentabilidade Ambiental pela Metáfora e a sua Tradução

Fabiana Negri Pinto da Silva

Mestrado em Tradução

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UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE DE LETRAS

A construção da Sustentabilidade Ambiental pela Metáfora e a sua Tradução

Fabiana Negri Pinto da Silva

Orientação pela Professora Doutora Maria Clotilde Almeida

Mestrado em Tradução

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Agradecimentos

A caminhada feita até aqui não é fácil. Passamos por altos e baixos, bons e maus momentos. No entanto, a conclusão de mais uma etapa não seria possível sem a ajuda e incentivo de várias pessoas que merecem o meu total agradecimento e consideração.

Gostaria de começar por agradecer à Professora Palmira Marrafa e à Professora Clotilde Almeida por aceitarem a minha candidatura ao Mestrado de Tradução, tornando este sonho possível de concretizar.

À Professora Clotilde Almeida, minha orientadora, agradeço todo o tempo, dedicação e profissionalismo a que se disponibilizou e também pela compreensão que, por vezes, se afigurou bastante necessária.

Aos meus colegas de Mestrado que me ajudaram bastante, tendo em conta que nem sempre me era possível estar presente nas aulas, um muito obrigada.

Agradeço ao meu amigo Guilherme que me incentivou e encorajou a ir atrás do meu sonho, estando sempre presente nos momentos mais difíceis da elaboração do trabalho.

A todos os meus amigos que compreenderam o meu desaparecimento e por vezes até o meu mau humor e cansaço, principalmente ao meu afilhado.

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Por fim, gostaria de agradecer às pessoas que sem as quais nada disto seria possível, os meus pais. Eles sempre me ensinaram a lutar por aquilo que quero, mostrando que tudo é alcançável se for feito com dedicação. Por isso, agradeço todo o empenho tido na minha educação, me tornando uma pessoa responsável e ambiciosa, e por mostrar que os sonhos podem se tornar realidade se lutarmos por eles.

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Resumo

A presente dissertação parte da identificação das metáforas de sustentabilidade ambiental, constantes da obra Metaphors for Environmental Sustainability – Redefining Our Relations With Nature da autoria de Brendon Larson (2011), visando, em primeiro lugar, a desconstrução dos mapeamentos conceptuais que superintendem as várias realizações metafóricas de sustentabilidade ambiental, à luz da teoria da metáfora conceptual, conforme a obra de Lakoff/Johnson (1980), e de Lakoff (1987,1993). Este processo de desconstrução das metáforas tem por objetivo final promover uma reflexão e retirar conclusões sobre o processo de tradução destas metáforas convencionalizadas de sustentabilidade ambiental para a língua portuguesa, partindo do postulado de que a metáfora é uma ferramenta conceptual da maior importância na cunhagem desta linguagem da especialidade.

Na nossa ótica, este estudo assume particular relevância em face da crescente importância do domínio da sustentabilidade ambiental nas sociedades modernas, bem como na comunicação e nos média, o que tem por consequência a disseminação generalizada desta terminologia científica em regime de tradução a partir do inglês.

PALAVRAS-CHAVE: metáforas de sustentabilidade ambiental; metáfora e linguagens especializadas; metáfora e tradução

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Abstract

The present dissertation starts with the identification of conceptual metaphors of environmental sustainability, as portrayed in Brendon Larson’s book entitled Metaphors for Environmental Sustainability – Redefining Our Relations With Nature, aiming at the deconstruction of the conceptual mappings underlying metaphorical realizations of these metaphors in the light of the Conceptual Metaphor Theory, with special reference to Lakoff/Johnson (1980) and Lakoff (1987, 1993). It must be highlighted that the deconstruction process of these conceptual metaphors aims both at fostering a reflection and drawing some conclusions about the translation process of these conventionalized metaphors into Portuguese, taking into account that metaphor is a conceptual tool of central importance in the coinage of specialized language and terminology.

From our point of view, this study foregrounds the growing importance of environmental sustainability issues in current societies, as well as in media communication, which results in the overall dissemination of scientific terminology in this domain, with special focus on text chunks being translated into Portuguese.

KEYWORDS: Metaphors of environmental sustainability, metaphor and specialized language; metaphor and translation.

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Índice

Agradecimentos...4 Resumo...6 Abstract...7 0. Introdução...10 1. Metáfora Conceptual...12

1.1. Metáfora enquanto Ferramenta Cognitiva...23

1.2. Modelos cognitivos idealizados...37

2. Metáfora e Cultura...40

2.1 Classificação das Metáforas...41

2.1.1 Metáforas Estruturais...41 2.1.2 Metáforas Ontológicas...46 2.1.3 Metáforas Orientacionais...50 3. Metáfora e a Ciência...56 3.1 A Terminologia...61 3.2. Teorias da Terminologia...63 3.2.1 Socioterminologia...63

3.2.2 Teoria Comunicativa da Terminologia...66

3.3 Teorias cognitivas no âmbito da Terminologia...68

3.3.1 Terminologia Sociocognitiva...68

3.4 Metáfora e Ciência (Richard Boyd)...73

4. Metáfora e terminologia...78

4.1 Metáfora...78

4.2 Metonímia...82

5. Metáforas de Sustentabilidade Ambiental...92

5.1 As Metáforas e a Sustentabilidade Ambiental...93

5.2 Ainda as Metáforas de Feedback...100

5.2.1 A propósito da metáfora “Pegada Ecológica”/ecological footprint”...100

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7. Observações finais...107 Bibliografia...109

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1. Introdução

Cada vez mais somos alertados para a importância da sustentabilidade ambiental para a sobrevivência humana, sendo que, até agora, as metáforas usadas na conceptualização da sustentabilidade ambiental apenas foram objeto de um estudo alargado na obra, a saber Metaphors for Environmental Sustainability – Redefining Our Relations With Nature, da autoria de Brendon Larson , publicada em 2011. Ao incidirmos sobre a desconstrução das metáforas conceptuais de sustentabilidade ambiental na obra em apreço, poremos em destaque a metáfora conceptual enquanto ferramenta cognitiva de cunhagem terminológica de alcance intercultural. Assim sendo, advoga-se que é a metáfora conceptual enquanto ferramenta cognitiva que superintende o processo de tradução dos acervos terminológicos constantes do texto de partida nos contextos de chegada.

No que diz respeito à estruturação da tese, a mesma será dividida em seis pontos.

No ponto 1 até ao subponto 1.2, elabora-se uma breve síntese sobre a teoria da metáfora conceptual, conforme desenvolvida por Lakoff e Johnson (1980), bem como por Lakoff (1993), tendo em vista o postulado de que a metáfora constitui uma importante ferramenta cognitiva na representação de dimensões concretas e abstratas da experiência. No ponto 2 ao subponto 2.2, aborda-se a metáfora de um ponto de vista cultural, tendo em conta dimensões de variação decorrentes de modelos cognitivos idealizados convergentes ou divergentes.

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De seguida, nos pontos 3 ao 4.2, visiona-se a metáfora na sua relação com a ciência, com especial destaque para a questão da cunhagem terminológica, na ótica do paradigma cognitivo.

No ponto 5 incide-se sobre a desconstrução conceptual das metáforas convencionalizadas que ocorrem no domínio da sustentabilidade ambiental, na obra que foi objeto de análise, frisando a necessidade de focalização nas metáforas de proteção ambiental, na base da metáfora conceptual O AMBIENTE É UMA CASA.

No ponto 6, trata-se de uma panóplia de questões relacionadas com a tradução das metáforas convencionalizadas de sustentabilidade ambiental, relembrando que a tradução incide não sobre a tradução de palavras ou expressões, mas na tradução de conceptualizações que se reportam a um modelo cognitivo idealizado do mundo.

Por fim, tece-se um conjunto de conclusões relativas à tradução das metáforas convencionalizadas de sustentabilidade ambiental, na obra analisada.

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2. Metáfora Conceptual

Desde Aristóteles até ao século XXI, a metáfora foi concebida como uma figura de estilo, ou seja, como um ornato literário, conforme a seguinte definição de Aristóteles (1994,1457b, capítulo XXI:7) que passo a traduzir:

A metáfora consiste no transportar para uma coisa o nome de outra, ou do género para a espécie, ou da espécie para o género, ou da espécie de uma para a espécie de outra, ou por analogia.

Em oposição a esta concepção, surge a teoria da metáfora conceptual, na base da qual se preconiza que a metáfora não está relacionada com a linguagem, mas sim com o pensamento. Por este prisma, as metáforas são construídas mediante mapeamentos realizados a partir do mapeamento de um dado domínio-fonte num dado domínio-alvo. Registe-se que o estabelecimento de mapeamentos se aplica à linguagem quotidiana, e não apenas a imagens criadas para textos literários. Desta forma, o foco da metáfora não está na linguagem, mas na forma como conceptualizamos um dado domínio conceptual à luz de outro. Encontramos na obra Metaphors we live by (1980) de Lakoff e Johnson a teorização da metáfora enquanto ferramenta conceptual, em que a mesma foi considerada como parte integrante do sistema conceptual humano, o que significa que a metáfora está presente na conceptualização das nossas experiências quotidianas:

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If we are right in suggesting that our conceptual system is largely metaphorical, then the way we think, what we experience, and what we do every day is very much a matter of metaphor (Lakoff/Johnson 1980:3)

No entanto, terá sido Michael Reddy (1979) o primeiro a apontar que a metáfora é essencialmente conceptual, convencional, mas terá sido Lakoff a elaborar uma teoria extensiva sobre a metáfora enquanto ferramenta conceptual, conforme ilustrado no seguinte excerto:

The locus of metaphor is thought, not language, that metaphor is a major and indispensable part of our ordinary, conventional way of conceptualizing the world, and that our everyday behavior reflects our metaphorical understanding of experience.

(Lakoff, 1993:203)

No seu artigo The Conduit Metaphor (1979), Reddy assinala que a língua, nesse caso o Inglês, é altamente metafórica, sendo que acaba por se distanciar da concepção tradicional da metáfora enquanto figura da retórica, lançando, assim, as bases da teoria da metáfora conceptual.

De forma simplista, podemos afirmar que a teoria da metáfora conceptual vem por em questão a divisão estanque entre sentido literal e sentido figurativo preconizado pelo paradigma estrutural, segundo o qual:

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- All everyday conventional language is literal, and none is metaphorical. - All subject matter can be comprehended literally, without metaphor. - Only literal language can be contingently true or false.

- All definitions given in the lexicon of a language are literal, not metaphorical.

- The concepts used in the grammar of a language are all literal; none are metaphorical. (Lakoff, 1993:203)

De facto, a ocorrência abaixo não se ajusta a nenhum destes postulados de índole estruturalista. Logo, não será difícil descortinar que o exemplo abaixo é configurado por uma metáfora conceptual:

A nossa relação chegou a um beco sem saída. (Our relationship has hit a dead-end street).

Mais concretamente, regista-se que o amor é conceptualizado metaforicamente como se fosse uma viagem, na base da metáfora conceptual O AMOR É UMA VIAGEM. É ainda de referir que, neste caso específico, a relação passa por um impasse, em que os amantes terão de decidir como é que o podem ultrapassar.

Mas este não é caso único, uma vez que existem várias expressões que nos podem remeter para esta mesma metáfora conceptual:

- Vê ao ponto que chegamos. (Look how far we’ve come) - Agora não podemos voltar atrás. (We can’t turn back now)

- Talvez tenhamos que seguir separados. (We may have to go our separate ways) - A nossa relação está a descarrilar. (Our relationship is off the track)

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Como se pode observar, estas expressões não são poéticas, nem são necessariamente usadas para obtenção de efeitos retóricos. Conseguimos entender que a ocorrência “vê ao ponto que chegamos” se refere a uma relação amorosa, mesmo que esta não seja mencionada, sendo que tal decorre do sistema conceptual metafórico. Neste caso específico, o enunciado emerge da projecção do domínio da viagem no domínio do amor. Na base da metáfora conceptual acima referida, os amantes são concebidos como viajantes que realizam uma viagem juntos, sendo que os seus objetivos de vida são conceptualizados como o seu destino de viagem. O veículo dessa viagem é o relacionamento que permite o alcance desses objetivos. Quanto ao decurso da viagem, esta pode continuar, apesar de todas as dificuldades, até que se tome uma decisão de a interromper, por algum motivo.

Como vimos, da compreensão de um conceito abstracto como o amor passa necessariamente pelo entendimento do mapeamento de um domínio-fonte (viagem) para um domínio-alvo (amor). Tendo em conta que esses mapeamentos são altamente estruturados, Lakoff e Johnson (1980) criam uma fórmula de identificação dos mapeamentos, a saber, A é B, ou seja DOMÍNIO-ALVO É DOMÍNIO-FONTE.

Neste caso, a metáfora AMOR É UMA VIAGEM (LOVE IS A JOURNEY) decorre na base de um conjunto de correspondências ontológicas entre os dois domínios conceptuais:

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- A relação amorosa é o veículo;

- Os objetivos comuns dos amantes correspondem ao seu destino na viagem;

- As dificuldades da relação são os obstáculos que se vão colocando ao longo da viagem.

Registe-se que são os mapeamentos que nos fornecem as correspondências necessárias para que pensemos no amor, à luz do conhecimento que temos sobre viagens.

Mais concretamente, abaixo, podemos comprovar a existência desses mapeamentos, sendo que as palavras em maiúsculas referem-se à ontologia da viagem (Lakoff, 1993: 206):

Two TRAVELLERS are in a VEHICLE, TRAVELING WITH COMMON DESTINATIONS. The VEHICLE encounters some IMPEDIMENT and gets stuck, that is, makes it nonfunctional. If they do nothing, they will not REACH THEIR DESTINATIONS.

Sublinhe-se que as correspondências ontológicas estabelecidas entre amor e viagem estão assinaladas a maiúscula (Lakoff, op. cit. p. 206):

Two LOVERS are in a LOVE RELATIONSHIP, PURSUING COMMON LIFE GOALS. The RELATIONSHIP encounters some DIFFICULTY, which makes it nonfunctional. If they do nothing, they will not be able to ACHIEVE THEIR LIFE GOALS.

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Assim, pode verificar-se que a metáfora AMOR COMO VIAGEM (LOVE-AS-JOURNEY) emerge de mapeamentos ontológicos entre os dois domínios conceptuais acima referidos. Segundo os referidos autores, os mapeamentos são convencionais, mediante ativação do nosso sistema conceptual, uma vez que, se a metáfora fosse meramente de tipo linguístico, era de supor que cada expressão metafórica diferente corresponderia a uma metáfora conceptual diferente. No entanto, todos os exemplos referidos anteriormente estão ligados apenas à metáfora conceptual O AMOR É UMA VIAGEM, conforme ilustrado abaixo:

The fact that the LOVE IS A JOURNEY mapping is a fixed part of our conceptual system explains why new and imaginative uses of the mapping can be understood instantly, given the ontological correspondences and other knowledge about journeys. (Lakoff, 1993:208)

É importante mencionar que, uma vez que os mapeamentos não são construídos de forma aleatória, os mesmos seguem três princípios de estruturação, a saber:

1) Sistematicidade – Estabelece-se um conjunto de mapeamentos sistemáticos entre um domínio-fonte e um domínio-alvo;

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3) Assimetria – Existe a forte possibilidade de que os dois domínios sejam semanticamente diversos, uma vez que o domínio-fonte é geralmente concreto e o domínio-alvo, é frequentemente abstrato.

Adicionalmente, Lakoff (1993:211) defende também o Princípio da Invariância, em que é a topologia do domínio-fonte que serve à estruturação do domínio-alvo:

Metaphorical mappings preserve the cognitive topology (that is, the image-schema structure) of the source domain, in a way consistent with the inherent structure of the target domain. (Lakoff, 1993:12)

Convém ainda sublinhar que se pressupõe a hierarquização dos mapeamentos metafóricos no sistema conceptual. Surge, assim, o conceito de metáfora superior que permite mapeamentos diversos ao nível inferior:

A mapping at the superordinate level maximizes the possibilities formapping rich conceptual structures in the source domain onto the target domain, since it permits many level instances, each of which is information rich (Lakoff, 2006:195)

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Consequentemente, um mapeamento de nível inferior acaba por herdar a base experiencial da de um nível superior, sendo que as metáforas superordenadas são, por norma, mais abrangentes:

They are sometimes organized in hierarchical structures, in which “lower” mappings in the hierarchy inherit the structures of the “higher” mappings. (Lakoff, 1993:219)

Assim, a metáfora PURPOSEFUL LIFE IS A JOURNEY herda o conteúdo da metáfora que a superintende PURPOSES ARE DESTINATIONS, uma vez que os eventos da vida como viagens são subespecificações de eventos mais gerais, a saber, ações direcionadas para determinados fins. Deste modo, LOVE IS A JOURNEY irá ocupar a posição inferior na hierarquia que acabámos de mencionar. Segue-se uma explanação da hierarquia das metáforas mencionada anteriormente, mediante identificação dos três níveis postulados por Lakoff (1993:219):

Level 1 – PURPOSES ARE DESTINATIONS Level 2 – A PURPOSEFUL LIFE IS A JOURNEY Level 3 – LOVE IS A JOURNEY

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Além das características detalhadas anteriormente, as metáforas conceptuais convencionalizadas podem ser ainda classificadas de acordo com três categorias distintas, como referem Lakoff e Johnson 1980 (ver adiante em 3.):

a) Metáforas estruturais, que são construídas na base de um conceito altamente estruturado e delineado:

They allow us, in addition, to use one highly structured and clearly delineated concept to structure another. (Lakoff/Johnson, 1980:61)

A título exemplificativo, cite-se uma das metáforas estruturais mais conhecidas, TEMPO É DINHEIRO. Na base da mesma, o tempo de trabalho é visto como tendo um determinado valor monetário, ou seja, uma remuneração proporcional às horas de trabalho. Os mesmos autores indicam também outros exemplos de metáforas estruturais, amplamente conhecidas, a saber, DISCUSSÃO É GUERRA, O AMOR É UMAVIAGEM.

b) Metáforas ontológicas que conceptualizam eventos e ações como objetos, atividades como substâncias e estados como contentores:

Events and actions are conceptualized metaphorically as objects, activities as substances, states as containers. (ibid., 1980:30)

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A ocorrência de tais mapeamentos possibilita-nos uma melhor compreensão do mundo, fundamentalmente através da personificação, como é o caso de INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE DO MUNDO FÍSICO.

c) Metáforas orientacionais, que emergem da atribuição de uma orientação espacial ao conceito metafórico, reportando-se a situações de interação humana com o espaço envolvente. Desta forma, os objetos físicos são concebidos como contentores, na medida em que são caracterizados por uma localização dentro/fora, conforme advogado por Lakoff e Johnson (1980:29):

We project our own in-out orientation onto other physical objects that are bounded by surfaces. Thus we also view them as containers with an inside and outside.

Registe-se que as emoções positivas, como a felicidade, são conceptualizadas à luz da postura humana vertical, ao invés das emoções negativas como a tristeza que é conceptualizada para baixo, a saber: FELICIDADE É PARA CIMA/TRISTEZA É PARA BAIXO). Também o sistema de moralidade é estruturado por recurso a metáforas orientacionais, a saber, BOM É PARA CIMA/MAU É PARA BAIXO.

Sublinhe-se que a teoria de que os modelos culturais são produzidos pelas metáforas conceptuais para depois serem utilizadas na cognição e no intercâmbio humano é

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mapeamentos se encontram inscritos em modelos cognitivos idealizados, definidos como representações mentais relativamente estáveis acerca do nosso mundo da experiência, ou seja, construções mentais acerca do mundo.

A metáfora é, portanto, indispensável para a nossa conceptualização das entidades existentes no mundo físico, fornecendo-nos possibilidades para compreensão da realidade social, conforme preconizado por Lakoff e Johnson (1980:146):

What is real for an individual as a member of a culture is a product both of his social reality and of the way in which that shapes his experience of the physical world.

Assim se depreende que a metáfora conceptual é uma ferramenta fundamental da conceptualização, pelo que recorremos às metáforas conceptuais de forma inconsciente e sem esforço.

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1.1. Metáfora enquanto Ferramenta Cognitiva

Lakoff e Johnson (1980) advogam que o nosso entendimento do mundo não se reporta apenas a conceitos isolados, mas antes a domínios da experiência na sua completude:

Understanding takes place in terms of entire domains of experience and not in terms of isolated concepts (1980:17)

Se tivermos em conta alguma das metáforas já mencionadas, podemos verificar que as mesmas surgem de domínios-fonte básicos de experiência, como o amor, o tempo e a discussão. Estas são definidas como experiências gestaltianas que envolvem uma série de cenários naturais (estados, causas etc.).

Estes são designados de naturais, uma vez que se reportam a

- Experiências com o nosso corpo (capacidades mentais, aparelho motor e capacidades percetivas, entre outras)

- Experiências de interação com o ambiente físico (deslocação, manipulação de objetos, entre outras)

- Experiências de interação com corpos sociais (no que diz respeito a instituições sociais, políticas, económicas e religiosas) (Lakoff e Johnson 1980:117)

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Deste modo se depreende que estas experiências de tipo natural constituem “produtos da natureza e das vivências humanas”, sendo que alguns são de carácter universal, enquanto outros configuram dimensões de variação cultural.

Os autores propõem que os conceitos existentes nas definições metafóricas são aqueles que têm também ligação a situações naturais da experiência. Por exemplo, nos conceitos que são definidos pelas metáforas os seguintes seriam considerados experiências naturais na nossa cultura: AMOR, TEMPO, IDEIAS, DISCUSSÃO, FELICIDADE, etc. Estes conceitos necessitam de ser conceptualizados de forma palpável, a fim de que possam ser cabalmente entendidos pelos seres humanos.

Existem também conceitos que correspondem a experiências naturais e que são utilizados para definir outros conceitos: OBJETOS, SUBSTÂNCIAS, GUERRA, VIAGEM, entre outros. Refira-se ainda que algumas experiências naturais têm uma natureza parcialmente metafórica, como por exemplo a DISCUSSÃO, visto que algumas dimensões desta só podem ser entendidas a partir da metáfora conceptual DISCUSSÃO É GUERRA. Por outro lado, a experiência do tempo é compreendida quase totalmente em termos metafóricos, como por exemplo TEMPO É UM OBJETO EM MOVIMENTO e TEMPO É DINHEIRO. Registe também que a grande parte dos conceitos que conhecemos está subjacente a dimensão orientacional CIMA-BAIXO, como é o caso do CONTROLO E FELICIDADE, entre outros. Nesta base, constrói-se a metáfora conceptual FELICIDADE É PARA CIMA, que se baseia na interação que cada um de nós tem com os ambientes físicos e culturais:

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The kind of conceptual system we have is a product of the kind of beings we are and the way we interact with our physical and cultural environments. (Lakoff e Johnson 1980:119)

Neste estudo, os autores apontam a existência de duas formas de visão da nossa experiência. Uma delas será a visão padronizada que usa o “objetivismo”, segundo a qual cada experiência ou objeto é composto por determinadas propriedades, a partir das quais são conceptualizadas e entendidas pelos seres humanos. Por exemplo, na visão objetivista o amor tem vários sentidos, sendo que cada um deles será definido de acordo com a propriedade escolhida tal como carinho, afeição, desejo sexual, etc.

Por outro lado, Lakoff e Johnson afirmam que nós compreendemos o amor através das propriedades referidas de forma parcial, sendo que a nossa compreensão se produz a partir da metáfora e principalmente a partir de outros conceitos de experiências naturais: VIAGENS, GUERRAS, SAÚDE. Uma vez que a definição dos conceitos surge a partir da nossa interação com o meio envolvente, o conceito que é definido metaforicamente será entendido na base de “propriedades de interação”.

Para melhor explicar esse conceito, de seguida será feita uma análise do conceito de arma. De uma forma geral, achamos que esse conceito pode ser caracterizado apenas pelas propriedades que lhe são inerentes, como o tamanho, forma, etc. No entanto, ao ser

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possível, uma vez que a falsa arma tem de ter as mesmas funções que uma arma verdadeira. A esta característica dá-se o nome de propriedades de atividade motora (motor–activity properties).

Para comprovar este nosso argumento, iremos ver de seguida como o modificador FALSA mantém algumas das propriedades de ARMA, negando outras.

Registe-se que o modificador FALSA preserva: Propriedade de perceção

- Uma arma falsa parece uma arma Propriedade de atividade motora - Forma de segurar a arma é igual Propriedade intencional

- Pode ser usada para o mesmo fim que uma arma verdadeira (ameaçar, utilizar numa peça de teatro)

Mas o modificador FALSA não preserva: Propriedade funcional

- Uma arma falsa não dispara História da função

- Se foi fabricada para ser uma arma verdadeira, então não é falsa

Assim, tendo em conta a análise das características das armas podemos ver que estas, de facto, não estão inteiramente ligadas às armas, mas sim à forma como interagimos com

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esse objeto. Tendo isto em conta, o conceito de arma é parcialmente definido por “propriedades de interação”:

...our concepts of objects, like our concepts of events and activities, are characterizable as multidimensional gestalts whose dimensions emerge naturally from our experience in the world. (Lakoff e Johnson 1980:122)

Na base do que foi dito anteriormente e também o facto de, por vezes, a metáfora ser a única forma de organizar uma dada experiência, os autores opinam:

Metaphors have entailments trough which they highlight and make coherent certain aspects of our experience. (Lakoff e Johnson 1980:156)

Referem também que a metáfora pode criar realidades sociais que nos orientam nas nossas ações futuras:

“Metaphors may create realities for us, especially social realities. A metaphor may thus be a guide for future action. (Lakoff e Johnson 1980:156)

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As novas metáforas, tal como as convencionais, podem definir a realidade, uma vez que evidenciam alguns aspetos da realidade e escondem outros. Vai caber a cada um de nós aceitar uma dada metáfora como verdadeira, tendo em conta a nossa experiência.

No entanto, o que costuma estar em causa não é a verdade ou falsidade de uma metáfora, mas sim as percepções que surgem a partir dela, assim como as ações que com ela se relacionam.

A grande maioria de metáforas integra os nossos modelos culturais há muito tempo, mas existem novas metáforas impostas por indivíduos no poder, a saber: líderes políticos, líderes religiosos, ou pelos meios de comunicação, como a publicidade, os meios de telecomunicações, etc. Numa cultura em que a verdade tende a ser considerada absoluta (objetivismo), as metáforas dos poderosos acabam por definir o que pode ser visto como verdade – verdade absoluta e objetiva.

Since we see truth as based on understanding and see metaphor as a principle vehicle of understanding, we think that an account of how metaphors can be true will reveal the truth depends upon understanding. (Lakoff e Johnson 1980:160)

Todas as nossas ações diárias, físicas e sociais, acontecem de acordo com aquilo que consideramos ser verdade, sendo que é isto que permite o nosso funcionamento no mundo. Algumas das verdades chegam a ser tão óbvias que é difícil temos consciência da sua existência: onde fica a bomba de gasolina mais próxima, como são os teus amigos,

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quais são as tuas responsabilidades, quem é a tua família. Com estes exemplos é possível perceber a vasta quantidade de verdades que estão presentes nas nossas vidas.

Para uma maior compreensão, as coisas e experiências que encontramos devem ser categorizadas, de uma forma que faz sentido para nós. Algumas dessas categorias irão surgir diretamente das nossas experiências enquanto pessoas, a nossa forma de interação com os outros e com os ambientes circundantes. Relembrando o exemplo dado anteriormente sobre a ARMA FALSA, vemos que existem dimensões naturais na caracterização de objetos:

- Perceção: relacionada com a conceção do objeto através do aparelho sensorial. - Atividade motora: relacionada com as ações motoras realizadas com o objeto. - Funcional: relacionada com aquilo que concebemos ser a função do objeto.

- Intencional: relacionada com a utilidade que se pode atribuir ao objeto de acordo com a situação.

Deste modo, a categorização dos objetos processa-se sob a forma de gestalt, tendo por base as dimensões naturais, bem como as propriedades interacionais. Da mesma forma que categorizamos objetos, também categorizamos os eventos, atividades e outros tipos de experiências. Por exemplo DISCUSSÃO terá as seguintes dimensões naturais: participantes, partes, fases, sequência linear, propósito e causa.

A categorização é feita para que possamos identificar, de forma natural, um tipo de objeto ou experiência ao evidenciar certas propriedades, minimizando e escondendo outras. Ao

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nos focarmos em um conjunto de propriedades retiramos automaticamente atenção dos outros. Isto acontece com qualquer descrição que possamos fazer. Por exemplo:

- Convidei uma loira linda para a festa. - Convidei uma médica para a festa. - Convidei uma drogada para a festa.

Apesar da mesma pessoa poder estar relacionada com qualquer uma destas afirmações, cada descrição irá evidenciar um aspeto diferente da pessoa. Ao falarmos de uma pessoa com todas estas características e nos referirmos a ela como “loira linda”, estamos automaticamente a minimizar o facto de ser médica e a esconder o consumo de substâncias psicotrópicas.

Portanto, as nossas afirmações são feitas de acordo com as nossas categorizações e com o que evidenciamos através das dimensões naturais das categorias.

Every true statement, therefore necessarily leaves out what is downplayed or hidden by the categories used in it. (Lakoff e Johnson 1980:163)

Além disso, é importante notar que, uma vez que as dimensões das categorias surgem através da nossa interação com o mundo, as propriedades dadas (propriedades de interação) não pertencem aos objetos, mas sim do nosso sistema percetivo, entre outros. Desta forma, as afirmações feitas através de categorias não nos mostram as propriedades

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exatas dos objetos, mas sim as propriedades de interação que só têm sentido do ponto de vista humano.

Ao fazermos uma afirmação, temos de escolher uma forma de categorização da entidade humana, sendo que, para tal, é necessário pautarmo-nos pela nossa perceção dos factos em contexto comunicativo.

De seguida, serão apresentados alguns exemplos, tendo em vista a demonstração de que as frases não são nem verdadeiras nem falsas, se levarmos em linha de conta o propósito comuniativo. (Lakoff e Johnson 1980:164):

1. França é hexagonal

2. Missouri é um paralelogramo 3. A terra é redonda

4. A Itália tem o formato de uma bota 5. A luz é feita de partículas

6. A luz é feita de ondas

Todas as frases anteriores são verdadeiras em algumas situações ou contextos. Por exemplo, a 1ª e a 2ª frase podem ser consideradas verdadeiras para um estudante que desenhou um mapa sem grande precisão mas não para um cartógrafo. As frases 5 e 6 parecem ser contraditórias, mas ambas podem ser consideradas como verdadeiras pelos físicos, tendo em conta diferentes tipos de experiência com este fenómeno.

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- Um argumento pode ser verdadeiro apenas se existir algum entendimento sobre o mesmo.

- A compreensão envolve sempre a categorização que é uma função de propriedades interacionais e de dimensões que brotam da nossa experiência.

- A verdade de uma afirmação deriva sempre das propriedades que são evidenciadas pela categoria utilizada.

- As categorias não são fixas nem uniformes. Elas são definidas por protótipos e semelhanças familiares aos protótipos e são moldados ao contexto.

Whether a statment is true depends on whether the category employed in the statement fits, and this in turn varies with human purposes and other aspects of context (Lakoff e Johnson 1980:166)

Na base do que foi dito, para que possamos ver uma frase como verdadeira, é necessário que primeiro a compreendamos.

De seguida, vamos analisar a frase “John disparou a arma contra Harry” (John fired the gun at Harry). Primeiramente, temos as questões óbvias: escolher os nomes das pessoas, o objeto que integra a categoria de ARMA, compreender o significado de disparar uma arma, bem como de dispará-la contra alguém. A nossa compreensão em relação às frases anteriores está relacionada a outras categorias de experiência, por exemplo, alvejar alguém, assustar alguém, ou encenar isto numa peça ou filme. Disparar uma arma pode estar relacionado com tudo isto, dependendo do contexto. No entanto, temos poucas

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categorias a que possa estar ligada a experiência de disparar uma arma e a mais comum será DISPARAR CONTRA ALGUÉM (shooting someone), visto que existem outras formas de assustar alguém e apenas uma de disparar contra alguém.

De seguida, será mostrada a análise de DISPARAR CONTRA ALGUÉM, sendo esta considerada uma gestalt experimental, analisável da seguinte forma:

Participantes: John (atirador) Harry (alvo)

A arma (instrumento) A bala (instrumento, míssil) Partes:

Apontar a arma ao alvo Disparar a arma

Acertar no alvo Alvo está ferido

Fases:

Condição prévia: atirador carregou a arma Início: atirador aponta arma ao alvo Meio: atirador dispara

(34)

Fase final: alvo está ferido Causa:

Inícioe meio permitem fim Meio e fim causam fase final

Propósito:

Objetivo: fase final

Plano: encontrar uma condição prévia Efetuar início e meio

Assim, podemos ver que uma frase nunca é entendida por si só, mas pelas dimensões experienciais à qual está associada na nossa cultura.

A frase é entendida pela forma que os gestalts se encaixam, os “pequenos” (ARMA, DISPARAR) e os “grandes” (ATIRAR CONTRA ALGUÉM). Assim sendo, a veracidade de uma frase para um sujeito será um facto quando a nossa perceção sobre a frase se encaixar o suficiente com a nossa compreensão de um evento que já tenha ocorrido.

Após este estudo de caso, vamos passar à análise da ocorrência “A inflação subiu”: - Para entender essa frase como verdadeira, será preciso equacioná-la em dois planos. - É necessário conceber a inflação como uma substância para que possamos quantificar e desta forma aumentar.

(35)

-Temos também de a visionar na base de uma orientação PARA CIMA, a fim de expressar o aumento da mesma.

As duas dimensões referidas fazem parte de duas metáforas convencionais: - A INFLAÇÃO É UMA SUBSTÂNCIA (metáfora ontológica)

- MAIS É PARA CIMA (metáfora orientacional)

Assim sendo, concebemos a inflação, que é abstrata, como uma substância física e o aumento da inflação, também abstrato, como se fosse uma orientação física (para cima). Tanto na situação metafórica como na não metafórica, a nossa compreensão da verdade irá depender da forma como nós compreendemos uma situação.

Given that metaphor is conceptual in nature rather than a matter of “mere language”, it is natural for us to conceptualize situations in metaphorical terms. (Lakoff e Johnson 1980:171)

Portanto, algumas situações estão bem delineadas na nossa experiência e outras não, como as emoções, os conceitos abstratos, o tempo, etc. Isto faz com que não seja possível compreender esses termos sem recorrer a dimensões concretas da experiência, como referido anteriormente, sendo necessário compreendê-los através de outras entidades ou experiências.

(36)

It is because many of our concepts are metaphorical in nature, and because we understand situations in terms of those concepts, that metaphors can be true or false

(37)

1.2. Modelos cognitivos idealizados

Os Modelos cognitivos idealizados, conforme preconizado por Lakoff (1987), podem ser definidos como representações mentais estáveis que representam teorizações acerca do mundo (cf. Evans/Green 2006:270). Segundo aquele autor, existem pelo menos 5 formas de estruturação dos Modelos Cognitivos Idealizados (MCI), a saber: (1) esquemas imagéticos; (2) proposicionais; (3) metafóricas; (4) metonímicas; e (5) e simbólicas.

 Os esquemas imagéticos podem servir, em situações variadas, como base para uma dada estrutura conceptual. Desta estrutura faz parte a noção que o nosso corpo tem sobre o ESPAÇO, ou seja, a noção que temos sobre o nosso corpo, movimentos corporais e até a configuração dos objetos. Sendo assim, as nossas experiências e conceitos sobre ESPAÇO estruturam-se em esquemas imagéticos tais como, o do CONTENTOR, o da PARTE-TODO, o de CIMA-BAIXO, e no caso do presente trabalho, o de EQUÍLIBRIO (jogo equilibrado entre forças e contra forças). Mediante isto, é possível ter a noção de que esquemas imagéticos deste género estruturam o nosso Modelo Cognitivo Idealizado de ESPAÇO.

 Os Modelos Cognitivos Proposicionais surgem através da existência de aspetos da realidade cujas dimensões se encontram interrelacionadas. Citemos como exemplo o que é necessário fazer para reservar uma mesa num dado restaurante ou para encomendar comida para ser entregue em casa.

(38)

domínio-AMOR, ou seja, quando o domínio ou MCI de AMOR surge estruturada metaforicamente como VIAGEM – exemplo mencionado ao longo deste trabalho.  Ao contrário dos MCI Metafóricos, os metonímicos reportam-se apenas a único

domínio conceptual. Este domínio é formado por dois elementos, A e B, sendo que A pode ser “representado por” B. A representação desse modelo pode acontece através dos esquemas de CONTENTOR e ORIGEM-PERCURSO-META.

 Por último, os Modelos Cognitivos Simbólicos representam aquilo a que Fillmore descreveu como frames semânticos. A semelhança entre os frames e os MCI decorre do facto de ambos se referirem a estruturas complexas de conhecimento. Os frames semânticos são compostos por itens lexicais, categorias e construções gramaticais, não podendo ser compreendidos uns sem os outros. Podemos ter em conta que os atos de comprar e vender só fazem sentido por ligação ao frame do EVENTO COMERCIAL. Este tipo de MCI é composto por diversas unidades simbólicas organizadas em frase, pelo que tem características estruturais bastante diferentes dos restantes MCI.

Na ótica dos autores invocados, os MCI podem estar estruturados em conglomerados (“cluster models”), formados por um conjunto de MCI no seio do qual se verifica a existência de alguma convergência a nível conceptual.

(39)

Esta junção de modelos acaba por criar um único modelo, psicologicamente mais complexo:

…psychologically more complex than the models taken individually. (Lakoff 1987:74)

De acordo com Lakoff (1987:74), um dos exemplos mais flagrantes deste conglomerado de modelos cognitivos idealizados é o de mãe, uma vez que, para este autor, este é definido pela junção de diversas situações associadas à maternidade:

- O nascimento: A mãe é a pessoa que dá a luz à criança.

- A genética: A mãe é a pessoa que fornece o material genético para a criança. - O cuidado e afeto: A mãe é quem cuida da criança.

- O casamento: A mãe é a mulher casada com o pai da criança. - A genealogia: A mãe é um ancestral feminino.

Registe-se ainda que um dos MCI será considerado primário, enquanto as outras subcategorias são classificadas como de menor importância.

When the cluster of models that jointly characterize a concept diverge, there is still a strong pull to view one as the most important. (Lakoff 1987: 75).

Será da maior importância sublinhar que as metáforas de sustentabilidade ambiental constituem conglomerados de MCI que se revestem de elevada complexidade

(40)

2. Metáfora e Cultura

A metáfora é vista por muitos como algo que apenas diz respeito aos intelectuais que a usam como modo de embelezamento textual. Conforme foi enunciado anteriormente, a metáfora é, de facto, uma ferramenta conceptual a que se recorre quer na comunicação quotidiana, quer na elaboração de textos dos mais diferentes tipos, quer ainda na cunhagem de terminologia especializada, como iremos observar adiante. Deste modo, a metáfora está subjacente à elaboração dos construtos culturais, como iremos ver.

Como Kövecses evidencia no seu livro Metaphor in Culture, foi necessária uma alteração de paradigma para considerar que a metáfora é parte integrante do sistema conceptual, o que nos remete para o seu papel determinante na construção das dimensões socioculturais. Foram Lakoff e Johnson, na obra Metaphors We Live By (1980), que, de forma sistemática, advogaram que a metáfora é uma ferramenta conceptual e não apenas linguística. À luz do paradigma cognitivo, o pensamento abstrato é delineado por metáfora a partir de domínios concretos da experiência, o que nos permite entender noções abstratas como o tempo, emoções, bem como estruturar princípios que norteiam as nossas formas de comportamento, como os princípios morais, ou mesmos as formas de atuação política.

Não podemos, contudo, esquecer que, segundo Kövecses (2005), que encontramos alguns indícios da visão conceptual da metáfora, na obra de Platão e de Aristóteles, há mais de 2.000 anos.

(41)

2.1 Classificação das Metáforas

Conforme sublinhado por Kövecses, na obra Metaphor: A Pratical Introduction de 2002, foram Lakoff e Johnson que classificaram as metáforas conceptuais em três tipos: metáforas estruturais, orientacionais e ontológicas, que passamos a definir abaixo.

2.1.1 Metáforas Estruturais

Na ótica de Kövecses (2002), na senda dos desenvolvimentos teóricos de Lakoff e Johnson (1980), nas metáforas estruturais, o domínio-fonte constitui uma estrutura de conhecimento na base da qual se estrutura o domínio-alvo, ou seja, o domínio-alvo A é estruturado através do domínio-fonte B (A é B), sendo que a referida estruturação se realiza mediante o estabelecimento de mapeamentos conceptuais entre estes dois domínios. Por exemplo, o conceito de tempo é estruturado à luz de experiências de movimento e de vivências do espaço. Visto que o tempo é concebido enquanto uma metáfora de movimento, entendemos o tempo à luz de algumas entidades do mundo físico, com destaque para a sua localização fixa ou móvel. É importante notar que existe uma condição indispensável para o entendimento de tempo, a saber, o tempo presente está no mesmo local que um observador canónico.

Nesta base, Kövecses (2002) reconhece a existência dos seguintes mapeamentos: Tempos são coisas. (Times are things.)

(42)

Tempos futuros estão à frente do observador; tempos passados estão atrás do observador. (Future times are in front of the observer; past times are behind the observer.)

Algo está em movimento, outro algo está imóvel; o algo imóvel é o centro dêitico.1 (One thing is moving the other is stationary; the stationary thing is the deictic center.)

Este conjunto de mapeamentos estrutura a nossa noção de tempo de forma clara. Em Inglês, a metáfora conceptual TEMPO É MOVIMENTO existe de duas formas: PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DE UM OBJETO e PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DO OBSERVADOR NUM ENQUADRAMENTO CÉNICO. (TIME PASSING IS MOTION OF AN OBJECT AND TIME PASSING IS AN OBSERVER’S MOTION OVER A LANDSCAPE.)

Na primeira metáfora conceptual, o observador está parado, enquanto os tempos são objetos que estão em movimento face ao observador, conforme ilustrado abaixo:

PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DE UM OBJETO (TIME PASSING IS MOTION OF AN OBJECT)

O tempo virá quando… (The time will come when . . .)

O tempo já passou há muito quando… (The time has long since gone when. . .) O tempo de agir chegou. (The time for action has arrived.)

Na segunda, os tempos estão imóveis, enquanto o observador está em movimento em relação ao tempo, conforme patenteado abaixo:

PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DO OBSERVADOR NUM ENQUADRAMENTO CÉNICO (TIME PASSING IS AN OBSERVER’S MOTION OVER A LANDSCAPE)

(43)

Haverá problemas ao longo do caminho. (There’s going to be trouble along the road.) Ele passou o tempo feliz. (He passed the time happily.)

Estamos a chegar ao Natal. (We’re coming up on Christmas.)

Os mapeamentos anteriores evidenciam a razão pela qual cada um destes enunciados tem um certo significado, assim como nos ajudam a compreender a nossa noção de tempo. Sem as representações metafóricas seria difícil ter uma perceção de como seria o nosso conceito de tempo.

Todos os exemplos citados anteriormente corroboram a teoria da metáfora conceptual de Lakoff e Johnson de a metáfora está presente quer na linguagem quotidiana, quer no pensamento, quer ainda nas ações que realizamos;

Our ordinary conceptual system, in terms of which we both think and act, is fundamentally metaphorical in nature. (Lakoff/Johnson, 1980:3)

No entanto, é importante sublinhar que, de uma forma geral, não temos por hábito estarmos cientes do nosso sistema conceptual, ou seja, pensamos e agimos, em larga medida, de forma mais ou menos automática.

Para exemplificar como um conceito pode ser metafórico e como tal conceito estrutura uma atividade diária, Lakoff e Johnson utilizam o conceito DISCUSSÃO (ARGUMENT), explicando-o à luz da metáfora conceptual DISCUSSÃO É GUERRA, na base dos seguintes exemplos:

(44)

As tuas alegações são indefensáveis. (Your claims are indefensible).

Ele atacou todos os pontos fracos da minha argumentação. (He attacked every weak point in my argument).

Nunca ganhei uma discussão com ele. (I've never won an argument with him.)

É possível verificar que, à luz da metáfora acima referida, podemos ganhar ou perder discussões. No contexto de uma discussão, vemos a pessoa com quem discutimos como um oponente, sendo que utilizamos os meios necessários para nos defendermos. É neste sentido que a metáfora DISCUSSÃO É GUERRA é dos pilares da nossa cultura, visto que confere uma estruturação às nossas ações durante uma discussão.

Podemos, contudo, imaginar um paradigma cultural em que a discussão é vista como uma dança. Tal significaria que a discussão seria vivida e encarada de outra forma.

Este é um exemplo elucidativo do que significa afirmarmos que um conceito metafórico estruturar o nosso entendimento e comportamento quando estamos a ter uma discussão:

The essence of metaphor is understanding and experiencing one kind of thing in terms of another. (Lakoff e Johnson (1980:4)

Assim sendo, temos de recorrer à metáfora para conceptualizarmos aspetos não concretos da nossa experiência humana:

(45)

The metaphor is not merely in the words we use—it is in our very concept of an argument. The language of argument is not poetic, fanciful, or rhetorical; it is literal. We talk about arguments that way because we conceive of them that way—and we act according to the way we conceive of things. (Lakoff e Johnson (1980:4)

Mais um exemplo de como as metáforas estruturais nos podem mostrar a natureza metafórica dos conceitos que estruturam as nossas atividades diárias, como é o caso de TIME IS MONEY (TEMPO É DINHEIRO), exemplificado de forma idêntica em ocorrências em português e inglês:

Estás a desperdiçar o meu tempo. (You're wasting my time.)

O pneu furado custou-me uma hora. (That flat tire cost me an hour.) Investi muito tempo nela. (I've invested a lot of time in her.)

Não tenho tempo suficiente para gastar com isso. (I don't have enough time to spare for that.)

O teu tempo está a acabar. (You're running out of time.)

À luz do nosso paradigma cultural, o tempo é um valor precioso, sendo que foi associado ao dinheiro, desde que as horas que trabalhamos foram devidamente quantificadas em valor monetário – TIME IS MONEY.

(46)

2.1.2 Metáforas Ontológicas

Segundo Kövecses (2002), em comparação às metáforas orientacionais, nas metáforas ontológicas, o domínio-fonte não fornece, de forma cabal, a estrutura cognitiva do domínio-alvo. O seu trabalho cognitivo orienta-se para o estabelecimento de dimensões ontológicas para conceitos abstratos.

As metáforas ontológicas permitem a perceção de uma estrutura de forma mais clara, quando esta é diminuta ou inexistente. Tomemos como exemplo a nossa mente: não a conseguimos identificar, mas podemos idealizá-la como um objeto, para que assim a possamos entender melhor.

Assim sendo, este tipo de metáforas surgem a partir da nossa experiência com objetos físicos e substâncias que nos permitem chegar à sua compreensão. Esse processo de compreensão possibilita a escolha de segmentos da nossa experiência que passam a ser tratadas como entidades discretas ou substâncias uniformes. Quando isto acontece, conseguimos agrupá-las, identificá-las, quantificá-las e, consequentemente, referi-las. Desta forma, a nossa experiência com objetos físicos fornece-nos a base para um vasto conjunto de metáforas ontológicas, que incluem a forma de ver e compreender determinados eventos, atividades, emoções, ideias, como entidades e substâncias. Esta categoria de metáforas pode servir vários propósitos, sendo que, para tal, existem diferentes metáforas, conforme ilustrado Lakoff e Johnson para o conceito de inflação, nos seguintes termos:

(47)

INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE (INFLATION IS AN ENTITY)

A inflação está a baixar o nosso padrão de vida. (Inflation is lowering our standard of living.)

A inflação deixa-me doente (Inflation makes me sick.)

A partir destes exemplos, se demonstra que a inflação é concetualizada como uma entidade, uma vez que é possível referi-la, quantificá-la, identificar certos aspetos característicos e até considerá-la como uma causa.

Este tipo de metáforas é essencial para que tentemos lidar de forma racional com as nossas experiências, conforme abaixo:

Referir

O meu medo de insetos está enlouquecendo a minha mulher. (My fear of insects is driving my wife crazy.)

Quantificar

Vai exigir muita paciência para acabar este livro. (It will take a lot of patience to finish this book.)

Identificar Aspetos

A sua saúde emocional deteriorou-se recentemente. (His emotional health has deteriorated recently.)

Apontar Causas

(48)

No entanto, as metáforas ontológicas podem ser bem mais elaboradas. Os próximos exemplos demonstram o quanto a metáfora ontológica A MENTE É UMA ENTIDADE (THE MIND IS AN ENTITY) está integrada na nossa cultura.

A MENTE É UMA MÁQUINA (THE MIND IS A MACHINE)

A minha mente hoje não está operacional. (My mind just isn't operating today.) Rapaz, agora as rodas estão a rodar. (Boy, the wheels are turning now!)

Estou um pouco ferrugento hoje. (I'm a little rusty today.)

A MENTE É UM OBJETO FRÁGIL (THE MIND IS A BRITTLE OBJECT) O seu ego é muito frágil. (Her ego is very fragile.)

Ela é facilmente esmagada. (She is easily crushed.) Estou a ficar em pedaços. (I'm going to pieces.)

Estes dois grupos de metáforas especificam diferentes tipos de objetos, uma vez que se centram em dimensões experimentais diversas. A metáfora que tem como domínio-fonte a MÁQUINA conceptualiza a nossa mente como se esta pudesse ligar-desligar, ligada a uma fonte de energia, com elevados níveis de eficácia, dado que o seu funcionamento é inspirado nas características de uma máquina. Já a metáfora que tem como domínio-fonte o objeto quebrável, não sendo tão rica, permite-nos apenas perspetivá-la na base da sua resistência psicológica.

(49)

Este tipo de metáforas é tão natural que não são consideradas metáforas. Isto acontece porque estas metáforas, tal como A MENTE É UM OBJETO QUEBRÁVEL (THE MIND IS A BRITTLE OBJECT), são parte integrante do modelo de como a mente é representada na nossa cultura.

Personificação

Em Metaphors We Live By é referido que a personificação constitui a metáfora ontológica mais óbvia. Esta acontece quando um dado objeto é concebido como sendo uma pessoa, ou seja, com características humanas. Estas metáforas de personificação permitem-nos entender inúmeras experiências com entidades não humanas às quais são atribuídas características, atividades e motivações humanas, como por exemplo:

A vida traiu-me. (Life has cheated me.)

A inflação está a comer os nossos lucros. (Inflation is eating up our profits).

A sua religião diz-lhe que não pode beber vinho francês requintado. (His religion tells him that he cannot drink fine French wines.)

A experiência Morley deu origem a uma nova teoria física. (The

Michelson-Morley experiment gave birth to a new physical theory.)

O cancro finalmente venceu-o. (Cancer finally caught up with him.)

(50)

Registe-se que a personificação utiliza um domínio-fonte fulcral – o ser humano. Personificar coisas não humanas ajuda-nos a percebê-las um pouco melhor.

No entanto, é importante notar que a personificação não é um processo uniforme, uma vez que cada processo de personificação difere é, de facto, singular, conforme ilustrado abaixo:

O nosso maior inimigo neste momento é a inflação. (Our biggest enemy right now is

inflation.)

O dólar foi destruído pela inflação. (The dollar has been destroyed by inflation.)

Nas frases anteriores, a palavra inflação encontra-se personificada, mas a metáfora INFLAÇÃO É UMA PESSOA não chega para explicar esta imagem. Trata-se de uma metáfora ontológica muito mais específica – INFLAÇÃO É UM ADVERSÁRIO. Desta forma, as metáforas anteriores não nos remetem para o modo como concebemos a inflação, mas também devemos agir perante este fenómeno.

2.1.3 Metáforas Orientacionais

Para Kövecses (2002) a função cognitiva da metáfora orientacional é fazer com que um determinado conjunto de conceitos-alvo assuma alguma coerência, no seio de um dado sistema conceptual.

(51)

O nome “metáfora orientacional” decorre do facto de a maior parte destas metáforas estarem relacionadas com orientações espaciais humanas, tal como: cima-baixo; dentro-fora; frente-trás; centro-periferia, entre outras.

O autor defende que seria mais apropriado chamá-las de “metáfora da coerência”, tendo em conta que estaria mais relacionado com a função cognitiva que estas metáforas exercem. Desta forma, a coerência significa que certos conceitos-alvo tendem a estar conceptualizados de forma uniforme.

Vejamos os exemplos seguintes, em que os conceitos que são caracterizados com uma “orientação para cima”, têm como oposto os que denotam uma “orientação para baixo”. MAIS É PARA CIMA; MENOS É PARA BAIXO (MORE IS UP; LESS IS DOWN)

Fala mais alto, por favor. (Speak up, please.)

Mantêm o tom mais baixo, por favor. (Keep your voice down, please.)

CONTROLO É PARA CIMA; FALTA DE CONTROLO É PARA BAIXO (CONTROL IS UP; LACK OF CONTROL IS DOWN)

Estou em cima da situação. (I’m on top of the situation.) Ele está sob o meu controlo. (He is under my control.)

As orientações para cima tendem a estar relacionadas com representações positivas, enquanto as de orientação para baixo se associal a representações negativas. No entanto, a avaliação positiva ou negativa não se limita apenas à orientação espacial em cima ou em baixo. Tomemos como exemplo os esquemas imagéticos de todo, de centro, de ligação, de

(52)

ao passo que as suas contrapartes, a saber, a parte, a periferia, a não ligação, o desequilíbrio e atrás, são conceptualizados como negativos.

Considera-se que as metáforas orientacionais variam de cultura para cultura, tal como “FELICIDADE É PARA CIMA”, “hoje sinto-me nas nuvens”. Essa expressão poderá não ter o mesmo significado ou até ser verosímil em determinados enquadramentos culturais. Em seguida, passamos a referir análise feita por William Nagy (1974) sobre metáforas cima-baixo. Segundo Lakoff e Johnson (1980) sobre como cada conceito poderá ter surgido:

FELICIDADE É PARA CIMA; TRISTEZA É PARA BAIXO (HAPPY IS UP; SAD IS DOWN)

Estou feliz. Estás com o espírito em alta. Pensar nela sempre me anima. (I’m feeling up. You’re in high spirits. Thinking about her always gives me a lift.)

Estou em baixo. Estou deprimida. Ele realmente está muito em baixo estes dias. (I’m feeling down. I’m depressed. He’s really low these days. )

Fundamento físico: A nossa postura corporal varia normalmente de acordo com o nosso

estado de espírito – postura curvada em caso de tristeza ou depressão e postura ereta quando estamos num estado emocional positivo.

CONSCIENTE É PARA CIMA; INCONSCIENTE É PARA BAIXO (CONSCIOUS IS UP; UNCONSCIOUS IS DOWN)

(53)

Levanta-te. Já me levantei. Ele levanta-se cedo. (Get up. I’m up already. He rises early in the morning.)

Ele estava a cair de sono. Ele está sob hipnose. (He dropped of to sleep. He's under hypnosis.)

Fundamento físico: A maior parte dos mamíferos, incluindo os seres humanos, dormem

deitados e estão em pé quando estão acordados.

SAÚDE E VIDA SÃO PARA CIMA; DOENÇA E MORTE SÃO PARA BAIXO (HEALTH AND LIFE ARE UP; SICKNESS AND DEATH ARE DOWN)

Ele está no auge da sua saúde. Lazarus se ergueu dos mortos. (He’s at the peak of health. Lazarus rose from the dead.)

Ele está a afundar-se depressa. A sua saúde está em declínio. Ele caiu morto. (He's

sinking fast. His health is declining. He dropped dead.)

Fundamento físico: As doenças graves obrigam-nos a ficarmos na posição horizontal,

sendo que o declínio físico é conceptualizado como um movimento para baixo.

ESTATUTO ALTO É PARA CIMA; ESTATUTO BAIXO É PARA BAIXO (HIGH STATUS IS UP; LOW STATUS IS DOWN)

(54)

Ela vai subir ao topo. Ele está no auge da sua carreira. Ele está subindo o escadote. (She'll

rise to the top. He's at the peak of his career. He's climbing the ladder.)

Ele está no fundo da hierarquia social. He's at the bottom of the social hierarchy..

Fundamento físico e social: o estatuto está relacionado com o poder social, sendo que a

forma de representação do poder é para cima.

As metáforas orientacionais são definidas de acordo com a experiência física e cultural de uma dada sociedade num determinado período de tempo.

A partir destes exemplos os autores chegam a algumas conclusões:

- A maior parte dos nossos conceitos fundamentais são organizados a partir de uma ou mais metáforas orientacionais.

- Estas metáforas são definidas através de um sistema interno.

- Existe também uma sistematicidade externa entre as diversas metáforas orientacionais, o que permite uma certa coerência entre elas. Por exemplo, a metáfora GOOD IS UP fornece a orientação “para cima” a todas relacionadas com o bem-estar, tornando-se coerente com as seguintes metáforas: FELIZ É PRA CIMA, SAÚDE É PARA CIMA, VIVO É PARA CIMA (HAPPY IS UP, HEALTH IS UP e ALIVE IS UP.)

Após referir os tipos de metáforas que podem ser encontradas e que derivam do nosso pensamento, assim como de influências externas, conseguimos ter uma perceção de que

(55)

as dimensões da cultura podem influenciar decisivamente o modo como representamos as nossas experiências físicas e mentais.

(56)

3. Metáfora e a Ciência

No presente capítulo será abordada a relação existente entre a metáfora e ciência, ou seja, como a terminologia científica emergiu em contexto científico. Para tal, é necessário refletirmos sobre o que se entende por ciência, na atualidade.

Registe-se que o conceito de ciência tem mudado ao longo do tempo, visto que as ciências contemporâneas configuram uma ligação estreita com as dimensões sociais.

Numa breve análise sobre o objetivo da ciência, Coracini (1991:27) afirma que esta tem como intuito a construção do conhecimento humano através da sistematização e organização de factos que se entrelaçam. A autora refere:

Captar essas informações é tarefa do cientista que inserido num determinado contexto histórico-social, partilha com outros cientistas a crença num paradigma, em normas prescritivas que lhe permitem “ver” desta ou daquela maneira os factos, os seres, os fenómenos naturais.

Nesta mesma linha, desenvolveu-se a concepção teórica de que as ciências exatas se opunham no que se refere ao seu carácter preciso às ciências humanas. Esta clivagem entre as ciências exatas e as ciências humanas é posta em causa por Possenti (2002: 247) põe em causa um antigo dogma científico de que “a linguagem das ciências exatas é mais precisa e objetiva, enquanto nas ciências humanas a linguagem é cheia de imprecisões e vaguidade”. Pode partir-se do princípio de que, neste caso, existe uma

(57)

linguagem com maior grau de cientificidade do que outra? Mesmo que muitos termos metafóricos, usados nos domínios científicos, tenham sido cunhados por especialistas? O referido autor posiciona-se criticamente no que respeita a este assunto:

O que isto pode significar? Que as palavras dos físicos são transparentes e unívocas e as usadas pelos historiadores são opacas e polissémicas? Esta seria uma visão simplista. Até porque as palavras que ocorrem em ambos os discursos podem ser as mesmas (op. cit. p.248)

Nesta linha, Ahmad (2006) menciona a vasta utilização das metáforas linguísticas, tanto na área das ciências como na escrita de uma forma geral. Explica também que a linguagem é utilizada pelos cientistas para a construção de experiências e teorias, visando a satisfação de curiosidade dos sujeitos. Esta utilização da linguagem é feita de forma literal ou metafórica, onde as palavras podem ser tomadas de empréstimo ou criadas de novo, ou seja, inventadas, conforme assinalado pelo autor:

Scientists literally and metaphorically create a world of make-believe through web of words – some borrowed, some invented, endorsing self-belief here and suppressing the beliefs of others there. (Ahmad 2006: 198)

(58)

The extension of genetics to eugenics owed much of its popularity in the United States and in Germany to its use of culturally resonant metaphors. Labeling people as a burden, cancerous disease, or a foreign body conveyed the ‘threat’ to society in terms that people could relate to in their respective historical and cultural settings. (2003:52)

No ponto de vista de Hoffman (1985) apud Ahmad (2006:205-206), as metáforas podem ser divididas em três categorias distintas: (a) metáforas para descrever uma nova descoberta; (b) metáforas que servem para a interpretação de teorias e (c) metáforas que explicam e preveem as consequências de conceitos teóricos e medidas experimentais:

(a) Novelty

To suggest

new hypotheses, hypothetical concepts, entities, relations, events, or observations;

new laws or principles, new models or refinements of old ones;

new theories/theoretical systems, or world views;

new research methods or ideas for experiments or hypothesis testing;

new methods for analyzing data To give

Meaning

to new theoretical concepts for unobservable or unobserved events;

(59)

(b) Interpretation

To suggest

choices between alternative hypotheses or theories, (often) choice between more and less fruitful metaphors;

alterations or refinements in theory; To

contrast

theories or theoretical approaches;

(c) Explanation To

provide

scientific explanations in the form of metaphoric redescriptions;

To describe

new phenomena or cause-effect relations.

Tendo em conta a tabela acima, embora não seja o objeto do presente trabalho, consideramos que grande parte das metáforas de sustentabilidade ambiental foram concebidas enquanto metáforas novas para dar significado aos novos conceitos teóricos, como por exemplo o próprio conceito de sustentabilidade ambiental.

De acordo com Ahmad (2006), recorre-se à metáfora enquanto ferramenta criativa quer no âmbito das artes, quer no âmbito das ciências, quer ainda no contexto das linguagens especializadas, conforme tinha sido anteriormente preconizado por Goodman apud Ahmad (2006:218):

Referências

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