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2. Metáfora e Cultura

2.1 Classificação das Metáforas

2.1.1 Metáforas Estruturais

Na ótica de Kövecses (2002), na senda dos desenvolvimentos teóricos de Lakoff e Johnson (1980), nas metáforas estruturais, o domínio-fonte constitui uma estrutura de conhecimento na base da qual se estrutura o domínio-alvo, ou seja, o domínio-alvo A é estruturado através do domínio-fonte B (A é B), sendo que a referida estruturação se realiza mediante o estabelecimento de mapeamentos conceptuais entre estes dois domínios. Por exemplo, o conceito de tempo é estruturado à luz de experiências de movimento e de vivências do espaço. Visto que o tempo é concebido enquanto uma metáfora de movimento, entendemos o tempo à luz de algumas entidades do mundo físico, com destaque para a sua localização fixa ou móvel. É importante notar que existe uma condição indispensável para o entendimento de tempo, a saber, o tempo presente está no mesmo local que um observador canónico.

Nesta base, Kövecses (2002) reconhece a existência dos seguintes mapeamentos: Tempos são coisas. (Times are things.)

Tempos futuros estão à frente do observador; tempos passados estão atrás do observador. (Future times are in front of the observer; past times are behind the observer.)

Algo está em movimento, outro algo está imóvel; o algo imóvel é o centro dêitico.1 (One thing is moving the other is stationary; the stationary thing is the deictic center.)

Este conjunto de mapeamentos estrutura a nossa noção de tempo de forma clara. Em Inglês, a metáfora conceptual TEMPO É MOVIMENTO existe de duas formas: PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DE UM OBJETO e PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DO OBSERVADOR NUM ENQUADRAMENTO CÉNICO. (TIME PASSING IS MOTION OF AN OBJECT AND TIME PASSING IS AN OBSERVER’S MOTION OVER A LANDSCAPE.)

Na primeira metáfora conceptual, o observador está parado, enquanto os tempos são objetos que estão em movimento face ao observador, conforme ilustrado abaixo:

PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DE UM OBJETO (TIME PASSING IS MOTION OF AN OBJECT)

O tempo virá quando… (The time will come when . . .)

O tempo já passou há muito quando… (The time has long since gone when. . .) O tempo de agir chegou. (The time for action has arrived.)

Na segunda, os tempos estão imóveis, enquanto o observador está em movimento em relação ao tempo, conforme patenteado abaixo:

PASSAGEM DO TEMPO É O MOVIMENTO DO OBSERVADOR NUM ENQUADRAMENTO CÉNICO (TIME PASSING IS AN OBSERVER’S MOTION OVER A LANDSCAPE)

Haverá problemas ao longo do caminho. (There’s going to be trouble along the road.) Ele passou o tempo feliz. (He passed the time happily.)

Estamos a chegar ao Natal. (We’re coming up on Christmas.)

Os mapeamentos anteriores evidenciam a razão pela qual cada um destes enunciados tem um certo significado, assim como nos ajudam a compreender a nossa noção de tempo. Sem as representações metafóricas seria difícil ter uma perceção de como seria o nosso conceito de tempo.

Todos os exemplos citados anteriormente corroboram a teoria da metáfora conceptual de Lakoff e Johnson de a metáfora está presente quer na linguagem quotidiana, quer no pensamento, quer ainda nas ações que realizamos;

Our ordinary conceptual system, in terms of which we both think and act, is fundamentally metaphorical in nature. (Lakoff/Johnson, 1980:3)

No entanto, é importante sublinhar que, de uma forma geral, não temos por hábito estarmos cientes do nosso sistema conceptual, ou seja, pensamos e agimos, em larga medida, de forma mais ou menos automática.

Para exemplificar como um conceito pode ser metafórico e como tal conceito estrutura uma atividade diária, Lakoff e Johnson utilizam o conceito DISCUSSÃO (ARGUMENT), explicando-o à luz da metáfora conceptual DISCUSSÃO É GUERRA, na base dos seguintes exemplos:

As tuas alegações são indefensáveis. (Your claims are indefensible).

Ele atacou todos os pontos fracos da minha argumentação. (He attacked every weak point in my argument).

Nunca ganhei uma discussão com ele. (I've never won an argument with him.)

É possível verificar que, à luz da metáfora acima referida, podemos ganhar ou perder discussões. No contexto de uma discussão, vemos a pessoa com quem discutimos como um oponente, sendo que utilizamos os meios necessários para nos defendermos. É neste sentido que a metáfora DISCUSSÃO É GUERRA é dos pilares da nossa cultura, visto que confere uma estruturação às nossas ações durante uma discussão.

Podemos, contudo, imaginar um paradigma cultural em que a discussão é vista como uma dança. Tal significaria que a discussão seria vivida e encarada de outra forma.

Este é um exemplo elucidativo do que significa afirmarmos que um conceito metafórico estruturar o nosso entendimento e comportamento quando estamos a ter uma discussão:

The essence of metaphor is understanding and experiencing one kind of thing in terms of another. (Lakoff e Johnson (1980:4)

Assim sendo, temos de recorrer à metáfora para conceptualizarmos aspetos não concretos da nossa experiência humana:

The metaphor is not merely in the words we use—it is in our very concept of an argument. The language of argument is not poetic, fanciful, or rhetorical; it is literal. We talk about arguments that way because we conceive of them that way—and we act according to the way we conceive of things. (Lakoff e Johnson (1980:4)

Mais um exemplo de como as metáforas estruturais nos podem mostrar a natureza metafórica dos conceitos que estruturam as nossas atividades diárias, como é o caso de TIME IS MONEY (TEMPO É DINHEIRO), exemplificado de forma idêntica em ocorrências em português e inglês:

Estás a desperdiçar o meu tempo. (You're wasting my time.)

O pneu furado custou-me uma hora. (That flat tire cost me an hour.) Investi muito tempo nela. (I've invested a lot of time in her.)

Não tenho tempo suficiente para gastar com isso. (I don't have enough time to spare for that.)

O teu tempo está a acabar. (You're running out of time.)

À luz do nosso paradigma cultural, o tempo é um valor precioso, sendo que foi associado ao dinheiro, desde que as horas que trabalhamos foram devidamente quantificadas em valor monetário – TIME IS MONEY.

2.1.2 Metáforas Ontológicas

Segundo Kövecses (2002), em comparação às metáforas orientacionais, nas metáforas ontológicas, o domínio-fonte não fornece, de forma cabal, a estrutura cognitiva do domínio-alvo. O seu trabalho cognitivo orienta-se para o estabelecimento de dimensões ontológicas para conceitos abstratos.

As metáforas ontológicas permitem a perceção de uma estrutura de forma mais clara, quando esta é diminuta ou inexistente. Tomemos como exemplo a nossa mente: não a conseguimos identificar, mas podemos idealizá-la como um objeto, para que assim a possamos entender melhor.

Assim sendo, este tipo de metáforas surgem a partir da nossa experiência com objetos físicos e substâncias que nos permitem chegar à sua compreensão. Esse processo de compreensão possibilita a escolha de segmentos da nossa experiência que passam a ser tratadas como entidades discretas ou substâncias uniformes. Quando isto acontece, conseguimos agrupá-las, identificá-las, quantificá-las e, consequentemente, referi-las. Desta forma, a nossa experiência com objetos físicos fornece-nos a base para um vasto conjunto de metáforas ontológicas, que incluem a forma de ver e compreender determinados eventos, atividades, emoções, ideias, como entidades e substâncias. Esta categoria de metáforas pode servir vários propósitos, sendo que, para tal, existem diferentes metáforas, conforme ilustrado Lakoff e Johnson para o conceito de inflação, nos seguintes termos:

INFLAÇÃO É UMA ENTIDADE (INFLATION IS AN ENTITY)

A inflação está a baixar o nosso padrão de vida. (Inflation is lowering our standard of living.)

A inflação deixa-me doente (Inflation makes me sick.)

A partir destes exemplos, se demonstra que a inflação é concetualizada como uma entidade, uma vez que é possível referi-la, quantificá-la, identificar certos aspetos característicos e até considerá-la como uma causa.

Este tipo de metáforas é essencial para que tentemos lidar de forma racional com as nossas experiências, conforme abaixo:

Referir

O meu medo de insetos está enlouquecendo a minha mulher. (My fear of insects is driving my wife crazy.)

Quantificar

Vai exigir muita paciência para acabar este livro. (It will take a lot of patience to finish this book.)

Identificar Aspetos

A sua saúde emocional deteriorou-se recentemente. (His emotional health has deteriorated recently.)

Apontar Causas

No entanto, as metáforas ontológicas podem ser bem mais elaboradas. Os próximos exemplos demonstram o quanto a metáfora ontológica A MENTE É UMA ENTIDADE (THE MIND IS AN ENTITY) está integrada na nossa cultura.

A MENTE É UMA MÁQUINA (THE MIND IS A MACHINE)

A minha mente hoje não está operacional. (My mind just isn't operating today.) Rapaz, agora as rodas estão a rodar. (Boy, the wheels are turning now!)

Estou um pouco ferrugento hoje. (I'm a little rusty today.)

A MENTE É UM OBJETO FRÁGIL (THE MIND IS A BRITTLE OBJECT) O seu ego é muito frágil. (Her ego is very fragile.)

Ela é facilmente esmagada. (She is easily crushed.) Estou a ficar em pedaços. (I'm going to pieces.)

Estes dois grupos de metáforas especificam diferentes tipos de objetos, uma vez que se centram em dimensões experimentais diversas. A metáfora que tem como domínio-fonte a MÁQUINA conceptualiza a nossa mente como se esta pudesse ligar-desligar, ligada a uma fonte de energia, com elevados níveis de eficácia, dado que o seu funcionamento é inspirado nas características de uma máquina. Já a metáfora que tem como domínio-fonte o objeto quebrável, não sendo tão rica, permite-nos apenas perspetivá-la na base da sua resistência psicológica.

Este tipo de metáforas é tão natural que não são consideradas metáforas. Isto acontece porque estas metáforas, tal como A MENTE É UM OBJETO QUEBRÁVEL (THE MIND IS A BRITTLE OBJECT), são parte integrante do modelo de como a mente é representada na nossa cultura.

Personificação

Em Metaphors We Live By é referido que a personificação constitui a metáfora ontológica mais óbvia. Esta acontece quando um dado objeto é concebido como sendo uma pessoa, ou seja, com características humanas. Estas metáforas de personificação permitem-nos entender inúmeras experiências com entidades não humanas às quais são atribuídas características, atividades e motivações humanas, como por exemplo:

A vida traiu-me. (Life has cheated me.)

A inflação está a comer os nossos lucros. (Inflation is eating up our profits).

A sua religião diz-lhe que não pode beber vinho francês requintado. (His religion tells him that he cannot drink fine French wines.)

A experiência Michelson-Morley deu origem a uma nova teoria física. (The Michelson-

Morley experiment gave birth to a new physical theory.)

O cancro finalmente venceu-o. (Cancer finally caught up with him.)

Registe-se que a personificação utiliza um domínio-fonte fulcral – o ser humano. Personificar coisas não humanas ajuda-nos a percebê-las um pouco melhor.

No entanto, é importante notar que a personificação não é um processo uniforme, uma vez que cada processo de personificação difere é, de facto, singular, conforme ilustrado abaixo:

O nosso maior inimigo neste momento é a inflação. (Our biggest enemy right now is

inflation.)

O dólar foi destruído pela inflação. (The dollar has been destroyed by inflation.)

Nas frases anteriores, a palavra inflação encontra-se personificada, mas a metáfora INFLAÇÃO É UMA PESSOA não chega para explicar esta imagem. Trata-se de uma metáfora ontológica muito mais específica – INFLAÇÃO É UM ADVERSÁRIO. Desta forma, as metáforas anteriores não nos remetem para o modo como concebemos a inflação, mas também devemos agir perante este fenómeno.

2.1.3 Metáforas Orientacionais

Para Kövecses (2002) a função cognitiva da metáfora orientacional é fazer com que um determinado conjunto de conceitos-alvo assuma alguma coerência, no seio de um dado sistema conceptual.

O nome “metáfora orientacional” decorre do facto de a maior parte destas metáforas estarem relacionadas com orientações espaciais humanas, tal como: cima-baixo; dentro- fora; frente-trás; centro-periferia, entre outras.

O autor defende que seria mais apropriado chamá-las de “metáfora da coerência”, tendo em conta que estaria mais relacionado com a função cognitiva que estas metáforas exercem. Desta forma, a coerência significa que certos conceitos-alvo tendem a estar conceptualizados de forma uniforme.

Vejamos os exemplos seguintes, em que os conceitos que são caracterizados com uma “orientação para cima”, têm como oposto os que denotam uma “orientação para baixo”. MAIS É PARA CIMA; MENOS É PARA BAIXO (MORE IS UP; LESS IS DOWN)

Fala mais alto, por favor. (Speak up, please.)

Mantêm o tom mais baixo, por favor. (Keep your voice down, please.)

CONTROLO É PARA CIMA; FALTA DE CONTROLO É PARA BAIXO (CONTROL IS UP; LACK OF CONTROL IS DOWN)

Estou em cima da situação. (I’m on top of the situation.) Ele está sob o meu controlo. (He is under my control.)

As orientações para cima tendem a estar relacionadas com representações positivas, enquanto as de orientação para baixo se associal a representações negativas. No entanto, a avaliação positiva ou negativa não se limita apenas à orientação espacial em cima ou em baixo. Tomemos como exemplo os esquemas imagéticos de todo, de centro, de ligação, de

ao passo que as suas contrapartes, a saber, a parte, a periferia, a não ligação, o desequilíbrio e atrás, são conceptualizados como negativos.

Considera-se que as metáforas orientacionais variam de cultura para cultura, tal como “FELICIDADE É PARA CIMA”, “hoje sinto-me nas nuvens”. Essa expressão poderá não ter o mesmo significado ou até ser verosímil em determinados enquadramentos culturais. Em seguida, passamos a referir análise feita por William Nagy (1974) sobre metáforas cima-baixo. Segundo Lakoff e Johnson (1980) sobre como cada conceito poderá ter surgido:

FELICIDADE É PARA CIMA; TRISTEZA É PARA BAIXO (HAPPY IS UP; SAD IS DOWN)

Estou feliz. Estás com o espírito em alta. Pensar nela sempre me anima. (I’m feeling up. You’re in high spirits. Thinking about her always gives me a lift.)

Estou em baixo. Estou deprimida. Ele realmente está muito em baixo estes dias. (I’m feeling down. I’m depressed. He’s really low these days. )

Fundamento físico: A nossa postura corporal varia normalmente de acordo com o nosso

estado de espírito – postura curvada em caso de tristeza ou depressão e postura ereta quando estamos num estado emocional positivo.

CONSCIENTE É PARA CIMA; INCONSCIENTE É PARA BAIXO (CONSCIOUS IS UP; UNCONSCIOUS IS DOWN)

Levanta-te. Já me levantei. Ele levanta-se cedo. (Get up. I’m up already. He rises early in the morning.)

Ele estava a cair de sono. Ele está sob hipnose. (He dropped of to sleep. He's under hypnosis.)

Fundamento físico: A maior parte dos mamíferos, incluindo os seres humanos, dormem

deitados e estão em pé quando estão acordados.

SAÚDE E VIDA SÃO PARA CIMA; DOENÇA E MORTE SÃO PARA BAIXO (HEALTH AND LIFE ARE UP; SICKNESS AND DEATH ARE DOWN)

Ele está no auge da sua saúde. Lazarus se ergueu dos mortos. (He’s at the peak of health. Lazarus rose from the dead.)

Ele está a afundar-se depressa. A sua saúde está em declínio. Ele caiu morto. (He's

sinking fast. His health is declining. He dropped dead.)

Fundamento físico: As doenças graves obrigam-nos a ficarmos na posição horizontal,

sendo que o declínio físico é conceptualizado como um movimento para baixo.

ESTATUTO ALTO É PARA CIMA; ESTATUTO BAIXO É PARA BAIXO (HIGH STATUS IS UP; LOW STATUS IS DOWN)

Ela vai subir ao topo. Ele está no auge da sua carreira. Ele está subindo o escadote. (She'll

rise to the top. He's at the peak of his career. He's climbing the ladder.)

Ele está no fundo da hierarquia social. He's at the bottom of the social hierarchy..

Fundamento físico e social: o estatuto está relacionado com o poder social, sendo que a

forma de representação do poder é para cima.

As metáforas orientacionais são definidas de acordo com a experiência física e cultural de uma dada sociedade num determinado período de tempo.

A partir destes exemplos os autores chegam a algumas conclusões:

- A maior parte dos nossos conceitos fundamentais são organizados a partir de uma ou mais metáforas orientacionais.

- Estas metáforas são definidas através de um sistema interno.

- Existe também uma sistematicidade externa entre as diversas metáforas orientacionais, o que permite uma certa coerência entre elas. Por exemplo, a metáfora GOOD IS UP fornece a orientação “para cima” a todas relacionadas com o bem-estar, tornando-se coerente com as seguintes metáforas: FELIZ É PRA CIMA, SAÚDE É PARA CIMA, VIVO É PARA CIMA (HAPPY IS UP, HEALTH IS UP e ALIVE IS UP.)

Após referir os tipos de metáforas que podem ser encontradas e que derivam do nosso pensamento, assim como de influências externas, conseguimos ter uma perceção de que

as dimensões da cultura podem influenciar decisivamente o modo como representamos as nossas experiências físicas e mentais.

3. Metáfora e a Ciência

No presente capítulo será abordada a relação existente entre a metáfora e ciência, ou seja, como a terminologia científica emergiu em contexto científico. Para tal, é necessário refletirmos sobre o que se entende por ciência, na atualidade.

Registe-se que o conceito de ciência tem mudado ao longo do tempo, visto que as ciências contemporâneas configuram uma ligação estreita com as dimensões sociais.

Numa breve análise sobre o objetivo da ciência, Coracini (1991:27) afirma que esta tem como intuito a construção do conhecimento humano através da sistematização e organização de factos que se entrelaçam. A autora refere:

Captar essas informações é tarefa do cientista que inserido num determinado contexto histórico-social, partilha com outros cientistas a crença num paradigma, em normas prescritivas que lhe permitem “ver” desta ou daquela maneira os factos, os seres, os fenómenos naturais.

Nesta mesma linha, desenvolveu-se a concepção teórica de que as ciências exatas se opunham no que se refere ao seu carácter preciso às ciências humanas. Esta clivagem entre as ciências exatas e as ciências humanas é posta em causa por Possenti (2002: 247) põe em causa um antigo dogma científico de que “a linguagem das ciências exatas é mais precisa e objetiva, enquanto nas ciências humanas a linguagem é cheia de imprecisões e vaguidade”. Pode partir-se do princípio de que, neste caso, existe uma

linguagem com maior grau de cientificidade do que outra? Mesmo que muitos termos metafóricos, usados nos domínios científicos, tenham sido cunhados por especialistas? O referido autor posiciona-se criticamente no que respeita a este assunto:

O que isto pode significar? Que as palavras dos físicos são transparentes e unívocas e as usadas pelos historiadores são opacas e polissémicas? Esta seria uma visão simplista. Até porque as palavras que ocorrem em ambos os discursos podem ser as mesmas (op. cit. p.248)

Nesta linha, Ahmad (2006) menciona a vasta utilização das metáforas linguísticas, tanto na área das ciências como na escrita de uma forma geral. Explica também que a linguagem é utilizada pelos cientistas para a construção de experiências e teorias, visando a satisfação de curiosidade dos sujeitos. Esta utilização da linguagem é feita de forma literal ou metafórica, onde as palavras podem ser tomadas de empréstimo ou criadas de novo, ou seja, inventadas, conforme assinalado pelo autor:

Scientists literally and metaphorically create a world of make-believe through web of words – some borrowed, some invented, endorsing self-belief here and suppressing the beliefs of others there. (Ahmad 2006: 198)

The extension of genetics to eugenics owed much of its popularity in the United States and in Germany to its use of culturally resonant metaphors. Labeling people as a burden, cancerous disease, or a foreign body conveyed the ‘threat’ to society in terms that people could relate to in their respective historical and cultural settings. (2003:52)

No ponto de vista de Hoffman (1985) apud Ahmad (2006:205-206), as metáforas podem ser divididas em três categorias distintas: (a) metáforas para descrever uma nova descoberta; (b) metáforas que servem para a interpretação de teorias e (c) metáforas que explicam e preveem as consequências de conceitos teóricos e medidas experimentais:

(a) Novelty

To suggest

new hypotheses, hypothetical concepts, entities, relations, events, or observations;

new laws or principles, new models or refinements of old ones;

new theories/theoretical systems, or world views;

new research methods or ideas for experiments or hypothesis testing;

new methods for analyzing data To give

Meaning

to new theoretical concepts for unobservable or unobserved events;

(b) Interpretation

To suggest

choices between alternative hypotheses or theories, (often) choice between more and less fruitful metaphors;

alterations or refinements in theory; To

contrast

theories or theoretical approaches;

(c) Explanation To

provide

scientific explanations in the form of metaphoric redescriptions;

To describe

new phenomena or cause-effect relations.

Tendo em conta a tabela acima, embora não seja o objeto do presente trabalho, consideramos que grande parte das metáforas de sustentabilidade ambiental foram concebidas enquanto metáforas novas para dar significado aos novos conceitos teóricos, como por exemplo o próprio conceito de sustentabilidade ambiental.

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