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As Metáforas e a Sustentabilidade Ambiental

5. Metáforas de Sustentabilidade Ambiental

5.1 As Metáforas e a Sustentabilidade Ambiental

De entre as metáforas de “feedback”, ou seja, de interface entre as ciências ambientais e a sociedade, serão desconstruídas as três principais, a saber, as de progresso, de competição e de código de barras do ADN. As primeiras duas são metáforas biológicas, a que se recorre para justificar, no plano ideológico, como agimos relativamente ao mundo natural e uns em relação aos outros. A metáfora de progresso reside no crescimento continuado da produção de riqueza, em direção a um objetivo cada vez mais ambicioso sem limites ou barreiras; já a de competição reside na luta pela sobrevivência entre elementos da espécie animal. Conforme identificado pelo próprio autor, ambos os conceitos estão ancorados na metáfora-chave da cultura ocidental “A VIDA COM OBJETIVO É UMA VIAGEM” (Larson, op. cit. p.57):

A Purposeful Life is a Journey. If a purposeful life is a journey, then we are all travellers, the objectives we set in life are destinations and the plans we have for reaching them are our itineraries. Just as we do when we prepare for a real journey, we need to plan carefully to meet our objectives, including ensuring that we have what we need for the journey, such as education, and anticipating problems that we must overcome. We want to make sure that we are on pace and headed in the direction we want, rather than getting lost or being behind schedule.

Contudo, esta metáfora da vida como objetivo de viagem não é universal, segundo Lakoff/Johnson (1999: 63), uma vez que ainda há comunidades que, simplesmente, vivem simplesmente a vida, sem (o constante) estabelecimento de metas a cumprir.

Relativamente ao putativo conceito de competição associada à luta pela sobrevivência entre espécies animais, Larson (2011:84), recorrendo a Lakoff/Johnson (1999:558), procede à sua desmistificação:

In ecological science, for example, the idea of competition became so broad that it included cases were no conflict even occurred. Although animals sometimes limit others´ ability to access a resource, they often simply lead their lives, but their passive use of limited resources may decrease those available for others (which is termed scramble or exploitation, competition).

O problema é que estas metáforas de competição enquanto manifestações da luta desenfreada pela sobrevivência se disseminaram a tal ponto nas nossas sociedades que se tornaram uma profecia que acabou por se materializar.

Contudo, nas últimas duas décadas, foram cunhadas “metáforas de feedback”, que advogam o equilíbrio entre o homem e a natureza. Uma dessas metáforas, a de crescimento sustentável, que se encontra ancorada no esquema imagético do equilíbrio, preconiza a proporcionalidade entre o progresso social e tecnológico, o meio ambiente e a espécie humana. Registe-se que a palavra progress provém do latim progressus, com o significado de movimento físico para a frente. É por este motivo que esta palavra acabou por também significar “avanço científico, cultural e espiritual”, acabando por constituir uma metáfora em rede, ou seja, uma metáfora que se difundiu simultaneamente na sociedade e nos vários domínios da ciência. Embora, não possamos estabelecer claramente como tal aconteceu, reconhece-se que a metáfora em rede evidencia o caráter migratório das metáforas:

(….) as metaphors migrate, they facilitate the transfer of ideas, values and perspectives (…). Wherever they occur, they continue to pull on their associated commonplaces within the web, which include diverse associations and values in additional to technical meaning. (Larson, op. cit.

p.44-45).

A segunda metáfora de base, a da conservação da biodiversidade, também ancorada no esquema imagético do equilíbrio, postula uma paridade de forças entre as diversas espécies de animais e de plantas. A propósito destas duas metáforas, Larson reconhece o seu uso enquanto ferramentas de uso político (2011:27): “As I biologist myself, I will not question their motives, instead assuming that they use these metaphors with the best intention, to make change in the world.”

Este mesmo autor reporta a existência de uma terceira metáfora de base ao conceito de sustentabilidade ambiental, a saber, “código de barras do ADN”. Trata-se de uma nova visão tecnológica de identificação das espécies, não pelas suas características exteriores, mas antes pela determinação do seu ADN. A partir de uma única sequência de ADN foi concebido um aparelho manual de identificação, o codificador de barras biológico, com objetivo de identificar e valorizar a biodiversidade. Neste caso, a referida metáfora científica está ao serviço de avanços científicos, sendo transportada a partir do domínio- fonte do código de barras que identificam os produtos de consumo.

We might instead think of scientists in part as poets, for they are not merely embellishing with their metaphors, but extending meaning into new domains.

Quanto a nós, a diferença entre as três metáforas convencionalizadas pode estabelecer-se do seguinte modo: a cunhagem das conceptualizações de crescimento sustentável decorre da nossa experiência física direta, ou seja, de experiências de equilíbrio no nosso organismo. A segunda metáfora de manutenção da biodiversidade afigura-se mais complexa do que a primeira, uma vez que se reporta ao equilíbrio entre vários organismos vivos, na cadeia ecológica. Já a terceira metáfora reporta-se a um avanço científico ainda em curso, sendo mapeada diretamente a partir do domínio-fonte da produção industrial/cadeia comercial.

Nunca será demais afirmar a importância das metáforas na construção do conceito de sustentabilidade ambiental, sendo que “ just as we need to rethink our personal and societal actions in the interest of sustainability, we need to rethink our metaphors (op.cit.2011:25).

Desta forma se sublinha que quer as mundividências quer os paradigmas científicos são construções humanas, arquitetadas na base de imagens metafóricas. Também no caso do discurso científico, é necessário recorrer a domínios-fonte do concreto para poder configurar novos desenvolvimentos no seio de paradigmas científicos:

Metaphor is a key element in scientific inquiry because it enables us not only to understand one thing in terms of another but also to think of an abstraction in terms of something more concrete and everyday. (Larson, op. cit. p.4).

No que à ciência diz respeito, é importante perceber como as metáforas podem influenciar a nossa vida de forma positiva ou até mesmo negativa. Hoje em dia, os cientistas, para além de disseminarem as informações científicas, interagem mais diretamente com o público nos média, pelo que este acaba por ter um contato de perto com “como” e do “porquê” de certas descobertas científicas, numa fase incipiente da cunhagem da terminologia científica. Assim sendo, as metáforas de sustentabilidade podem não ser suficientemente eficazes para a explicação dos fenómenos, embora possam ser bastante apelativas para o público:

Nunca será demais sublinhar que o nosso mundo precisa é de um equilíbrio entre a vertente humana e a vertente ambiental, em que a sustentabilidade ambiental dos sistemas seja promovida pelos seres humanos. A partir desta noção surge a seguinte questão – serão as metáforas eficazes na defesa intransigente da sustentabilidade ambiental? Larson pensa que sim, uma vez que as metáforas de sustentabilidade consignam novas formas de pensar o mundo na sua vertente ambiental:

The metaphors we adopt today have significant repercussions for our current and future approaches to environmental problems. (Larson, op.cit.p20)

Conforme referimos anteriormente, esses valores sociais e as suas dimensões serão analisados por aquilo que o autor denomina de metáforas de feeedback. Estas reportam-se às metáforas constitutivas das teorias de Boyd, mas são usadas pragmaticamente num contexto científico e social alargado, em larga medida, em face da constante interação entre a evolução científica e a sociedade, frequentemente promovida pelos média.

As metáforas de feedback acabam por ser adotadas pelo público em geral, em face de um uso generalizado, tendo assumido um significado social, cultural e ideológico. As metáforas com esta amplitude têm um enorme impacto na forma como vivemos a vida e como nos relacionamos com o mundo:

Just as we need to rethink our personal and societal actions in the interest of sustainability, we need to rethink our metaphors. (Larson, op.cit.p25)

Estas metáforas são poderosas e ideológicas, visto que nos permitem entender como os seres humanos agem em relação à natureza e uns relativamente aos outros. No entanto, com o passar dos anos, elas precisam de ser ajustadas e repensadas, uma vez que as exigências relativamente à sustentabilidade ambiental são sempre crescentes, em face sobretudo dos impactos dos avanços tecnológicos.

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