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Eficiência energética na reabilitação urbana

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Academic year: 2021

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Instituto de Geografia e Ordenamento do Território

Eficiência Energética na Reabilitação Urbana – Uma proposta de Futuro

em Bucelas e Vila de Rei

Mafalda Sofia Mateus Luís

Relatório de Estágio orientado pelo Prof. Doutor Mário Vale

Mestrado em Gestão do Território e Urbanismo, Especialidade em

Ordenamento do Território e Urbanismo

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Universidade de Lisboa

Instituto de Geografia e Ordenamento do Território

Eficiência Energética na Reabilitação Urbana – Uma proposta de Futuro

em Bucelas e Vila de Rei

Mafalda Sofia Mateus Luís

Relatório de Estágio orientado pelo Prof. Doutor Mário Vale

Júri:

Presidente: Doutora Maria Lucinda Cruz dos Santos Fonseca, Professora

Catedrática do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território da

Universidade de Lisboa

Vogais:

- Doutor Samuel Pedro de Oliveira Niza, Investigador Auxiliar do Instituto

Superior Técnico da Universidade de Lisboa

- Mestre José Manuel dos Reis Correia, Assistente Convidado do Instituto

de Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa

- Mário Adriano Ferreira do Vale, Professor Catedrático do Instituto de

Geografia e Ordenamento do Território da Universidade de Lisboa

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Agradecimentos

Os primeiros agradecimentos são, naturalmente, ao Professor Mário Vale pelo apoio, aconselhamento, disponibilidade e orientação, que contribuíram definitivamente para o progresso e conclusão deste trabalho.

À Professora Isabel André por igual aconselhamento, apoio demonstrado e contributo enriquecedor que teve ao longo do meu percurso académico.

À Arquiteta Manuela Melo, Chefe da Divisão de Planeamento e Reabilitação Urbana (DPRU) da Câmara Municipal de Loures, pelo carinho e apoio com que me recebeu, sem o qual não seria possível levar a cabo o estágio a qua me propus, que se revelou bastante enriquecedor na formação que pretendo seguir.

A todos os técnicos da DPRU, nomeadamente à Elisa Santos, Frederico Pinto, Henrique Henriques, Ana Paula Félix, Ana Paula Almeida, Mafalda Henriques, Helena Araújo, Marta Cardoso e à Zélia Serra, pelo apoio e disponibilidade que demonstraram para comigo ao longo do estágio, que com certeza ficará na minha memória.

Aos responsáveis das instituições locais de Bucelas e Vila de Rei que entrevistei - ao Presidente da Junta de Freguesia de Bucelas, o senhor Élio Matias; ao responsável da RL em Bucelas, o senhor Jorge Crispim; aos responsáveis da AEB e por fim aos corpos diretivos da ARCD de Vila de Rei.

À minha família pelo acompanhamento e paciência que demonstraram ao longo destes meses de trabalho.

Ao João pelo grande apoio e motivação que sempre me deu nas horas mais difíceis.

Na certeza que dediquei todo o meu esforço e empenho á execução deste projeto de estágio, agradeço a todos que o tornaram possível!

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Resumo

As constantes mudanças pelas quais os espaços urbanos têm passado têm contribuído para grandes alterações na estrutura urbana em Portugal. Alterações que têm levado ao declínio dos centros das cidades e ao surgimento de outras centralidades, nas periferias suburbanas. Na tentativa de contrariar este processo de crise dos centros urbanos, devolvendo-lhes o protagonismo que outrora tinham inabalável, a retórica política da UE, do governo central e até mesmo das autarquias tem vindo a centrar-se na necessidade de desenvolver estratégias sustentáveis de combate ao declínio destes territórios, e por sua vez, diminuir as assimetrias acentuadas entre centro e periferia.

Necessidade estratégica que é bem destacada no novo quadro comunitário de apoio, o Portugal 2020. Já que num dos seus programas operacionais, o POSEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, Eixo 1 - Apoio a Transição para uma Economia com Baixas Emissões de Carbono em Todos os Sectores apresenta duas prioridades de investimento na promoção da eficiência energética no sector da habitação e no espaço público. Esta priorização torna clara a intenção de apoiar intervenções em meio urbano, que tenham como premissas a implementação de práticas que salvaguardem a eficiência dos recursos utilizados no objetivo de tornar o espaço urbano mais sustentável e eficiente na sua conceção e manutenção. Contribuindo para o aumento da competitividade da economia nacional com a utilização inteligente de energia e aumento da utilização de energias renováveis tanto no sector público como no setor habitacional, reduzindo a dependência energética externa e indo ao encontro das prioridades europeias de crescimento sustentável.

Uma vez que os problemas urbanos atuais têm vindo a adquirir especial complexidade, exigem-se novas estratégias e abordagens multidisciplinares numa concertação da intervenção pública e privada num objetivo comum. Assim o objeto de investigação do presente relatório de estágio passa por formular uma proposta de intervenção de Reabilitação Urbana no concelho de Loures, concretamente em Bucelas e Vila de Rei, uma das áreas delimitadas no contexto da ERU - Estratégia de Reabilitação Urbana 2016-2026 a ser desenvolvida pelo município. Sendo objetivo que a formulação estratégica para o caso de estudo não seja somente uma intervenção física mas que sirva também como um mecanismo de intervenção social e económica na área, como dinamizadora do mercado de arrendamento e de sectores como a construção, que contribuam para a fixação de população nestes aglomerados.

Conceitos-Chave:

Reabilitação Urbana Eficiência Energética Portugal 2020

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Abstract

The continuous changes that urban spaces have passed have contributed to major changes in the urban structure in Portugal.Changes that have led to the decline of city centers and the emergence of other centralities, in the suburban peripheries.In an attempt to counteract this process of crisis of the urban centers, giving them back the role that had once unshakeable, the political rhetoric of the EU, the central government and even local authorities has been focusing on the need to develop sustainable strategies to combat the decline of these territories, and in turn, reduce the emphasized asymmetry between center and periphery.

Strategic need that is well highlighted in the new Community support framework, the Portugal 2020. As one of its operational programs, the POSEUR - Operational Programme for Sustainability and Efficiency in Resource Use, Axis 1 - Support the Transition to an Economy with Low Carbon in All Sectors has two investment priorities in promoting energy efficiency in the housing sector and in the public space. This prioritization makes clear the intention of supporting interventions in urban áreas, that have the assumptions to implement practices that safeguard the efficiency of the resources used in order to make the most sustainable and efficient urban space in its design and maintenance.Contributing to the increase of the competitiveness of the national economy with the intelligent use of energy and increased use of renewable energy in both of the public and the housing sectors, by reducing the external energy dependence and meeting European priorities for sustainable growth.

Since the current urban problems have been acquiring special complexity, require new strategies and multidisciplinary approaches in concerted action of public and private intervention in a common goal. Thus the research object of this internship report goes to formulate a proposal for a Urban Rehabilitation intervention in the municipality of Loures, specifically Bucelas and Vila de Rei, one of the areas defined in the context of ERU - Urban Renewal Strategy 2016-2026 to be developed by the municipality.It is objective that the strategic formulation for the case study should not be only a physical intervention but also serve as a social and economic intervention mechanism in the area, as a dynamic of the rental market and sectors such as construction, that contribute to the establishment of population in these agglomerates.

Key Concepts:

Urban rehabilitation Energy efficiency

Portugal 2020

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Índice de Trabalho

1. Introdução

1.1. Enquadramento e Relevância Temática……… 19

1.2. Objetivos de Investigação e Questão de Partida……… 21

1.3. Questões Secundárias e Hipóteses……… 22

1.4. Metodologias……… 23

1.5. Organização e Estrutura do Projeto……….. 26

1.6. Instituição de Acolhimento ao Trabalho de Estágio……… 27

2. Enquadramento Conceptual 2.1. Eficiência Energética: Um Novo Caminho………... 30

2.2. Reabilitação Urbana: Evolução……… 34

3. A Temática Urbana na Política Europeia e Nacional 3.1. QREN 2007-2013……… 39

3.2. Politica Atual: Portugal 2020……… 42

3.3. Fundos e Programas de Financiamento dedicados às Temáticas em Estudo……… 52

3.3.1. Regime Excecional de Reabilitação Urbana (RERU)……… 54

3.3.2. Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado (FNRE)………. 55

3.3.3. Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbanas (IFRRU)……… 56

3.3.4. Programa Reabitar para Arrendar………... 57

4. Dinâmicas Demográficas e Urbanísticas em Loures 4.1. Enquadramento Histórico e Geográfico……… 60

4.2. Sistema Urbano e de Acessibilidades………... 62

4.3. Caracterização Demográfica e Socioeconómica de Loures……….. 67

4.4. Caraterização do Parque Habitacional do Concelho……… 77

4.5. Diagnóstico Problemático aos Perímetros Urbanos de Loures……… 82

5. O Planeamento e a Reabilitação Urbana em Loures 5.1. Instrumentos de Gestão Territorial do Município………. 91

(10)

10

5.2. Histórico da Reabilitação Urbana no Município………... 99

5.3. Estratégia para a Reabilitação Urbana 2016-2026……….. 102

6. Caso de Estudo: ARU de Bucelas e Vila de Rei 6.1. A Caraterização da ARU……… 111

6.2. Diagnóstico a Bucelas e Vila de Rei………... 115

6.3. Proposta de Intervenção……….. 126

7. Conclusões 7.1 Discussão de Resultados e Conclusões de Investigação……….. 158

Bibliografia………... 162

Webgrafia……… 165

Legislação Consultada……… 166

Anexos……….. 168

1. Fichas de Projetos Propostos para a ARU de Bucelas e Vila de Rei

2. Benefícios Fiscais para Todas as Intervenção de Reabilitação Urbana no Concelho (Consultar Versão Digital)

3. Entrevistas (Consultar Versão Digital)

4. Mapas de Enquadramento ao Caso de Estudo (Consultar Versão Digital) 5. Mapa do Projeto - Variante de Bucelas (Consultar Versão Digital)

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Índice de Quadros

Quadro 1- Competências da DPRU

Despacho n.º 14190/2015 (nº 2.2 do art. 7º)

Quadro 2- Objetivos Operativos da Política de Cidades – POLIS XXI

MAOTDR, 2008

Quadro 3- Os 3 eixos de atuação do POSEUR

POSEUR, 2014

Quadro 4- Prioridades de Investimento e Objetivos Específicos - Eixo 1 do POSEUR

POSEUR, 2014

Quadro 5- Planos Dedicados á Promoção do Crescimento Sustentável

POSEUR, 2014

Quadro 6- Sectores Prioritários para o PANEE

Acordo de Parceria (2014) - Portugal 2020

Quadro 7- Prioridades de Apoio na Transição da Economia em Matéria de Diminuição

do Teor de Carbono Lisboa 2020, 2014

Quadro 8- Eixo 2 da Estratégia Cidades Sustentáveis 2020

CS, 2015

Quadro 9- Dotações Previstas em Instrumento Financeiro

MAOTE, 2015

Quadro 10- Caracterização das Três Unidades Territoriais de Loures

PDM-CML, 2015

Quadro 11 – População Residente

CML – INE/CAOP 2013

Quadro 12- Escalões Etários da População

CML – INE/CAOP 2013

Quadro 13- Índice de Envelhecimento

CML – INE/CAOP 2013

Quadro 14- Nível de Escolaridade Completo

CML – INE/CAOP 2013

Quadro 15- População Ativa e Reformados

(12)

12

Quadro 16- Hierarquia de Perímetros Urbanos

PDM-CML, 2015

Quadro 17- SUOPG do Concelho de Loures

PDM-CML, 2015

Quadro 18- Áreas em Núcleos Antigos a Integrar as ARU

PDM-CML, 2015

Quadro 19- Outras Áreas Urbanas a Integrar as ARU

PDM-CML, 2015

Quadro 20- Critérios de Delimitação das ARU

Doc. Interno ERU2 - CML (2016)

Quadro 21- Problemas Identificados na ARU de Bucelas e Vila de Rei

Entrevistas em Anexo (2016)

Quadro 22- Stakeholders Locais

Fonte Própria (2016)

Quadro 23- Impacto das Propostas no Contributo para a Eficiência Energética e

Reabilitação Urbana na ARU Fonte Própria (2016)

Quadro 24 – Quadro Síntese acerca das Intervenções Propostas para a ARU

Fonte Própria (2016)

Índice de Figuras

Figura 1- Mapas de Enquadramento do Concelho de Loures CML, 2016

Figura 2- Esquema de Polarização Metropolitana

PROT-AML CCDRLVT, 2002

Figura 3- Dinâmicas Territoriais na AML

PROT-AML CCDRLVT, 2002

Figura 4- Mapa de Acessibilidades no Concelho de Loures

CML-PDAM

Figura 5- Distribuição Territorial da Densidade Populacional

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13 Figura 6- Estrutura Etária da População

CML - INE: Estimativas Provisórias da População Residente (2014)

Figura 7- Níveis de Escolaridade Completo no Município

CML – INE/CAOP 2013

Figura 8- Forma de Ocupação dos Alojamentos no Município

CML – INE/CAOP 2013

Figura 9- Hierarquia de Perímetros Urbanos

PDM-CML, 2015

Figura 10- Espaços Residenciais de Loures

PDM-CML, 2015

Figura 11- UOPG do Concelho de Loures

CML, 2016

Figura 12- SUOPG do Concelho de Loures

PDM-CML, 2015

Figura 13- Delimitação das ARU do Concelho

Doc. Interno ERU2 - CML (2016)

Figura 14- Novas ARU

Doc. Interno ERU1 - CML (2016)

Figura 15- Benefícios Fiscais Aplicáveis às ARU

Doc. Interno ERU2 - CML (2016)

Figura 16- ARU Bucelas e Vila de Rei

Doc. Interno ERU2 - CML (2016)

Figura 17- Necessidades de Reparações no Edificado da ARU

Doc. Interno ERU1 - CML (2016)

Figura 18- Pontos Fortes e Fracos Identificados na ARU

Doc. Interno ERU2 - CML (2016)

Figura 19- Uma das Ruas de Vila de Rei

Fonte Própria (2016)

Figura 20- Bairro Solcasa em Bucelas

Fonte Própria (2016)

Figura 21- Atividade Económica nas Margens do Rio Trancão

(14)

14 Figura 22- Cruzamento do “Pego” em Bucelas

Fonte Própria (2016)

Figura 23- Aspeto Desejado para o Novo Espaço Público Central

Fonte Própria (2016) e aterraeagente.blogspot.com/vivertelheiras.pt (2016)

Figura 24- Estrada de Ligação entre Bucelas e Vila de Rei

Fonte Própria (2016)

Figura 25- Proposta para Pista Ciclável e Via Pedonal

greenerideal.com

Figura 26- Ruas de Bucelas

Fonte: Própria (2016)

Figura 27- Atuais Espaços de Estacionamento

Fonte Própria (2016)

Figura 28- Largo de São Roque

Fonte Própria (2016)

Figura 29- Exemplo de Estacionamento para Bicicletas

greensavers.sapo.pt

Figura 30- Aspeto Atual do Mercado de Bucelas

Fonte Própria (2016)

Figura 31- Igreja de Bucelas

Fonte Própria (2016)

Figura 32- Exemplo do Aspeto das Eco-Hortas

www.ovilaverdense.com

Figura 33- Aspeto Atual das Caves Velhas

Fonte Própria (2016)

Figura 34- Atual Uso do Largo do Jogo em Vila de Rei

Fonte Própria (2016)

Figura 35- Atual Estado dos Açudes a Recuperar

Fonte Própria (2016)

Figura 36- Exemplo de Iluminação Eficiente a Instalar na ARU

Fonte Própria (2016)

Figura 37- Equipamentos Coletivos a Recuperar na ARU

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15 Figura 38- Aspeto dos Atuais Semáforos na ARU

Fonte Própria (2016)

Figura 39- Atuais Autocarros da RL

Fonte Própria (2016)

Figura 40- Equipamentos a Incluir na Nova Centralidade de Vila de Rei

Fonte Própria (2016)

Figura 41- Adega Camilo Alves

Fonte Própria (2016)

Figura 42- Exemplo de Certificado Energético

Lisboa E-Nova - Agência Municipal de Energia (2004)

Figura 43- Exemplos de Mecanismos Promotores da Eficiência Energética

Lisboa E-Nova - Agência Municipal de Energia (2004)

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Siglas e Acrónimos

_____________________________________________________________________________

ACRRU - Área Crítica de Recuperação e Reconversão Urbanística AEB - Associação Empresarial de Bucelas

AML - Área Metropolitana de Lisboa AP - Acordo de Parceria

ARU - Área de Reabilitação Urbana

CAOP - Carta Administrativa Oficial de Portugal

CCDRLVT - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale

do Tejo

CDU - Coligação Democrática Unitária entre o Partido Comunista Português (PCP) e

Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV)

CE - Comissão Europeia

CML - Câmara Municipal de Loures

CRP - Constituição da República Portuguesa CS - Cidades Sustentáveis

DGOTDU - Direção Geral do Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano DGU - Divisão de Gestão Urbanística

DL - Decreto-Lei

DPGU - Departamento de Planeamento e Gestão Urbanística

DPMOTRU - Divisão de Planeamento Municipal, Ordenamento do Território e

Reabilitação Urbana

DPRU - Divisão de Planeamento e Reabilitação Urbana EE - Eficiência Energética

EM - Élio Matias (Presidente da Junta de Bucelas) ERU - Estratégia de Reabilitação Urbana

FNRE - Fundo Nacional de Reabilitação do Edificado FP - Frederico Pinto (Arquiteto)

IFFRU 2020 - Instrumento Financeiro para a Reabilitação e Revitalização Urbana IGT - Instrumentos de Gestão Estratégica

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17 JFB - Junta de Freguesia de Bucelas

LAL - Lei das Autarquias Locais

MAOT - Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia MAOTDR - Ministério do Ambiente, do Ordenamento, do Território e do

Desenvolvimento Regional

MARL - Mercado Abastecedor da Região de Lisboa NUT - Nomenclatura de Unidade Territorial

ORU

- Operação de Reabilitação Urbana

PAVCL - Parque Agrário da Várzea e Costeiras de Loures POR Lisboa - Programa Operacional da Região de Lisboa

POSEUR - Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos PROT – AML Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de

Lisboa

PUSIA - Parque Urbano de Stª Iria da Azóia

QREN - Quadro de Referência Estratégica Nacional RCM - Resolução de Conselho de Ministros

RERU - Regime Excecional de Reabilitação Urbana RJAL - Regime Jurídico das Autarquias Locais

RJIGT - Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial RJRU - Regime Jurídico da Reabilitação Urbana

RL - Rodoviária de Lisboa

RPDML - Regulamento do Plano Diretor Municipal de Loures RU - Reabilitação Urbana

SUOPG - Subunidade Operativa de Planeamento e Gestão tep - contribuição de energia primaria poupada

TPSP - Transporte Público em Sítio Próprio UE - União Europeia

UFTU - Unidade de Fiscalização Técnica Urbanística

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1. Introdução

1.1. Enquadramento e Relevância Temática

Os espaços urbanos têm passado por várias fases de expansão e nas últimas décadas as alterações, na estrutura urbana em Portugal, têm deixado marcas no traçado das áreas urbanizadas e na forma como os cidadãos se servem delas. A expansão urbana desenfreada a que se assistiu na Europa nas últimas décadas, tornou as cidades palco de diversas mutações. Depois da grande deslocação populacional das áreas rurais para as grandes metrópoles em busca de empregos e melhores condições de vida, a cidade teve de alargar os seus perímetros, o que provocou a suburbanização das periferias. Modelo de desenvolvimento urbano que se cateterizou, como refere Marques (2005: 41) “as metrópoles e as cidades alongaram-se, (…) novas morfologias urbanas apareceram, (…) novas centralidades periféricas apareceram (…) a cidade perdeu a sua centralidade radial e o urbano espraiou-se.” A cidade neste processo deixa de ter limites bem definidos, o que aliado ao desenvolvimento dos transportes e acessibilidades acabou por alterar as estruturas tradicionais da cidade, na “organização económica e social e, portanto, também nos modos de produção e de apropriação do território, na estrutura das cidades” (Barata Salgueiro, 1999: 226). Alterações que têm levado ao grave declínio dos centros das cidades e ao surgimento de novas centralidades, maioritariamente nas periferias suburbanas. Em resumo, estes fenómenos urbanos têm tornado os tradicionais centros urbanos em “espaços-problema” de abandono e degradação. Onde a desertificação e o envelhecimento da população residente gerou graves problemas como: O aumento do crime, a violência, a degradação paisagística e ambiental, e a decadência das infraestruturas. Este processo de êxodo urbano acontece devido às vantagens que o espaço periférico tem vindo a adquirir em detrimento das áreas centrais. Tanto pelo espaço disponível para a localização das indústrias que é bastante maior, a qualidade das habitações que é superior e a preços mais baixos, o progresso nos modos de transporte, a construção de vias rápidas e autoestradas, e ainda o fácil acesso a serviços públicos.

Na tentativa de contrariar este processo de crise identitária e populacional nos centros urbanos e devolver-lhes o protagonismo que outrora tinham inabalável, a retórica política das autarquias, do governo central e até mesmo da UE tende a centrar-se na necessidade de desenvolver estratégias sustentáveis de combate ao declínio destes territórios, e por sua vez, diminuir as assimetrias acentuadas entre centro e periferia. A crescente complexidade dos atuais problemas urbanos exige novas estratégias e

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abordagens multidisciplinares numa concertação da intervenção pública e privada num objetivo comum. Assim, as intervenções necessárias correspondem a duas dimensões de atuação, intervenção do ator público ao nível dos espaços comuns tornando-os mais sustentáveis, atrativos e funcionais às novas exigências da sociedade. Enquanto a segunda dimensão trata o papel que o ator privado tem na reabilitação do parque edificado, em que as políticas de incentivo á execução de obras tornam-se cruciais e necessitam de um novo impulso para que sejam vistas não só como uma forma de pagar menos impostos mas também como uma forma de valorização dos imóveis privados e da sua envolvente, capitalizando o património urbano.

Aferindo-se a necessidade de intervir no espaço urbano e nos centros históricos mais antigos dos perímetros urbanos, os processos de intervenção como a Reabilitação Urbana (RU), a Revitalização Urbana ou a Regeneração Urbana surgem como fundamentais na missão de manter “Estes testemunhos vivos de épocas passadas que são uma expressão da cultura e um dos fundamentos da identidade do grupo social, vetor indispensável face os perigos da homogeneização e despersonalização que caracterizam a civilização urbana contemporânea” (Barata Salgueiro, 1999: 392). Nesse sentido operativo surgem como instrumentos das políticas públicas, pretendendo contribuir para o reforço da coesão e da competitividade destes territórios, exigindo-se um equilíbrio entre domínios “(…) físicos aos imateriais, dos urbanísticos aos sociais e culturais.” (Lemos, 2014: 18).

Depois do grande destaque da Política de Cidades-POLIS XXI no contexto do QREN 2007-2013, programa vocacionado á intervenção em meio urbano com o intuito de apoiar ações dirigidas à regeneração integrada de espaços intraurbanos, tendo como base parcerias locais que envolvam a comunidade com os meios de decisão. O novo quadro comunitário de apoio, o Portugal 2020 tem num dos seus programas operacionais, o POSEUR – Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos, Eixo 1 - Apoio a Transição para uma Economia com Baixas Emissões de Carbono em Todos os Sectores, duas prioridades de investimento em que o foco vai de encontro às novas preocupações europeias e nacionais de promoção da eficiência energética no sector da habitação e no espaço público. Ora, assim torna-se claro que o apoio às intervenções em meio urbano terá como premissas a implementação de diretrizes que salvaguardem a eficiência de recursos utilizados, num objetivo de tornar o espaço urbano mais sustentável e eficiente na sua conceção e manutenção. Tendo de contribuir para o aumento da

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competitividade da economia nacional com a utilização inteligente de energia e aumento da utilização de energias renováveis, tanto no sector público como no setor habitacional reduzindo a dependência energética externa, indo de encontro às prioridades europeias de crescimento sustentável.

Assim, o objeto de investigação do presente relatório de estágio passa por formular uma proposta de intervenção de Reabilitação Urbana no concelho de Loures, que apresenta diversas debilidades urbanísticas a colmatar, concretamente em Bucelas e Vila de Rei, uma das áreas delimitadas no contexto da ERU - Estratégia de Reabilitação Urbana 2016-2026 a ser desenvolvida pelo município. Estratégia que identificou 32 Áreas de Reabilitação Urbana (ARU) com necessidades de intervenção tanto ao nível do edificado como do espaço público envolvente, e que servirá de base á definição de Operações de Reabilitação Urbana (ORU) simples e posteriormente sistemáticas.

1.2. Objetivos de Investigação e Questão de Partida

Neste contexto, sendo este um trabalho académico baseado numa abordagem de proximidade à gestão autárquica por via do estágio efetuado na Câmara Municipal de Loures (CML) é necessário estabelecer objetivos a que se deverá tentar dar resposta. Assim, figuram três objetivos principais: 1º - Perceber como a Reabilitação Urbana tem sido entendida e promovida pelas políticas e programas nacionais e europeus para as áreas urbanas; 2º - Demonstrar como a Eficiência Energética tem ganho relevância nas preocupações da UE e como tal, é destacada no novo quadro comunitário de apoio, o Portugal 2020; 3º - Aplicar a ERU estabelecida pelo município a uma das ARU – Bucelas e Vila de Rei.

Decorrentes destes objetivos gerais resultam um conjunto de objetivos específicos que passam por:

I. Enquadrar e analisar o conceito de Reabilitação Urbana;

II. Compreender a importância dada á Eficiência Energética nas políticas urbanas;

III. Enquadrar os processos de intervenção em análise nas orientações e programas europeus;

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IV. Averiguar e articular o enquadramento deste tipo de intervenção nas novas diretrizes do quadro comunitário Portugal 2020;

V. Perceber o que falhou na ERU 2012-2013;

VI. Apresentar e perceber a efetivação que se pretende com a nova ERU 2016-2026;

VII. Enquadrar e caraterizar a área de estudo – ARU Bucelas e Vila de Rei; VIII. Desenvolver uma proposta de intervenção.

Determinados os objetivos a que pretende chegar no culminar deste trabalho, definiu-se uma questão de partida que será condutora da evolução do trabalho a efetuar:

Como privilegiar a Eficiência Energética na Operação de Reabilitação Urbana em Bucelas e Vila de Rei?

1.3. Questões Secundárias e Hipóteses

O conjunto de objetivos definidos no ponto a cima e a formulação da questão de partida requerem que se coloque um conjunto de questões secundárias e hipóteses que ajudaram a orientar o processo de construção da pesquisa.

Colocam-se, então as seguintes questões:

Q1- Qual a importância que a Eficiência Energética tem adquiro nas políticas urbanas europeias e nacionais?

Q2- Quais as maiores carências dos espaços urbanos no concelho de Loures? Q3- Quais os critérios de delimitação das novas ARU?

Q4- Como incentivar as “Estratégias Energéticas” na área de estudo?

Q5- Como tornar os incentivos de reabilitação mais atrativos para os proprietários?

E as seguintes hipóteses:

H1- A Reabilitação Urbana não pode contemplar apenas a melhoria dos aspetos físicos do edificado.

H2- A intervenção no espaço público pela autarquia é promotora da intervenção no edificado pelos privados.

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H3- Os problemas sociais e económicos da população residente em ARU podem inviabilizar a concretização desta estratégia de Reabilitação Urbana.

H4- A Eficiência Energética deve ser promovida e esclarecida pelo ator público da intervenção em ARU.

H5- Os incentivos dados aos proprietários carecem de maior atratividade.

1.4. Metodologias

A metodologia procura responder aos objetivos e às questões definidas, levando a que a investigação seja conduzida com recurso a um conjunto de técnicas e metodologias que se complementam.

A. Revisão da Literatura

Pesquisa, análise e reflexão da bibliografia mais pertinente a partir do tema e da questão de partida propostos. Esta revisão serve de base á contextualização teórica que permite aprofundar conhecimentos e reunir informação teórica relevante acerca do tema a investigar, tendo sido necessário para direcionar esta fase de trabalho definir conceitos-chave como: Reabilitação Urbana, Eficiência Energética, Portugal 2020 e ARU Bucelas

e Vila de Rei.

A metodologia utilizada para a seleção da bibliografia analisada tem assim, por base os conceitos-chave definidos para a investigação. Procurando clarificar os conceitos em que a análise empírica se centrou, definir o quadro teórico que os liga e consolidar as hipóteses e a questão de partida. A revisão contemplou artigos e livros de referência académica e institucional.

B. Entrevistas Exploratórias

As entrevistas exploratórias pretendem-se que sejam efetuadas junto de pessoas consideradas chave para a compreensão das dinâmicas existentes na área de estudo, Bucelas e Vila de Rei. Desta forma, foi realizada uma entrevista ao presidente de JFB, a fim de aferir as suas maiores preocupações e ideias de intervenção na área de estudo, num modelo de entrevista aberta, que favorece a fluição de ideias. Em suma, esta entrevista representa um aprofundar dos conhecimentos acerca da área a intervencionar, com vista a obter a visão de um elemento decisório, próximo da população. Servindo também como

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um teste às hipóteses formuladas, ajudando a estabilizar o quadro teórico e o objetivo de estudo.

C. Entrevistas Estruturadas

A realização de entrevistas com um guião estruturado e dirigido a três dos principais atores locais com influência direta no território em estudo, relevaram-se de extrema importância para a compreensão das necessidades, efeitos e resultados da implementação e da ação estratégica a ser desenvolvida pelo município em matéria de RU. Estas entrevistas foram efetuadas entre Março e Abril de 2016, junto de um representante da Associação Empresarial de Bucelas (AEB) que agrega várias empresas da freguesia de Bucelas e que trabalha no sentido de defender a posição destas empresas junto dos meios de decisão. Junto da Associação Recreativa, Cultural e Desportiva (ARCD) de Vila de Rei que tem um papel de importante representante da população local. Por fim com o gerente Sr. Jorge Crispim da Rodoviária de Lisboa (RL), que conta com um centro operacional em Bucelas e que constitui um importante agente empregador e identitário das localidades em estudo.

Tornou-se igualmente pertinente recolher a perspetiva do ator público que trabalha para o sucesso do nosso objeto de estudo, o município, sendo realizada uma entrevista ao coordenador da “Estratégia de Reabilitação Urbana 2016-2026”, o Arquiteto Frederico Pinto. Nos elucidou nas características e âmbito da própria estratégia assim como nos dá a sua visão acerca dos problemas e desafios que o território de Loures apresenta. Também foi ponderada uma entrevista junto do Instituto de Habitação e Reabilitação Urbana (IHRU), porém após diversos contactos efetuados por correio eletrónico e telefonicamente não foi possível a sua realização por falta de resposta.

D. Caso de Estudo

Esta fase de investigação é aquela que apresenta maior pertinência, iniciando-se com a recolha, tratamento e análise de dados quantitativos e qualitativos que tem por objetivo a análise contextual da intervenção a estudar e a perceção do espaço em que se pretende aplicar as diretrizes teóricas formuladas. Primeiramente, procede-se à recolha documental através de pesquisa online, consulta de publicações e relatórios europeus, nacionais e camarários considerados relevantes por análise de conteúdo empírico destinado a estudar determinada amostra de texto que sustentaram uma base teórica credível.

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A observação direta, com várias visitas á vila de Bucelas e à aldeia de Vila de Rei revelou-se fundamental, pois permitiu a recolha fotográfica e observação in situ do contexto social e dinâmicas de fruição e utilização da população na área de estudo. A análise e tratamento de informação trata-se da fase que dará origem aos resultados de investigação, ou seja é a fase mais pertinente pois além de ser a mais complexa é aquela que dita as conclusões a que se chegará no final do trabalho e que responderão às perguntas de partida e secundárias, como comprovarão ou não as hipóteses formuladas.

Uma vez escolhido o caso de estudo - ARU de Bucelas e Vila de Rei – que será analisado em maior pormenor no contexto da estratégia municipal, onde incidirá a proposta de intervenção que promova a relação entre a RU e a eficiência energética (EE). De forma a tornar a área de estudo num território piloto na conjugação destas temáticas, tão desejada pelas novas políticas urbanas em contexto europeu e nacional. Para que a proposta de intervenção esteja contextualizada no território da ARU, em primeiro lugar é necessário efetuar um enquadramento e diagnóstico às caraterísticas da ARU e como estas podem ser potenciadas na intervenção a formular. Este diagnóstico deverá ter em conta as dinâmicas populacionais e urbanas do próprio lugar que serão a base de trabalho na formulação da proposta de intervenção. Devendo ser sempre salvaguardada a identidade e funções vitais do lugar, trabalhando com essas caraterísticas para o sucesso da intervenção.

Este trabalho concorre assim para que se formule na ARU em estudo uma intervenção não só no sector habitacional e na reabilitação do edificado, mas que seja vista como um exemplo de uma intervenção concertada entre o ator público, o município e a junta de freguesia, que interage de forma mais próxima com a população e os agentes locais como associações e empresas locais. Nesse sentido, na formulação da proposta de intervenção serão tidas em conta as declarações dos agentes locais entrevistados de forma a perceber as preocupações comuns e necessidades existentes que se revelem pertinentes para território. De modo a enquadrar as temáticas em estudo, tentando dar resposta a estes desígnios através de projetos de intervenção a integrar na proposta.

Assim, como forma metodológica serão criadas fichas de projeto para todas as propostas de intervenção no território, de forma a perceber como estas contribuem para o alcance do objetivo sumário de tornar a RU eficientemente energética nesta área. Serão nestas fichas esclarecidos pormenores das intervenções propostas como: o espaço da intervenção, os responsáveis do projeto e fonte de financiamento possível, descrição

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sucinta da intervenção formulada, o nível de impacto que cada projeto pode ter no objetivo da EE e como este contribui igualmente para a RU do conjunto da ARU. Constituindo assim uma forma interpretativa e esclarecedora do trabalho desenvolvido para formulação da proposta final e resposta á pergunta de partida.

1.5. Organização e Estrutura do Projeto

A presente investigação possui sete capítulos principais, procurando-se sempre assegurar a ligação e complementaridade entre eles:

I. Introdução

II. Enquadramento Conceptual III. Políticas e Programas

IV. Dinâmicas Demográficas e Urbanísticas em Loures V. Reabilitação Urbana em Loures

VI. Caso de Estudo: ARU Bucelas e Vila de Rei VII. Conclusões

O primeiro capítulo é de cariz introdutório e apresenta a investigação ao nível do seu enquadramento temático, questão de partida, objetivos, hipóteses, metodologia utilizada, a estrutura do próprio documento e a apresentação da instituição que acolheu o estágio para a execução deste trabalho, enquadrando a matéria a ser estudada no âmbito da atividade da Câmara Municipal de Loures. No segundo capítuloefetua-se uma revisão da literatura, tendo em conta os conceitos-chave definidos: Reabilitação Urbana,

Eficiência Energética, Portugal 2020 e ARU Bucelas e Vila de Rei, conceitos que darão

ao trabalho uma base conceptual á execução programática a efetuar. No terceiro capítulo procede-se ao enquadramento dos objetos de estudo nas políticas e programas europeus e nacionais, que têm vindo a ser promovidos em matéria de RU e EE nos quadros de apoio comunitário - QREN e Portugal 2020.

O quarto capítulo é dedicado á caracterização do município de Loures quanto às suas dinâmicas populacionais e urbanas, fazendo um diagnóstico aos perímetros urbanos do concelho e á caraterização do seu parque habitacional, elementos que se revelam importantes á progressão da investigação em causa. Em seguida, o quinto capítulo revela o histórico que a RU apresenta em Loures, ou seja, fala-nos da estratégia anterior

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respeitante a esta matéria e como se processa a delimitação e formulação da nova “Estratégia de Reabilitação Urbana 2016-2026”, a ser desenvolvida pelo Departamento de Planeamento e Reabilitação Urbana (DPRU) da CML. No sexto capítulo explora-se o caso de estudo – ARU de Bucelas e Vila de Rei, onde se pretende fazer uma proposta de intervenção tendo em conta as diretrizes da estratégia municipal. O último capítulo apresenta as conclusões retiradas de todo o processo de investigação, onde se procede á análise e discussão dos resultados obtidos. Numa compilação de várias fases de trabalho como as visitas á área de estudo, a interpretação da nova estratégia de RU, as entrevistas e interpretação das informações recolhidas.

1.6. Instituição de Acolhimento ao Trabalho de Estágio

O Regime Jurídico das Autarquias Locais (RJAL) - Lei 75/2013 confere á Autarquia Local o dever de promoção e salvaguarda os interesses das respetivas populações. Sendo atribuídas no art. 3º através do exercício dos respetivos órgãos (deliberativo e executivo) as competências legalmente previstas de: a) consulta; b) planeamento; c) investimento; d) gestão; e) licenciamento e controlo prévio; f) fiscalização. O município representa assim uma unidade concelhia que tem como pressuposto fazer valer a vontade da pessoa coletiva daquele território:

“No município é onde reside a força dos povos livres (…) Sem instituições municipais uma nação pode ter um governo livre, mas carecerá de espírito de liberdade.”

Tocqueville in Bilhim (2004) O município apresenta como órgãos constituintes a Assembleia Municipal, a Câmara Municipal e o Presidente que têm funções executivas. A Assembleia Municipal delibera em apreciação e fiscalização das competências de funcionamento previstas na lei. Enquanto a Câmara Municipal tem as competências materiais da deliberação em assembleia e as competências de funcionamento executório. No seu conjunto, e de acordo com o nº 2 do art. 23º do RJAL é atribuído aos Municípios a função de atuar em domínios vários como: Equipamentos, transportes, património, educação, habitação, ordenamento do território e urbanismo ou ação social. Por todos os domínios de atuação que a lei consagra na competência dada aos municípios parece ser claro que a importância desta divisão administrativa para a relação entre o povo e o governo central é crucial.

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Sendo Loures um dos 308 municípios portugueses, é conforme a CRP nos seus art. 251º e 252º, composto por um órgão deliberativo e um órgão executivo, a Assembleia Municipal de Loures e Câmara Municipal de Loures (CML), respetivamente. Na mesma ótica legislativa, a Lei das Autarquias Locais nº169/99 (LAL), a CML tem como missão a definição e execução de políticas de desenvolvimento multissectorial em todo o território do concelho. O seu executivo é desde as eleições autárquicas de 2013, liderado pela lista vencedora da Coligação Democrática Unitária (CDU), presidido por Bernardino Soares. Em relação á estrutura orgânica do órgão executivo, a câmara municipal, segundo o Despacho n.º 14190/2015, tem como missão sumária (art. 2º): “(…) promover, no âmbito das suas atribuições, a qualidade de vida dos seus munícipes através da adoção de políticas públicas, assentes na gestão sustentável dos recursos, na qualificação dos trabalhadores municipais e na prestação de um serviço público de qualidade.” Constituída por 9 unidades orgânicas nucleares que se regem por princípios de apoio executório, reforço da proximidade e articulação de serviços, entre os quais o Departamento de Planeamento e Gestão Urbanística (DPGU). Importa destacá-lo por ser num dos gabinetes de jurisdição ao DPGU que se desenvolve o estágio efetuado no âmbito da presente investigação. Este departamento tem como objetivo executório “(…) assegurar as funções técnicas, administrativas e operacionais, em ordem à prossecução das atribuições do Município, nos domínios do ordenamento do território, da reabilitação urbana e do urbanismo.” (nº1, art. 7º do Despacho n.º 14190/2015).

Departamento afeto á vereação de Tiago Matias e que se subdivide em 3 gabinetes de trabalho, entre eles a Divisão de Planeamento e Reabilitação Urbana (DPRU), em que ocorreu o estágio curricular em que sustenta este trabalho de investigação. A qual tem como chefe de divisão a Arquiteta Manuela Melo Carneiro, que também figura como coordenadora do referente estágio. Divisão que verte a sua atividade no sector do planeamento urbano do concelho e concretamente na Reabilitação Urbana, para isso são-lhe delegadas através do Despacho n.º 14190/2015 (nº 2.2 do art. 7º), competências como:

g) Elaborar o Plano Municipal de Reabilitação Urbana, com delimitação das áreas de Reabilitação Urbana Simples ou Sistemática e respetivas estratégias ou programas; h) Assegurar os procedimentos previstos no Regime Jurídico da Reabilitação Urbana (RJRU), necessários a concretização das estratégias de reabilitação urbana definidas; i) Assegurar os procedimentos para a elaboração de programas base de reabilitação urbana;

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É no âmbito das alíneas g), h) e i) relativas às competências de atuação sobre o processo de Reabilitação Urbana (RU), que pretende a elaboração de um plano a nível municipal de RU. Plano que deve comtemplar propostas de delimitação de novas áreas a reabilitar e o formato de operação simples ou sistemática com estratégias e programas próprios. Desígnios que vão ao encontro dos procedimentos reiterados no RJRU necessários á concretização procedimental, a ser definida pela divisão e que assegurará a elaboração de programas base de RU. Assim, na sequência das competências aqui esplanadas encontra-se em desenvolvimento na DPRU uma nova estratégia de RU, a “Estratégia para a Reabilitação Urbana 2016-2026”, que apresenta como missão principal criar condições que contrariem o ciclo de declínio em que muitas áreas do concelho emergiram.

Sendo Loures um território bastante heterogéneo nas suas caraterísticas urbanas, uma vez que por se encontrar na faixa suburbana de Lisboa apresenta áreas completamente de génese urbanizada, com características de forte crescimento e expansão dos seus perímetros urbanos, têm também como consequência o progressivo abandono e degradação dessas áreas. Por outro lado as áreas a Norte do concelho ainda apresentam um grande vínculo de ruralidade, tanto nas suas morfologias urbanas como nas vivências sociais das suas populações. Assim, torna-se necessária uma visão equilibrada nas medidas a tomar e pensá-las para as diferentes tipologias de lugar que o concelho agrega.

Nesse sentido, a “Estratégia para a Reabilitação Urbana 2016-2026” terá como visão sumária a necessidade não só de reabilitação das áreas muito urbanizadas que apresentam níveis de maior degradação, mas também deve promover e cativar relações de complementaridade entre o espaço urbano e os espaços mais rurais, que têm de constituir prioridades na dinâmica da estratégia urbana. No contexto desta estratégia em desenvolvimento pela DPRU, o trabalho de estágio a explanar passa por formular uma proposta de intervenção de RU, tendo em conta a premissa de promoção da EE. Tendo como caso de estudo Bucelas e Vila de Rei, uma das áreas delimitadas no contexto da ERU, que procedeu á identificação de 32 ARU, com necessidades de intervenção tanto ao nível do edificado como do espaço público envolvente. Delimitação que servirá de base á definição de Operações de Reabilitação Urbana (ORU) simples e posteriormente sistemáticas.

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2. Enquadramento Conceptual

2.1. Eficiência Energética: Um Novo Caminho

O papel da Eficiência Energética (EE) nos processos de intervenção urbana surge através da consciencialização de que a qualidade ambiental nas áreas urbanas e até mesmo nas rurais se encontra em acentuado declínio. Desígnio que levou a que os organismos mundiais, europeus e nacionais se consciencializassem que a gestão de recursos destas áreas passa a ser imperioso para a sustentabilidade dos territórios. Esta necessidade implica uma alteração do paradigma, de forma a tornar a sustentabilidade ambiental uma realidade. Neste sentido, entende-se que a EE se encontra intrinsecamente ligada à promoção do desenvolvimento sustentável desejável às áreas urbanas. Apesar de ser de conhecimento geral o que está subjacente ao conceito de desenvolvimento sustentável, importa lembrá-lo:

“O desenvolvimento que procura satisfazer as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade das gerações futuras de satisfazerem as suas próprias necessidades.”

Comissão Mundial de Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas (1987) O desenvolvimento de que este conceito fala não abrange somente o âmbito ambiental, uma vez que se torna necessário otimizar a gestão e o consumo de energia no crescimento económico, social e ambiental da sociedade. Consumo que supra as necessidades básicas da população mas que também trabalhe para a maior sustentabilidade e eficiência dos recursos que o capital natural dispõe como a radiação solar, ar, água, solo, vegetação, ecossistemas e matérias-primas. Forma de desenvolvimento baseado nos paradoxos do Urbanismo Sustentável que deve ter subjacente o respeito pelos territórios. Paradigma que tem levado á necessidade de procurar respostas aos problemas de sustentabilidade e eficiência, consagrando a integração desta problemática na estratégia de desenvolvimento comunitário, o documento Europa 2020. Perante a temática em estudo, esta revisão recairá sobretudo na forma como a dinâmica urbana e os processos de transformação dos espaços urbanos podem contribuir para a sustentabilidade, tendo em conta a EE na utilização de recursos. Preocupação que Krueger e Buckingham (2012: 486) evidenciam nas políticas que têm sido adotadas mundialmente “A sustentabilidade urbana tem sido amplamente adotada

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nas agendas de muitos países da América do Norte e cidades e regiões europeias.” Agendas que direcionam grande preocupação á recuperação dos espaços urbanos “(…) em torno de áreas industriais degradadas, preservação e desenvolvimento do espaço público, estratégias de habitação, desenvolvimento orientado ao transporte público e de uso misto.” Gibbs e Krueger, 2007; Krueger e Gibbs, 2007; Nevarez, 2003 in Krueger e Buckingham (2012: 487).

Perante a descodificação conceptual dos termos em análise torna-se imperativo enunciar o que se entende por EE uma vez que não é exequível trabalhar propostas de intervenção urbana que tenham em conta e promovam este desígnio sem que tenhamos bem claro o que significa. Assim apresentamos a definição conceptual proposta por Rueda

et al (2012: 36): “A Eficiência Energética é a procura da autossuficiência a partir da

geração de energias renováveis, adoção de medidas de poupança e eficiência nos principais sectores consumidores: doméstico, serviços e equipamentos, sector primário e os relacionados com os fluxos de massa (gestão da água e dos resíduos).” Este estado de autossuficiência energética tem como objetivo assegurar a transição para uma economia hipocarbónica, aumentando a utilização das fontes de energia renováveis, modernizando o sector dos transportes e promovendo a eficiência energética. Tendo por base a ideia de que as necessidades da população têm de ser colmatadas recorrendo cada vez menos a fontes de energia não renováveis e pautando-se essencialmente pela procura da autossuficiência com a utilização de menos recursos energéticos. Um longo percurso a percorrer nas políticas europeias e nacionais, uma vez que no contexto europeu, segundo dados do Eurostat (2013), verifica-se que “Em 2013, mais de metade (53,2 %) do consumo interno bruto de energia da UE-28 teve origem em fontes importadas.” Tendência de grande dependência energética, inversa á que se pretende e que em estados como a Dinamarca ou a Lituânia se tem vindo a agravar pela diminuição da capacidade produtiva de energia.

No caso de Portugal “Apesar do significativo crescimento da energia de fontes renováveis ao longo da última década, Portugal continua a evidenciar uma elevada dependência dos recursos energéticos não renováveis e, consequentemente, uma grande dependência externa na satisfação das suas necessidades energéticas.” (DGOTDU, 2011: 4). Realidade que se tem pautado por um aumento da produção de energia através da fonte hídrica e eólica, com grande potencial no território nacional, mas que não têm sido suficientes para que haja uma verdadeira emancipação da importação de energia. Porém

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este objetivo não será atingido apenas com o reforço da produção endógena de energia, tem de ser assente numa política de maior ordenamento territorial que torne a utilização de recursos mais eficiente e eficaz. Este desígnio passa assim pela redução da energia despendida nas atividades humanas, uma vez que são aquelas que aumentam bastante os consumos energéticos “No balanço de 2010, os Transportes foram responsáveis por 36,7% da energia consumida, a Indústria por 29,6%, o Sector Doméstico por 16,6%, os Serviços por 11,4% e os restantes 5,8% estiveram relacionados com outras atividades como a Agricultura, Pesca, Construção e Obras Públicas.” (ADENE, 2013: 13). Assim os instrumentos de gestão territorial viram-se obrigados pelas consequências que estes consumos têm provocado nos territórios, assim como pelas diretivas de sustentabilidade da UE no horizonte de 2020, a delinearem estratégias de combate á grande dependência energética onde a EE é peça chave em vários sectores a nível nacional, regional ou municipal.

A EE apresenta-se como um novo caminho na atuação sobre as problemáticas energéticas nas áreas urbanizadas. Vista como forma de potenciar maiores poupanças energéticas nos edifícios, nos transportes ou nos equipamentos de uso coletivo, o maior potencial de poupança energética reside nos edifícios, segundo o que é transmitido pela DGOTDU (2011: 6) “Os consumos ligados à utilização dos edifícios (iluminação, climatização e operação de instalações e equipamentos) representam 40% do consumo total de energia na UE.”. Ora, comparando os números reiterados pela ADENE e pela DGOTDU registam-se algumas discrepâncias, já que a ADENE registou que o Sector Doméstico é responsável por 16,6% dos consumos energéticos. Enquanto a DGOTDU calcula que 40% dos consumos de energia na Europa estão ligados á iluminação, climatização e operação de instalações e equipamentos nos edifícios. Estes números apresentam diferenças pela escala de referência, já que primeiramente pretendemos referir os dados a nível nacional (16,6%) enquanto os 40% referentes ao consumo energético dos edifícios estão contabilizados a nível da UE. Os aumentos que estes números registam justificam-se pela mudança nos estilos de vida da população e ao aumento de aquisição de equipamentos como eletrodomésticos, que cada vez mais são consumidores de energia, o que contribui para que os alojamentos residenciais já representem 30% do consumo de eletricidade a nível nacional. (ADENE, 2013: 15). Enquanto “Os sistemas de mobilidade representam 25% da energia consumida nas cidades.” (DGOTDU, 2011: 6).

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As metas da UE em matéria de EE são ambiciosas para 2020 “A UE estabelece o objetivo de que,até ao fim da década, todos os edifícios novos tenham necessidades quase nulas de energia (…)” (CE, 2015: 11). Objetivo que é comtemplado na definição da nova estratégia para a EE, o PNAEE definido no RCM nº20/2013 que pretende “(…) o cumprimento das novas metas assumidas pela UE, de redução de 20% dos consumos de energia primária até 2020, bem como o objetivo geral assumido pelo Governo de redução no consumo de energia primária de 25% e o objetivo específico para a Administração Pública de redução de 30%.” Onde o setor residencial constitui um das 6 áreas específicas para a aplicação de medidas de promoção da EE. Estratégias nesta área terão não só ganhos na concretização dos objetivos do PANEE, como estimularão atividades económicas, no caso o setor da construção bastante fustigado pela crise económica “O investimento no aumento da eficiência energética estimula o crescimento. Isolar as habitações, instalar novos equipamentos economizadores de energia, renovar os edifícios, efetuar auditorias: tudo isto anima a atividade económica.” (CE, 2015: 11). Ora, este plano é essencialmente executado através de medidas reguladoras ou apoios á implementação de mecanismos que promoção a EE nos setores da economia que mais influenciam a grande dependência energética.

Porém a preocupação energética no sector residencial concorre para o aumento da competitividade das áreas urbanas, já que as intervenções em causa apresentam-se como desafios que têm a intenção de intervir nos problemas urbanos. Assim a ADC (2014: 47) reitera a “Relevância dos processos de regeneração e revitalização urbana nos principais nós estruturantes do sistema urbano nacional para a política e o desenvolvimento urbano.” Processos de desenvolvimento urbano que devem, neste contexto, adaptar-se às grandes mudanças globais em curso no domínio da energia, das alterações climáticas e do uso mais eficiente dos recursos, no quadro de um processo de ajustamento macroeconómico. Assim como contribuem para efetivar os progressos relevantes no desempenho de Portugal no domínio da sustentabilidade e EE no uso de recursos utilizados nos processos de transformação urbana. Além de trabalharem no sentido do aumento da EE nos aglomerados urbanos, são também forma de “(…) contribuir grandemente para criar emprego e aumentar a competitividade nos setores da construção e dos serviços energéticos. A renovação dos edifícios existentes é igualmente uma boa oportunidade para estimular a inovação.” (CE, 2015: 12).

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Intervenções que pretendem reduzir tanto a dependência energéticas das habitações como devem contribuir na redução das emissões de carbono, o que se concretiza em dotar o edificado de condições adequadas ao conforto térmico. Com a adoção de sistemas passivos como isolamentos ou sombreamentos e equipamentos que promovam um menor consumo energético como janelas eficientes, isolamentos eficientes e iluminação economizadora ou ainda os sistemas solares térmicos. Quando se fala de sistemas passivos, falamos de sistemas que contribuem de forma natural para o aquecimento ou arrefecimento dos edifícios, que “(…) pretendem maximizar a captação do sol no Inverno, através de vãos envidraçados bem orientados e dimensionados, aos quais se podem associar elementos massivos, que permitirão o armazenamento da energia solar e sua utilização em horas posteriores.” (Gonçalves e Graça, 2004: 33). Ou que na estação quente “(…) pretende tirar partido de fontes frias que permitirão arrefecer o edifício.” (Gonçalves e Graça, 2004: 33). Porém os mesmos autores alertam para que as estratégias a adotar em matéria de EE nos edifícios dependem da “(…) especificidade climática do local, função do edifício e consequentemente, modo de ocupação e operação do mesmo, com o objetivo de promoverem um bom desempenho em termos de adaptação ao clima.” (Gonçalves e Graça, 2004: 11). Ou seja, a intervenção a efetuar no edificado irá sempre depender da especificidade do território em que se encontra e da utilização que se dará ao edifício.

2.2. Reabilitação Urbana: Evolução

É no século XIX que a Europa começa a tomar consciência da necessidade de dar respostas à acelerada mutação das cidades “A reabilitação urbana nasce do paradigma da conservação do património no século XIX, com a tomada de consciência do interesse de certos monumentos como património arquitetónico, sendo que até essa altura se privilegiava a figura do “monumento histórico” (Choay, 1999 segundo Lemos, 2014: 26). Preocupação que nasce na intenção de conservar o tecido histórico das cidades, que posteriormente se alarga à totalidade dos perímetros urbanos. Desde então as inúmeras mutações têm tido reflexo nas diversas dimensões urbanas, “Estas metamorfoses urbanas são, simultaneamente, reflexo e refletoras de transformações de ordem social, política, económica e até cultural.” (Barata Salgueiro, 2012: 3).

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Dinâmicas que ao longo dos anos têm sujeitado a cidade a evoluir sob o desígnio de inúmeros processos de crescimento e adaptação às rápidas mudanças de necessidades dos habitantes ou da organização funcional das cidades, como aconteceu com o processo de industrialização. Facto reiterado por Teresa Barata Salgueiro (2012: 4): “Se, por um lado, a industrialização veio contribuir para um forte êxodo rural, tornando as cidades o principal foco de atração e concentração da população, a evolução dos transportes e os combustíveis fósseis vieram permitir um crescimento em extensão, que se vê hoje expresso em inúmeras nomenclaturas: dispersão urbana, crescimento em mancha de óleo, urbanização difusa, ou o internacional urban sprawl.” Processo de extensão que espraiou os perímetros da cidade e confundiu os limites urbanos antes tão bem definidos. O que trouxe consequências ao nível da ocupação urbana e provocou grandes assimetrias, principalmente nas áreas centrais com a decadência infraestrutural destas áreas assim como graves problemas culturais e sociais.

Perante o agudizar deste quadro da debilidade citadina que englobou défices habitacionais perante a procura, problemas sanitários e de salubridade, falta de transportes ou de infraestruturas públicas de resposta a uma tão grande concentração populacional, começa-se a ponderar a necessidade de direcionar medidas mitigadoras destes problemas. Em 1931 na Conferência Internacional de Atenas “O teórico italiano Gustavo Giovannoni foi o responsável pelas primeiras teorias integradoras de reabilitação, defendendo a preservação do tecido antigo de um ponto de vista integrado, pela sua morfologia e escala e valor artístico e histórico.” (Lemos, 2014: 26). Ora este constitui um novo paradigma no pensamento de transformação urbana, que viu na Carta de Atenas o reconhecimento da RU assim como de outras operações urbanísticas cada vez mais integradas nas diferentes dimensões que compõem a estrutura urbana. A II Guerra Mundial nas consequências que trouxe às cidades, que em muitos casos significou a sua destruição completa ou parcial, constituiu uma forma de evidenciar a necessidade de encontrar formas de valorizar o tecido urbano. Assim desde dessa altura a RU passou por algumas transformações conceptuais e modos de aplicação no território.

Nesse sentido é importante que se clarifique o conceito de Reabilitação Urbana (RU) e as caraterísticas que lhe estão subjacentes, tornando-se importante fazer a distinção com os demais processos urbanos: renovação, reestruturação, requalificação e regeneração. Uma vez que todos eles são modos de intervenção no espaço urbano no sentido da sua qualificação, importa destacar que a RU implica a reutilização dos

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elementos urbanos preexistentes. Enquanto renovação implica que o “(…) património urbanístico e/ou imobiliário é substituído, no seu todo ou em parte muito substancial” (DGOTDU, 2008: 65). A reestruturaçãotem objetivo de introduzir “(…) novos elementos estruturantes do aglomerado urbano” (DGOTDU, 2008: 62). A requalificação torna-se mais complexa uma vez que abrange, segundo a DGOTDU (2008: 67), operações de renovação, reestruturação ou reabilitação urbana de forma a recuperar espaços desqualificados, através de uma intervenção mais integrada “(...) em que a valorização ambiental e a melhoria do desempenho funcional do tecido urbano constituem objetivos primordiais da intervenção” (DGOTDU, 2008: 67). Por fim, o processo de regeneração urbana é tido como uma operação de renovação, reestruturação ou reabilitação urbana. Ou seja, sendo o processo “chapéu” de todos os outros, uma vez que na sua conceção teórica abrange um conjunto integrado de ações que procuram resolver problemas urbanos numa abordagem multidisciplinar no contexto local no âmbito económico, físico, social, ambiental e muitas vezes também cultural.

Assim, a Direção Geral de Ordenamento do Território e Desenvolvimento Urbano (DGOTDU) elabora em 2008 o documento «Proposta de projeto de decreto regulamentar que estabelece conceitos técnicos a utilizar nos instrumentos de gestão territorial» onde define RU como sendo:“(...)Uma intervenção sobre o tecido urbano existente em que o património urbanístico e imobiliário é mantido e modernizado, através de obras de beneficiação das infra-estruturas urbanas e de obras de reconstrução, alteração, conservação, construção ou ampliação de edifícios.” (DGOTDU, 2008: 60).

Porém, tratando-se este de um trabalho bastante alicerçado na legislação institucional referente a estas temáticas é relevante que se esclareça o parecer que o Regime Jurídico da Reabilitação Urbana (RJRU - DL 307/2009) define como sendo uma operação de RU: “A forma de intervenção integrada sobre o tecido urbano existente, em que o património urbanístico e imobiliário é mantido, no todo ou em parte substancial, e modernizado através da realização de obras de remodelação ou beneficiação dos sistemas de infraestruturas urbanas, dos equipamentos e dos espaços urbanos ou verdes de utilização coletiva e de obras de construção, reconstrução, ampliação, alteração, conservação ou demolição dos edifícios”

Legislação esta atualizada pelo DL n.º 32/2012, que atribui competência aos municípios no desenvolvimento de estratégias de RU. Assumindo-as “Como uma componente indispensável da política das cidades e da política de habitação, na medida

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em que nela convergem os objetivos de requalificação e revitalização das cidades, em particular das suas áreas mais degradadas, e de qualificação do parque habitacional, procurando-se um funcionamento globalmente mais harmonioso e sustentável das cidades e a garantia, para todos, de uma habitação condigna.” Ora, o quadro legislativo da temática assume a importância da RU na resposta á ausência de vitalidade do espaço físico edificado e nas vivências próprias da sociedade. Entendendo que são os municípios, o órgão de poder mais próximo da população e das problemáticas territoriais, a ter a responsabilidade de definição destas operações.

Esta definição estratégica pressupõe que o município delimite Áreas de Reabilitação Urbana (ARU), podendo optar por dois tipos de operação de RU. A operação de reabilitação simples que apenas se dirige a reabilitar o edificado por parte dos privados, com o apoio coordenativo do município. Enquanto a operação de reabilitação sistemática além de pretender a reabilitação do edificado, entende que deve ter uma atuação mais integrada no território. E por isso deve pressupor a qualificação infraestrutural, de equipamentos e dos espaços verdes ou urbanos de utilização coletiva da ARU, tendo adjacente a intenção de revitalizar e qualificar o tecido urbano nas suas múltiplas dimensões sendo necessário um investimento público a direcionar a programas de investimento.

Por conseguinte, parece ser a operação sistemática de abordagem multidisciplinar no contexto local no âmbito físico, social, ambiental e até económico aquela que é mais desejável. Porém sabe-se que nem sempre estas as intenções de integração interventiva acontecem. Havendo inclusive em alguns casos uma maior desintegração territorial ou social, devido aos interesses economicistas de reabilitar para rentabilizar economicamente o investimento e tornar a urbe competitiva, sobrepondo-se este objetivo aos restantes pressupostos de desenvolvimento urbano. Ideia partilhada pelos teóricos Katz & Altman (2005) segundo Krueger & Buckingham (2012: 489) “(…) a recuperação de algumas cidades pode ser ligada a ideais de economia, o que vai tornar as cidades competitiva na nova "idade urbana" do século XXI é a sua competitividade, inclusão e sustentabilidade.”Continuando a ser notória a formulação do urbanismo sustentado na economia e nos mercados de investimento imobiliário que têm um papel central, baseado em “Visões e políticas de crescimento inteligente que refletem uma política ideológica baseada no mercado (Krueger & Gibbs, 2008) numa dependência do mercado para apoiar metas de sustentabilidade.” (Krueger & Buckingham, 2012: 489). Enquanto o

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Figura 1- Mapas de Enquadramento do Concelho de Loures       Fonte: CML, 2016
Figura 2- Esquema de Polarização Metropolitana   Fonte: PROT-AML, 2002
Figura 4- Mapa de Acessibilidades no Concelho de Loures   Fonte: CML-PDAM  (Doc. Interno)
Figura 5- Distribuição Territorial da Densidade Populacional Fonte: CML –  INE/CAOP (2013)
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Referências

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