Rui Albuquerque
Universidade de ´Evora 22 de Outubro de 2007
Aρχ´η
Este texto resulta de uma breve comunica¸c˜ao na Escola de Ver˜ao de Ma-tem´atica de 2007 da Sociedade Portuguesa de MaMa-tem´atica, em que se almejou abordar os dois temas referidos no t´ıtulo.
Recordar Arquimedes e trazˆe-lo para a actualidade da geometria diferen-cial... Os matem´aticos gregos estar˜ao na origem, no arqu´e de toda a matem´atica moderna, mas tal n˜ao justifica dois t´ıtulos num mesmo artigo.
Mergulhar assim no mais distante do grande oceano da matem´atica pode le-var a um triste despertar. Por´em ´e necess´ario que alguns se aventurem, para que outros conhe¸cam os perigos e as preciosidades que tal oceano esconde. Mesmo que corramos o risco de nos perguntarem o que andamos ali a fazer, onde po-der˜ao levar t˜ao ins´olitas bra¸cadas, diremos que este mar ´e de todos quantos o queiram perscrutar.
Trˆes ressalvas nos parecem necess´arias. Primeiro, n˜ao queremos de forma nenhuma reduzir a obra de Arquimedes a meia d´uzia de enunciados. Existe uma complexa e extensa obra. Por mais aplicada que se considere a sua matem´atica, Arquimedes escrevia como os homens letrados da sua ´epoca e argumentava como um cientista, com proposi¸c˜oes, lemas e teoremas. Os seus resultados s˜ao desconhecidos, a come¸car, por isso mesmo: n˜ao s˜ao triviais, carecem de uma constru¸c˜ao e justifica¸c˜ao te´oricas.
Segundo, n˜ao pretendemos afirmar que haveria rela¸c˜oes enigm´aticas ou m´ıs-ticas entre a matem´atica de Arquimedes e o C´alculo Diferencial, o qual, como se sabe, apareceu algum tempo depois do fim da Idade M´edia. N˜ao vamos de todo estabelecer rela¸c˜oes. O que nos suscita ´e interrogar, de novo, sobre o porquˆe de tantos anos perdidos com a chamada Era das Trevas quando a civiliza¸c˜ao pr´e-romana j´a havia ido t˜ao longe, mesmo antevendo n˜ao lograr encontrar uma resposta. Se tempo houvesse, lembrar´ıamos os homens que contrariaram e
resis-Figura 1: Arquimedes de Siracusa
tiram, os que fizeram o renascimento da cultura cl´assica e com ela deram novos conhecimentos ao mundo.
Finalmente, visto o anterior, julgamos poder e dever continuar mesmo se os resultados desta breve exposi¸c˜ao fogem das nossas inten¸c˜oes, assim como ter bem avisado o leitor dos meandros do pensamento difuso que dele emergem.
Afinal, para n´os, trata-se de encontrar inspira¸c˜ao recordando o mestre da matem´atica do s´eculo III a.c., um dos maiores de sempre, para chegar `a geome-tria diferencial, aquela que vem dando raz˜ao de ser `as mais diversas ´areas da matem´atica da actualidade.
1
Arquimedes de Siracusa, 287-212 a.c.
Em 2013 ter˜ao passado 2300 anos sobre o nascimento do grande Aρχιµηδης, g´enio c´elebre da matem´atica e da f´ısica.
Arquimedes nasceu e morreu em Siracusa, na Sic´ılia, filho do astr´onomo F´ıdias, de uma fam´ılia respeitada pelo rei Hier˜ao. Cedo foi estudar para Ale-xandria onde uma escola de matem´atica, entre outras, havia sido fundada por Euclides (c.330-265 a.c.). Em Alexandria fez numerosos amigos estudiosos com quem se correspondeu ao longo da vida, como por exemplo o matem´atico Era-t´ostenes.
Arquimedes ´e autor de imensas descobertas e inventos not´aveis e perip´ecias, cada uma mais emblem´atica que a outra.
Lembremos os momentos c´elebres em que ele diz “dˆeem-me um ponto de apoio e com a minha alavanca erguerei o mundo” referindo-se aos seus estudos te´oricos sobre o equil´ıbrio dos corpos, o grito de ε´νρηκα saindo do banho para
Parafuso de Arquimedes, o estudo da chamada Espiral de Arquimedes ou as inven¸c˜oes de instrumentos militares (um dos quais, muito peculiar, consistiria numa esp´ecie de feixe solar para incendiar barcos romanos ao largo de Sira-cusa; por´em, algumas experiˆencias recentes ter˜ao levantado muito fumo sobre tal invento).
Menos conhecidas ser˜ao a cria¸c˜ao de um m´etodo num´erico para contar al´em da “mir´ıade” (104) os gr˜aos de areia do Universo, ou o Axioma de Arquimedes,
que afinal este atribui a Eud´oxio, hoje estudado na An´alise e que justifica o chamado m´etodo de “exaust˜ao” para os matem´aticos gregos (ou de ‘integra¸c˜ao’), ie. algo aparentemente t˜ao ´obvio como ∀M > 0, ∀0 ≤ r ≤ 1
2, limnMrn= 0.
Ou, ainda, um c´alculo muito aproximado da √3.
Assim como uma elegante e simples trisec¸c˜ao do ˆangulo com compasso e r´egua com apenas duas marcas, problema c´elebre posto por Euclides que se destinava a ser resolvido com compasso e r´egua n˜ao graduada — e que afinal se provou ser imposs´ıvel, cf. figura 2.
A vida de Arquimedes dever´a ter sido a de um verdadeiro cientista forte-mente comprometido com a investiga¸c˜ao, tanto pura como aplicada, e simul-tˆaneamente com a ajuda aos homens da sua cidade em quest˜oes e problemas pr´aticos.
At´e a sua morte nos parece quase mitol´ogica: durante as guerras P´unicas quando as tropas do romano Marcellus, depois de muito tentarem, invadiram a ilha num ataque surpresa, ainda que soubessem do c´elebre cientista, um soldado ter-lhe-´a cravado a espada. Com Arquimedes avisando que o deixassem concluir certos c´alculos...
1.1
Um teorema sobre a par´
abola
O m´etodo de exaust˜ao, talvez devido a Ant´ıfono e seu colega Brison de Heracleia, s´eculo V a.c., permitiu encontrar a mais famosa aproxima¸c˜ao de pi de sempre. Durante mil anos n˜ao se encontrou melhor que
3 + 10
71 < π < 3 + 1
7, (1)
que Arquimedes conseguiu dividindo o c´ırculo em 96 partes.
O m´etodo de exaust˜ao permitiu de facto estabelecer resultados precisos. Por exemplo, cremos que o seguinte esquema, ver figura 2, era conhecido dos
P r A B C X r r
Figura 2: `A esquerda, ]CAB = 3]XAB com r´egua graduada com a medida do raio. `A direita, ´Area do c´ırculo= P r
2 = πr2.
Figura 3: ´Area ∆ABT = 3
4 Area da par´abola ABT .´
matem´aticos gregos mais antigos. Trata-se da justaposi¸c˜ao de triˆangulos de altura r =raio, dado o per´ımetro P , deduzindo-se a ´area do c´ırculo.
O seguinte resultado utiliza outro m´etodo na demonstra¸c˜ao inteiramente devido ao f´ısico-matem´atico, que se refere mais `a frente.
Teorema 1 (Arquimedes, [2]). A ´area do maior triˆangulo inscrito num
seg-mento de uma par´abola ´e 3/4 da ´area do respectivo segseg-mento de par´abola. Em particular, 3 4 + 3 42 + 3 43 + · · · = 1. (2)
Sendo o eixo dos y’s o eixo de simetria de uma par´abola y = kx2, k > 0,
(podemos sempre encontrar uma transforma¸c˜ao afim do plano onde a par´abola ´e descrita por esta equa¸c˜ao, ou mesmo com k = 1), cf. figura 3. Repare-se que o ponto T ´e o ponto onde a tangente `a par´abola tem o declive do segmento AB. Supondo esta recta dada como y = ax + b, a, b constantes, obtivemos o valor da ´area do triˆangulo ABT como (a2+4kb)
3 2
8k2 — um exerc´ıcio simples quando armados do c´alculo diferencial. Conv´em ainda ter presente que qualquer transforma¸c˜ao afim preserva a raz˜ao entre duas ´areas.
Arquimedes prova tamb´em que as projec¸c˜oes de A e B no eixo dos x’s s˜ao equidistantes da respectiva projec¸c˜ao de T . Lembremo-nos que Arquimedes n˜ao possui os conceitos mais elementares da ´al-jbra de hoje, apenas as rela¸c˜oes entre quantidades geom´etricas.
Os gregos j´a referiam as tangentes; Arquimedes manuseia-as com mestria para obter, por exaust˜ao, construindo a s´erie (2), a ´area da par´abola atrav´es da dos triˆangulos inscritos. Repare-se que h´a um processo indutivo no problema: recortado o triˆangulo, surgem duas novas regi˜oes em condi¸c˜oes an´alogas e de ´area total 1/4 da ´area do segmento de par´abola.
Curiosamente, o teorema parece ser pouco conhecido nos dias de hoje. O estudo das c´ubicas foi outro tema que Arquimedes abra¸cou, tendo sido mais tarde continuado por Omar Khayyam (o matem´atico e poeta persa-´arabe do s´eculo XIII, que nos legou a nota¸c˜ao ‘chai’, ‘coisa’, que depois degenerou em
x). Recordamos que os ´arabes foram os guardi˜oes de muita da cultura hel´enica
e, em particular, de algumas obras de Arquimedes.
1.2
O M´
etodo
Aquele que ficou conhecido como o M´etodo de Arquimedes vem dos seus estudos da f´ısica. Foi finalmente compreendido h´a cerca de um s´eculo, depois de ter sido encontrado num livro de uma bilioteca de Constantinopla (hoje Istambul) pelo estudioso dinamarquˆes J. L. Heiberg. Este reconheceu o autor que subjazia num palimpsesto (um escrito de missas de monges bizantinos num suporte de papiro ou pele j´a utilizado, depois de raspado e lavado). O“palimpsesto de Arquimedes” cont´em muitas p´aginas de resultados para sempre julgados perdidos, uns que n˜ao chegaram a ser apagados e outros leg´ıveis por recursos t´ecnicos, incluindo o texto do agora famoso “Stomachion”, um jogo inventado pelo mestre.
Vejamos uma aplica¸c˜ao do M´etodo.
Recorde-se, para o que segue, que o volume do cone em rela¸c˜ao ao cilindro com a mesma base e altura estavam j´a calculados. Com efeito, aparecem nos
Elementos de Euclides, tomando essa raz˜ao o valor de 1/3. Segundo [3],
Ar-quimedes atribui o resultado ao c´elebre fil´osofo atomista Dem´ocrito. Sobre o volume das esferas, o caso ´e mais complicado.
Teorema 2 (Arquimedes). O volume da esfera de raio r ´e 4 vezes o volume do
cone com diˆametro da base 2r e altura r. (4 3πr3).
Figura 4: O M´etodo aplicado no c´alculo de volumes.
O volume da esfera ´e 2/3 do volume do cilindro com altura e diˆametro da base iguais ao diˆametro da esfera.
A demonstra¸c˜ao utiliza a ideia de equil´ıbro est´atico de s´olidos, teoria que Arquimedes desenvolvera para a f´ısica e que n˜ao considerava do mesmo rigor que as suas obras matem´aticas. Eis porque se diz que o resultado ter´a ficado de parte. Por outro lado, tamb´em h´a relatos que Arquimedes ter´a gostado tanto do seu (grande) teorema, que pediu que esculpissem o esquema da esquerda da figura 4 no seu t´umulo. Vejamos a demonstra¸c˜ao do teorema, de acordo com o exposto em [4].
O esquema representa uma sec¸c˜ao da esfera e de um cilindro e um cone com o dobro da base dos mencionados. O ponto A servir´a de fulcro da balan¸ca. Passa-se uma recta (um plano paralelo ao plano da base) gen´erica por S. Por semelhan¸ca de triˆangulos, AC AO = AO AS. Logo MS · SQ = AC · AS = AO2 = QS2+ OS2 e ent˜ao HA AS = MS SQ = MS2 MS · SQ = MS2 QS2+ OS2.
Estabelecidas estas rela¸c˜oes e raciocinando como com corpos em equil´ıbrio, vem, no centro de gravidade G = S para o cilindro (onde HA
AS = 2) e em H para a
esfera e para o cone,
pois que se ‘integram’ aquelas ´areas circulares. Finalmente, como cilindro= 3 co-nes AEF por [Euclides, Elementos, XII] [7]; e como cone AEF = 8 cone ABD, por duplica¸c˜ao de uma medida unidimensional, resulta daquela equa¸c˜ao,
esfera ABCD = 4 cone ABD. Para a segunda parte, temos
cilindro pequeno = 6 cone ABD = 3
2esfera ABCD.
Note-se que o m´etodo de exaust˜ao estava aqui interligado. Bem como que a ideia rigorosa do M´etodo ser´a mais complicada do que a aplica¸c˜ao que dela aqui se faz.
Obras anteriores de Arquimedes d˜ao-nos os enunciados do teorema acima. Mas s´o no M´etodo ´e que ele explica como o obteve (aquele e muitos outros), defendendo ainda que o seu m´etodo mecˆanico lhe parecia t˜ao bom como os demais geom´etricos pelos quais, ao longo da vida, por vezes em segunda ocasi˜ao havia provado os seus resultados. Cremos que um destes ´e o resultado sobre a par´abola (teorema 1) pois s˜ao conhecidas duas demonstra¸c˜oes.
1.3
Area da superf´ıcie esf´
´
erica
Arquimedes estudou tamb´em a ´area da superf´ıcia esf´erica, a fronteira da esfera s´olida. Alguns livros de geometria diferencial atribuem-lhe o seguinte resultado (cf. [5, 12]).
Teorema 3 (Arquimedes). A projec¸c˜ao cil´ındrica φ(p) = (θ, z) de S2 sobre a
superf´ıcie cilindr´ıca ´e equiareal, ie. preserva as ´areas.
Recordemos que a projec¸c˜ao cil´ındrica corresponde `a projec¸c˜ao tomada na horizontal dos pontos de um paralelo na esfera sobre a respectiva circunferˆencia no cilindro. Para vermos tal projec¸c˜ao em cartas ou mapas da esfera, utilizamos coordenadas, e ent˜ao, para termos um aberto de R2, temos de retirar um
semi-meridiano da esfera incluindo os p´olos (como um corte). Denotam-se as esferas de dimens˜ao n e raio r por Sn
r. Temos ent˜ao um ponto
p ∈ S2
r descrito por (θ, z), um ˆangulo θ relativo ao desvio do semi-meridiano
retirado e uma altura z correspondente ao paralelo. Calcula-se ent˜ao o elemento
de ´area:
ω = r dθ ∧ dz, (3)
Figura 5: Dois resultados com origem no teorema de Arquimedes. Corol´ario 1. Todos os an´eis de S2
r com a mesma altura h tˆem exactamente a
mesma ´area.
Com efeito, tal ´area ser´a dada pelo integral Z ω = r Z 2π 0 Z a+h a dzdθ = 2πhr. (4) Em particular, ´area S2
r = 4πr2. E usando argumentos como os que vimos no
in´ıcio (fig. 2) pode-se descobrir de novo o volume da esfera. Sob a perspectiva do ˆangulo, temos que uma ´area lunar (a superf´ıcie entre dois semi-meridianos fazendo um ˆangulo α) ´e 2r2α. Vejam-se os dois resultados na figura 5. O ´ultimo
permite-nos provar:
Proposi¸c˜ao 1 (cf. [12]). A ´area de um triˆangulo esf´erico (cf. figura 6) sobre a
superf´ıcie esf´erica de raio 1 ´e α + β + γ − π.
Seja X a ´area que se procura. Repare-se que o triˆangulo dado tem um dual, ant´ıpoda, e cada um dos trˆes ˆangulos admite duas correspondentes ´areas iguais. Notˆemo-las respectivamente por A, B, C. Pelo resultado acima, temos
X + A = 2α, X + B = 2β, X + C = 2γ.
Por outro lado, 2X + 2A + 2B + 2C = 4π, pelo que agora o valor de X se torna f´acil de encontrar.
Note-se que o triˆangulo considerado ´e geod´esico, ie. as suas arestas s˜ao ‘rec-tas’ da esfera, ou seja caminhos mais curtos entre quaisquer dois dos seus pontos.
Figura 6: ´Area do triˆangulo esf´erico ´e α + β + γ − π.
Sabe-se que estes caminhos s˜ao dados por arcos de circunferˆencia m´aximos, ie. com raio igual ao da esfera.
A projec¸c˜ao cil´ındrica conserva as ´areas - n˜ao as distˆancias! N˜ao ´e uma
isometria. Para tal, basta ver a projec¸c˜ao de um paralelo, que aumenta. Ou a
de um meridiano, que diminui. Mas a geodesia ´e uma mat´eria que merece um estudo pr´oprio...
Os trabalhos de Arquimedes s˜ao verdadeiramente assombrosos pela exigui-dade de instrumentos matem´aticos de que ele dispunha! O seu M´etodo ainda hoje ´e estudado1, pois n˜ao s´o a F´ısica que envolve ´e ´util e verdadeira como a
rela¸c˜ao com a matem´atica est´a no ˆamago dos problemas actuais. Por isso ele ´e considerado um dos trˆes maiores matem´aticos de sempre2.
N˜ao esque¸camos todo o trabalho te´orico constru´ıdo por Arquimedes ao longo de 75 anos. Ele encontra-se nas suas obras referenciadas por historiadores e cro-nistas gregos, romanos ou ´arabes, que o inglˆes Thomas L. Heath, reconhecido historiador e tradutor de Arquimedes, ordenou cronologicamente como segue:
Do Equil´ıbrio de Planos I, A Quadratura da Par´abola, Do Equil´ıbrio de Planos II, Da esfera e do Cilindro I, II, Das Espirais, Dos Con´oides e Esfer´oides, Dos Corpos Flutuantes I, II, Da Medida do C´ırculo e O Aren´ario. Faltando-nos
ainda descobrir onde se integram o M´etodo dos Teoremas Mecˆanicos e
Stoma-chion (obra seguramente tardia) e O livro dos Lemas (cf. [1, 6, 8, 9])3.
1Fa¸ca-se uma busca em http://arxiv.org/ com archimedes no t´ıtulo. 2Sendo a sua ef´ıgie aquela que aparece nas c´elebres medalhas Fields.
3Outra importante referˆencia no estudo de Arquimedes parece ser com certeza E. J.
Na dimens˜ao 0 a medida usual ´e a de contagem. Na dimens˜ao 1 temos a no¸c˜ao de comprimento de uma curva no espa¸co como a do limite da soma do comprimento de linhas poligonais inscritas.
Mas como contamos a ´area de uma superf´ıcie, se nem sequer localmente a podemos planificar4? Que conceito afinal de volume ´e esse na dimens˜ao 2 ou
em dimens˜oes superiores?
A resposta ´e hoje facilmente ultrapassada por meio da teoria da ‘m´etrica em variedades diferenci´aveis’ ou geometria riemanniana. Seja na geometria diferen-cial ou na f´ısica te´orica, um tal instrumento n˜ao passa de uma idealiza¸c˜ao.
Abstra´ımos da realidade dos objectos f´ısicos, com rigor matem´atico, um espa¸co vectorial tangente onde fazemos a geometria cl´assica e da´ı partimos para o estudo de fen´omenos intr´ınsecos ou invariantes e, sob uma perspectiva nova, de propriedades globais5 dos espa¸cos, seus subespa¸cos e do movimento entre
estes.
Suponhamos ent˜ao que ´e dada uma por¸c˜ao de superf´ıcie S ou uma variedade de dimens˜ao n (conceito mais geral, mas a mesma ideia que em dim 2) como na figura 7. Um espa¸co tangente em cada ponto p ∈ S est´a bem definido, em virtude de conhecermos as cartas do espa¸co dado. Ou seja, temos um atlas de
S, que ´e um conjunto de cartas ϕ : U → Rn com os U subconjuntos abertos de
S.
Agora supomos que ´e dada a m´etrica, o instrumento matem´atico h , i que nos permite calcular ˆangulos,
](u, v) = arccos hu, vi
kukkvk, e comprimentos kuk =
p
hu, ui, (5)
∀u, v ∈ TpS. A m´etrica ´e dada por uma aplica¸c˜ao bilinear, sim´etrica e
definida-positiva, isto ´e, um produto interno com valores em R. Se esta for razo´avel, ent˜ao tem uma varia¸c˜ao suave com p, ou seja ´e de classe C∞.
A m´etrica fica bem determinada numa carta local pelos valores h∂i, ∂ji, i, j =
1, . . . n. Recordemos que vectores ∂i, de classe C∞ por natureza, s˜ao induzidos
4Ter´ıamos grande problema em provar que o limite da soma de ´areas de faces poligonais
inscritas numa qualquer superf´ıcie daria um invariante.
5Este conceito n˜ao tem nada a ver com a famigerada ‘globaliza¸c˜ao’ das rela¸c˜oes humanas
Figura 7: Definimos espa¸co tangente TpS no ponto p sobre uma variedade S
de dimens˜ao n independente da escolha das cartas. Por outro lado, escolher uma carta ϕ significa escolher coordenadas. E adoptar o respectivo referencial tangente ∂i, i = 1, 2, ....
em T S pela pr´opria carta ϕ. S˜ao campos vectoriais locais. Havendo necessidade, podˆe-mo-los denotar por ∂iϕ.
Seja ϕ(p) = (x1, . . . , xn), ∀p ∈ U, onde cada xi ´e fun¸c˜ao de p. ´E f´acil
adivi-nhar que as cartas resultam em fun¸c˜oes C∞sobre as variedades, por constru¸c˜ao,
e que verificar˜ao
dϕp(∂i) = ei, ou seja ∂i =
∂ϕ−1
∂xi
. (6)
Suponhamos agora que nos ´e dada outra carta qualquer ψ com dom´ınio (outro U) passando pelo dom´ınio U de ϕ. Escrevamos ψ(p) = (y1, . . . , yn).
Ent˜ao temos uma ‘lei de transforma¸c˜ao natural’ entre cartas na intersec¸c˜ao dos dom´ınios ∂iϕ = n X k=1 ∂yk ∂xi ∂kψ (7)
e logo, por bilineariedade da m´etrica,
h∂iϕ, ∂jϕi = n X k,l=1 ∂yk ∂xi ∂yl ∂xj h∂kψ, ∂ψl i. (8)
Note-se que esta equa¸c˜ao nos dir´a se temos uma m´etrica bem definida ou n˜ao: ´e importante que o tal aparelho para medir o espa¸co seja compat´ıvel com uma mudan¸ca de cartas, o que se verificar´a ou n˜ao pela equa¸c˜ao (8).
ou seja, se G = [h∂i , ∂ji]i,j=1,...,n e J ´e a matriz jacobiana [∂xi], ent˜ao aquela
equa¸c˜ao escreve-se
Gϕ = JtGψJ (9)
com Jt a matriz transposta de J.
E temos finalmente em qualquer dimens˜ao a defini¸c˜ao vol S =
Z
ϕ(U )
√
det Gϕdx1. . . dxn. (10)
Nota importante: esta ´e a ideia essencial da defini¸c˜ao de volume, pois surge um problema de dom´ınio. Claro que aqui estamos apenas a integrar em U esque¸cendo o resto de S. Para chegar a todo o lado usar´ıamos parti¸c˜oes da
unidade, um dispositivo algo t´ecnico que requer o seu tempo pr´oprio.
Eis essencialmente como se chega hoje ao volume sabendo apenas o integral de Riemann, o qual ´e bem conhecido da An´alise. (A hist´oria mostrar´a inclusive que este ´e que foi feito para aquele e n˜ao o contr´ario, como agora parece estarmos a pretender).
Teorema 4. vol S n˜ao depende da escolha da carta.
Ressalvando a quest˜ao do dom´ınio, este resultado vem de (9), de o de-terminante de um produto de matrizes ser o produto dos dede-terminantes e de det Jt= det J, donde
Z √ det Gϕdx 1. . . dxn= Z √ det Gψ det J dx 1. . . dxn =Z √det Gψdy 1. . . dyn, (11)
como quer´ıamos. A ´ultima igualdade vem pela propriedade conhecida da mu-dan¸ca de vari´avel no integral de Riemann (o fundamental que falta provar).
Note-se que a ‘forma diferencial’ ΩS, de grau igual `a dimens˜ao de S,
ΩS(x) =
√
det G dx1 ∧ . . . ∧ dxn, (12)
x ∈ S, ´e j´a por si uma entidade bem definida pois ´e, de novo, independente da
escolha das cartas. Utiliza-se aqui a ´algebra exterior ou de Grassmann... ΩS ´e
2.1
Dois casos conhecidos
H´a dois casos onde a teoria acima surge logo numa express˜ao conhecida. Se por exemplo γ : [a, b] → Rn ´e uma curva simples C = γ([a, b]) num
intervalo [a, b] e a m´etrica no seu espa¸co tangente ´e aquela pr´opria e r´ıgida do espa¸co ambiente Rn, ent˜ao
comprimento C = Z b
a
kγ0(t)k dt. (13)
A dedu¸c˜ao ´e simples: uma carta de γ, de acordo com o exposto acima, ´e dada pela inversa ϕ = γ−1 e logo ∂ϕ = dγ
dt.
O segundo caso ´e em dimens˜ao 2, quando temos uma por¸c˜ao de superf´ıcie S em R3 dada por uma equa¸c˜ao z = f (x
1, x2), com (x1, x2) ∈ D ⊂ R2. Ent˜ao cada
ponto p = (x1, x2, f (x1, x2)) ∈ S fica coordenado pela carta ϕ : S → D, ϕ(p) =
(x1, x2). Os vectores coordenados tangentes s˜ao
∂1 = ³ 1, 0, ∂f ∂x1 ´ , ∂2 = ³ 0, 1, ∂f ∂x2 ´ . (14) Logo h∂1, ∂1i = 1 + (∂x∂f1)2, h∂1, ∂2i = ∂x∂f1∂x∂f2, h∂2, ∂2i = 1 + (∂x∂f2)2, donde det Gϕ = det " 1 + (f0 x1) 2 f0 x1f 0 x2 f0 x1f 0 x2 1 + (f 0 x2) 2 # = 1 + (f0 x1) 2+ (f0 x2) 2. (15)
Assim a ´area de uma superf´ıcie (dimens˜ao 2) ´e dada por ´area S = Z Z D q 1 + (f0 x1) 2+ (f0 x2) 2dx 1dx2, (16)
uma f´ormula bem conhecida.
Vejamos ainda outro exemplo. Na esfera S2
r com a m´etrica do espa¸co
eucli-diano ambiente, com as coordenadas cil´ındricas φ(p) = (θ, z), vem φ−1(θ, z) =
(√1 − z2cos θ,√1 − z2sin θ, z). E logo
∂1 = ∂φ−1 ∂θ = (− √ 1 − z2sin θ,√1 − z2cos θ, 0), ∂2 = ∂φ−1 ∂z = µ −z cos θ √ 1 − z2, −z sin θ √ 1 − z2, 1 ¶ . (17)
Contas auxiliares mostram facilmente h∂1, ∂1i = 1 − z2, h∂1, ∂2i = 0, h∂2, ∂2i = 1
Outra propriedade intr´ınseca, ie. invariante da escolha da carta, que resulta de se ter definido uma m´etrica sobre a superf´ıcie considerada ´e a chamada curvatura
de Gauss, uma certa fun¸c˜ao escalar k : S → R que em cada ponto p nos diz
qu˜ao distante est˜ao as mais ´ınfimas vizinhan¸cas de p de se parecerem com um dos trˆes modelos:
k =
−1 para o ponto de sela
0 para o plano euclidiano 1 para a esfera S2.
(18) Estamos certos que o leitor reconhecer´a aqueles trˆes tipos de curvatura em dimens˜ao 2, nomeadamente consultando [12].
Esta fun¸c˜ao escalar k dependente da m´etrica, descoberta pelo matem´atico C. F. Gauss (1777-1855) e generalizada a dimens˜ao n pelo igualmente genial B. Riemann (1826-1866), tem acrescida uma propriedade muito especial (tamb´em esta generaliz´avel a qualquer dimens˜ao onde entram as classes de Pontryagin). Teorema 5 (Gauss-Bonnet). Se S ´e compacta e orient´avel, RSk = 2πχ.
Ou seja, somada a curvatura sobre o espa¸co todo obtemos essencialmente a caracter´ıstica de Euler — regressamos a um invariante estritamente topol´ogico! Surpresa, de uma mat´eria que parecia estar reservada cada vez mais e mais aos deuses da matem´atica.
2.3
An´
alise – ´
Algebra – Topologia
Conjugam-se em geometria diferencial v´arios campos da matem´atica. Tentare-mos uma constata¸c˜ao deste facto ainda com o c´alculo de volumes. Procurando lembrar o matem´atico portuguˆes e nosso mestre Professor Armando Machado, introdutor no ensino portuguˆes das ideias que se seguem (cf. [11]).
2.3.1 O teorema de Fubini em variedades
Suponhamos que nos s˜ao dadas variedades Riemannianas M e N, ie. variedades com m´etricas C∞. Suponhamos que ´e dada uma fun¸c˜ao f : M → N tamb´em
C∞. Um teorema devido a A. Sard (de 1942) diz-nos que os pontos cr´ıticos6 de
6Aqueles p ∈ M onde a caracter´ıstica de df
Figura 8: Se dim M = n, dim N = n e q ∈ N ´e valor regular, ent˜ao f−1(q) ´e
variedade suave de dimens˜ao m − n.
f formam um conjunto de medida nula. Dito de outra forma, quase todos os
valores que f toma s˜ao regulares.
Uma consequˆencia mais avan¸cada do teorema7 da fun¸c˜ao inversa mostrar´a
que os subconjuntos
f−1(q) =©x ∈ M : f (x) = qª, q ∈ N valor regular, (19) s˜ao subvariedades mergulhadas, isto ´e, comportam-se muito bem quando q ´e valor regular: existe uma carta especial (x1, . . . , xm) de M onde esses conjuntos
ser˜ao dados por equa¸c˜oes
xm−n+1 = 0, . . . , xm = 0 (20)
(cf. figura 8, a tracejado). Repare-se que M = ∪y∈Nf−1(y).
Assim, dada ainda mais uma fun¸c˜ao escalar Φ : M → R para dar raz˜ao a este esfor¸co, temos uma nova fun¸c˜ao definida quase por todo o N:
q ∈ N 7−→
Z
f−1(q)
Φ(x) Ωf−1(q)(x), (21)
7Se a fun¸c˜ao f tiver como derivada df
p : TpM → Tf (p)N um isomorfismo em p, ent˜ao a fun¸c˜ao inversa f−1 existe numa vizinhan¸ca de p e ´e C∞.
Suponhamos f sobrejectiva. Para cada x ∈ M podemos definir o Jacobiano de f
(Jf )(x) = | dethdfx(ei), fji| = kdfx(e1) ∧ · · · ∧ dfx(en)k (22)
onde e1, . . . , en ´e uma base ortonormada (hei, eji = δij) do subespa¸co ortogonal
a ker dfx e f1, . . . , fn ´e uma base ortonormada de Tf (x)N. Prova-se facilmente
que Jf n˜ao depende da escolha de tais bases.
Note-se que dfx : TxM → TyN ´e sobrejectiva num valor regular y = f (x).
Por outro lado, se x ´e um ponto cr´ıtico, ent˜ao (Jf )(x) = 0. O seguinte teorema remonta ao grande matem´atico H. Poincar´e (1854-1912).
Teorema 6 (f´ormula cinem´atica, cf. [10]). Se Φ ´e mensur´avel `a Borel e tal que
x 7→ Φ(x)Jf (x) ´e integr´avel em M, ent˜ao a fun¸c˜ao (21) ´e integr´avel e
Z N µZ f−1(y) Φ(x)Ωf−1(y)(x) ¶ ΩN(y) = Z M Φ(x)Jf (x)ΩM(x). (23)
Este teorema exprime a forma mais geom´etrica do conhecido teorema de Fubini.
2.3.2 O grupo ortogonal
Consideremos SO(n) o grupo das isometrias de Rn de determinante 1:
trans-forma¸c˜oes lineares do espa¸co preservando a m´etrica euclidiana e a orienta¸c˜ao. A sua composi¸c˜ao, vindo de hgu, gvi = hu, vi, ∀u, v ∈ Rn, ´e a das matrizes g
tais que gtg = 1 e det g = 1. Temos de facto um grupo. Claro que da primeira
equa¸c˜ao resulta logo det g = ±1 e n´os escolhemos a parte que tem det 1. Mais, SO(n) ´e variedade compacta (f´acil) e conexa (dif´ıcil). Eis duas pro-priedades topol´ogicas important´ıssimas na compreens˜ao da geometria do grupo
ortogonal.
Seja M o espa¸co vectorial de todas as matrizes a de ordem n e seja N o subespa¸co daquelas que s˜ao sim´etricas. Seja f : M → N definida por f (x) =
xtx. Ent˜ao f−1(1) = SO(n) ∪ SO(n)−. Claro que SO(n)− se refere aos g tais
que gtg = 1 e det g = −1.
As direc¸c˜oes em M tangentes a f−1(1) s˜ao aquelas sobre as quais f n˜ao varia,
e rec´ıprocamente pois 1 ´e valor regular. Com efeito, prova-se que Tg(SO(n)) =
ker dfg. Como pela regra de Leibniz
no ponto g = 1 vem Tg(SO(n)) = ker dfg = {X ∈ M : Xt+ X = 0}, ou seja
todas as matrizes anti-sim´etricas. Agora torna-se muito f´acil ver a dimens˜ao de SO(n): um vector tangente ´e uma matriz anti-sim´etrica, portanto descrita pelas entradas do triˆangulo acima da diagonal principal e excluindo esta por ser nula. Contando, temos a f´ormula
dim SO(n) = n(n − 1)
2 . (24)
Por exemplo, um ˆangulo d´a-nos as rota¸c˜oes de R2 e trˆes parˆametros as de R3,
mas s˜ao precisos seis para coordenar as rota¸c˜oes de R4...
2.3.3 A esfera como espa¸co de ´orbitas
Agora voltemos `a superf´ıcie esf´erica de raio 1 de dimens˜ao n − 1, denotada por
Sn−1 ⊂ Rn. Fixemos uma direc¸c˜ao e
n qualquer perpendicular a um subespa¸co
Rn−1 ⊂ Rn. O grupo ortogonal actua na esfera rodando-a sobre si mesma.
f : SO(n) → Sn−1 actua como g 7→ g(e
n), uma fun¸c˜ao sobrejectiva, C∞ e
regular.
Quais s˜ao os g que fixam en? S˜ao precisamente os que s´o rodam Rn−1, donde
a escrita do ‘espa¸co sim´etrico’
SO(n)/SO(n − 1) = Sn−1 (25)
como um espa¸co de ´orbitas {SO(n − 1)g : g ∈ SO(n)}.
Com algum cuidado pode-se provar que Jf (g) = 1. Resulta ent˜ao do teo-rema 6, chamemos-lhe de Fubini-Poincar´e, lendo a f´ormula (23), que
vol SO(n) = vol Sn−1vol SO(n − 1) = vol Sn−1vol Sn−2 · · · vol S1vol S0. (26)
A ´ultima igualdade resulta claramente por indu¸c˜ao. Como por outras vias se conhece o volume das esferas
vol Sn−1= (2π)n2 2·4···n−2 para n par 2(2π)n−12 1·3···n−2 para n ´ımpar, (27) eg. generalizando (16) ou consultando [6], vem
vol SO(n) = 2n(n+2)4 πn24 Q(n−2)/2 i=0 (2i)! para n par 2(n+1)24 πn2−14 Q(n−3)/2 i=0 (2i+1)! para n ´ımpar. (28)
posi¸c˜ao da geometria diferencial, lembrando que h´a muitos volumes ainda por calcular de variedades muito importantes e que de ideias novas para tal est´a o evoluir da Ciˆencia dependente.
Referˆ
encias
[1] Arquimedes. Geometrical solutions derived from mechanics. Tradu¸c˜ao de o “M´etodo” para inglˆes da tradu¸c˜ao de 1909 para alem˜ao por J. L. Heiberg; dispon´ıvel pelo Projecto Gutenberg.
[2] Arquimedes. The quadrature of the parabola.
http://www.math.ubc.ca/-cass/archimedes/parabola.html. Tradu¸c˜ao de Th. L. Heath.
[3] C. B. Boyer. A History of Mathematics. Wiley, 2nd edition, 1991. Revista por C. Merzbach.
[4] S. E. Brodie. An ancient extra-geometric proof.
http://www.cut-the-knot.-org/pythagoras/Archimedes.shtml.
[5] D. McDuff e D. Salamon. Introduction to Symplectic Topology. Oxford Mathematical Monographs. OUP, 1999.
[6] Enciclop´edias Wikip´edia e Larousse.
[7] Euclides. Elementos. http://www.mat.uc.pt/ jaimecs/euclid/elem.html. [8] I. Gratten-Guinness, editor. Companion Encyclopedia of the History and
Philosophy of the Mathematical Sciences. Taylor and Francis Books Ltd,
routledge reference edition, 1993.
[9] Th. L. Heath. The works of Archimedes. Cambridge UP, 1897.
[10] R. Howard. Classical integral geometry in riemannian homogeneous spaces.
Contemp. Math., 63:179–204, 1987.
[11] A. Machado. Geometria Diferencial - Uma Introdu¸c˜ao Fundamental. 1a
edi¸c˜ao pela Editora Cosmos, 1991, 2a edi¸c˜ao pelo DMFCUL.
[12] A. Pressley. Elementary Differential Geometry. Springer Undergraduate Mathematics Series. Springer-Verlag, London, 2001.