• Nenhum resultado encontrado

VivacIDADE: Rede entre nós e os agenciamentos na construção de projetos de vida na velhice / EAGErness: Retworks between us and agencies in the construction of projects of life in old age

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "VivacIDADE: Rede entre nós e os agenciamentos na construção de projetos de vida na velhice / EAGErness: Retworks between us and agencies in the construction of projects of life in old age"

Copied!
17
0
0

Texto

(1)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

VivacIDADE: Rede entre nós e os agenciamentos na construção de projetos de

vida na velhice

EAGErness: Retworks between us and agencies in the construction of projects

of life in old age

DOI:10.34117/bjdv6n10-513

Recebimento dos originais: 13/09/2020 Aceitação para publicação: 22/10/2020

Gabriela Alves Mendes

Graduanda em Terapia Ocupacional

Instituição: Faculdade de Ceilândia, Universidade de Brasília (UnB)

Endereço: Campus Universitário - Centro Metropolitano, Ceilândia Sul, Brasília, DF E-mail: gabrielamendes.to@gmail.com

Keila Cristianne Trindade da Cruz

Doutora em Enfermagem

Instituição: Departamento de Enfermagem, Faculdade de Ciências da Saúde, Universidade de Brasília (UnB)

Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro, Brasília, DF E-mail: keilactc@unb.br

Grasielle Silveira Tavares

Pós-Doutora em Terapia Ocupacional

Instituição: Faculdade de Ceilândia, Universidade de Brasília (UnB)

Endereço: Campus Universitário - Centro Metropolitano, Ceilândia Sul, Brasília, DF E-mail: grasiellet@yahoo.com.br

(2)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

RESUMO

Trata-se de um ensaio que relata uma experiência durante a criação de um grupo de promoção à saúde para idosos no ano de 2019. O objetivo principal dos encontros era dar enfoque aos projetos de vida dos idosos, partindo das experiências e experimentações. Os resultados obtidos, corresponderam às construções de projetos de vida e de redes no envelhecimento, que fizeram parte de todo o processo, trazendo o território-rede como um dos focos enquanto intervenção terapêutica ocupacional para este grupo.

Descritores: Envelhecimento, Idoso, Planos e Programas de Saúde, Rede Social, Terapia

Ocupacional, Território Sociocultural.

ABSTRACT

This is a trial reporting an experience during the creation of a health promotion group for the elderly in 2019. The main objective of the meetings was to focus on the life projects of the elderly, based on experiences and experiments. The results obtained corresponded to the constructions of life projects and aging networks, which were part of the whole process, introducing the network territory as one of the focuses as an occupational therapeutic intervation for this group.

Keywords: Aging, Aged, Health Programs and Plans, Social Networking, Occupational Therapy,

(3)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

1 INTRODUÇÃO

1.1 O SER, NO ENVELHECER

Todo ser humano necessita de sentido e significado para sua existência. E na velhice, fenômeno biológico que acarreta consequências psicológicas, possuidora de uma dimensão existencial, modificadora da relação do indivíduo com o tempo, com o mundo e com sua própria história (BEAUVOIR, 1990).

De forma a ser vista como um momento no qual os projetos construídos durante sua trajetória de vida são passíveis de adquirir outros sentidos, de resgatar valores antigos e instaurar significados novos, a velhice atualmente corresponde à fase mais longa do desenvolvimento humano (SANTANA; BELCHIOR, 2013). É comum durante o envelhecimento os indivíduos se depararem com uma redução dos papéis ocupacionais, acarretando a possibilidade de novos planejamentos, que envolvam a transformação do cotidiano (SANTANA; BERNARDES; MOLINA, 2016). Isso pode favorecer um potente espaço para intervenções junto aos projetos de vida, englobando questões pessoais, sociais e familiares, que envolvam relações como o bem-estar.

Buscando a compreensão do envelhecimento de maneira integral, pensa-se nos planos e projetos que acompanham e se transformam durante sua história, logo, há composição dos projetos de vida, que se encontram com uma conexão ao modelo de bem-estar psicológico, segundo a esquematização de Ryff (1989), que conta com seis dimensões, i) “autoaceitação”: que envolve a capacidade de aceitação de si e dos outros, apresentando uma visão positiva de si mesmo e de suas experiências prévias; ii) “relações positivas com os outros”: pelas capacidades de amar, manter e realizar manutenção de relações saudáveis, verdadeiras e de confiança; iii) “autonomia”: a determinação e independência, capacidade de autoavaliação e perseverança em relação aos critérios pessoais de atuação no mundo; iv) “domínio do ambiente”: nas capacidades do criar, escolher e manter ambientes condizentes com suas características pessoais; v) “propósito de vida”: compreender os objetivos pessoais e possuir senso de direção e intencionalidade, gerando sentido para a vida; vi) “crescimento pessoal”: a partir das capacidades de manter continuamente o próprio desenvolvimento, estando aberto às novas experiências, assim como ao aperfeiçoamento e à realização das suas potencialidades.

O trabalho com pessoas idosas, respeitando essas dimensões, corresponde a um desafio e inúmeras descobertas potenciais para o bem-estar manifestado de forma complexa durante os projetos de vida dos idosos. Esses projetos, segundo Bundick (2009), independentes do conteúdo devem seguir alguns aspectos, como a estabilidade ao longo de certo período, ainda que possam sofrer alterações e ajustes; contar com objetivos de longo prazo que operam a vida do sujeito,

(4)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

articulando múltiplas metas concretas; ser organizador e motivador da vida do sujeito, fazendo com que estes tomem decisões, formulem objetivos de curto prazo e se dediquem a atividades necessárias para sua concretização.

Durante o processo de envelhecimento, é essencial que pessoas idosas tenham projetos que não se percam no tempo e estabeleçam prioridades individuais, que além da expectativa quanto aos dias futuros, são indicativas das tarefas evolutivas que o faz pertencente da sociedade e gerenciador de seu cotidiano (SANTANA; BERNARDES; MOLINA, 2016). Estes projetos encontram-se intrinsecamente referentes à autonomia, que corresponde a lidar e tomar decisões a partir de suas preferências e regras; e a independência que corresponde a execução de funções relacionadas às atividades de vida diária, estes, então conectados à qualidade de vida e a expectativa de vida saudável e um envelhecimento ativo (OMS, 2005).

A construção dos projetos ocorre no e pelo cotidiano. Segundo Galheigo (2020), o cotidiano se estabelece no pensar e no agir, ocorre durante as histórias de vida, nas retóricas históricas, nas experiências, no real e imaginário, nos afetos e gestos, nos sonhos, nos fazeres. Acontece no olhar ao simples e no comum.

O cotidiano é marcado pelo que vemos, do nosso lugar no mundo, ou seja, onde nos localizamos e nos situamos, e além de ver, é possível olhar, voltando para forças além do que já se sabe e já se espera, olhar é participar, pois enraíza-se na corporeidade, o olhar permite criar sentido (LIMA, 2004).

Os espaços em que todos estão inseridos, o contexto do território onde se vive, a família, a cultura e os valores, contribuem para a construção de interesses e desejos despertados na dinâmica dos lugares e na formação de território-rede. As categorias territórios e redes, caracterizam-se pelas noções polissêmicas, que permeiam além de um único campo do conhecimento, utilizadas pelas ciências sociais, políticas e econômicas, possibilitando outras subcategorias, como mobilização, inclusão e exclusão social. O território contém inúmeros lugares, contíguos e históricos onde ocorre os acontecimentos de relações sociais (COSTA; MENDES, 2014). Dentre as dicotomias envolvidas nesse campo, destaca-se:

i) o território pode ser uma noção mais ampla que lugar e rede, mas pode também, em muitos casos, confundir-se com eles; ii) a rede pode ser tanto uma forma de expressão/organização do território (principalmente na atual fase globalizante) quanto um elemento constituinte do território; e iii) o lugar, na condição de espaço caracterizado pela contiguidade e por ações de “copresença”, é uma das formas de manifestações do território e, embora no lugar não se privilegiem os fluxos e as redes, estes não podem ser vistos em contraposição a ele (COSTA, MENDES, 2014, pg. 18).

(5)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

A indissociabilidade do espaço-tempo e conjugação, de “território e rede” em “território-rede” incorpora a compreensão do movimento da construção territorial onde se relacionam os espaços contínuos de fixação, descontínuos das redes e da mobilidade. O território é constituído “no e pelo movimento” (COSTA; MENDES, 2014). O ‘ser’ idoso, o envelhecer nos espaços de território-rede traz consigo o movimento da vida, dos fazeres que deixam suas marcas nos espaços vividos, na reconstrução plena de cidadania, em espaços abertos a produção de vida na velhice.

Partindo da Terapia Ocupacional, a necessidade de compreender os projetos de vida durante o envelhecimento envolve os desejos, interesses e engajamento da pessoa idosa com a vida, além de envolver o processo de territorialização e pertencimento do idoso. O território-rede é para ser vivido e experimentado. E os projetos de vida impulsionam isso enquanto o desejo de transformar o cotidiano, de significar o tecido urbano e perceber-se parte dele.

1.2 O LUGAR DA VELHICE NA SOCIEDADE ATUAL – TERRITÓRIOS DE REFLEXÃO

(...) é preciso entender a velhice em sua totalidade, pois, além de sua especificidade biológica, e das transformações psicológicas, ela localiza-se em uma história e insere-se em um sistema de relações sociais. Desse modo, as variáveis históricas e socioculturais, particulares de cada sociedade, são as que fundamentam e explicam a variável velhice biológica, que é comum a todos os seres humanos em todas as sociedades. Em outros termos, o destino da velhice, o ser velho, não é o mesmo em todos os lugares; ele é vivido de acordo com o contexto social (SABATÉ, 2016, pg. 17).

O idoso como um “indivíduo descartável”, parte de uma crença presente na sociedade brasileira, ocorre pelo reforço do imaginário social que geralmente é associado a pessoa idosa, com uma visão pessimista sobre o envelhecimento, que tende a ser mantida e reproduzida na pouca valia, atribuindo dizeres estigmatizantes e depreciativos em torno da velhice, e muitos idosos internalizam esses conceitos, tornando-se marcadores sociais (AMARAL; BRUNELLI; SOUZA, 2020). E fugir desses paradigmas atualmente dentro das reflexões, são fundamentais, sendo necessário pensar em conexões que escapem dessa lógica.

Felizmente, nos tempos atuais, em questões científicas e intervenções com a população, a velhice não está sendo retratada apenas nas terminologias associadas às doenças: fisiológicas ou cognitivas.

A sociedade tem repensado estas associações às pessoas idosas, por meio de legislações, não havendo espaço para discursos de dependência e/ou passividade da pessoa idosa, superar esse paradigma, envolve a possibilidade do idoso enquanto ator de seus aperfeiçoamentos enquanto ser humano. A busca da identidade na contemporaneidade acontece pelos parâmetros pessoais, de forma que o sujeito possa contar consigo mesmo para realizar seus projetos de vida. (AMARAL;

(6)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

BRUNELLI; SOUZA, 2020, apud BAUMAN, 2005). Nesse sentido, é esperado que não haja espaço para o ageísmo: o preconceito etário e a discriminação social contra a pessoa idosa, que ocorre em decorrência da maneira como a sociedade encara o envelhecimento, e no mundo ocidental, o ageísmo corresponde à terceira forma mais presente de discriminação (FERREIRA, LEÃO, FAUSTINO, 2020 apud FELIX, 2009, CAMACHO, et al., 2010; SANTOS, SILVA, 2013).

Considerando as complexidades da velhice na atualidade, nos encontros e conexões que acontecem no cotidiano, surge uma necessidade do conectar, e aqui utilizando a terminologia do agenciar, que ocorre por dois eixos:

Um primeiro eixo, horizontal, um agenciamento comporta dois segmentos: um de conteúdo, o outro de expressão. Por um lado, ele é agenciamento maquínico de corpos, ações e de paixões, mistura de corpos reagindo um sobre os outros; por outro lado, agenciamento maquínico coletivo de enunciação, de atos e de enunciados, transformações incorpóreas sendo atribuídas aos corpos. Mas, segundo um eixo vertical orientado, o agenciamento tem, de uma parte, lados territoriais ou reterritorializados que o estabilizam e, de outra parte, picos de desterritorialização que o arrebatam (DELEUZE, GUATTARI, 2011a, p. 31).

Deleuze e Parnet (1998), trazem o agenciamento como co-funcionamento, uma simbiose, uma simpatia do corpo a corpo, que são os corpos que se envolvem. Estes corpos podem ser físicos, biológicos, psíquicos, sociais ou verbais. Tornando o agenciar como “estar no meio, sobre a linha de encontro de um mundo interior e de um mundo exterior.” (DELEUZE, PARNET, 1998, pg. 44).

Na questão de agenciar, do corpo a corpo, o idoso possui qual papel nessas conexões? Ao viver numa lógica mecanicista dos corpos, com o envelhecer, não há mais espaço, surgindo um decaimento a momento/falas/vivências ageístas, devido ao corpo não ser mais o mesmo. As interações entre sujeito e objeto no fenômeno do envelhecer, perpassam a essência das atividades significativas. Este ensaio, buscou trazer a subjetividade da Terapia Ocupacional e dos projetos de vida na velhice ao falar dos projetos dentro de uma construção de rede viva, entre o nós, a arte e o território.

2 METODOLOGIA

2.1 O PROCESSO CRIATIVO E CONSTITUTIVO DO GRUPO

Trata-se de um ensaio e relato de experiência sobre a vivência durante atividades de extensão na Universidade de Brasília (UnB), com a oportunidade de atuar dentro e junto ao Serviço Social do Comércio – Sesc – Centro de Atividades localizado em Ceilândia, região metropolitana de Brasília, Distrito Federal, com uma oferta de extensão a comunidade a partir dos projetos de extensão "TOCAR – Terapia Ocupacional, Cuidado, Corpo, Criatividade, Cotidiano, Afeto, Arte e Ressignificação” e da “Liga Acadêmica de Gerontologia e Geriatria da Universidade de Brasília

(7)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

(LAGGUnB)”, ambos da Universidade de Brasília, que contribuíram no processo formativo em terapia ocupacional, como suporte para o aprendizado em relação à gerontologia, proporcionando estudo, reflexão, análise e a experiência no fazer. Compondo ao modo de existir, expandindo a conscientização de ser, agregando valores pessoais e edificando a formação profissional.

O laboratório TOCAR foi criado por meio de um projeto de extensão do Curso de Terapia Ocupacional da Universidade de Brasília no ano de 2018, suas ações estão pautadas no tripé da universidade: ensino, extensão e pesquisa. As experiências são realizadas em dois módulos, sendo o primeiro dedicado a um laboratório de experimentações artísticas e corporais que ocorre na universidade com alunos e profissionais da rede assistencial. E o segundo módulo que está atrelado a ações comunitárias e a criação de coletivos, dentre elas a experiência descrita no presente trabalho, por meio dos projetos de vida na velhice.

Assim o grupo que foi criado atrelado ao projeto TOCAR, com as ações junto a comunidade de idosos, foi denominado de Coletivo “vivacIDADE". O nome surge pelas potencialidades da vida e do envelhecimento, logo, viva, e cIDADE, ainda com o destaque à idade pelo curso natural do envelhecimento e também pelo próprio significado da palavra “vivacidade”, referindo-se que idosos tem vida, vigor, força, entre outras potencialidades. É sobre o viver essa idade e viver a cidade partindo de um grupo de promoção à saúde.

Os grupos de Promoção à Saúde (GPS) são intervenções interdisciplinares, dotadas de carga afetiva, que têm o objetivo de potencializar as capacidades do sujeito, aumentando sua autonomia e independência e mudando comportamentos e atitudes que prejudicam a qualidade de vida do indivíduo. Ao mesmo tempo, os grupos de promoção de saúde fortalecem o sujeito na medida em que ajudam no enfrentamento de sofrimentos evitáveis ou desnecessários. As relações sociais desenvolvidas nos grupos de promoção à saúde são baseadas no diálogo e no respeito às diferenças, com foco no processo grupal, onde cada um tem suas opiniões e saberes. Apesar de o GPS ser aberto para todos os tipos de público, o seu foco são naqueles mais vulneráveis, em situação de exclusão social e sem autonomia. Um exemplo do público-alvo dos grupos são os idosos, pois geralmente são acometidos por doenças crônicas, afetando sua capacidade funcional, e diminuindo assim sua autonomia. Diferente de outros grupos, o GPS contempla dimensões biopsicossociais e culturais, que levam uma visão positiva de saúde, retirando o foco da doença enquanto fatalidade. A partir de uma participação cooperativa entre os membros do GPS e o desenvolvimento da autonomia, o saber em saúde é construído nesses grupos (SANTOS, et al, 2006).

Para o trabalho com o grupo, levou-se em consideração o espaço criado pelos membros, no sentido de acolhimento e confiança para que as partilhas pudessem ser realizadas aumentando a

(8)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

autonomia e independência coletiva (CUNHA; SANTOS, 2009). Para isso, é necessário que o coordenador do GPS tenha conhecimento sobre as especificidades dos participantes do grupo, bem como de suas especificidades e esteja atento, a fim de acolher as demandas singulares e grupais.

Aqui, é realizado um recorte do primeiro módulo do grupo, referente ao primeiro semestre do ano de 2019, que ocorria semanalmente, com duração de até duas horas, em uma sala disponível no Centro de Atividades Sesc Ceilândia, no período de 19 de abril à 4 de julho, totalizando 11 encontros. O grupo contava com a participação de até 15 idosos, residentes no Distrito Federal. As atividades utilizadas se estruturaram em uma perspectiva sensível no uso da arte, do corpo e do território-rede, propiciando a possibilidade de vivenciar processos criativos no uso de metodologias abertas para instaurar um diálogo com os idosos, a velhice e o envelhecimento.

Havia uma comunicação que extrapolava os encontros, e acontecia por meio de um grupo aberto no aplicativo de mensagens whatsapp, onde era possível compartilhar informações sobre os planejamentos e atividades, além de possibilitar a troca de fotografias, vídeos, áudios, documentos e mensagens de textos. A relação terapeuta-idoso-grupo em um espaço acolhedor no qual as necessidades encontraram caminhos para serem vistas e sentidas, auxiliando na reconstrução plena da cidadania. As práticas constituídas no grupo trabalharam sob a ótica da produção de vida, da constituição de saúde e das possibilidades de criar territórios para habitar o mundo.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 A CONSTRUÇÃO DAS ATIVIDADES, O OLHAR PARA SI E A MISTURA ENQUANTO GRUPO

O grupo contava com um coordenador (terapeuta), e as vezes com um auxiliar (co-terapeuta), essa condução era dividida entre os discentes e profissionais que compunham o grupo, contando com a docente responsável pelo laboratório TOCAR, terapeutas ocupacionais e discentes dos cursos de terapia ocupacional, as atividades eram pensadas previamente.

Optou-se inicialmente no grupo por uma retrospectiva da semana, que buscava compartilhar as atividades cotidianas, sentimentos e acontecimentos que antecediam ao encontro, tornando-se um ritual, no qual os que tinham algo a compartilhar, independente da natureza, eram acolhidos pelo(s) coordenador(es).

Esta escolha metodológica de funcionamento buscou compreender como cada idoso se apresentava no instante presente, valorizando assim os momentos ocorridos, trazendo um olhar sobre a importância deles e das atividades feitas por eles para a constituição de projetos singulares e pontos comuns ao grupo. Após este momento havia uma atividade central disparadora, que

(9)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

correspondia aos acontecimentos trazidos pelos idosos e/ou pelas demandas observadas pelos coordenadores, profissionais e discentes, uma atividade de acolhimento e finalização.

A primeira atividade na recepção dos idosos ao grupo, partiu-se de uma revisão de vida e levantamento de projetos já sonhados, daqueles possíveis e os que ocupavam o espaço dos desejos. Utilizou-se um vídeo sobre acreditar nos sonhos para uma reflexão do grupo quanto a importância de os projetos de vida acompanharem o ser humano em toda sua existência, independentemente de sua idade.

Segundo Perez e Almeida (2010), a revisão de vida, corresponde ao histórico e trajetória do indivíduo, havendo a evocação de momentos vividos. No grupo VivacIDADE esta trajetória partiu do desenho de uma linha da vida e da narrativa que resgatava memórias, produções, acontecimentos e interesses ao longo da vida. Neste primeiro momento, observou-se nas narrativas da infância o resgate de brincadeiras, que sempre encontravam uma brecha para existir, mesmo frente ao trabalho infantil, histórico de negligência e violência e a pouca oportunidade para os aspectos lúdicos.

No período da adolescência apareceram muitas lembranças alegres dos bailes, dos amores antigos e das atividades escondidas da família. O período da vida adulta e construção do ambiente familiar foi muito relatado pelos idosos, no entanto não é uma fase com muita descrição de detalhes e esteve mais associada ao trabalho e cuidar dos outros. Na velhice aparecem comentários sobre os sentimentos associados a liberdade, alegria, autonomia e a grande parte do tempo que antes era dedicada ao trabalho e filhos, agora é preenchida com a participação em atividades grupais proposta por instituições comunitárias, no entanto percebe-se que a escolha de participar desses grupos, muitas vezes é influenciada pelo tempo livre e a solidão.

No segundo encontro, utilizou-se o dispositivo “tenda do conto”, que articulou cultura, saúde mental e arte, considerando que os membros do grupo levassem objetos pessoais e a partir deles contassem histórias e sua significação (LIMA, et al, 2018). A “tenda do conto” corresponde a uma tecnologia leve, que, segundo Merhy (2002), são produzidas durante o trabalho vivo em ato na saúde, fazendo um território de disputa de reestruturar de forma produtiva na saúde, condensado em si nas relações de interação e subjetividades, com a possibilidade de criar um fluxo de conhecimento, desejo, afeto, comunicação, responsabilidade acolhimento, vínculo, responsabilização e autonomia. Com o uso deste dispositivo, notou-se o fortalecimento dos vínculos, o respeito às diferentes histórias de vida, o acolhimento e pertencimento entre os membros do grupo. A tenda do conto foi utilizada em dois momentos diferentes, (no segundo encontro e posteriormente em um momento cujo o grupo encontrava-se mais protagonista das atividades) e inicialmente foi composta por objetos pessoais concretos (tapete de crochê, foto da família, etc) e quando o grupo já apresentava

(10)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

confiança observou-se que levaram para apresentar ao grupo suas características pessoais como: sorriso, alegria, abraços, poesia, sua dança. Por meio destas escolhas verifica-se a importância de trabalhar com o simbólico que, segundo Jung (apud Silveira, 1981), são termos, nomes ou imagens, que podem ser familiares na vida cotidiana, embora possuam conotações além de seu significado evidente e convencional e implicam alguma coisa além do significado manifesto e imediato, e que nunca são precisamente definidos ou explicados.

As atividades foram sendo constituídas a cada encontro, de acordo com a evolução do grupo, não seguiu um roteiro pré-estabelecido, mas pautou-se nas perspectivas de abertura para o conhecimento dos sujeitos enquanto território-rede, na consciência de um grupo vivo, com demandas terapêuticas ocupacionais diversas que foram sendo acolhidas e possibilitaram potências nos encontros. Vale ressaltar, que este foi um grupo em que os idosos participantes apresentaram em diversos momentos anteriores à oficina problemas de saúde mental (depressão, síndrome do pânico) e dificuldades de se envolver em atividades significativas no cotidiano. Estes aspectos apareceram em encontros onde foi possível trabalhar os sentimentos e emoções despertados nos fazeres, o conhecimento de si e do outro, a autovalorização, os valores e paradigmas sobre a velhice e os espaços ocupados por eles na cidade, bairro, território e vida.

As atividades que foram recortadas para este trabalho tiveram foco na territorialização e nas redes perpassaram por dois momentos: 1) eles tecendo suas redes individuais (Fotografias do Cotidiano: tecendo as redes individuais - que espaços são constituídos em mim e por mim?); 2) tecitura da rede coletiva territorial (Mapas territoriais – Qual território eu habito? Que espaços desta cidade compõem minha história?) Aqui será relatado um pouco deste trajeto desenvolvido em cada processo vivenciado pelo grupo e sua relação com as dimensões dos projetos de vida:

3.1.1 Fotografias do Cotidiano: tecendo as redes individuais - que espaços são constituídos em mim e por mim?

Ao verificar as redes individuais durante o grupo, acessamos alguns laços perdidos e construídos ao longo de uma vida, e ainda a constituição de espaços de pertencimento, dos desejos, de fazeres e de histórias, surgindo a necessidade de uma condução de atividade voltada para o cotidiano.

A condução e manejo de um grupo terapêutico ocupacional, parte de uma dinamicidade para o funcionamento, a partir de aspectos técnicos. E para o funcionamento grupal, o terapeuta ocupacional precisa dispor sua atenção para com o grupo, ou seja, compreender sua dinâmica, que

(11)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

é determinada a partir das relações entre participantes e coordenador(es). E ainda, a relação que os participantes assumem com a atividade proposta (BALLARIN, 2007).

Esta atividade correspondeu ao convite para que fotografassem o cotidiano, os fazeres do dia-a-dia, pois a construção de projetos de vida necessitam desse movimento no aqui-agora, e os registros em forma de imagem, de como as atividades são feitas, com quem e o que fazem se materializaram em um exercício para o grupo.

Fotografias em família ou da família foram muito frequentes, muitas estavam relacionadas a alimentação, ao ato de cozinhar e principalmente ao fato de a comida proporcionar encontros e nutrir relações consigo, com os outros e com o mundo.

As fotografias foram apreciadas em grupo por meio de exposição em aparelho de projeção multimídia, durante um dos encontros e a proposta inicial era falar sobre os conteúdos que as fotos despertavam em quem as via e como por meio delas descobriríamos quem era o sujeito daquela história. Notou-se que a maior parte das imagens eram de atividades antigas, estes gestos ofereceram aos coordenadores do grupo a necessidade de um tempo maior para que as atividades do ‘presente’ pudessem ganhar espaço. Na terapia ocupacional a experimentação das atividades permite que o sujeito se transforme e transforme o mundo enquanto faz, aprende, cria, desconstrói e produz vida (LIMA, 2019).

E aqui, a “autonomia” (RYFF, 1989), perpassa por um dos aspectos mais vividos e mais difíceis durante a velhice, que envolve perdas, algumas limitações que o corpo pode chegar a ter, muitas vezes evidenciadas em não ter condições de executar as atividades, tomadas de decisão, e possuir o sentimento de abandono e/ou proteção exacerbada da família.

A perda da autonomia está diretamente envolvida com a dependência para realizar as atividades do dia-a-dia, tornando-se umas das maiores preocupações para idosos ativo. No grupo, a independência é umas das coisas mais evidentes. Porém emocionalmente é percebida uma dependência, pois muitos possuíam sentimento de abandono emocional por parte de sua rede. Nas atividades, a autonomia foi trabalhada por meio das sensações e pensamento para que conjuntamente as ações pudessem ser influenciadas e passassem a ter impacto positivo na vida dos idosos.

E por meio do autoconhecimento, entendemos nossos limites, capacidades, história de vida e acolhemos o outro respeitando suas singularidades, começamos a nos autoavaliar e praticar escolhas que nos acolhemos relatos deixados pelos idosos foram percebidos critérios pessoais para suas atuações no mundo. Notou-se melhora nos objetivos relacionados à própria identidade, à contribuição que cada um observou que pode fazer à sociedade, aumentando a geratividade e proporcionando maiores níveis de bem-estar no final das intervenções realizadas no grupo.

(12)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

As “relações positivas com os outros” (RYFF, 1989), aqui esteve presente, sendo trabalhado por meio da troca de histórias, experiências e culturas no grupo, vivenciando a capacidade de amar, respeitar e confiar no outro, além de compreender o espaço do outro, e entender onde na fronteira do outro, é momento de parar e/ou avançar sobre determinadas situações, possibilitando, a construção progressiva de um grupo afetivo.

3.1.2 Mapas territoriais – Qual território eu habito? Que espaços desta cidade compõem minha história?

A partir da compreensão das redes individuais, nos deslocamos para as redes territoriais/sociais com questionamentos que solicitaram aos idosos que descrevessem os locais que eles ocupavam (família, sociedade, grupo de amigos), as pessoas que faziam parte da rede, que espaços da cidade transitavam e se sentiam pertencentes. Neste momento o grupo começou a demonstrar o “lugar” que a cidade ocupava dentro de si, que espaços utilizavam, aonde iam com frequência, como eram vistos, como se viam, que relação eram estabelecidas. O lugar aqui é compreendido como espaço da existência e da coexistência de histórias de vida que se cruzam, se afetam e se constroem mutuamente (BIANCHI, 2019, apud SANTOS, 2005; SOUZA 2005; KURKA, 2008).

Enquanto aos lugares, os mais compartilhados, foram restaurantes dentro do território que os idosos habitavam, e que, de maneira discreta, compunham as histórias de vida. Nos prazeres sentidos, estes, de habitar com o outro, um familiar, um amigo, em um determinado lugar.

A troca das vivências, dentro de um mesmo local, seja pelas descrições do lugar, que algumas vezes, por viverem em um território próximo, os idosos partilhavam da evocação das histórias e dos alimentos apreciados. Surgiu também, enquanto grupo, uma necessidade de conhecer um “novo”, juntos, e que envolvesse a construção de uma nova memória, entre o nós.

O processo de movimentação, ou seja, sair do local, físico que ocupávamos, para explorar, um novo lugar, surgindo um acontecer solidário, e o desejo de projetos de vida que pudessem compor ações voluntárias na cidade.

A cidade, e aqui, a ocupada por estes, envolvia uma certa rotina e periodicidade, ou seja, acostumavam-se aos pertencimentos já adquiridos. Surgir a necessidade de conhecer o novo, envolve de forma grandiosa e de afetação nos projetos de vida, desde que, há a necessidade de projetar um novo, e produzir vida.

Então, extrapolar as paredes da instituição e ter possibilitado a realização de um encontro presencial com os espaços da cidade, que eles gostariam de frequentar, correspondeu a arquitetar e

(13)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

decidir enquanto grupo uma visita ao “Catetinho”, a primeira residência oficial do presidente Juscelino Kubitschek em Brasília, correspondendo ao momento considerado mais gratificante pelo grupo. Essa visita proporcionou, acesso as memórias, e embora tenham realizado evocações, houve a experimentação de novas experiências, que mesmo sabendo da existência desse museu e até mesmo das histórias que este perpassa, o fato do estar ali, constituir um aqui-agora, poder fotografar para registrar o momento ali vivido, envolver o ganho de sentidos, deslocar-se para o cotidiano e as construções dos projetos de vida.

A prática cotidiana possibilita a expressão subjetiva, das redes e trocas sociais, de agenciamentos disparadores dos processos, valorizando trocas grupais como espaços de liberdade e emancipação dos sujeitos, atuante da esfera social e coletiva. Com a implicação de um “novo viver”, que implica a aceitação de riscos, rupturas e reconstruções afetivas, para participar de novos espaços sociais, transformações familiares, de encontro com novas possibilidades na cidade e do seu potencial criativo (CASTRO, 2001).

Uma dimensão dos projetos de vida, aqui é latente, as relações ao “domínio do ambiente” (RYFF, 1989), observando-se o que pode fazer à sociedade, aumentando a geratividade e proporcionando maiores níveis de bem-estar no final das intervenções realizadas. A capacidade e o desejo de criar trabalhos contribuíram para o início de um movimento que trouxe a criação de novos sentidos e modos de viver. Foi necessário vivenciar a desconstrução de alguns hábitos e pensamentos massificantes na velhice para que o ambiente em que vivem não tivesse uma característica ameaçadora, mas sim que fosse um estímulo para a construção de atividades.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

4.1 REDES QUE FORAM TECIDAS PARA CONSTITUÍREM O “NÓS” – FECHANDO CICLOS O grupo possuiu todo um processo elaborativo partindo de conhecer os idosos inseridos, a partir da escuta das histórias dos participantes, e compreender os locais habitados, por eles e neles para chegar nos projetos de vida que os acompanhavam.

As atividades elencadas inicialmente no grupo registraram uma rotina pouco criativa e de uma dependência das atividades externas, que já estavam pré-determinadas na rotina dos idosos. Notou-se que quando estas atividades não eram oferecidas, o idoso permanecia restrito em sua casa, o que contribuía para um prejuízo em sua saúde mental.

A partir da tecitura de uma rede polissêmica entre o nós, onde as relações de troca e experimentações ocorriam no grupo, vale ressaltar que os mediadores estavam incluídos nessa rede,

(14)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

pois não ficavam em um papel hierárquico e observador, logo, todos experimentavam e participaram das atividades.

As atividades sobre as redes foram ricamente frequentes, no que se refere à emancipação, haja visto que eles foram os atores e protagonistas, dando o primeiro passo coletivo para o “crescimento pessoal” (RYFF, 1989) que foi trabalhado por meio da abertura às novas experiências, as experimentações e apreciações, e assim possibilitado pelo fato de estar junto, assim como ao aperfeiçoar as demonstrações das suas potencialidades durante as atividades grupais. Notou-se que, houve um engajamento e comprometimento em relação aos objetivos dos idosos que participaram do grupo, pois passaram a compreender os seus impactos nas ações, decisões e aspirações cotidianas.

Logo, com a proposta de um grupo de promoção a saúde como gerador de uma rede viva de projetos de vida na velhice e a compreensão das redes de apoio, que são importantes desde o nascimento e principalmente na velhice, sendo a rede possuidora de efeitos diferentes na vida dos sujeitos, seja ela familiar ou não. Possuir relações próximas é fundamental para que seja trabalhada e dê vida aos projetos de vida, pois aumenta nosso senso de pertencimento, reduzindo o sentimento de solidão como algo negativo.

O foco das atividades foram direcionados para a valorização de se ter projetos e do fato de viver em rede, e ainda assim muitas foram as falas que abordaram a escassez de suas redes e o sentimento de abandono emocional que era vivenciado diariamente por conta de atitudes de seus familiares. Trabalhou-se nas atividades a necessidade de dar e receber apoio em um grupo. Depois que isso ficou em evidência, foi entendido que muitas vezes dar apoio pode ter um impacto em nosso bem-estar, alcançando um efeito cascata em suas relações dentro e fora do grupo.

A qualidade das relações estava relacionada em como agiam com o outro e consigo. Em várias falas no grupo pode-se ver como isso era uma verdade para muitos idosos. Eles relataram no final deste módulo que aprenderam a ouvir e a respeitar as pessoas que os cercavam e as mudanças nas manutenções de suas relações tornaram-nas mais saudáveis.

O uso presente da arte (mesmo quando sutil) em praticamente todos os encontros, partindo dos aparatos terapêuticos que a arte proporciona e a possibilidade de aumentar os repertórios ocupacionais e o contato com utensílios e dispositivos não-cotidianos levaram as duas últimas dimensões aqui mencionadas de Ryff (1989), todo o processo sobre a “autoaceitação”, de si e dos outros, aprendendo a partir das experiências e experimentações, e ao “propósito de vida” que trouxe aos idosos a possibilidade de compreensão sobre os seus objetivos pessoais e senso de direção e intencionalidade na vida.

(15)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

Ao compreender os encontros e as conexões do cotidiano como um agenciamento, pelas simpatias do corpo a corpo, das ações, das paixões, da mistura, do apreciar, do experimentar, do estar no meio, do estar “entre nós”, dentro de um território que deve ser explorado e usufruído por todos, perpassa os projetos de vida e as compreensões de território-rede.

Partindo deste módulo foi possível observar novas atividades sendo acrescentadas e algumas sendo ressignificadas, desta forma as atividades foram se apresentando com iniciativas no cotidiano presente e com estes idosos atores de seus projetos. Alguns idosos chegaram a acrescentar de três a quatro novas atividades em sua rotina, e as falas do grupo passaram a estar mais voltadas para o momento atual (não somente ao passado) levando a diminuição do sentimento de tristeza e aumento da autoconfiança.

Ao fechar o ciclo deste módulo com o grupo, foi possível observar resultados através de atividades que fogem de um processo ageísta como: se inscrever no grupo de yoga, ballet, voluntariado, vontade de fazer curso de confeitaria, e ter tempo para se dedicar ao autocuidado. Distanciam-se essas atividades do ageísmo, pela noção que a sociedade tem do lugar que o idoso deve/pode ocupar, que não seriam estes, por exemplo por falácias do tipo “está muito velho para isto”. Essas atividades novas que foram surgindo mostraram a satisfação com a vida e que o bem-estar começou a ser visto como uma busca de excelência pessoal como motivação central da existência, e não a busca do prazer imediato em algumas atividades refletindo nos novos projetos de vida durante a velhice e nos agenciamentos enquanto grupo.

5 NOTA

Este artigo foi apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade de Brasília – Faculdade de Ceilândia como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Terapia Ocupacional.

(16)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

REFERÊNCIAS

AMARAL, Shirlena Campos de Souza; BRUNELLI, Priscila Barbosa; SOUZA, Sheila Campos. Estética e envelhecimento humano em tempos líquidos: múltiplos olhares. In: ISTOE, Rosalee Santos Crespo; MANHÃES, Fernanda Castro; SOUZA, Carlos Henrique Medeiros (org.).

Envelhecimento humano, inovação e criatividade: diálogos interdisciplinares. Campos dos

Goytacazes, RJ: Brasil Multicultural, 2020.

BALLARIN, Maria Luisa Gazabim Simões. Abordagens Grupais. In: CAVALCANTI, Alessandra; GALVÃO, Cláudia (org.). Terapia Ocupacional – Fundamentação & Prática. Pg. 38-43. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan [reimp.] 2014.

BEAUVOIR, Simone de. A Velhice. Trad. Maria Helena Franco Monteiro. 5ª Ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1990.

BIANCHI, Pamela Cristina. Terapia Ocupacional, território e comunidade: desvelando teorias

e práticas a partir de um diálogo latino-americano. 2019. Tese (Doutorado em Terapia

Ocupacional) – Programa de Pós-Graduação em Terapia Ocupacional, Universidade Federal de São Carlos, São Paulo, 2019.

BUNDIK, Mattew Joseph. Pursuing the good life: An examination of purpose, meaningful

engagement, and psychological well-being in emerging adulthood. 2009. Dissertation (Doctor

degree of Philosophy) – Stanford University, Stanford, 2009.

CASTRO, Eliane Dias. Atividades Artísticas e Terapia Ocupacional: construção de linguagens

e inclusão social. 2001. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Universidade de São

Paulo, São Paulo. 2001.

COSTA, Samira Lima, MENDES, Rosilda. Redes Sociais Territoriais: Primeiras Palavras. In: COSTA, Samira Lima; MENDES, Rosilda. Redes Sociais Territoriais. Pg. 17-32. Ficha cartográfica elaborada pela Biblioteca da Escola de Filosofia, Letras e Ciências Humanas/Unifesp, São Paulo. 2014.

CUNHA, Ana Cristina.; SANTOS, Thais Fernanda. A utilização do grupo como recurso terapêutico no processo da terapia ocupacional com clientes com transtornos psicóticos: apontamentos bibliográficos. Cadernos de Terapia Ocupacional da UFSCar, São Carlos, v. 17, n.2, p 133-146, jul./dez. 2009.

DELEUZE, Gilles.; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia 2. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 2011a. vol. 1.

DELEUZE, Gilles.; PARNET, Claire. Diálogos. São Paulo: Escuta, 1998.

FERREIRA, Vitor Hugo Sales, LEÃO, Luiza Rosa Bezerra, & FAUSTINO, Andrea Mathes. Ageísmo, políticas públicas voltadas para população idosa e participação social. Revista Eletrônica

(17)

Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 10, p.81158-81174,oct. 2020. ISSN 2525-8761

GALHEIGO, Sandra Maria. Terapia ocupacional, cotidiano e a tessitura da vida: aportes teórico-conceituais para a construção de perspectivas críticas e emancipatórias. Cadernos Brasileiros de

Terapia Ocupacional, v. 28, n.1, p. 5-25. 2020.

LIMA, Elizabeth Maria Freire de Araújo. A análise de atividade e a construção do olhar do terapeuta ocupacional. Revista de Terapia Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 15, n. 2, p. 42-48, mai./ago. 2004.

LIMA, Elizabeth Maria Freire de Araújo. Uma perspectiva ético-estético-política para as atividades em terapia ocupacional. In: SILVA, Carla Regina. (org). Atividades humanas e terapia

ocupacional: saber-fazer, cultura, política e outras resistências. São Paulo: Hucitec, 2019.

LIMA, Martha Savana de Sousa. et al. A tenda do conto como possibilidade de encontro entre serviço, ensino e comunidade. Cadernos Brasileiros de Saúde Mental, ISSN 1984-2147, Florianópolis, v.10, n.26, p.101-114, 2018.

MERHY, Emerson Elias. Saúde: a cartografia do trabalho vivo. São Paulo: Hucitec, 2002.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE – OMS. Envelhecimento ativo: uma política de

saúde. Brasília: Organização Pan-Americana de Saúde, 2005.

PEREZ, Marina Picazzio.; ALMEIDA, Maria Helena Morgani. O processo de revisão de vida em grupo como recurso terapêutico para idosos em Terapia Ocupacional. Revista de Terapia

Ocupacional da Universidade de São Paulo, São Paulo, v. 21, n. 3, p. 223-229, set./dez. 2010.

RYFF, Carol Diane. Happiness is everything, or is it? Explorations on the meaning of psychological well-being. Journal of Personality and Social Psychology, v. 57, n.6, p. 1069-1081, 1989.

SABATÉ, Roberta Cristina Delboni. Envelhecimento e sociedade: um debate sobre o lugar do

idoso no Brasil contemporâneo. (Mestrado em Ciências Sociais) Universidade Estadual Paulista,

São Paulo, 2016.

SANTANA, Carla da Silva; BELCHIOR, Carolina Guimarães. A velhice nas telas do cinema: um olhar sobre a mudança dos papéis ocupacionais dos idosos. Kairós Gerontologia, São Paulo, v. 16, n. 1, p. 93-116, mar. 2013.

SANTANA, Carla da Silva, BERNARDES, Marina Soares, Molina, Amanda Marcócio Touro Bianco. Projetos de vida na velhice. Estudos Interdisciplinares sobre o Envelhecimento, Porto Alegre, v. 21, n. 1, p. 171-186, 2016.

SANTOS, Luciane de Medeiros, et al. Grupos de promoção à saúde no desenvolvimento da autonomia, condições de vida e saúde. Revista de Saúde Pública, São Paulo, v. 40, n.2, p. 346-352, 2006.

SILVEIRA, Nise da. Jung: vida e obra / Nise da Silveira – 7- ed.– Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1981.

Referências

Documentos relacionados

xii) número de alunos matriculados classificados de acordo com a renda per capita familiar. b) encaminhem à Setec/MEC, até o dia 31 de janeiro de cada exercício, para a alimentação de

Os dados de incidência foram obtidos do RCPB de Fortaleza a partir do sistema basepopWeb (INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER, 2010), sendo coletados: o número de casos novos

ITIL, biblioteca de infraestrutura de tecnologia da informação, é um framework que surgiu na década de mil novecentos e oitenta pela necessidade do governo

“A diferença de juízo entre Sócrates e Górgias sobre o poder da retórica mostra como, do ponto de vista da construção das personagens, elas possuem valores absolutamente

As variáveis peso, estatura e circunferência da cintura apresentaram valores médios superiores aos homens em relação as mulheres, sendo o inverso observado para índice

A Psicologia, por sua vez, seguiu sua trajetória também modificando sua visão de homem e fugindo do paradigma da ciência clássica. Ampliou sua atuação para além da

Assim, a figura do inimigo, condição do político enquanto tal toma forma a partir da descoberta de sua perda, ou seja, desde a descoberta da possibilidade da

Os modelos desenvolvidos por Kable & Jeffcry (19RO), Skilakakis (1981) c Milgroom & Fry (19RR), ('onfirmam o resultado obtido, visto que, quanto maior a cfiráda do