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livro ceam 2009

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Academic year: 2021

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Especialização em

Aprendizagem Motora

(Volume II)

Laboratório Sistemas Motores Humanos

Departamento de Biodinâmica MCH

Escola de Educação Física e Esporte

Universidade de São Paulo

Organizadores

Luis Augusto Teixeira

Victor Hugo Alves Okazaki

Andréa Cristina de Lima

Carla Ferro Pereira

Sylvia Lúcia de Freitas

Elke dos Santos Lima

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Edição: Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo Capa: Luís Augusto Teixeira

Editoração eletrônica: Andréa Cristina de Lima

Reprodução

O livro como um todo ou suas partes poderão ser reproduzidos de forma impressa ou eletrônica, desde que não se faça uso comercial de seu conteúdo.

Endereço eletrônico: Este livro poderá ser obtido em arquivo eletrônico no seguinte endereço, http://www.usp.br/eef/efb/labsis/livros.htm

Especialização em aprendizagem motora / org. Luis Augusto Teixeira et al. – São Paulo: Departamento de Biodinâmica do Movimento do Corpo Humano da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo, 2009.

v, 164p.

Coletânea de trabalhos do Curso de Especialização em

Aprendizagem Motora, organizado por Luís Augusto Teixeira, Victor Hugo Alves Okazaki, Andréa Cristina de Lima, Carla Ferro Pereira, Sylvia Lúcia de Freitas e Elke dos Santos Lima.

1. Aprendizagem motora 2. Controle motor I. Teixeira, L.A., org. II. Título.

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Apresentação

O conteúdo desta publicação traz os trabalhos de conclusão da segunda edição do Curso de Especialização em Aprendizagem Motora, promovido pelo Laboratório Sistemas Motores Humanos da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. Este curso foi oferecido no formato à distância, com o propósito principal incrementar a qualificação acadêmica de profissionais atuantes em diferentes segmentos relacionados ao desenvolvimento de habilidades motoras em seres humanos, tais como aqueles graduados em Educação Física, Esporte, Fisioterapia, Psicologia e Dança.

A seleção do conteúdo e a estratégia de ensino foram norteadas pelos seguintes objetivos: 1. Favorecer o acesso ao aperfeiçoamento profissional, tornando mais acessível o conhecimento gerado e organizado na Universidade de São Paulo a profissionais residentes em regiões mais distantes da cidade de São Paulo ou com dificuldade de acesso físico.

2. Proporcionar uma aprendizagem autônoma, a partir de uma proposta pedagógica visando ao desenvolvimento de indivíduos ativos em sua formação.

3. Promover uma educação inovadora e de qualidade, buscando-se diversificar e ampliar as ofertas de estudo, com um sistema educativo inovador, por sua sistemática e recursos didáticos instrucionais e de multimídia.

4. Incentivar a educação permanente por meio de estratégias e instrumentos adequados para a aquisição de autonomia na obtenção de informação, buscando-se desenvolver habilidades para posterior manutenção do aperfeiçoamento profissional independente.

5. Tornar mais eficiente o processo de aprendizagem, uma vez que o aluno pode estudar em períodos de sua maior conveniência, sem perda de tempo no deslocamento frequente ao local sede do curso.

A fim de proporcionar uma sólida formação na área de comportamento motor, foi oferecido um amplo conjunto de disciplinas, divididas em três áreas temáticas: (1) Formação básica, composta pelas disciplinas de Estatística, Metodologia da pesquisa, Neurofisiologia do comportamento motor e Mensuração e avaliação do comportamento motor. (2) Controle motor, composta pelas disciplinas Funções sensório-perceptivas e atenção, Mecanismos de controle motor, Coordenação motora e Lateralidade. (3) Aprendizagem motora, composta pelas disciplinas Introdução à aprendizagem motora, Informação extrínseca e Efeito da prática.

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Uma parte importante dos resultados obtidos neste processo de formação superior poderá ser apreciada nos vários trabalhos de pesquisa apresentados nesta publicação. Estes trabalhos foram realizados como requisito para conclusão do curso, com foco em temas associados à área de comportamento motor. Cada trabalho de pesquisa foi orientado por um dos docentes do curso, o qual acompanhou o aluno/autor durante todo o desenvolvimento do curso como seu tutor. O resultado final deste processo educacional poderá ser conferido pelo leitor nesta publicação, na qual oferecemos uma série de resultados originais de pesquisa, com potencial para aprimoramento tanto acadêmico quanto das atividades profissionais relacionadas ao desenvolvimento da motricidade humana.

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SUMÁRIO

Capítulo 1 Coordenação motora e prática de atividade física em crianças Adriano Augusto Vivas Maia

1

Capítulo 2 Foco atencional na aprendizagem de padrões gráficos em crianças Barbara Detoni Borba

8

Capítulo 3 Efeito da atenção sobre a preferência manual: Desempenho e aprendizado na tarefa de seqüenciamento de toque de dedos Bruno Secco Faquin

18

Capítulo 4 Efeito da mudança de direção sobre a lei de Fitts na tarefa de traçar linhas

Camila Rodrigues Fiuza

29

Capítulo 5 Efeito da atenção sobre a preferência manual e assimetria interlateral no aprendizado em tarefa de rastreamento Cristiane Regina Coelho Candido

38

Capítulo 6 Efeito do foco de atenção sobre o desempenho em habilidades motoras esportivas

Deborah Regina Freitas Dantas

49

Capítulo 7 Ginástica holística: Um caminho para a melhora da atenção Fernanda Fonseca dos Santos Lopes

60

Capítulo 8 Idoso: dificuldades em uma tarefa motora com bola Flávia Maria Roquette Ferreira

71

Capítulo 9 Análise da aprendizagem do saque manchete do voleibol em função do foco atencional

Kleber Augusto Ribeiro

81

Capítulo 10 Efeito da freqüência de conhecimentos de resultados na aprendizagem de uma habilidade motora em idosos Marijane Alexandrino Boto

91

Capítulo 11 Efeito do uso da instrução verbal e demonstração por vídeo na aprendizagem de uma habilidade motora do judô

Mário Luiz Miranda

100

Capítulo 12 Tendência de oscilação postural e equilíbrio funcional em indivíduos com Doença de Parkinson

Natália Madalena Rinaldi

110

Capítulo 13 Efeito de instruções verbal e visual no aprendizado do salto triplo Priscila Gabriel da Rocha Mateus

122

Capítulo 14 Alteração da preferência manual na tarefa de alcançar e agarrar em função de prática unimanual

Renato Passos Pereira da Silva

133

Capítulo 15 Interferência contextual em tarefa de contornar figuras geométricas

Roberta Regina Castellano Linhares

141

Capítulo 16 Assimetria intermanual em ações de velocidade-precisão e sua relação com a prática da tarefa

Vivian Bermudo

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Capítulo 1

Coordenação motora e prática de atividade física em crianças

Autor: Adriano Augusto Vivas Maia Orientadora: Andrea Cristina Lima

Resumo

O presente estudo teve como objetivo avaliar a coordenação motora em crianças em função do gênero e do tempo de prática. Participaram do estudo 40 crianças com 9 anos de idade de ambos os sexos. A coordenação motora foi avaliada com a bateria de testes KTK que compreende quatro provas: equilíbrio à retaguarda, saltos laterais, saltos monopedais e transposição lateral. Ao teste estatístico, somente o gênero foi significante graças ao desempenho superior das crianças do sexo masculino. Não foi observada relação entre o nível de coordenação motora e o tempo de prática de atividades esportivas. Com base nos resultados concluímos que o gênero masculino obtém vantagem em relação à coordenação motora. Porém não podemos afirmar, com base nos resultados encontrados que a prática de atividade física tem relação com a coordenação motora.

Termos-chave: coordenação motora, teste KTK, atividade física Introdução

A que se devem as diferenças de gênero quando falamos de desenvolvimento de ações motoras? A primeira é a diferença funcional. Em princípio, e consideradas as diferenças morfofuncionais típicas de cada sexo, deveria existir um fator intrínseco favorável ao sexo masculino para todas as ações em que a estrutura musculoesquelética tem papel não negligenciável: as ações que exigem mais força, mais rapidez, segmentos mais longos ou estruturas de suporte articular mais robustas. Ações como correr, saltar ou lançar estariam assim, de início, favorecidas no sexo masculino dadas as diferenças naturais nos fatores de execução. Sherif e Rattray (1976) mostraram que os professores e treinadores, quando confrontados com estas diferenças de gênero, as consideravam sobretudo como efeitos da biologia. Segundo Barreiros e Neto (2005), o grupo de variáveis biológicas, inclui aspectos como a morfologia, o índice de maturação, a composição corporal e muscular, e todos os fatores normalmente designados por fisiológicos. Outro grupo junta um conjunto complexo de variáveis: as influências genéticas e os valores de cada grupo social em cada momento. Um terceiro grupo, talvez o que tem maior incidência direta, é uma construção evolutiva lenta, feita com base nas experiências de movimento facultadas pelo envolvimento, e muito caracterizadas por um processo não orientado nas primeiras idades, a que se sucede um conjunto cada vez

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mais estruturado de oportunidades, como as facultadas pela escola e outras instituições. Este conjunto de influências é correntemente designado por efeitos da prática.

Um estudo sobre a diferença entre gêneros em atividades físicas foi elaborado por Pomar e Neto (2000). O contato físico e os jogos de interdependência envolvendo força, resistência e potência, com predomínio de ações de propulsão e em grupos sociais de maior dimensão, e com utilização extensiva dos espaços, são características dos jogos e atividades masculinas. O gênero feminino, por outro lado, privilegia as atividades de natureza estética, com movimentos finos e mais controlados, muitas vezes associados a atividades rítmicas, com poucos participantes e em espaços mais reduzidos. No sexo feminino predominam a comunicação verbal e não-verbal, o reduzido contacto físico e pouca agressividade. Só para ilustrar os extremos da estereotipia, atente-se que o futebol, basquetebol e surf são predominantemente masculinas, enquanto o elástico, os batimentos ritmados de mãos e o saltar corda são predominantemente femininos.

Contudo, porque as diferenças de desempenho entre gêneros não são tão óbvias quanto às diferenças biológicas, porque essas diferenças não têm a mesma expressão em momentos distintos da história, e porque por vezes os resultados são contra-intuitivos e difíceis de explicar, tornou-se necessário equacionar o papel dos efeitos da prática esportiva nas diferenças na coordenação motora. De acordo com Magill (2000) a variedade de experiências de movimento e de contexto são ingredientes importantes para as condições de prática. Isso aumenta a capacidade do indivíduo desempenhar determinada habilidade com sucesso e principalmente de se adaptar às condições ainda não vivenciadas.

Dentre os instrumentos utilizados para identificar os níveis de coordenação motora na infância e juventude, encontra-se o Teste de Coordenação Corporal para Crianças (Körperkoordinationtest für Kinder - KTK) desenvolvido por Kiphard e Schilling (1974). Gorla et al. (2003) desenvolveu um trabalho sobre o teste KTK em estudos da coordenação motora. O teste KTK é composto por quatro atividades: equilíbrio retrocedendo, saltos monopedais, saltos laterais e transposição lateral. Foram analisados os estudo feitos com o teste KTK por Rapp e Schoder (1972), Bianchetti e Pereira (1994), Smits-Engelsman et al. (1998), Fernandes (1999) e Santos et al. (1999). De acordo com os estudos citados anteriormente, Gorla obteve evidências concretas da sua validade. Verificou-se também que o teste mostrou-se eficiente dentro dos objetivos propostos pelos estudos, podendo, quando utilizado de forma correta, contribuir para a elaboração de programas específicos de Educação Física, diagnosticar problemas de coordenação motora global e verificar a aquisição de habilidade motora básicas.

Os estudos sobre avaliação da coordenação e suas relações com idade, gênero e nível de atividade são escassos. Segundo Lopes et al. (2003) a insuficiência de coordenação refere-se à

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instabilidade motora geral, que engloba os defeitos qualitativos da condução do movimento atribuído a uma interação imperfeita das estruturas funcionais subjacentes, sensoriais, nervosas e musculares, a qual provoca uma moderada alteração qualitativa dos movimentos e produz uma diminuição leve a mediana do rendimento motor. Esta insuficiência de coordenação pode e deve ser corrigida por medidas adequadas no contexto da Educação Física escolar. A avaliação da coordenação motora, então, se torna um elemento fundamental na elaboração de programas de educação física. Buscar um desenvolvimento ótimo de cada uma das crianças em uma aula de educação física demanda domínio na utilização de estratégias de ensino-aprendizagem. Associado a este domínio, é preciso que o professor conheça o desenvolvimento da coordenação motora e os fatores que influenciam seu desempenho, considerando a hipótese de que idade, gênero e experiência motora influenciam o desempenho da coordenação motora. Em uma aula de educação física em que crianças com variados níveis de experiência motora interagem, pode haver prejuízo no aprendizado se o professor não identificar aquelas que necessitam de estratégias de ensino diferenciadas. E dentro do contexto da educação física escolar isso é importante na elaboração de um programa de atividades o conhecimento sobre essas variáveis e suas correlações.

O presente estudo tem como objetivo avaliar, através da bateria de testes KTK, o desenvolvimento da coordenação motora em crianças de nove anos de idade em função do nível de atividade física e gênero.

Método Participantes

A amostra foi composta por 40 crianças de ambos os sexos com idade de nove anos. Todos os participantes eram alunos do ensino fundamental. Não puderam participar da pesquisa alunos com deficiência física ou mental diagnosticados, nem crianças com alterações cognitivas ou que estivessem fazendo uso de medicamentos que interferisse na atenção ou equilíbrio. O pai ou responsável por cada criança assinou um termo de consentimento livre e esclarecido, autorizando a participação do mesmo no estudo.

Procedimentos

Inicialmente foi encaminhado para os responsáveis das crianças um questionário sobre a freqüência e tipo de atividade física realizado pelas crianças. Este questionário teve o objetivo de identificar o nível de atividade física e experiências motoras vivenciadas pelas crianças. A pontuação está definida no questionário em anexo, mas não foi exibida no questionário enviado

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aos pais ou responsáveis. Depois de recebidos os questionários, os participantes foram submetidos à bateria de teste de coordenação motora KTK.

Antes do início da aula de educação física, o material para a realização do teste foi montado cada um em um local. Ao chegarem ao local, as crianças foram orientadas sobre a realização do teste. Cada uma das quatro atividades foi detalhadamente explicada e demonstrada pelo professor ou estagiários de educação física que auxiliaram na realização do teste. Os alunos foram divididos em grupos, de forma aleatória, independente do gênero, cada grupo realizando uma atividade do teste. Enquanto um aluno realizava a atividade, os demais componentes do grupo ficaram em outro local aguardando a vez. Na aula seguinte os grupos mudaram de atividade, e assim sucessivamente até que todos os alunos terminassem o teste. Cada grupo teve um professor de educação física que fez a coleta dos dados. A pontuação total no teste KTK, o quociente motor (QM), foi a soma das pontuações do teste de equilíbrio retrocedendo, saltos monopedais, saltos laterais e transposição lateral.

As variáveis dependentes foram o desempenho coordenativo (QM) e a experiência motora (escore do questionário).

Análise

Satisfeitas as exigências para normalidade, foi realizado o teste estatístico t para medidas independentes comparando as médias obtidas com relação ao gênero e ao tempo de prática. Foi realizado um teste de correlação entre os valores do questionário de atividade física e o escore final do teste KTK. O nível de significância foi definido em 0,05.

Resultados

Para a variável experiência motora, o resultado do teste t para medidas independentes não indicou efeito de gênero. O gênero masculino obteve pontuação semelhante ao gênero feminino, média e desvios-padrão.

Para a variável desempenho coordenativo houve efeito de gênero. Este efeito foi graças a uma maior pontuação para os meninos (200,15±44,73) significantemente superior às meninas (154,81±34,50).

Não foi encontrada, ao teste realizado, correlação entre experiência motora e desempenho coordenativo (r = -0,02 para o gênero feminino e r = -0,04 para o masculino).

O quociente motor médio obtido no teste foi de 154,81(±34,50) para o sexo feminino e de 200,15(±44,73) para o masculino.

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Discussão

Graf et al. (2004) realizaram um estudo com 668 crianças de ambos os sexos a fim de estabelecer uma correlação entre o índice de massa corporal, hábitos de lazer e habilidades motoras. A análise da atividade esportiva mostra que as crianças com a maior prática do exercício conseguiram os resultados os mais elevados no teste de coordenação KTK. O gênero masculino conseguiu resultados significativamente superiores ao feminino. Porém, os resultados obtidos no presente estudo contradizem os resultados no que diz respeito ao nível de atividade física.

Com relação ao efeito de gênero, o presente estudo obteve resultados similares a outros realizados, como Deus et al. (2008), Lopes et al. (2003) e Bustamante et al. (2008).

De acordo com o trabalho de Barreiros e Neto (2005), as diferenças de gênero em termos de coordenação motora são detectáveis desde os três anos de idade, geralmente favoráveis ao sexo masculino, exceto em atividades como o saltitar, algumas medidas de equilíbrio, a flexibilidade, e tarefas que implicam coordenação motora fina. O que diz respeito ao equilíbrio foi observado nos resultados do presente estudo e nos trabalhos de Kiphard e Shilling (1974) e Bustamante et al. (2008).

De acordo com Barreiros e Neto (2005) as diferenças de gênero em termos de coordenação motora são detectáveis desde os três anos de idade, geralmente favoráveis ao sexo masculino, exceto em atividades como o saltitar, algumas medidas de equilíbrio, a flexibilidade, e tarefas que implicam coordenação motora fina com maior peso da componente de habilidade digital (Broadhead & Church, 1985; Thomas & French, 1985). O estudo continuado mais robusto no sentido da caracterização do desenvolvimento da performance é, talvez, o Motor Performance Study, lançado por Vern Seefeldt em 1967. Neste estudo estão bem visíveis os efeitos de gênero na performance motora, essencialmente visíveis a partir dos sete anos de idade, mas notoriamente diferentes a partir da entrada na adolescência. Aos cinco anos de idade os meninos situam-se entre os 20 e os 40% da performance adulta, enquanto as meninas já estão posicionadas entre os 40 e os 60%. Este último dado é extremamente importante, pois define os potenciais de desenvolvimento atuais para os dois sexos logo desde a infância e espelha muito bem a margem de progressão concedida em termos probabilísticos a cada um deles. Isso explica os resultados obtidos neste e em outros estudos acima citados no que se refere à vantagem do gênero masculino sobre o feminino.

Em relação à prática esportiva de crianças e adolescentes, espera-se que os mais ativos apresentem repertórios motores mais ricos e variados, além de melhores desempenhos em termos de coordenação e habilidades motoras. Deve ser considerado também que a qualidade e

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a quantidade da prática de atividades físicas estejam adequadas às idades e ao desenvolvimento de cada indivíduo (Lopes, 2006).

O trabalho feito por Collet et al. (2008) obteve resultados contrários ao obtido no presente estudo. O objetivo foi analisar o nível de coordenação motora de escolares da cidade de Florianópolis, considerando gênero, faixa etária, prática esportiva extraclasse e IMC. Os dados das variáveis gênero, idade e prática esportiva extraclasse foram coletados por meio de ficha de registro de dados preenchida pelos pesquisadores de acordo com a resposta fornecida pelos escolares. O nível de coordenação foi avaliado através do teste KTK. Os dados apontam diferenças estatísticas significativas no nível de coordenação motora ao considerar a prática esportiva extraclasse.

Alguns estudos com crianças brasileiras (Elias et al., 2007) e portuguesas (Faustino et al., 2004; Maia & Lopes, 2007) sugerem ligeira influência dos níveis de atividade física nos valores de coordenação motora. Em contrapartida, estudo realizado por Lopes (2006) em Portugal, não encontrou associações entre a prática de atividades físicas habitual e a coordenação motora de crianças.

Tal fato pode ser explicado, não pela ausência de atividade física diária, mas provavelmente pela falta de riqueza dessas atividades, visto que, segundo Maia e Lopes (2007), essa capacidade é largamente influenciada pela experiência motora, não só em termos de quantidade, mas também da qualidade dos estímulos motores a que os indivíduos são expostos.

Com base nos resultados obtidos no presente estudo, fica aparente uma superioridade do gênero masculino em relação ao feminino, no que diz respeito às ações avaliadas. Já com relação ao fato de não ter encontrado relação entre a prática de atividade física e desempenho coordenativo, o resultado obtido indica que não existe essa correlação. Porém, temos resultados de outros estudos no Brasil e no exterior que contradizem esse resultado e outros que o confirmam.

Nesse sentido, os resultados apresentados e a escassez de investigações sobre o nível de coordenação motora na realidade brasileira permitem sugerir a ampliação de pesquisas mais concretas e detalhadas, principalmente para proporcionar avanço científico neste campo de estudo.

Referências

Barreiros, J. & Neto, C. (2005). O desenvolvimento motor e o gênero. Disponível em: <http://w2.fmh.utl.pt/Cmotricidade/dm/textosjb/texto_3.pdf>. Acesso em 5 mar. de 2008. Broadhead, G.D. & Church, G.E. (1985). Movement characteristics of preschool children.

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Collet, C., Folle, A., Pelozin, F., Botti, M. & Nascimento, J.V. (2008). Nível de coordenação motora de escolares da rede estadual da cidade de Florianópolis. Motriz, 14(4), 373-380. Deus, R.K.B.C., Bustamante, A., Lopes, V.P., Seabra, A.F.T., Silva, R.M.G. & Maia, J.A.R.

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Gorla, J.I. & Araujo, P.F. (2007). Avaliação Motora - Teste KTK. São Paulo: Phorte.

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Greco, P.J., Benda, R.N. (1998). Iniciação esportiva universal, da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: Ed. UFMG.

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Lopes, V.P., Maia, J.A.R., Silva, R.G., Seabra, A. & Morais, F.P. (2003). Estudo do nível de desenvolvimento da coordenação motora da população escolar (6 a 10 anos de idade) da Região Autônoma dos Açores. Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 3(1), 47–60. Maia, J.A.R. & Lopes, V.P. (2007). Crescimento e desenvolvimento de crianças e jovens

Açorianos. O que pais, professores, pediatras e nutricionistas gostariam de saber. Porto: Fadeup.

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Valdívia, A.B., Cartagena, L.C., Sarria, N.E., Távara, I.S., Seabra, A.F.T., Silva, R.M.G. & Maia, J.A.R. (2008). Coordinación motora: influencia de La edad, sexo, estatus sócio-economico y de adiposidad em niños. Revista Brasileira de Cineantropometria & Desempenho Humano, 10(1), 25-34.

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Capítulo 2

Foco atencional na aprendizagem de padrões gráficos em crianças

Autora: Barbara Detoni Borba

Orientadora: Andréa Cristina de Lima

Resumo

O efeito do foco atencional foi observado na aprendizagem de padrões gráficos em crianças na faixa etária de 10 anos (n=18). O objetivo da tarefa era contornar figuras geométricas visualizadas na tela de um computador utilizando um mouse invertido, de forma que o traçado realizado fosse o contrário do apresentado em tela. Os participantes foram aleatoriamente divididos em três grupos. O primeiro recebeu orientação para direcionar sua atenção na mão que realizava o movimento com o mouse (foco interno), o segundo focou a atenção no cursor do mouse apresentado na tela do computador (foco externo). O terceiro não recebeu instrução sobre foco de atenção (grupo controle). Os experimentos constaram de pré-teste, aquisição, pós-teste, retenção e transferência. A variável observada foi o tempo de movimento. Os grupos experimentais apresentaram resultados semelhantes nas fases do estudo, não havendo diferença entre os focos de atenção adotados. Efeitos de aprendizagem foram constatados na fase de aquisição, testes de retenção e transferência contralateral. O desempenho superior nas habilidades motoras é descrito na literatura quando executantes são instruídos a adotar foco externo de atenção em comparação ao foco interno, entretanto estas pesquisas se restringem ao público adulto. Do contrário, o presente estudo não encontrou diferença entre os focos de atenção adotados pelas crianças. Isto pode indicar que as crianças utilizam diferentemente as informações internas e externas ao seu corpo para aprender uma tarefa motora. Tal comportamento pode ser resultado da imaturidade do sistema de controle atencional. Estudos com crianças devem ser mais explorados a fim de identificar precisamente a influência do foco atencional na aquisição de tarefas.

Termos-chave: foco atencional, criança, aprendizagem motora. Introdução

Instruções ou feedbacks fornecidos por profissionais devem conduzir à melhora no desempenho e aprimoramento no processo de aprendizagem dos alunos. Dentre diferentes estratégias, pode-se salientar o direcionamento do foco atencional utilizado na execução de habilidades motoras. Focalizar a atenção refere-se à organização dos recursos atencionais disponíveis e o direcionamento para determinadas fontes de informação, durante uma situação de desempenho (Magill, 2000). O direcionamento da atenção pode estar relacionado a aspectos internos ou externos ao executante. No interno, o foco atencional é conduzido ao movimento do próprio corpo. O foco atencional externo conduz para determinado efeito do movimento do executante no ambiente, como o movimento de um instrumento (taco, raquete) manipulado pelo executante bem como a trajetória de um objeto batido ou arremessado.

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O direcionamento da atenção do executante durante a prática influencia a qualidade e a precisão das habilidades motora (Beilock & Carr, 2001; Beilock, Carr, McMahon & Starkes, 2002; Gray, 2004) bem como todo processo de aprendizagem. A velocidade com que a habilidade é a prendida e intensidade com que ela é retida são extremamente influenciadas pelo foco de atenção que o executante é induzido a focar pelas instruções ou feedbacks aumentados fornecidos a ele. (Wulf, 2007, para revisão).

Estudos apontam que adotar um foco externo de atenção conduz a um desempenho superior comparado ao direcionamento interno ou mesmo sem nenhuma instrução de foco em diferentes tipos de habilidades (Shea & Wulf, 1999; Wulf, Höß, Prinz, 1998; Wulf, McConnel, Gärtner & Schwarz, 2002; Wulf, Shea & Park, 2001; Wulf, Weigelt, Poulter & McNevin, 2003). Estes resultados podem ser explicados pela “Hipótese de Ação Constringida” (Wulf & Prinz, 2001; Wulf et al., 2004; Wulf, 2007 para revisão). De acordo com esta hipótese, focar a atenção no efeito do movimento (foco externo) permite que ele seja regulado de maneira automatizada, requisitando menos recursos atencionais. Desta forma o movimento é realizado de maneira mais eficiente e de forma rápida. Ao direcionar sua atenção para o movimento (foco interno) o indivíduo obriga o sistema motor a interferir com os processos naturais de controle, prejudicando o controle automático e tornando a realização do movimento mais lenta (Jacobs & Horack, 2007). Na aprendizagem, é natural que o indivíduo aloque mais atenção à execução da habilidade tornando o movimento mais lento graças ao envolvimento do processo neural mais complexo.

As vantagens do foco externo de atenção na aprendizagem de habilidades motoras foram verificadas no estudo que conduziu os participantes a aprender corrida de esqui em uma máquina simuladora (Wulf et al., 1998, Experimento 1). Um grupo foi instruído para centrar a atenção na força empregada pelos seus pés (foco interno), outro grupo foi instruído para se focar na força exercida pelas rodas da plataforma, que eram posicionadas abaixo de seus pés e o terceiro grupo (controle) não recebeu nenhuma instrução. O grupo de foco externo demonstrou maior efeito de aprendizagem do que o grupo de foco interno e o grupo controle. Ademais, o grupo foco interno não foi melhor nem do que o grupo controle. Balançar em um estabilômetro foi a tarefa utilizada por Wulf, Höß, Prinz, (1998, Experimento 2) para verificar a influência do foco de atenção. O grupo foco atencional interno foi instruído a focar-se na manutenção de seus pés na plataforma e o grupo de foco externo foi induzido a focar-se nas marcas colocadas na plataforma do estabilômetro posicionadas na frente de seus pés. Apesar da mínima diferença de instruções, grupo com foco externo teve um aprendizado superior no balanço relativo observado através de teste de retenção.

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Participantes sem nenhuma experiência em golfe receberam instruções básicas iniciais e foram divididos em três grupos para realizar tacadas de golfe (Wulf & Su, 2007). O grupo que recebeu instruções para focar a atenção no balanço do taco (foco externo) apresentou desempenho superior na acurácia das tacadas durante a prática e melhores resultados no teste de retenção comparado ao grupo que direcionou sua atenção no balanço do seu braço (interno) e ao grupo controle que não recebeu instruções sobre foco de atenção.

A influência do foco de atenção foi verificada na oscilação postural com adultos e crianças de quatro a onze anos (Olivier et al. 2008). Os autores compararam as modificações do controle postural quando crianças e adultos eram instruídos a direcionar sua atenção na própria oscilação postural. O foco interno de atenção prejudicou a efetividade do movimento tanto para as crianças como para os adultos, verificado através do declínio da estabilidade postural, indicando que desde os quatro anos as crianças são capazes de direcionar sua atenção ao foco instruído.

A adoção de diferentes focos atencionais tem sido utilizada no desempenho de diferentes habilidades motoras, níveis de habilidade e populações com déficit motor causado por doenças, tais como Parkinson ou derrame cerebral (Wulf, 2007 para revisão); entretanto ainda são escassas pesquisas que exploram os efeitos dos diferentes focos em crianças. Segundo Olivier et al., 2008, as crianças utilizam estratégias diferentes dos adultos para focar sua atenção e o processo direcional de atenção é melhorado com a idade. Achados sugerem que a eficiência da atenção seletiva (focar-se voluntariamente em estímulos e ignorar outros) é melhorada no decorrer da infância (Plude, Enns & Brodeur, 1994). Portanto, assim como sugere Wulf (2007), mais estudos são necessários para determinar a idade em que estes efeitos começam a ser manifestados.

Este estudo tem como objetivo observar a influência do foco atencional com crianças de dez anos em na aprendizagem de habilidade de padrões gráficos de uma maneira nunca antes realizada (utilizando um mouse invertido), de forma que a ausência de experiência prévia não conduza a interferências significativas. De acordo com os achados expostos acima, a influência no foco atencional carece de pesquisas com diferentes populações e variações de habilidades motoras.

Método Participantes

Participaram deste estudo 18 crianças, de ambos os sexos, na faixa etária entre dez e onze anos (=10,9 ± 0,4), estudantes do ensino fundamental. Foram divididos em três grupos aleatoriamente, com seis participantes cada: foco interno (FI), foco externo (FE) e controle

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(CO). Todos tinham preferência lateral direita para a escrita e desenho, verificados através da realização das tarefas escolares. Os participantes aceitaram a participação voluntária neste estudo, e foram autorizados por seus responsáveis por meio de assinatura no termo de consentimento esclarecido. Foram excluídos do estudo alunos que apresentasse qualquer dificuldade de aprendizagem.

Equipamento e tarefas

A tarefa consistiu no contorno de figuras geométricas com o cursor do mouse (Multilaser) utilizando o software Draw Task (v.1.0). As figuras eram visualizadas em uma tela de notebook da marca Acer com 14.1 polegadas. O tempo de movimento foi cronometrado por um relógio (NIKE). O objetivo da tarefa era contornar a figura com cursor, utilizando o mouse invertido de forma que o traçado na tela fosse o inverso daquele realizado manualmente feito pelo participante. Desta forma, movimentos feitos para a direita produziram deslocamento do cursor na tela para esquerda, com a mesma inversão ocorrendo no eixo vertical. A posição inicial do mouse era no vértice superior esquerdo da figura. O desenho deveria ser completado movimentando o cursor para a direita, para baixo, esquerda, para cima até chegar ao ponto inicial. As tentativas eram anuladas se durante o percurso o cursor perdesse contato com a figura ou se o participante não completasse todo o desenho. A figura utilizada para os todas as fases do experimento foi o quadrado, com exceção da fase de transferência na qual um retângulo foi utilizado (figura 1). A inversão do traçado fez com que a tarefa fosse inédita aos participantes, sendo possível observar a influência do foco atencional na aprendizagem da nova habilidade.

Figura 1 – Figuras geométricas visualizadas na tela do computador. Quadrado utilizado no pré, pós-teste, aquisição e retenção (A) e o retângulo utilizado na transferência (B).

B A

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Procedimentos

O objetivo e as condições da pesquisa foram explicados previamente às crianças durante período de aula. Em seguida foi entregue o termo de consentimento para que levassem ao responsável para autorizar a sua participação. Após o recebimento de todos os formulários de consentimento assinados, iniciaram-se as coletas. A divisão dos grupos e ordem dos participantes para a coleta foi estipulada por sorteio.

O participante era conduzido individualmente a uma sala da escola que pertenciam destinada à coleta. Durante todo o experimento somente a criança e o experimentados permaneciam na sala. A criança deveria manter-se sentada em uma cadeira com os joelhos flexionados à aproximadamente 90° e os pés apoiados no chão. À frente da criança estava posicionado o computador em uma mesa distante aproximadamente 50 centímetros do eixo medial do participante. O mouse era posicionado ao lado da mão preferida do participante, de maneira que pudesse realizar os movimentos confortavelmente.

Durante a fase de aquisição, os participantes do grupo foco interno receberam orientação para prestar atenção no movimento da mão que movimentava o mouse. As outras seis crianças do grupo de foco externo (FE) receberam orientação para prestar atenção no movimento do cursor do mouse. O grupo controle (CO), não recebeu instrução sobre foco de atenção.

A coleta dos dados foi realizada em quatro fases: no primeiro dia após duas tentativas de familiarização, era realizado o pré-teste com os três grupos. Em seguida era realizada a fase de aquisição (somente FI e FE). Durante a fase de aquisição foram realizados seis blocos de quatro tentativas cada com intervalos de um minuto entre eles. Todos os grupos foram submetidos ao pré, pós-teste, retenção e transferências. O pós-teste foi realizado após o último bloco do período de aquisição, também composto por três tentativas. Após cinco dias foi realizado o teste de retenção, composto por três tentativas. Um dia depois foram realizados os testes de transferência ipsi e contralateral. Os participantes fizeram três tentativas com a mão ipsilateral e outras três tentativas com a mão contralateral.

Análise

A variável analisada foi o tempo de movimento em segundos. O tempo de movimento aumenta conforme a necessidade de utilização de feedback para realizar a tarefa com a acurácia determinada. A aprendizagem é verificada através do aumento da velocidade do movimento sem detrimento na precisão.

A fase de aquisição foi dividida em 6 blocos de 4 tentativas cada. Em cada bloco foi calculado o tempo de movimento médio das 4 tentativas. O modelo estatístico utilizado na fase

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de aquisição foi o de análise de variância de dois fatores 2 (grupo: FE x FI) x 6 (bloco) e medidas repetidas nos dois últimos fatores.

A diferença entre os grupos FI, FE e CO no pré-teste, pós-teste e retenção foram verificadas através de uma ANOVA de dois fatores, 3 (grupo: FE x FI x CO) x 3 (teste: pré-teste, pós-teste e retenção), com medidas repetidas no segundo fator.

Os testes de transferência lateral foram avaliados por meio de uma ANOVA de dois fatores, 3 (grupo: FE x FI X CO) x 3 (fases: pós-teste X transferência ipsilateral x transferência contralateral), com medidas repetidas no segundo fator. Contrastes discriminantes foram feitos por meio do teste Newman-Keuls. O nível de significância foi de 0,05.

Resultados Fase de aquisição

Os resultados da análise não apontaram diferença significante para o fator principal grupo F(1,10)=1,30, p=0,28 e interação F(5,50)=1,13, p=0,36. Foi encontrado efeito para o fator principal bloco F(5,50)=11,87, p<0,05. Esta diferença foi devido a um tempo de movimento maior no primeiro bloco em comparação ao último (figura2), indicando que houve aprendizagem em ambos os grupos.

0 10 20 30 40 50 60 70 1 2 3 4 5 6 blocos te m p o (s )

Figura 2 - Tempo médio de movimento e erros-padrão durante a fase de aquisição.

Testes (pré-teste, pós-teste e retenção).

Os resultados da análise apontaram efeito dos fatores principais grupo F(2,15)=9,43, p<0,001, teste F(2,30)=41,72, p<0,001 e interação F(4,30)=4,05, p<0,01. Os contrastes posteriores indicaram que o grupo CO apresentou tempo de movimento superior aos grupos FI e FE. Com relação aos testes, o pós-teste e a retenção obtiveram valores de tempo de movimento inferiores ao pré-teste. A retenção foi o teste que apresentou valores de tempo de movimento menores. Os contrastes posteriores da interação apontaram que o grupo CO

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apresentou valores maiores do que os outros grupos somente no pós-teste. Não houve diferença entre os grupos FE e FI no pós-teste e na retenção (figura3).

Transferências

Os resultados da análise apontaram efeito dos fatores principais grupo F(2,15)=11,27, p<0,001, teste F(2,30)=12,26, p<0,001 e interação F(4,30)=10,05, p<0,01. Os contrastes posteriores indicaram que o grupo CO apresentou tempo de movimento superior aos grupos FI e FE. Com relação aos testes, as transferências obtiveram valores inferiores de tempo de movimento do que o pós-teste. Não houve diferença entre os testes de transferência. Os contrastes posteriores da interação apontaram que o grupo CO apresentou valores maiores do que os outros grupos somente no pós-teste. Não houve diferença entre os grupos FE e FI no pós-teste e interação (figura 4).

0 20 40 60 80 100 120 140 160 pré pós ret te m p o ( s ) F I F E C O

Figura 3 - Tempo de movimento médio e erros-padrão no pré-teste, pós-teste e retenção.

0 20 40 60 80 100 120 140 160 P ré P ós Tra ns f D Tra ns f E te m p o ( s ) F I F E C O

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Discussão

É essencial que as instruções fornecidas por professores ou treinadores determinando o foco de atenção contribuam para a melhora no desempenho ou na aprendizagem de habilidades motoras tanto em crianças como em adultos. Embora estudos apontem que utilizar o foco externo (foco no resultado do movimento) apresenta melhores resultados comparado a adoção de foco interno (foco no movimento) ou mesmo quando nenhum foco é instruído, (Wulf, Höß, & Prinz, 1998; Wulf, McNevin & Shea, 2001; Wulf, Shea & Park, 2001; Wulf, McConnel, Gärtner & Schwarz, 2002; Wulf, Weilget, Poulter & McNevin, 2003), pouco se sabe sobre estes efeitos na população infantil.

Este trabalho teve como objetivo verificar se os diferentes focos atencionais induzidos interferiam na aprendizagem de habilidades gráficas em crianças, sendo que a aprendizagem de padrões gráficos utilizando o mouse invertido constituiu em uma tarefa inédita de forma que não houvesse interferência de outras habilidades.

A hipótese de que os efeitos na aprendizagem em crianças e adultos em função do foco atencional adotado poderiam ser diferentes baseia-se no fato de que o cérebro infantil ainda em desenvolvimento passa por modificações estruturais até atingir a maturidade. Estas modificações por sua vez conduziriam a diferenças funcionais tal como a dificuldade em manter o foco atencional instruído, interferindo na aquisição da habilidade motora.

Os resultados neste estudo apontaram que o tipo de instrução quanto ao foco atencional utilizado não interferiu em nenhuma fase da aprendizagem de padrões gráficos em crianças na faixa etária dos dez anos. Estes achados podem ter sido resultantes da dificuldade das crianças em manter o foco de atenção instruído devido à imaturidade do sistema de controle atencional. McCullagh e Weiss (citado por Andrade et al., 2004) apontam que antes do doze anos as crianças não estão completamente maduras na atenção seletiva, na velocidade de processamento visual e nos processos de controle. Focalizar a atenção no alvo instruído e persistir por um determinado tempo são aspectos da cognição que melhoram com a idade, como descrevem Andrade et al. (2004). Wulf et al (2003) destacam que indivíduos iniciantes não utilizam um único foco de atenção e que este varia de acordo com as exigências da tarefa, apesar das instruções para manter a atenção em um foco de atenção específico.

Na fase de aquisição, embora não tenha sido encontrada diferença significante entre os grupos FI e FE, foi possível comprovar melhora no desempenho com a prática realizada, sendo observada nos blocos finais uma tendência ao platô, representada por um desempenho estável durante um período, característico do processo de aprendizagem (Magill, 2000). Os tempos de movimentos nesta fase também se tornaram mais consistentes. A efetividade do aprendizado

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foi observada através do teste de retenção, no qual os tempos de movimentos foram inferiores ao pós-teste e pré-teste.

Os resultados indicaram que a tarefa utilizada proporcionou transferência contralateral, já que o tempo de movimento para os membros ipsi e contralateral foram semelhantes e bastante inferior comparado ao pré-teste. Desta forma, a habilidade aprendida pelo membro que realizou a prática também foi aprendida pelo membro oposto que ficou em repouso durante esta fase. Segundo Magill (2000), a transferência contralateral se baseia na aprendizagem de aspectos cognitivos envolvidos na execução das habilidades que são semelhantes tanto para a execução com um membro quanto para o homólogo. Assim, funções cognitivas foram envolvidas na aprendizagem desta habilidade gerando um modelo interno, evidenciado pela melhora no desempenho do membro não efetor, na realização de tarefa semelhante e na consolidação do aprendizado verificado no teste de retenção.

Os mecanismos da aprendizagem motora e os aspectos que a influenciam são interesse de diferentes áreas do conhecimento como Educação Física, Fisioterapia, Psicologia entre outras, que têm em comum o interesse em desenvolver estratégias que facilitem o aprendizado e potencialize sua aquisição. A instrução do foco atencional é um exemplo de estratégia, entretanto ainda faltam pesquisas que observem estes efeitos utilizando pessoas de diferentes faixas etárias e tarefas motoras, a fim de melhor compreender quando os efeitos do direcionamento de atenção começam a ser manifestados e a definição de focos de atenção “ótimos” para o desempenho e aprendizagem de habilidades.

Referências

Andrade, A., Luft, C. B. & Rolin, M. K. F. B. (2004). O desenvolvimento motor, a maturação das áreas corticais e a atenção na aprendizagem motora. EFDesportes Revista Digital, São Paulo, (10)78. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd78/motor.htm. Acesso em 15 jan. 2009.

Beilock, S.L. & Carr, T. H. (2001). On the fragility of skilled performance: what governs choking under pressure? Journal of Experimental Psychology: General, 130, 701-25.

Gray, R. (2004). Attending to the execution of a complex sensorimotor skill: expertise differences, choking, and slumps. Journal of Experimental Psychology: Applied, 10, 42-54. Jacobs, J. V. e Horak, F. B. (2007). Cortical control of postural responses. Journal of Neural

Transmition, 114(10), 1339-48.

Magill, R.A. (2000). Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo, Edgard Blücher.

Olivier, I., Palluel, E. & Nougier, V. (2008). Effects of attentional focus on postural sway in children and adults. Experimental Brain Research, 185, 341–345.

Plude, D.J., Enns, J.T., Brodeur, D. The development of selective attention: a life-span overview. Acta Psychologica, 86(2-3), 227-72.

Shea, C. H., & Wulf, G. (1999). Enhancing motor learning through external-focus instructions and feedback. Human Movement Science, 18, 553-571.

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Vance, J., Wulf G., Töollner T., McNevin N.H., Mercer J. (2004). Emg activity as a function of the performer’s focus of attention. Journal of Motor Behavior, 36, 450-459.

Wulf, G. (2007). Attentional focus and motor learning: a review of 10 years of research.

Bewegung und training. Disponível em:

http://www.sportwissenschaft.de/fileadmin/img/publikationen/BuT/aktuelles/Wulf_target_ar ticle_2007.pdf. Acesso em 15 jan. 2009.

Wulf, G., Höß, M., & Prinz, W. (1998). Instructions for motor learning: differential effects of internal versus external focus of attention. Journal of Motor Behavior, 30, 169-179.

Wulf, G., McConnel, M., Gärtner, M. & Schwarz A. (2002). Enhancing the Learning of sport Skills through external focus feedback. Journal of Motor Behavior, 34, 171-182.

Wulf, G., McNevin, N. H., & Shea, C. H. (2001). The automaticity of complex motor skill learning as a function of attentional focus. Quarterly Journal of Experimental Psychology, 54A, 1143-1154.

Wulf, G., & Prinz, W. (2001). Directing attention to movement effects enhances learning: a review. Psychonomic Bulletin & Review, 8, 648-660.

Wulf, G., Shea, C. H. & Park J. H. (2001). Attention in motor learning: preferences for and advantages of an external focus. Research Quarterly for Exercise and Sport, 72, 335-344. Wulf, G & Su, J. (2007). An external focus of attention enhances golf shot accuracy in

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Wulf G., Weilget. M., Poulter, D. R., McNevin N.H. (2003). Attentional focus on supra-postural tasks affects balance learning. Quarterly Journal of Experimental Psychology, 56, 1191-1211.

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Capítulo 3

Efeito da atenção sobre a preferência manual: Desempenho e

aprendizado na tarefa de seqüenciamento de toque de dedos

Autor: Bruno Secco Faquin∗

Orientador: Victor Hugo Alves Okazaki

Resumo

Este estudo objetivou analisar o efeito da atenção sobre a preferência, o desempenho e o aprendizado de uma tarefa motora de seqüenciamento de toques entre os dedos realizada concomitantemente com uma tarefa de rastreamento simulada em computador. A amostra foi constituída por 30 indivíduos do sexo masculino e feminino, com idades entre 20 e 30 anos, todos com preferência manual direita divididos em três grupos: prática principal (GP), prática principal e secundária (GPS) e controle (GC). A tarefa principal constitui-se em realizar movimentos de toques alternados entre o polegar e os demais dedos (mão não-preferida). A tarefa secundária foi perseguir um pequeno círculo em movimento aleatório na tela de um monitor de microcomputador com a ponteira do mouse (mão preferida). Foi verificada melhora no desempenho e no aprendizado dos grupos experimentais (GP e GPS) na tarefa principal. Tais resultados foram explicados pela capacidade flexível de alocação da atenção, em situações que necessitam da realização de duas tarefas concomitantemente. A prática também resultou na mudança de preferência específica para realizar a tarefa praticada, reforçando a idéia de que desempenho e preferência manual são componentes independentes em comportamento motor. A atenção não pareceu ser o fator determinante na formação de preferência lateral. Foi sugerido que a preferência manual geral seria a precursora das assimetrias de desempenho verificadas em diversas tarefas motoras, e não o contrário.

Termos-chave: atenção, preferência lateral, assimetria de desempenho, seqüência de toques de dedos

Introdução

O termo lateralidade diz respeito a vários aspectos relativos aos lados direito e esquerdo do corpo. Um desses aspectos a ser destacado é o cognitivo, que consiste na formação de um sistema de coordenadas espaciais cujo referencial é a linha sagital mediana. Dentro do tema lateralidade, existe uma dimensão que se refere à freqüência de uso de um segmento corporal em relação ao segmento contralateral homólogo, este fenômeno é denominado preferência lateral. Um estudo conduzido por Brackenridge (1981) constatou que 90% da população

Agradecimentos: A Deus por mais esta conquista, as mulheres da minha vida Fani, Evelyn e Cris, pela

confiança, carinho e incentivo durante a realização do curso e, principalmente, ao meu orientador Prof. Dr. Victor H. A. Okazaki pelo ensino, incentivo, paciência, dedicação e orientação atribuída ao desenvolvimento da minha formação e realização deste trabalho.

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mundial são classificados como destros para tarefas manuais. Tal predominância pela mão direita leva a acreditar que esse comportamento é devido a predisposições genéticas que produzem assimetrias estruturais no sistema nervoso central. Segundo esta idéia a lateralidade de um indivíduo já estaria definida ao nascer, exceto em casos de patologias neurais que afetam um único hemisfério cerebral ou através de excessiva prática unilateral o que poderia alterar a predisposição genética por necessidade de adaptação (Levy, 1976). Por outro lado, tem havido fortes indícios de que a preferência lateral também pode ser definida, ou fortemente influenciada, pela prática ou pelo ambiente/contexto.

Ashton (1982) investigou as preferências manuais de mais de mil e oitocentas famílias havaianas, envolvendo pais, filhos e seus ancestrais, sugerindo que apenas de 10% a 20% para a participação genética na determinação da preferência manual, enquanto fatores ambientais responderam por 89% das preferências manuais. Porac e Coren (1981) observaram um alto grau de ambidestria em jogadores de basquetebol de alto nível, sugerindo que este fenômeno ocorreu devido às práticas e demandas específicas do desporto. Porac, Coren e Searleman (1986) analisaram seiscentos e cinqüenta adultos jovens com preferência lateral esquerda que passaram por situações nas quais seus pais ou seus professores os pressionaram para escrever com a mão direita. Estes autores mostraram que 11% dos indivíduos passaram por tentativas de mudança de preferência lateral e destes aproximadamente metade efetuou a mudança de preferência. Foi relatado também que esta alteração ocorreu por volta dos oito anos de idade e foi mais significativa na habilidade de escrever. Tais estudos em conjunto sugerem que há um efeito da prática sobre a preferência lateral.

Outro fator que também foi sugerido estar relacionado com a preferência lateral é o desempenho. Assim, quando houvesse melhor desempenho em uma tarefa realizada com um determinado lado do corpo, haveria uma maior preferência por utilizar este lado. Ou seja, o desempenho teria uma relação direta com a preferência lateral. Esta relação direta entre desempenho e preferência foi verificada por Petrie e Peters (1980) em bebês com idades entre duas e três semanas de vida. Foi permitido aos bebês que manipulassem um objeto com um sensor de força embutido. Então foi analisada a força de preensão e o tempo das manipulações. Os achados apresentaram que para ambas as variáveis, houve assimetria de desempenho favorável para a mão direita. Entretanto, estudos recentes têm sugerido que a assimetria manual de desempenho e a preferência manual são dimensões independentes do comportamento motor (Teixeira & Okazaki, 2007; Teixeira & Teixeira, 2007). Teixeira e Okazaki (2007) demosntraram que destros que praticaram toques seqüenciais entre os dedos com a mão não-preferida apresentaram um desempenho no tempo de movimento similar para ambas as mãos, mas com mudança da preferência manual da tarefa para a mão não-dominante em função da

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prática. Desta forma, o desempenho não demonstrou ser o fator determinante na definição da preferência lateral. Assim, faz-se necessária a análise de outros fatores que poderiam influenciar a preferência lateral, por exemplo, a demanda de atenção durante a realização da tarefa.

Os estudos que analisaram a mudança de preferência manual possuem em comum o direcionamento da atenção para a tarefa desempenhada com o membro homólogo. Por conseguinte, a demanda de atenção destinada para a realização da tarefa poderia ser um dos fatores determinantes na formação da preferência lateral associada à prática/aprendizagem de uma tarefa. Nesta perspectiva, quando uma tarefa fosse praticada sozinha com o membro não-dominante haveria uma mudança de preferência lateral marcante. Ao passo que, quando a atenção da tarefa fosse voltada para outra tarefa ou situação, não haveria uma mudança de preferência lateral. Entretanto, não têm sido foco o efeito da prática e o efeito da atenção sobre a preferência lateral em estudos de lateralidade.

Neste ínterim, este estudo objetivou analisar o efeito da atenção sobre a preferência, o desempenho e o aprendizado de uma tarefa motora de seqüenciamento de toque de dedos realizada concomitantemente com uma tarefa de rastreamento simulada em computador. Este estudo tem potencial para compreender o efeito da atenção sobre aspectos de lateralidade ainda não explorados em comportamento motor, tais como a preferência lateral, o desempenho motor e a aprendizagem.

Método Participantes

A amostra foi constituída por 30 indivíduos com idade entre 20 e 30 anos (M = 24,3 anos, dp = 3,32), dos sexos masculino (n=15) e feminino (n=15). Os participantes foram divididos pseudoaletoriamente em três grupos de 10 participantes cada, contrabalançando para o fator sexo: grupo prática principal (GP), grupo prática principal e secundária (GPS) e grupo controle (GC). Apenas sujeitos que apresentaram preferência lateral direita no Inventário de Edimburgo (Oldfield, 1971) foram utilizados no estudo. Antes do início dos testes todos os sujeitos assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Equipamentos e tarefa

A tarefa principal foi a de realizar movimentos de toques alternados entre o polegar e os demais dedos na seguinte seqüência: indicador, anelar, médio e mínimo. Cada tentativa corresponde a desempenhar esta seqüência por cinco vezes com a mão não-preferida. O desempenho nesta tarefa foi medido através de filmagem, mensurando-se o tempo desde o

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primeiro toque entre o dedo indicador e o polegar até o último toque entre dedo mínimo e o polegar no final da quinta seqüência de toques. Para a tentativa ser considerada válida não era permitido mais que dois erros por tentativa. A tarefa secundária foi perseguir um pequeno círculo (alvo com 20 mm de diâmetro, que mudava a sua trajetória a cada 800 ms ao passo que avançava 1 mm a cada 80 ms) em movimento aleatório na tela de um monitor de microcomputador com a ponteira do mouse, manuseando este com a mão preferida. O objetivo nesta tarefa era manter o cursor dentro da área delimitada pelo alvo circular durante todo o seu deslocamento pela tela do monitor. Nesta tarefa era permitido ao participante cometer no máximo 20 erros por tentativa. Os erros foram determinados pelo número de vezes em que o cursor saiu das delimitações espaciais do alvo. Esta medida do número de erros foi fornecida pelo software utilizado. Para a filmagem foi utilizada uma câmera filmadora digital da marca Sony e para a aplicação da tarefa secundária foi utilizado o software Tracking Task v.1.0 (Okazaki, 2008), um laptop da marca CCE e um mouse óptico da marca Multilaser.

Procedimentos

Inicialmente, os participantes assinaram um termo de consentimento e foi aplicado o Inventário de Edimburgo, para determinação da mão de preferência em tarefas motoras do cotidiano. Em seguida os participantes foram instruídos que mais de dois erros na tarefa principal a tentativa seria eliminada e na tarefa secundária não poderiam cometer mais que 20 erros, também foi orientado ao grupo GPS que a tarefa de seqüenciamento de dedos era a principal e que deveria realizar as cinco seqüências o mais rápido possível sem cometer erros. Antes de iniciar a coleta de dados, era permitido aos participantes realizarem uma tentativa de familiarização com tarefa principal.

A posição inicial para desempenhar as tarefas foi com o participante sentado, com os pés apoiados no chão, tendo o eixo sagital do sujeito alinhado com o centro da tela na altura dos olhos e distando 50 cm. O mouse ficou disposto do lado do teclado da mão ativa e o cursor do mouse no centro da tela.

Na seqüência, foram implementadas as seguintes fases: (1) pré-teste com 3 tentativas práticas; (2) aquisição com 3 sessões em dias diferentes, em cada sessão foram realizados 3 blocos de 20 tentativas com intervalo de 10 s entre as tentativas e 1 min. entre os blocos; (3) pós-teste com 3 tentativas; (4) retenção, após 72 h com 3 tentativas; e (5) transferência interlateral de aprendizagem com 3 tentativas, realizado após cada fase de teste, mas realizada com a mão preferida à tarefa principal. Era perguntado aos participantes no pré-teste, pós-teste e teste de retenção qual a preferência lateral específica para desempenhar a tarefa de toques alternados entre os dedos.

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O grupo GP participou de todas as fases, porém, na fase de aquisição apenas praticou a tarefa principal. O grupo GPS participou de todas as fases, realizando na fase de aquisição a tarefa principal e a secundária simultaneamente. O grupo GC participou de todas as fases com exceção da fase de aquisição.

Análise estatística

Inicialmente foi calculada a média dos tempos de movimento na tarefa de seqüenciamento de dedos nas três tentativas de cada teste para cada mão e as médias dos grupos dos escores da preferência manual. Para análise das médias da preferência manual foi utilizado o teste ANOVA de Friedman pra verificar diferenças entres as fases e em seguida o teste de Wilcoxon pareado para verificar em que níveis a diferença ocorreu. Para as medidas do tempo de movimento na tarefa de seqüenciamento de dedos, foi utilizada uma ANOVA de três fatores, 3 (Grupo) x 2 (Mão) x 3 (Fase) com medidas repetidas nos últimos dois fatores. As comparações posteriores foram realizadas através do teste de Tukey. O nível de significância adotado foi de p = 0,05.

Resultados

Os resultados para preferência manual indicaram efeito significante de Fase para os grupos GP (XF2 = 12,28, p = 0,02) e GPS (XF2 = 15,20, p = 0,0005). Comparações pareadas entre fases para o grupo GP mostraram redução no escore de preferência manual do pré-teste em relação ao pós-teste (Z = 2,37, p < 0,05) e do pré-teste em comparação à retenção (Z = 2,20, p<0,05). O grupo GPS também apresentou redução no escore de preferência manual do pré-teste em comparação ao pós-pré-teste (Z = 2,80, p < 0,01) e do pré-pré-teste em relação à retenção (Z = 2,20, p < 0,05). A representação da comparação entre as médias dos grupos GC, GP e GPS foi expressa na Figura 1, em função das fases de teste.

A análise do desempenho na tarefa principal apresentou efeito principal para o fator Fase (F= 48,51, p<0,0001), no qual menor tempo de movimento foi verificado no pré-teste dos grupos GP e GPS em comparação à retenção (p < 0,05), e do pós-teste em comparação à retenção (p < 0,05). Esses resultados indicaram o efeito da prática sobre o desempenho, independentemente do tipo de prática (com ou sem tarefa secundária). Entretanto, não foi verificado efeito nos fatores grupo (F = 2,01, p = 0,15) e mão (F = 0,05, p = 0,84).

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Figura 1 – Escores de preferência manual dos grupos (GC, GP e GPS), em função da fase de teste (Pré-teste, Pós-teste e Retenção).

Tabela 1 – Média de TM (s) e desvio padrão (entre parênteses) dos grupos GC, GP e GPS, em função das fases de teste.

Grupo Pré-Teste Transferência

Pré-Teste Pós-Teste Transferência Pós-Teste Retenção Transferência Retenção GC 6,94 (1,31) 7,14 (1,17) 6,33 (1,21) 6,11 (0,92) 5,69 (0,86) 5,66 (0,88) GP 7,85 (2,25)c 7,77 (2,28) 4,30 (0,71)c 4,98 (0,97) 4,15 (0,60)ab 4,51 (1,07) GPS 6,91 (1,32)c 7,29 (1,80) 4,38(0,61)c 5,03 (0,94) 4,26 (0,48)ab 4,43 (0,66) Diferente de aPré-teste, bPós-teste e cRetenção.

A tarefa secundária foi analisada descritivamente através de sua média. Ao longo da prática o número de erros diminuiu, dando indícios de melhor desempenho na tarefa secundária. Por conseguinte, foi sugerido que a atenção também foi voltada à tarefa secundária, mesmo que outra tarefa (primária) estivesse sendo praticada concomitantemente.

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Provavelmente, a tarefa principal foi processada em um nível subatencional à medida em que foi sendo praticada. Desta forma, a quantidade de atenção atribuída para as tarefas (primária e secundária) permitiu o melhor desempenho em ambas.

Figura 2 – Tempo de movimento (s) na tarefa de toques entre os dedos dos grupos GC, GP e GPS, com as mãos direta e esquerda, em função das fases de teste (Pré-teste, Aquisição, Pós-teste e Retenção).

Discussão

Os resultados apresentaram uma melhora no desempenho (pós-teste) e no aprendizado (retenção) para ambos os grupos experimentais (GP e GPS) na tarefa de seqüenciamento de toque de dedos. Desta forma, independentemente da presença de uma tarefa secundária, os sujeitos foram capazes aprimorar seu desempenho na tarefa principal proposta. Kahneman (1973) propôs a existência de uma alocação flexível de uma capacidade variável de atenção, ou seja, em situações de baixa demanda atencional para uma dada tarefa, a capacidade de atenção poderia ser distribuída entre as varias funções mentais, permitindo o desempenho de várias funções simultaneamente. Isto foi utilizado para explicar os resultados encontrados. Ademais, indivíduos que se tornam habilidosos apresentam esta característica de controlar

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Figura 3 – Número de erros na tarefa (secundária) de rastreamento do grupo GPS, em função dos blocos na fase de aquisição.

voluntariamente dois ou mais movimentos simultaneamente (Kantowitz & Knight, 1976; Schneider & Shiffrin, 1977). Contudo, poderia ser questionado o fato de que o grupo com prática em tarefa dual (GPS) não teria voltado sua atenção para a tarefa secundária, ou teria apenas priorizado a tarefa primária sem destinar devida atenção à tarefa de rastreamento. Os dados de erros, entretanto, demonstraram que o grupo GPS também teria melhorado seu desempenho na tarefa de rastreamento (secundária), em função da prática. Por conseguinte, foi sugerido que, mesmo com prática na tarefa dual o grupo GPS foi capaz de aprimorar seu desempenho em níveis próximos ao grupo GP que realizou apenas a tarefa primária. Tais resultados demonstram a grande capacidade do sistema em adaptar-se dinamicamente às diferentes restrições, adaptando-se de forma a permitir níveis aprimorados de desempenho e de aprendizado.

Em se tratando do desempenho entre as mãos, não foi observada uma assimetria após o período de prática. Essa simetria no desempenho entre os lados, após a prática unilateral, pode ser explicada pelo padrão de ativação bi-hemisférico cerebral sugerido por alguns autores e observado no desempenho desta tarefa específica (Haaland et. al., 2004; Solodkin et. al., 2001). Tem sido proposto que o desempenho na tarefa de toques seqüenciais entre os dedos é caracterizado por ativação cerebral bi-hemisférica (Solodkin et. al., 2001), com predominância do hemisfério cerebral esquerdo (Haaland et. al., 2004). Isto é, aparentemente ambas as mãos direita e esquerda compartilham uma parte importante do conjunto neural utilizado no controle

Referências

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