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Efeito do foco de atenção sobre o desempenho em habilidades motoras esportivas

No documento livro ceam 2009 (páginas 54-65)

Autora: Deborah Regina Freitas Dantas Orientador: Victor Hugo Alves Okazaki

Resumo

Este estudo objetivou analisar o efeito do foco de atenção sobre o desempenho e o aprendizado de três habilidades motoras esportivas: arremesso no basquetebol, arremesso no handebol e chute no futebol. Para tanto, foram analisados 40 sujeitos do sexo feminino e masculino, com idade de 14-16 anos. Todas as tentativas do pré-teste, do pós-teste e da retenção foram filmadas e, posteriormente, analisadas através de um scoute específico desenvolvido para atender as demandas do estudo. A prática realizada durante a fase de aquisição foi suficiente para que os grupos, independente do foco de atenção utilizado, apresentassem uma melhora no desempenho da fase do pré-teste em comparação com o pós-teste e a retenção. Contudo, não foram verificadas diferenças entre as estratégias de foco de atenção nas três habilidades motoras esportivas utilizadas. A capacidade restrita das crianças no processamento de informações relevantes das tarefas e a complexidade das habilidades motoras esportivas selecionadas foram utilizadas para explicar a ausência na superioridade do foco de atenção externo.

Termos-chave: foco de atenção interno e externo, foco de atenção externo proximal e distal, aprendizagem motora

Introdução

Estudos recentes sugerem que durante a realização de um movimento, o foco de atenção pode influenciar na aprendizagem e no desempenho (McNevin, Shea & Wulf, 2001; Wulf, 1999; Wulf et al., 1998). Por exemplo, Wulf e colaboradores (1998) manipularam o foco de atenção na aprendizagem do movimento de slalom (zig-zag) em um simulador de esqui. Foi solicitado que o foco de atenção fosse direcionado à força exercida pelos pés (foco interno) e direcionado à força exercida pela plataforma sob os pés (foco externo), além de um grupo controle sem qualquer instrução sob o direcionamento do foco de atenção. Neste estudo, melhor desempenho foi apresentado quando a estratégia de foco de atenção externa foi utilizada em comparação ao foco de atenção interno e o grupo controle. Também foi verificado o pior desempenho por parte do grupo com foco interno em comparação aos demais grupos.

A utilização da estratégia de atenção num foco externo também demonstrou ser mais eficaz do que direcionar o foco de atenção para uma antecipação do movimento. Wulf (1999) utilizou a tarefa de rebater uma bola de tênis em direção a um alvo para comparar a atenção direcionada para a aproximação da bola (antecipação) e a atenção direcionada para a rebatida

da bola (efeito do movimento). Os resultados apresentaram maior eficácia com a atenção direcionada para o efeito do movimento, em relação à atenção direcionada à antecipação do movimento. Dentro desta perspectiva, iniciou-se um questionamento de quais situações de estratégias de foco de atenção poderiam otimizar o desempenho dos movimentos. Pois, mesmo com a superioridade, sugerida pelos estudos, com a utilização do foco externo em comparação ao foco interno (McNevin, Shea, Wulf & 2001; Todorov, Shdmehr & Bizzi, 1997; Wulf, McNevin, Shea, 2001), diversas variáveis poderiam influenciar no aprendizado e no desempenho motor. Uma dessas variáveis é a distância existente entre o foco de atenção e o movimento do corpo (McNevin, Shea & Wulf, 2001).

Baseados nessa observação, McNevin, Shea e Wulf (2001) sugeriram que quando o foco de atenção ocorre perto do corpo é mais difícil distinguir os movimentos do corpo com os do efeito no movimento. Assim, o foco de atenção proximal poderia ter um efeito similar ao foco de atenção interno. Para testar esta hipótese, foi utilizada uma tarefa de equilíbrio em uma plataforma estabilométrica com a atenção direcionada para marcações à frente dos pés, à frente e atrás da plataforma em diferentes distâncias. Foi demonstrado melhor desempenho quando o foco de atenção foi mais distante do corpo. Entretanto, ainda são necessários mais estudos para verificar se esta explicação é cabível para outras classes de habilidades motoras, como, por exemplo, as esportivas.

Outra explicação para a vantagem do foco externo seria que, ao realizar a tarefa com um foco interno, exige-se maior concentração nos movimentos. Ao passo que a utilização do foco de atenção externo permite ao sistema motor se auto-organizar naturalmente, permitindo a geração de movimentos reflexivos e voluntários com maior facilidade (Wulf, McNevin & Shea, 2001). Suporte para esta hipótese foi verificada por uma série de estudos do grupo da pesquisadora Gabrielle Wulf, com tarefas como o saque tipo tênis no voleibol e chutes de passe no futebol (Wulf, McConnel, Gärtner & Schwarz, 2002), tarefa de equilíbrio em uma plataforma móvel (Wulf, McNevin & Shea, 2001), tarefa de força isométrica com a redução na geração de sinais de EMG (Vance et al., 2004) e no simulador de esqui na tarefa de slalom (Wulf et al., 1998). Todavia, este conjunto de estudos apenas analisou o resultado do movimento (eficácia), sem medidas de desempenho (eficiência) capazes de dar maior sustentação à explicação para a vantagem do foco externo. Além disso, a análise do desempenho pode auxiliar no entendimento dos processos de controle envolvidos na regulação do movimento.

Este estudo objetivou analisar o efeito do foco de atenção sobre o desempenho e o aprendizado de três habilidades esportivas: arremesso no basquetebol, arremesso no handebol e chute no futebol. Para tanto, foi analisado o desempenho (eficiência) e o resultado (eficácia) do

movimento destas três habilidades motoras em grupos com foco interno, foco externo proximal e foco externo distal. Em conjunto estes resultados podem auxiliar no entendimento das melhores estratégias de foco de atenção utilizadas por alunos, atletas, professores e técnicos no processo ensino-aprendizado de habilidades motoras esportivas.

Método Participantes

A amostra foi constituída por 40 participantes masculinos e femininos com idade entre 14-16 anos, estudantes do Ensino Fundamental II e Ensino Médio. Eles foram divididos em quatro grupos com 10 participantes cada, sendo: (G1) prática com foco interno, (G2) prática com foco externo proximal, (G3) prática com foco externo distal e (G4) grupo controle sem prática. Os participantes e seus responsáveis assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido.

Delineamento e procedimentos experimentais

As habilidades motoras de arremesso no basquetebol e no handebol, e o chute no futebol foram selecionadas para verificar o efeito dos tipos de foco no desempenho do movimento. Estas habilidades foram selecionadas, pois possuem características particulares entre si (movimentos de membros superiores e inferiores, que necessitam mais de velocidade ou de precisão, como requisitos essências do desempenho), as quais podem ter efeitos distintos em função do tipo de foco utilizado.

O design experimental foi realizado na seguinte ordem: pré-teste (5 tentativas), três fases de aquisição (AQ1, AQ2 e AQ3; três blocos de 20 tentativas em cada fase realizados em dias distintos), pós-teste (5 tentativas) e retenção (5 tentativas, realizado 3 dias após o pós- teste). O grupo 4 realizou apenas as fases de pré-teste, pós-teste e retenção por compor o grupo controle do estudo.

Durante a realização das tarefas, cada grupo desempenhou os movimentos das habilidades escolhidas com um foco de atenção específico. Os participantes do G1 desempenharam as tarefas com foco de atenção interno. Estes receberam as seguintes instruções: (a) direcionar o foco de atenção para a mão, procurando gerar maior velocidade possível no punho (arremesso no basquetebol); (b) direcionar o foco de atenção para a mão, buscando maior velocidade linear da mão em direção ao alvo (arremesso do handebol); (c) direcionar o foco de atenção para o pé, procurando empregar grande velocidade linear do pé no instante de contato com a bola (chute do futebol). Os participantes do G2 desempenharam as tarefas com o foco de atenção externo proximal, utilizando a bola como objeto de foco de

atenção. Os participantes do G3 utilizaram o foco externo distal, utilizando o alvo como referência para direcionar seu foco de atenção. Os participantes do G4 não receberam instruções sobre a direção do foco de atenção durante a realização das tarefas, pois constituíram o grupo controle do estudo. Antes do início da prática, além de informações sobre o foco de atenção particular ao seu grupo, também foi enfatizada a importância dos pontos determinantes que serão avaliados no desempenho de cada habilidade. Em todas as fases analisadas (pré-teste, aquisição, pós-teste e retenção), os sujeitos receberam feedback sobre seu foco de atenção antes de cada tentativa.

Para a análise de desempenho dos movimentos foi utilizada uma câmera fotográfica Kodak EasyShare M853, na função filmadora posicionada lateralmente ao participante, permitindo a visualização do desempenho e da resposta dos movimentos. A filmagem permitiu registrar o movimento para análise posterior através de um instrumento de scout especialmente desenvolvido para analisar o desempenho e a resposta do movimento. Um único avaliador experiente realizou as análises do desempenho e da resposta da tarefa utilizando-se dos vídeos gravados.

A análise do desempenho do movimento foi realizada através da pontuação de ações realizadas integralmente (3 pontos), parcialmente (2 pontos) e não realizadas (1 ponto) no movimento. A pontuação total foi, posteriormente, calculada e normalizada para 100% para facilitar a compreensão e análise das ações realizadas. As ações para cada habilidade motora foram selecionadas por constituírem movimentos fundamentais e determinantes no desempenho e na resposta do movimento. As ações selecionadas para o arremesso do basquete foram: (1) posicionamento do pé de apoio da mão que realiza o arremesso ligeiramente à frente do outro pé, (2) pequena flexão dos tornozelos, dos joelhos e do quadril no início do arremesso; (3) a bola inicialmente posicionada próxima ao corpo; (4) iniciar o movimento com os membros inferiores auxiliando na geração de impulso; (5) a bola iniciar um movimento de elevação sempre próxima ao corpo até sua liberação em direção à cesta; (6) a mão que realizou a geração de impulso estar posicionada mais abaixo da bola quando o movimento de lançamento fosse iniciado; (7) a mão que não realizou o arremesso ser colocada lateralmente à bola para auxiliar na direção do arremesso; (8) após a liberação da bola, haver uma extensão de cotovelo e grande flexão de ombro e de punho proporcionando uma fase de inércia/continuidade no movimento (9), um pequeno salto vertical pode ser realizado para auxiliar no arremesso, mas o sujeito não deveria avançar demasiadamente para frente perdendo em estabilidade; (10) os olhos permanecerem o tempo todo em direção à cesta.

As ações selecionadas para o arremesso do handebol foram: (1) posicionamento do pé de apoio ligeiramente à frente do outro pé; (2) pequena flexão dos tornozelos, dos joelhos e do

quadril no início do arremesso; (3) bola inicialmente posicionada pelas mãos na lateral do corpo, na altura da cabeça; (4) movimento inicia com a movimentação do braço para trás, flexão do ombro e do cotovelo; (5) braço oposto realiza uma movimentação para frente com flexão de cotovelo auxiliando na impulsão e equilíbrio; (6) bola inicia o movimento sendo segurada pelos dedos da mão (empunhadura) com o punho e a mão alinhados; (7) tronco realiza uma pequena rotação para o lado do arremesso auxiliando na impulsão do braço; (8) bola arremessada com extensão do cotovelo, punho e ombro; (9) após a liberação da bola, extensão de cotovelo e grande flexão de ombro e punho; (10) os olhos permanecem o tempo todo em direção ao alvo.

No chute do futebol, as ações selecionadas foram: (1) pé de apoio permanece ao lado da bola com pequena flexão do joelho, equilibrando o corpo durante a fase do chute, onde só haveria esse único ponto de apoio; (2) movimentação da perna do chute para trás com flexão do joelho e extensão do tornozelo; (3) rotação do tronco para auxiliar na impulsão e equilíbrio; (4) movimentação lateral dos braços com leve flexão dos cotovelos acompanhando a rotação do tronco auxiliando o equilíbrio e a impulsão; (5) pequena inclinação do tronco para frente durante a movimentação da perna para trás para melhorar o equilíbrio durante a fase de um apoio; (6) movimentação da perna do chute para frente com extensão do joelho e do tornozelo, em direção à bola; (6) posicionamento do tronco para trás simultâneo ao direcionamento da perna à bola; (7) movimentação dos braços simultâneo ao movimento do tronco; (8) contato do pé na bola com a parte interna do pé; (9) após o contato com a bola, existir uma extensão do joelho e tornozelo proporcionando uma fase de inércia/continuidade no movimento (10) os olhos permanecerem o tempo todo em direção ao alvo.

Análise estatística

Para comparar os escores de resultado e de desempenho, entre os grupos com as diferentes estratégias de foco de atenção, foi utilizado o teste de ANOVA. A comparação posterior, para verificar as diferenças entre os grupos foi realizada através do teste de post hoc de Tukey. O nível de significância foi estabelecido em p = 0,05.

Resultados

A comparação entre os escores de resultado e de desempenho das diferentes estratégias de atenção utilizadas para as habilidades de handebol, de basquetebol e de futebol foram expressas na Tabela 1 e na Figura 1.

A análise estatística na medida de resultado não demonstrou diferenças significantes no fator Fase, no fator Grupo e na interação Fase x Grupo (p > 0,05), para a habilidade de

arremesso no handebol. Contudo, foram verificadas diferenças, nesta habilidade, nos fatores Fase (F2, 36 = 21,26, p < 0,001 ) e na interação Fase x Grupo (F6,36 = 6,47, p < 0,001). Nos quais, o pré-teste apresentou menor escore de desempenho do arremesso do handebol comparado ao pós-teste (p < 0,05) e à retenção (p < 0,05). O grupo de foco interno apresentou melhora na retenção do arremesso no handebol em relação ao pré-teste (p < 0,05). O grupo de foco externo proximal apresentou melhor escore de desempenho do arremesso no handebol no pós-teste e na retenção, em comparação ao pré-teste (p < 0,05).

Para a habilidade do arremesso do basquete, a análise estatística na medida de resultado demonstrou diferença significante no fator Fase (F2,36= 15,48, p < 0,05) e na interação Fase x Grupo (F6,36= 3,89, p < 0,05). Assim como na habilidade do arremesso no handebol, o pré-teste do arremesso no basquete apresentou menor escore de resultados comparado ao pós-teste (p < 0,05) e à retenção (p < 0,05). O grupo de foco interno apresentou melhora de resultados do arremesso no basquete com a prática no pré-teste em relação ao pós-teste e na retenção (p < 0,05). A medida de desempenho, nesta habilidade, apresentou diferença em todos os fatores e interação. No fator Fase (F2,36 =96,49, p < 0,05), o pré-teste apresentou o menor escore de desempenho do arremesso do basquete comparado ao pós-teste e à retenção (p < 0,05). No fator Grupo (F3,36 = 5,55, p < 0,05), o grupo de foco interno obteve o maior escore entre todos os grupos. O grupo controle apresentou o menor escore de desempenho entre os grupos. Na interação Fase x Grupo (F6,36 = 10,40, p < 0,05) todos os grupos com foco de atenção direcionado apresentaram melhores resultados no pós-teste e retenção, comparados ao pré-teste (p < 0,05). O grupo de foco interno obteve o melhor resultado de desempenho entre os grupos nesta habilidade.

Para a habilidade de chute no futebol, a análise estatística na medida de resultados não apresentou diferença significativa no fator Fase, no fator Grupo e na interação Fase x Grupo. A medida de desempenho nesta habilidade apresentou diferença no fator Fase (F2,36 = 59,45, p < 0,05), no fator Grupo (F3,36 = 9,23, p < 0,05) e na interação Fase x Grupo (F6,36 = 17,18, p < 0,05). O pré-teste apresentou menor escore de desempenho para o chute no futebol comparado ao pós-teste e à retenção (p < 0,05). Os grupos de foco interno e foco externo distal apresentaram melhores resultados com a prática no pós-teste e na retenção, comparados ao pré- teste (p < 0,05). O grupo de foco interno apresentou o maior escore entre os grupos (p < 0,05).

Tabela 1 - Medidas de resultado e de desempenho (média ± erro padrão) das habilidades de arremesso no handebol, arremesso no basquetebol e chute no futebol, em função do tipo de foco de atenção utilizado durante a prática.

Medidas de Resultados Medidas de Desempenho

Grupo Pré-teste Pós-teste Retenção Pré-teste Pós-teste Retenção Handebol Foco Interno 2,58 ± 0,11 2,53 ± 0,10 2,53 ± 0,09 27,80 ± 0,25 c 28,11 ± 0,18 28,29 ± 0,18 a Foco Externo Proximal 2,47 ± 0,11 2,56 ± 0,10 2,64 ± 0,09 26,73 ± 0,25bc 27,58 ± 0,18a 27,71 ± 0,18 a Foco Externo Distal 2,36 ± 0,11 2,64 ± 0,10 2,64 ± 0,09 27,60 ± 0,25 27,93 ± 0,18 27,93 ± 0,18 Grupo Controle 2,49 ± 0,11 2,44 ± 0,10 2,4 ± 0,09 27,93 ± 0,25 27,91 ± 0,18 27,98 ± 0,18 Basquete Foco Interno 1,02 ± 0,13bc 1,6 ± 0,12a 1,69 ± 0,11 a 24,09 ± 0,48bc 26,24 ± 0,30 a 26,6 ± 0,30 a Foco Externo Proximal 0,98 ± 0,13 1,36 ± 0,12 1,2 ± 0,11 25,44 ± 0,48bc 27,47 ± 0,30 a 27,56 ± 0,30 a Foco Externo Distal 1,11 ± 0,13 1,4 ± 0,12 1,4 ± 0,11 25,96 ± 0,48bc 28,04 ± 0,30 a 28,09 ± 0,30 a Grupo Controle 1,16 ± 0,13 1,11 ± 0,12 1,09 ± 0,11 25,89 ± 0,48 25,93 ± 0,30 25,93 ± 0,30 Futebol Foco Interno 2,58 ± 0,11 2,53 ± 0,10 2,53 ± 0,09 27,80 ± 0,25bc 28,11 ± 0,18 a 28,29 ± 0,18 a Foco Externo Proximal 2,47 ± 0,11 2,56 ± 0,1 2,64 ± 0,09 26,73 ± 0,25 27,58 ± 0,18 27,71 ± 0,18 Foco Externo Distal 2,36 ± 0,11 2,64 ± 0,1 2,64 ± 0,09 27,60 ± 0,25bc 27,93 ± 0,18 a 27,93 ± 0,18 a Grupo Controle 2,49 ± 0,11 2,44 ± 0,1 2,4 ± 0,09 27,93 ± 0,25 27,91 ± 0,18 27,78 ± 0,18 Legenda: a diferente do pré-teste, b diferente do pós-teste, c diferente da retenção.

Discussão

A prática realizada durante a fase de aquisição foi suficiente para que os grupos, independente do foco de atenção utilizado, apresentassem uma melhora no desempenho da fase do pré-teste em comparação com o pós-teste e a retenção. Por conseguinte, a prática foi suficiente para promover modificações relativamente permanentes no desempenho das habilidades motoras analisadas (chute no futebol e arremesso no handebol e no basquetebol). Todavia, não

Figura 1 – Escores de resultado e de desempenho dos grupos com diferentes focos de atenção no pré-teste, no pós-teste e na retenção.

houve diferença entre as estratégias utilizadas no foco de atenção realizado pelas crianças em nenhuma das três habilidades motoras analisadas. Tais resultados são contraditórios com os estudos que demonstraram melhores desempenho e aprendizado com a utilização do foco de atenção externo durante a realização do movimento (McNevin, Shea & Wulf, 2001; Todorov, Shadmehr, Bizzi & 1997; Wulf, McNevin & Shea, 2001). Isto poderia ser explicado pelas características específicas da amostra utilizada (crianças) e pelas características das habilidades utilizadas no estudo.

Perkins-Ceccato (2003) investigaram o efeito do foco de atenção, em função do nível de habilidade de golfistas. Os resultados indicaram uma interação significativa entre o nível de habilidade e o tipo de foco de atenção utilizado, no qual os mais habilidosos apresentaram melhor desempenho com o foco de atenção externo, ao passo que os menos habilidosos obtiveram melhor desempenho com o foco de atenção interno. Pode-se presumir que as crianças foram semelhantes aos jogadores novatos em sua falta de experiência, familiaridade com as tarefas e, também, menor capacidade no sistema de processamento de informação. As crianças são mais lentas em informações de processamento de tarefas e muitas vezes recorrem a pistas irrelevantes a partir do campo visual (Yazdi-Ugav, 1995). Assim, elas também podem ter direcionado sua atenção para os elementos visuais de referência determinante no movimento e, conseqüentemente, terem diminuído o seu desempenho. Estes resultados também corroboraram os resultados de Emanuel (2003), comparando o efeito do foco de atenção em crianças (8-9 anos) e em adultos (22-36 anos) na tarefa de acertar um alvo de dardos em diferentes distâncias. Em adultos, o grupo de foco externo foi mais preciso do que o grupo de foco interno, enquanto que nas crianças, o grupo com foco interno foi mais preciso do que o grupo de foco externo.

Outro fator que pode ter contribuído para a igualdade no resultado e no desempenho entre os tipos de foco de atenção foi a complexidade das habilidades motoras utilizadas. Na maioria dos estudos realizados, que demonstraram a vantagem do foco de atenção externo, foram realizadas tarefas simples, nas quais o praticante poderia direcionar a sua atenção apenas para um componente do movimento (McNevin, Shea & Wulf, 2001; Vance et al., 2004; Wulf, McNevin & Shea, 2001). Entretanto, no presente estudo, as habilidades motoras selecionadas apresentam diversos componentes que interagem mutuamente para o êxito do desempenho. Assim, manter o foco de atenção apenas nos pontos selecionados para uma habilidade pode não ter acontecido na maneira adequada. Alternativamente, as crianças podem não ter sido capazes de direcionar o foco de atenção para estes pontos em função de sua capacidade limitada de processar informações (Emanuel, 2003; Yazdi-Ugav, 1995). Isso tudo, além de serem novatas nas tarefas realizadas.

Este estudo objetivou analisar o efeito do foco de atenção sobre o desempenho e o aprendizado de três habilidades esportivas: arremesso no basquetebol, arremesso no handebol e chute no futebol. Para tanto, foi analisado o desempenho (eficiência) e o resultado (eficácia) do movimento destas três habilidades motoras em grupos com foco interno, foco externo proximal e foco externo distal. Os resultados encontrados indicaram que não houve diferença entre os tipos de foco de atenção. Esses resultados foram explicados pela capacidade restrita das crianças no processamento de informações relevantes da tarefa e pela complexidade das habilidades selecionadas. Sugere-se que outros estudos investiguem o efeito do foco de atenção com tarefas motoras complexas, com diferentes pontos determinantes do movimento para direcionar o foco de atenção, e com diferentes níveis de habilidades dos sujeitos.

Referências

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Magill, R. A. (2000). Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. São Paulo - SP: Edgard Blücher.

Perkins-Ceccato, N., Passmore, S.R., & Lee, T.D. (2003). Effects of focus of attention on golfers' skill. Journal of Sports Sciences, 21, 593-600.

Shea, C.H. & Wulf, G. (1999). Enhancing motor learning through external-focus instruction and feedback. Human Movement and Science, 18, 553-571.

Teixeira, L.A (2006). Controle motor. Barueri: Manole.

Todorov, E., Shadmehr, R., & Bizzi E. (1997) Augmented feedback presented in a virtual environment accelerates learning of a difficult motor task. Journal of Motor Behavior, 29, 147-158.

Vance, J., Wulf, G., Töllner, T., Mcnevin, N.H. & Mercer, J. (2004). EMG activity as a function of the performer’s focus attention. Journal of Motor Behavior, 36, 450-459, 2004. Wulf, G., Hob, M., Prinz, W. (1998). Instruction for motor learning: Differential effects of

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Wulf, G., Lauterbach, B., Toole, T. (1999). The learning advantage of an external focus of attention in golf. Research Quarterly for Exercise and Sport, 70, 120-126.

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Wulf, G., McNevin, N.H., Fuchs, T, Hitter, F., & Toole, T. (2001). Attentional focus in complex skill learning. Research Quarterly for Exercise and Sports, 71, 229-239.

Wulf, G., McNevin, N.H., & Shea, C.H. (2001). The automaticity of complex motor skill

No documento livro ceam 2009 (páginas 54-65)