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Orientação profissional para jovens de baixa renda

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ADMINISTRAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E

GESTÃO SOCIAL

MARCELO RIBEIRO MOURA

ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS DE BAIXA RENDA

Salvador

2014

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ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS DE BAIXA RENDA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento e Gestão Social, Faculdade de Administração, Universidade Federal da Bahia, como requisito para obtenção do grau de mestre em Desenvolvimento e Gestão Social.

Orientadora: Prof ª. Dra. Sônia Maria Guedes Gondim Coorientador: Prof. Dr. Jorge Luiz Lordelo de Salles Ribeiro

Salvador

2014

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ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PARA JOVENS DE BAIXA RENDA

Dissertação apresentada como requisito para obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Gestão Social, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

Banca Examinadora

Prof. ª Dr.ª Sônia Maria Guedes Gondim___________________________________________ Doutora em Psicologia

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Prof. Dr. Jorge Luis de Sales Ribeiro _____________________________________________ Doutor em Educação

Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Prof. Dr. Paulo Tadeu Rabelo da Motta ___________________________________________ Doutor em Psicologia

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP)

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Escola de Administração - UFBA

M929 Moura, Marcelo Ribeiro.

Orientação profissional para jovens de baixa renda / Marcelo Ribeiro Moura. – 2014.

87 f.

Orientadora: Profa. Dra. Sônia Maria Guedes Gondim. Coorientador: Prof. Dr. Jorge Luiz Lordelo de Salles Ribeiro.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal da Bahia, Escola de Administração, Salvador, 2014.

1. Orientação profissional. 2. Políticas públicas. 3. Inclusão social. 4. Ensino técnico – Orientação profissional. 5. Ensino técnico – Qualificações profissionais. 6. Orientação educacional no ensino profissional. I. Universidade Federal da Bahia. Escola de Administração. II. Título.

CDD – 379.11 371.425

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Dedico esta, bem como todas as minhas demais conquistas, aos meus amados pais Etevaldo Araújo Moura e Anésia Ribeiro da Silva Moura, minha irmã Alice Ribeiro Moura, meu cunhado Leandro Menis, meus dois preciosos sobrinhos Felipe Moura Bars e Livia Moura Menis, minha sogra Abigail Augusta Rios Carneiro e especialmente a minha esposa Natália Carneiro Monte.

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Quero agradecer, em primeiro lugar, a Deus, pelas bênçãos alcançadas, pela proteção dada e por me guiar nos caminhos dessa vida.

Agradeço a minha família por fazer parte da construção e da concretização dos meus sonhos.

Agradeço também a todos os professores que me acompanharam durante o mestrado, em especial à Professora Dra. Rosana Boullosa, pelo incentivo no começo da jornada, à Professora Dra. Sonia Gondim e ao Professor Dr. Jorge Luis de Sales Ribeiro responsáveis pela orientação neste processo do mestrado.

Agradeço aos companheiros de trabalho da Secretaria de Cidadania e Inclusão do município de Camaçari, que sempre me apoiaram para a conclusão desta etapa em minha vida.

E o que dizer para minha esposa Natália Carneiro Monte?

Obrigado pela paciência, pelo incentivo, pela força e principalmente pelo carinho. Valeu a pena toda insistência, todo sofrimento, todas as renúncias. Valeu a pena esperar e lutar. Hoje, estamos colhendo, juntos, os frutos do nosso empenho! Esta vitória é nossa!

E por fim, agradeço a mim mesmo pela força interior de acreditar na realização dessa meta em minha vida.

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2014. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Administração, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2014.

RESUMO

Esta dissertação é resultado do desenvolvimento de um projeto de pesquisa-ação para fins de adaptação de uma metodologia de Orientação Profissional (OP) que pudesse vir a embasar políticas públicas de inclusão social de jovens de baixa renda. A metodologia de OP escolhida e adaptada para a pesquisa-ação apoia-se na abordagem sócio-histórica, que considera os fatores contextuais de exclusão social de grupos de jovens de baixa renda. A OP de abordagem sócio-histórica se insere no campo da Gestão Social como uma ferramenta de inclusão social. Sua adaptação leva em conta aspectos sócio-histórico-econômicos, visando encontrar formas mais apropriadas para trabalhar com jovens de baixa renda e capacitá-los na construção de projetos de carreiras que aumentem suas chances de inclusão social. O projeto de pesquisa-ação envolveu duas etapas; a primeira consistiu na adaptação metodológica de OP com profissionais especialistas e a segunda consistiu na aplicação da metodologia a um grupo de jovens vinculados ao Pronatec (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego). Os resultados das duas etapas apontam os passos necessários para a adaptação da OP e para os desafios na aplicação dessa metodologia. Além disso, esse projeto oferece caminhos para a utilização da OP como uma diretriz de política pública, ampliando as chances de inserção social e profissional de jovens de baixa renda que, pelas condições determinantes de contexto, tendem a ser excluídos socialmente.

Palavras-Chave: Orientação Profissional. Políticas Públicas. Inclusão Social.

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ABSTRACT

This Dissertation is a result of the development of an action research project for adaptation of a methodology of Vocational Guidance (VG) that could support public policies for social inclusion of low-income youth. The VG methodology, chosen and adapted for this action research, relies on the social and historical approach, which considers the contextual factors of social exclusion of groups and low-income youth. The VG of socio-historical approach belongs to the field of Social Management as a mechanism for social inclusion. Its adaptation takes into consideration socio-historical and economic aspects, aiming to find more appropriate ways to work with low-income youth and empower them to build career projects that increase their chances of social inclusion. The action research project involved two steps. The first consisted of VG methodological adaptation developed together in conjunction with

professional experts, and the second consisted of the VG application with a group of young people linked to Pronatec, the National Program for Access to Technical Education and Employment. The results in both steps indicate the required steps needed to adapt the VG

procedures and the methodological challenges for its application. Furthermore, it also offers ways to use the VG as a guideline for public policy development that could increase the chance of social and professional integration of low-income youth, which by determinant conditions of context, tend to be socially excluded.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 9

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA ... 11

1.2 OBJETIVO GERAL ... 11

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 11

2 GESTÃO SOCIAL: ASPECTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS ... 12

2.1 EXCLUSÃO SOCIAL ... 15

2.2 INCLUSÃO SOCIAL ... 17

2.3 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL ... 18

3. ABORDAGENS TEÓRICAS EM ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL: QUE LUGAR OCUPA A ÊNFASE NO SOCIAL? ... 20

3.1 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE NÃO DÃO ÊNFASE AO SOCIAL ... 20

3.2 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE DÃO ÊNFASE AO SOCIAL... 23

3.3 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E A INCLUSÃO SOCIAL ... 26

3.4 BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA DA ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO BRASIL ... 27

3.4.1 Aspectos sociais dentro da Orientação Profissional no Brasil ... 29

3.4.2 Demanda por políticas públicas de Orientação Profissional no Brasil ... 31

3.5 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CAMPO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS ... 32

4 MÉTODO ... 34

4.1 ATORES DO PROCESSO ... 35

4.2 PROCEDIMENTOS ... 35

4.3 O GRUPO DE EXTENSÃO DA UFBA COMO TESTE DE REDESENHO METODOLÓGICO DA OP PARA JOVENS DE BAIXA RENDA ... 37

5 COLOCANDO EM PRÁTICA UMA METODOLOGIA DE OP ADAPTADA A JOVENS DE BAIXA RENDA ... 38

5.1 PLANEJANDO O PROCESSO DE OP PARA JOVENS DO PRONATEC ... 39

5.2 DESCREVENDO O PROCESSO DE OP ... 41

5.3 AVALIAÇÃO DO PROCESSO DE APLICAÇÃO ... 60

6 CONCLUSÃO ... 62

REFERÊNCIAS ... 65

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1 INTRODUÇÃO

A presente dissertação se insere no Mestrado Multidisciplinar e Profissionalizante em Desenvolvimento e Gestão Social. O campo da Gestão Social é recente, tendo sido introduzido na sociedade brasileira na década de 1990, em meio à tensão entre dois processos que marcam a realidade contemporânea. Um desses processos diz respeito à globalização da economia, que mercantiliza e amplia os segmentos de atuação no social. O outro trata da regulação social tardia, mediante conquistas de cidadania, do Estado democrático de direitos e dos desafios da participação da sociedade civil. Esse debate é recente nas organizações sociais e na academia, e aponta para a importância de definir as referências que vêm dando sustentação a esse campo temático, sempre que se atuar na gestão social.

A Gestão Social se insere nas ações de políticas públicas estruturadas para o desenvolvimento local, pois entende o plano local de fundamental importância no processo de ajuste às reais necessidades públicas pela influência de questões sociais específicas de determinada região geográfica (GONÇALVES, 2008).

A presente pesquisa realizada para fins de dissertação de mestrado profissional em gestão social ocupa-se da questão do pouco acesso de segmentos, de jovens de baixa renda no Brasil, aos serviços de Orientação Profissional (OP). E, um modo de ampliar tal acesso e galgar o status de política pública é melhorando o uso das abordagens teórico-metodológicas que estão na base dos processos de orientação profissional.

É somente na década de 1990 que se identificam trabalhos que abordam a Orientação Profissional a partir de referenciais da Psicologia Social (ABADE, 2005). No ano de 2011, quando trabalhava em uma unidade do CRAS (Centro de Referência em Assistência Social) na cidade de Salvador, o autor desta dissertação pode vivenciar a necessidade de trabalhos de inclusão social junto a adolescentes em programas de inclusão socioprodutiva.

O Pró-Jovem faz parte de um dos eixos do Programa Nacional de Inclusão de Jovens, lançado em setembro de 2007, pela Presidência da República e destinado aos jovens de 15 a 17 anos pertencentes a famílias beneficiárias do Programa Bolsa Família ou em situação de risco social. De responsabilidade do Ministério do Desenvolvimento

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Social e Combate à Fome (MDS), o Pró-Jovem é um Serviço socioeducativo continuado de Proteção Básica de Assistência Social que favorece o protagonismo dos jovens.

O pensamento naquele momento, devido à demanda solicitada por tais jovens, foi o de fazer uso de alguma abordagem de Orientação Profissional que se adequasse à realidade de exclusão vivida pelos mesmos.

Em anos recentes, o Conselho de Psicologia defende que as práticas psicológicas podem favorecer os direitos humanos, possibilitando a inclusão social (Conselho Federal de Psicologia [CFP], 2003). Patto (2003) nos indica que uma prática psicológica que ignora as desigualdades sociais concorre para transformá-las em desigualdades psíquicas, concluindo-se que os psicólogos que desconsideram o social acabam por não transformá-lo.

Não há em nosso país política pública de Orientação Profissional como em outros países como França, Alemanha e Canadá (MELO, 2004). O que se encontram são ações desarticuladas, como no caso de algumas Prefeituras Municipais Brasileiras, que contratam Psicólogos para intervir em orientação profissional, escolar e sexual, através da criação de cargos para psicólogos em programas específicos ou em Secretarias da Educação. Algumas fontes específicas de recursos têm sido utilizadas para a contratação de pessoal, entretanto são iniciativas pontuais e sujeitas à interrupção pelas mudanças de governos.

Para que uma prática de OP tenha o potencial de se inserir num contexto de política pública de inclusão social para jovens de baixa renda, a presente pesquisa dedicou-se a um estudo piloto de aplicação de uma metodologia adaptada de Orientação Profissional, em um espaço de inclusão socioprodutiva, que é o programa nacional de acesso ao ensino técnico e emprego (Pronatec). O programa foi criado pelo Governo Federal, em 2011, com o objetivo de ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica. O projeto piloto de adaptação metodológica de OP, para o público jovem do Pronatec, gerou insumos para a replicação do modelo de construção e aplicação de OP em outros contextos de programas públicos direcionados aos jovens de baixa renda, a ser planejado e operacionalizado por outros profissionais que se dedicam à orientação profissional. Sendo assim, o potencial de replicabilidade dessa proposta é de âmbito federal já que o Pronatec é um Programa Federal.

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1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

De que modo uma metodologia de orientação profissional pode ser adaptada para ser inserida numa política pública, visando atender às demandas de jovens oriundos de famílias de baixa renda?

1.2 OBJETIVO GERAL

Adaptar uma metodologia de Orientação Profissional a ser aplicada no contexto de políticas públicas de inclusão social, levando em conta a realidade psicossocial e econômica de pessoas excluídas socialmente.

1.3 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Apresentar e discorrer sobre os conceitos pertencentes ao campo da gestão social e de políticas públicas, principalmente, nas quais a Orientação Profissional (OP) está inserida;

 Avaliar comparativamente as metodologias de Orientação Profissional mais usadas por profissionais da área atualmente nos diversos segmentos da população;

 Identificar elementos de contexto e atores sociais que devem ser considerados na elaboração de projetos de OP que visem a inclusão social de jovens de baixa renda.

A presente dissertação segue, a partir desse ponto, conceituando o campo da gestão social trazendo alguns elementos pertencentes a ele, tais como: Gestão social, Exclusão Social, Inclusão Social e Orientação Profissional.

Em seguida, explora a questão sobre que lugar ocupa a ênfase no social dentro das diferentes abordagens de Orientação Profissional, o que acaba por demandar uma breve contextualização sobre a perspectiva histórica da Orientação Profissional no Brasil, traçando aspectos sociais e discorrendo sobre as políticas públicas em Orientação Profissional no Brasil.

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Depois de todo o processo de conceituação do campo no qual se insere a pesquisa, segue-se a parte descritiva na qual a metodologia contextualiza os atores do processo e os procedimentos usados na prática de OP, adaptados aos jovens de baixa renda, no caso desta pesquisa, aos jovens do Pronatec. Finaliza-se com a avaliação do processo de aplicação e a conclusão da pesquisa como um todo.

2 GESTÃO SOCIAL: ASPECTOS TEÓRICO-CONCEITUAIS

“A realidade social não é conhecida como totalidade concreta se o homem é considerado apenas, e, sobretudo, como objeto e, na práxis-objetiva, da humanidade não se reconhece a importância primordial do homem como sujeito” (KOSIK, 2003, p. 52-53). A partir dessa referência, na qual nos sentimos reconhecidos e potencializados como sujeitos desse processo compartilhado com outros sujeitos, pode-se iniciar o aprofundamento do tema Gestão Social.

O que, de fato, refere-se, quando se fala em gestão social? A palavra Gestão sempre esteve associada a processos e mecanismos de poder nas relações entre capital e trabalho. A gestão “se tornou a ciência do capitalismo, submetida por uma vontade de domínio que se apresenta fundamentalmente racional”, afetando não apenas o campo da economia, mas a sociedade inteira (GAULEJAC, 2007, p. 75). Ocorre que, na última década, a gestão, de uma espécie de conformismo ao sistema, passa a ser considerada cada vez mais necessária no âmbito do social, mesmo para os mais céticos. Ao se tratar de gestão, cujo modo, objeto e finalidade é o social, deve-se atentar para que tipo de gerenciamento, com quais finalidades, características e racionalidades opera e adota. A questão é, em que medida a qualificação da gestão como social altera essencialmente a concepção de gestão? (ARAÚJO et al., 2011).

Pelo exposto até então, pode-se afirmar que, toda gestão supõe necessariamente uma dimensão social, interacional, relacional, o que a priori, tornaria redundante uma formulação do tipo “gestão social” (FRANÇA FILHO, 2003, 2008). O adjetivo social pode ser entendido, basicamente, como espaço de relações sociais onde todos têm direito à fala (GONDIM; FISCHER; MELO, 2006). Pode-se dizer que tal adjetivação é proposital, mesmo que redundante e pleonástica a fim de enfatizar o que, muitas vezes, o gestor esquece: “que suas ações têm impactos sobre a humanidade” (FISCHER;

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MELO, 2002, p. 3). “Ser social é algo que é feito para e pela sociedade”. Isso deve permear todo e qualquer processo de gestão, assim como qualquer ação humana (BASTOS, 2001, p. 7).

Gestão Social como “gestão das ações sociais públicas [...] gestão das demandas e necessidades dos cidadãos” é o conceito dado por RAMOS (1999, p. 19). Enfatiza a necessidade de participação da sociedade civil e o compartilhamento de responsabilidades para a criação de um “welfare mix”, ou seja, uma mistura de bem-estar, articulando, complementando e promovendo convergências de políticas e programas. Existe aqui a defesa na ênfase do protagonismo da sociedade civil, no sentido da identificação das necessidades e demandas, assim como proposição, participação e controle de ações e políticas, a serem assumidas pelo Estado.

A conceituação de Singer (1999, p. 55) é um pouco menos explícita; porém enfatiza que esse conceito “abrange uma grande variedade de atividades que intervêm na vida social em que a ação individual autointeressada não basta para garantir a satisfação das necessidades essenciais da população”. Sendo assim, analisa uma perspectiva ampla de análise, abrangendo causas que vão do abandono de crianças às questões de capital-trabalho, sendo viabilizada por meio de políticas e práticas articuladoras entre diferentes atores públicos e privados.

Fischer (2002) caracteriza a gestão social como a gestão do desenvolvimento social, enquanto campo de relações de poder, conflito e aprendizagem. A autora a analisa como um espaço reflexivo das práticas e conhecimentos constituídos por múltiplas disciplinas e um processo de mediação social entre indivíduos, grupos, organizações, coletividades, redes e interorganizações e sua intersetorialidade. Nessa perspectiva de gestão social estão, especialmente, identificados como sujeitos os indivíduos, os grupos e coletividades interessados, mediados por redes ou por ações intersetoriais.

Com relação à atuação intersetorial, o campo da gestão social é um híbrido de componentes, oriundo do Estado, mercado e sociedade civil. Sobre essa dimensão, cabe destacar a análise de Junqueira sobre a intersetorialidade:

[...] enquanto um processo de aprendizagem e de determinação dos sujeitos, que deve resultar em uma gestão integrada, capaz de responder com eficácia à solução dos problemas da população de um determinado território, saindo, entretanto, do âmbito da necessidade para o da liberdade. O homem é considerado na sua integralidade, superando a autonomização e a fragmentação que têm caracterizado a

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gestão das políticas sociais para uma dimensão intersetorial [...]. (JUNQUEIRA, 2004, p. 26).

A ação intersetorial propiciada pela gestão social traz, portanto, uma nova lógica de superação da fragmentação das políticas, considerando o cidadão em sua totalidade, já que estabelece novas relações sociais (JUNQUEIRA, 2004). A gestão social é, portanto, mediadora e articuladora de processos intersetoriais voltados para o desenvolvimento e superação da exclusão. Os valores de democracia, participação, justiça, equidade e bem-estar social levam a crer que se trata de uma gestão mais inclusiva. Essa compreensão pressupõe a existência da apartação e da exclusão existentes nos processos sociais.

Os agentes da gestão social, destacados pelos autores apresentados até o momento, estão nas diversas instâncias do Estado, do mercado e da sociedade civil, estando este último fortemente representado pelo terceiro setor. Além deles encontram-se as organizações populares, as lideranças comunitárias, a população usuária, os indivíduos, os grupos e as coletividades. Fica evidente a importância estratégica de a gestão social ser construída a partir de interesses realmente públicos, assumidos pelo conjunto dos cidadãos que, no modelo hegemônico, é excluído das riquezas, dos processos decisórios da direção da vida societária e da cidadania.

Uma construção democrática pactuada nos âmbitos local, nacional e mundial entre os agentes da sociedade civil, da sociedade política e da economia, com efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de distribuição das riquezas e do poder é reconhecida aqui como uma metodologia de gestão social. Seu reconhecimento como metodologia de gestão social sinaliza a necessidade de buscar ações pactuadas para atuar no nível local. Exige do gestor social não só adesão a valores democráticos, mas também o desenvolvimento de um conjunto de competências e habilidades importante para tornar mais efetiva as suas ações. A adaptação de metodologias para ações sociais como a de OP certamente é requerida para a efetividade das ações.

Um dos principais objetivos desta dissertação foi o de utilizar a OP para inclusão social. Tal foco se sustenta na premissa de que a Orientação Profissional pode fazer parte de uma política de inclusão social ao ajudar o jovem a analisar criticamente o contexto em que vive e suas competências individuais, identificando possibilidades

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atuais e futuras de inserção no mundo do trabalho. Com isso, aumentaria também sua autonomia na tomada de decisões sobre seus futuros projetos de carreira.

Ao direcionar-se a um sujeito que vive uma realidade desfavorável e excludente para desenvolver seu protagonismo, o presente autor acredita-se que o termo exclusão deve ser caracterizado com o intuito de contextualizarmos o campo da prática de uma orientação profissional para jovens oriundos de família de baixa renda.

2.1 EXCLUSÃO SOCIAL

O conceito de exclusão social surge na Europa durante os trabalhos preparatórios do terceiro programa de luta contra a pobreza em 1996 que é: "o conjunto de pessoas que, em virtude do mau funcionamento do sistema econômico, não conseguem ascender a um nível de vida considerado aceitável em cada um dos Estados membros da União Europeia" (RAMOS, 1999, p. 44).

O crescente interesse que os Estados membros da União Europeia têm dado aos problemas da pobreza tem sido acompanhado de um "deslocamento do centro de interesse do conceito de pobreza para o conceito de exclusão social." (RAMOS, 1999, p. 46). Definição de pobreza empregue pelo Conselho da Comunidade Europeia em 1975, data do Primeiro Programa de Luta contra a Pobreza: são pobres os indivíduos ou famílias cujos recursos são tão escassos que os excluem do modo de vida mínimo aceitável no Estado membro em que vivem (RAMOS, 1999).

Costa (2007, p. 81) apresenta uma abordagem do fenômeno da exclusão ligeiramente diferente. Segundo este autor, a noção de exclusão social vincula-se ao "contexto de referência, do qual se é, ou se está, excluído". O autor apresenta esses contextos de referência como um conjunto de "sistemas sociais básicos", cujo acesso traduz o "exercício pleno da cidadania", os quais descrevem nos seguintes cinco itens:

 O social: o sistema onde o indivíduo se insere e que podem ser imediatos (família e vizinhos), intermediários (empresa, grupo de amigos) ou mais amplos (comunidade local, mercado de trabalho);

 O econômico: se refere ao mercado de trabalho e demais geradores de recursos, como a segurança social, o mercado de bens e serviços e o sistema de poupanças;

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 O institucional: que inclui o sistema educativo, de saúde, etc.;

 O territorial: que inclui a habitação, os equipamentos sociais e as acessibilidades, remetendo para a situação em que a exclusão não se reporta só a pessoa, mas, a um território, como por exemplo, um bairro periférico ou um bairro degradado;

 O das referências simbólicas: que inclui um conjunto de perdas referenciais como a identidade social, da autoestima, da autoconfiança, de perspectivas de futuro, de capacidade de iniciativa, de motivações, do sentido de pertença à sociedade, etc.

Identifica-se o fenômeno da exclusão social como mais abrangente e integrado ao fenômeno da pobreza, que pode assim ser aceito como fenômeno mais estritamente relativo à escassez de recursos propriamente dita.

Parece, também, importante sublinhar o caráter relativo (ao nível de vida de cada país) e ao mesmo tempo estrutural (atribuído ao funcionamento dos sistemas sociais e econômicos) do fenômeno de exclusão social.

O caráter multidimensional, relativo e estrutural do fenômeno de exclusão social, torna ainda possível compreendê-lo como fenômeno dinâmico e aberto a processos de mobilidade entre situações de precariedade, exclusão e marginalização. Esse conceito do fenômeno de exclusão social torna ainda possível identificar as pessoas ou famílias que vivem situações de precariedade, como estando em situação de risco de exclusão social.

Uma das categorias sociais de maior risco a exclusão é a dos jovens de baixas qualificações a procura do primeiro emprego, uma vez que identificamos nessa categoria, características de transversalidade no que se refere aos fatores excludentes que afetam outras categorias sociais, como visto nos cinco itens de Costa 2007 referido anteriormente.

Excluídos ou em risco de exclusão social, essas pessoas estão assim fora do sistema formal de Orientação Profissional, pois não se encontram em situação de igualdade de oportunidades relativamente a outras pessoas que, por estarem integradas nos sistemas educativo e/ou econômico têm alguma oportunidade de acesso aos serviços de Orientação Profissional.

Parece fácil pensar que para superar a exclusão social se faz necessário um processo de inclusão social gerado por políticas públicas governamentais, mas a prática desse campo não é tão simplista assim. Para caminharmos nessa direção, vamos entender melhor a chamada inclusão social e como é possível e viável fazê-la.

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2.2 INCLUSÃO SOCIAL

A ideia da inclusão se fundamenta numa filosofia que reconhece e aceita a diversidade, na vida em sociedade. Isto significa garantia do acesso de todos a todas as oportunidades, independentemente das peculiaridades de cada indivíduo e/ou grupo social.

A Constituição Federal do Brasil assume como fundamental, dentre outros, o princípio da igualdade, quando reza no caput de seu artigo 5, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros, residentes no País, a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade".

Para que a igualdade seja real, entretanto, ela há que ser relativa (dar tratamento igual aos iguais, e desigual aos desiguais). O que isto significa? As pessoas são diferentes, têm necessidades diversas e o cumprimento da lei exige que a elas sejam garantidas as condições apropriadas de atendimento às peculiaridades individuais, de forma que todos possam usufruir das oportunidades existentes. Tratar desigualmente não se refere à instituição de privilégios, e sim, à disponibilização das condições exigidas pelas peculiaridades individuais na garantia da igualdade real.

O principal valor que permeia, portanto, a ideia da inclusão é o princípio da igualdade, pilar fundamental de uma sociedade democrática e justa: a diversidade requer a peculiaridade de tratamentos, para que não se transforme em desigualdade social. Sassaki (1997) conceitua “inclusão social” como o processo pelo qual a sociedade se adapta para poder incluir, em seus sistemas sociais gerais, pessoas que vivem a realidade da exclusão e, simultaneamente, estas se preparam para assumir seus papeis na sociedade. A “inclusão social” constitui, então, um processo bilateral, no qual as pessoas, ainda excluídas, e a sociedade buscam, em parceria, equacionar problemas, decidir sobre soluções e efetivar a equiparação de oportunidade para todos. Nesta mesma perspectiva, a Comissão das Comunidades Europeias (COM), no ano de 2003, destaca que a inclusão social é o processo que garante que as pessoas em risco de pobreza e exclusão social acedam às oportunidades e aos recursos necessários para participarem plenamente nas esferas econômica, social e cultural e se beneficiem de um nível de vida e bem-estar considerado normal na sociedade em que vivem.

Em síntese, a inclusão social introduz um novo horizonte para a sociedade, pois oferece a ampliação dos direitos para os mais diversos segmentos sociais, tais como,

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pessoas portadoras de necessidades especiais, os explorados, excluídos e discriminados em razão da raça, do gênero, da orientação sexual, da idade, da origem-etnia, da condição financeira, etc.

A inclusão social, no entanto, tem se caracterizado por uma história de lutas sociais empreendidas pelas minorias e seus representantes, na busca da conquista do exercício de seu direito ao acesso imediato, contínuo e constante ao espaço comum da vida em sociedade (recursos e serviços). No Brasil, vêm ocorrendo mudanças na prática da atenção profissional a participação dos agentes locais, que sofrem o processo da exclusão, nas estâncias de decisão e controle de tais ações de políticas públicas, em busca de uma maior valorização e desenvolvimento local.

Essa gestão inclusiva que tratamos aqui ressalta valores de democracia, participação, justiça, equidade e bem-estar social. Na perspectiva de Minayo et al. (2000, p. 10), o bem-estar social pode ser traduzido como qualidade de vida que é uma noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrado na vida familiar, amorosa, social e ambiental e à própria estética existencial. Pressupõe a capacidade de efetuar uma síntese cultural de todos os elementos que determinada sociedade considera seu padrão de conforto e bem-estar.

Desde o ponto de vista do autor desta dissertação, a valorização e o empoderamento individual que poderá contribuir para bem-estar social pode ser alcançado pela melhor democratização da oferta de serviços de Orientação Profissional, são eles: Físico, Espiritual, Intelectual, Familiar, Social, Financeiro, Profissional, Ecológico e Relacionamento amoroso. Pela via da OP, jovens de baixa renda poderão conscientizar-se acerca de seus recursos pessoais e dos recursos disponíveis no contexto onde vivem, vislumbrando a construção de projetos de vida e de carreira mais realistas e de maior possibilidade de viabilização.

2.3 ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL

O campo da Orientação Profissional tem se preocupado com a expansão de sua atuação social e acredita-se nesta pesquisa que a adaptação e a inserção de uma metodologia de OP pela via de uma Política Pública, capaz de atuar na exclusão social, propicia que a prática da Orientação Profissional possa contribuir para o processo de

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expansão da OP, colocando-se assim neste cenário como uma ferramenta, ou seja, uma estratégia para intervenção social neste processo de inclusão social.

Na língua portuguesa, genericamente, encontra-se que orientação consiste em “ato ou arte de orientar (-se)” (FERREIRA, 1988). A definição sugere a possibilidade de a pessoa ser orientada por profissionais qualificados e também a possibilidade, mais comum em nosso contexto, da própria pessoa se orientar, ou seja, “reconhecer a situação do lugar onde se acha, para guiar-se no caminho” (MELO, 2004). O conceito profissional é definido em relação a uma profissão ou a um ofício.

As pessoas podem tomar decisões por si mesmas sem necessariamente a ajuda de algum especialista em Orientação Profissional. No entanto, a ajuda desse tipo de profissional pode beneficiar jovens que dispõem de menos recursos em seus contextos de socialização, auxiliando-os para que tomem decisões qualificadas que os ajudarão a identificar e a avaliar melhor suas habilidades e recursos, bem como a construir projetos que conciliem seus sonhos pessoais e a realidade nas quais estão inseridos.

O conceito de orientação profissional tem sido utilizado para denominar muitas disciplinas e estágios dos cursos de Psicologia e Pedagogia, na legislação que criou a profissão do psicólogo e na Recomendação da Organização Internacional do Trabalho (OIT) (MELO, 2004). Mas o qual é essa “recomendação” dentro desse conceito tão amplo de Orientação Profissional?

A Orientação Profissional não é um juízo ou um estudo psicológico do qual se depreendem resultados, nem um conselho ou prescrição do tipo médico ou mágico; é um processo, uma trajetória, uma evolução mediante a qual os orientandos refletem sobre sua problemática e buscam caminhos para sua elaboração. Seu centro passa pelo orientando e não pelo orientador ou pelas técnicas. Tudo que se trabalhar durante a orientação profissional tem por finalidade levar o orientando a por em prática seu protagonismo quanto a conhecer-se, conhecer a realidade e tomar decisões reflexivas e de maior autonomia, que levam em conta suas próprias determinações psíquicas assim como as circunstâncias sociais. (MULLER, 1998, p. 14).

A prática da inclusão social, como relatado anteriormente, é mediadora e articuladora de processos intersetoriais voltados para o desenvolvimento e superação da exclusão caminhando numa direção voltada à inclusão social. Nesse sentido, começamos agora a elucidar as diferentes abordagens em OP visando elucidar suas diferenças e assim atentar para as que integram demandas sociais como foco de atuação.

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3. ABORDAGENS TEÓRICAS EM ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL: QUE LUGAR OCUPA A ÊNFASE NO SOCIAL?

Esta seção tem como objetivo organizar as abordagens de orientação profissional em dois grupos, separando as que incluíram a questão social, daquelas que não o fizeram. Como suporte teórico do presente trabalho, foram utilizadas as publicações de Ferretti (1988) e Pimenta (1979), autores que realizaram uma crítica à orientação profissional, procurando desvelar o caráter ideológico que tais trabalhos contêm. Recorreu-se, também, aos trabalhos de Bock (2001), Aguiar e Lisboa (2000), no sentido de incorporar uma proposta de orientação profissional mais crítica, já que esses autores defendem que a escolha profissional é resultado de um processo dialético influenciado por determinantes individuais e sociais.

3.1 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE

NÃO DÃO ÊNFASE AO SOCIAL

A psicologia científica, fortemente influenciada pela teoria da evolução natural e pelo cientificismo, tornou-se especialmente apta a desempenhar seu primeiro e principal papel social, porém, excludente: descobrir os mais aptos a trilhar a carreira aberta ao talento, supostamente presente na nova organização social, e assim colaborar com a crença na chegada de uma vida social fundada na justiça.

O nascimento da orientação profissional tem como referência a criação do Centro de Orientação Profissional de Munique, no ano de 1902, direcionado a uma prática cujos objetivos estavam diretamente ligadas à psicologia científica e ao aumento da eficiência industrial, ou seja, visava detectar trabalhadores inaptos para a realização de determinadas tarefas e assim evitar acidentes de trabalho (SPARTA, 2003), com isso, percebe-se a falta de preocupação com o aspecto social.

No livro, Choosing a Vocation publicado em 1909, Frank Parsons teve o grande mérito de acrescentar à Orientação Profissional ideias da Psicologia e da Pedagogia e a preocupação com a escolha profissional dos jovens. O referido autor define três passos a serem seguidos durante o processo de Orientação Profissional: a análise das características do indivíduo, a análise das características das ocupações e o confronto

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destas informações. Desta forma, a Orientação Profissional baseava-se na promoção do autoconhecimento e no fornecimento de informação profissional.

A metodologia de diagnosticar e de aconselhar, utilizando como instrumentos os testes psicológicos, foi substituída pelo auxílio ao autoconhecimento, influência de Rogers nos Estados Unidos, e à focalização de aspectos inconscientes, influência de Freud na Europa. As abordagens de OP baseadas na teoria Traço e Fator se ocupam da adequação do homem à profissão, preocupando-se com as diferenças individuais.

A Psicometria desenvolveu os testes de inteligência, aptidões, habilidades, interesses e personalidade, sendo que a orientação profissional passou a ser um processo fortemente diretivo, em que o orientador tinha como objetivos fazer diagnósticos e prognósticos do orientando e, com base nesses procedimentos, indicar profissões ou ocupações apropriadas.

Desde o seu nascimento, na década de 1920, a Orientação Profissional brasileira pautou-se por um modelo baseado na Teoria do Traço e Fator; isto é, pelas ideias de que o processo de Orientação Profissional é diretivo e o papel do orientador profissional é o de fazer diagnósticos, prognósticos e indicações das ocupações certas para cada indivíduo.

A abordagem psicodinâmica realiza uma convergência de valores nas concepções de Freud para explicar a constituição da personalidade pelos indivíduos. A psicanálise é usada para entender as aptidões, características e interesses desenvolvidos pelo indivíduo desde sua primeira infância. Nessa teoria, a iteração com o meio já é notada, porém, baseada ainda nos impulsos individuais. A abordagem psicodinâmica trata de investigar os estratos profundos da personalidade dos sujeitos para que tomem consciência dos motivos que lhes impulsionam a se comportarem de uma determinada maneira.

A abordagem decisional visa à racionalidade das escolhas, pois se baseia em pressupostos da economia e da administração. Segundo essa abordagem, a decisão do indivíduo deve ser fruto de análise minuciosa dos elementos que intervêm no processo. A racionalidade propõe três etapas:

1. Preditiva: identificar as possibilidades oferecidas e analisar as consequências de cada uma dessas possibilidades.

2. Avaliativa: analisar a desejabilidade das consequências arroladas na etapa anterior.

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3. Decisória: avaliar as decisões e finalmente chegar à escolha.

O modelo propõe o início do processo de tomada de decisão com a identificação de possibilidades. Nesse processo, se estima o sucesso potencial de cada opção, estudando-se suas consequências de acordo com seus próprios valores e por fim, é selecionada uma opção de acordo com critérios pessoais. A decisão obtida, como resultado, pode ser definitiva ou apenas investigativa. No primeiro caso, finaliza no objetivo estabelecido no início do processo, e no segundo, produz uma revisão sobre métodos de pesquisa e coleta de dados para começar a sequência de novo.

Para a abordagem baseada na estrutura da Personalidade (HOLLAND, 2013), os interesses profissionais são os reflexos da personalidade do indivíduo e, sendo assim, eles podem servir de base para a definição de diferentes tipos de personalidade, cujas características definem diferentes grupos laborais e correspondem a diferentes ambientes de trabalho.

Por isso, a abordagem de Holland desenvolve uma tipologia da personalidade com seis tipos básicos, dentre os quais podem se estabelecer linhas de comunicação, que expressam um contínuo entre os diferentes tipos:

Realista: são as pessoas que se relacionam com a realidade de maneira objetiva, física e material;

Investigadora: são pessoas que se relacionam com a realidade manipulando ideias, palavras e símbolos ressaltando sua capacidade abstrata e criativa;

Artística: pessoas criativas, sensíveis, introspectivas, impulsivas e originais manipulando sua intuição, emoção e intensidade;

Social: a realidade dessas pessoas é a possibilidade de cuidar dos outros e estabelecer as relações humanas possuindo habilidades verbais com os outros;

Empreendedora: pessoas persuasivas, extrovertidas, entusiastas e aventureiras. O meio com o qual interagem é aquele no qual podem exercer liderança.

Convencional: pessoas que procuram estabilidade e aprovação social. Tarefas preestabelecidas, como as administrativas, é o ambiente preferido dessas pessoas (Holland, 1975).

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3.2 ABORDAGENS DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL QUE

DÃO ÊNFASE AO SOCIAL

Com a abordagem do Desenvolvimento Vocacional de Super (1978), definiu-se a escolha profissional como um processo que ocorre ao longo da vida, da infância a velhice, pelos diferentes estágios do desenvolvimento vocacional e da realização de diversas tarefas evolutivas, definição em que se destaca o social de modo mais efusivo no campo da Orientação profissional.

Em 1952, Super defende doze princípios nos quais se baseiam sua abordagem: 1. O desenvolvimento profissional é um processo progressivo, contínuo e geralmente irreversível.

2. O desenvolvimento profissional é um processo ordenado, esquematizado e previsível.

3. O desenvolvimento profissional é um processo dinâmico.

4. O conceito de si mesmo começa a ser formado antes de entrar na adolescência, e vai se definindo, sendo consolidado ao final da adolescência.

5. Os fatores da realidade do indivíduo têm um papel cada vez mais importante na escolha ocupacional com o passar da idade.

6. A identificação com os pais está relacionada com o desenvolvimento dos papéis adequados e com o planejamento profissional.

7. O progresso ocupacional de um indivíduo está relacionado com sua inteligência, nível socioeconômico familiar, necessidades, valores, interesses, habilidade para comunicação interpessoal e as condições econômicas de oferta de trabalho.

8. O âmbito ocupacional em que ingressa a pessoa está relacionado com seus interesses, valores e necessidades com a identificação que tem com os papéis profissionais de seus pais, com as fontes e recursos comunitários, com o nível de qualidade dos estudos e educação, com a estrutura e tendências ocupacionais e com as atitudes comunitárias.

9. Cada ocupação requer habilidades, interesses, traços de personalidade, etc., e está condicionada por certos níveis de tolerância tão amplos que podem permitir tanto certa variedade de pessoas para cada ocupação como certa diversidade de ocupação para cada pessoa.

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10. As satisfações laborais dependem de saber até que ponto uma pessoa pode encontrar uma maneira adequada de expressar, no trabalho, suas atitudes, suas capacidades, seus interesses, seus valores e seus traços de personalidade.

11. O grau de satisfação que uma pessoa consegue com seu trabalho depende do grau em que ela pode desenvolver o conceito que tem de si mesma nesse trabalho; e

12. O trabalho e as ocupações têm sido, para muitas pessoas, o centro da gravidade da organização e da estruturação de suas personalidades. Entretanto, também existe a possibilidade de que, para algumas pessoas, o trabalho seja algo periférico, incidental ou inexistente e outras atividades sociais e familiares sejam o ponto central de seu desenvolvimento pessoal (SUPER, 1978).

A Estratégia Clínica de Bohoslavsky, que contribuiu no processo de Orientação Profissional no Brasil, vem sendo utilizada até os dias de hoje por todo o país, tendo por objetivo ensinar a escolher e possibilitar a decisão por meio dos fatores básicos para uma boa escolha profissional: autoconhecimento, informação ocupacional e mercado de trabalho. Segundo Bohoslavsky (2007, p. 1), a orientação vocacional profissional “constitui uma ampla gama de tarefas, que inclui o pedagógico e o psicológico, em nível de diagnóstico, de investigação, de prevenção e a solução da problemática vocacional”.

A escolha se torna um momento crítico e conflituoso, pois envolve muitas mudanças na vida dos indivíduos. É um momento em que há a possibilidade e a necessidade de tomar decisões, e isto se dá, principalmente, a partir da passagem de um ciclo educativo a outro.

O mesmo autor afirma que o psicólogo auxilia o cliente a pensar a respeito de sua escolha de maneira autônoma, consciente e responsável. A orientação de que caminho profissional, ou que campo seguir não é de responsabilidade do psicólogo, mas do próprio indivíduo que deve tomar a sua decisão.

Nesta perspectiva, muda-se o ponto de vista, principalmente porque incorpora à tarefa de orientação profissional uma dimensão ética. A ética surge do fato de que, ao considerar o homem sujeito de escolhas, considera-se que a escolha do futuro é algo que lhe pertence. (BOHOSLAVSKY, 2007, p. 21).

A abordagem ecológica nasce dos estudos da biologia e se expande na antropologia e na sociologia. Na área da Psicologia e da Educação, foi Kurt Lewin, fundador da teoria topológica, ou de campo, o pioneiro em transpor os pressupostos biológicos, na explicação do comportamento humano, definindo o mesmo como produto da interação de forças ou valências entre o sujeito e o ambiente (SARRIERA,

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2007). O paradigma ecológico desenvolvido por Sarriera configura uma modalidade de Orientação Profissional baseada na Psicologia Social. De acordo com a perspectiva do paradigma ecológico, o ambiente é tão importante quanto o indivíduo no processo de escolha profissional, já que esta ocorre na relação do indivíduo com o meio sociocultural em que está inserido. O objetivo da Orientação Profissional é prover o orientando com as habilidades pessoais que o permitam atender às demandas ambientais no momento de transição entre a escolha e o mundo do trabalho: é a promoção de comportamentos adaptativos (SPARTA, 2003).

O modelo ecológico se compõe de uma série de estruturas ou sistemas, em forma figurada de círculos concêntricos que explicam os diferentes níveis da realidade (SARRIERA, 1998). A estrutura nuclear ou central é o microssistema. Nele se processam uma série de atividades, papéis e relações ou vínculos afetivos. Os microssistemas se relacionam entre si, conformando um sistema de ordem superior que chamamos de mesossistema. O mesossistema se configura como unidade de análise mais favorável para a orientação profissional. Uma visão integrada dos sistemas familiar, escolar, de trabalho e social confere competência para facilitar os caminhos da escolha e da inserção profissional.

Outro sistema que influi nos demais sistemas anteriores, mas que procede de forma indireta, é o exossistema. São ambientes de experiência das pessoas que estão no círculo de influência do sujeito.

O macrossistema é o sistema que abrange os demais sistemas, composto do sistema político, econômico, o sistema cultural, ideológico, religioso, etc, nos quais os indivíduos estão inseridos. Ele também é determinante do mercado de trabalho, das oportunidades de emprego, dos recursos para formação, dos valores.

A abordagem Sócio-Histórica concebe a OP na relação entre o indivíduo e a sociedade, superando visões que tratam o indivíduo como mero reflexo da sociedade ou como totalmente autônomo em relação a ela (BOCK, 2001). Vygotsky (1994) relata que a cultura torna-se parte da natureza humana num processo histórico que, ao longo do desenvolvimento da espécie e do individuo, molda o funcionamento psicológico do homem. Bock (2001) afirma que a OP gera promoção de saúde ao contribuir para ampliar a consciência que o indivíduo possui sobre a realidade que o cerca, instrumentando-o para agir, transformar e resolver as dificuldades que essa sua realidade lhe apresenta.

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A presente dissertação leva em consideração a importância de que o campo social deve ser um dos focos da orientação profissional, uma vez que, sem os determinantes sociais, o jovem de família de baixa renda, não teria sua realidade de vida considerada como determinante na escolha de futuro pessoal e profissional.

A adaptação metodológica realizada nesta pesquisa de mestrado profissional, objetiva, não só fazer uso de uma abordagem teórica que considera o aspecto social na determinação da escolha profissional do jovem de baixa renda, mas também leva em conta que a abordagem privilegiada do social depende da inclusão dos profissionais da instituição local no planejamento e na implementação da Orientação Profissional. Em outras palavras, qualquer proposta de adaptação metodológica que almeja a inclusão social deve envolver o profissional na discussão da proposta e na escolha de estratégias mais adequadas à realidade do público-alvo de jovens, sendo igualmente necessário um monitoramento permanente de todo processo para avaliar o alcance dos resultados almejados.

A Orientação Profissional vem mudando seu eixo central de escolha dos indivíduos para o do trabalho na sociedade atual, assim, a melhor escolha profissional é aquela que consegue abordar o maior número de determinações para, a partir delas, construir reflexões que contribuam para a elaboração de projetos de vida pessoal e profissional. Utiliza-se o termo projeto para firmar a possibilidade da transformação/mudança da pessoa e, porque não, também, de todo o ambiente na qual ela está inserida.

A prática da inclusão social, como relatado anteriormente, é mediadora e articuladora de processos intersetoriais voltados para o desenvolvimento e superação da exclusão caminhando numa direção voltada à inclusão social. Nesse sentido, começamos agora a elucidar a junção pretendida aqui, de busca da Inclusão Social utilizando a Orientação Profissional.

3.3 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL E A INCLUSÃO SOCIAL

A presente pesquisa tem dois públicos-alvo. O primeiro público é o adolescente de baixa renda, que deve receber orientação profissional que o capacite a realizar uma leitura da realidade de vida em uma fase devida de pouca maturidade para encarar sua

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vida com uma visão realista. O segundo público-alvo é o profissional que atua na orientação profissional com jovens oriundos de classes de baixa renda.

Neste caso, a ferramenta necessária deve conseguir primeiramente oferecer uma oportunidade para que esse jovem faça essa leitura da realidade de forma mais madura, encarando sua realidade, para depois planejar uma estrutura capaz de romper com as visões deterministas e sonhadoras de realidade, auxiliando assim, no processo de promoção à inclusão social.

Sendo as práticas da Orientação Profissional, no campo da Gestão Social, um dos principais focos da presente pesquisa, entende-se que para prosseguir seja necessário o aprofundamento da contextualização dos referenciais teórico-metodológicos e psicossociais da OP no Brasil, além das diretrizes gerais de OP inseridas em ações de Políticas Públicas.

3.4 BREVE PERSPECTIVA HISTÓRICA DA ORIENTAÇÃO

PROFISSIONAL NO BRASIL

A orientação profissional foi introduzida no Serviço de Educação do Estado de São Paulo em 1934, por iniciativa de Lourenço Filho. No ano de 1942, a lei Capanema, sobre a organização do ensino secundário, estabeleceu a atividade de Orientação Educacional e atribuiu a ela o auxílio na escolha profissional dos estudantes.

Em 1947, foi fundado o Instituto de Seleção e Orientação Profissional (ISOP), junto à Fundação Getúlio Vargas na cidade do Rio de Janeiro, instituto que conseguiu reunir técnicos e estudiosos da Psicologia Aplicada, muitos deles formados pelo curso ministrado por Mira y López, que foi seu primeiro diretor (RAMOS, 1999).

O ISOP desenvolveu, nos dez primeiros anos de seu funcionamento, um trabalho voltado principalmente para a implantação de técnicas de seleção e orientação profissional, porém, dando atendimento à classe média alta, numa tentativa de orientação da futura elite dirigente, ou seja, dinheiro público usado para a manutenção da exclusão.

Uma Iniciativa Pioneira de aplicação da Psicologia à problemática do trabalho foi representada na experiência do departamento de orientação e treinamento do Banco de Lavoura de Minas Gerais no início da década de 1960, realizada sob a orientação de

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Pierre Weil e Célio Garcia. Foram promovidas, na ocasião, experiências de Desenvolvimento em Relações Humanas que incentivavam a autonomia e a abertura em uma atmosfera democrática; destaca-se a adoção de uma abordagem psicossociológica à conduta dos indivíduos em grupo. Tratava-se de uma abordagem inovadora no Brasil, que sofreu influência tanto da Psicanálise quanto da vertente socioanalítica de origem francesa (CAMPOS, 1992).

Com relação à Psicologia Social, disciplina obrigatória do currículo mínimo de Psicologia, a tendência foi a formação de departamentos que incluíam, além da disciplina Psicologia Social, as disciplinas: Dinâmica de Grupo e Relações Humanas, Seleção e Orientação Profissional e Psicologia da Indústria. Contudo, os programas da disciplina Seleção e Orientação Profissional, pautados no uso excessivo de testes psicométricos, nem sempre se alinhavam com os de Psicologia Social (BOMFIM, 2003).

Em 1976, foi criada em Bauru (SP), para atender pessoas com deficiência, uma organização não governamental com o nome de Sociedade para a Reabilitação e Reintegração do Incapacitado (SORRI) e a partir dela, em 1985, surgiu o Sistema SORRI-BRASIL. Atualmente, são cinco centros no Estado de São Paulo (Bauru, Campinas, Litoral Norte, São José dos Campos e Sorocaba), um no Pará e outro na Bahia (MELO, 2004).

O campo da Orientação Profissional no Brasil foi influenciado diretamente pela Psicanálise e, especialmente, pela Estratégia Clínica de Orientação Vocacional do psicólogo argentino Rodolfo Bohoslavsky, que dava relativa importância ao social, em especial à articulação entre o sistema social imposto aos homens e os sujeitos que o sustentam. No Brasil, Maria Margarida de Carvalho foi a responsável por introduzir o pensamento de Bohoslavsky na década de 1970.

A Estratégia Clínica de Bohoslavsky e o processo de intervenção grupal desenvolvido por Carvalho contribuíram para o desenvolvimento do processo de Orientação Profissional no Brasil, que vem sendo utilizado até os dias de hoje, tendo por objetivo ensinar a escolher e possibilitar a decisão por meio dos fatores básicos para uma boa escolha profissional: autoconhecimento, informação ocupacional e mercado de trabalho.

Carvalho ainda realizou com os alunos do último ano de Psicologia da USP, nos anos 1980 e 1981, um projeto que ela denominou Orientação Profissional em grupos de

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periferia, cujo objetivo era avaliar a pertinência do modelo teórico e metodológico que ela havia usado com adolescentes de classe média em classes populares.

O processo grupal é uma amostra do processo social no qual a visão do outro auxilia na própria visão de si, as aspirações e limitações são dosadas porque o grupo facilita a percepção das influências familiares, sociais e econômicas (RAMOS, 1999). É próprio do adolescente o convívio em grupo onde há possibilidade de compartilhar sentimentos de dúvida, confusão e insegurança em relação ao futuro (SOARES, 1993).

Outro marco nesse campo aconteceu no ano de 1993, com a fundação da Associação Brasileira de Orientadores Profissionais (ABOP) durante o I Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional Ocupacional (RAMOS, 1999; LISBOA, 2000; MELO 2004). A ABOP foi criada com os objetivos de unificação e desenvolvimento da Orientação Profissional no Brasil. Desde então, vem promovendo simpósios nacionais bienais.

Na última década do século XX, no Brasil, novas demandas desafiaram a relação trabalho-educação no que se refere à formação profissional necessária para a inserção qualificada no mercado de trabalho. Este é um período marcado pelas seguintes características: acentuada falta de trabalho e colocação profissional para maiores de 40 anos; dificuldade de trabalho para adolescentes recém-saídos das faculdades e/ou sem experiência de trabalho; grande número de crianças/adolescentes trabalhando em condições de exploração; e forte evasão escolar. Neste contexto, surge um movimento que tenta gerar leis e programas, com ações de aspectos sociais, para atender às necessidades do mercado, legalizando a profissionalização de jovens e adolescentes e também lhes assegurando o direito à educação em condições dignas (OLIVEIRA, 2010).

3.4.1 Aspectos sociais dentro da Orientação Profissional no Brasil

Com relação aos aspectos sociais da Orientação Profissional, embora esta estivesse presente em Departamentos de Psicologia Social nas Universidades Públicas brasileiras, quando foi definido o currículo mínimo do curso de Psicologia em 1962, é somente na década de 1990 que se identificam trabalhos que abordam a Orientação Profissional a partir de referenciais da Psicologia Social (ABADE, 2005).

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Além de ser recente a influência da psicologia social na orientação profissional, outra razão da necessidade de se desenvolver projetos de pesquisa para ajudar na elaboração de políticas públicas de inserção social de jovens é que não há em nosso país política pública de Orientação Profissional como em diversos países, por exemplo, França, Alemanha e Canadá (MELO, 2004). O que se encontram são ações desarticuladas, como em algumas Prefeituras Municipais brasileiras que contratam psicólogos para intervir em orientação profissional, escolar e sexual, mediante a criação de cargos para psicólogos em Programas específicos ou em Secretarias da Educação. Algumas fontes específicas de recursos têm sido utilizadas para a contratação de pessoal, mas as iniciativas são pontuais, com solução de continuidade nas mudanças de governos (MELO, 2004).

Mais uma demonstração da necessidade de pesquisas e práticas que visem dar acesso aos jovens de baixa renda ao serviço de Orientação Profissional foi demonstrada no III Congresso Latino Americano de Orientação Profissional da ABOP (Associação Brasileira de Orientação Profissional) e X Simpósio Brasileiro de Orientação Vocacional e Ocupacional, realizado no mês de julho de 2011 na cidade de São Paulo, cujo tema foi: “Novas demandas sociais e a universalização do acesso à orientação profissional e de carreira”.

Um dos fóruns de debate, coordenado pelos professores Fabiano Fonseca da Silva e Mário de Sousa Costa, trouxe a seguinte chamada demonstrando a atual preocupação do campo da orientação profissional com as novas demandas sociais como a inclusão.

A questão das políticas públicas nunca foi, de forma sistematizada, alvo de pesquisas no campo da Orientação Profissional. Apenas alguns poucos capítulos de livro e artigos denunciavam a necessidade de desenvolvimento desta área, o que se reflete na pouca quantidade de legislação específica e de ações e programas institucionalizados nas esferas do trabalho, educação e saúde. (CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, 2011, s.p)

Em outra chamada desse mesmo evento, o fórum coordenado pelo professor Dr. Silvio Duarte Bock traz em seu conteúdo o seguinte texto:

Esse grupo de trabalho busca refletir e analisar as novas possibilidades de construção do laço social e o papel da orientação profissional neste processo; debater com os pesquisadores da área, sistematizar o

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conhecimento já produzido e publicar os principais achados, acerca da questão da relação inclusão-exclusão e da democratização do Acesso à orientação profissional como estratégia de inclusão social. (CONGRESSO LATINO AMERICANO DE ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL, 2011, s.p)

Com isso, nota-se que a orientação profissional deve procurar atuar em todos níveis sociais, propiciando informação sobre a realidade do mercado de trabalho e do país, auxiliando no conhecimento de si mesmo (COSTA, 2007) e possibilitando a construção de um projeto para a vida das pessoas que vivem a realidade da exclusão. As Políticas Públicas de inclusão social é o campo mais adequado a ter demandas de práticas de OP.

3.4.2 Demanda por políticas públicas de Orientação Profissional no Brasil

Surgem, no Brasil, novos atores sociais e novos espaços institucionais no mundo do trabalho e, consequentemente, possibilidades ampliadas de inserção do orientador profissional.

Para tanto, é preciso desenvolver políticas públicas, implementação e avaliação de programas e serviços, bem como capacitação dos orientadores educacionais, vocacionais e profissionais, no âmbito da Educação, da Psicologia, Administração, Ciências Sociais, entre outras áreas do conhecimento. (MELO, 2004, p. 47).

Tal composição de fatos sinaliza a necessidade que a orientação profissional venha a oferecer contribuições efetivas para a inclusão social no cenário social brasileiro atual.

A presente pesquisa tem como objetivo adaptar e inserir uma metodologia de orientação profissional dentro de uma política pública de inclusão de jovens de baixa renda, permitindo que esse público construa um projeto de vida pessoal que auxilie na sua inserção social e profissional. A aplicação de tal metodologia poderá ser transferida como tecnologia social e dar suporte a políticas públicas de inclusão social de jovens de baixa renda.

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3.5 A ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NO CAMPO DAS

POLÍTICAS PÚBLICAS BRASILEIRAS

A melhor maneira de discutir a questão social é entendê-la no sentido prático, de fazer a inclusão social na vida real das famílias e das comunidades, como ponto de partida para a melhoria das condições de vida dos excluídos, prevendo a redução das desigualdades sociais. Para essa discussão, faz-se necessário um levantamento do que já foi realizado de práticas de Orientação Profissional, inseridas dentro de políticas públicas em âmbito nacional.

A Orientação Profissional, na década de 1980, foi discutida como um processo no qual a escolha é multideterminada, a profissão e o indivíduo têm caráter dinâmico e o coordenador tem o papel de informar e compreender a realidade psíquica dos indivíduos. As questões sociais já eram consideradas relevantes para a Orientação Profissional, mas as teorias e metodologias ainda buscavam seus referenciais na Psicologia Clínica Individual.

Bosi (1982), por exemplo, incentivava a saída da Psicologia dos consultórios e o contato dos alunos de Psicologia com a educação popular, isto é, com as escolas públicas. Os ensaios publicados nos periódicos de Psicologia da época questionavam os determinantes e a liberdade de escolha profissional, dessa forma, as pesquisas tinham a preocupação de validar e adaptar os testes vocacionais para o contexto brasileiro. Em seu artigo sobre a Trajetória ocupacional de trabalhadores das classes subalternas, Ferreti (1988) salienta que a Orientação Profissional deve se voltar para os interesses das classes trabalhadoras e com menos ênfase para os jovens oriundos da burguesia.

A Política Pública de Qualificação do governo brasileiro que instituiu um Plano Plurianual – PPA 2004-2007 adota o critério de que para trabalhar é preciso também se qualificar. Essa política pública se articula em torno de três objetivos: (a) inclusão social e redução das desigualdades sociais; (b) crescimento com geração de trabalho, emprego e renda; (c) promoção e expansão da cidadania e fortalecimento da democracia (MELO, 2004).

Com vista a essa política de qualificação do governo brasileiro, um sistema público que integra ações nos âmbitos nacional, estadual e municipal é o Sistema Nacional de Emprego (SINE), que foi criado em 1977 e revitalizado recentemente pelo Ministério do Trabalho e Emprego, que, atualmente, objetiva implementar ações em

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articulação como os estados e municípios. As ações em plano nacional podem ser resumidas em: seguro-desemprego, intermediação de mão de obra e apoio ao Programa de Geração de Emprego e Renda.

As ações são desenvolvidas por meio de serviços e agências de colocação em emprego em todo o país (postos de atendimento). São programas e serviços destinados a milhares de trabalhadores que necessitam de inserção mais rápida na população economicamente ativa. Tais programas podem constituir outro cenário de ações no âmbito da orientação profissional, desenvolvimento de carreira, informação, qualificação e emprego. O tema principal nesse contexto é a necessidade de sobrevivência, de conseguir um trabalho, um emprego. Para isso, são necessárias políticas públicas ousadas (MELO, 2004).

Em 2001, a Association internationale d'orientation scolaire et professionnelle (AIOSP), em comemoração aos seus 50 anos de existência, discutiu, em duas conferências, a necessidade de se estabelecer critérios de excelência na prestação de serviços de orientação profissional e de carreira, para que sejam efetivamente úteis para indivíduos, economias e sociedades em um trabalho de cooperação internacional. Naquele ano, adotou a “Declaração da AIOSP sobre orientação vocacional e profissional”, em 17 de setembro, na conferência de Paris e que na visão do presente trabalho deve servir de norte para o campo de políticas púbicas voltadas às práticas de Orientação Profissional.

Nessa declaração, sete pontos são definidos como centrais para o desenvolvimento da orientação educacional e vocacional, estabelecendo:

a) O direito universal de acesso à orientação;

b) Que os provedores de serviços devem ter um padrão de qualidade reconhecido em formação profissional;

c) Que as necessidades dos clientes devem ser respeitadas e o atendimento deve ser realizado por um orientador competente e profissionalmente credenciado, com a formação alicerçada no respeito aos diferentes modos de vida;

d) A necessidade de formação continuada aos orientadores para desenvolvimento de competências específicas e atualização;

e) Que o treinamento e o desempenho dos orientadores sejam supervisionados e os serviços avaliados sistematicamente;

f) Que as pessoas com necessidades especiais e desvantagens sociais devem receber orientação com métodos apropriados, que levem em conta;

Referências

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