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O terrorismo e seu tratamento jurídico penal

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UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

HEIDER LUIS PETRAZZINI DOS SANTOS

O TERRORISMO E SEU TRATAMENTO JURÍDICO PENAL

Três Passos (RS)

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HEIDER LUIS PETRAZZINI DOS SANTOS

O TERRORISMO E SEU TRATAMENTO JURÍDICO PENAL

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DEJ – Departamento de Estudos Jurídicos

Orientadora: MSc. Patrícia Marques Oliveski

Três Passos (RS) 2014

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Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da minha caminhada acadêmica. Em especial, aos meus pais que sempre estiveram ao meu lado me apoiando incondicionalmente, prestando todo apoio e incentivo necessários, impulsionando-me a conquistar meus objetivos

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente aos meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional dado durante esses anos nessa jornada acadêmica. Agradeço principalmente pela paciência que tiveram comigo, pelo ensinamento da valorização dos estudos e por sempre terem depositado sua confiança em mim.

À minha orientadora, Prof ª Patrícia Marques Oliveski, que prontamente aceitou o encargo de me guiar na realização desta tarefa, sempre se demonstrando disposta e empenhada. Agradeço igualmente a todos os professores pelo conhecimento transmitido, não somente na formação acadêmica, mas principalmente na formação humanística.

À Unijuí, seu corpo docente, administração e direção, pelo apoio institucional e pelas oportunidades oferecidas.

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“Os direitos humanos não são violados somente pelo terrorismo, repressaõ, assassinatos, mas também pela existência de condições de extrema pobreza e de condições econômicas injustas que geram grandes desigualdades”.

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RESUMO

O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise do tratamento jurídico-penal do terrorismo no ordenamento brasileiro. Analisa-se primeiramente a problemática da conceituação e definição do terrorismo pela doutrina e pelos organismos internacionais, verificando quais são os principais empecilhos na busca de uma definição internacionalmente aceita. Prossegue a investigação com a definição dos elementos caracterizadores do terrorismo, bem como a sua diferenciação de outras condutas criminosas. No panorama internacional, são analisados os principais instrumentos existentes como as convenções e resoluções sobre o terrorismo. Em sede do Direito Comparado, são analisadas as legislações de determinados países que na sua história sofreram atentados terroristas. Por fim, são analisados os diplomas existentes no Brasil que regulam a matéria, assim como as propostas existentes para a tipificação do terrorismo no ordenamento pátrio.

Palavras Chaves: Terrorismo, Direito Penal, Direito Internacional, Direito Comparado, Lei de Segurança Nacional.

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ABSTRACT

This monographic research work makes an analysis of the legal and criminal treatment of terrorism in the Brazilian legal system. First of all, is analyzed the problem of conceptualization and definition of terrorism by the doctrine and by the international organisms, verifying what are the main obstacles in the pursuit of an internationally accepted definition. The research continues with the definition of the elements that characterize terrorism, as well as its differentiation from other criminal conduct. In the international scene, are analyzed the main existing instruments such as conventions and resolutions on terrorism. In the matter of Comparative Law, are analyzed the laws of certain countries that in their history have suffered terrorist attacks. Finally, are analyzed the existing diplomas in Brazil which regulate the matter, as well as the existing proposals for the criminalization of terrorism in the national legal system.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... ... 7

1 CONCEITO DE TERRORISMO ... 9

1.1Conceito de Terrorismo e seus elementos... 11

1.2Distinção de Terrorismo e outras condutas ... 18

1.3Terrorismo e suas Formas ... 19

2 TRATAMENTO JURÍDICO-PENAL DO TERRORISMO ... 25

2.1Tratamento Jurídico-Penal do Terrorismo no Direito Comparado ... 25

2.2Tratamento Jurídico-Penal do Terrorismo no Brasil ... 31

2.2.1 .. Breve histórico da evolução legislativa no Brasil ... 32

2.2.2 .. O atual tratamento jurídico-penal do Terrorismo no Brasil ... 34

2.2.3 .. Propostas legislativas de tipificação do Terrorismo no Brasil ... 40

CONCLUSÃO ... 44

REFERÊNCIAS ... 46

ANEXO A – Resolução 49/60 da Organização das Nações Unidas e Declaração sobre medidas para eliminar o terrorismo internacional ... 49

ANEXO B – Resolução nº 51/210 da Organização das Nações Unidas e Declaração complementar da Declaração de 1994 sobre medidas para eliminar o terrorismo internacional ... 55

ANEXO C - Resolução nº 54/109 da Organização das Nações Unidas e Convênio Internacional para repressão do financiamento ao terrorismo ... 62

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INTRODUÇÃO

O terrorismo é um fenômeno que nos últimos anos tem se tornando internacionalmente recorrente, ante a repercussão e o nível de destruição alcançado por tal prática. Trata-se de um crime peculiar o qual apresenta diversas controvérsias no que tange a sua definição bem como na existência de instrumentos para a sua repreensão ou prevenção.

A prática terrorista é histórica, entretanto, especialmente a partir dos atentados ocorridos em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, as providências antiterroristas começaram a se transformar em âmbito militar, policial, político, legal e judicial, tornando-se objeto de maior atenção. Nos últimos anos as técnicas utilizadas nos atentados terroristas evoluiriam, ampliando os danos dos atentados, sendo considerado pela comunidade internacional um dos maiores desafios a serem superados.

Os Estados atingidos por atentados terroristas viram-se diante da necessidade de criação de instrumentos que propiciem o combate a essa conduta. Ocorre que tal medida resulta ineficiente, frente à dificuldade de uma conceituação precisa em âmbito internacional. Além disso, em âmbito internacional, o sistema de manutenção da paz internacional ocupa-se para o conflito entre Estados, não possuindo instrumentos para o devido combate a grupos terroristas.

Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo analisar o tratamento jurídico-penal adotado pelo Brasil no combate ao terrorismo. Para tanto, se faz necessário um estudo dos instrumentos internacionais existentes que tratam do tema, bem como da análise do direito comparado.

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No primeiro capítulo analisa-se a conduta terrorista, verificando o posicionamento da doutrina sobre a conceituação do tema, bem como do tratamento dado em nível internacional. Cuida-se também da diferenciação do terrorismo e outras condutas, assim como das formas que o terrorismo pode adquirir.

O segundo capítulo, por sua vez, divide-se em dois tópicos. O primeiro trata da análise do terrorismo no direito comparado, analisando qual é o tratamento dado por diversos países ao terrorismo. O segundo tópico trás o ponto central do trabalho e trata especificamente do tratamento dado pelo Brasil no combate ao terrorismo, realizando uma análise da evolução legislativa no país, o tratamento atual empregado, e das propostas existentes para regular a matéria.

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1 CONCEITO DE TERRORISMO

Este capítulo destina-se a uma análise do termo terrorismo em seus diversos sentidos, a fim de proporcionar condições para analisar tal conduta do ponto de vista jurídico.

A palavra terrorismo deriva dos termos em latim terrere, e deterrere, que significam respectivamente tremer e amedrontar. Segundo o Dicionário, terrorismo compreende o “uso do terror e da violência (por exemplo, a explosão de bombas) como meio de coação.” (HOUAISS, 2004 p. 716).

Terror, do qual derivou a palavra terrorismo, é o nome do período da Revolução Francesa marcado pela dominação através do terror e da intimidação, compreendido entre 31 de maio de 1793, com a queda dos girondinos, e 27 de junho de 1794, com a queda de Robespierre. Posteriormente, começou a designar qualquer época de perseguições por motivos políticos, como por exemplo, os excessos durante os primeiros anos da Restauração, período de 1814 a 1830.

A palavra “terror”, segundo Sarah Pellet (2003, p. 10) aparece na língua francesa em 1335, compreendendo a “um medo ou uma ansiedade extrema correspondendo, com mais frequência, a uma ameaça vagamente percebida, pouco familiar e largamente imprevisível.”

Marcello Ovidio Lopes Guimarães (2007, p. 14), afirma que com a Revolução Francesa o termo adquire sentido distinto, correspondendo ao sistema de restaurar e impor a autoridade do novo Estado. Com a queda de Robespierre, não pelo cometimento de terror, mas por terrorismo, o termo adquire outro sentido. Ou seja, o “terror”, que era utilizado como meio de legítima defesa da ordem estabelecida foi substituído por terrorismo, que correspondia ao terror exercido abusivamente pelo Estado.

Conforme Pellet (2003, p. 11), o termo reaparece no século XIX, adquirindo outro sentido, correspondendo então como meio de aterrorizar o Estado e incitar a sociedade contra os órgãos estatais por meio da propaganda, também conhecido como anarquismo.

Em razão da constante evolução, no âmbito jurídico o terrorismo sempre esteve diante de dificuldades para ser conceituado com precisão, tanto no direito interno, pelas

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normas de direito penal nacional, tanto no cenário internacional, pelos tratados e convenções dentro dos limites do direito internacional e penal internacional.

A dificuldade da discussão do terrorismo baseia-se na ausência de uma definição inequívoca do termo. As principais dificuldades de conceituação decorrem das motivações políticas bem como da diversidade de condutas que podem ser classificadas como atos terroristas

As dificuldades de natureza política são as mais graves, visto que decorrem da carga política do conceito e da experiência dos Estados com a ocorrência de tal fenômeno. Para Sarah Pellet (2003, p. 9)

[...] terrorismo, termo em que se misturam direito e política, fato que causa um grave problema de definição, tanto na esfera interna quanto na esfera internacional. E é esta ambiguidade quanto à noção de terrorismo que faz com que a comunidade internacional e os Estados, no quadro de sua legislação interna, cheguem a respostas insatisfatórias para lutar contra este flagelo que a própria doutrina jamais soube definir completamente.

Conforme a autora, as propostas de conceituação de terrorismo em âmbito nacional são insatisfatórias, pois utilizam técnica enumerativa, adaptando-se apenas ao sistema jurídico interno. Dessa forma, tais definições por serem excessivamente particulares a um determinado Estado, não servem como solução para a ordem jurídica internacional.

Segundo Guimarães (2007, p. 34), a diversidade de opiniões entre os Estados é evidente. Há casos que determinada parte da comunidade internacional considera determinado Estado terrorista, sendo o terrorismo um sistema reprovável que atenta no geral contra a própria constituição do Estado, enquanto outros Estados de igual ou maior força político-econômica, o tem como um Estado que repudia o terrorismo, mas o emprega tão somente em legitima defesa ou até mesmo em defesa preventiva.

Quanto à multiformidade, observa-se que há diversas condutas que podem ser classificadas como ato terrorista, tendo os meios empregados em atentados evoluído e variado bastante nas últimas décadas.

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Tal constatação é importante, visto que a dificuldade de definição e a evolução constante na sua noção são abordadas em função das consequências dos atos terroristas, ou seja, de acordo com a percepção de cada Estado do que seja terrorismo.

1.1 Conceito de Terrorismo e seus elementos

Levando em consideração as dificuldades apresentadas, observa-se que nenhum instrumento internacional obteve êxito em conceituar o termo terrorismo de forma consensual.

Segundo Guimarães (2007, p. 18), a primeira Convenção de Genebra de 1937 da Liga das Nações buscou fornecer definição ao terrorismo. Segundo a disposição do art. 1º, “[...] a expressão ‘atos terroristas’ quer dizer fatos criminosos dirigidos contra um Estado, e cujo objetivo ou natureza é o de provocar o terror em pessoas determinadas, em grupo de pessoas ou no público”. Tal definição é incompleta, visto ser pouco clara e não delimitar o tema.

Prossegue na sua análise Guimarães (2007, p. 18), afirmando que

Os fatos criminosos compreendidos na noção de terrorismo não são somente dirigidos contra um Estado. Podem sê-lo contra uma comunidade religiosa, política, econômica ou cultural, uma organização, tal qual um partido político, um organismo não governamental interno ou transnacional, ou mesmo um grupo de pessoas, bem determinado. Aliás, há, em última análise, atos terroristas praticados não somente contra o Estado, mas sim por intermédio de um Estado ou mesmo diretamente, pelo aparelho estatal, como parte de uma política de governo.

Quanto ao objetivo do ato terrorista, este pode ser muito mais do que causar terror, podendo ser um fim político ou religioso em razão do temor e do clamor público obtido pelo ato de terror.

Nesse sentido, há um grupo que defende a tipificação do terrorismo específica para cada infração terrorista, sendo o terrorismo um gênero. Contra esse grupo, há os defensores que o terrorismo deve ser abordado de maneira indistinta, como um todo. Tais diferenças dificultam uma definição consensual internacional.

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Mesmo diante da falta de consenso internacional sobre o tema, não houve empecilhos à busca de um conceito capaz de gozar aceitação internacional ampla, principalmente por parte da Organização das Nações Unidas.

Em 1990 a Comissão de Direito Internacional apresentou o projeto do Código de Crimes Contra a Paz e a Segurança da Humanidade, onde constava expressamente a definição de terrorismo internacional. Segundo o Informe da Comissão de Direito InternacionalA/46/10 de 1991, o artigo 24 apresenta a seguinte definição:

Artigo 24: Terrorismo Internacional. Um indivíduo que como agente ou representante de um Estado cometa ou ordene a comissão de alguns dos seguintes atos: empreendimento, organização, assistência, financiamento, encorajamento ou tolerância de atos contra outro Estado, ou dirigidos contra pessoas ou propriedades de forma a criar um estado de terror nas mentes de figuras públicas, grupos de pessoas ou do público em geral. (tradução nossa)

Em tal proposta não houve consenso na comissão, sendo este abandonado, tanto que no projeto de 1996 não havia a previsão do terrorismo internacional como um crime autônomo.

Em 09 de dezembro de 1994 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas por meio da Resolução 49/60 (Anexo A) adotou a compreensão de terrorismo como a prática de atos criminosos planejados ou elaborados para infundir estado de terror no público em geral, num grupo de pessoas ou em particulares por motivos políticos.

Por sua vez, o Conselho de Segurança por meio da Resolução 1.566 de outubro de 2004 adotou a definição de terrorismo como a prática de:

atos criminosos, inclusive contra civis, cometidos com a intenção de causar a morte ou lesões corporais graves, ou tomada de reféns com o objetivo de provocar um estado de terror no público em geral, em um grupo de pessoas ou de determinadas pessoas, intimidar uma população ou obrigar um governo ou uma organização internacional a praticar ou abster-se de praticar qualquer ato, [...], sendo injustificável por considerações de ordem política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou de natureza similar (tradução nossa)

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Houve ainda por parte da Assembleia Geral em 1996 a instituição de um Comitê Especial, que criou a Resolução nº 51/210 (Anexo B), a qual tratou da necessidade de criação de instrumentos internacionais contra o terrorismo. Tais esforços resultaram na Resolução nº 54/109 (Anexo C), apresentada em 2001, a qual refere-se a Convenção Internacional para a Supressão do Financiamento do Terrorismo. Segundo o artigo 2º da referida resolução:

Comete uma infracção, nos termos da presente Convenção, quem, por quaisquer meios, direta ou indiretamente, de forma ilegal e intencionalmente, fornecer ou reunir fundos com a intenção de que eles sejam usados ou sabendo que serão utilizados, em todo ou em parte, a fim de realizar:

[...]

(b) Qualquer outro ato destinado a causar a morte ou lesões corporais graves a um civil, ou a qualquer outra pessoa que não participe ativamente das hostilidades em situação de conflito armado, quando o objetivo do referido ato, por sua natureza ou contexto , é intimidar uma população ou obrigar um governo ou uma organização internacional a praticar ou abster-se de praticar qualquer ato.

Tal resolução, contudo, foi objeto de várias propostas de ementas formuladas por países como África do Sul, Áustria, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, Índia, Líbano, Malásia, Nigéria, Sudão e Suíça. Dentre os diversos aspectos objetos das referidas ementas, o que deve receber uma atenção especial é a diferença entre terrorismo das formas legítimas de luta como forma do exercício do direito à autodeterminação e à independência.

Andreu-Guzmán (2003, p.119-120) afirma o seguinte:

As discussões realizadas desde 2000 destacam as dificuldades de ordem política, ideológica e legal para estabelecer uma definição do crime de terrorismo internacional. Vários aspectos apresentam essas dificuldades, especialmente no que diz respeito a diferenciar claramente o terrorismo da "luta legítima dos povos no exercício do seu direito à autodeterminação e autodefesa contra a agressão e ocupação." Várias delegações insistiram na necessidade de uma definição do crime de terrorismo internacional que distinguisse este fenômeno das formas legítimas de luta, do exercício do direito à autodeterminação e da independência. (tradução nossa)

Embora haja várias tentativas para a criação de um conceito internacionalmente aceito, o terrorismo continua sem uma definição jurídica amplamente aceita, limitando dessa forma a possibilidade de criação de uma estratégia de combate ao terrorismo, principalmente pela parte da Organização das Nações Unidas.

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Tal falta de consenso se repete também no âmbito do direito nacional e entre os doutrinadores. A definição interna de terrorismo encontra suas múltiplas facetas, haja vista que as características atribuídas são de acordo com a diversidade política, cultura e religiosa dos povos, sendo este mais um dos fatores que dificultam a definição internacional. Aliás, o combate interno do terrorismo geralmente restringe-se a proteção exclusiva da ordem interna, adotando figuras penais de direito comum, como os crimes de incêndio ou de explosão.

Conforme Guimarães (2007, p. 19), a lei britânica do Terrorism Act 2000 define o terrorismo como uma ação ou omissão quando “o uso ou ameaça é feito com propósitos políticos, religiosos ou ideológicos” incluindo “séria violência contra uma pessoa, sérios danos a uma propriedade”, ou também, quando cria-se “um sério risco à saúde ou à segurança do público ou a uma parte do público.”

Já a lei americana (Seção 901 da Public Law 100-204, de 1987), define atividades terroristas como “a organização, o apoio ou a participação em um ostentoso ou indiscriminado ato de violência com extrema indiferença ao risco de causar morte ou sérios danos corporais a um individuo que não esteja envolvido nas hostilidades armadas.”

Por sua vez, o Código Penal francês, no seu art. 421-1, define atos terroristas como infrações “contra uma empresa individual ou coletiva, tendo por objetivo perturbar a ordem pública por intimidação ou por terror.”

Sarah Pellet (2003, p. 16) afirma que as tentativas de definição não são satisfatórias pois utilizam técnicas enumerativas, adaptando-se ao cenário jurídico interno para fenômenos terroristas particulares de cada Estado, ou seja, não trazem soluções para a ordem jurídica transnacional.

Antoine Sottile (apud PELLET, 2003, p. 17) define terrorismo como o “ato criminal perpetrado mediante terror, violência ou grande intimidação, tendo em vista a alcançar um objetivo determinado.”

Antonio Cassese (apud PELLET, 2003, p. 18) mescla definições de direito interno com a da Assembleia Geral das Nações Unidades, apregoando que

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qualquer ato violento contra pessoas inocentes com a intenção de forçar um Estado, ou qualquer outro sujeito internacional, para seguir uma linha de conduta que, de outro modo, não seguiria, é um ato de terrorismo.

Gilbert Guillaume (apud PELLET, 2003, p. 18) considera que:

[...] uma atividade criminal não pode ser vista como terrorismo a não ser que três elementos estejam reunidos: a realização de certos atos de violência com o intuito (de causar) morte ou danos corporais graves; uma empresa individual ou coletiva tendendo à realização destes atos; o objetivo perseguido de criar o terror em pessoas determinadas, em grupos de pessoas ou, de maneira geral, no público.

Na mesma busca por definição de terrorismo, Antônio Lopes Monteiro (apud GUIMARÃES, 2007, p. 21) enumera alguns elementos para esse objetivo, tais como a criação do terror, a violência, o fim politico do agir, e requinte na organização e na preparação das atividades, incluindo-se a preocupação com o nível de conscientização politica e cultural dos membros que dela participam.

Caleb Carr (apud GUIMARÃES, 2007, p. 22) o define como o ato visando atacar civis com objetivo de obter uma mudança no apoio desses civis a seus líderes. Ressaltando a dificuldade da definição de terrorismo, em tal definição se enquadraria grandes figuras históricas que se encaixam nessa ideia não se limitando ao caráter militar e paramilitar, como o imperador romano Augusto, o rei francês Luís XIV, o alemão Otto von Bismarck e o grupo americano de Nixon e Kissinger.

Por sua vez, Valdir Sznick (1991, p. 163) apregoa que os elementos mais ou menos recorrentes são os que mais dificultam a definição de terrorismo. Para ele a violência pode inexistir, assim como o uso de meios, sendo hábil qualquer meio capaz. No mesmo sentido, muitas vezes inexiste a conotação política em atos terroristas.

Sznick (1991, p. 164) ainda defende que há três maiores problemas na definição de terrorismo: A “tautologia”, ou seja, o conceito contido que aparece com mesmas palavras na definição, a “multiformidade de crimes”, já que há várias formas e múltiplas atividades que se enquadram em terrorismo, e a “motivação política”, que nem sempre é encontrada, sendo a que mais dificulta a definição de terrorismo.

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Para Héctor Luis Saint-Pierre (2000, p. 213), o terrorismo se dá em âmbito psicológico. O objetivo visado não é a vítima direta, morta no atendado, mas aqueles que embora ausentes do atentado, identificam-se com a vítima, ou seja, são vítimas indiretas, as quais se sentirão mais expostas e vulneráveis ao próximo atentado.

Manuel Avilés Goméz (apud GUIMARÃES, 2007, p. 24) informa já haver contabilizado mais de cem definições de terrorismo, visto que cada autor a faz de acordo com seu ponto de vista e de sua ciência, dificultando uma conclusão mais convergente. Prefere a definição de Bruce Hoffman, que busca elementos do Código dos Estados Unidos do FBI, dizendo que o terrorismo:

é a violência premeditada e politicamente motivada contra objetivos não combatentes, praticada por grupos infranacionais ou por atores clandestinos, habitualmente pensados para influir no público. É o uso ilegítimo da força ou da violência contra pessoas ou propriedades para coagir ou intimidar a um governo, a uma população civil ou a qualquer segmento desta, para conseguir objetivos políticos, sociais, religiosos ou ideológicos.

Aviléz Goméz (apud GUIMARÃES, 2007, p. 24) também admite que tentar uma definição completa nunca será possível diante de todas as matizes possíveis do fenômeno terrorista.

Para o criminólogo espanhol,

O terrorismo é um método de combate, um modo de comportamento político ilícito consistente no uso sistemático da violência ou na efetiva ameaça dela. É praticado por um ator fundamentalmente racional, a organização terrorista, formada por pequenos grupos conspirativos – incluindo, às vezes, grupos procedentes do próprio Estado e propiciados por seus aparatos- que têm o propósito de manipular atitudes políticas, mediante a criação de um estado psicológico de terror generalizado e da propaganda que suscita. Seu fim é desestabilizar, mais do que derrotar o inimigo. Seu fim último e definitivo é o acesso ao poder. (AVILÉZ GOMÉZ, apud GUIMARÃES, 2007 p. 24).

Para Marcello Ovidio Lopes Guimarães (2007, p. 25), o terrorismo pode ser entendido como o

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ato de indiscriminada violência física, mas também moral ou psicológica, realizado por uma empresa individual ou coletiva, com o intuito de causar morte, danos corporais ou materiais generalizados ou criar firme expectativa disso, objetivando incrustar terror, pavor, medo contínuo no público em geral ou em certo grupo de pessoas (parte do público), geralmente com um fim, no mais das vezes ideológico (político, nacionalista, econômico, sociocultural, religioso)

Nota-se que a pretensão de conceituar poderia ser simplesmente abandonada, entretanto, em razão da busca da mínima segurança jurídica e de proteção à sociedade em face dos atentados terroristas, faz-se necessária tal definição.

Embora não haja um conceito amplamente aceito do que seja o terrorismo, analisando as tentativas de conceituação podem ser observadas algumas características pontuais.

O primeiro elemento mais recorrente nas definições é o estado de terror, caracterizado pelo estado de insegurança, intimidação, alarma e medo na população de serem vítimas de ações que isoladas não teriam relevância. Em tal elemento compreende também a imprevisibilidade e arbitrariedade do terrorismo.

Outro elemento presente é a violência, correspondente a destruição causada pela prática terrorista. Contudo, a violência não é um elemento essencial no terrorismo, visto que pode haver um atentado terrorista sem a utilização de violência, como nos ataques biológicos de antraz.

Como último elemento, a finalidade política, visto que o atentado terrorista direciona-se contra a ordem política. Importante ressaltar que o termo político utilizado em “ordem política”, compreende as diversas atividades humanas, ou seja, deve ser interpretado em um sentido amplo, o qual abrangeria um cunho político, ideológico, social e religioso.

Faz-se necessária a explicação de que a finalidade política por si só não basta para dar ao terrorismo o caráter político, ou seja, ser compreendido como um crime político. A intimidação e o temor são elementos essenciais do conceito, sendo inconcebível que o alcance à vítimas inocentes bem como a extensão dos danos sejam desconsiderados para o ato terrorista ser entendido como crime político, tendo efeitos no processo de extradição.

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1.2 Distinção de Terrorismo e outras condutas

Faz-se necessária a distinção entre o terrorismo e outros tipos delitivos a fim de evitar confusões corriqueiras entre as condutas, o que poderia gerar ainda mais discussão quanto á dificuldade de conceituação.

Primeiramente, observa-se que o terrorismo não se confunde com o crime político. Para alguns autores, como Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva (apud PAMPLONA, 2011, p.51), o terrorismo é uma espécie de crime político.

O autor reconhece que a tendência atual nos casos de terrorismo é de não considera-lo como político para efeitos de extradição. Tal desconsideração ocorre não por fundamentos teóricos, mas por razões pragmáticas e de cooperação penal internacional. Caso o STF reconhecesse o terrorismo como um crime político, estaria obstando a extradição, a qual é um instrumento de cooperação internacional.

Segundo Pamplona (2011, p. 51), tal crítica é observada no voto do Ministro Celso de Mello, na extradição nº 855, onde o terrorismo é retirado da categoria de crime político, não sendo exposta a justificativa para tal ruptura. Segundo o ministro, “atos delitivos revestidos de índole terrorista, a estes não reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha impregnada a prática da criminalidade política.”

Segundo Canêdo (apud PAMPLONA, 2011, p. 52), o crime político é o delito sem violência, razão pela qual não é permitida a extradição do agente. Entretanto, em sede penal, observa-se que a maioria dos delitos utilizados com fins políticos como roubo e sequestro, possuem violência física ou grave ameaça, sendo difícil visualizar quais seriam esses delitos propostos pelo doutrinador.

De qualquer forma, o terrorismo não se confunde com crime político. Como exposto anteriormente, a finalidade política não é elemento essencial para a caracterização do delito, podendo este ser motivado por questões sociais, ideológicas ou religiosas.

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Ainda em sede de diferenciação entre crime político e terrorismo, observa-se que o crime político atenta contra a organização política de um Estado. Por sua vez, o terrorismo tem por objetivo a desestruturação ou destruição do mesmo, atingindo indistintamente o Estado em si, bem como civis, gerando o estado de terror.

Outro delito constantemente confundido com o terrorismo é o crime organizado, ou organização criminosa. Tem-se como aspecto diferenciador a finalidade das duas condutas. A organização criminosa visa exclusivamente à obtenção de lucro, enquanto o terrorismo pode ter diversas finalidades, inclusive, o lucro. Dessa forma, pode-se afirmar que o crime organizado pode utilizar traços terroristas para alcançar os seus objetivos, a saber, o lucro.

Ou seja, uma organização criminosa pode ser terrorista, mas nem todo ato terrorista provém de uma organização criminosa. É oportuno adiantar que a organização criminosa corresponde a uma forma do terrorismo, quando a mesma for revestida dos elementos caracterizadores do delito.

1.3 Terrorismo e suas formas delitivas

Assim como a definição e conceituação, não há uma classificação pacificada na doutrina quanto À divisão e subdivisão das formas do terrorismo, resultando em uma dificultosa elaboração de regra geral para a definição e aceitação dessas divisões.

Segundo Guimarães (2007, p. 27), já houve propostas de distinções entre terrorismo de direita e terrorismo de esquerda. O terrorismo de direita é aquele fundamentado em racismo, sexismo ou nacionalismo podendo ser geográfico ou econômico. Por sua vez, o terrorismo de esquerda refere-se aos atentados com cunho político-revolucionário

Ao lado de tais distinções, há o terrorismo baseado no fanatismo religioso e o terrorismo de Estado, sendo este último uma represália aos atentados de grupos contra o poder estabelecido ou como base política com a finalidade de fomentar grupos terroristas nos seus limites fronteiriços ou em território estrangeiro, a fim de conservar o regime político.

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Dessa forma, segundo Guimarães (2007), o terrorismo pode ser classificado em quatro grupos: o terrorismo fundado em organização terrorista, o terrorismo de Estado, o terrorismo político-revolucionário e o terrorismo ideológico-religioso.

Em relação à organização terrorista, deve-se observar inicialmente que o crime organizado tem como característica atingir a sociedade duramente em um bem ou o sistema financeiro, tendo proporções catastróficas. Em grande parte, o comando do grupo é realizado por personagens públicos.

Conforme Manuel Avilés Goméz (apud GUIMARÃES, 2007, p. 28), uma forma primitiva desse protesto é o bandoleirismo social, como exemplo Diego Corrientes na Andaluzia, ou Robin Hood, na Inglaterra. A Máfia dos primeiros tempos com origem rural também representava a defesa social contra o estilo tradicional de vida, sendo um enfrentamento ao Estado e ao seu ordenamento.

Os movimentos milenaristas, por sua vez, buscavam em sua essência a transformação completa e radical do mundo. Em sua origem possuíam cunho religioso e messiânico, transformando-se em movimentos revolucionários como o comunismo campesino italiano e o anarquismo espanhol.

No que tange ao uso dos atentados terroristas por organizações criminosas, Ensina Guimarães (2007, p. 29), tem-se que tais grupos possuem braços internacionais, podendo realizar serviços para outras organizações criminosas e até mesmo governos, estando ligados a prática de graves ilícitos como a lavagem de dinheiro, corrupção em grande escala, tráfico de drogas e contrabando de armas. Como exemplos podem ser citados o Cartel de Medellín, na Colômbia, e algumas organizações de origem italiana, como a Máfia siciliana, conhecida como “Cosa Nostra”.

Segundo Guimarães (2007, p. 30), o atentado contra o juiz Giovanni Falcone, perto de Palermo, demonstra o uso de táticas e técnicas terroristas por estas organizações. A detonação de uma tonelada de explosivo que resultou na morte do magistrado, símbolo da luta antimafia, bem como de sua esposa também juíza e de seus seguranças demostra que os atentados começam a atrair mais a atenção como se espetáculos fossem, atingindo o auge com a fase dos explosivos, com os carros-bombas e então os aviões-bombas.

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No Brasil, não havendo problemas de ordem religiosa e política que propiciem a realização de atentados terroristas, há por sua vez o fortalecimento do crime organizado, que por sua vez incrusta o poder público atingindo altas autoridades e a cúpula de setores da administração. Apesar de não se utilizar do terrorismo, a forma “à brasileira” da organização criminosa corresponde a motins penitenciários, comando de tráfico de drogas a partir de unidades prisionais, fugas e resgates de presos.

Podem ser citados grupos como o Comando Vermelho no Rio de Janeiro e o Primeiro Comando da Capital, em São Paulo, com atentados à bomba nos prédios da Segurança Pública e do Poder Judiciário.

Quanto ao terrorismo de estado, na sua primeira definição, este se caracterizava por regimes ou governos ditatoriais, totalitários ou autoritários, os quais violariam conscientemente os direitos individuais e de direitos de determinados grupos.

Uma das características dos estados totalitários é a imprensa não livre, a qual dirige a opinião pública da maneira mais conveniente para o regime imperante. Além disso, tais regimes são apoiados ou tolerados, por diversos fatores, como econômicos, militares, culturais, religiosos ou de proximidade étnica, por países que sem tais interesses jamais tolerariam.

Héctor Luis Saint-Pierre (apud GUIMARÃES, 2007, p.32) exemplifica como casos desse tipo de terrorismo fundados em organizações complexas, como o Estado nazista, o stalinismo na URSS, macartismo nos Estados Unidos, e o apoio logístico ao golpe de Pinochet no Chile.

Segundo Saint-Pierre (2000), há um tipo particular de terrorismo de Estado, sendo o mesmo utilizado por exércitos regulares durante a guerra contra populações locais, a exemplo da guerra civil na Bósnia-Herzegovina. Em tal situação, o próprio exército pratica atrocidades como estupros e assassinatos em massa de mulheres e crianças, provocando pânico na população local, forçando a retirada da região que está sendo ocupada.

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Explica Guimarães (2007, p. 33) que tal tipo de ação é histórica, podendo ser citado a crueldade com que o exército de Átila, o rei dos hunos, tratava os povos conquistados. Tais notícias de crueldade antecipavam o avanço de suas tropas, evitando ou reduzindo eventual resistência.

A ausência de consenso do tema também é presente conforme as diferenças entre as opiniões dos Estados quanto ao perfil terrorista de um país. Segundo Guimarães (2007, p. 34), há casos em que uma parcela da comunidade internacional considerara determinado Estado terrorista, enquanto outra parcela considera-o como um Estado que repudia o terrorismo, o qual age apenas empregando a legítima defesa. Dessa forma, há uma linha tênue no que diz respeito ao instituto de legítima defesa de um Estado e a justificativa de ações para manter de qualquer forma o regime atual, ou seja, o que vem a ser considerado um ato terrorista ou um ato defesa estatal.

A diferença entre o terrorismo individual e o terrorismo de Estado, é que aquele é praticado por indivíduos que atacam diretamente o Estado ou seus órgãos, enquanto este é um ato criminoso praticado pelo próprio Estado no exercício de sua própria soberania, atingindo direitos e garantias de cada indivíduo e da coletividade, a fim de manter o regime atual apesar de amplamente contestado.

Em virtude da maior tecnologia bélica e do aumento da informação, o terrorismo político-revolucionário é a espécie de terrorismo mais verificada na atualidade.

Como já abordado, a definição de terrorismo bem como a de suas subdivisões não são absolutas, uma vez que um grupo terrorista pode ser e geralmente é, ao mesmo tempo, uma organização criminosa, política, nacionalista, revolucionária com aspectos religiosos e culturais. O que leva tal diferenciação é a sua marca mais visível.

A dificuldade de caracterização também é encontrada aqui, uma vez que todo grupo terrorista se auto define revolucionário. O terrorista revolucionário busca a alteração da ordem social, política ou econômica de acordo com suas convicções, independente do interesse do grupo que pertence. Tais atentados podem ocorrer contra a ordem política de um estado democrático ou em um estado autoritário.

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Na primeira situação, tem-se evidente que a prática é inaceitável e inexplicável, visto que as alterações que são visadas podem ocorrer de maneira legal, estando presente o apoio da maioria. No segundo caso, também é inaceitável, visto que não deve haver confusão entre a ideia de revolução com o terrorismo revolucionário.

A revolução por si se aproxima do direito de resistência popular, podendo esta chegar a prática da guerra civil, sendo inconfundível com a forma de terrorismo. Segundo Marcello Ovidio Lopes Guimarães (2007, p. 41),

o terrorismo revolucionário, ao contrário da revolução, utiliza o terror como ponto central de sua ação, além de não se importar com os demais grupos ou com o fato de ser efetiva minoria. Deseja espalhar o medo indistintamente e a todos, mesmo a inocentes que nenhuma ligação, oficial ou mesmo de mero apoio, têm com o estado repressor.

Saint-Pierre (2000, p. 217) afirma que “muitas vezes a ação revolucionária é chamada pejorativamente de ‘terrorismo’ com o intuito depreciá-la ou mesmo por ignorância definicional.”

Ainda como diferenciação, lembra-se que o terrorismo revolucionário, assim como o terrorismo geral, possuem uma ação aleatória, não havendo a definição prévia da vítima.

Já o terrorismo fundado na ideologia religiosa é o que mais vem adquirindo presença no cenário mundial. É primordial entender que não existe um terrorismo exclusivamente religioso, pois este também é político, havendo sempre a intenção do uso de uma conjuntura política.

Tal fator está presente nos ataques ao World Trade Center ou nas críticas das ações de guerra no Afeganistão. É notório que há uma crítica pelos grupos muçulmanos e por alguns governos islâmicos em relação aos Estados Unidos, sendo até responsabilizado pelo fracasso na implantação de um Estado árabe soberano. Ainda há a propaganda realizada por Bin Laden e talibãs afegãos de que o Estados Unidos encarnam o “Grande Satã”.

Para tal compreensão, se faz necessária o entendimento do fundamentalismo e do integralismo, sendo estas as maiores formas de intolerância.

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Ensina Guimarães (2007, p. 46) que o fundamentalismo está ligado à interpretação de um livro sagrado, no qual somente os eleitos de determinada religião são capazes de compreender o Livro de forma verdadeira, não necessariamente obrigando outras pessoas a partilhar de sua crença ou para construir uma sociedade que tenha tal crença como obrigatória. Dessa forma, existe naturalmente o fundamentalismo católico, muçulmano ou judaico, podendo em determinados casos atingir um grau de intolerância.

Por sua vez, o integralismo compreende uma visão religiosa e política, na qual o modelo de vida política e a fonte das leis do Estado devem ser baseadas nos princípios religiosos.

A interpretação realizada com base em interesses externos a noção de religião põe em risco o perigo da intolerância. Tanto o Corão, a Torah e o Evangelho diante de determinadas interpretações criam a intolerância, na qual os opositores seriam surdos, cegos ou não possuiriam inteligência.

Como exemplos de fanatismo religioso ligado ao terrorismo, podem ser citados os grupos islâmicos Hamas e Jihad Islâmica, os quais tem por objetivo a destruição do Estado de Israel. O libanês Hizbollah (Partido de Deus), o egípcio Al Jihad, e a internacional Al-Qaeda (a Base), que dirigem atentados terroristas a cristãos e judeus, bem como de alguns setores muçulmanos tidos como colaboradores do ocidente

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2 TRATAMENTO JURÍDICO-PENAL DO TERRORISMO

Apesar das dificuldades encontradas para a realização de uma análise de um sistema jurídico de outro país, sejam elas de cunho social, cultural, política ou econômica, se faz necessário o estudo do tratamento penal no Brasil comparando-o com outros sistemas jurídicos. Tal análise tem por objetivo evidenciar a enorme diferença legislativa existente entre tais sistemas jurídicos e o sistema jurídico brasileiro.

Dessa forma, serão apresentadas legislações de alguns países, analisando as penalidades impostas e institutos de apoio ao combate do delito, como a incomunicabilidade dos suspeitos e legislações antiterror.

2.1 Tratamento Jurídico-Penal do Terrorismo no Direito Comparado

Inicia-se a análise pela legislação espanhola. Considerando que a legislação antiterror baseia-se nas experiências do país com atentados terroristas, o estudo da legislação espanhola é pertinente frente aos atentados ocorridos em 11 de março de 2004 em Madrid.

Pode-se afirmar que a Espanha possui lei antiterrorista desde 10 de julho 1894, a qual tratava de atentados que utilizassem meios explosivos.

Conforme Guimarães (2007, p. 169), atualmente a regulamentação do delito está prevista no Código Penal Espanhol, Lei Orgânica 10/1995, no Título XXII, o qual regula crimes contra a Ordem Pública, especialmente no Capitulo VII, o qual regula nos artigos 571 a 580 crimes de organizações criminosas e grupos terroristas, e atentados terrorista. Tal regulação sofreu sua última alteração em 23 de dezembro de 2010.

A primeira seção compreende o artigo 571, o qual é dividido em três partes. A primeira trata da pena imposta a chefes ou diretores de organização terrorista, a qual é de oito a quatorze anos de prisão, com inabilitação para emprego ou cargo público de oito a quinze anos. A segunda parte trata da pena imposta a participantes ou integrantes de tais organizações, a qual é de seis a doze anos de prisão, e inabilitação para cargo público de seis a quatorze anos. Por fim, a terceira parte trata do que seria uma organização terrorista, a qual

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seria uma organização criminosa (art. 570 bis e 570 ter) com o propósito de subverter a ordem constitucional ou perturbar a paz pública de acordo com os crimes da seção seguinte.

As condutas terroristas, portanto, estão previstas efetivamente na segunda seção, a partir do artigo 572. Os artigos 572 e 573 preconizam penas mais severas a crimes comuns, como dano, incêndio, depósito de armas, munição, explosivos, sequestro, no qual o agente seja integrante de uma organização terrorista.

O artigo 574 prevê a possibilidade de crimes não previstos nos artigos anteriores, mas que sejam cometidos por integrantes de organizações terroristas. Em tal possibilidade, a pena aplicada será a correspondente ao delito, acrescentada de sua metade. Já o financiamento ao terrorismo tem a sua tipificação no artigo 575.

Por sua vez, o artigo 576 trata da pena imposta a agentes que colaborarem com a prática de atentados terroristas. Tais condutas estão previstas no item dois deste artigo, correspondente por exemplo a vigilância de bens ou pessoas, alojamento e depósito.

Os artigos 577 e 578 tratam do terrorismo individual ou terrorismo urbano, o qual corresponde a conduta praticada pelo agente que não é integrante de uma organização terrorista. No artigo 577 a pena imposta ao “terrorista individual” será a correspondente ao delito praticado, acrescida de metade. Em tal artigo as hipóteses de condutas terroristas são ampliadas, desde que estas tenham o fim de subverter a ordem constitucional ou alterar gravemente a paz pública.

Por sua vez, o artigo 578 tipifica a conduta de enaltecimento ou justificação dos delitos de terrorismo. Trata-se de um crime autônomo, cuja pena não se estabelece com referencia a outro tipo penal.

O artigo 579 complementa o artigo 578, regulando a conduta que incentiva a prática de atos terroristas, tendo como pena o grau mínimo previsto no tipo correspondente. Por fim, o artigo 580 trata da equiparação de sentenças estrangeiras reverentes a atividades terroristas.

Outros aspectos importantes da legislação espanhola é o período de detenção de um agente suspeito de crime de terrorismo e a sua incomunicabilidade. O período máximo de

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detenção de um suspeito para esclarecimento de fatos é de 72 horas, podendo ser estendido a cinco dias caso o suspeito seja levado a juízo. Já a incomunicabilidade pode durar até 13 dias, não podendo o suspeito falar com advogado ou médico, receber ou enviar correspondências, nem informar a sua família da situação, sendo esta, alvo de criticas da comunidade internacional no que tange a garantia dos direitos humanos.

Já a Itália é um país que contém em sua historia diversos episódios terroristas. Pode ser citado como principal atentado o Massacre de Bolonha, em 02 de agosto de 1980, resultando na morte de 85 pessoas e mais de 200 feridos. Além disso, pode-se mencionar o emblemático caso de Cesare Battisti.

A legislação italiana tem por base do tratamento do terrorismo o decreto-lei nº 625/1979, convertido na lei nº 15 de 06 de fevereiro de 1980, e a lei nº 304 de 29 de maio de 1982. No Código Penal Italiano, o terrorismo é regulado nos artigos 270 bis (associação com fins terroristas), 280 (atentado terrorista), e 289 bis (sequestro com finalidade terrorista).

Assim como a legislação espanhola, a tipificação da associação terrorista no Direito Italiano prevê duas situações distintas. A primeira para quem funda, promove, organiza ou dirige associação terrorista, tendo como pena prisão de sete a quinze anos. A segunda para quem participa de tais associações, com pena de 4 a 8 anos.

Quanto à realização do atentado terrorista em si, o artigo 280 do Código Penal Italiano prevê diversas situações, dentre elas quando o atentado for dirigido contra a democracia ou a segurança de uma pessoa. No caso de ser contra uma pessoa, há penas distintas se resultar lesão grave ou lesão muito grave. Guimarães (2007, p. 175) aponta o teor dos parágrafos, os quais quantificam sanções às lesões graves ou gravíssimas advindas de atentados terroristas ou agravam as penas se as condutas criminosas são dirigidas a pessoas que exercem funções judiciárias, penitenciárias ou de segurança pública.

Se do atentado terrorista resultar na morte da pessoa alvo, no caso de tentativa de assassinato, a pena será de prisão perpétua e, em caso de ataque à segurança, 30 anos de prisão.

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O sequestro com finalidade terrorista é regulado no artigo 289 bis, tendo como pena para tal infração prisão de vinte e cinco a trinta anos. Se a vítima morrer, e este não for o resultado pretendido pelo agente, será de trinta anos a pena. Se o agressor fizer com que a vítima morra, a pena será de prisão perpétua.

É importante ressaltar a existência na legislação italiana dos institutos da dissociação, arrependimento e da colaboração, uma vez que o reconhecimento de tais institutos enseja a redução da pena ou extinção da punibilidade.

Ocorre a figura do arrependimento quando antes da sentença penal, o agente colabora com a dissolução da organização criminosa, evitando assim a realização de novos crimes. O dissociado corresponde ao agente que consegue diminuir as consequências e danos dos atentados ocorridos. Para tais agentes é concedido o benefício de redução da pena em até um terço, desde que não seja inferior a quinze anos, bem como a conversão da prisão perpétua em reclusão de quinze a vinte e cinco anos.

Por sua vez, os colaboradores correspondem aos indivíduos que auxiliem as autoridades na busca e colheita de provas crime, na descoberta de novos autores e ajudar na reconstituição do crime. Para os colaboradores há o benefício da redução da pena até a metade, sendo que nos casos de extrema importância tal redução pode chegar até um terço da pena, não sendo inferior a dez anos. Além disso, a prisão perpétua pode ser convertida em reclusão de 10 a 12 anos.

Segundo Guimarães (2007, p. 175), o Código Penal Francês regula a matéria do terrorismo detalhadamente no Livro IV, o qual trata dos crimes e delitos contra a Nação, Estado e a Paz Pública. Especificamente, a matérias está regulada no Título II, do Terrorismo, o qual é dividido em dois capítulos, em qual o primeiro estabelece quais são os atos de terrorismo, e o segundo disposições especiais.

Segundo o artigo 421-1, os atos terroristas correspondem a atividades individuais ou coletivas que tenham por objetivo alterar gravemente a ordem pública através da intimidação ou do terror. O mesmo artigo elenca diversas condutas dentre elas, crimes contra a vida ou integridade de pessoas, rapto ou sequestro de aeronaves, navios ou outros meios de transporte, crimes de roubo, extorsão, destruição, dano, crimes de informática, infrações de grupos

(31)

armados, e fabricação, depósito ou receptação de artefatos perigosos ou explosivos na forma da lei que trata da fabricação de armas de guerra.

Nesse sentido, quando tais condutas tiverem por objetivo alterar gravemente a ordem pública através da intimidação ou do terror, tratará de atentado terrorista.

O artigo 421-3 trata da majoração da pena das condutas elencadas no artigo 421-1 quando configuradas como atos de terrorismo, variando da pena dobrada quando a pena do crime comum for de até três anos, até a prisão perpétua quando o crime comum tiver por pena prevista trinta anos de reclusão.

O artigo 421-2 prevê o chamado terrorismo ecológico, que consiste na conduta onde um indivíduo, empresa ou grupo, visando alterar gravemente a ordem pública através da intimidação ou do terror, introduz na atmosfera, solo, subsolo ou águas, incluindo o mar territorial, substancia capaz de colocar em risco a saúde humana ou animal ou o meio ambiente.

A pena de tal conduta está prevista no artigo 421-4, sendo ela de vinte anos de prisão e multa de 350.000 euros, e de prisão perpétua e multa de 750.000 euros quando resultar na morte de uma ou várias pessoas.

Importante lembrar a existência no ordenamento francês do chamado período de segurança, o qual corresponde a um período em que o condenado não poderá receber alguns benefícios, como a suspensão ou fracionamento da pena, trabalho externo, a liberdade condicional ou a progressão de regime.

A regra geral é que o período de segurança corresponde à metade do tempo da pena imposta, ou dezoito anos quando se tratar de prisão perpétua. Entretanto, tal período poderá ser reduzido ou aumentado de acordo com decisão de Juiz ou Tribunal, em até dois terços da pena ou vinte e dois anos quando se tratar de prisão perpétua.

As disposições especiais do segundo capítulo tratam das hipóteses de penas acessórias ou redução de pena.

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O artigo 422-1 trata da situação onde o indivíduo que já tentou cometer um ato de terrorismo, informa a autoridade judicial ou administrativa ajudando a impedir a realização de novo crime e identificar outros criminosos. Em tal situação o indivíduo estará isento de punição.

Nos termos do artigo 422-2, haverá redução até a metade da pena ou em vinte anos no caso de prisão perpétua, quando o indivíduo repassa informações as autoridades judiciais ou administrativas podendo então evitar novos atentados ou cessar atividades terroristas. Em tais casos sempre será necessário a identificação de outros culpados.

Por sua vez, o artigo 422-3 prevê situações em que é possível a imposição de pena acessória, como a cassação de direitos civis, civis e familiares, a inabilitação para ocupar cargos públicos ou exercer atividade social ou profissional, e a pena de banimento. No caso de estrangeiros, poderá haver a proibição de residir em território francês por um período de até 10 anos, nos termos do artigo 422-4.

Já o artigo 422-5, trata da responsabilidade penal de pessoas jurídicas, tendo como penas a imposição de multa e das penas do artigo 131-39, dentre as quais é possível a dissolução da pessoa jurídica. Por fim, o artigo 422-7 dispõe que o produto das sanções financeiras impostas será utilizado para garantir recursos as vítimas de atos terroristas.

Quanto aos Estados Unidos, desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 o terrorismo é um dos assuntos que mais está em pauta na política do país. As posições adotadas pelos Estados Unidos em relação à matéria terrorista tiveram repercussões na Europa, endurecendo significativamente as suas leis.

Conforme Guimarães (2007, p.177) o capítulo 113B, da Parte I, que faz parte do Título 18 do United States Code – Code of Criminal Law & Criminal Procedure trás varias seções (artigos) que tratam do assunto.

A seção 2331 aborda as primeiras definições do tipo. Também trata de trazer uma definição de terrorismo internacional, o qual deve ser compreendido como os atos terroristas “que ocorram primariamente fora da jurisdição territorial dos Estados Unidos, ou que transcendam as fronteiras nacionais.” (GUIMARÃES, 2007, p. 177).

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A seção 2332.a, indica a pena imposta para aqueles que praticarem atos de terrorismo que transcendam fronteiras nacionais, atingindo qualquer pessoa sob o alcance da jurisdição dos Estados Unidos. No caso de resultar morte, a penalidade imposta será a prisão perpétua ou pena de morte; caso decorra sequestro, a punição será de prisão perpétua; caso decorra mutilação, pena não inferior a 35 anos de prisão.

Após os atentados de 11 de setembro de 2001, foi aprovado o chamado “USA PATRIOT ACT”, em 26 de outubro de 2001. Segundo verbete na Wikipédia (2014), “USA PATRIOT ACT” é um acrônimo de "Uniting and Strengthening America by Providing

Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism Act of 2001", uma tradução

para tal acrônimo é de “Ato de Unir e Fortalecer a América Providenciando Ferramentas Apropriadas e Necessárias para Interceptar e Obstruir o Terrorismo”.

Segundo Vervaele (2007, p. 4), trata-se de uma lei que confere poderes aos sistemas de inteligência e estruturas operativas de controle, permitindo a vigilância de suspeitos de envolvimento com grupos terroristas, investigar documentos privados de instituições e pessoas, interceptações telefônicas e de e-mails de pessoas supostamente envolvidas com o terrorismo. Todas as situações sem a necessidade de autorização da Justiça.

Segundo o mesmo autor, a Patriot Act, possui mais de 350 páginas e dez títulos que alteram 15 leis federais, sendo um documento de enorme complexidade. A principal crítica realizada pelos juristas ao documento, é que este representa uma violação aos valores fundamentais em torno dos direitos individuais, como a privacidade, a inviolabilidade de correspondências e a quebra do sigilo bancário.

Observa-se que a legislação analisada tem em comum o fato de ser decorrente das consequências de atentados terroristas, ou seja, os episódios terroristas ocorridos em tais países que definem a experiência destes com o terrorismo têm como papel nortear a legislação que será utilizada para o combate da conduta. Dessa forma, tem-se que tais instrumentos possuem aplicabilidade tão somente nos respectivos territórios, não servindo na sua integralidade a problemática internacional.

(34)

Para se analisar o tratamento jurídico-penal do terrorismo no Brasil, deve-se levar em consideração que é um país que não tem sofrido atentados terroristas com frequência, e os parcos atentados ocorridos não se caracterizam como de grande monta. Para Guimarães (2010, p. 26) o terrorismo baseado em organizações criminosas é o que mais se afigura no país.

Assim, em decorrência dessa falsa tranquilidade, a legislação brasileira que regula o tratamento ao terrorismo está desatualizada, tanto que sequer há penalidades previstas para quem cometer um crime desta natureza.

2.2.1 Breve histórico da evolução legislativa no Brasil

O tratamento adotado pelo Brasil em relação ao delito de terrorismo, antes da promulgação da atual Constituição, se enquadra nos crimes contra a Segurança Nacional. Pode-se afirmar que as primeiras legislações que regulam crimes contra a ordem foram criadas a partir de 1920, em especial o decreto 4.269 de 1921 e a lei 38 de 1935, os quais regulavam a repressão ao anarquismo e crimes contra a ordem política e social.

Com a instalação do regime militar no Brasil em 1964 foram criados diversos decretos-leis que visavam punir os crimes contra a ordem social e política e a segurança nacional.

No Decreto-Lei nº 314/67, alterado pelo Decreto-Lei nº 510/69, houve a primeira menção a expressão terrorismo, mesmo sem a definição do que o seja. Conforme o artigo 25,

Art. 25. Praticar devastação, saque, assalto, roubo, seqüestro, incêndio ou depredação; ato de sabotagem ou terrorismo, inclusive contra estabelecimento de crédito ou financiamento, massacre, atentado pessoal; impedir ou dificultar o funcionamento de serviços essenciais, administrados pelo Estado, ou mediante concessão ou autorização.

Pena: Reclusão, de 2 a 6 anos.

Ainda em 1969, sob a vigência do Ato Institucional nº 5, contrariando a constituinte de 1967 que proibia a pena de morte e a prisão perpétua, foi editado o Decreto-Lei 898/69. O artigo 28 do referido decreto penalizava as seguintes condutas: “devastar, saquear, assaltar, roubar, sequestrar, incendiar, depredar ou praticar atentado pessoal, ato de massacre,

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sabotagem ou terrorismo”. Para tais condutas, a pena imposta era de reclusão de doze a trinta anos. Segundo o parágrafo único do mesmo artigo, caso a prática do ato resultasse em morte, a pena prevista era de prisão perpétua em grau mínimo e pena de morte em grau máximo.

Importante observar que o decreto nº 898/69 somente foi revogado com a Lei de Segurança Nacional, Lei nº 6.620/78, a qual está revogada pela atual Lei de Segurança Nacional, Lei nº 7.170/83.

A Lei nº 6.620/78 em seu artigo 26 disciplinava o conteúdo nos moldes do artigo 28 do Decreto-Lei 898/69, apenas reduzindo a pena para reclusão de 2 a 12 anos, e se resultasse morte ou lesão grave para reclusão de 8 a 30 anos.

Além do referido artigo, a antiga Lei de Segurança Nacional em seu artigo 43 regulava a possibilidade de importar, fabricar, ter em depósito, comprar, vender, doar ou ceder, transportar armas de fogo ou qualquer instrumento de destruição ou terror sem permissão de autoridade competente. Para tais condutas a pena imposta era de reclusão de 1 a 6 anos.

A atual Lei de Segurança Nacional, Lei nº 7.170/83 é o diploma em vigor que trata do delito de terrorismo, a qual será objeto de análise em um ponto específico, no entanto, o artigo 20 da referida lei dispõe o seguinte:

Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.

Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.

Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo. (grifos nossos)

Embora em plena vigência tal previsão legislativa, denota-se que nem mesmo a Lei de Segurança Nacional dá conta de esclarecer o que sejam atos de terrorismo enquanto delito no Brasil, fazendo apenas vaga menção a atos de terrorismo.

Evidentemente, além dos diplomas mencionados, há outros instrumentos normativos que fazem referência ao terrorismo, inclusive na Constituição Federal de 1988, a Lei nº 8.072/90, Lei dos Crimes Hediondos, e a Lei nº 10.744/03, como se verá a seguir.

(36)

2.2.2 O atual tratamento jurídico-penal do Terrorismo no Brasil

A Constituição Federal expressa a vontade do Poder Constituinte, a qual em um Estado Democrático de Direito corresponde à vontade popular. A previsão de direitos fundamentais e de garantias na Constituição traduzem os bens jurídicos de maior importância em um ordenamento, os quais merecem uma maior atenção e proteção.

Dessa forma, a previsão de uma prática delituosa no texto constitucional evidencia o repúdio a tal conduta, bem como a prática do referido crime corresponde a uma das maiores ofensas aos direitos e garantias fundamentais dentro do ordenamento.

Apesar de não ter um sentido preciso no texto constitucional, o terrorismo é mencionado de forma expressa duas vezes na Constituição, restando por evidente que tal conduta fere os bens jurídicos de maior importância no ordenamento jurídico brasileiro.

A primeira menção ao terrorismo na Constituição Federal está no artigo 4º, o qual trata dos princípios que devem ser observados pelo Brasil nas relações internacionais:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...]

VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo (grifo nosso)

A segunda referência ao terrorismo está no inciso XLIII do artigo 5º, o qual define que o terrorismo deve ser equiparado a crimes hediondos, ou seja, sendo inafiançável e insuscetível de graça ou anistia.

XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; (grifo nosso)

As duas menções do terrorismo na Constituição Federal, embora rápidas, estabelecem os parâmetros com os quais a legislação infraconstitucional deverá tratar a prática do terrorismo elevando esta conduta ao uma posição de destaque no tratamento que o combate ao terrorismo deve ter no ordenamento jurídico.

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Apesar da atenção dada pelo legislador constitucional ao terrorismo, tal conduta não constitui um tipo específico na legislação penal brasileira. Entende parte da doutrina que no Brasil ninguém pode ser processado ou condenado pela prática de terrorismo, visto que não há nenhuma lei que defina o tipo penal.

Em observância, portanto, ao princípio penal da legalidade, face à ausência da tipificação desta conduta, a qual descreva de forma clara as elementares do tipo a caracterizar o delito do terrorismo, não se poderia cogitar, em tese, de uma ação penal visando punir tal prática.

No entanto, a Lei nº 8.072/90 trata dos crimes de maior repúdio no sistema jurídico, ou seja, aqueles que violam os bens jurídicos compreendidos como os mais valiosos dentro do ordenamento. Dessa forma, a Lei dos Crimes Hediondos tem por objetivo elevar penas, impedir benefícios e determinar um tratamento mais severo a determinadas condutas.

Dadas as devidas considerações sobre a lei, observa-se que o terrorismo não é previsto como um crime hediondo, visto que não consta no rol do artigo 1º. Assim dispões tal artigo:

Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:

I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V);

II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);

III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);

IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);

V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);

VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o); VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).

VII-A – (VETADO)

VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).

VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).

Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado.

Ocorre que o terrorismo é equiparado a um crime hediondo. O artigo 2º da lei dispõe acerca do tratamento necessário aos crimes hediondos no que tange as normas de execução penal e processual, as quais passam a receber um maior rigor penal e processual. Ao lado dos

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