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Signwriting: avanços, limitações e desafios desta proposta na educação de surdos

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

GLEICA DA SILVEIRA ROSA

SIGNWRITING: AVANÇOS, LIMITAÇÕES E DESAFIOS DESTA PROPOSTA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS

Santa Rosa 2014

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL.

GLEICA DA SILVEIRA ROSA

SIGNWRITING: AVANÇOS, LIMITAÇÕES E DESAFIOS DESTA PROPOSTA NA EDUCAÇÃO DE SURDOS.

Monografia apresentada para obtenção do título de graduada em Pedagogia na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientadora: Ms. Daniela Medeiros

Santa Rosa 2014

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Nem todas as línguas são faladas, nem todos os sistemas de escrita mapeiam a fala: Quando a língua de sinais é escrita por meio de sistemas como SignWriting, semeingrafemas mapeiam quiremas e propriedades de mão[...]. Tal mapeamento permite codificar, armazenar, processar, recuperar, decodificar, compreender, e expressar informação; e é uma ferramenta poderosa para desenvolver o pensamento formal. (CAPOVILLA, 201, p.77)

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Agradeço a Deus e a meu querido Espírito Santo pela sabedoria e entendimento durante esta escrita.

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Dedico este trabalho a minha família e a todos os mestres que tive nesta caminhada, pois, com certeza, foram eles que contribuíram para que isso se tornasse realidade.

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RESUMO

O presente trabalho procura pesquisar de forma qualitativa a escrita da língua de sinais através do sistema SignWriting buscando compreender quais são os avanços, limitações e desafios desta nova proposta. Procura-se pesquisar com o objetivo de sanar a seguinte dúvida: De que forma o SignWriting tem interferido no processo educacional dos surdos? Partindo do objetivo central que visa compreender a importância desse conhecimento para o aluno surdo e as limitações que este encontra no processo de aprendizagem desta nova escrita, me movimento em saber o que é o sistema SignWriting, onde surgiu e onde está sendo trabalhado hoje. Pesquisar sobre a importância do SignWriting na educação de surdos, para compreender de que maneira este sistema de escrita auxilia (ou não) na compreensão de conceitos no processo de ensino/aprendizagem. Assim, foi pesquisada uma escola especial que trabalha com o SignWriting e, uma surda que estudou em escola especial sem o auxílio do mesmo, para analisar ambas. Ao final conclui-se que de fato este sistema de escrita auxilia no processo de ensino/aprendizagem do aluno surdo.

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RESUMEN

En este trabajo se trata de encontrar cualitativamente la escritura de la lengua de signos a través del sistema de SignWriting tratando de entender cuáles son los avances, las limitaciones y los retos de esta nueva propuesta. Buscando la búsqueda con el fin de poner remedio a las siguientes preguntas: ¿Cómo SignWriting ha interferido en el proceso educativo de las personas sordas? Dejando el objetivo central que tiene como objetivo comprender la importancia de este conocimiento para el estudiante sordo y las limitaciones que esto se encuentra en el proceso de aprendizaje de esta nueva escritura, trasladarnos a saber lo que es el sistema de señalización, los que surgió y donde se está trabajando en la actualidad. Buscar en la importancia de SignWriting en la educación sorda, para entender cómo este sistema de escritura ayuda (o no) en la comprensión de los conceptos en el proceso de enseñanza / aprendizaje. Así se proyectó una escuela especial de trabajo con SignWriting y un sordo que fue a la escuela especial y sin la ayuda de la misma, para analizar tanto. Al final se concluye que, de hecho, este sistema de escritura ayuda en el proceso de enseñanza / aprendizaje de los alumnos sordos.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

OS MOTIVOS E CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA 13

1. O SUJEITO SURDO E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM 16

2. SIGNWRITING: O QUE É? 21

3. INFLUÊNCIAS DO SIGNWRITING NA EDUCAÇÃO DE SURDOS 24

4. UM OLHAR PARA OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM 27

4.1 VISITA A UMA ESCOLA ESPECIAL 27

4.2 CONVERSA COM UMA MENINA SURDA 35

CONSIDERAÇÕES FINAIS 38

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9 LISTA DE IMAGENS Imagem 1...14 Imagem 2...22 Imagem 3...24 Imagem 4... 28 Imagem 5... 28 Imagem 6... 29 Imagem 7... 30 Imagem 8... 30 Imagem 9... 31 Imagem 10... 31 Imagem 11... 32 Imagem 12... 32 Imagem 13... 33 Imagem 14... 34 Imagem 15... 35 Imagem 16... 36 Imagem 17...37

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INTRODUÇÃO

O ser humano utiliza da linguagem para a comunicação e esta se caracteriza pela nacionalidade dos indivíduos. O sujeito surdo também se constitui pela linguagem e possui sua própria língua, de acordo com o país em que este mora, aqui no Brasil é utilizada a Libras (língua brasileira de sinais).

Um dos grandes desafios enfrentados pelos surdos é quando se trata da escrita, pois sabemos que é necessário que este aprenda a Língua Portuguesa escrita, pois está em uma sociedade onde precisara deste conhecimento para se inserir, relacionar-se e ler tudo o que o rodeia. Entretanto, para compreender e interpretar um texto, os surdos (em sua maioria) têm dificuldades, afinal não se trata de sua língua materna e sim de uma segunda língua. Para isso se iniciou um sistema de escrita da língua de sinais, o chamado SignWriting.

Neste cenário, vale questionar: De que forma o SignWriting tem interferido no processo educacional dos surdos? O problema lançado articula-se a um objetivo maior que busca visualizar como e onde surgiu esta forma de escrita, assim como também seus avanços e limitações. Junto a isso, são lançados alguns objetivos específicos, são eles: compreender os avanços, desafios e limitações do uso deste sistema de escrita na educação de surdos, pesquisar sobre a importância do SignWriting na educação de surdos, para compreender como esta escrita auxilia na compreensão de conceitos no processo de ensino/aprendizagem e problematizar o significado deste conhecimento para o aluno e as limitações que ele encontra na aquisição da leitura e escrita durante o processo de aprendizagem.

O que se apresenta é uma pesquisa realizada em uma escola de surdos que utiliza este sistema de escrita e, de forma paralela, uma conversa/entrevista com uma surda que não teve contato nenhum com a escrita de sinais. Desta forma busca-se compreender qual influência o SignWriting tem neste processo de ensino/aprendizagem levando em

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Sabendo que uma pesquisa se caracteriza por um conjunto de atividades orientadas e planejadas em busca de um conhecimento, utilizou-se de uma pesquisa qualitativa realizada através de conversas informais e uma visita a Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser, localizada no município de Santa Maria/RS. Através destas observações reuniram-se informações a respeito do tema, fazendo um comparativo de duas realidades distintas para pensar-se no objeto de estudo abordado.

A reflexão acerca do tema está dividida em quatro capítulos que se iniciam após alguns apontamentos acerca da justificativa e perspectiva metodológica da pesquisa. Inicia-se partindo da caracterização do sujeito surdo e a aquisição da linguagem.

O primeiro capítulo traz dados importantes sobre o que é a surdez, quem é considerado surdo, a diferença da deficiência auditiva e da surdez e sobre a língua utilizada como língua materna (L1), que é a libras. A respeito disso, Stumpf (2003, p.67), surda, doutora e professora da Universidade Federal de Santa Catarina, escreve: “Durante todos os séculos da civilização ocidental, uma escrita própria fez falta para os surdos, sempre dependentes de escrever e ler em outra língua, que não podem compreender bem, vivendo com isso uma grande limitação.” A comunidade surda também é abordada neste capítulo, da mesma forma que a cultura surda, que faz parte da individualidade do sujeito surdo na sua aquisição linguística.

O segundo capítulo nos situa a respeito do que é de fato o SingWriting, onde surgiu e de que forma expandiu chegando ao nosso país. Assim, juntamente com este histórico traz os grandes desafios enfrentados pela comunidade surda no decorrer da história.

Em sequência, no terceiro capítulo, o texto traz as influências do SignWriting na educação de surdos. Considera-se que a bagagem cultural de qualquer ser humano é extensa e caracterizada por seus costumes, ritos e língua, porém, para o surdo, é como se falasse em uma língua e escrevesse em outra, afinal sua língua materna (L1) é a língua de sinais e a Língua Portuguesa (L2) é a utilizada para a escrita. O SignWriting vem como um auxiliador neste processo onde o aluno, por sua vez, pode escrever sua própria língua compreendendo melhor e podendo interpretar o que se escreveu.

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Para finalizar esta pesquisa e problematização, o último capítulo e não menos importante traça um olhar sobre o processo de aprendizagem de alunos que tiveram acesso a este sistema de escrita como um auxiliador e aos alunos que percorreram este mesmo processo apenas utilizando de sua língua materna para a comunicação e apropriando-se da L2 para a escrita. Neste comparativo destacam-se as principais limitações e desafios enfrentados por esses sujeitos durante o processo, levando em conta as falas dos sujeitos que ensinam e os que aprendem para uma reflexão final.

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OS MOTIVOS E CAMINHOS PERCORRIDOS NA PESQUISA

A pesquisa a ser feita sobre o SignWriting tem sua importância em conhecer sobre esta escrita e perceber sua influência no processo de ensino/aprendizagem do aluno surdo. Junto a isso, compreender como essa escrita se originou, como se introduziu no Brasil, hoje quais são os avanços alcançados até aqui e o que ainda precisa ser repensado e ampliado. Esta pesquisa é do tipo qualitativa e traz a fala de alguns colaboradores que foram colhidas através de entrevista/conversas durante o processo de pesquisa.

Parte-se do pressuposto que os sujeitos surdos possuem qualidades, peculiaridades e linguagem própria, a qual não é levada em consideração quando se trata da escrita dos símbolos utilizados na comunicação entre estas pessoas. Com isto elas são “forçadas” a se adaptarem a uma linguagem que não é natural, e que possuem muitas dificuldades de entender e utilizar. A apropriação da escrita da Língua Portuguesa é de grande valia para se comunicarem com os demais sujeitos ouvintes da sociedade, mas uma escrita própria da comunidade surda propicia a constituição de sua identidade.

Neste sentido, o SignWriting vem a somar para o sujeito surdo que tem sua língua materna em forma escrita. Entretanto, a aceitação desta no Brasil foi/é limitada, pois são poucas as escolas que aderiram/aderem a esta possibilidade na educação de surdos. Num todo, esta proposta foi pouco difundida até mesmo em materiais e publicações que ainda carecem sobre o assunto.

Refletindo no que foi dito anteriormente a proposta busca fazer uma pesquisa em escola de surdos que trabalha com este sistema de escrita e com uma surda que não teve este aprendizado durante o período de escolarização. Procura-se, assim, verificar qual influência de fato o SignWriting tem neste processo de ensino/aprendizagem. No decorrer do texto será apresentada uma pesquisa feita a partir de entrevistas, conversas e leituras, às quais trazem informações sobre como o tema tem influenciado no processo de ensino/aprendizagem e quais são as carências que existem para quem não teve este suporte. As entrevistas foram feitas em uma escola especial que trabalha com o sistema e com uma surda que se alfabetizou em escola de surdos, mas sem ao menos conhecer o SignWriting.

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A escola visitada foi escolhida entre duas que trabalham com o sistema no Rio Grande do Sul, que é em Porto Alegre e outra em Santa Maria. A visitada foi à segunda, por ser mais próximo da cidade local.

Imagem 1 - Blog da escola – apresenta a filosofia bilíngue como perspectiva de ensino/aprendizagem (compatível com o Decreto nº 5.626/05)

Fonte: http://escreinaldocoser.blogspot.com.br/

Durante a visita na Escola Estadual de Educação Especial Doutor Reinaldo Fernando Cóser fui muito bem recebida pela vice-diretora que estava representando o diretor (o diretor da escola é um surdo) que naquele dia não se fez presente. Conversamos de forma informal através de uma pequena entrevista com perguntas afins, esta aconteceu com três professores surdos juntamente com a secretária da escola que se fez nossa intérprete. Assim Szymanski afirma que:

[...] a entrevista face a face é fundamentalmente uma situação de interação humana, em que estão em jogo às percepções do outro e de si, expectativas, sentimentos, preconceitos e interpretações para os protagonistas: entrevistador e entrevistado. Quem entrevista tem informações e procura outras, assim como aquele que é entrevistado também processa um conjunto de conhecimentos e pré-conceitos sobre o entrevistador, organizando suas respostas para aquela situação. (SZYMANSKI, 2004, p.12)

Com o consentimento da escola pude registrar em fotos vários lugares onde se encontra a escrita do SignWriting e tive acesso a algumas produções dos alunos que são mostradas no decorrer do texto. Para fazer um comparativo

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conversei com uma menina surda que estudou em uma escola especial (para surdos) em outra cidade do Estado do Rio Grande do Sul, mas alfabetizou-se sem nenhum contato com o SignWriting. Desta forma, analiso qual a importância deste sistema como um auxiliador neste processo de aprendizagem.

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1 O SUJEITO SURDO E A AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM1

Para iniciarmos este capítulo que tem por título “O sujeito surdo e a aquisição da linguagem” é preciso caracterizar este sujeito, quem é como está inserido na sociedade, o que é a surdez e suas possibilidades e limitações. Segundo o IBGE, no senso de 2.000 havia 2% da população brasileira com deficiência auditiva e surdez, já em 2.010 esta porcentagem sobe para 5%, um crescimento significativo. Junto a estes dados, temos a definição da deficiência auditiva na Lei nº 5.296/04, “perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, comprovada por audiograma nas frequências de 500 hertz, 1.000 hertz e 2.000 hertz.”

Além destas informações mais “técnicas/clínicas”, precisamos também compreender que uma deficiência auditiva é quando o sujeito se comunica pela fala oral e apresenta uma perda auditiva de grau leve ou moderado. Nos casos de surdez, de forma diferente, o sujeito tende a se comunicar por meio da Língua de Sinais, já que as próteses auditivas não realizam a correção necessária para uma comunicação oral eficaz. No Brasil, esta língua de sinais se chama Libras (Língua Brasileira de Sinais), e é utilizada por aqueles que apresentam uma perda auditiva de grau severo ou profundo2. Segundo Honozza e Frizango (2008, p.41), “a audição é fundamental para a aquisição da linguagem falada e sua deficiência pode ocasionar muita dificuldade nas relações sociais, psicológicas e na interação.”

No geral, a comunidade surda não aceita os termos deficiente auditivo e surdo-mudo. Quanto ao termo “deficiente auditivo” é um termo médico, ou seja, clínico. O termo surdo-mudo é incorreto, pois a maioria, não tem problemas com a fala em si, podendo ser oralizado, ainda que a língua materna seja a Libras. Esses termos constituem a história dos surdos carregada de preconceitos, que os fizeram sofrer muito e vivenciar/experimentar formas de comunicação impostas pelos ouvintes.

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Língua: Sistema de sinais apropriados a uma notação; Linguagem: Agregado de palavras e métodos usados por uma nação, povo ou raça; idioma, língua, dialeto.

2

Isso não é uma regra, visto os diferentes posicionamentos dos surdos. Temos alguns que não se aceitam enquanto surdos e também não usam ou desejam a língua de sinais.

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Hoje estes sujeitos têm por sua língua materna (L1) a língua de sinais. Mas, este direito foi reconhecido no Brasil por lei apenas no ano de 2002 quando a primeira lei que viabiliza/reconhece o uso da língua brasileira de sinais como língua materna dos surdos foi assinada pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso (Lei nº 10.436/02).

Antes deste reconhecimento, os surdos sofreram muitas perseguições e mudanças na sua forma de se comunicar. Um bom exemplo ocorreu em1880, quando aconteceu o Congresso Mundial de Professores de Surdos em Milão, na Itália, no qual foi discutido o melhor método para a educação dos surdos. Nesse Congresso, o método oral puro foi escolhido como o mais adequado sendo proibida a utilização da língua de sinais. Tal opressão durou por aproximadamente um século, trazendo uma série de consequências sociais e educacionais negativas, até que a comunidade surda conquistasse o direito a sua língua materna, sendo esta a Libras.

Junto ao reconhecimento e respeito à língua de sinais, vale considerar que este sujeito está inserido e constitui-se na comunidade surda, na qual possui sua cultura, onde se encontram particularidades de seus semelhantes. As comunidades surdas estão espalhadas por todo o país trazendo particularidades de seus costumes e hábitos próprios da cultura de cada estado, esses fatores interferem também nas variações linguísticas da língua (regionalismos). Essas se caracterizam por um determinado grupo onde se reúnem trocando ideias, promovendo encontros, eventos e convivendo em comunidade. É um grupo social que partilham dos mesmos objetivos e metas com responsabilidades sociais comuns entre os membros.

De um modo geral, a cultura representa um conjunto de conhecimentos, línguas, crenças, arte, moral, leis, costumes, capacidades e hábitos que faz parte de uma sociedade e é repassado aos seus membros. Strobel (2008, p.24)

define que a cultura surda é o jeito de o sujeito surdo entender o mundo e modificá-lo, para que tenha acesso e possa interagir mediante as percepções visuais, o que compreende a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do povo surdo, caracterizando assim a identidade surda.

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A cultura, em qualquer comunidade ou grupo de pessoas, traz consigo sua identidade, sua cara para a comunidade surda e muito mais, pois as crenças e vivências, na maioria das vezes, não são trazidas de pais para filhos pelo fato de que muitos surdos, e pode se afirmar que em sua maioria, são filhos de pais ouvintes. Sendo assim, o sujeito surdo para adquirir sua língua, hábitos e crenças, ou seja, uma cultura visual, precisa estar inserido numa comunidade surda.

Partindo do pressuposto de que a principal característica de uma comunidade por menor que seja é a língua, pois nela percebemos gírias, sotaques e demais particularidades deste grupo de pessoas, o mesmo ocorre com a comunidade surda. Sua língua faz parte desta identidade e cultura, nas comunidades surdas os sujeitos surdos podem partilhar seus costumes, objetivos, metas e também temores, são sujeitos com particularidades semelhantes e que lutam pela mesma causa. Stumpf diz que “a língua é a face mais visível de uma cultura. A língua de sinais é parte da cultura surda [...]” (2005, p.144).

A língua própria do surdo é a Libras, e ao contrário do que muitos crêem, os surdos apenas não ouvem e isso não é sinônimo de que não falam. Refletindo sobre esta língua, de que modo esta é adquirida? De que maneira ocorre esta construção?

Compreender o processo de aquisição da linguagem pelo sujeito surdo nos permite desmistificar alguns “mitos” e ressignificar algumas compreensões acerca do seu desenvolvimento. Além disso, o contexto e período da vida em que esta aquisição acontece interferem diretamente no seu processo de elaboração das aprendizagens. A participação e envolvimento na comunidade surda surgem como pontos essenciais para o seguimento deste processo de aquisição, uma maior compreensão acerca de si mesmo, da sua língua e da elaboração do pensamento.

A língua falada é conhecida por possuir uma característica oral e auditiva, no entanto a língua de sinais tem a característica de ser espaço-visual, desta forma a criança surda percebe o mundo de forma concreta e visual. Assim começam as apropriações de linguagem pelo sujeito surdo.

Para compreender melhor este processo de aquisição de linguagem na criança precisamos nos atentar a alguns estágios que a criança surda passa

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neste período. São eles: Período pré- linguístico, estágio de um sinal e estágio das primeiras combinações. (QUADROS, 1997)

De acordo com o livro “Educação de surdos – Aquisição da linguagem”, Quadros (1997) diz que no período pré-linguístico, estudos constataram que a criança surda desde o nascimento até seus 14 meses manifesta-se através de balbucios, como uma criança ouvinte, porém estes não são apenas por sons, mas também por sinais. O estágio de um sinal se caracteriza dos 12 meses até os dois anos. O estágio das primeiras combinações inicia-se aos dois anos nas crianças surdas, onde as crianças iniciam alguns gestos que são úteis ao seu cotidiano para solicitar algo. Desta forma a criança surda vai se apropriando de sua L1 que é a língua de sinais. (QUADROS, 1997)

Entretanto, temos uma outra realidade, que é a de crianças surdas com pais ouvintes. A família, sendo o principal meio de socialização da criança com o meio, é na família que ocorrem as construções de normas, valores sociais e estrutura institucional. Isso se dá através da linguagem e se esta não é a mesma entre pais e filhos ocorre um impasse entre os sujeitos desta família e a aquisição da linguagem sofrerá modificações.

Desta forma, é necessário que a família compreenda a importância da aquisição da língua de sinais como um todo na família, não apenas pela criança, para que esta se desenvolva. Segundo Silva e Bastos (2013, p.26), “a falta de uma língua acarreta sérias dificuldades de convivência e nos surdos isso é muito frequente devido à demora de exposição de uma língua, ocasionada pelo tardio diagnóstico da surdez, que prejudica o seu desenvolvimento cognitivo e afetivo.”

Para uma criança surda não basta a aquisição de sua língua materna, precisa acontecer a aquisição da L2 na modalidade escrita, que no caso do Brasil é a Língua Portuguesa. Neste processo, existem basicamente três possibilidades/alternativas: a aquisição simultânea L1 e L2, aquisição espontânea da L2 não simultânea e a aprendizagem da L2 de forma sistemática.

Entendemos que no atual contexto, os sujeitos surdos têm sido submetidos às três possibilidades apresentadas. No entanto, faz-se válido refletir sobre os “benefícios” e/ou consequências de cada uma delas. Nas

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entrevistas e conversas realizadas percebe-se a construção desta aquisição tanto na L1 quanto da L2.

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2 SIGNWRITING: O QUE É?

Como já foi dito no capítulo anterior, os surdos sofreram várias perseguições, sendo proibidos de falarem em sua língua materna. Eram castigados se tentassem se expressar por ela sendo que suas mãos eram amarradas para que não desobedecessem.

Os sinais eram vistos como um “código secreto”, pois eram usados escondido, tendo em vista a proibição alcançada com o Congresso de Milão (a qual perdurou por quase um século). Depois de muito lutarem por seus direitos, a língua de sinais é reconhecida, com a Lei nº 10.436/2002 que diz:

Art. 1º É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão a ela associados.

Parágrafo único. Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de comunicação e expressão, em que o sistema lingüístico de natureza visual-motora, com estrutura gramatical própria, constituem um sistema lingüístico de transmissão de idéias e fatos, oriundos de comunidades de pessoas surdas do Brasil. (BRASIL, 2002).

Em nosso país a língua materna da comunidade surda é a Libras (Língua Brasileira de Sinais). Esta, por sua vez, como qualquer outra língua é composta por níveis linguísticos, como: fonológico (pronúncia), morfológico (palavras) e sintático (sentenças) e estão ligadas aos fatores sociais de idade, gênero, raça, educação e situação geográfica. As pessoas que usam a língua de sinais podem expressar sentimentos, emoções e falar sobre qualquer assunto por mais abstrato que seja.

A Libras não é uma língua ágrafa (não possui grafia), mas não têm um sistema de escrita largamente adotado e reconhecido oficialmente, embora existam algumas propostas, como o SignWriting, que já está sendo usado em algumas escolas e possui publicações a respeito dessa modalidade de escrita. É baseando-se nesta nova proposta que inicio minha pesquisa acerca da escrita dos sinais no processo educacional do sujeito surdo.

O SignWriting é um sistema de escrita da língua de sinais. Através dele pode-se expressar os movimentos, as formas das mãos, as marcas não-manuais e os pontos de articulação. O conjunto de símbolos utilizado pelo

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sistema é internacional, podendo traduzir qualquer tipo de língua de sinais. Não se trata de desenhos, mas de uma língua escrita com símbolos, que, por sua vez, pode ser usada/escrita através de programas de computadores.

Imagem 2 - Página da internet na qual pode-se baixar o programa para escrita do SignWriting, além de outros materiais e jogos para este aprendizado.

Fonte: http://www.signwriting.org/downloads/

O SignWriting foi criado por Valerie Sutton, em 1974. Valerie criou um sistema para escrever danças e despertou a curiosidade de pesquisadores da língua de sinais dinamarquesa. Assim, a década de 70 caracterizou um período de transição de Dancewriting para SignWriting, isto é, da escrita de danças para a escrita de sinais das línguas de sinais.

Em 1996, a PUC de Porto Alegre no Rio Grande do Sul, através do Dr. Antonio Carlos da Rocha Costa, iniciou seus estudos acerca do SignWriting no Brasil. Foi formado um grupo pelo Dr. Rocha, a Prof. Marianne Stumpf e a Prof. Marcia Borba, os quais têm trabalhado num projeto de alfabetização de alunos surdos com o sistema SignWriting.

Esta escrita tem sido ensinada a crianças e adolescentes brasileiros em projetos associados às escolas possuindo muitos resultados positivos. Os Estados que já possuem escolas com estes projetos são Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Ceará. Para Stumpf, “a escrita de sinais pode proporcionar

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um decisivo aporte em relação a um currículo realmente diferenciado para os surdos que atenda a suas reais necessidades e possibilidades.” ( 2004, p.158)

Como recurso tecnológico a comunidade surda possui o sign writer, um programa de computador gratuito que auxilia na escrita em SignWriting. Aos poucos este sistema de escrita tem ganhado seu espaço como em algumas literaturas que já foram lançadas em SignWriting, como a Cinderela surda e a Rapunzel surda (ambas escritas por uma surda).

Nos cursos de Letras-Libras de algumas universidades, como a Universidade Federal de Santa Catarina, Universidade Federal de Santa Maria e a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, utiliza-se o SignWriting na apresentação do curso na página virtual, em alguns de seus componentes curriculares e também nos espaços físicos destas instituições (para identificar espaços e salas). Assim, mesmo sendo um processo lento, este sistema de escrita tem conquistado seu espaço e respeito, mas precisa ser valorizado/compreendido, principalmente entre as escolas que possuem estes sujeitos inseridos.3

Imagem 3 - Página do curso de Letras Libras da Universidade Federal de Santa Catarina, com escrita em SignWriting

Fonte: http://letraslibras.grad.ufsc.br/

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3 INFLUÊNCIAS DO SIGNWRITING NA EDUCAÇÃO DE SURDOS

Os sujeitos surdos possuem uma bagagem cultural com qualidades, especificidades e língua própria, a qual não é levada em consideração quando se trata da escrita dos símbolos utilizados na comunicação entre estas pessoas. Com isto, elas são “forçadas” a se adaptarem a uma língua que não é natural, e que, em sua maioria, possuem muitas dificuldades de entender e utilizar.

A apropriação da escrita da Língua Portuguesa é de grande valia para se comunicarem com os demais sujeitos ouvintes da sociedade, mas uma escrita própria da comunidade surda propicia a constituição de sua identidade. Segundo a o Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005:

Art. 22. As instituições federais de ensino responsáveis pela educação básica devem garantir a inclusão de alunos surdos ou com deficiência auditiva, por meio da organização de: I - escolas e classes de educação bilíngüe, abertas a alunos surdos e ouvintes, com professores bilíngües, na educação infantil e nos anos iniciais do ensino fundamental; II - escolas bilíngües ou escolas comuns da rede regular de ensino, abertas a alunos surdos e ouvintes, para os anos finais do ensino fundamental, ensino médio ou educação profissional, com docentes das diferentes áreas do conhecimento, cientes da singularidade lingüística dos alunos surdos, bem como com a presença de tradutores e intérpretes de Libras - Língua Portuguesa. § 1ºSão denominadas escolas ou classes de educação bilíngüe aquelas em que a Libras e a modalidade escrita da Língua Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas no desenvolvimento de todo o processo educativo. (BRASIL, 2005)

Apesar das considerações trazidas no referido Decreto, a metodologia usada, na maioria das vezes, é própria da comunidade ouvinte e a estrutura linguística dos materiais lidos para estudo é própria de sua segunda língua. Além disso, muitos profissionais tendem a não respeitar a escrita dos surdos, que se dá baseada na língua de sinais. Deste modo, muitos criam limitadores, barreiras e receios quanto ao processo de leitura e escrita em língua portuguesa.

No processo de ensino/aprendizagem de um sujeito ouvinte este deve ir se apropriando da língua oral e escrita no período de alfabetização, e como educadores percebemos como é dificultoso este processo sabendo que cada

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indivíduo é único e tem o seu determinado tempo de aprendizagem. Isso se dá mesmo que seja necessária apenas a apropriação de uma única língua.

Pensando nesse mesmo processo, o de alfabetização, mas de um sujeito surdo, as dificuldades aumentam não pela surdez, mas pela apropriação da língua viso-espacial e escrita. A viso-espacial ocorre em uma língua, a materna, e a escrita em outra totalmente distinta da anterior, sendo no Brasil a língua portuguesa. Assim, dizemos de duas línguas com modalidades distintas e um sujeito que pensa e constitui-se em língua de sinais, mas escreve em língua portuguesa.

Neste sentido, o SignWriting vem somar para o sujeito surdo que tem sua língua materna em forma escrita. Entretanto, a aceitação desta no Brasil ainda é limitada, pois são poucas as escolas que aderiram/aderem a esta possibilidade na educação de surdos. Num todo, esta proposta foi pouco difundida até mesmo em materiais e publicações ainda carecem sobre o assunto. Stumpf adverte:

As escolas de surdos precisam colocar rapidamente a escrita de sinais no currículo, pois suas aulas proporcionam oportunidades importantes para os surdos de aprender também língua de sinais brasileira. Exercitamos muito a aprendizagem de sinais quando procuramos pela melhor grafia de um sinal.

(2003, p. 65)

Sabemos que para que haja um melhor aproveitamento do conhecimento a leitura e a escrita precisam caminhar juntas. Desta forma, com este sistema, a comunidade surda possui um novo aliado neste processo. Busca-se compreender em um paralelo entre um aluno que possui este aprendizado no seu processo escolar e um que ainda não tem acesso: Como ocorre a construção dos conhecimentos? Como é o processo de ensino/ aprendizagem? Existem dificuldades em ambos? E quem não tem acesso, sabe que existe esta possibilidade de escrita? Esta pesquisa busca problematizar as dúvidas e questionamentos colocados em destaque na parte introdutória.

No livro “A invenção da Surdez”, no capítulo 9, Mariane Stumpf relata sobre uma pesquisa realizada em uma escola para surdos de Porto Alegre/RS.

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Esta pesquisa ocorreu como um projeto de utilização do SignWriting na segunda série.

Segundo os relatos de Stumpf, os alunos iniciaram desenhando a configuração de mão após uma história, o que já caracteriza a escrita dos sinais. Aos poucos, conforme vão tendo contato com o sistema, passam a escrever através dos desenhos do SignWriting as histórias contadas pela professora. Ainda segundo Stumpf, as frases: “não posso, não entendo” passam a ser substituídas por “entendi, consegui compreender, se eu estudar

vou aprender”. Segundo ela “A aquisição da escrita em sinais vai funcionar

como suporte para a aprendizagem do português escrito.” (2004, p.158)

Assim como as experiências relatadas por Stumpf alguns anos atrás demonstram questões importantes para o processo de construção das aprendizagens do sujeito surdo, a pesquisa aqui relatada também nos traz dados semelhantes. Na visita a escola especial ouvi relatos importantes sobre o que disse Stumpf sobre a valorização que os próprios alunos se atribuem a eles mesmos, pois ao usar o sistema passam a compreender o que estão escrevendo em português, então percebem que sim eles conseguem, vão aprender.

O professor entrevistado diz que a mesma história sinalizada que eles não conseguem escrever em português, em SignWriting é possível, pois, afinal, estão escrevendo a partir de sua L1 e aí se torna mais fácil. Estes relatos, por sua vez, nos motivam a seguir pesquisando sobre a escrita da língua de sinais e sobre os diferentes olhares e práticas acerca da educação de surdos.

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4. UM OLHAR PARA OS PROCESSOS DE APRENDIZAGEM

A língua materna do sujeito surdo é a língua de sinais e na escrita este se apropria de uma segunda língua. Desta forma, uma criança surda possui um esforço muito maior em sua aprendizagem do que uma ouvinte que fala, lê e escreve na mesma língua.

Sabemos que a leitura e a escrita estão vinculadas uma a outra e para que a construção do conhecimento seja de fato proveitosa o educando precisa ler, escrever e compreender o que leu e escreveu. Porém, isso muitas vezes não é o que ocorre com o sujeito surdo, pois este, por vezes, possui dificuldades em escrever em língua portuguesa o que foi sinalizado ou mesmo sinalizar o que escreveu.

4.1 VISITA A UMA ESCOLA ESPECIAL.

Durante a escrita do texto conheci esta escola, na qual fui muito bem recebida pela vice- diretora (ouvinte), pois o diretor (surdo) não pode se fazer presente neste dia. Conversamos baseando-se em algumas perguntas sobre o tema com três professores surdos contando com o auxilio da secretária da escola que se fez minha intérprete.

Na visita à Escola Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser um dos professores surdos relatou que de fato os alunos surdos sentem muita dificuldade na escrita quando se trata da Língua Portuguesa, por não ser sua língua materna. No entanto, com o SignWriting tem mais facilidade de compreender e interpretar um texto, entendem mesmo assim a importância da Língua Portuguesa neste processo e percebem no sistema de escrita um auxiliador para a aprendizagem.

Desta forma, o SignWriting vem como um facilitador neste processo de ensino/aprendizagem. Como podemos ver na imagem 1 e 2, produções de alunos que escreveram uma história inteira que foi sinalizada pelo professor e escrita em SignWriting.

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Imagem 4. História dos 3 porquinhos escrita em SignWriting

Imagem 5. História da pesca milagrosa escrita em SignWriting (produção aluno do 6º ano – ensino fundamental)

Fonte: Escola Estadual de Educação Especial Dr. Reinaldo Fernando Cóser.

Conforme Barreto apud Silva, “o uso do sistema SignWriting, assim como outras escritas, se constitui como estratégia de construção de

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significados e método de estudo, pois facilita a lembrança e a recuperação da informação guardada na memória [...] (2008, p. 43).

Para que auxilie e promova esta “recuperação da informação” na escola especial visitada todas as informações que estão escritas em corredores, portas, armários se constituem em SignWriting, como vistas nas imagens a seguir:

Imagem 6: giz4

Imagem 7: Educação Física ( o armário da Educação Física)

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Imagem 8: Sala dos professores

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Imagem 10: Banheiro da Educação Infantil

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Imagem 12: Refeitório

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Durante a conversa, os professores relataram que os alunos passam a ter contato com o sistema a partir da Educação Infantil, como uma oficina itinerante partindo de livros de história e atividades lúdicas. Quando iniciam o Ensino fundamental já passam a escrever com os sinais do SignWriting. No Ensino Médio o sistema já é uma matéria do plano de ação sendo que a interpretação de textos e a própria produção deles é aceita em SignWriting. Na escola encontramos brincadeiras também sinalizadas pelo sistema SignWriting, como vemos nas imagens 14 e 15:

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Imagem 15: Centopéia com o alfabeto

Os alunos da escola num total são 87 e todos têm acesso a escrita em SignWriting, a configuração de mão da libras e a Língua Portuguesa. Este acesso se dá em diferentes momentos e de diferentes formas, como algo natural, que faz parte deste lugar, desta cultura e destes sujeitos.

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Imagem 16: Materiais escolares escritos em Língua Portuguesa, Libras com configuração de mão e SignWriting.

Fonte: Escola Estadual de Educação Dr. Reinaldo Fernando Cóser.

Os professores relataram que estão em contínuo processo de busca em novas aprendizagens e me deixou muito feliz em saber que têm um grupo de estudos semanais sobre o sistema em que estão estudando um dos livros que pesquisei: Escrita de sinais sem mistério de Barreto. Isso me deixou profundamente satisfeita. Desta forma, percebo que é algo que precisa sempre está sendo aprendido sobre e com ele. Vemos nas produções que é muito rico para o processo de ensino/aprendizagem, pois se para o sujeito surdo o mais importante é o visual, o SignWriting vem a somar para haja essa construção. 4.2 CONVERSA COM UMA MENINA SURDA.

Como forma comparativa, conversei com uma menina surda de outro município do Estado do Rio Grande do Sul. Esta estudou desde a educação infantil até o ensino médio em uma escola especial para surdos de sua cidade. Na conversa em Santa Maria uma das professoras surdas relatou que já havia trabalhado nesta escola e que a instituição havia recebido o convite para

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trabalhar com o sistema SignWriting, mas que após tentativas frustradas resolveram desistir, alegando ser algo muito complexo para se ensinar. Durante a conversa recebi o auxílio de sua irmã (ouvinte) como intérprete. Na conversa pude perceber a diferença entre um aprendizado e outro. Enquanto na escola os alunos contam com um auxiliador na escrita desde a primeira série, que é o SignWriting, esta aluna adquiriu a língua de sinais apenas com 5 anos de idade e relata que sentiu muita dificuldade em aprender a ler e escrever.

Com esta conversa consegui compreender o que se fala no decorrer do texto onde a criança é surda e está inserida em uma família de ouvintes. Até a inserção na escola a menina se comunicava apenas por sinais criados pelo seu próprio círculo familiar (sinais caseiros), sendo que moram afastados da cidade e ela tinha contato apenas com eles. Neste contexto, ela só conhecia a fala do que via em casa e apenas com seus cinco anos de idade passou a de fato falar por sinais, com a Libras.

Entende-se que este aprendizado quando ocorre de forma tardia é mais sofrido e difícil, pois com cinco anos a criança, tanto ouvinte quanto surda, poderia apresentar um vocabulário mais amplo e linguagem mais desenvolvida. Há de se considerar aqui, que a menina entrevistada apresentou uma aquisição da primeira língua de forma tardia, mas esta realidade ainda é comum a maioria dos surdos.

Ela diz que a professora ensinava a Libras e o Português e conhece apenas a escrita da Libras com “desenhos” dos sinais, como nesta imagem:

Imagem 17: Desenhos de alguns sinais (língua sinalizada e não escrita) Fonte: Site de pesquisa em Imagens

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A fala da menina deixa claro o desconhecimento acerca da escrita da sua primeira língua, restringindo-a apenas a sinalização e/ou compreendendo que escrita e sinalização se dão da mesma maneira. Tal fator se apresenta de forma bastante diferente se comparada à realidade da escola visitada e com importantes reflexos na constituição desta menina, já que a escrita de sua língua ou ao menos o conhecimento sobre sua existência dizem de sua cultura e identidade surda.

Fala também que no início era difícil entender o que a professora sinalizava, mas, aos poucos, foi se acostumando. Imagino que era uma turma com alguns alunos que já sabiam a Libras e para ela aquilo ainda não possuía significados.

No Ensino Médio ela diz que teve mais dificuldades por não compreender muito bem os textos e, principalmente, as matérias de biologia e física (estas disciplinas apresentam muitos conceitos que ainda não possuem sinais, o que pode dificultar a compreensão dos mesmos). Neste sentido e a partir da visita e conversa realizada na escola imagino que o sistema teria auxiliado neste processo já que a construção da escrita se dá a partir da primeira língua e assim a significação por parte de quem escreve ocorre de forma mais fácil.

Portanto, refletindo sobre ambas as experiências notei como são distintos os ensinos das propostas, uma de fato pesquisada e a outra indiretamente através dos relatos da menina. Percebi como o sistema de escrita SignWriting tem auxiliado muitas crianças e jovens proporcionando a eles um aprendizado de resultados e significados, além de uma maior inserção e conhecimento acerca de sua cultura e língua.

Entendo que apenas copiar o que alguém escreve seria fácil, mas nada significativo para os sujeitos e, desta maneira, estes podem fazer suas produções compreendendo o que estão escrevendo. O que lamento é saber que existem instituições com possibilidades de utilizar/adotar este sistema, mas não acreditam que a proposta possa realmente dar certo e desta forma privam seus alunos de aprenderem mais e com mais qualidade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho partiu do pressuposto que a língua falada e escrita fazem parte da identidade cultural dos sujeitos surdos. O mesmo constituiu-se como uma pesquisa qualitativa que reuniu informações para analisar de fato quais são os avanços, limitações e desafios desta proposta na educação de surdos. Inicialmente procurou-se situar sobre como tudo iniciou, todas as adversidades que as comunidades surdas tiveram para conquistar sua liberdade de expressão, liberdade em se comunicar em sua língua materna. Partindo daí pudemos analisar a importância do sujeito surdo em falar na sua própria língua e agora em escrever nela através do sistema SignWriting.

O sistema de escrita de sinais foi criado como um auxiliador e mediador do processo de aquisição da linguagem escrita e falada para que os alunos possam compreender de fato o que estão escrevendo, facilitando a produção textual e a interpretação. Com base em duas realidades foi possível analisar as dificuldades de quem não teve acesso a este sistema e a como este auxilia quem conta com ele para escrever, aprender e se expressar culturalmente.

A aquisição de uma escrita própria para os sujeitos surdos é um marco em sua cultura. Pode ser vista como mais uma vitória para estas comunidades que estão a cada dia conquistando novos direitos para viverem em uma sociedade que não apenas fala de inclusão, mas que deve vivê-la

Analisando e refletindo sobre tudo o que foi lido, ouvido e visto no decorrer desta pesquisa e escrita conclui que o sistema SignWriting possui grande significado no processo de ensino/aprendizagem de quem conta com este suporte e, que sim faz falta para quem ainda não tem oportunidade em utilizá-lo. Seus avanços são diários e em nosso país algumas escolas já têm aderido ao sistema, mas conforme o que os professores da escola especial relataram é preciso que as escolas que possuem o sistema se aperfeiçoem para que não se perca o que já foi construído até aqui.

Algumas universidades já têm colocado como componente curricular o SignWriting oque pode acarretar grande mudanças, já que os novos professores já estarão aprendendo o sistema e, dessa forma, mais surdos terão a oportunidade de aprender. Entretanto, as limitações também existem, percebe-se a pouca bibliografia e poucas publicações sobre o assunto.

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Mesmo os professores que ensinam o sistema têm pouco material para suas aulas e quem quer conhecer/aprender precisa buscar bastante para encontrar alguns livros e publicações sobre o assunto. Outro fator que vi durante a pesquisa é o medo de aprender que muitas instituições têm em relação ao sistema. Isso provem, às vezes, de professores ouvintes que não compreendem a necessidade que o surdo tem em escrever em sua L1.

Desta forma poderemos melhorar/modificar e de fato ensinarmos para uma construção de conhecimentos. Junto a isso caminha uma afirmação de Gadotti, que tem enfatizado este desejo:

[...] Queremos deixar para trás o mundo da prepotência, da arrogância dos que tudo sabem e, por isso, tudo querem ensinar. O outro mundo possível é um mundo de aprendizagem em

rede. O nosso mundo possível é um mundo onde todos podem

perguntar, o mundo da “pedagogia da pergunta”, como sustentava Freire. É perguntando que o construiremos. (2011, p.91)

Sendo assim, precisamos continuar pesquisando e buscando sobre este sistema de escrita para que mais pessoas possam ser beneficiadas por ele e ter a opção de seu aprendizado. Como vimos em alguns dos relatos trazidos, desta forma estaremos contribuindo nesta luta pelas comunidades e sujeitos surdos de nosso país.

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REFERÊNCIAS

BARRETO, Madson. BARRETO, Raquel. Escrita de Sinais sem mistérios. Belo Horizonte: Ed do autor, 2012.

BRASIL. Lei n. 10.436, de 24 de abril de 2002. Dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais – Libras e dá outras providências. Brasília, 24 abr.2002b.

BRASIL. Decreto Nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005.Regulamenta a Lei no 10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais - Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

CAPOVILLA, Fernando C. Sobre a falácia de tratar as crianças ouvintes como se fossem surdas, e as surdas, como se fossem ouvintes ou deficientes auditivas: pelo reconhecimento do status lingüístico especial da população escolar surda. In: SÁ, Nídia de. (Org) Surdos: qual escola? Manaus: Ed Valer e Edua, 2011.

GADOTTI, Moacir. Boniteza de um sonho: ensinar e aprender com sentido. São Paulo: Editora e Livraria Instituto Paulo Freire, 2011.

HONORA, Márcia. FRIZANCO, Mary L. Esteves. Esclarecendo as deficiências: Aspectos teóricos e práticos para contribuir com uma sociedade inclusiva. São Paulo: Ciranda Cultural, 2008.

MICHAELIS, Dicionário de português on-line.

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=linguagem Acesso em: 20.06.14

QUADROS, Ronice Müller de. Educação de Surdos – A aquisição da linguagem. Porto Alegre: Artmed. 1997.

SILVA, Luciana Santana da. BASTOS, Thereza. Pais ouvintes e filhos surdos: impasses na comunicação. Entrelaçando - Revista Eletrônica de Culturas e Educação Caderno Temático: Educação Especial e Inclusão Nº. 8 p. 25-34, Ano IV, 2013.

STROBEL, Karin. As imagens do outro sobre a cultura surda. Florianópolis. Editora UFSC. 2008.

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STUMPF, Marianne R. Transcrições de língua de sinais brasileira em SignWriting. In: LODI, Ana Cláudia B. (Orgs.) Letramento e minorias. Porto Alegre: Mediação, 2003.

STUMPF, Marianne R. Sistema SignWriting por uma escrita funcional para o surdo. THOMA, Adriana da Silva, LOPES, Maura Concini. (Orgs) A Invenção da Surdez. Cultura, alteridade, identidade e diferença no campo da educação. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2004.

Referências

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