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Coleção de moda: valorização da cultura gaúcha através do vestuário e do bordado

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL UNIJUÍ

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E ENGENHARIAS - DCEEng CURSO DE DESIGN

Carla Gabriela Oliveira Mafalda

COLEÇÃO SUL: VALORIZAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA ATRAVÉS DO VESTUÁRIO E DO BORDADO

Ijuí/RS 2019

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Carla Gabriela Oliveira Mafalda

COLEÇÃO DE MODA: VALORIZAÇÃO DA CULTURA GAÚCHA ATRAVÉS DO VESTUÁRIO E DO BORDADO

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Curso de Design da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção ao título de Bacharel em Design.

Ênfase: Design de Produto

Orientador: Prof. Me. Fabiane Volkmer Grossmann

Ijuí/RS 2019

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, agradeço a Deus pela vida, por sua proteção e por guiar meus passos e pensamentos, possibilitando o desenvolvimento desse trabalho.

Aos meus amados pais, Marlene Oliveira Mafalda e Bernardino Borella Mafalda, por sempre me incentivarem a não desistir dos meus sonhos, por me ensinarem a enfrentar os desafios, me sustentando e me fortalecendo nos dias difíceis. Toda minha gratidão e meu amor por vocês!

Aos professores do curso, por compartilharem seus saberes ao longo dos anos, muito obrigada. Em especial a minha orientadora Fabiane Volkmer Grossmann, pelos conhecimentos repassados, por acolher esse projeto e por toda sua paciência, atenção e incentivo, obrigada!

Ao meu namorado, Mateus Baraldi Pereira, que compartilhou desse mesmo momento, sendo minha companhia nos dias e noites de estudo, sempre disposto a ouvir e ajudar a encontrar as melhores soluções. Viu só? Conseguimos. Obrigada pela paciência, pelos abraços de conforto e por ser meu ponto de equilíbrio. Te amo!

Gratidão à minha amiga Gabrielle Wiebbelling que, desde o início da faculdade, tornou meus dias (e as aulas) mais felizes com todo seu carinho, atenção e apoio. Obrigada por compartilhar desse momento comigo.

À Yasmim Zangerolami por se disponibilizar a realizar as fotos para esse projeto, pelo auxílio e pelos conselhos durante essa fase complicada. Agradeço também, à Jéssica Petry por todo seu apoio e incentivo. Obrigada!

Meu muito obrigada a Lurdes de Fátima Burdzinski, o anjo do Design, por transmitir toda a sua alegria durante esses anos, sempre me incentivando nos projetos.

À Ariane Cezar, por sua animação e apoio durante essa etapa e, por ajudar com seu conhecimento no abstract desse projeto. À Laura König e Fernanda Rodrigues por estarem ao meu lado durante tantos anos, me apoiando nesse momento difícil. Obrigada meninas!

Agradeço imensamente à Marisa Brescovit por me ensinar a arte da costura e por auxiliar na elaboração das peças dessa coleção. Obrigada por toda a sua paciência e dedicação.

À Felipe da Veiga e a Bruno Eduardo Trost pelos anos de amizade e por tornarem as aulas mais divertidas.

Agradeço a todos os amigos e familiares que, de alguma maneira, me apoiaram durante esse trajeto. Muito obrigada!

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RESUMO

Embora a moda tenha passado por muitas mudanças ao longo dos anos, a indústria de vestuário ainda sofre com a cultura do excesso, trazendo uma quantidade elevada de roupas iguais e sem significado. Através da união do design de moda às práticas artesanais é possível mudar esse cenário, desenvolvendo coleções que consideram não só aspectos econômicos, mas também o meio social e cultural em que o público se encontra. Nesse contexto, o presente trabalho visa criar uma linha de roupas com personalidade, valorizando o folclore gaúcho, envolvendo características de sua indumentária e de suas lendas, que se destacam através do bordado livre. Dessa forma, traz como objetivo a criação de uma coleção inspirada no Rio Grande do Sul, com base em um levantamento histórico dos trajes e, também da cultura e tradições gaúchas. Como guia para este projeto foram utilizadas etapas da metodologia projetual desenvolvida por Munari (1998), complementando-a com a etapa de compilação de pesquisa proposta por Seivewright (2015). A coleção traz o esporte fino como estilo, apresentando peças modernas e elegantes que transmitem história por meio dos traços de bordado.

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ABSTRACT

Even though the fashion has passed by many changes over the years, the vestuary’s industry still suffers with the culture of the excess, bringing an high amount of similar clothes with no meaning. Through the union of the fashion design and the handmade practices it is possible to change this scenario, developing collections that do not consider only the economic aspect, but also the social and cultural environment where the public lives in. In this context, the present project aim to create a clothing line that has personality, by valuing the gaucho’s folklore, involving its typical clothing and culture’s characteristics, that stands out through the free embroidery. In this way, this study has as objective the creation of a collection that is inspired by the Rio Grande do Sul, based on a historical survey of the gaucho’s typical clothing , culture and traditions. As a guide for this project it was used the projectual methodology’ stages developed by Munari (1998), complemented with the stage of searching compilation suggested by Seivewright (2015). The collection brings formal dress as an style, presenting modern and elegant items that communicate the history throughout the embroidery’s features.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Traje dos conquistadores ... 20

Figura 2 - Traje indígena ... 20

Figura 3 - Traje gaúcho de 1750 a 1820 ... 21

Figura 4 - Poncho-pala e chiripá farroupilha 1820 a 1870 ... 22

Figura 5 - Traje gaúcho de 1870 - 1920 ... 22

Figura 6 - Capa Gaúcha ... 23

Figura 7 - Traje gaúcho de 1920 a 1984 ... 24

Figura 8 - Look inspirado em poncho e bombacha ... 25

Figura 9 - Coleção inspirada no RS por Carlos Miele... 26

Figura 10 - Faixa gaúcha ... 26

Figura 11 - Tapeçaria de Bayeux... 35

Figura 12 - Tapeçaria de Bayeux... 36

Figura 13 - Traje dos toureiros espanhóis ... 37

Figura 14 - Detalhe de dossel em crewel Tree of Life ... 38

Figura 15 - Exemplos de aplicação de blackwork ... 38

Figura 16 - Toalhinha de mesa em hardanger ... 39

Figura 17 - Bordado em tela ... 39

Figura 18 - Características marcantes dos antigos trajes gaúchos ... 42

Figura 19 - Indumentária gaúcha feminina atualmente ... 43

Figura 20 - Favos e Lenços ... 44

Figura 21 - Elementos da bandeira do Rio Grande do Sul ... 45

Figura 22 - Croquis Iniciais ... 47

Figura 23 - Painel Conceitos ... 48

Figura 24 - Sketches: Look 1 ... 49

Figura 25 - Sketches: Look 2 ... 49

Figura 26 - Sketches: Look 3 ... 50

Figura 27 - Paleta de cores das peças da coleção ... 50

Figura 28 - Croquis iniciais: Look 1 ... 51

Figura 29 - Sketchbook, painéis João-de-Barro ... 52

Figura 30 - Sketches casal indígena e joão-de-barro ... 53

Figura 31 - Sketches elementos secundários: lua e floresta e corações ... 53

Figura 32 - Opções de bordado João-de-Barro ... 54

Figura 33 - Paleta de cores: Bordado 1 ... 55

Figura 34 - Croqui final Look 1: João-de-Barro ... 56

Figura 35 - Croquis iniciais: Look 2 ... 57

Figura 36 - Sketchbook, painéis O Negrinho do Pastoreio ... 58

Figura 37 - Sketches: Negrinho, Cavalo, Nossa Senhora ... 59

Figura 38 - Sketches: Ramos e velas ... 59

Figura 39 - Opções de bordado: O Negrinho do Pastoreio ... 60

Figura 40 - Paleta de cores: Bordado 2 ... 61

Figura 41 - Croqui final Look 2: O Negrinho do Pastoreio ... 62

Figura 42 - Croquis iniciais: Look 3 ... 63

Figura 43 - Sketchbook, painéis A Casa de Mbororé ... 64

Figura 44 - Sketches: Mbororé ... 64

Figura 45 - Sketches: Casa branca e tesouros ... 65

Figura 46 - Opções de bordado: A Casa de Mbororé ... 66

Figura 47 - Paleta de cores: Bordado 3 ... 67

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Figura 49 - Tecidos da coleção ... 69

Figura 50 - Aviamentos ... 70

Figura 51 - Aviamentos: Meadas ... 70

Figura 52 - Tecnologias ... 71

Figura 53 - Testes de favos ... 72

Figura 54 - Testes de pontos de bordado ... 73

Figura 55 - Ficha técnica peça 1: Blazer ... 74

Figura 56 - Ficha técnica peça 2: Camiseta ... 75

Figura 57 - Ficha técnica peça 3: Saia ... 75

Figura 58 - Ficha técnica Bordado 1 ... 76

Figura 59 - Ficha técnica Detalhes do Bordado 1 ... 77

Figura 60 - Moldes Look 1: João-de-Barro ... 77

Figura 61 - Confecção das peças escolhidas ... 78

Figura 62 - Confecção dos bordados ... 79

Figura 63 - Composição Look 1: João-de-Barro ... 80

Figura 64 - Detalhes da peça 1: Blazer ... 81

Figura 65 - Detalhes da peça 2: Camiseta ... 82

Figura 66 - Detalhes da peça 3: Saia ... 83

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Tipos de fibras... 33

Quadro 2 - Fibras naturais ... 33

Quadro 3 - Fibras sintéticas ... 34

Quadro 4 - Famílias de pontos de bordado ... 40

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Medidas de Modelagem Plana Feminina ... 32 Tabela 2 - Medidas femininas baseadas na revista Manequim ... 32

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 10

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 13

2. 1 A MODA E SUA LIGAÇÃO COM O DESIGN ... 13

2.2 CULTURA E TRADIÇÃO GAÚCHA ... 15

2.2.1 Folclore ... 17

2.2.2 Indumentária Gaúcha ... 19

2.2.3 Trajes típicos e o design de moda ... 24

2. 3 ELEMENTOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO ... 27

2.3.1 Estilos e categorias de vestuário ... 28

2.3.2 Modelagem ... 30

2.3.3 Tecidos ... 33

2. 3. 4 Bordado ... 35

3 RESULTADOS ... 41

3.1 COLETA E ANÁLISE DE DADOS ... 42

3.2 PROCESSO CRIATIVO ... 46

3.2. 1 Look 1: Lenda João-de-Barro ... 51

3.2. 2 Look 2: O Negrinho do Pastoreio ... 57

3.2. 3 Look 3: A Casa de Mbororé ... 63

3.3 MATERIAIS E TECNOLOGIAS ... 69 3.4 EXPERIMENTAÇÃO ... 71 3.5 MODELO ... 73 3.6 VERIFICAÇÃO ... 79 4 CONCLUSÃO ... 85 REFERÊNCIAS ... 86 APÊNDICE A ... 89 ANEXO A ... 110 ANEXO B ... 116 ANEXO C ... 119

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1 INTRODUÇÃO

O Brasil é um país que apresenta uma ampla diversidade cultural, sendo que seu povo busca manter as tradições no decorrer do tempo, passando seus costumes de geração em geração. Conforme Seivewright (2015), influências históricas são encontradas frequentemente em disciplinas de design em todo o mundo, gerando grandes inspirações para o desenvolvimento de novos produtos. No caso do estado do Rio Grande do Sul, é possível identificar que a população se orgulha de seus costumes e tem apreço ao folclore. Segundo Camargo (2000), o gaúcho tem a mais bela das tradições, cultivando o chimarrão, suas danças, músicas, poesias, lendas e, igualmente importante, a indumentária gaúcha. É nesse contexto que a presente pesquisa se insere, pois aborda a valorização da cultura através de uma linha de vestuário voltada ao público feminino, com peças contemporâneas inspiradas em elementos da cultura regional, como a roupa gaúcha e algumas das lendas do estado.

Com o crescimento do consumo no mundo da moda, as peças de vestuário estão se tornando homogeneizadas. Carvalhal (2016) ressalta que, atualmente, o maior problema das indústrias está justamente na cultura do excesso, gerando uma grande quantidade de peças de vestuário com base em comportamentos de tendências, o que já não é mais garantia de sucesso para a indústria. Além de gerar desperdício, as roupas acabam por perder sua qualidade e originalidade, não se destacando no mercado. Portanto, a fim de criar uma coleção que não perca sua qualidade, se faz necessário pesquisar os diferentes materiais, processos e acabamentos.

Conforme o Sebrae (2014), através do artesanato e suas peculiaridades é possível desenvolver peças únicas, mercado este que traz um diferencial em franca expansão. Os trabalhos manuais, como o bordado, se sobressaem perante à indústria de vestuário, pois a união do design com as práticas artesanais resulta em produtos competitivos.

O tema escolhido para o desenvolvimento do projeto é a criação de uma coleção de moda feminina que coloque aspectos culturais em destaque por intermédio do bordado livre. Portanto, será realizado uma linha de roupas que, além dos valores culturais agregados, contará com esse diferencial que permitirá a criação de peças que trazem significados e transmitem a personalidade do consumidor por meio de desenhos inspirados em lendas do Rio Grande do Sul, trazendo referências da indumentária gaúcha.

Assim sendo, para alcançar os objetivos, se faz necessário traçar uma metodologia científica, apresentando o método de abordagem dedutivo que, segundo Gil (2008), permite atingir conclusões formais através da lógica. Essa abordagem deriva de conhecimentos gerais

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sobre o assunto tratado e parte para os específicos. Para isso, será utilizada a pesquisa descritiva que, conforme Gil (2008), tem como propósito descrever as características de um grupo, bem como atitudes e crenças de uma população. Além disso, também será feita uma pesquisa exploratória que “têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores.” (GIL, 2008, p. 27). Essas pesquisas auxiliam a descrever os aspectos culturais em questão e a explorar o mercado de moda, bem como os materiais, processos, técnicas de bordado disponíveis e elementos para desenvolver uma coleção, assim todos esses temas serão abordados no referencial teórico.

As técnicas empregadas para a coleta de dados são a pesquisa bibliográfica, documental e de campo. Conforme Lakatos e Marconi (2003), a vantagem da pesquisa bibliográfica é que coloca o pesquisador em contato direto com todos os materiais escritos, falados ou filmados sobre o assunto em questão. Gil (2008) complementa afirmando que esse tipo de pesquisa é indispensável para a realização de estudos históricos e é constituída, principalmente, de livros e artigos científicos. Já a pesquisa documental, embora muito semelhante a bibliográfica, “vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa.” (GIL, 2008, p. 51) e, pode variar entre documentos de primeira mão - sem nenhum tratamento analítico -, que são compostos por reportagens de jornais, cartas, fotografias, filmes e outros ou, os de segunda mão - analisados de alguma forma - como os relatórios de pesquisa e de empresa, entre outros. Dessa forma, essas pesquisas também serão utilizadas para embasar o Capítulo 2, trazendo conceitos e ligações entre a moda e o design, cultura e tradição gaúcha, que englobam o folclore, a indumentária e a relação desses trajes com a moda, bem como os elementos para desenvolver uma coleção, trazendo estilos, modelagens, materiais e processos.

Por fim, a pesquisa de campo que, segundo Gil (2008), permite aprofundar-se no conteúdo estudado, utilizando mais técnicas de observação que de interrogação. Essa pesquisa possibilita extrair dados diretamente do ambiente real, e será utilizada, principalmente, para selecionar os tipos de tecidos e aviamentos que serão utilizados na coleção.

Para o desenvolvimento do projeto, escolheu-se etapas da metodologia projetual desenvolvida por Munari (1998) que ocorre em dois estágios, sendo dividido em problematização e hipóteses e parte prática. Para complementar, escolheu-se a etapa de compilação de pesquisas, proposta por Seivewright (2015), que consiste em inserir todos os estudos em um sketchbook, a fim de organizar as informações para trabalhar as ideias.

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As etapas são compostas, basicamente, pela coleta de dados referentes ao assunto e análise dos mesmos, passando pela fase de criatividade onde ocorre a geração de alternativas por meio de croquis de moda. Logo, define-se os materiais (tecidos e aviamentos) e tecnologias (costura) que serão utilizados, passando então para a fase de experimentação com a realização de testes dos mesmos. Dessa forma, direciona-se para a etapa de modelo, realizando as fichas técnicas e definindo a modelagem para a confecção das peças piloto. Sendo assim, finaliza-se com a fase de verificação, conferindo a modelagem, tecidos e acabamentos, partindo para a realização das fotos de possíveis combinações feitas com as peças produzidas. Portanto, no Capítulo 3 é apresentado o processo de criação da coleção com base nessa metodologia.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2. 1 A MODA E SUA LIGAÇÃO COM O DESIGN

Com o intuito de entender o que é a moda, é indispensável buscar a origem do vestuário e qual a sua finalidade primordial. Dessa maneira, Limeira, Lobo e Marques (2014) declaram que o surgimento da indumentária se deu na pré-história, antes mesmo do aparecimento da escrita, 4000 a.C. Inicialmente, o homem fazia uso de peles e pêlos de animais caçados por ele e, posteriormente passa a utilizar também as fibras vegetais. A utilização dessas roupas ocorreu devido a necessidade de proteção contra o frio.

Com o passar dos anos, a vestimenta que era utilizada apenas como proteção física para o corpo, ganha valor estético, servindo como uma ferramenta de distinção. Em meados do século XV, mais especificamente na corte da Bergonha, as roupas passaram a ser reconhecidas em âmbito social, com o propósito de distinguir as pessoas pela sua classe. Assim, os burgueses reproduziam as roupas da nobreza que, por sua vez, começou a criar novidades no vestuário continuadamente, para se diferenciar da burguesia. Assim, origina-se a moda - do latim modus - e se dá início ao que chamamos de tendência (LIMEIRA; LOBO; MARQUES, 2014).

Segundo Silva (2014), a moda significa modo ou maneira, é efêmera, singular e, tem perspectivas complexas. Nesse viés, as suas definições são variadas, mas em um contexto geral, Frings (2012, p. 60) diz que “[...] moda é o estilo ou estilos mais populares em um determinado momento ou época.”. Ainda assim, trata-se de um meio que os consumidores recorrem para demonstrar seu estilo e sua própria vida. Sobre a moda, Limeira, Lobo e Marques (2014, p.11) contribuem:

É um fenômeno sociocultural que expressa hábitos e costumes de uma sociedade. Podemos considerar que é um fenômeno de mutação, que sempre está se reinventando e que é isso que a torna interessante e fascinante. [...] é uma linguagem não verbal com significado de diferenciação, ou seja, maneiras diferentes de pensar, agir, vestir, comportar e comunicar.

Conforme Silva (2014), o design e a moda estão ligados, caminham juntos para trazer inovação e compor um design não só estético, como prático e funcional. O design, para Azevedo (1991), significa projetar ou compor visualmente e, aparece com frequência em nosso dia-a-dia, não só em objetos utilitários e na arquitetura, como também nas palavras escritas. Bonsiepe (1997) complementa afirmando que o termo ‘design’ está relacionado ao design industrial, ao design gráfico e ao design de interiores, ambos tratando de inovação,

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preocupando-se em solucionar problemas de um grupo de usuários. Ainda, ressalta que apenas essa condição de algo inovador não é suficiente para descrever o design. Sendo assim, Denis (2000, p. 16) argumenta que:

A origem imediata da palavra está na língua inglesa, na qual o substantivo design se refere tanto à idéia de plano, desígnio, intenção, quanto à de configuração, arranjo, estrutura [...]. A origem mais remota da palavra está no latim designare, verbo que abrange ambos os sentidos, o de designar e o de desenhar. Percebe-se que, do ponto de vista etimológico, o termo já contém nas suas origens uma ambiguidade, uma tensão dinâmica, entre um aspecto abstrato de conceber/projetar/atribuir e o outro concreto de registrar/configurar/formar.

Ainda assim, Silva (2014) afirma que o design é uma atividade que engloba conceitos e práticas que levam a criação de projetos, através de esboços e desenvolvimento de modelos. Trata-se de uma série de processos, envolvendo atos de pensar, organizar, sistematizar, projetar e, dessa forma, gerar produtos ou serviços para o mercado. O design de moda também refere-se a projetos, porém, visa a criação e desenvolvimento de coleções, sejam elas de roupas, acessórios ou calçados, de acordo com tendências ou partindo de uma temática específica. O que se conclui é que ambos são campos influenciados por fatores econômicos, sociais, culturais, ideológicos e, dependem desses para confeccionar produtos e estilos de vida. Assim, “o design integra o comportamento e os costumes a uma nova forma de produzir a roupa.” (SILVA, 2014, p. 114).

Confeccionar uma peça de vestuário vai além de apenas “vestir”. O designer de moda busca atender as necessidades e desejos dos consumidores, envolvendo tanto aspectos funcionais como estéticos. Também considera que os usuários utilizam da vestimenta para expressar sua forma de pensar, sua personalidade, sua cultura, seu estilo de vida. Nessa perspectiva, Seivewright (2012) afirma que a pressão pela novidade faz com que o profissional se aprofunde em suas pesquisas para buscar novos meios, novas formas inspiradoras para desenvolver suas coleções, visto que o designer carrega consigo a responsabilidade de inovar em cada estação do ano, pois a moda sofre transformações o tempo todo.

Tratando-se de inovação para elaborar produtos de moda, Frings (2012, p.65) declara que “designers são muitas vezes inspirados pelos visuais nostálgicos do século passado, mas empregam tecidos, cores e detalhes diferentes tornando os looks únicos hoje”. Stevenson (2012) concorda e afirma que o que diferencia as novas peças de vestuário, com essa inspiração, são as diferentes interpretações dos designers para os tempos atuais, atribuindo novos significados às fontes de design.

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Desenvolver uma nova coleção de vestuário para o mercado implica em analisar não só as tendências do momento, como estudar os diferentes públicos e sua cultura. De acordo com Frings (2012), os designers de moda costumam buscar inspiração tanto em roupas históricas ou folclóricas, quanto na arte e em viagens a diferentes locais para conhecer novos pontos de vista. Dessa maneira, as características de uma região e sua cultura são fatores que, constantemente, influenciam a moda à novas tendências, trazendo estilos únicos. Nesse contexto, com esse estudo se propõe a cultura gaúcha como inspiração para desenvolver uma coleção de moda, pesquisando aspectos da mesma no próximo item.

2.2 CULTURA E TRADIÇÃO GAÚCHA

Tendo em vista que a palavra cultura pode ter diversos significados e associações, Santos (1987, p. 22) afirma que a mesma:

[...] está muito associada a estudo, educação, formação escolar.Por vezes se fala de cultura para se referir unicamente às manifestações artísticas, como o teatro, a música, a pintura, a escultura. Outras vezes, ao se falar na cultura da nossa época ela é quase que identificada com os meios de comunicação de massa, tais como o rádio, o cinema, a televisão. Ou então cultura diz respeito às festas e cerimônias tradicionais, às lendas e crenças de um povo, ou a seu modo de se vestir, à sua comida, a seu idioma.

Ainda assim, Santos (1987) afirma que a cultura pode ser vista em duas perspectivas. A primeira está relacionada às diferentes realidades sociais de uma nação e, a segunda trata-se de conhecimentos, princípios e crenças. Vale ressaltar que ao falar desse segundo ponto de vista, que foca no conhecimento, também deve-se considerar fatores sociais, pois os saberes de uma população estão diretamente relacionados. Dessa forma, Santos (1987, p.25) argumenta que “[...] as culturas humanas são dinâmicas”, embora tais definições possam levar a conclusão de que a mesma está estagnada.

De acordo com Camargo (2000,p. 155):

A cultura genuína do povo e suas expressões estão alicerçadas em tradições, em conhecimentos obtidos pela convivência em grupo, somados aos elementos históricos e sociológicos. Seus legados e sua tradição, entre eles o seu modo de vestir, são transmitidos para as gerações seguintes, sujeitos a mudanças próprias de cada época e circunstância.

Nesse contexto, Camargo (2000) descreve a palavra tradição como um ato de disseminar a cultura de determinado povo entre as gerações. É a capacidade de transmitir “lendas, narrativas, valores espirituais, acontecimentos históricos através dos tempos, de pais

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para filhos.” (CAMARGO, 2000, p. 73), enquanto o tradicionalismo é responsável por movimentar as peças dessa tradição, cultivando-a e vivenciando-a.

Considerando esses aspectos, entende-se que cada região possui uma cultura e diferentes formas de transmiti-la. Dessa forma, analisando a região do Rio Grande do Sul, encontra-se uma população que se orgulha e considera-se rica em cultura, tendo “no chimarrão, no fandango, na pilcha, nos temas musicais, na poesia, na doma, a mais bela das tradições.” (CAMARGO, 2000. p. 73).

Conforme Fagundes (1992) o gaúcho é definido como sujeito na metade do século XVII, pela carência de homens que se aventurassem na caça ao gado selvagem, pois “havia a necessidade européia do couro e da graxa desse animal. Faltava, porém, o homem que fosse caçá-lo e extrair-lhe aquilo que os europeus queriam comprar.” (FAGUNDES, 1992, p. 11). Camargo (2000) contribui afirmando que o povo gaúcho é apresentado como “mestiço cultural” e, sua primeira imagem foi de um homem caçador de gado e jogador, sendo que esses aspectos podiam ser percebidos na forma como se vestiam.

Já Flores (2007) declara que a expressão “gaúcho” era associada à um sujeito sem pátria, visto como bandido, que lutava apenas para roubar e matar o gado dos fazendeiros. Contudo, outras definições são descobertas, mostrando o gaúcho como uma pessoa de vida nômade, sem uma residência fixa, que vivia vagando pela região dos pampas. Esse termo passou por modificações ao decorrer dos anos, distorcendo as primeiras imagens apresentadas. Conforme Flores (2007, p.7):

O regionalismo rio-grandense formou-se dentro da corrente do romantismo, influenciado pelas ideias de federação dos liberais moderados e farroupilhas, que argumentavam que o Rio Grande do Sul era diferente das demais províncias brasileiras por causa de seu clima, do meio físico, da raça formada pelos açorianos, da economia e da sociedade militarizada em função da fronteira e da pecuária.

Acima de todas as definições para o termo, Acri (1991) declara que qualquer indivíduo pode se considerar gaúcho se for nobre de espírito, se cultiva os costumes e tem, principalmente, respeito pela tradição.

O gaúcho é o brasileiro rio-grandense do sul. É um homem que conhece o seu estado e respeita sua terra. É um homem que homenageia seu pago com suas músicas e suas poesias. Estuda e historia sua raça e sua gente, cultiva seu chimarrão, sua pilcha e suas raízes. É um homem que sabe que ser gaúcho é representar o Rio Grande do Sul e por isso trabalha por ele. E sabe, também, que ser gaúcho é ser único e aí está a beleza de sê-lo. Sabe ainda que ser gaúcho... é ser gaúcho, tchê! E isto basta. (ZATTERA, 1995, p. 163)

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Portanto, o povo riograndense, como bom apreciador da cultura local, busca constantemente disseminar seus costumes para as gerações futuras e, até mesmo propaga-los a outras regiões. O Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG)1 e os Centros de Tradições Gaúchas (CTG)2 são os maiores responsáveis por preservar e promover a tradição, proporcionando momentos de danças, rodas de chimarrão para contar os mitos e lendas do estado, atividades campeiras e demais costumes. É através dos elementos do folclore que a população gaúcha enaltece e transmite sua cultura.

2.2.1 Folclore

Conforme Brandão (1984), o termo folclore foi visto pela primeira vez em 1856, escrito em uma carta do arqueólogo inglês William John Thoms para designar uma área de estudo, o saber tradicional do povo. A palavra é uma combinação de outros dois nomes: folk = povo e lore = saber. Apesar disso, anteriormente à sua aparição, já haviam historiadores, músicos, arqueólogos e demais estudiosos que se aprofundavam em pesquisas sobre costumes e tradições populares.

[...] folclore é tudo o que o homem do povo faz e reproduz como tradição. Na de outros, é só uma pequena parte das tradições populares. Na cabeça de uns, o domínio do que é folclore é tão grande quanto o do que é cultura. Na de outros, por isso mesmo folclore não existe e é melhor chamar cultura, cultura popular o que alguns chamam folclore. (BRANDÃO, 1984, p. 23)

Sobre a criação de folclore, Brandão (1984) declara que é algo pessoal, vindo de algum autor, mas que ao transcorrer o tempo, com sua reprodução sendo realizada por milhares de pessoas, acaba tornando-se o que conhecemos por domínio público. Assim, mesmo que seu autor seja reconhecido por tempo determinado, o anonimato é uma das características comuns do folclore.

Para Camargo (2000), o folclore pode ser considerado como expressões espontâneas transmitidas de geração em geração por meio da fala. É um composto de conhecimentos, crenças e costumes herdados do passado e que se mantém sem nenhum ensino formal. Ainda, Camargo (2000, p. 73) conceitua:

1 Conforme Savaris (2014), os Centros de Tradições Gaúchas são entidades civis com um grupo de associados

que se empenham em resgatar, preservar e divulgar os atos tradicionais.

2 Savaris (2014) afirma que o Movimento Tradicionalista Gaúcho surgiu como órgão que fiscaliza, orienta e

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Folclore: é uma ciência: tem objeto e métodos propícios e finalidade científica. Estuda cientificamente o conjunto das tradições, poemas, lendas, contos, crenças populares, a cultura material, espiritual e moral de um povo. Exige: aceitação coletiva (requisito fundamental), intemporalidade (permanece através dos tempos), espontaneidade, tradicionalidade (conservar através dos tempos), moralidade (transmissão oral ou não), anonimato (com ou sem autor/inventor), funcionalidade (é essencial).

Para conhecer um povo e seus costumes, é essencial investigar mais a fundo a cultura popular da região. A população riograndense busca preservar o folclore gaúcho através de sua projeção fora de época e do reaproveitamento de fatos folclóricos históricos, principalmente, por intermédio de apresentações de danças típicas do estado. Entre o grande conjunto que compõe o folclore, as lendas são uma parte significativa.

A palavra lenda refere-se à “relato oral ou escrito de acontecimentos, reais ou fictícios, aos quais a imaginação popular acrescenta uma boa dose de novos elementos; tradição popular.” (MICHAELIS, 2019). Sendo assim, o termo é frequentemente utilizado para intitular histórias que, em sua maioria, são fantasiosas, um mito popular normalmente transmitido de forma oral, passando por alterações ao decorrer do tempo, que variam de acordo com a imaginação de quem as reproduz.

O Rio Grande do Sul dispõe de diversas narrativas que são conservadas com o passar do tempo. Segundo Lopes Neto (1997), tais lendas são separadas em categorias, incluindo as de reconhecimento tardio que trazem como exemplo A Mboitatá, A Salamanca do Jarau e o Negrinho do Pastoreio; e as missioneiras, que destacam A Mãe do Ouro, Cerros Bravos, A Casa de Mbororé, Zaoris, O Angüera, Mãe Mulita, São Sepé e Lunar de Sepé. Ainda, conforme o livro Lendas Gaúchas (2000), existem outras histórias contadas no estado, como Pai Quati, Lagoa dos Barros, Encantado e João de Barro. Dessa forma, escolheu-se destacar O Negrinho do Pastoreio - de reconhecimento tardio –, A Casa de Mbororé das lendas missioneiras e O João-de-Barro que não é muito disseminada na região.

Em meio a tantos contos, o que mais ganha destaque no estado é a lenda O Negrinho do Pastoreio (Anexo A3) que, conforme afirma Bertussi (2000), possivelmente tornou-se tão popular por representar os maus tratos aos escravos em um lugar onde a “[...] escravidão não foi enfática nem agressiva.” (BERTUSSI, 2000, p. 4).

A lenda da Casa de Mbororé (Anexo B4) conta sobre o tesouro dos jesuítas, o ouro e a prata escondidos em uma casa branca, sem portas e janelas, protegida e vigiada noite e dia

3 LOPES NETO, João Simões. Contos Gauchescos e Lendas do Sul. [Porto Alegre]: L&PM, [2009]. 4 LOPES NETO, João Simões. Lendas do Sul. Porto Alegre: Martins Livreiro, 1997.

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pelo velho índio Mbororé. Conforme Diniz (2006, p.23) “A origem desta lenda estaria ligada a violenta expulsão dos jesuítas decretada por Carlos III.”.

De origem indígena, o João-de-Barro (Anexo C5) traz a narrativa de um jovem que se apaixona pela moça mais bela da tribo, demonstrando seu amor através de sua resistência à prova imposta pelo pai da menina. Conta ainda que, ao final do teste, os jovens se encontram e transformam-se em pássaros, voando e cantando seu amor.

2.2.2 Indumentária Gaúcha

A cultura popular passa por modificações no desenrolar dos anos. Com isso, a indumentária gaúcha também passou por transformações, essas que, segundo Camargo (2000, p.155) “contam sua própria história, sua herança, numa evolução que lhe dá, além de beleza, identidade.”. Embora o traje e a índole do povo gaúcho tenham se modificado, vale ressaltar que a raiz cultural é mantida. Camargo (2000, p. 155) afirma:

O homem do Rio Grande do Sul adaptou sua vestimenta com base em seu tipo de vida e necessidades. O gaúcho mestiço cultural com outras etnias, foi, num primeiro momento, um homem caçador de gado, gaudério e jogador, aspecto de sua índole que transpareceu no seu modo de trajar. O chiripá, a bota de garrão, a camisa folgada e o poncho diziam muito de seu ser livre. Nada a apertar, nada a reprimir, nada a oprimir, pois seus movimentos eram sempre abertos e amplos. Nada podia haver que pudesse amarrá-lo, nem mesmo o seu traje.

Acri (1991) separa a evolução dos trajes por períodos, sendo o primeiro dividido por conquistadores e índios, de 1700 a 1750. Os conquistadores foram os soldados e marinheiros europeus engajados em navios portugueses e espanhóis que buscavam riquezas, encontrando no estado os rebanhos de gado. As principais peças utilizadas por eles, segundo Acri (1991, p. 53-55), eram:

Ceroulas de crivo (Figura 1 - a): calça de cretene, algodão ou linho, até a metade da perna, com franjas desfiadas do próprio tecido;

Braga (Figura 1 - b): calça justa nas cadeiras e coxas, terminando abaixo dos joelhos com corte que podia ser fechado com botões. Feitas de veludo ou casemira;

Camisa (Figura 1 - c): gola ampla e inteira, com mangas fofas no punho, às vezes rendadas e com abotoaduras;

5 Lendas Gaúchas: Coletânea de histórias populares do Rio Grande do Sul. Vol. 1. [Porto Alegre]: Zero Hora,

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Jaleco (Figura 1 - d): colete até a cintura, com bolsos dos lados. Feito do mesmo tecido da braga;

Figura 1 - Traje dos conquistadores

Fonte: Adaptado de Acri (1991, p. 54)

Já os índios missioneiros, influenciados pelos padres jesuítas, passaram por três momentos na evolução de seus trajes, sendo que, para os homens, primeiramente foi utilizado o chiripá (Figura 2 - a) - retângulo de pano enrolado na cintura até os joelhos -, logo, uma calça até a metade da perna com camisa abaixo da cintura, onde se usava uma faixa (Figura 2 - b) e, em seguida, o poncho bichará, formado por dois retângulos grandes de panos de lã tecidos e costurados, com uma abertura para passar a cabeça. As mulheres utilizavam o tipoy (Figura 2 - c), uma espécie de camisa comprida em forma de vestido, preso a cintura por um cordão ou faixa de algodão.

Figura 2 - Traje indígena

Fonte: Adaptado de Acri (1991, p. 56)

O segundo período citado por Acri (1991) vai de 1750 a 1820, quando o gaúcho era caracterizado por ser changador, homem gaudério (Figura 3 - a). Nesse tempo as roupas

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europeias com influências francesas formavam o traje gaúcho que, se adaptava aos deveres da vida campeira. No traje masculino mantinham-se as ceroulas de crivo, jaleco, jaqueta e Braga, que se difundiu em todos os níveis sociais. Contudo, surgiu o chiripá-saia, feito de um pano retangular de lã, linha ou algodão, aberto na frente para facilitar a equitação e a caminhada. No vestuário feminino, as mulheres usavam o tipoy com um chale (Figura 3 - b) de algodão sobre os ombros. A camisa de algodão de uma cor só, com mangas que iam até o cotovelo e terminavam em babados era combinada com uma saia rodada (Figura 3 - c).

Figura 3 - Traje gaúcho de 1750 a 1820

Fonte: Adaptado de Acri (1991, p. 68-86)

Já de 1820 a 1870 o gaúcho é definido como pastor-soldado e, a indumentária passa a ser totalmente gaúcha. Conforme Acri (1991, p.107):

As prendas já descritas no último período permanecem iguais. A camisa agora com botões; o jaleco mais curto, justo na cintura e aberto, com menos botões e bolsos sem lapelas, alguns com gola redonda e trespassados; a jaqueta encurta até a cintura e a gola é menor; a ceroula de crivo vai até os pés e é mais larga nos crivos. Surge outro tipo de calção, de tecido leve e pernas ajustadas, amarrado por cordões aos tornozelos. Este calção é para ser usado sob a ceroula de crivo, por dentro da bota.

Nesse período surge o poncho-pala (Figura 4 - a), com forma retangular ou com cantos arredondados, podendo ter gola ou não, essa peça era própria para temperaturas baixas. Ainda, destaca-se o chiripá-fralda (Figura 4 - b), também chamado de chiripá farroupilha, um pano retangular grande que era colocado por entre as pernas como uma fralda. As mulheres modestas usavam camisa branca com decote quadrado e sem mangas, saias rodadas de tecido leve e, às vezes, um poncho pequeno. Ainda, aparece uma nova peça, o casaquinho de corte simples, sendo que esse, combinado a saia sobre camisa e meias de lã, generalizou-se.

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Figura 4 - Poncho-pala e chiripá farroupilha 1820 a 1870

Fonte: Adaptado de Acri (1991, p. 111-112)

De 1870 a 1920 as peças do período passado começam a ser combinadas com o que surge no momento. O homem peão veste ceroulas de crivo, chiripá farroupilha, faixa de lã, jaleco, lenço no pescoço, calção comprido de lã e jaqueta, enquanto o estancieiro usa o chiripá, faixa, guaiaca, jaleco, camisa, lenço poncho e pala. O gaúcho (Figura 5 - a) vestia-se assim nas mais diversas ocasiões. Já a mulher (Figura 5 - b) começa a exibir-se com sua vestimenta, a qual era composta por saia até o pé, camisa e casaquinho leve com adornos - topes, pregas ou bordados -, de manga longa e ajustada, o chale ainda era visto sobre os ombros. No fim desse século os vestidos compridos recebem na parte traseira um aplique de tope comprido. Segundo Acri (1991, p. 144), “Começa-se usar cada vez mais o vestido inteiriço, simples, abotoado nas costas, com broches ou botões e cintos largos de tecido.”.

Figura 5 - Traje gaúcho de 1870 - 1920

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Um marco importante no vestuário desse período foi o advento da bombacha (Figura 5 - a), vinda do Uruguai, que em primeiro momento é utilizada somente pelos pobres e, por volta de 1893 o chiripá já não é mais visto entre os homens. As bombachas eram um tipo de calças bem amplas, feitas de casemira em cores escuras. Surge também a capa gaúcha (Figura 6), “ De formato arredondado, com gola, de tecido impermeável, geralmente de cor cinza, forrada com tecido xadrez. É aberta de cima a baixo, na frente, e fechada por botões.” (ACRI, 1991, p. 143), essa peça era utilizada para proteger-se do frio e da chuva.

Figura 6 - Capa Gaúcha

Fonte: Adaptado de Acri (1991, p. 146)

O último momento relatado por Acri (1991) vai de 1920 a 1984, com algumas mudanças na bombacha que, recebe favos de mel (Figura 7 - a) em sua lateral e, também ganha um novo modelo em brim. O poncho, o pala, o bichará, o poncho-pala e a capa continuam sendo usados pelos homens. As mulheres começam a se vestir de acordo com suas posses, com referência na moda européia e francesa (Figura 7 - b). Em 1948, com a criação do “35” Centro de Tradições Gaúchas, desenvolveu-se o vestido de prenda (Figura 7 - c) “inspirado no traje rural das mulheres uruguaias e em consultas a fotos antigas das famílias gaúchas.” (ACRI, 1991, p. 168). Essa peça mantinha a sobriedade do vestido original da mulher gaúcha.

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Figura 7 - Traje gaúcho de 1920 a 1984

Fonte: Adaptado de Acri (1991, p. 134-175)

Sendo assim, nota-se que a vestimenta gaúcha sofreu muitas transformações no decorrer dos anos e, atualmente, ainda é possível identificar mudanças nessas roupas, pois, de acordo com Camargo (2000, p.155), “A cultura é viva e, enquanto viva, ela se modifica.”. O Rio Grande do Sul busca mostrar os detalhes da sua cultura e personalidade aos diferentes públicos, conforme Camargo (2000), usando seu traje característico com orgulho, seja em ocasiões de trabalho ou lazer, até nos atos oficiais.

2.2.3 Trajes típicos e o design de moda

Usar um traje típico de determinada região é vestir uma história, carregar no corpo uma vestimenta simbólica, repleta de significados. Muito além da moda como uma tendência, os trajes regionais são atemporais e, trazem sua própria identidade cultural, com estilo único que se sobressai das demais vestimentas básicas utilizadas no dia-a-dia. Vestir-se de acordo com a cultura de uma região é sinônimo de respeito e cultivo pela sua tradição.

No mundo da moda designers buscam resgatar a tradição de diferentes regiões, atribuindo novos significados e modelagens mais confortáveis a rotina diária. Para isso, elementos como cores, estampas, linhas e formas das peças típicas de muitas regiões são fontes de design ricas em informações, que possibilitam a criação de novos conceitos que trazem esses trajes como referência. Frings (2012, p. 98) mostra que:

Frequentemente, o designer se volta para o passado (recente ou distante) ou para os trajes folclóricos em busca de ideias e temas. As indumentárias são divididas em

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duas categorias: indumentária histórica, a moda de um determinado período histórico, e folclórica ou étnica, as roupas nacionais ou regionais.

Dessa forma, Angus, Baudis e Woodcock (2015) colaboram afirmando que até as criações mais desordenadas e extravagantes possuem algum fundamento nas tradições, é um equilíbrio entre contrariar e imitar os trajes do passado. Assim, os trajes típicos e seus significados estão presentes na moda como uma forma de mostrar aos consumidores que é possível aderir elementos da sua cultura em seu vestuário, mesmo sem vestir a indumentária em si. Um exemplo disso é a coleção de Carlos Miele, que levou traços da indumentária gaúcha para Novo Iorque, mostrando a beleza da cultura riograndense com roupas em modelagens urbanas e modernas (Revista Donna, 2012).

A coleção do estilista foi apresentada às passarelas da Semana de Moda de Nova Iorque em 2012, trazendo os pampas gaúchos como tema principal. As peças foram pensadas para o vestuário feminino e, sua inspiração se deu através da indumentária gaúcha e da mulher que mostra sua liberdade ao cavalgar pelos pampas. Para dar abertura ao desfile, Miele traz uma composição que remete ao poncho e a bombacha utilizados no estado, o cinto dourado na cintura atribui modernidade ao visual, conforme Figura 8.

Figura 8 – Look inspirado em poncho e bombacha

Fonte: Revista Clichê6

6 Disponível em: <

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Ao analisar a coleção (Figura 9), é possível identificar que os padrões de estamparia usados em algumas peças, como os ponchos e os cintos, remetem as faixas que compõem o traje gaúcho (Figura 10), trazendo os símbolos geométricos como base para a estampa. Além disso, outro elemento que se assemelha à indumentária gaúcha é a paleta de cores, que traz como destaque os tons neutros, como cinzas, variações de marrom e preto que, transmitem tranquilidade, sobriedade e elegância. Ainda, conforme Revista Donna (2012), algumas técnicas artesanais foram atribuídas à produção das peças de Miele, como o bordado com metais e tiras tecidas, tornando-as refinadas e exclusivas.

Figura 9 – Coleção inspirada no RS por Carlos Miele

Fonte: Blog Ana Fritsch7

Figura 10 – Faixa gaúcha

Fonte: Guia da Bombacha8

7 Disponível em: < http://www.anafritsch.com/estilo-gaucho-inspira-carlos-miele/. > Acesso em: 08 abr.2019 8 Disponível em: < http://guiadabombacha.blogspot.com/2010/10/guaiacas-faixas-rastras-juntas-e-etc.html >.

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O designer de moda quando pesquisa características de determinada região, envolvendo a cultura local e seus costumes, se depara com uma gama de oportunidades. As peculiaridades culturais, como peças de um traje regional, são ricas em informações e mostram novas combinações de cores, tecidos, texturas, estampas, acabamentos e modelagens. Dessa maneira, adquirindo esse conhecimento, o designer traz para o mundo da moda um novo olhar sobre diferentes etnias, criando coleções com personalidade e estilo próprio.

2. 3 ELEMENTOS PARA O DESENVOLVIMENTO DA COLEÇÃO

Sabendo que a moda passa por mudanças constantes, os designers buscam reinventar seus estilos para cada nova coleção lançada no mercado. Como afirma Frings (2012, p. 217) “a atual demanda de consumo por moda e exclusividade faz com que a criatividade no design seja mais importante do que nunca”. Logo, buscar novas formas de adquirir conhecimento, sobre os mais variados assuntos, torna-se algo rotineiro e essencial no processo de criação de um designer.

Assim, desenvolver um conjunto de peças compreende inúmeros fatores, entre eles está a busca por inspiração ou temática que guiará o estilo das roupas. Conforme Treptow (2003), uma linha de vestuário deve trazer o estilo de quem a cria, isso fará com que a coleção se diferencie em meio à tantas outras, trazendo originalidade às peças. Treptow (2003) ainda reforça que utilizar tipos específicos de acabamentos, estampas ou texturas - como o bordado - pode ajudar na criação do próprio estilo.

Dessa forma, é importante transmitir a essência do designer para criar uma coleção única e cheia de personalidade. Para isso, é necessário unir os elementos criativos com as questões técnicas, compreendendo os estilos de roupa e quais as categorias de vestuário existentes no mercado, a modelagem, os tipos de tecidos e, as texturas ou estampas que criarão uma unidade visual e trarão harmonia para a coleção.

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2.3.1 Estilos e categorias de vestuário

Frings (2012, p. 60) define estilo como “[...] qualquer característica ou visual particular em roupas ou acessórios”, ou seja, é como cada um transmite sua personalidade através de vestuário e demais peças, de acordo com seu próprio gosto. Nesse cenário, Angus, Baudis e Woodcock (2015, p.40) sustentam a ideia de que “[...] os estilos de peças que alguém escolhe usar carregam uma infinidade de implicações culturais e sociológicas.”, reforçando a perspectiva de que a maneira de vestir dos indivíduos varia conforme seu meio social, sua cultura e seus interesses.

Sobre o início do discernimento de diferentes estilos, Angus, Baudis e Woodcock (2015, p. 40) relatam que “À medida que a civilização tornou-se mais complexa e estável – quando a sobrevivência não era mais a principal preocupação -, surgiram as noções de escolha e de estilo por meio do corte e da modelagem das roupas [...]”. Nesse contexto, com o advento

da moda como um meio de distinguir as classes, criam-se novos estilos e regras de vestuário. Ao longo dos anos essas regras sofreram mudanças e, nos dias atuais ainda

encontramos definições de trajes com estilos específicos para certas ocasiões, tidos como códigos de vestimenta. Posto isto, Gonçalves (2002) confirma que esses códigos foram desenvolvidos para que as pessoas pudessem se vestir adequadamente para diferentes cerimônias, sem passar por maiores constrangimentos. Ainda conforme Gonçalves (2002), os trajes são definidos como: esporte, passeio (esporte fino ou casual), passeio completo e

black-tie (gala).

Dentre esses trajes, o esporte e o esporte fino podem ser considerados como os mais utilizados no dia a dia. Com relação ao traje esporte, Gonçalves (2002, p. 210) diz que este é “O mais simples e informal. Ideal para batizados, almoços, exposições, festas infantis e churrascos.”, ainda, o autor afirma que o traje esporte fino é composto por “Roupas para a cidade (Tenue de ville) com um toque de formalidade. Ideal para vernissages, casamentos de dia ou civil, almoços, conferências, teatro, concertos e formaturas.”. Ainda que esses trajes façam parte de um código, algumas pessoas os carregam como estilo pessoal, adaptando diferentes elementos para trazer combinações mais usuais.

Tendo em vista que os estilos são formados pela composição dos inúmeros tipos de roupas e acessórios, Frings (2012) afirma que para uma melhor definição de modelos, o vestuário pode ser dividido por categorias. Assim, referindo-se ao vestuário feminino, encontram-se os vestidos, as roupas sociais, ternos, linhas activewear, sportswear, entre outros grupos.

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Tratando-se de roupas para o cotidiano, que possam ser versáteis e facilmente combinadas, vale destacar a linha sportswear que, conforme Gonçalves (2002) refere-se à um estilo de roupa utilizada para praticar esportes que vem sendo inserida na moda urbana. Por outro lado, Frings (2012, p. 74) declara que:

Sportswear é qualquer combinação de peças como jaquetas, saias, calças, shorts, blusas e camisas que são vendidas separadamente de modo que o cliente possa combiná-las como desejar. As linhas de sportswear são organizadas em peças separadas ou coordenadas (peças que se destinam a serem misturadas e combinadas), e são muito populares justamente pela variedade de visuais que se pode criar com a combinação de peças.

Dessa forma, Frings (2012) defende que o termo usado para definir as roupas que se destinam a atividades físicas não é mais o sportswear, sendo atualizado para activewear. Uma linha activewear “[...] inclui shorts ciclistas, leggings, camisetas, tops, abrigos de corrida, macacões justos, blusões e casacos de moletom e jaquetas.” (FRINGS, 2012, p. 74). Portanto, o sportswear pode referir-se a roupas práticas e confortáveis que possibilitam montar diversas composições que trazem, ao mesmo tempo, simplicidade e elegância, relacionando-se, nesse momento, com o esporte fino. Dessa forma, sugere-se que a coleção siga esse estilo. Ainda, ressalta-se que as peças que seguem essa linha podem ser utilizadas tanto como um conjunto, quanto para compor outros estilos.

As peças de Sportswear são desenhadas para serem usadas em conjunto. Uma composição equilibrada de saias, calças, blazers, camisas, blusas e outras peças de cima são incluídas em cada grupo para dar aos consumidores opções de escolha. [...] Pode ser feito um blazer básico e um blazer mais moderno, vários comprimentos de saia, uma calça básica e uma versão moderna e camisas e outros tipos de tops com uma variedade de golas e decotes. (FRINGS, 2012, p. 218)

Sendo assim, fica evidente a infinidade de peças e combinações existentes no mundo da moda - com cortes, materiais e elementos variados – as quais podem ser mescladas conforme a preferência de cada indivíduo, possibilitando o surgimento de novos estilos. Nesse viés, Angus, Baudis e Woodcock (2015) afirmam que a sobreposição de novos tipos de tecidos e acabamentos, juntamente com as variadas técnicas de costuras, viabilizam a criação de qualquer ideia vinda dos designers de moda e, esse fato faz com que, frequentemente, criem-se peças inusitadas de vestuário, com modelagens descontraídas e contemporâneas que complementam o estilo dos consumidores.

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2.3.2 Modelagem

Segundo Rosa (2016), a modelagem é uma técnica utilizada para construir roupas. É por meio dela que se estrutura as peças, possibilitando criar formas, volumes e dar o caimento de acordo com o que se deseja. Assim como o modelista, que domina a técnica, é de fundamental importância que o designer possua conhecimento sobre modelagem, pois a criação está ligada à produção, e dessa forma, torna-se mais fácil o entendimento e interpretação dos modelos desenhados.

Conforme Nobrega (2014), uma modelagem bem planejada e executada possibilita a fabricação de peças confortáveis, de maior durabilidade e funcionalidade. É a partir dela que as ideias do designer de moda saem do papel e se concretizam. Dentro dessa técnica pode-se encontrar a modelagem plana (bidimensional) e a moulage (tridimensional).

A modelagem plana, conforme Rosa (2016, p.20) “consiste na arte e técnica da construção de peças a partir do estudo anatômico do corpo humano”, para isso utiliza-se princípios da geometria para a criação de moldes. Esse tipo de modelagem pode ser feito manualmente sobre uma base de papel ou tecido, ou por meio de softwares. Nobrega (2014, p. 30) afirma que:

Para que seja possível realizar os procedimentos técnicos da modelagem plana do vestuário, é preciso partir do princípio da representação do corpo humano por meio de um plano. Isso se dá pelo posicionamento das linhas verticais e horizontais e, ângulos, que se relacionam com o plano de equilíbrio do corpo, simetria, alturas, comprimentos e relações de proporções entre partes.

O termo moulage, de acordo com Angus, Baudis e Woodcock (2015), é derivado do francês moule e significa “molde”. É a técnica de drapejar sobre o manequim ou sobre o corpo de quem usará a roupa. Para Seivewright (2015, p. 114):

Moulage é a técnica utilizada para criar moldes e formas de roupa por meio da

manipulação do tecido no manequim. Dobrar, preguear, franzir e drapear o tecido em uma representação tridimensional permite que o designer trabalhe em formas e técnicas mais complexas que, em geral, são muito difíceis de desenvolver no modo mais convencional de modelagem plana. Modelar o tecido não exige a ajuda de um molde para criar os modelos, mas você pode escolher incorporar parte de um molde existente na preparação.

Embora a moulage possibilite realizar ajustes diretamente no corpo, fazendo com que a peça adquira caimento perfeito, segundo Nobrega (2014), ela é mais utilizada em roupas que fogem do padrão, que precisam ser muito ajustadas ao corpo. Esse tipo de modelagem possui

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a desvantagem de ser mais demorada e menos precisa que a modelagem plana e, devido a isso, o gasto e desperdício de tecidos torna-se maior.

Contudo, a moulage pode ser usada juntamente com a modelagem plana, de acordo com as características das peças e necessidades. Segundo Rosa (2016), apesar de serem diferentes, uma complementa a outra e, são associadas para garantir às peças uma melhor qualidade, realizando a modelagem com mais agilidade e precisão.

Tratando-se de antropometria e sua origem, Nobrega (2014, p.53) afirma:

O termo antropometria tem origem grega e significa anthropo (homem) e metria (medida), e serve para a determinação objetiva dos aspectos referentes ao desenvolvimento do corpo humano. A área é determinada como a ciência que estuda de forma concreta as medidas do corpo humano.

Conforme Nobrega (2014), é através dos dados antropométricos que se determinam as medições de tamanho, peso e proporção do corpo humano para aplicar corretamente aos projetos. Dentro desse contexto, a antropometria é utilizada no vestuário para estabelecer as medidas padrões para a confecção. Para uma peça de roupa ser ergonômica é necessário empregar corretamente esses dados, sem esquecer que “O suporte do produto de moda-vestuário é o corpo humano, que é fisicamente uma estrutura tridimensional articulada em constante movimento” (NOBREGA, 2014, p 52), ou seja, na hora de modelar a roupa, deve-se considerar os movimentos realizados no dia-a-dia dos usuários para que a confecção seja confortável.

Para o desenvolvimento do molde, segundo Nobrega (2014), é necessário ter as medidas fundamentais - busto, cintura e quadril. Porém, ainda existem as medidas auxiliares e complementares, sendo elas: ombro, largura das costas, comprimento do corpo, largura e comprimento da manga, largura e altura do punho, altura do quadril e do gancho e comprimento total. Ao que diz respeito à tabela de medidas, “É muito difícil definir um padrão brasileiro, caracterizando as poucas referências disponibilizadas e encontradas.” (NOBREGA, 2014, p. 54). Sendo assim, dentre as muitas tabelas femininas desenvolvidas, pode-se encontrar o modelo baseado no livro Modelagem Plana Feminina (Tabela 1) e da revista periódica Manequim (Tabela 2):

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Tabela 1 - Medidas de Modelagem Plana Feminina

Fonte: Nobrega (2014, p.58)

Tabela 2 - Medidas femininas baseadas na revista Manequim

Fonte: Nobrega (2014, p.59)

Portanto, as medidas são de suma importância para desenvolver uma linha de vestuário que seja confortável ao usuário, levando em consideração seus movimentos. Embora não haja uma tabela padrão no Brasil, muitas das existentes podem servir de base para tirar as medidas que guiarão a coleção, de acordo com o público que a mesma será destinada.

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2.3.3 Tecidos

Conforme Angus, Baudis e Woodcock (2015, p. 234), “Materiais têxteis revestem o corpo desde os tempos pré-históricos, quando as pessoas aprenderam a produzir agulhas e linhas brutas para ajeitar as peles ao redor do tronco e tratá-las para que não deteriorassem. ” Nos dias de hoje existe uma variedade de fibras e tecidos, desde os de alta performance até os mais requintados e artesanais. Esses materiais têxteis são divididos em duas categorias: os naturais e os sintéticos.

As diferenças entre as fibras naturais e sintéticas (Quadro 1), de acordo com O Grande Livro da Costura (1979):

Quadro 1 - Tipos de fibras

FIBRAS CARACTERÍSTICAS

Natural

Possui irregularidades e sutilezas próprias do que é natural, o que torna o tecido bonito. Conta com alto poder de absorção e porosidade, porém, apresentam pouca elasticidade, tendo tendência a rugas.

Sintética

São obtidas completamente por processos químicos. Se não passados por texturização ou fiação, os filamentos ficam macios e escorregadios. A maioria dessas fibras são termoplásticas, podem ser moldadas em certa temperatura e pressão e, por serem extremamente elásticas, não amarrotam. Alguns tecidos apresentam tendência a desfiar.

Fonte - Adaptado de O Grande Livro da Costura, 1979, p. 56

As fibras naturais são sensíveis a mudanças de temperatura, o que fazem delas uma ótima opção para qualquer estação, de acordo com O Grande Livro da Costura (1979). Elas derivam de quatro fontes principais, sendo elas o algodão, o linho, a seda e a lã (Quadro 2):

Quadro 2 - Fibras naturais

FIBRAS CARACTERÍSTICAS

Algodão

Resistente, absorvente, bom condutor de calor, fácil tingimento, amarrota-se com facilidade, se não tratado devidamente pode encolher, perde resistência sob a luz solar.

Linho

Resistente, absorvente, bom condutor de calor, difícil tingimento, se não tratado pode amarrotar, possui tendência a encolher e esticar.

Seda

Resistente, absorvente, má condutora de calor, fácil tingimento (pode manchar), não amarrota perde resistência sob a luz solar e transpiração.

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Pouco resistente, absorvente, má condutora de calor, fácil tingimento, amarrota pouco, se não tratada pode encolher.

Fonte - Adaptado de O Grande Livro da Costura, 1979, p. 56

Enquanto alguns exemplos de fibras sintéticas são: acrílicas, poliamidas, poliésteres, modacrílicas, blastômeros, acetatos, viscose e tricetatos (Quadro 3), com as seguintes características citadas em O Grande Livro da Costura (1979):

Quadro 3 - Fibras sintéticas

FIBRAS CARACTERÍSTICAS

Acrílicas

Resistentes, pouco absorventes, más condutora de calor, fácil tingimento, não amarrotam, resistentes à luz solar, acumulam eletricidade estática, tendência a bolinhas e sensíveis ao calor.

Poliamidas

Resistentes, pouco absorventes, más condutora de calor, não amarrotam nem esticam ou encolhem, acumulam eletricidade estática, tendência a bolinhas e sensíveis ao calor.

Poliésteres

Resistentes, pouco absorventes, maus condutores de calor, não amarrotam nem esticam ou encolhem, facilidade de vincar pregas com calor, acumulam eletricidade estática, tendência à bolinhas e sensíveis ao calor. Blastômeros Resistentes e elásticos, não absorventes, leves, amarelam sob luz solar.

Acetatos

Um tanto frágeis, absorção média, maus condutores de calor, fácil tingimento (podem perder a cor), amarrotam, não esticam ou encolhem, acumulam eletricidade estática.

Viscose Um tanto frágeis, absorventes, maus condutores de calor, fácil tingimento, se não tratados amarrotam, esticam ou encolhem.

Tricetatos Um tanto frágeis, fácil tingimento, não amarrotam ou encolhem, facilidade de vincar pregas com calor.

Fonte - Adaptado de O Grande Livro da Costura, 1979, p. 57

Dentre todos os tipos de tecido, realizar a escolha certa de acordo com o modelo desenhado é um fator fundamental, pois “A modelagem passa por algumas alterações de acordo com o produto que será confeccionado. ” (NOBREGA, 2014, p. 31). Selecionar o tecido adequado é que o vai garantir as formas e o conforto que a roupa necessita, visto que cada fibra possui um tipo de acabamento que influencia diretamente na modelagem das peças. Outro fator importante é considerar os acabamentos que deseja adicionar às roupas, no caso de um bordado, conforme Kendrick (2017), a escolha correta de um tecido ajudará a economizar esforço e a alcançar o resultado esperado de acordo com a finalidade da peça. Nesse caso, tratando-se de vestuário, o tecido para um bordado deve ser resistente pois o mesmo deverá passar por diversas lavagens.

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2. 3. 4 Bordado

Feitas de ossos de animais, as primeiras agulhas foram vistas na Europa e datam da era paleolítica, há cerca de 15 mil anos atrás, conforme afirma Kendrick (2017). Bem como as agulhas, as linhas eram fortes e também possuíam origem animal, vindas de seu pelo, intestino e couro ou, ainda, eram retiradas de plantas fibrosas. A partir desses elementos, se deu início a costura de roupas, bolsas e abrigos, fazendo uso de couro e peles.

Com o passar do tempo, o bordado passou a ser incluso na costura funcional, servindo como uma técnica para concerto e reforço em tecidos macios. De acordo com Kendrick (2017, p.6) os “padrões de pontos decorativos foram descobertos entre os restos de comunidades que viveram na Europa há aproximadamente 11 000 anos, durante a Idade do Ferro.”. Dessa forma, além das funções básicas de seus primórdios, o bordado passou a ser visto e utilizado como arte decorativa, sendo que os trabalhos mais luxuosos eram símbolo de grande riqueza e status.

Um artefato histórico que mantém a herança do bordado é a Tapeçaria Bayoux que, segundo Costa [2009], possui cerca de 69 m de comprimento e 50 cm de largura, contando com 58 cenas que relatam a conquista normanda da Inglaterra, no ano de 1066. Conforme Kendrick (2017), a peça foi bordada com uma técnica chamada crewel, para a comemoração da vitória de Guilherme, o Conquistador, em Hastings. Algumas cenas da tapeçaria podem ser vistas nas Figura 11 e Figura 12:

Figura 11 – Tapeçaria de Bayeux

Fonte: Ricardo Costa9

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Figura 12 - Tapeçaria de Bayeux

Fonte: Ricardo Costa10

Para Edward (2012), o bordado trata-se de um processo de decoração que torna viável a criação de diversos tipos de desenhos. Seivewright (2015) complementa afirmando que o bordado é uma que técnica consiste em costurar linhas sobre a superfície de um tecido com o objetivo de criar estampas e texturas. Para realizar esse trabalho, utiliza-se uma gama de diferentes tipos de linhas e pontos, sendo que é possível desenvolver tanto os desenhos mais simples quanto os mais detalhados e trabalhosos.

Segundo Braga e Prado (2011), antigamente, era essencial que toda mulher possuísse conhecimentos das técnicas de costura e bordado. Esses ensinamentos eram passados dentro do ambiente familiar como uma forma de recreação em grupos de costura. As meninas mais jovens iniciavam seu aprendizado fazendo exercícios em tecidos de amostra. Conforme Braga e Prado (2011, p. 79):

Moças de classes mais altas deveriam ter a costura e o bordado como uma prenda, para não ficarem ociosas; as mais delicadas buscavam alcançar a sofisticação e o requinte, exibindo seus trabalhos como prova de talento e competência. Já as moças de classes mais baixas aprendiam as tarefas para tê-las como meio de complementar a renda da família, um trabalho que podiam conciliar com as demais atividades do lar.

Ainda de acordo com Braga e Prado (2011), o bordado, além de ter papel ornamental na peça, servia para distinguir os trajes com monogramas das iniciais dos nomes próprios ou palavras e símbolos referentes à atividade profissional. Nesse sentido, para Angus, Baudis e Woodcock (2015) a ornamentação faz parte da história do vestuário e é usada para personalizar as roupas, transformando-as em peças que transmitem significados de uma maneira criativa. Segundo Angus, Baudis e Woodcock (2015, p. 224), o bordado:

Como ornamentação, atingiu o auge no século XVIII. Os hábeis bordadores das manufaturas de seda de Lyon não encontravam rivais na criação de desenhos belos e inovadores, muitos dos quais usavam materiais caros, como fios de ouro e prata, paetês espelhados, contas de massa colorida e até pedras preciosas.

Referências

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