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A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

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A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS HUMANOS NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS

Alessandra Gomes Varisco

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1- Docente do curso de Bacharelado em Direito do Instituto de Ensino Superior de Itapira, advogada, especialista em Direito Processual Civil, em Direito Público e em Língua Portuguesa e mestranda em Educação

Contato: alessandragv@hotmail.com

RESUMO

Os direitos do homem nem sempre foram respeitados, até mesmo porque nem sempre foram considerados como deveriam ser. Antes de ater ao tema presente no trabalho, faz-se mister discorrer breves considerações acerca dos direitos humanos. Direitos humanos são aqueles direitos instituídos pelo homem e inerentes a ele, em oposição ao direito gerados das revelações divinas. Os direitos humanos foram sendo paulatinamente agregados ao longo das Constituições brasileiras e, em especial, na Constituição Federal de 1988, que ampliou o seu rol. Os direitos e garantias fundamentais nela apostos se subdividem em direitos individuais e coletivos, direitos sociais, nacionalidade, direitos políticos e participação em partidos políticos. Alexandre de Moraes (1999) assevera que “os direitos fundamentais nascem para reduzir a ação do Estado aos limites impostos pela Constituição, sem contudo desconhecerem a subordinação do indivíduo ao Estado, como garantia de que eles operem dentro dos limites impostos pelo direito” 1. As normas protetivas dos direitos humanos são de eficácia e de aplicabilidade imediata.

Descritores: direitos humanos; constituições brasileiras.

Artigo recebido em 18/06/2016; aprovado em 16/07/2016.

CONSCIESI - Revista Científica do Instituto de Ensino Superior de Itapira – IESI www.consciesi.com.br / www.iesi.edu.br

1 ALEXANDRE de Moraes. Direito constitucional. p. 58

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INTRODUÇÃO

Os direitos do homem nem sempre foram respeitados, até mesmo porque nem sempre foram considerados como deveriam ser.

Antes de ater ao tema presente no trabalho, faz-se mister discorrer breves considerações acerca dos direitos humanos.

Direitos humanos são aqueles direitos instituídos pelo homem e inerentes a ele, em oposição ao direito gerados das revelações divinas.

Os direitos humanos foram sendo paulatinamente agregados ao longo das Constituições brasileiras e, em especial, na Constituição Federal de 1988, que ampliou o seu rol. Os direitos e garantias fundamentais nela apostos se subdividem em direitos individuais e coletivos, direitos sociais, nacionalidade, direitos políticos e participação em partidos políticos. Alexandre de Moraes (1999) assevera que “os direitos fundamentais nascem para reduzir a ação do Estado aos limites impostos pela Constituição, sem contudo desconhecerem a subordinação do indivíduo ao Estado, como garantia de que eles operem dentro dos limites impostos pelo direito” 2.

As normas protetivas dos direitos humanos são de eficácia e de aplicabilidade imediata.

Evolução dos direitos humanos ao longo das épocas

Muitos autores3 (2004) entendem que o surgimento dos Direitos Humanos se deu no ano de 1.215, com a outorga da Carta Magna pelo rei inglês João sem Terra e outros institutos que refletiam os direitos fundamentais, como o Petition of Rights, o Hábeas Corpus Amendment Act e Bill of Rights.

Outros, ainda, entendem que eles surgiram

2 ALEXANDRE de Moraes. Direito constitucional. p.

58 3 CARLA Liliane Waldow Pelegrini. Considerações a respeito do princípio da dignidade da pessoa

efetivamente com a Revolução Francesa, em 1.789, quando fora proclamada a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.

Porém, muito antes de esses documentos surgirem no plano jurídico mundial, alguns outros já os pré existiam. O rei da Babilônia, Hamurabi, em 1792 a 1750 a.C. já havia escrito o que hoje se denomina Código de Hamurabi, agregado de leis esparsas e costumes do seu povo. Este documento trouxe, como exemplo de alguns direitos humanos, a limitação do poder real absolutista, o direito à moradia, justiça, habitação adequada, segurança contra os perturbadores, saúde e paz. Existiram outros anteriormente a esse Código, não de menos importância, mas não de considerável interesse.

Nessa primeira fase – como é chamada – os direitos humanos foram apenas concessões espontâneas do monarca, que detinha o poder, mas era justo e inteligente.

Desta fase, destacam-se, além de Hamurabi, o imperador Claudius Tiberius, de Roma, Frederico II, da Suábia, imperador das Duas Sicílias e do Sacro Império Romano.

Com o aparecimento de uma forma social de subordinação e opressão social, surge o Estado como instrumento para sustentar a dominação de forma organizada e centralizada.

Nessa época, alguns direitos humanos foram delineados. Em Atenas, já se lutava pelas liberdades democráticas.

Porém, atribui-se à Idade Média o surgimento dos antecedentes diretos dos direitos fundamentais, sob a teoria do direito natural, e o surgimento do humanismo, escola que procuraria dar mais ênfase ao homem – e, portanto, a seus direitos – do que a teologia.

Algum tempo após, surge na Inglaterra, como já mencionado, a Declaração de Direitos (Bill of Rights), que decorreu da Revolução de 1688, firmando a supremacia do Parlamento e surgindo a monarquia constitucional, submetida à soberania popular. Seu principal idealizador foi Jonh Locke, que inspirou a formação de democracias liberais da Europa e América.

Em 1776, surge a primeira Declaração dos Direitos Fundamentais do mundo moderno,

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nos Estados Unidos, inspirada nas ideias dos filósofos iluministas, que tinha como principal característica a proteção dos indivíduos contra arbitrariedade do poder central, além da liberdade de religião, culto, imprensa e a inviolabilidade da pessoa, direito de defesa e de propriedade.

Em 1945, fora firmada, no México, a Carta das Nações Unidas, abrangendo a ideia de respeitos aos direitos fundamentais e, como consequência desse instrumento, nasceria a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 1948, que reconhece a dignidade da pessoa humana com base da liberdade, da justiça e da paz, além de outros ideais. Os primeiros dispositivos proclamam os direitos e garantias individuais, com conotações igualdade, dignidade, não discriminação, direito à vida, à liberdade (de locomoção, de pensamento, de consciência, de religião, de opinião, de expressão, de reunião e de associação), à segurança pessoal, à nacionalidade, de asilo, de propriedade; condenação da escravidão, da servidão, da tortura, de penas ou tratamentos cruéis, inumanos ou degradantes;

reconhecimento da personalidade jurídica;

respeito à intimidade (pessoal, familiar, epistolar e do domicílio); direito de constituição de família; direito de circular e de escolher a residência; proteção igual perante os tribunais, garantia contra medidas arbitrárias; de plena defesa de não retroatividade da lei penal e presunção de inocência até julgamento final;

direitos políticos de participação no governo, de votar e ser cotado, de acesso às funções públicas; garantia de eleições autênticas, periódicas, mediante sufrágio universal e igual e voto secreto ou procedimento equivalente.

Três objetivos foram consagrados nesse instrumento: certeza dos direitos, segurança dos direitos, impondo normas garantidoras dos direitos fundamentais, e possibilidade desses direitos serem eficazmente usufruídos pelos cidadãos.

Para garantir essa eficácia, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem patrocinado a elaboração de Pactos e Convenções internacionais, como o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos e o

Pacto Internacional de direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, da qual o Brasil somente aderiu em 1992. A Europa promoveu a Convenção de Salvaguarda dos Direitos do Homem e Liberdades Fundamentais em 1950, criando a Comissão Europeia de Direitos do Homem e um Tribunal Europeu de Direitos do Homem para assegurar a eficácia da referida Convenção.

O instrumento mais importante, talvez, para os americanos, é a Convenção Americana de Direitos Humanos, o chamado Pacto de San José, na Costa Rica, de 1969, que institucionaliza, como meios de proteção daqueles direitos, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e a Corte Interamericana de Direitos Humanos, que vigora desde 18.06.1978. No Brasil, só veio a vigorar em 1992.

Esses documentos vieram a integrar as constituições nacionais adquirindo caráter de normas jurídicas positivas constitucionais.

Recentemente, observa-se uma internacionalização dos direitos humanos, recebendo proteção supranacional, e alguns desses direitos são impostos pela comunidade internacional, como repressão à escravatura, ao genocídio, à tortura, às discriminações, e a defesa das práticas democráticas, da paz, do meio ambiente, do desarmamento, do desenvolvimento.

Evolução dos direitos humanos nas constituições federais brasileiras

A primeira Constituição do Estado do Brasil foi outorgada em 1824 pelo então imperador D. Pedro II, que instituiu a unidade nacional com províncias autônomas e previu a garantia dos direitos fundamentais para se coadunar com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789. Aqui, fora adotado o bicameralismo, com a previsão de duas câmaras para comporem o Poder Legislativo: a Câmara dos Deputados e a Câmara dos Senadores, dotando os entes deste Poder de maiores liberdades e democracia.

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Já na República, adveio a promulgação da Constituição de 1891, que transformou o Estado Unitário em Estado Federativo, mudando, por consequência, as antigas províncias em Estados-membros. Aqui, manteve-se a garantia aos direitos fundamentais e direitos individuais, porém, não havia uma política que efetivasse a proteção desses direitos.

Na Constituição de 1934, elaborada no governo varguista pela pressão dos constitucionalistas, os poderes da União aumentaram e houve o rompimento do bicameralismo rígido, a autonomia dos municípios, especialmente para eleger prefeitos e vereadores e arrecadação de suas rendas. É dessa Constituição também o direito de voto para as mulheres e a criação de inúmeros direitos trabalhistas, como salário mínimo, jornada de trabalho não superior a oito horas diárias, proibição do trabalho de menores de 14 anos de idade, do trabalho noturno ao menor de 16 anos e trabalho em indústria insalubre ao menor de 18, férias anuais remuneradas, indenização na demissão sem justa causa, proibição da diferença de salário para o mesmo trabalho, por motivo de idade, dentre outros.

A Constituição de 1934 preferiu à proibição da irretroatividade a garantir o direito adquirido. É o que veio no artigo 113, parágrafo 3º: "A lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada". Vai mais longe, portanto, que o direito constitucional anterior. Prefere a linha da Lei de Introdução ao Código Civil.

A professora Ana Cláudia Scarquette (2002) aduz que

“O dilatado grau de intervencionismo econômico e social, que a Constituição de 1934 adotou, repercutiu no alargamento da competência da União Federal, para atender às novas dimensões do Estado, e esse processo de dilatação da competência federal acarretou a correspondente redução da autonomia do Estado-membro.” 4

Os direitos trabalhistas, mais tarde, foram compilados em um livro, a

4 ANA Cláudia Scarquette, Representatividade dos

Consolidação das Leis do Trabalho, vigente até hoje com inúmeras alterações pontuais.

Proveniente do Estado Novo, a Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas, modificou a forma de Estado, voltando ao Estado unitário. Essa Constituição suprimiu o federalismo, a relação dos poderes, a representação, dissolveu o Congresso Nacional e extinguiu os partidos políticos, implantando a ditadura no país. Nessa época, houve o desaparecimento da democracia e das principais garantais fundamentais, como liberdade de imprensa e o direito à livre associação.

Abolido o Estado Novo, o Congresso foi reaberto e os partidos políticos voltaram a ter existência legal. Como o Senado volta a representar a vontade dos entes da Federação, e a Câmara dos Deputados consiste na representação da vontade popular, há o restabelecimento do bicameralismo de equilíbrio, com participação das duas Casas na elaboração da lei.

Em 1967, nova Carta Maior é promulgada, influenciada pela de 1937, ampliando os poderes da União e do Presidente da República. O rol de direitos e garantias foi ampliado, incluindo a proteção aos direitos políticos. Com a crise política da segunda metade de 1968, que culminou com a promulgação do Ato Institucional nº 5, foi totalmente extinta a federação no Brasil durante aquela época.

Em 05 de outubro de 1988 é promulgada a Constituição Federal mais democrática do Estado brasileiro, já que ampliou consideravelmente o rol de garantias fundamentais e direitos humanos. Esta Carta Magna elevou a forma federativa de Estado a cláusula pétrea, não podendo ser alterada nem mediante Emenda à mesma.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Historicamente, não se pode precisar o surgimento dos direitos humanos, tendo alguns documentos datados de época distante.

Os princípios e direitos humanos dele decorrentes surgem verdadeira conquista no meio sócio jurídico, sempre evoluindo, em busca de segurança aliada à liberdade.

O princípio da proporcionalidade, inclusive, aduz que, se dois princípios estiverem em contradição, o pretor deve decidir da maneira que menos prejudique o direito aquém, sopesando valores.

Os direitos humanos pertencem à categoria dos direitos fundamentais positivados de nível constitucional. Nesse mister, cada Estado avalia e introduz em seu sistema legiferante os direitos humanos, através de ratificações de Pactos ou Convenções internacionais, na busca da ampla e constante proteção aos mesmos.

Conclui-se que a cada Constituição brasileira elaborada, o rol dos direitos humanos é ampliado, demonstrando a evolução não somente jurídica, mas também e sobretudo político-social da sociedade brasileira.

REFERÊNCIAS

BARROS, Alice Monteiro de. O trabalho do menor e as inovações introduzidas pela Lei 10.097/2000, Revista Síntese Trabalhista nº 144, jun/2001.

BULOS, Uadi Lammêgo. Constituição federal anotada, São Paulo: Saraiva.

DIAS, Jean Carlos. A prestação jurisdicional como direito fundamental. Revista Júris Síntese nº 37 – set/out/2002.

ESPÍNDOLA, Ruy Samuel. Conceitos de princípios constitucionais. Revista dos Tribunais, 1ª edição, 1999.

FILHO, Ives Gandra da Silva Martins. Evolução histórica da estrutura judiciária brasileira.

Revista do TST, vol. 65, nº 1/1999.

MATTOS, Mauro Roberto Gomes de. Da dispensa da licitação para a contratação de advogado. Júris Síntese nº 16, mar/abr/1999.

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional.

5ª ed. São Paulo: Atlas. 1999.

OLIVEIRA, Ramom Tácio de. Manual de direito constitucional. Belo Horizonte: Del Rey, 2000.

PELEGRINI, Carla Liliane Waldow.

Considerações a respeito do princípio da dignidade da pessoa humana. Júris Síntese nº 46 – mar/abr/2004.

SCALQUETTE, Ana Cláudia Silva et al.

Representatividade dos estados e pacto federativo. Revista Direito Mackenzie nº 1/2002.

A autora declarou não haver qualquer potencial conflito de interesses referente a este artigo.

Referências

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