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Estabeleceu a tenda entre nós

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Academic year: 2022

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SEMANÁRIO DA DIOCESE DE COIMBRA | DIRECTOR: A. JESUS RAMOS ANO 100 | N.º 4863 | 23 DE DEZEMBRO DE 2021 | 0,75 €

visite-nos em: facebook.com/correiodecoimbra | youtube.com/correiodecoimbra | correiodecoimbra.pt

PARTIU DA COMUNIDADE DE COIMBRA NO DIA 20

OBRIGADO, IRMÃ INÊS, POR QUANTO NOS DEU, E QUE DEUS A ACOMPANHE

Serva de Nossa Senhora de Fátima, a Irmã Inês foi assistente religiosa no Hospital Geral e Universitário de Coimbra e religiosa comprometida em vários serviços na diocese.

E

stamos a celebrar o Natal do Senhor. Gostaria de desejar a todos os homens e mulheres da nossa Diocese de Coimbra um Santo e Feliz Natal!

Estamos a viver este Natal em circunstâncias particulares: ainda pesam sobre nós os problemas da pandemia e os problemas de cará- ter económico e, nalguns casos, de caráter familiar, laboral e tantos outros. Mesmo na Igreja, estamos também a viver um tempo em que precisamos de renascer, de reiniciar e de retomar uma prática de vida cristã que, porventura, fomos perdendo ao longo dos últimos tempos.

Este tempo de Natal do Senhor é o tempo mais apto para renascer- mos de verdade dentro de nós próprios e fazermos renascer a Igreja e a sociedade humana, de que todos somos membros.

No Natal, centramo-nos numa pessoa: Jesus, o Cristo, o Filho de Deus que o Pai enviou para vir ao nosso encontro e assumir toda a nossa realidade humana, para poder identificar-se com ela e elevar- -nos até aos mais alto das nossas aspirações, dos nossos sonhos, dos nossos desejos, das nossas esperanças; elevar-nos, assentando, preci- samente, n’Aquele que desceu para nos fazer subir, n’Aquele que por nós, depois, morreu e ressuscitou – para nos resgatar dos caminhos vãos que, porventura, tenhamos percorrido.

Este ano, na Diocese de Coimbra, estamos a viver o Natal com uma marca muito específica, que vem desde o início do ano pastoral: es- tamos muito voltados para os jovens. A Igreja que nós somos volta-se para os jovens com carinho, com um abraço muito grande no qual quer envolver a todos, procurando ser espelho daquele abraço de Deus que, por meio de Jesus, quer envolver todas as pessoas, sendo que nós este ano salientamos, de um modo especial, os jovens.

Caríssimos jovens, este é um tempo de Graça. Esta é a oportunidade que todos temos para irmos ao Presépio, para nos encontrarmos com Cristo, para pensarmos nos outros, para ensaiarmos novos modos de ser, novos modos de estar e novos modos de viver que sejam verdadei- ramente transformadores a partir deste Cristo que conhecemos e que queremos conhecer cada vez melhor; deste Cristo que vem ao nosso encontro e nos acompanha; deste Cristo que faz parte das nossas vi- das, se fazemos caminho com Ele, na fé.

Tenho também presentes neste momento todos aqueles irmãos e irmãs que estão doentes, que estão encarcerados, que são idosos, que estão sós, que vivem situações familiares ou relações sociais difíceis, que estão, porventura, pobres e fracos no seu caminho de fé… - deixo- -vos, a todos vós, uma palavra de conforto e de consolação, em nome do Senhor Jesus Cristo, que veio, vem e está presente no meio de nós, para nos consolar e para nos ajudar a sair de algumas situações mais difíceis em que nos possamos encontrar.

Que este seja um Natal renovado na esperança e no desejo que temos de estarmos uns com os outros, celebrando o grande Dom que rebemos.

A todos, um Santo e Feliz Natal!

[Videomensagem, com edição de texto do Correio de Coimbra.

Disponível em vídeo no canal do youtube da Diocese]

Mensagem de Natal

||||||||||||||||||||||||||||||||||||||| VIRGÍLIO ANTUNES

Imagem da Igreja do Seminário de Coimbra

Amanhã celebramos a consoada e a Missa do Galo; sábado, o Dia de Natal! Que neste tempo, tão particular e tão humanamente marcado por tantas inquietações e incertezas, o Espírito do Menino Deus desça à nossa vida, aos nossos lares, às nossas famílias.

E, para nos ajudar a penetrar no mistério da Incarnação, o Correio de Coimbra traz hoje aos seus leitores um alargado dossier “Natal”.

> páginas 3 a 5

‘Estabeleceu a tenda entre nós’

MENSAGEM PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ 2022

COM O FOCO NO DIÁLOGO ENTRE GERAÇÕES, EDUCAÇÃO E TRABALHO

“Como é urgente promover em todo o

mundo condições laborais decentes e dignas, orientadas para o bem comum e a salvaguarda da criação!”, escreve o Papa Francisco. > Última

O Correio de Coimbra deseja a todos os seus amigos, colaboradores e leitores um Santo e Feliz Natal e um Bom Ano Novo.

> Voltamos no dia

6 de janeiro.

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2 Diocese

“Ciclo” oferecido pela Confraria da Rainha Santa Isabel Visitas gratuitas ao Mosteiro de Santa Clara-a-Nova Dentro do programa de Natal da Confraria da Rainha Santa Isa- bel, iniciou-se no dia 15 de dezembro um ciclo de visitas guiadas gratuitas ao Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, que se vai prolon- gar até ao dia 5 de janeiro. Este ciclo é também um modo da Confraria da Rainha Santa Isabel se associar à Candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Cultura.

As próximas visitas estão marcadas para 26 e 29 de dezembro e 2 e 5 de janeiro (dias de domingo e quarta-feira), sempre pelas 15 horas. A aferir pelas já decorridas, cada visita tende a demorar cerca de uma hora e trinta minutos.

Apesar das visitas guiadas terem entrada gratuita, é necessária a inscrição prévia dos visitantes, ou presencialmente na Igre- ja da Rainha Santa Isabel, ou através dos telefones 239441674 e 918048310 da Confraria da Rainha Santa Isabel, ou ainda para o e-mail <secretario@rainhasantaisabel.org>.

A caminho da JMJ Lisboa 2023

No dia 23 de cada mês há vigília de oração!

No dia 23 de cada mês, já sabemos, há noite de vigília de oração no âmbito da preparação da Jornada Mundial da Juventude, sempre às 21h30, na Sé Velha. A iniciativa é uma proposta na- cional a ser vivida em cada diocese. Na diocese de Coimbra, a vigília desta noite, 23 de dezembro, vai ser organizada pela Equipa de Conteúdos do Comité Organizador Diocesano (COD) da JMJ Lisboa 2023.

Uma forma de ajudar o Instituto Universitário Justiça e Paz Encomende o jantar de Final de Ano no IUJP

O Instituto Universitário Justiça e Paz está a oferecer aos inte- ressados a possibilidade de encomendarem a refeição de Natal e/ou Final de Ano no Restaurante e Bar do Instituto, em forma- to de recolha (take away). Na página do IUJP, na Internet, estão disponíveis todas as informações necessárias (ementas, preços, horários...). Os responsáveis lembram que ao comprar no Justiça e Paz - Restaurante e Bar, as pessoas estão a apoiar a missão so- cial, cultural e religiosa do Instituto.

PUB

N

o domingo, 19 de dezem- bro, ‘São Nicolau’ veio visitar os meninos e me- ninas da comunidade ortodoxa, maioritariamente constituída por ucranianos imigrantes en- tre nós, no seu lugar de culto em Coimbra (capela de Santo Antó- nio, na Portela). Veio trazer-lhes

“presentes” depois da celebração eucarística, embora já durante a própria celebração houvesse lu- gar a pequenos doces.

É, como se percebe, uma figu- ra similar ao Pai Natal do Oci- dente, mais ainda ao ‘Menino Jesus’ da tradição popular católi- ca, mas numa celebração comu- nitária religiosa especialmente

dedicada às crianças, e em que estas dirigem mensagens ao São Nicolau, que depois retribui com um presente.

O Pe. Ivan Buahkov, que acom- panha estes cristãos, aproveita todas estas festividades da cul- tura própria dos ortodoxos para ajudar a construir entre eles um espírito de comunidade. E apro- veita o tempo no final da missa para incentivar à participação, animar, apresentar iniciativas e projetos, contar histórias, falar com as pessoas... Nas celebra- ções tem sempre a preocupa- ção da integração de todos. Por exemplo, na missa do último domingo, apesar de ter o centro

nas crianças e do ritual orto- doxo ser extremamente longo, mesmo assim o Pai-nosso foi rezado em 5 línguas diferentes.

Entre as informações dadas em português, registamos a de que há alguém anónimo disponí- vel para ajudar com donativos concretos quem esteja numa si- tuação de grande necessidade; e uma pequena explicação sobre a diferença de calendário entre os católicos e os ortodoxos na ce- lebração do Natal, com o subli- nhado de que o Natal é um só, de que a data é o menos relevante.

No calendário ortodoxo o Natal é celebrado no dia 7 de janeiro. E, claro, vai haver festa outra vez.

CELEBRAÇÕES RELIGIOSAS E CULTURAIS CIMENTAM A COMUNIDADE

‘São Nicolau’ visitou os meninos das

famílias ortodoxas imigradas em Coimbra

PROPRIEDADE

Seminário Maior de Coimbra

Contr. n.º 500792291 | Registo n.º 101917 Depósito Legal n.º 2015/83

DIRETOR

A. Jesus Ramos (T.E. 94) DIRETOR ADJUNTO Carlos Neves (T.E. 1163) ADMINISTRAÇÃO Communis Missio - Instituto Diocesano de Comunicação Centro Pastoral Diocesano Coimbra Rua Domingos Vandelli, nº 2 3004-547 Coimbra REDAÇÃO

Miguel Cotrim (C.P. 3731 A) PAGINAÇÃO

Frederico Martins

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A

proximidade do Natal é motivo para diferentes cantares ao Menino, de raiz mais popular, ou mais litúr- gica, ou ainda mais erudita.

No sábado, 18 de dezembro, a Confraria da Rainha Santa Isa- bel e a Liga dos Amigos da Con- fraria promoveram um concerto

de Natal com o Coro de Santo Agostinho, na Igreja do Convento de Santa Clara-a-Nova.

No domingo, 19 de dezembro, o Seminário Maior promoveu também um concerto solidário, com o Coro da Missa das 11h. A receita reverteu a favor de idosos mais carenciados e isolados.

NA PREPARAÇÃO PRÓXIMA DO NATAL

Organismos eclesiais promovem concertos

D

iferentemente dos anos anteriores, com várias celebrações em diferentes comunidades e espaços de culto, a Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos este ano vai congre- gar as diferentes confissões cris- tãs que se associam numa única celebração, a realizar na igreja de São João Baptista, em Coimbra, no dia 21 de janeiro às 21h. Partici- pará também o Bispo de Coimbra.

Todos os cristãos são con- vidados a participar nesta ce- lebração, que seguirá o guião preparado pela Comunidade de Grandchamp (uma comunidade monástica que congrega irmãs de diferentes igrejas e países) em união com o Conselho Pon- tifício para a Promoção da Uni- dade dos Cristãos e a Comissão Fé e Constituição do Conselho Mundial de Igrejas.

UNIDADE DOS CRISTÃOS

Celebração em São João Baptista

JORNADAS DE FORMAÇÃO PERMANENTE

Nos dias 18 e 19 de janeiro, sob o tema

“Sonho uma Igreja Sinodal”, para aprofundar a formação bíblica, teológica e pastoral.

inscrições em:www.diocesedecoimbra.pt

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33

Correio de Coimbra Natal

T

AL como são, os nossos natais que festejam? A roupagem de uma pará- bola, o Mistério a que ela reme- te, ou… um disfarce do vazio?

Parar na roupagem mítica é abdicar de ver dentro. Perder o Essencial. Falamos (ainda!) do

‘natal’, e calamos a Incarnação.

A Parábola do Presépio figura a fé diluída de uns e a evasão de muitos. Periféricas ambas.

As narrações ‘da Infância’

contam, ou encenam o que di- zem? Para aludir ao Dar-Se de Deus, Mat. e Luc. recorrem a uma figuração simbólica: Su- gerem o que não se deixa di- zer em termos da experiência terrena. Escrevem à Luz da Ressurreição, largas décadas depois.

A sua ‘figuração’ do Presépio inverte os critérios vulgares. É aos pobres, pastores rudes, que a Novidade de Deus fala. Mes- mo se marginais à ‘religião’. E eles, como os Profetas anun- ciam (Is.61; Luc.4, 18), acolhem o Salvador Prometido. Os mes- tres da Lei, sacerdotes e outros afins do Templo, não. Ausentes do Presépio. Só eles?…

S

INAIS ao modo de Deus! A chamar-nos à Disponibi- lidade dos simples − que começam a abrir-se à Boa Nova em Pessoa. Nós, por omissão ou demissão, vamo-nos alheando de uma Referência Incontorná- vel da Fé. O DAR-SE mesmo de Deus. Na Pessoa de Seu Filho Unigénito. Igual ao Pai.

A Crise dos nossos ‘natais’ é um sintoma. O natal banali- zou-se, porque os cristãos dei- xámos esvaziar a nossa Relação a Deus. A nível de pessoas e co- munidades. Atidos ao verniz do

‘religioso’ e à inércia do senti- mento, deixámos empobrecer a Densidade da Fé.

Por isso, a resposta, re-Forma- ção da Fé!, tem de começar por aí. Teremos a Coragem-Sabedo- ria de re-PARAR − no impensável a acontecer? De pedir a Deus, e propor ao Seu Povo, que nos centremos no Seu DAR-SE?

D

EUS AMA-NOS de tal modo que nos dá o Seu Filho (Jo.3, 16). O DAR- -SE mais Inimaginável! Se nem o Natal nos faz ver o DOM de Deus (Jo.4, 10), se não chegamos

à Sua Incarnação − que fica da Cristã? Uma lenda ou qua- dro de costumes, algum gesto de boa-vontade, verniz de emo- ções, votos de bom-tom social?

Presépios desfigurados!

E o Escândalo maior é a aco- modação com que, responsá- veis de igrejas e famílias, ab- dicamos de olhar. Anos e anos, séculos!, onde se vê um Projecto de Pastoral Global a re-situar o Povo de Deus na Centralida- de do Mistério da Incarnação?

Será que é ajudado a abrir-se ao Encontro com Deus? A cultivar o Fulcral da FÉ? A motivar-se para a incarnação-testemunho da Fé na sociedade?

P

ORQUE o Filho de Deus incarnou, NÃO HÁ outro Caminho de Salvação.

Jesus ‘viveu Deus’ no próximo:

toda a gente. Não foi ‘clérigo’

do Templo. Não veio/vem para, uma vez no ano, se apelar a uns gestos de ‘boa consciência’. Qui- çá sem mais integração.

E isto temos de o aplicar ao nosso contexto. Com visão lar- ga e de modo estruturado: À escala humana, e ecológica.

Por coerência humana e por Fi- delidade à Incarnação. A Sua, de Verbo Humanado, e a nossa.

Isto sim, será viver no concre- to a Incarnação. Programa de Deus, para todos!

«O

VERBO fez-Se Car- ne» (Jo.1, 14). «A Luz brilhou nas trevas, e as trevas não a dominaram»

(Jo.1, 5 gr., cf. Is.45, 23). «Não a detiveram» (Prière du temps présent [a Liturg. das horas, franc.], p. 703).

Andamos como que alheados dos Imperativos e Dimensões da Incarnação. De tanto se ape- lar a rituais e “espiritualidades”

(que nomes!), acomodámo-nos à ‘des-incarnação’. Aprendizes de Platão (+347 a. C.), ou segui- dores da Boa Nova?

E

ISTO num mundo que olha tudo pela rama.

O ambiente cultural já não se foca em Deus – nem no Humano. Vai longe o tem- po em que as igrejas se en- chiam… nestes dias! Para sossegar, iludimo-nos. Mas ignorar a situação ou falar em abstracto, não é resposta. Va- mos fingir que tudo está bem?

Como tornar significativo hoje que o Filho de Deus Se tornou

‘verdadeiramente homem’?

Em verdade nenhum fini- to sabe falar de Deus. Mas to- dos podemos/havemos de ser Presença do Seu Amor. Missão para todos os crentes, e sobre- tudo os Cristãos. Iremos acei- tar que esta Problemática nos interpele? Se não nos abrimos

− Caminho sinodal – ao Misté- rio da Incarnação, é fictícia a

“luz” dos nossos natais.

(P)REFERÊNCIAS

A Parábola do Presépio

J. Oliveira Branco

A Crise dos nossos

‘natais’ é um sintoma. O natal banalizou‑se, porque os cristãos deixámos esvaziar a nossa Relação a Deus. A nível de pessoas e comunidades.

Atidos ao verniz do ‘religioso’

e à inércia do sentimento, deixámos empobrecer a Densidade da Fé.

Num número necessariamente cheio de “Natal” por parte dos nossos colaboradores, propusemo-nos ir ainda mais além e pedir quatro colaborações específicas sobre o tema, com olhares a partir de quatro diferentes reflexões e expressões: perspetiva teológica (Nuno Santos), bíblica (Carlos Delgado), cultural (Martinho Soares) e artística, com referência “à nossa” própria arte (Cidália Santos, sobre um “presépio”

de Nunes Pereira).

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4 Dossier Natal

P

odemos falar teologica- mente do Natal de muitas maneiras e a partir de mui- tas perspetivas: podemos pensar na simplicidade do presépio; po- demos problematizar a falta de espaço nas hospedarias para Jesus nascer; podemos pensar quanto o estábulo de Belém nos fala de periferias; podemos considerar a união e na confiança da Família de Nazaré; podemos falar das duas

‘maneiras’ de chegar a Belém:

como pastores ou como Magos.

O presépio é o lugar onde a teologia se faz, nasce e se reve- la. Cada figura pode abrir-nos a uma narrativa de comunhão e de provocação, de alegria e de esperança. Trata-se de um mis- tério tão sublime que é mais da ordem da contemplação do que do pensamento. Aliás, diante do presépio faltam sempre palavras para dizer tão grande mistério.

Precisamente por isso, por jul- gar que as palavras são insufi- cientes diante de tão grande luz, sempre me questionou o início do evangelho segundo S. João.

Diz o texto que no princípio exis- tia o verbo. A palavra ‘verbo’ é a tradução do original grego Logós, que significa: palavra, discurso, verbo. Ou seja, no princípio exis- tia a palavra. Qual palavra?

A

missa do dia de Natal tem duas leituras que, subli- nhando o sentido teológi- co mais profundo, nos ajudam a

compreender melhor o prólogo de João. Eu arriscaria resumir na ex- pressão: ‘das palavras à Palavra’.

Na segunda leitura do dia, He- breus (1,1-2), escutamos: “Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus aos nossos pais, nos tempos antigos, por meio dos profetas.

Nestes dias, que são os últimos, Deus falou-nos por meio do Fi- lho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, e por meio de quem fez o mundo”.

D

eus sempre comunicou com a humanidade, com a (sua) criação. Deus co- municou no AT essencialmente pelos profetas, fez-se presença junto do Povo Eleito. Um Deus que não abandona o seu povo, que o anima e o alimenta no de- serto. O Céu dialoga com a terra intermediado por palavras e por vidas que se tornam instrumen- to de presença e sinal do alto.

Contudo, como alerta o autor do NT, nestes dias e nestes tem- pos, Deus ‘falou-nos por meio do seu Filho’. Deus comunica-se plenamente e totalmente numa vida que nasce – Jesus. Já não precisa mais de profetas, nem de intermediários para se dizer. Diz- -se totalmente incarnado numa vida concreta. A comunicação de Deus passou ‘das palavras à Pala- vra’, dos ‘verbos ao Verbo’.

Deste modo, escutamos no evangelho do dia de Natal, depois do texto de Hebreus: “No princí-

pio existia o Verbo; o Verbo estava em Deus; e o Verbo era Deus. (...) E o Verbo fez-se homem e veio ha- bitar connosco” (João 1,1.14a).

No princípio está a Palavra, a força de um faça-se, a Palavra que é eterna e que cria, o Verbo que faz acontecer a vida. Con- tudo, a Palavra não está ape- nas no princípio (cronológico) de tudo, está também na base (fundamento) de tudo!

O fundamento é Deus, o princí- pio e a origem da nossa história e das nossas palavras. Essa origem ganha novo folgo e nova graça na plena presença de Deus que o Na- tal traduz: fez-se homem e veio habitar no meio de nós.

P

or isso, estes dias são os últimos, já não podemos esperar nada mais senão o acolhimento nas nossas vi- das (e na sociedade) desta Boa Nova, desta Palavra Eterna, des- te Deus que se fez menino, deste Céu que se faz terra e deste Deus que se faz Homem.

Um Deus ‘Emanuel’, um ‘Deus connosco’, um Deus próximo e a habitar no meio de nós, da nos- sa vidas, das nossas decisões, do nosso dia a dia.

Esta Palavra Incarnada pode ser a força e a inspiração das nossas palavras e, sobretudo, dos nossos gestos. É nesta Palavra performativa que devemos cons- truir o nosso dicionário e a nossa gramática existencial e afetiva.

UM OLHAR NA PERSPETIVA DA TEOLOGIA

Das palavras à Palavra

Nuno Santos

É

difícil encontrar tema mais vezes represen- tado na história da arte ocidental e, quiçá, mundial. O relato do nascimento de Jesus é, muito provavelmente, a mais célebre e univer- sal de todas as histórias. Do teatro ao cinema, das artes plásticas à poesia, da cultura erudita à popu- lar, o tema do Natal exerceu, sobretudo no último milénio, um fascínio incomparável sobre artistas um pouco por todo o mundo, por vezes até no de matriz cultural não cristã.

Cingindo-me apenas, entre as artes, à Literatura, e, geograficamente, ao território português, pode- mos constatar que as referências ao Natal despon- tam na poesia e no teatro medieval com mestre André Dias (1348-1437), e depois nalguns autos de Gil Vicente, como o bem conhecido auto da Visitação, com que o notável dramaturgo se estreou perante a corte de D. Manuel I, em 1502. O tema atravessa o Maneirismo, o Barroco, o Romantismo e chega aos nossos dias com uma presença e pujança inigualá- veis. Poucos foram os poetas e prosadores da his- tória da Literatura portuguesa dos últimos séculos que não se deixaram encantar pela incrível histó- ria do Deus feito menino, posto numa manjedoura.

Já o lado de celebração festiva e familiar que esta cena religiosa acabaria por desencadear, e que hoje é dominante, surge pela primeira vez, na nossa literatura, num soneto de D. Francisco Ma- nuel de Melo (1608-1666), intitulado precisamente:

“De consoada a uma sua prima”. Contudo, no sé- culo anterior, já António Ribeiro Chiado alude na Prática dos Compadres ao convívio entre familia- res e vizinhos, bem como à cerimónia da missa do Galo. No prefácio à antologia onde reúne al- guns dos mais belos contos de Natal da literatura portuguesa, Vasco Graça Moura (Gloria in Excelsis – Histórias Portuguesas de Natal, Coleção Mil Fo- lhas – Público, 2003) apresenta um interessante apanhado histórico desta temática e sua expres- são nas letras nacionais.

Sem me querer alongar demasiado numa ma- téria que daria pano para mangas, gostaria tão simplesmente de dar a voz quem melhor do que eu e do que a maioria de nós leitores soube pôr em verso tema tão caro. O poeta é Alexandre O’Neill, poeta fervilhante, provocador e pouco dado a convenções. O seu Natal é tudo menos pitoresco.

O quadro é tudo menos típico. Estamos longe da sossegada contemplação irradiada de luz. O que aqui vemos são sombras projetadas por dramas sociais de um povo pouco dado a histórias felizes, mais propenso ao calvário que ao presépio. Deixe- mos que o absurdo traga alegria aos nossos dias, mesmo se atravessados por maleitas (já não suí- nas mas de idêntica estirpe) e aflições, pois “um pequeno absurdo às vezes chega para salvar”. E que esta “faca do absurdo venha afiar a faca da nossa embotada vontade”.

UM OLHAR PELA PERSPETIVA CULTURAL

Natal, um absurdo com sentido

Martinho Soares

«Dai-nos, meu Deus, um pequeno absurdo quotidiano que seja, que o absurdo, mesmo em curtas doses,

defende da melancolia e nós somos tão propensos a ela!

Se é verdade o aforismo faca afia faca (não sabemos falar senão figuradamente sinal de que somos pouco capazes de abstração).

Se faca afia faca,

então que a faca do absurdo

venha afiar a faca da nossa embotada vontade, venha instalar-se sobre a lâmina do inesperado e o dia a dia será nosso e diferente.

Aflições? Teremos muitas não haja dúvida.

Mas tudo será melhor que este dia a dia.

Os povos felizes não têm história, diz outro aforismo.

Mas nós não queremos ser um povo feliz.

Para isso bastam os suíços, os suecos, que sei eu?

Bom proveito lhes faça!

Nós queremos a maleita do suíno, a noiva que vê fugir o noivo, a mulher que vê fugir o marido,

o órfão que é entregue à caridade pública,

o doente de hospital ainda mais miserável que o hospital onde está a tremer, a um canto, e ainda

ninguém lhe ligou nenhuma.

Nós queremos ser o aleijado nas ruas,

a pedir esmola, a esbardalhar-se frente aos nossos olhos.

Queremos ser o pai desempregado que não sabe que Natal há de dar aos seus.

Garanti-nos, meu Deus, um pequeno absurdo cada dia, um pequeno absurdo às vezes chega para salvar».

(Alexandre O’Neill, Poesias Completas, Lisboa, Assírio & Alvim, 2012, p. 520)

“Aprendamos de Nossa Senhora este modo de reagir: levantarmo-nos, sobretudo quando as dificuldades ameaçam esmagar‑nos.

Levantarmo‑nos, para não ficarmos reféns dos problemas, afundando na autopiedade ou caindo numa tristeza que nos paralisa.”

(Papa Francisco, Ângelus, 19 de dezembro)

(5)

5

Dossier Natal

O

tema do Natal, por si só, já é vasto, mas falar des- te tema na Arte, torna-o imenso. Quando falámos e pen- samos no Natal salta-nos logo à ideia o Presépio, o qual é cons- truído em inúmeros lugares: nas casas, nas igrejas, na rua…; e, a sua própria construção, logo, co- loca-nos a caminho deste Misté- rio, em que pequenos e graúdos, vivenciam-no com uma alegria e calor no coração imensos. Pois Ele está a chegar! E todos O que- rem admirar e contemplar.

As primeiras representações artísticas acerca da Nativida- de remontam aos séculos II-IV, quando falamos das pinturas nas catacumbas, onde eram pintadas com o intuito de ilus- trar o Nascimento de Cristo re- latado nos Evangelhos de Lucas e Mateus. No entanto, esta pin- tura cristã, não era de cariz de- corativa, mas profundamente simbólica. Embora no início, a cena da Natividade traduzisse somente o essencial da narra- ção evangélica, com o passar dos tempos, ela foi ganhando dimensão e dando espaço à cul- tura popular. A necessidade do espírito e a apreciação da ima- gem foram e serão o alimento

da piedade popular. Como re- feriu, certa vez, o Pe. Nunes Pe- reira «o povo, como é sabido, só vive aquilo em que toma parte», pois o povo sente necessida- de de dar expressão a essa fé.

E, essa vivência, esse tomar parte, reflecte a alegria e a festa que as pessoas e toda a humanidade vivem e celebram, tanto à mesa da consoada em frater- nidade e alegria como em volta do Presépio, em que todos são con- vidados a ofertar o me- lhor que têm.

Assim, ao apreciar- mos uma imagem, e neste caso concreto, a Natividade do Senhor, o que contemplamos vai para além da simples pin- tura ou escultura; é a vivên- cia de uma mensagem com validade profética intemporal.

E, Monsenhor Nunes Pereira, padre e artista da Diocese de Coimbra, vivenciou plenamente, como inscreveu de variadas for- mas este mistério na sua arte;

pois, aliou de modo magistral a fé com a arte.

Das várias ‘Natividades’ gra- vadas pelo artista Nunes Perei-

ra, em que nenhuma peça é igual, a peça escolhida remonta ao ano 1990.

Gravada em madeira a topo e posteriormente impressa em

papel, esta Natividade re- presenta: à direita numa posi- ção de maior destaque, sentada, Maria tem as mãos postas em oração e olha para o Menino

com imensa ternura. Envolta no manto, tem cabelo solto e na cabeça uma auréola, o

maior de todos os símbolos, pois revela a sua grandeza diante dos olhos de Deus.

O Menino enfaixado, está deitado no chão, sobre uma esteira, donde da ca- becinha sobressai uma auréola cruciforme. À es- querda, São José que se

encontra sentado frente a Maria, segura o seu cajado e olha para Ela, apreensi-

vo e tentando compreen- der todo este Mistério.

O burro e a vaca encon- tram-se por detrás da manjedoura; embora não constem dos relatos bíblicos, estão sempre representados nas cenas da Natividade. E, acima do estábulo brilha uma estrela.

Esta peça congrega em si, o sinal evangélico bem como a fé inscrita na imagem. A Nativi- dade de Jesus, no presépio, não representa ser sinal de pobreza;

mas sim, sinal de humildade, de proximidade e de acolhimento para todo o mundo. Acolhimen- to esse firmado na fé nos conduz a Jesus Cristo.

UM OLHAR NA PERSPETIVA DA ARTE

A “Natividade” de Nunes Pereira

Cidália Santos

O

mistério da incarnação hoje é um “dogma fun- damental do cristianis- mo”, no dizer de grandes teólo- gos como K. Rahner, que chega mesmo a afirmar que “a incar- nação de Jesus é como que o cume e centro da divinização do mundo”. Alguns chamam- -lhe “secularização” (no sen- tido positivo) do Filho de Deus (Sabugal, Rahner, Auer, Guar- dini, Balthasar…). Sem dúvida que é uma das verdades cen- trais da fé cristã, professada logo pelas comunidades cristãs primitivas, e certamente, com certa admiração proclamavam a incarnação do Filho de Deus, manifestado na carne, e carne de pecado, da linhagem de Da- vid, nascido de uma mulher.

Esta expressão de fé tem o seu ponto culminante no belíssi- mo prólogo de João (Jo 1,14):

“E a Palavra fez‑se carne: es‑

tabeleceu a tenda entre nós e contemplámos a sua glória;

glória como unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade”.

Vale a pena reparar, nestas e noutras expressões, que há aqui como que uma tríplice grada- ção deste abaixamento do ser

divino: começa por dizer que se faz carne, ou seja frágil, e o mesmo é dizer que o eterno se torna temporal; depois fez- -se homem, em tudo igual a nós, excepto no pecado; e por fim quis ficar (acampou) entre nós! E para quê? Para fazer a vontade do Pai (Jo 6,38), numa

atitude filial de amor servicial (Fil 2, 6-11): tomou a condição de servo, fazendo-se semelhan- te ao homem, numa atitude de humilhação. Mas esta forma de epifania não é fim em si mes- mo; tem uma finalidade que é redentora e que se prolonga no Corpo de Cristo, que é a Igreja.

O ‘como’ da incarnação pode resumir-se apoiado também no texto do prólogo de João: foi ge- rado por Deus, concebido pelo Espírito Santo, em Maria, tor- nando-se assim presente no ser humano, sob a ação e pelo dom do Espírito Santo. Também isto aconteceu na história da Igreja nascente e acontece em cada batismo. Deste modo se inicia uma nova humanidade na li- nha da descendência da mu- lher, que lhe esmaga a cabeça, mesmo que lhe morda o calca- nhar. (Gn 3,15).

Fazer-se “carne” tem também o sentido de mistura com a fra- gilidade humana e está tam- bém subentendido no querer ser batizado por João Batista, na fila de pecadores, que querem ser purificados para acolher bem o Messias, que vem. E nes- se momento há uma verdadeira

epifania, descrita pelos quatro evangelistas.

“Estabelecer a tenda entre nós” tem o sentido de se fixar, permanecer, morar, que já no Antigo Testamento dera sentido ao construir do tabernáculo no deserto (Ex 33, 7-11; Lv 26,12) e depois o templo (Rs 8, 10-11), ou mesmo na concessão do dom da sabedoria (Sir 24,8). E esta presença de Deus vem ainda re- ferida na expressão de “Filho do Homem” em Daniel. Depois, no Apocalipse (Ap 7,15, 12,12, 21,3), a presença no homem é tida como definitiva. Ou não ser o homem imagem de Deus?!...

Em Jesus revelou-se o Seu rosto.

“Ver e contemplar a Sua glória”

está bem expresso no prólogo da 1ª Carta de João: “O que existia desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos apalparam relativamen- te ao Verbo da Vida (…) isso vos anunciamos… (1Jo 1,1-3). Tam- bém esta expressão “ver a glória de Deus” tem muito de tradição bíblica, pois a “kabod” ou “doxa”

de Jahweh é uma qualidade que acompanha e se torna presença histórica de Deus, como san-

tidade desvelada (Is. 6, 1-4; Ex 16,10; 24,15s; 29,46). Todas estas expressões no Novo Testamento se modificam e na carta aos He- breus (Hb1,3) chega-se a afirmar que Deus deixou ver o esplendor da Sua glória, a “imagem de sua substância”, no resplendor do rosto de Jesus Cristo (2Cor 4,6).

Enfim, ainda podemos referir que na carta aos Romanos, Pau- lo declara que “Deus enviou o Seu próprio Filho, em carne idêntica à do pecado” (Rm 8,3). Mas esta identidade ou semelhança não é apenas a declaração de uma aparência, até porque “carne”, em linguagem paulina não é (como em João) a descrição de uma realidade humana, antes é uma afirmação de fragilidade humana com gérmen de peca- do, princípio perverso que des- trói o homem. Daí a nuance de que a carne de Cristo não é igual à do homem pecador, mas ape- nas idêntica, pois a vida de Cris- to/Homem eleva-se a um nível superior onde existe uma vida nova de harmonia do humano com o divino. E este é então o

“homem novo” da nova huma- nidade, que Jesus veio recriar:

santo, como Deus é santo.

Mistério da Incarnação: perspetivas bíblicas

Carlos Delgado

Tomou a condição de servo, fazendo‑se semelhante ao homem, numa atitude de

humilhação. Mas esta forma de epifania não é fim em si mesmo; tem uma finalidade que é redentora e que se prolonga no Corpo de Cristo, que é a Igreja.

“Mas porquê levantar-se? Porque Deus é grande e está pronto para nos reerguer se lhe estendermos a mão. Portanto, lancemos n’Ele os pensamentos negativos, os receios que bloqueiam

cada impulso e que nos impedem de seguir em frente.”

(Papa Francisco, Ângelus, 19 de dezembro)

(6)

6 Liturgia

O

mundo está coberto pela noite e pela escu- ridão, cheio de luzes, mas sem Luz. São luzes que enganam, miragens arrasta- das pelo vento, aparências bo- nitas que se evaporam, luzes que nos deixam cegos em triste solidão, luzes traidoras, mera ilusão, luzes que são só escuri- dão, luzes que se alimentam de consumismo, de egocentrismo.

Falta a Luz, aquela que não se apaga, aquela que brilha mes- mo de olhos fechados, pois bri- lha por dentro, não consome, faz crescer, torna mais forte, não envaidece pois, vinda de dentro, se volta para fora de si mesmo.

É neste mundo esmaga- do pela noite que o Mistério Se vem mostrar, despertando a alegria mais profunda que ninguém poderia adivinhar, Mistério que só um olhar puro pode contemplar, que só um coração sincero pode acolher.

O nosso mundo padece com o seu olhar turvo, cheio de lentes

que deturpam a realidade, es- tando cada um agarrado à sua perspetiva, convencido de que a sua casa é o centro do universo de onde se pode ver bem todas as coisas. O nosso mundo não tem coração, pois é incapaz de acolher, incapaz de ir ao en- contro, incapaz de se voltar para fora, incapaz de alargar o seu espaço interior, para dar espaço ao outro e Àquele que acaba de nascer.

O nosso mundo precisa de lavar os olhos e precisa de co- ração. Só com um olhar lavado e um coração aberto, poderá deixar-se iluminar pelo Misté- rio, prostrando-se, adorando e oferecendo-se. Só o Mistério é digno desta prostração, adora- ção e oferta, pois sendo a nossa origem, se fez nosso compa- nheiro e nossa meta. Só é capaz de se prostrar diante do Misté- rio quem se torna humilde, só O adora quem se esvazia do seu Ego, só se oferece ao Mistério quem se liberta de si mesmo.

Iluminados pelo Mistério, po-

deremos tornar-nos espelho da Sua luz. É um Mistério que nos unifica e nos põe a caminho, por outro caminho. Faz-nos regressar diferentes, ilumina- dos, transfigurados, portadores de uma Luz inédita, que não é nossa, uma Luz sem frontei- ras, uma Luz que revela como irmãos aqueles que eram es- tranhos, que torna cidadãos os que eram estrangeiros.

O mundo precisa desta Luz, o mundo precisa do Mistério que se revela no olhar brilhante desta Criança, olhar eterno que invade a nossa história, que partilha o nosso drama e abre a janela da Esperança.

Vivemos neste mundo para aprender que a melhor manei- ra de ver é deixarmo-nos ilu- minar, que a melhor maneira de compreender é deixarmo- -nos tocar pelo Mistério que felizmente nunca poderemos abarcar, que a melhor manei- ra de viver é testemunhar a Alegria que o Mistério gera no mais profundo do nosso ser.

NEM SÓ DE PÃO | COMENTÁRIO À LITURGIA DOMINICAL

O mundo precisa de Luz e Mistério

João Fernando Dias LEITURA DO LIVRO DE ISAÍAS Is 60, 1-6

Levanta-te e resplandece, Jerusalém, porque chegou a tua luz e brilha sobre ti a glória do Senhor. Vê como a noite cobre a terra e a escuridão os povos. Mas, sobre ti levanta-Se o Senhor e a sua glória te ilumina. As nações caminharão à tua luz e os reis ao es- plendor da tua aurora. Olha ao redor e vê: todos se reúnem e vêm ao teu encontro; os teus filhos vão chegar de longe e as tuas filhas são trazidas nos braços. Quando o vires ficarás radiante, palpitará e dilatar-se-á o teu coração, pois a ti afluirão os tesouros do mar, a ti virão ter as riquezas das nações. Invadir-te-á uma multidão de camelos, de dromedários de Madiã e Efá. Virão todos os de Sabá, trazendo ouro e incenso e proclamando as glórias do Senhor.

SALMO RESPONSORIAL Salmo 71

Refrão: Virão adorar-Vos, Senhor, todos os povos da terra.

LEITURA DA EPÍSTOLA AOS EFÉSIOS Ef 3, 2-3a. 5-6 Irmãos: Certamente já ouvistes falar da graça que Deus me confiou a vosso favor: por uma revelação, foi-me dado a conhecer o mis- tério de Cristo. Nas gerações passadas, ele não foi dado a conhecer aos filhos dos homens como agora foi revelado pelo Espírito Santo aos seus santos apóstolos e profetas: os gentios recebem a mesma herança que os judeus, pertencem ao mesmo corpo e participam da mesma promessa, em Cristo Jesus, por meio do Evangelho.

EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS Mt 2, 1-12 Tinha Jesus nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Hero- des, quando chegaram a Jerusalém uns Magos vindos do Oriente.

«Onde está – perguntaram eles – o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O».

Ao ouvir tal notícia, o rei Herodes ficou perturbado e, com ele, toda a cidade de Jerusalém. Reuniu todos os príncipes dos sacerdotes e escribas do povo e perguntou-lhes onde devia nascer o Messias.

Eles responderam: «Em Belém da Judeia, porque assim está es- crito pelo Profeta: ‘Tu, Belém, terra de Judá, não és de modo ne- nhum a menor entre as principais cidades de Judá, pois de ti sairá um chefe, que será o Pastor de Israel, meu povo’». Então Herodes mandou chamar secretamente os Magos e pediu-lhes informa- ções precisas sobre o tempo em que lhes tinha aparecido a estrela.

Depois enviou-os a Belém e disse-lhes: «Ide informar-vos cuidado- samente acerca do Menino; e, quando O encontrardes, avisai-me, para que também eu vá adorá-l’O». Ouvido o rei, puseram-se a caminho. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente seguia à sua frente e parou sobre o lugar onde estava o Menino. Ao ver a es- trela, sentiram grande alegria. Entraram na casa, viram o Meni- no com Maria, sua Mãe, e, prostrando-se diante d’Ele, adoraram- -n’O. Depois, abrindo os seus tesouros, ofereceram-Lhe presentes:

ouro, incenso e mirra. E, avisados em sonhos para não voltarem à presença de Herodes, regressaram à sua terra por outro caminho.

ENTRADA Levanta-te, Jerusalém | CEC I 69 Eis que vem o Senhor | CEC I 68 Sabedoria Infinita | NCT 446 APRESENTAÇÃO DOS DONS Preparai os caminhos do Senhor | CEC I 30 Vinde, vinde, ó desejado | CEC I 34 Excelso Criador | CEC I 38 COMUNHÃO Nós vimos a Sua estrela | CEC I 70 Deus enviou ao mundo | CEC I 53 O Verbo fez-se carne | CEC I 45 PÓS-COMUNHÃO Um Menino nos foi dado | CEC I 48 Vamos todos a Belém | CEC I 59 Os pastores vieram | CEC I 63

SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR 2 de janeiro de 2022

SUGES TÃ O D E CÂNTIC OS

M

ais Como em cada tem- po, hoje, precisamos de reafirmar a nossa ade- são a Jesus Cristo, Aquele que vindo ao nosso encontro, nos chama a sermos seus discípu- los. E como discípulos, cami- nhamos e seguimos o Mestre, assumindo as suas opções e tentando viver numa constante configuração. Hoje, sermos dis- cípulos de Jesus Cristo implica termos a coragem necessária de nos desinstalarmos do quo- tidiano das nossas vidas, das nossas certezas e paixões, para nos colocarmos inteiramente nas mãos de Deus procuran- do fazer e viver a Sua vontade.

Enquanto discípulos, precisa- mos de revisitar o Senhor em cada dia pela oração e pela me- ditação, pela vivência da vida sacramental, pela prática das obras de misericórdia corporais e espirituais. Sem esta vivência, junto do Senhor, a nossa mis- são fica frágil e fragilizada.

Não podemos ter ilusões…

Cristo ama-nos e confia em nós! Ele espera que como seus discípulos, possamos levar ao mundo o Seu Amor. Nós pre- cisamos de ser no mundo de

hoje, como que irmãos mais velhos, atentos e vigilantes aos outros irmãos, acolhendo-os com amor e misericórdia. Esta atenção, impõem-se na cultura atual. Não podemos ser discí- pulos de Cristo marcados pela resignação, ou por uma mio- pia espiritual. Nós precisamos de ser os primeiros a aprofun- dar a nossa identidade Naquele que nos chama; precisamos de tomar consciência de que hoje, existem muitos olhares que procuram construir falsos con- sensos; precisamos de viver um compromisso que esteja enrai- zado nesta relação viva e verda- deira com Jesus Cristo.

Na homilia da Eucaristia no Aeroporto Enrique Olaya Herre- ra de Medellín, de 9 de setembro de 2017, o Papa Francisco apre- sentou três atitudes que devem marcar a nossa vida enquanto discípulos. A primeira - ir ao essencial – de maneira a ca- minharmos em profundidade rumo ao que verdadeiramente deve contar na nossa vida. “Je- sus ensina que a relação com Deus não pode ser uma fria aderência a normas e leis, nem o cumprimento de certos atos

exteriores que não conduzam a uma mudança real de vida”.

A segunda – renovar-se – sem medos e de maneira sólida e firme. “A renovação implica sa- crifício e coragem, não para nos considerarmos melhores ou impecáveis, mas para respon- dermos melhor à chamada do Senhor”. A terceira – envolver- -se – como meros servidores, crescendo em ousadia e com co- ragem evangélica. “A Igreja não é nossa, é de Deus; Ele é o dono do templo e da seara; todos têm lugar, todos são convidados a encontrar, aqui e entre nós, o seu alimento”.

Somos discípulos do tempo de hoje. Esta é uma interrogação e uma certeza, que deve levar-nos a um renovado e ousado com- promisso, percebendo o essen- cial da nossa vida e da missão que nos é confiada. Neste tempo em que podemos contemplar o Deus-Menino, não tenhamos medo de olhar a realidade com os olhos e o coração de Jesus Cristo, percebendo quais são as disposições que nos levaram e levam, a aceitar o chamamento que Jesus Cristo nos fez e conti- nua a fazer.

ESPIRITUALIDADE

Somos discípulos do tempo de hoje

Jorge Germano

AMO A IGREJA, LEIO O SEU JORNAL

Este é seu Correio de Coimbra: com o foco na informação, no diálogo com a cultura e na evangelização.

Estamos em Ano Centenário!

(7)

7

Opinião

P

recisamos do Natal. Como quadra do ano, como “cli- ma” social, como envol- vência. Falo do Natal da Europa, não do Natal cristão, porque, de facto, o Natal apela a duas uni- versalidades: à cristã, difusa um pouco por todo o mundo, e à cul- tural europeia.

Precisamos desse Natal euro- peu, todos, mesmo quem não crê em Deus ou no Deus da fé cristã. De facto, se é verdade que

“nem só de pão vive o homem”, também é verdade que todo o restante alimento necessário a uma vida equilibrada é muito variado, e terá tempos de espi- ritualidade profunda, tempos de catarse carnavalesca, tempos de descanso sereno, tempos de interrogação especulativa… e tempos de aconchego. As longas épocas da história burilaram e socializaram em cada cultu- ra estes tempos de outro “ali- mento”. Ora o Natal é, na nossa cultura europeia, o tempo de aconchego por excelência; talvez como para os americanos será o Dia de Ação de Graças, ou para os

israelitas a Noite Pascal.

Tempo de aconchego, quer di- zer, comunhão existencial comi- go próprio, com os outros, com a criação e com o transcendente.

Quer dizer, equilíbrio, sintonia:

memória e projeto, intimidade e compromisso numa unidade in- quebrável. Os hinos são calmos, mas arrebatam-nos na sua me- lodia; a comida é rica, mas tem- perada com a tradição; o frio é duro, mas retempera a alma.

Precisamos do Natal, desde o mais periférico ao mais imo.

Os sonhos de justiça e paz ca- lam mais fundo em nós; os co- rações ficam mais sensíveis; as carteiras abrem-se com mais facilidade à caridade; a gratidão brota mais espontânea; e senti- mos verdadeira necessidade de enviar uma mensagem de “feliz Natal” a todos os que tornaram e tornam a nossa vida mais feliz.

Das memórias da infância, ampliamos mais do que todas as outras as memórias do Natal: se boas, tornam-se maravilhosas;

se más, tornam-se horríveis. E não as ampliamos, é claro, por

causa dos “presentes”; amplia- mo-las por causa do aconchego (ou da sua falta) a que o tempo de Natal apela.

Porque é tempo de “aconche- go”, o Natal reencaminha-nos para a família, mais do que para qualquer outra realidade.

A família que tivemos, a que te- mos, aquela a que chamamos

“minha”, porque o é; ou a que tivemos e o tempo arruinou, por morte, por separação, por trai- ção, porque “as coisas são como são”, mas também a família que ainda somos, hoje, depois de to- das as histórias vividas, triun- fantes ou fracassadas, e que é para nós o último refúgio, o por- to mais seguro, a grande fonte da esperança.

É também pela “porta” do aconchego que as crianças e os velhos, os doentes e os pobres entram e tomam a primazia.

E nessa noite singular, linda e fria, a casa familiar torna-se uma pequena imagem do ceú por que anelamos e o Menino do Natal cristão pode dormir acon- chegadinho no nosso colo.

O OUTRO NATAL

Todos precisamos de Natal

Carlos Neves

P

oucas palavras se lhe ou- viam e o recato na comu- nicação deu-lhe um halo de homem santo. Não daqueles Santos da hagiografia canónica, com vidas conhecidas e repre- sentadas em milagres, mas da- queles que veem mais do que os outros, os santinhos de ladeira.

Nunca pedia nada pelos ser- viços que fazia e cada um dava- -lhe o que achava justo, depois de fazer as contas do dever e do haver. Se o trabalho fosse de monta, eram capazes de lhe ofertarem uma taleiga de milho de duas arrobas, mas se fosse coisa pouca, uma galinha ou um coelho bastavam. Naqueles anos da guerra, um homem ganha- va no Douro pouco mais do que o necessário para comprar um quilo de pão na mercearia da Maria Joaquina, e duas arrobas de milho era coisa a considerar.

Não pedia, mas aceitava e as- sim ia vivendo, entre os dias que dava nas quintas e aqueles em que ficava em casa para “tratar de assuntos”. Os assuntos eram histórias de mau olhado, ma- leitas lançadas por gente má, poções bebidas por engano para prender corações desavindos e outras coisas mais. Também aparecia um pé torcido, um ombro deslocado e a tudo isso ele dava remédio. Com metade de jeito e outra metade de cren- ça, as pessoas saiam da humil- de cardenha, onde ele vivia com a mãe viúva, com alma nova e os ossos no sítio.

O Chico Endireita acedia aos pedidos do povo com a mesma indiferença com que um conde- nado procura a morte. Agia por intuição, sem pensar por que o fazia e reservava a sua paixão para um par de outras coisas, uma delas pública e a outra nunca confessada.

A primeira era a sua paixão pelo exercício de vedor, ativida- de em que se sentia pleno e rea- lizado, nunca defraudando as vontades dos que o procuravam.

“Ó Chico, este verão vai de misé- ria. Não chove e tenho tudo a se- car. Podes ir lá amanhã marcar, para abrir um pocito?” E o Endi- reita lá aparecia de madrugada, com a galha verde de castanhei- ro nas mãos, caminhando de cá para lá. Onde ela apontasse, era certo que havia água, e muita.

Aliás, era a garantia de que va- lia a pena abrir o poço, pois esta seria sempre uma empresa de uma semana de trabalho, num esforço de marra e guilho. Nada seria pior do que chegar ao fim e não encontrar uma gota de água. Mas, com o Chico, nunca falhava: era o vedor mais afa- mado do vale do Varosa.

A outra paixão andava calada com ele. Eram os lindos olhos

da Celeste, olhos pelos quais se enamorara há muito e que ele imaginava como nascentes es- condidas, à espera de um vedor que as fizesse brotar. Ele con- seguia ver todos os outros por dentro, os medos e as vontades, mas era incapaz de ver a alma da moça que o trazia assim ensimesmado.

O Natal aproximava-se e a noite de Consoada continuava a iluminar a imaginação da gente simples do povo. Lá pelas 9 da noite, depois das batatas com bacalhau e couves, iriam andar uns pelas casas dos outros, a be- ber vinho fino e a comer fritas enquanto jogavam à sueca ou à bisca lambida à volta do can- deeiro de petróleo. O Chico Endi- reita não seria exceção. Iria tam- bém seguir os caminhos velhos com a candeia na mão e bateria a algumas portas.

Quando a noite chegou, cum- priu o ritual e atalhou pelo ca- minho das Compridas e pouco depois batia à porta da Celeste.

Quando lhe abriram a porta, divisou lá ao fundo, perto dos potes que ferviam na lareira larga e acolhedora, os pais da cachopa e mais uns quantos que jogavam. Pediu licença e sentou- -se. Ofereceram-lhe filhoses e ele disse que não, ao vinho fino deu uma nega e recusou jogar.

Bastava-lhe estar ali, disfarça- damente, olhá-la de soslaio. Era tudo quanto queria.

Pouco antes da meia-noite, sentiu o olhar da Celeste fixo no seu e viu a profundeza das suas nascentes que, agora sim, queriam ser descobertas. Viu- -lhe a alma por dentro e sentiu que seria a ultima vez que seria vedor de almas. Sorriram am- bos e, nesse momento, o Chico Endireita soube que na manhã seguinte deixaria de ter qual- quer “poder”, porque estaria preso pelo coração a quem po- dia muito mais do que ele.

PORQUE TAMBÉM ISTO É SER

O vedor de almas

Antonino Silva

A outra paixão andava calada com ele. Eram os lindos olhos da Celeste, olhos pelos quais se enamorara há muito e que ele imaginava como nascentes escondidas, à espera de um vedor que as fizesse brotar.

C

omprar uma cadeira espe- cial para o Rui Precato (13 anos), que sofre de uma doença rara, é a “causa” asso- ciada à construção de trabalhos alusivos aos Natal pelos urten- tes dos Centros de ATL da Cáritas Diocesana de Coimbra. Estes tra- balhos estão expostos na entra- da da Sede Social da Cáritas de Coimbra, no Areeiro, até ao final da primeira semana de janeiro,

e o objetivo é que venham a ser vendidos com as receitas a rever- ter para aquela causa.

PELOS CENTROS DE ATL DA CÁRITAS DIOCESANA

Viver o Natal com arte e espírito solidário

E

stá previsto que a oração ao Santíssimo no Templo Diocesano de Oração pelas Vocações, na Igreja de Santiago, em Coimbra, seja retomada no dia 2 de fevereiro (festa da Apre- sentação do Senhor), com eu- caristia presidida pelo Bispo de Coimbra. Recordamos que o rit- mo diário de oração nesta igreja pela causa das vocações foi in- terrompido com a pandemia.

IGREJA DE SÃO TIAGO

Oração pelas vocações

CUIDADO TAMBÉM É AMOR

A Pandemia continua a matar muitas pessoas e a lesar

gravemente toda a sociedade!

Vamos ter comportamentos responsáveis.

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Última

“E

m cada época, a paz é conjuntamente dádi- va do Alto e fruto dum empenho compartilhado. De facto, há uma «arquitetura»

da paz, onde intervêm as vá- rias instituições da sociedade, e existe um «artesanato» da paz, que nos envolve pessoalmen- te a cada um de nós”, escreve o Papa Francisco na Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2022, numa alusão ao nº 231 da sua Carta Encíclica Fratelli Tutti.

“Todos podem colaborar - conti- nua o Papa - para construir um mundo mais pacífico partindo do próprio coração e das rela- ções em família, passando pela sociedade e o meio ambiente, até chegar às relações entre os povos e entre os Estados”.

A partir desta constatação, Francisco propõe três campos concretos para a colaboração de todos em ordem à construção de uma “paz duradoura” para o mundo: “o diálogo entre as gera- ções, como base para a realização de projetos comuns”; “a educa- ção, como fator de liberdade, res- ponsabilidade e desenvolvimen- to”; “o trabalho, para uma plena realização da dignidade huma- na”. Nas palavras da Mensagem,

“são três elementos imprescin- díveis para tornar «possível a criação dum pacto social», sem o

qual se revela inconsistente qual- quer projeto de paz”.

Sobre o diálogo entre gerações, garante o Santo Padre que “os grandes desafios sociais e os pro- cessos de pacificação não podem prescindir do diálogo entre os guardiões da memória – os ido- sos – e aqueles que fazem avan- çar a história – os jovens –; tal como não é possível prescindir da disponibilidade de cada um dar espaço ao outro, nem preten- der ocupar inteiramente a cena preocupando-se com os seus in- teresses imediatos como se não houvesse passado nem futuro”.

Sobre a instrução e a educação como bases para a paz, o Papa Francisco retoma novamente intervenções suas em diferentes fóruns, para afirmar: “É neces- sário forjar um novo paradigma cultural, através de «um pacto educativo global para e com as gerações jovens, que empenhe as famílias, as comunidades, as escolas e universidades, as ins- tituições, as religiões, os gover- nantes, a humanidade inteira na formação de pessoas maduras».

Um pacto que promova a edu- cação para a ecologia integral, segundo um modelo cultural de paz, desenvolvimento e susten- tabilidade, centrado na fraterni- dade e na aliança entre os seres humanos e o meio ambiente.

No que respeita ao campo do trabalho - “Promover e assegu- rar o trabalho constrói a paz” - o Santo padre verifica que este é um dos campos em que a pande- mia COVID-19 teve e continua a ter mais impacto, e pede que sejam

“estimuladas, acolhidas e sus- tentadas as iniciativas, a todos os níveis, que solicitam as empresas a respeitar os direitos humanos fundamentais de trabalhadoras e trabalhadores, sensibilizando nesse sentido não só as institui- ções, mas também os consumi- dores, a sociedade civil e as reali- dades empresariais. Estas, quanto mais cientes estão da sua função social, tanto mais se tornam lu- gares onde se cultiva a dignidade humana, participando por sua vez na construção da paz”. E continua:

“sobre este aspeto, é chamada a desempenhar um papel ativo a política, promovendo um justo equilíbrio entre a liberdade eco- nómica e a justiça social. E todos aqueles que intervêm neste cam- po, a começar pelos trabalhadores e empresários católicos, podem encontrar orientações seguras na doutrina social da Igreja”.

A Mensagem termina com um apelo de compromisso, coragem e criatividade: “Aos governantes e a quantos têm responsabilidades políticas e sociais, aos pastores e aos animadores das comunida- des eclesiais, bem como a todos os homens e mulheres de boa vontade, faço apelo para cami- nharmos, juntos, por estas três estradas: o diálogo entre as ge- rações, a educação e o trabalho.

Com coragem e criatividade”.

DIA MUNDIAL DA PAZ 2022

Há uma arquitetura da paz e há um artesanato da paz

1

Por volta do ano 96 d.C., após alguns anos de sofri- mento causado pela perseguição sob o governo do imperador Domiciano, Clemente, bispo de Roma, terceiro na sucessão a Pedro, escreveu uma carta aos cristãos de Corinto. Não escrevia em nome pessoal, mas da igreja a que presidia - «a igreja de Deus peregrina em Roma à igreja de Deus peregrina em Corinto». Chega- ra notícia a Roma de uma grave dissidência no seio da comunidade de Corinto (que não era inédita, como sa- bemos pelas cartas de S. Paulo): um pequeno grupo de jovens, que Clemente qualifica de «temerários e insolen- tes» entrara em conflito com os presbíteros que há mui- to tempo dirigiam a comunidade, chegando mesmo a depô-los. A situação criou partidos no seio dos cristãos e gerou escândalo mesmo entre os pagãos. A carta é longa toca diversos aspetos doutrinais – de que nos ocupare- mos mais tarde – e repetidamente apela à concórdia, à paz, à obediência e penitência, centrando-se na humil- dade, virtude fundamental nas relações do cristão com os seus irmãos e da qual Jesus Cristo é modelo perfeito.

Na parte final insere uma grande oração que reproduzo, na tradução que nos é facultada por Isidro Lamelas:

«Nós te rogamos Senhor

que sejas nosso auxílio e proteção;

salva aqueles que entre nós estão em tribulação, compadece-te dos humildes

levanta os prostrados revela-te aos necessitados cura os enfermos

encaminha os desgarrados do teu povo sacia os famintos

liberta os nossos prisioneiros encoraja os fracos

consola os pusilânimes.

Que todos os povos conheçam que tu és o único Deus e Jesus Cristo teu filho

e nós o teu povo e ovelhas do teu rebanho.

Tu, que tornaste patente a estrutura do cosmos que flui perenemente mercê dos princípios que nela operam, tu, Senhor, que criaste o mundo habitado,

tu, fiel por todas as gerações, justo nos teus juízos, admirável em força e magnificência, sábio na criação inteligente na sua execução, bom nas coisas visíveis e fiel com os que em ti confiaram;

misericordioso e compassivo perdoa-nos os nossos pecados, injustiças faltas e negligências.

Não tenhas em conta os pecados dos teus servos e servas,

mas purifica‑nos com a purificação da tua verdade, e dirige os nossos passos

para que andemos em santidade do coração e façamos obras boas e agradáveis aos teus olhos e aos olhos dos nossos superiores.

Sim, Senhor, manifesta-nos a tua face para nos protegermos com tua mão potente, E nos livrarmos de todo o pecado

e, pelo excelso braço,

protege-nos de todos os que nos odeiam injustamente.

Dá-nos a nós e a todos os que habitam a terra a concórdia e a paz, como as deste a nossos pais que te invocaram santamente na fé e na verdade, para que obedeçamos ao teu omnipotente e santo nome e às autoridades que nos governam na terra.

Tu, Senhor, lhes deste o poder e o reino, pela tua inefável e extraordinária força para que nós, reconhecendo a honra e glória que lhes deste,

lhes obedeçamos sem nos opormos à tua vontade.

Dá‑lhes saúde, paz, concórdia e firmeza para que sem ofensa se ocupem do governo que lhes confiaste.

Pois tu, Senhor, Rei celestial dos séculos

que aos filhos dos homens dás glória, dignidade e poder sobre todas as coisas da terra,

tu, Senhor, orienta o seu conselho

conforme ao que é bom e agradável a teus olhos, para que exercendo em paz, mansidão e piedade a autoridade que lhes concedeste te venham a encontrar propício

a ti o único que podes realizar estas coisas, e ainda maiores benefícios, por nós.

Nós te louvamos pelo Sumo Sacerdote e Defensor das nossas almas,

Jesus Cristo, pelo qual te seja dada a glória e a magnificência,

agora e de geração em geração pelos séculos dos séculos. Ámen»

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As redes sociais trouxeram-me uma nova imagem do presépio: em primeiro plano, José, atento e vigi- lante segura e embala o Menino; atrás, deitada so- bre o colmo, a Virgem dorme, cansada da longa viagem e da emoção do seu parto de luz: e também, descansada, por- que o Sumo Sacerdote e Defensor das nossas almas, acon- chegado no peito de José, iniciara a redenção do mundo.

PERSCRUTAR AS ORIGENS

Uma carta aos Coríntios

Fernando Taveira da Fonseca

N

a Audiência Geral de on- tem, o Papa Francisco falou sobre esse “aconte- cimento que a história não pode ignorar: o nascimento de Jesus.”

Depois de ter percorrido as di- ferentes pessoas e símbolos em torno do Natal, Francisco reite- rou: “a mensagem do Evangelho é clara: o nascimento de Jesus é um acontecimento universal que afeta todos os homens”; e convidou “todos os homens e mulheres a irem à gruta de Be- lém e adorarem o Filho de Deus feito homem”, fazendo um ato interior de fé: “Acredito que tu és Deus, que esta criança é Deus. Por favor, dá-me a gra- ça da humildade para o poder compreender”.

Na parte final da catequese, o Santo Padre colocou os pobres na primeira fila dos visitantes do presépio, citando largamente Paulo VI: pobres “que «devemos amar, porque eles são, de certo modo, o sacramento de Cristo;

neles - nos famintos, nos seden- tos, nos exilados, nos nus, nos enfermos e nos prisioneiros - ele quis misticamente identificar- -se. Devemos ajudá-los, sofrer com eles e também segui-los, porque a pobreza é o caminho mais seguro para a plena posse do Reino de Deus» (Homilia do 1º de maio de 1969)”.

MENINO DO PRESÉPIO

Acredito que tu és Deus!

A

o regressar da sua visita ao Chipre e à Grécia, o Papa Francisco expres- sou o desejo de se encontrar no- vamente com Kirill, Patriarca de Moscovo e Toda a Rússia, inclu- sive indo ele próprio à Rússia.

O último passo neste processo decorreu ontem (22 de dezem- bro) com a receção pelo Papa, no Vaticano, ao Metropolita de Volokolamsk, Hilarion Alfeyev, o qual preside ao Departamen- to de Relações Exteriores do Pa- triarcado de Moscovo. Segundo a Sala de Imprensa da Santa Sé, o encontro foi cordial, ambos falaram de assuntos comuns e houve troca de presentes. “No decorrer do encontro - diz ainda o texto - o Pontífice agradeceu ao Metropolita Hilarion as feli- citações pelos seus 85 anos fei- tas em nome do patriarca Kirill.

Por sua vez, o Papa expressou os seus sentimentos de afeto e proximidade à Igreja russa e ao Patriarca Kirill, que há pou- co celebrou 75 anos, recordan- do com gratidão o caminho de fraternidade realizado juntos e o encontro ocorrido em Havana em 2016”.

ORTODOXOS RUSSOS

Caminho de fraternidade realizado

juntos

OITAVÁRIO DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS

Sob o tema “Permanecei no meu amor e produzireis muitos frutos (cf. João 15,5-9), com uma grande celebração ecuménica na área da Diocese de Coimbra.

Dia 21 de janeiro, às 21h, na igreja de São João Baptista

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