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(1)Cap´ıtulo 6 Fun¸c˜oes Geratrizes

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Cap´ıtulo 6

Fun¸oes Geratrizes. Produt´orias Complexas.

Algumas Identidades Combinat´orias

Conte´udo

6.1 Fun¸oes Geratrizes . . . 310

6.1.1 Algumas Identidades Combinat´orias . . . 312

6.1.2 umeros de Fibonacci . . . 314

6.1.3 umeros de Bernoulli . . . 316

6.1.4 umeros de Bell . . . 318

6.2 Notas Sobre Convergˆencia de Produt´orias . . . 322

6.2.1 Uma Dedu¸c˜ao Elementar do Produto de Wallis . . . 323

6.3 A F´ormula de Invers˜ao de M¨obius. As F´ormulas de Vi`ete . . . 325

6.3.1 As F´ormulas de Vi`ete . . . 327

6.3.1.1 Uma Aplica¸c˜ao. Localizando Zeros de Certos Polinˆomios . . . 328

6.3.1.2 As Desigualdades de Samuelson e Algumas Generaliza¸c˜oes . . . 330

6.3.1.3 As Identidades de Girard-Newton . . . 334

6.4 Exerc´ıcios Adicionais . . . 339

Ocurto cap´ıtulo que ora iniciamos ´e dedicado a duas classes de objetos matem´aticos ´uteis, as chamadas fun¸c˜oes geratrizes e as produt´orias complexas infinitas. Trata-se de dois temas n˜ao necessariamente pr´oximos, mas ligados a diversas identidades e rela¸c˜oes ´uteis. Faremos uso de ambos nos cap´ıtulos que se seguem. Neste cap´ıtulo, como em outros adiante, pressuporemos que o estudante possua no¸c˜oes b´asicas sobre a teoria das fun¸c˜oes de vari´avel complexa.

Fun¸c˜oes geratrizes, introduzidas na Se¸c˜ao 6.1, p´agina 310, desempenham um elegante papel em An´alise Combinat´oria.

O leitor poder´a encontrar na bela referˆencia [148] uma vasta cole¸c˜ao de identidades combinat´orias interessantes que podem ser engenhosamente demonstradas com o uso de fun¸c˜oes geratrizes de sequˆencias, assim como outras referˆencias

`

a literatura pertinente. Fun¸c˜oes geratrizes s˜ao tamb´em relevantes no estudo de certas sequˆencias de fun¸c˜oes e no estudo de propriedades de sequˆencias num´ericas. Ilustraremos essa ´ultima afirma¸c˜ao estudando atrav´es de fun¸c˜oes geratrizes a chamada sequˆencia de Fibonacci e os chamados n´umeros de Bernoulli. No Cap´ıtulo 16 faremos uso de fun¸c˜oes geratrizes para estudar e demonstrar algumas propriedades ´uteis de algumas das solu¸c˜oes especiais que encontramos no Cap´ıtulo 15, como os polinˆomios de Legendre, de Hermite, de Laguerre, de Tchebychev e as fun¸c˜oes de Bessel.

Produt´orias infinitas, assim como s´eries, s˜ao encontradas ami´ude no estudo de propriedades de certas fun¸c˜oes de interesse. Faremos uso das mesmas, por exemplo, no Cap´ıtulo 7, dedicado `a fun¸c˜ao gama de Euler. Na Se¸c˜ao 6.2, p´agina 322, discutimos a no¸c˜ao de convergˆencia de produt´orias infinitas e estudamos alguns exemplos ´uteis.

6.1 Fun¸oes Geratrizes

Fun¸oes geratrizes

Seja{an, nN0}uma sequˆencia de n´umeros reais ou complexos. Define-se afun¸c˜ao geratrizda sequˆencia{an, n N0}como sendo a fun¸c˜ao dada por

G{an}(t) :=

X

n=0

antn.

Essa defini¸c˜ao pressup˜oe que a s´erie de potˆencias emtdo lado direito seja convergente em alguma regi˜ao aberta do plano complexo, digamos|t|< T, para algumT >0. Isso nem sempre ´e o caso. Por exemplo, sean=n! a s´erie acima tem raio de convergˆencia nulo.

310

Fun¸oes geratrizes exponenciais

Afun¸c˜ao geratriz exponencialda sequˆencia{an, nN0}´e definida por E{an}(t) :=

X

n=0

an

n!tn.

Novamente, essa defini¸c˜ao pressup˜oe que a s´erie de potˆencias emtdo lado direito seja convergente em alguma regi˜ao aberta do plano complexo, digamos|t|< T. Observe que o lado direito, caso seja convergente, coincide com a s´erie de Taylor centrada em 0 da fun¸c˜aoE{an}(t) e, portanto, para cadakvaleak=dkE{an}

dtk (0).

Fun¸oes geratrizes de Dirichlet

Para certos tipos de sequˆencias ´e conveniente definir outro tipo de fun¸c˜ao geratriz, substituindo os monˆomiostnpor outras fun¸c˜oes det:P

n=0anSn(t). O exemplo mais importante desse tipo de fun¸c˜ao geratriz ´e aquele no qual se toma Sn(t) = 1/nt,n1. Isso nos conduz `a pr´oxima defini¸c˜ao.

Afun¸c˜ao geratriz de Dirichlet1da sequˆencia{an, nN}´e definida por D{an}(t) :=

X

n=1

an

nt,

desde que a s´erie do lado direito convirja com a vari´aveltem alguma regi˜ao aberta do plano complexo.

A mais famosa das fun¸c˜oes geratrizes de Dirichlet ´e afun¸c˜ao zeta de Riemann2, que ´e a fun¸c˜ao geratriz de Dirichlet da sequˆencia constantean= 1,n1:

ζ(s) :=

X

n=1

1

ns. (6.1)

Como facilmente se vˆe, a s´erie do lado direito converge na regi˜ao do plano complexo definida por Re(s)>1. A fun¸c˜ao zeta de Riemann desempenha um papel de grande importˆancia na teoria das fun¸c˜oes de vari´avel complexa e na teoria de n´umeros, pois v´arias de suas propriedades est˜ao relacionadas a propriedades do conjunto dos n´umeros primos. A ela dedicamos o Cap´ıtulo 8, p´agina 383. Vide tamb´em [162], [397], [398], [106] e outras referˆencias citadas no Cap´ıtulo 8.

Fun¸oes geratrizes de Lambert

Afun¸c˜ao geratriz de Lambert3da sequˆencia{an, nN}´e definida por L{an}(t) :=

X

n=1

an tn 1tn,

desde que a s´erie do lado direito convirja com a vari´aveltem alguma regi˜ao aberta do plano complexo. As fun¸c˜oes geratrizes de Lambert s˜ao tamb´em denominadass´eries de Lambert.

Algumas propriedades de fun¸oes geratrizes

As fun¸c˜oes geratrizes definidas acima tˆem v´arias propriedades alg´ebricas interessantes, como mostrado nos exerc´ıcios que seguem.

E. 6.1Exerc´ıcio. Se{an}e{bn}ao duas sequˆencias cujas fun¸c˜oes geratrizesG{an}(t)eG{bn}(t)tˆem uma regi˜ao aberta de convergˆencia comum, mostre que

G{an}(t)G{bn}(t) = G{cn}(t), onde

cn =

n

X

p=0

an−pbp.

6

1Johann Peter Gustav Lejeune Dirichlet (1805–1859).

2Georg Friedrich Bernhard Riemann (1826–1866).

3Johan Heinrich Lambert (1728–1777).

(2)

E. 6.2Exerc´ıcio. Se{an}e{bn}ao duas sequˆencias cujas fun¸c˜oes geratrizes exponenciaisE{an}(t)eE{bn}(t)tˆem uma regi˜ao aberta de convergˆencia comum, mostre que

E{an}(t)E{bn}(t) =E{cn}(t), onde

cn =

n

X

p=0

n p

! an−pbp.

6

E. 6.3Exerc´ıcio. Se{an}e{bn}ao duas sequˆencias cujas fun¸c˜oes geratrizes de DirichletD{an}(t)eD{bn}(t)tˆem uma regi˜ao aberta de convergˆencia comum, mostre que

D{an}(t)D{bn}(t) = D{cn}(t), onde

cn =

n

X

p=1 n/p inteiro

an/pbp.

6

E. 6.4Exerc´ıcio. Se{an}´e uma sequˆencia cuja fun¸c˜ao geratriz de Lambert ´eL{an}(t), mostre que L{an}(t) = X

m=1

bmtm =G{bn}(t),

ondeb0:= 0e, param >0,

bm :=

m

X

n=1 m/n inteiro

an.

6

Passemos a discutir algumas aplica¸c˜oes das fun¸c˜oes geratrizes.

6.1.1 Algumas Identidades Combinat´orias

A sequˆencia de exerc´ıcios dirigidos que segue apresenta-nos uma s´erie de identidades combinat´orias de interesse (usaremos algumas no Cap´ıtulo 18, p´agina 896). A primeira obt´em-se atrav´es de uma fun¸c˜ao geratriz.

E. 6.5Exerc´ıcio dirigido. ParanN,mN0, defina-se o conjunto Nnm := n

(a1, . . . , an)Nn0, a1+· · ·+an=mo .

Seja|Nnm|o n´umero de elementos deNnm.|Nnm|representa o n´umero de maneiras de colocar exatamentemobjetos indistingu´ıveis em nposi¸c˜oes distintas, eventualmente permitindo sobreposi¸c˜oes (e.g., colocarmbolas indistingu´ıveis emncaixas distintas). Mostre que

|Nnm|= n+m1 m

!

= (n+m1)!

(n1)!m! .

Sugest˜ao.Mostre primeiramente que, para cadan, a fun¸c˜ao geratriz da sequˆencia|Nmm|,m= 0,1,2, . . ., ´e

X

m=0

|Nnm|tm = 1

1t n

. (6.2)

Para isso, mostre que, para|t|<1, 1

1t n

=

X

a=0

ta

!n

=

X

a1, ..., an=0

ta1+···+an =

X

m=0

|Nnm|tm.

De (6.2), obtenha

|Nnm|= 1 m!

dm dtm

1 1t

n t=0

= n· · ·(m+m1)

m! = (n+m1)!

(n1)!m! = n+m1 m

! .

6

E. 6.6Exerc´ıcio dirigido. ParanN,mN0, defina-se o conjunto Mnm:= n

(a1, . . . , an)Nn0,0a1+· · ·+anmo .

Seja|Mnm|o n´umero de elementos deMnm. |Mnm|representa o n´umero de maneiras de colocar de zero a no m´aximomobjetos indistingu´ıveis emnposi¸c˜oes distintas, eventualmente permitindo sobreposi¸c˜oes (e.g., colocar de0ambolas indistingu´ıveis emncaixas distintas). Mostre que

|Mnm| = n+m m

!

= (n+m)!

n!m! . (6.3)

Sugest˜ao.Conven¸ca-se que

|Mnm|=

m

X

k=0

|Nnk| =

m

X

k=0

n+k1 k

!

. (6.4)

Usando a bem conhecidaidentidade de Pascal4 a b

!

= a1 b

! + a1

b1

!

(6.5)

conclua que

m

X

k=0

n+k k

!

= 1 +

m

X

k=1

n+k k

!

(6.5)

= 1 +

m

X

k=1

n+k1 k

! +

m

X

k=1

n+k1 k1

!

= 1 +

m

X

k=1

n+k1 k

! +

m

X

l=1

n+l1 l1

!

l=l−1

= 1 +

m

X

k=1

n+k1 k

! +

m−1

X

l=0

n+l l

!

e, assim, conclua que

m

X

k=0

n+k1 k

!

= 1 +

m

X

k=1

n+k1 k

!

=

m

X

k=0

n+k k

!

m−1

X

l=0

n+l l

!

= n+m m

! .

Por (6.4), isso prova (6.3). 6

A identidade Xm

k=0

n+k1 k

= n+m

m

, provada acima, ´e conhecida comosegunda identidade de Pascalou identidade da soma paralela. Para outras identidades combinat´orias ´uteis, vide [148].

E. 6.7Exerc´ıcio.Seguindo passos an´alogos aos do ´ultimo exerc´ıcio, demonstre aidentidade da soma vertical:

n+ 1 m+ 1

!

=

n

X

j=0

j m

! .

6

E. 6.8Exerc´ıcio. As denomina¸c˜oesidentidade da soma paralelaeidentidade da soma verticalprovˆem da rela¸c˜ao dos coeficientes binomiais ab

com o triˆangulo de Pascal. Desenhe um triˆangulo de Pascal e entenda o significado dessas identidades e a raz˜ao de seus

nomes. 6

E. 6.9Exerc´ıcio dirigido.As identidades|Nnm|= n+m−1m

e|Mnm|= n+mm

podem ser obtidas de uma forma talvez mais direta e simples, dependendo do gosto do leitor. Suponha que se tenhambolas pretas enbolas brancas. Conven¸ca-se que h´a n+mm

= n+mn arranjos poss´ıveis dessas bolas (supondo que as bolas pretas s˜ao indistingu´ıveis entre si, e que o mesmo valha para as brancas). Uma maneira de fazer esse racioc´ınio ´e imaginar asn+mbolas enfileiradas e contar de quantas maneiras distintas essas fileiras podem ser formadas. H´a(n+m)!permuta¸c˜oes dasn+mbolas, das quais devem ser fatoradasm!permuta¸c˜oes envolvendo apenas bolas pretas

4Blaise Pascal (1623–1662).

(3)

en!permuta¸c˜oes envolvendo apenas bolas brancas, fornecendo assim n+mm

arranjos. Conven¸ca-se tamb´em que, pela defini¸c˜ao, esse umero de arranjos ´e igual a|Mnm|. Isso provou que|Mnm|= n+mm

. Conven¸ca-se que, pela defini¸c˜ao,|Nnm|=|Mnm| − |Mnm−1|.

Tem-se, ent˜ao|Nnm|= n+mm

n+m−1m−1

= n+m−1m

, onde a ´ultima igualdade segue da identidade de Pascal (6.5). 6

6.1.2 umeros de Fibonacci

Sejaan,n= 0,1,2,3,4 . . ., a sequˆencia definida recursivamente da seguinte forma:

a0 = 1, a1 = 1, an+2 = an+1+an, n0.

Essa sequˆencia ´e denominadasequˆencia de Fibonacci5. Cada elemento da sequˆencia de Fibonacci ´e a soma de seus dois antecessores. Os primeiros elementos da sequˆencia de Fibonacci s˜ao

1,1,2,3,5,8,13,21,34,55,89,144,233,377,610,987,1597,2584,4181,6765,10946,17711,28657, . . . . Fibonacci introduziu a sequˆencia que leva seu nome em um problema de seu livroLiber abbaci, de 1202 (livro esse que introduziu o sistema decimal ar´abico na Europa, em substitui¸c˜ao ao sistema de algarismos romanos, usado at´e ent˜ao):

“Um certo homem coloca um casal de coelhos em um local cercado de muros por todos os lados. Quantos pares de coelhos podem ser produzidos a partir daquele casal em um ano se for suposto que a cada mˆes cada casal gera um novo casal, o qual se torna f´ertil em um mˆes”. A resposta (supondo que nenhum coelho morre) ´e que, ap´osnmeses, tem-seanpares de coelhos, sendoandado acima. Trata-se provavelmente do primeiro modelo de evolu¸c˜ao de popula¸c˜oes. A sequˆencia de Fibonacci ´e surpreendentemente rica em propriedades, sendo possivelmente uma das mais pesquisadas, existindo at´e mesmo uma publica¸c˜ao peri´odica (“Fibonacci Quarterly”) dedicada a seu estudo.

Um fato que confere aos n´umeros de Fibonacci um sabor especial ´e que os mesmos aparecem frequentemente na Natureza. H´a, por exemplo, uma forte probabilidade de os n´umeros de p´etalas em flores de determinadas esp´ecies de plantas serem n´umeros de Fibonacci. O mesmo se d´a com o n´umero de voltas espirais na casca de abacaxis e de pinhas, com o n´umero de ramos de plantas e ´arvores, com o n´umero de padr˜oes de um determinado tipo nas conchas de caramujos etc6. A raz˜ao do surgimento de n´umeros de Fibonacci em contextos biol´ogicos est´a relacionado `a forma¸c˜ao e reprodu¸c˜ao de padr˜oes, mas ´e apenas parcialmente entendida atualmente.

No intuito de ilustrar a utilidade de fun¸c˜oes geratrizes de sequˆencias, vamos demonstrar a seguinte identidade para os elementos da sequˆencia de Fibonacci:

an = 1

5

1 + 5 2

!n+1

1 5 2

!n+1

, (6.6)

v´alida para todon0. Essa express˜ao permite obter cadaandiretamente em termos dene ´e denominadaormula de Binet7, tendo sido obtida por esse autor (usando m´etodos matriciais) em 1843. Essa f´ormula, por´em, foi obtida pela primeira vez por de Moivre8cerca de cem anos antes e foi encontrada tamb´em por Euler9e por Daniel Bernoulli10. A constante1+25(≈1,6180339887. . .) ´e a c´elebreraz˜ao ´aurea, muitas vezes denotada pelo s´ımboloϕ, e cujas propriedades s˜ao estudadas desde a Antiguidade. Note-se que125= 1ϕ=−1/ϕ, de modo que (6.6) pode ser tamb´em expressa como

an = 1

5

hϕn+1(1ϕ)n+1i

= 1

5

"

ϕn+1

1 ϕ

n+1#

. (6.7)

5Leonardo Pisano, cognominado “Fibonacci” (1170–1250).

6Para algumas referˆencias:

S. L. Basin, “The Fibonacci Sequence as it appears in Nature”, The Fibonacci Quarterly,1, (1963), 53–57.

A. Brousseau, “Fibonacci Statistics in Conifers”, The Fibonacci Quarterly,7(1969), 525–532.

P. B. Onderdonk, “Pineapples and Fibonacci Numbers”, The Fibonacci Quarterly,8(1970), 507–508.

Um livro cl´assico sobre o assunto ´e [394]. A ´area da Biologia e da Matem´atica que se dedica ao estudo da forma¸c˜ao e evolu¸c˜ao de padr˜oes ´e denominada Filotaxia.

7Jacques Philippe Marie Binet (1786–1856).

8Abraham de Moivre (1677–1754).

9Leonhard Euler (1707–1783).

10Daniel Bernoulli (1700–1782).

A fun¸c˜ao geratriz da sequˆencia de Fibonacci ´e F(t) =

X

n=0

antn. (6.8)

Mostremos primeiramente que a s´erie de potˆencias do lado direito tem um raio de convergˆencia n˜ao nulo. Pelo teste da raz˜ao vale, paran >0,

an+1tn+1 antn

= an+1

an |t| = an+an1

an |t|=

1 +an1

an

|t| ≤ 2|t|,

poisan−1an 1, j´a que a sequˆencia de Fibonacci ´e crescente. Logo, a s´erie converge absolutamente pelo menos na regi˜ao

|t|<1/2. A verdadeira regi˜ao de convergˆencia ´e um pouco maior (como veremos adiante), mas n˜ao precisaremos desse fato por ora, pois tudo o que necessitamos ´e da existˆencia de um raio de convergˆencia n˜ao nulo, o que justifica as manipula¸c˜oes que faremos.

Fa¸camos uso da defini¸c˜ao da sequˆencia de Fibonacci para obter uma f´ormula expl´ıcita paraF(t). Temos que F(t) = 1 +t+

X

n=2

antn

= 1 +t+ X

n=2

(an1+an2)tn = 1 +t+ X

n=2

an1tn+ X

n=2

an2tn

= 1 +t+t X

n=1

antn+t2 X

n=0

antn

= 1 +t+t(F(t)1) +t2F(t). Assim, (1tt2)F(t) = 1 e, portanto,

F(t) = 1

1tt2.

A ideia agora ´e obter a expans˜ao em s´erie de Taylor deF(t) em torno det= 0 e compar´a-la a (6.8), para assim obter uma express˜ao expl´ıcita para osan’s. Para isso, ao inv´es de calcularmos as derivadas deFemt= 0, ´e mais f´acil proceder da seguinte forma. Escrevemos 1tt2=−(tγ1)(tγ2) onde

γ1 =

51

2 , γ2 =

5 + 1

2 .

Assim,

F(t) = 1

1tt2 = 1

(tγ1)(tγ2) = 1 γ1γ2

1 γ1t 1

γ2t

= 1

5

"

1 γ1

1 1γt1

!

1 γ2

1 1γt2

!#

= 1

5 X

n=0

1 γn+11

1 γ2n+1

tn

= 1

5 X

n=0

(−γ2)n+1(−γ1)n+1 tn

= X

n=0

1 5

1 + 5 2

!n+1

1 5 2

!n+1

tn,

(4)

onde usamos que 1/γ1=−γ2. Comparando com (6.8) obtemos (6.6), como quer´ıamos. Da ´ultima express˜ao, vˆe-se tamb´em que o raio de convergˆencia da s´erie de potˆencias que defineF´e (

51)/20,6180339887. . ..

No Exerc´ıcio E. 10.58, p´agina 580, reobtemos (6.6) usando t´ecnicas matriciais, as quais permitem obter os valores deanmesmo para condi¸c˜oes iniciais outras que n˜aoa0 =a1 = 1. Essas mesmas ideias s˜ao usadas no Exerc´ıcio E.

10.59, p´agina 581, para tratar da chamadasequˆencia de Fibonacci generalizada, definida pela rela¸c˜ao de recorrˆencia an+2=αan+1+βan, ondeαeβs˜ao constantes (reais ou complexas).

6.1.3 umeros de Bernoulli

A sequˆencia de n´umeros racionais denominadosumeros de Bernoulli11 tem importˆancia destacada na Teoria dos umeros, especialmente devido `a sua rela¸c˜ao com a fun¸c˜ao zeta de Riemann, definida acima. Os n´umeros de Ber- noulli tamb´em aparecem na expans˜ao em s´erie de Taylor da fun¸c˜ao tangente e na chamada f´ormula de Euler-Maclaurin.

Os chamados n´umeros de Bernoulli, denotados porBn, comnN0, s˜ao definidos de sorte que sua fun¸c˜ao geratriz exponencialE{Bn}(z) seja a fun¸c˜aoz/(ez1), ou seja, s˜ao definidos por

z ez1 =:

X

n=0

Bn

n! zn. (6.9)

Devido ao fato dez/(ez1) ter um polo emz=±2πisendo, por´em, anal´ıtica em|z|<2π, conclu´ımosa priorique a s´erie de potˆencias do lado direito ´e convergente para|z|<2π. Multiplicando (6.9) porez1 =P

m=1zm/m!, obtemos z =

X

n=0

Bn

n!zn

! X

m=1

zm m!

!

= X

p=0

Xp

q=0

Bq

q!(p+ 1q)!

! zp+1,

de onde conclu´ımos que

B0 = 1 e

Xp

q=0

Bq

q!(p+ 1q)! = 0 para todop1. Multiplicando a segunda rela¸c˜ao acima por (p+ 1)! a mesma torna-se

Xp

q=0

Bq

p+ 1 q

= 0 para todop1,

forma essa mais frequentemente encontrada na literatura. Essa rela¸c˜ao acima permite obter recursivamente os coeficientes Bna partir deB0= 1. De fato, isolando o termo comq=p, temos

Bp = −1 p+ 1

p−1X

q=0

Bq

p+ 1 q

para todop1, (6.10)

ou seja,

Bp = −p!

p1

X

q=0

Bq

q!(p+ 1q)! para todop1. (6.11)

Usando a f´ormula (6.10) ´e poss´ıvel obter os primeiros n´umeros de Bernoulli, vide Tabela 6.1, p´agina 317.

A contempla¸c˜ao da Tabela 6.1 permite conjecturar que, excetoB1, todos osBncomn´ımpar sejam nulos. Veremos abaixo que essa conjectura ´e verdadeira. A impress˜ao, por´em, que osBn’s n˜ao nulos crescem lentamente, obtida da observa¸c˜ao dos primeiros elementos da sequˆencia, ´e falsa. Devido ao fato de a s´erie de potˆencias em n˜ao convergir para

|z|= 2πconclu´ımos que os|Bn|n˜ao nulos devem assintoticamente ser maiores que, ou da ordem de,n!/(2π)nparan grande. Isso de fato ´e correto (B98, por exemplo, ´e da ordem de 1,13×1076) e a express˜ao precisa ser´a apresentada em (6.18). Outra conjectura que se pode levantar da observa¸c˜ao da Tabela 6.1 ´e que os sinais dos n´umeros de Bernoulli com

´ındice par (excetoB0) s˜ao alternados. Esse fato ´e tamb´em correto e ser´a provado mais adiante.

11Jakob Bernoulli (1654–1705).

n 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Bn 1 12 1

6 0 301 0 421 0 301 0 665 0 2730691 0 76 0 3617510 0 Tabela 6.1: N´umeros de BernoulliBnparan= 0, . . . ,17.

Separando o termo comB1de (6.9), que ´e−z/2, e passando-o para o lado esquerdo, obtemos z

ez1+z 2 = 1 +

X

n=2

Bn

n!zn. O lado esquerdo valez2coth z2

, como facilmente se constata. Conclu´ımos assim que zcoth(z) = 1 +

X

n=2

2nBn

n! zn, (6.12)

para|z|<2π. Comozcoth(z) ´e uma fun¸c˜ao par, vemos de (6.12) que, excetoB1, todos os demaisBn’s comn´ımpar s˜ao nulos. Com esse conhecimento podemos escrever

zcoth(z) = X

n=0

4nB2n

(2n)! z2n. (6.13)

Comozcotg (z) =izcoth(iz), obtemos tamb´em zcotg (z) =

X

n=0

(−1)n4nB2n

(2n)! z2n, (6.14)

para|z|<2π.

a uma conclus˜ao importante a se obter de (6.14). A fun¸c˜aozcotg (z) satisfaz tamb´em a igualdade, obtida primei- ramente por Euler em 1748,

zcotg (z) = 12z2 X

k=1

1

(kπ)2z2. (6.15)

Demonstra¸c˜oes dessa importante rela¸c˜ao podem ser encontradas nestas notas no Exerc´ıcio E. 7.5, p´agina 356, no Exerc´ıcio- dirigido E. 6.17, p´agina 339, ou no Exerc´ıcio-dirigido E. 36.23, p´agina 1852 (para outras referˆencias, vide esses Exerc´ıcios- dirigidos). Agora, para|z|< π, podemos escrever, j´a quek1,

1

(kπ)2z2 = 1 (kπ)2

1 1 z

2

!

= 1

(kπ)2 X

n=0

z

2n

,

e reinserindo isso em (6.15), obtemos

zcotg (z) = 1 X

n=1

2 X

k=1

1 (kπ)2n

! z2n.

Comparando a (6.14), obtemos finalmente X

k=1

1

k2n = (−1)n+14nB2n

2(2n)!π2n = (−1)n+1(2π)2nB2n

2(2n)! , (6.16)

v´alida para todo inteiron > 0. Note que o lado esquerdo ´e igual aζ(2n), onde ζ´e a fun¸c˜ao zeta de Riemann, definida em (6.1), p´agina 311. A c´elebre express˜ao (6.16) foi obtida pela primeira vez em 1735, por Euler, resolvendo

Referências

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