Familiares, amigos e fãs
começam a se despedir de
Ariano Suassuna
Velório do escritor ocorre no Palácio do Campo das Princesas, no Recife.
Sepultamento está previsto para esta quinta, no Cemitério Morada da Paz.
O corpo do escritor Ariano Suassuna começou a ser velado no Palácio do Campo das Princesas, no Centro do Recife, ainda na noite de quarta (23). Por volta das 22h55, o caixão foi recebido por familiares, amigos e políticos, que participaram de uma celebração religiosa. As portas do palácio, que é sede do governo de Pernambuco, só foram abertas ao público por volta das 23h30, meia hora após o previsto inicialmente. Ariano morreu às 17h15 da quarta, vítima de uma parada cardíaca. Ele estava internado desde a noite de segunda (21) no Hospital Português, onde foi submetido a uma cirurgia na mesma noite após sofrer um acidente vascular cerebral (AVC) hemorrágico.
e do Brasil. Durante a celebração religiosa, frei Aloísio r e l e m b r o u a t r a j e t ó r i a d o d r a m a t u r g o e d e s t a c o u a religiosidade de Ariano. “Lá em cima, Nossa Senhora pedirá que ele represente a peça O Auto da Compadecida”, afirmou.
Corpo de Ariano Suassuna chega ao Palácio do Campo das Princesas, Centro do Recife (Foto: Vitor Tavares/G1)
Na cerimônia, Germana Suassuna, neta de Ariano, leu um texto em homenagem ao avô. Ela destacou que o escritor viveu os últimos dias da forma que queria, no palco. Na última sexta-feira, ele apresentou sua última aula-espetáculo, no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG), no Agreste pernambucano. Germana também destacou o apoio que todos os familiares darão a Zélia Suassuna, agora viúva de Ariano. “Meu avô foi o homem mais feliz do lado dela. E ela também foi a mulher mais feliz. […] Meu avô é simplesmente imortal”, disse.
mãe, Nelma Cristina, encontraram o escritor apenas uma vez na vida, mas guardaram o momento da lembrança. “Foi numa igreja. Vou sempre lembrar da pessoa que ele foi, um exemplo de ser humano”, comentou Nelma.
Amiga da família Suassuna e vizinha de rua de Rita Suassuna, mãe de Ariano, a matemática Jeanine Japiassu relembrou os tempos de adolescência. “Conheço ele desde os 13 anos de idade, quando ele já era professor da minha irmã. Ele é e sempre será um ícone, uma pessoa que fez arte, criou movimentos como nenhuma outra aqui no Brasil. Agora, ele deixa um vazio”.
A previsão é que o velório aconteça durante toda o dia e só termine às 15h desta quinta (24). O corpo será enterrado no Cemitério Morada da Paz, em Paulista, Grande Recife, por volta das 16h.
Estado de Pernambuco e do Brasil (Foto: Vitor Tavares/G1) Internamentos
Em 2013, Ariano foi internado duas vezes. A primeira delas em 21 de agosto, quando sentiu-se mal após sofrer um infarto agudo do miocárdio de pequenas proporções, de acordo com os médicos, e ficou internado na unidade coronária, mas depois foi transferido para um apartamento no hospital. Recebeu alta após seis dias, com recomendação de repouso e nenhuma visita. Dias depois, um aneurisma cerebral o levou de volta ao hospital. Uma arteriografia foi feita para tratamento e ele saiu da UTI para um apartamento do hospital, de onde recebeu alta seis dias depois da internação, no dia 4 de setembro.
Na noite de segunda-feira (21), Ariano Suassuna deu entrada no hospital e foi operado após o diagnóstico do AVC. A cirurgia foi para a colocação de dois drenos, na tentativa de controlar a pressão intracraniana. Na noite de terça, o quadro dele se agravou, devido a “queda da pressão arterial e pressão intracraniana muito elevada”, conforme foi informado em boletim.
Ativo até o fim
Salão principal do Palácio do Campo das Princesas recebe parentes, amigos e admiradores do escritor (Foto: Vitor Tavares/G1)
Em março deste ano, Ariano foi homenageado pelo maior bloco do mundo, o Galo da Madrugada. Ele pediu que a decoração fosse feita nas cores do Sport, vermelho e preto, e ficou muito contente com a homenagem. “Eu acho o futebol uma manifestação cultural que tem muitas ligações com o carnaval”, disse, na ocasião.
No mesmo mês, o escritor concedeu uma entrevista à TV Globo Nordeste sobre a finalização de seu novo livro, “O jumento sedutor”. Os manuscritos começaram a ser trabalhados há mais de trinta anos.
Obra
A primeira peça do escritor, “Uma mulher vestida de sol”, ganhou o prêmio Nicolau Carlos Magno em 1948. Ariano escreveu um de seus maiores clássicos, “O Auto da Compadecida”, em 1955, cinco anos depois de se formar em direito. A peça foi apresentada pela primeira vez no Recife, em 1957, no Teatro de Santa Isabel, sem grande sucesso, explodindo nacionalmente apenas quando foi encenada – e ganhou o prêmio – no Festival de Estudantes do Rio de Janeiro, no Teatro Dulcina. A obra é considerada a mais famosa dele, devido às diversas adaptações. Guel Arraes levou o “Auto” à TV e ao cinema em 1999.
Na aula-espetáculo, Ariano misturava causos, informações sobre elementos da cultura popular nordestina (Foto: Costa Neto / Secretaria de Cultura de Pernambuco)
Na década de 70, Ariano começou a articular o Movimento Armorial, que defendeu a criação de uma arte erudita nordestina a partir de suas raízes populares. Ele também foi membro-fundador do Conselho Nacional de Cultura.
Após 32 anos nas salas de aula, Suassuna se aposentou do cargo de professor da Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. O período também ficou marcado pelo reconhecimento nacional do escritor – Ariano tomou posse na cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras (ABL), no Rio de Janeiro, em 1990.
Fonte: G1.