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CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS CONTRATO ONEROSO

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Tribunal da Relação de Guimarães Processo nº 28481/15.0YIPRT.G1 Relator: LINA CASTRO BAPTISTA Sessão: 23 Março 2017

Número: RG

Votação: UNANIMIDADE Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: IMPROCEDENTE

CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS CONTRATO ONEROSO

FIXAÇÃO JUDICIAL DO PREÇO

Sumário

I – Estando provado que o acordo celebrado entre as partes tinha por objecto o resultado ou produto de um trabalho intelectual, em concreto, a realização de uma “Candidatura”, estamos perante um contrato de prestação de serviços atípico, sendo-lhe aplicáveis, por força do art. 1156.º do C.Civil, as disposições legais do contrato de mandato.

II - Uma vez que a Autora é uma sociedade comercial, tendo por escopo o lucro, o contrato tem que se considerar oneroso, por aplicação da disposição legal do art. 1158.º, n.º 1, do C.Civil e da disposição especial do art. 232.º do C. Comercial.

III – Na falta de fixação contratual do preço, o valor praticado habitualmente pela Autora para este tipo de serviços será o valor de referência mais justo para a fixação do preço devido.

Texto Integral

Acordam no Tribunal da Relação de Guimarães

I—RELATÓRIO

“Q”, sociedade com sede na Praceta João Beltrão, n.º …, Braga, intentou requerimento de Injunção, entretanto convertido para ação declarativa de condenação, sob a forma de processo comum, contra “C”, com sede na Rua

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General Humberto Delgado, S/N, Arronches, pedindo a condenação deste a pagar-lhe a quantia de € 18 450,00, acrescida de juros de mora vencidos no valor de € 99,78 e vincendos.

Alega, em síntese, que é uma sociedade comercial que tem por objeto a

prestação de serviços de consultoria enquanto o Réu se dedica ao exercício de atividades de cariz social, designadamente lar de idosos, cantina social,

infantário e apoio domiciliário.

Afirma que, no exercício das respetivas atividades, prestou ao Réu serviços consistentes na “Realização de Candidatura à medida 6.12 – Apoio ao

Investimento a respostas integradas de apoio social, eixos 6, 8 e 9 – Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social”.

Acrescenta ter emitido a respetiva fatura (junta aos autos), datada de

14/01/15, com vencimento imediato, no valor de € 18 450,00. Bem como que interpelado, o Réu não procedeu ao pagamento do preço.

O Réu veio deduzir oposição à Injunção, contrapondo que nada contratou ou solicitou à Autora, nenhum serviço tendo recebido da parte desta.

Veio ainda deduzir exceção de incompetência relativa, alegando que a ação deveria correr termos no Tribunal do seu domicílio.

Pede que o pedido improceda na totalidade.

Oportunamente, julgou-se improcedente a invocada exceção de incompetência territorial, fixou-se o objeto do litígio e definiram-se os temas da prova.

Realizou-se audiência de julgamento, com observância do formalismo legal, e proferiu-se sentença, que julgou a ação totalmente procedente e, em

consequência, condenou o Réu a pagar à Autora a quantia de € 18 450,00, correspondente a € 15 000,00 acrescido de IVA, acrescida de juros de mora, calculados à taxa comercial, desde a data da prolação da sentença até integral pagamento.

Inconformada com a sentença, o Réu interpôs recurso, terminando com as seguintes

CONCLUSÕES:

A. O presente recurso incide sobre a sentença proferida em 13 de junho de 2016, na qual foi o Recorrente condenado ao pagamento da quantia de 18.450,00€ (dezoito mil, quatrocentos e cinquenta euros, correspondente a

€15.000,00 acrescido de IVA) bem como de juros de mora, porquanto considerou o Mmo. Tribunal a quo, a acção inteiramente procedente.

B. Sucede que a Recorrente não pode nunca concordar com o entendimento sufragado pelo douto Tribunal a quo, porquanto a sentença recorrida é

manifestamente inadequada e fundamentada em insuficientes factos provados.

C. Com efeito, nenhum dos quatro factos indicados como provados, conduz à

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conclusão pugnada pelo douto Tribunal a quo, segundo a qual, para além da celebração de um contrato, se presume que o mesmo se trata de contrato de prestação de serviços, que uma actividade foi prestada efectivamente pela Recorrida, que foi celebrado a título oneroso e ainda que, nada constando quanto ao preço, se deveria fixar no montante peticionado.

D. Sendo de resto os factos provados indicados, manifestamente inúteis e

insuficientes para toda a condenação, tratando-se ademais de factos públicos e notórios, para os quais se revelava despicienda a prova apresentada pelas partes.

E. Para além de insuficientes, estes factos não coincidem integralmente com o que se encontra vertido na motivação.

F. É que, salvo devido respeito, o facto da Recorrida "já ter tido outros

projectos que envolviam o ora ré" e "não tendo o tribunal ficado com qualquer dúvida quanto à prestação, pela Recorrida de serviços tendentes à

apresentação, com sucesso, da candidatura ( ... )" e o facto do Recorrente ter

"apenas aceitado uma ajuda que lhe foi proposta pela própria Recorrida", muito embora considere o Mmo. Juiz que "não é de todo habitual que uma empresa com escopo lucrativo preste ", não pode conduzir, sem mais, à conclusão de que se firmou um contrato de prestação de serviços, que por sinal, muito embora firmado com uma entidade que se dedica a actividades de cariz social, era oneroso, mesmosem aceitação expressa, em qualquer

momento quer por escrito, quer oralmente de um preço contratual.

G. Não se concebe igualmente que tendo considerado como provado ao longo da sua motivação que "Na verdade, a própria Recorrida não alegou que as parte houvessem acordado no preço peticionado, resultando até da motivação da matéria de facto que este valor não foi discutido na medida em que havia a expectativa de prosseguir para a segunda fase, caso em que a Recorrida

receberia 5% do valor do incentivo" e que "dos factos provados resulta que a prestação dos serviços foi acordada, nada constando contudo quanto ao acordo quanto ao preço", que possa qualificar o acordo das partes como oneroso.

H. Sequer a existência de um contrato, facto que o Recorrente sempre impugnou.

I. É ilógico e baseado em convicções de normalidade, que não se aplicam, face à especialidade da área de atuação do Recorrente.

J. Era à Recorrida que competia o ónus de provar a existência de um contrato com o Recorrente de prestação de serviços, o seu conteúdo, a remuneração acordada ou o respectivo critério de cálculo. (vide Acórdão do STJ de

09-07-2015, no âmbito do Proc. n.º 284040/11.0YIPRT.G1.S1).

K. O que não só não ocorreu, como nem sequer consta da indicação dos factos

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provados.

L. Da qual consta somente um acordo para que se efectuasse a realização da

"Candidatura à medida 6.12 - Apoio ao Investimento e respostas integradas de apoio social, eixos 6, 8 e 9 - Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social" e uma cobrança que foi efectuada pela Recorrida.

M. E não que essa cobrança era devida, como se impunha apreciar.

N. É que seria normal, no âmbito dos contratos onerosos que sempre foram estabelecidos com o Recorrente, concluir que inexistiu qualquer processo de contratação, ou de contratação pública, como de resto era exigível para o co- financiamento que se pretendia.

O. O que não ocorreu sequer pela forma de ajuste direto.

P. Tal não foi sequer valorado pelo Mmo. Tribunal a quo, que nem esclarece nos factos provados, qual foi, efectivamente o meio de contratação e o que tal abrangia.

Q. Como tal, é abusivo concluir, em face dos factos dados como provados: 1° - Que houve um contrato; 2° - Que o mesmo, pelas suas características

consubstanciava um contrato de prestação de serviços; 3° - Que se tratava de um contrato oneroso; 4° - Que o preço praticado seria o de 15.000,00€.

R. Ora, só comprovados os 4 pontos supra descritos é que, salvo devido respeito, seria legítimo ao Mmo. Juiz ter concluído como concluiu.

S. O que, não só não sucedeu, como não podia ter sucedido, uma vez que efectivamente inexistiu a celebração de qualquer contrato entre o Recorrente e a Recorrida, além do mais, e mesmo no absurdo da tese seguida pela

Recorrida, tem de se salientar que a proposta de contrato invocada por esta não tem qualquer preço, devendo por isso, mesmo a prestação invocada, ser sempre considerada como gratuita, limitando-se a Recorrida a pretender discutir uma indemnização alegadamente devida pela não celebração de

contrato de acompanhamento de candidatura, que constitui objecto distinto do que integra o pedido dos autos.

T. Verificando-se, pois, um erro de julgamento da matéria de facto e de direito, que não pode pois, ser ignorado pelo Mmo. Tribunal e que deverá conduzir à revogação da decisão recorrida conforme se entende na jurisprudência do Tribunal Central Administrativo do Sul, de 26-02-2013, no âmbito do Proc. n.º 06102/12.

U. Tanto na matéria de facto, por insuficiência desta para argumentar a

conclusão e condenação do Recorrente, violando as exigências constitucionais e legais de fundamentação de uma sentença, como na de Direito, por invocar a existência de um contrato de prestação de serviços inominado, cuja

denominação e características não consta (nem poderia constar) quer dos factos provados, quer dos factos alegados pelas partes.

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V. Erro demonstrado na errada e infundada qualificação do contrato, uma vez que verdadeiramente não existiu sequer qualquer aceitação da proposta

formulada pela Recorrida, qualquer menção a valores, cláusulas ou obrigações das partes.

W. O que, mesmo que se provasse ter ocorrido, nunca poderia conduzir à conclusão imediata que de contrato oneroso se tratava.

X. Mas tão somente que o Recorrente havia aceite um auxílio da Recorrida para a elaboração da Candidatura, sem que se previsse qualquer obrigação remuneratória ou a proposta fosse objecto de aceitação pelos órgãos

competentes do Recorrente.

Y. O que de resto resulta da prova carreada para os autos, sendo que, de resto se refere e reconhece pelo Mmo. Juiz do Tribunal a quo, que nada se fixou quanto a preço, nem foi efectivamente alegado pela Recorrida que o havia feito.

Z. Como tal, em face dos factos apurados e provados e concluindo pela sua insuficiência, deveria o douto juiz a quo, ter absolvido o R. do pedido.

Porquanto a decisão de facto é manifestamente insuficiente para suportar a decisão de Direito.

AA. Assim, andou mal Mmo. Tribunal quando qualificou sem mais um acordo em contrato de prestação de serviços, e não obstante nunca se terem fixado valores, sequer que se trataria de actividade remunerada, que se tratava de um contrato oneroso, sem que conste de qualquer facto provado o conteúdo da actividade e ou conjunto de actividades efectuadas pela Recorrida a favor do Recorrente.

BB. Enfermando a decisão recorrida de erro quer na aplicação de direito, quer valoração de factos provados, estando desconforme ao normativo legal

aplicável, bem como insuficientemente fundamentado factualmente, não

podendo como tal admitir-se e merecendo a revogação que a fim de requererá.

A Autora não veio apresentar contra-alegações.

O recurso foi admitido como de apelação, com efeito meramente devolutivo.

Colhidos os vistos, cumpre decidir.

*

II - DELIMITAÇÃO DO OBJECTO DO RECURSO

As questões a apreciar, delimitadas pelas conclusões do recurso, são as seguintes:

I. Nulidade da sentença por oposição entre a fundamentação de facto e os factos provados.

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II. Insuficiência dos factos provados para a condenação com base em falta de pagamento do preço devido pela celebração de um contrato de prestação de serviços.

*

III - NULIDADE DA SENTENÇA POR OPOSIÇÃO ENTRE A FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO E OS FACTOS PROVADOS

Alega o Recorrente que os factos não coincidem integralmente com o que se encontra vertido na motivação o que – em nosso entender – consubstancia a invocação de uma nulidade da sentença.

Especifica que o facto da Recorrida "já ter tido outros projectos que envolviam o ora ré" e "não tendo o tribunal ficado com qualquer dúvida quanto à

prestação, pela Recorrida de serviços tendentes à apresentação, com sucesso, da candidatura (...)" e o facto do Recorrente ter "apenas aceitado uma ajuda que lhe foi proposta pela própria Recorrida", muito embora considere o Mmo.

Juiz que "não é de todo habitual que uma empresa com escopo lucrativo preste

", não pode conduzir, sem mais, à conclusão de que se firmou um contrato de prestação de serviços, que por sinal, muito embora firmado com uma entidade que se dedica a actividades de cariz social, era oneroso, mesmo sem aceitação expressa, em qualquer momento quer por escrito, quer oralmente de um preço contratual.

Efetivamente, decorre do disposto no art. 615.º, n.º 1, alínea c), do Código de Processo Civil(1) que a sentença é nula quando – entre o mais – os

fundamentos estejam em contradição com a decisão ou ocorre alguma ambiguidade ou obscuridade que torne a decisão ininteligível.

Tal como explica Lebre de Freitas(2), trata-se, rigorosamente, de uma situação de anulabilidade da sentença por vício de estrutura, e não de uma verdadeira nulidade. Especifica: “Entre os fundamentos e a decisão não pode haver contradição lógica; se, na fundamentação da sentença, o julgador seguir determinada linha de raciocínio, apontando para determinada conclusão, e, em vez de a tirar, decidir noutro sentido, oposto ou divergente, a oposição será causa de nulidade da sentença.”

No entanto, nos presentes autos não se verifica qualquer invalidade com estes contornos, já que o Recorrente se limita a dar realce a uma passagem da

fundamentação de facto, a qual está devidamente integrada e justificada pela fundamentação no seu conjunto.

Com efeito, o Ex.mo Sr. Juíz recorrido fundamentou da seguinte forma a decisão de facto: “Na formação da sua convicção o tribunal atendeu desde logo à prova testemunhal produzida, designadamente ao depoimento de M, que trabalha numa empresa do grupo que a autora integra, que referiu já ter

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tido outros projectos que envolviam o ora réu (e isso mesmo vem atestado pela documentação de fls. 117 ss. e pela troca de correspondência junta,

designadamente aquando da recusa de pagamento pelo réu – fls. 112),

descrevendo que o procedimento habitual da autora era, primeiramente, o de analisar a viabilidade dos vários projectos que iam surgindo, aferindo da eventual conveniência dos mesmos para os potenciais clientes; em segundo lugar, contactar estes clientes, informando-os da oportunidade (o e-mail de fls.

83 enquadra-se claramente nesta actuação) e, em caso de manifestação de interesse, apresentar-lhes a proposta para a prestação dos serviços.

Efectuada a candidatura, só no caso de aprovação da mesma é que há lugar ao pagamento do preço, podendo depois a autora acompanhá-lo ou não consoante for o desejo do cliente.

Foi precisamente este o modo de proceder que constatou ter ocorrido com o ora réu, apesar do processo de candidatura ter sido efectuado por uma colega que consigo partilha o mesmo espaço de trabalho, de nome P, com quem

discutia diversos assuntos que surgiam a propósito deste projecto, que de resto constituía uma novidade relativamente a outros com que também já trabalhara e/ou interviera.

Silvana Maria Pimenta Leal, coordenadora de projectos de investimento que exerce funções na empresa autora desde 2011 e que já antes trabalhara em sociedades do grupo, esteve presente em várias reuniões que envolveram a Dra. MC, funcionária incumbida pelo réu para acompanhar o projecto de

candidatura, e o Dr. Carlos Manuel Cascalheira Rodrigues, representante legal do réu.

Nessas reuniões discutiram-se e desbloquearam-se assuntos relativos à elaboração da candidatura (levantava-se designadamente uma questão

relacionada com uma estrada que impedia o acoplamento da construção que pretendia efectuar-se com o incentivo - lar e idosos -, tendo sido acordado que se optaria por uma determinada estrutura), havendo a autora diligenciado pela elaboração da memória descritiva e preenchimento dos formulários da candidatura, informação e acompanhamento relativo à documentação

necessária.

Também Diana Andreia Moreira de Jesus, responsável pela área financeira da autora entre 2007 e 2014 e que também trabalhou na área de projectos,

partilhando o espaço (físico) de trabalho das colegas, tinha boa memória deste projecto, já que esta tipologia (6.12) era nova e envolveu várias técnicas – aí umas cinco – durante aproximadamente um mês.

Esclareceu também que, quando o projecto é aprovado, o cliente é notificado pelo Programa Operacional Potencial Humano (POPH) desse resultado, sendo aquele quem depois informa a empresa envolvida na elaboração da

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candidatura dessa aprovação, informando também da sua intenção, ou não, de prosseguir com essa empresa no acompanhamento da execução do projecto.

Ora, no caso em apreço o réu nada disse à autora após a aprovação da

candidatura, inviabilizando o acompanhamento da obra. Daí que esta apenas tenha tomado conhecimento dessa aprovação quando a viu publicada no site do POPH.

A cobrança do valor devido fez-se depois desse momento. Isto porque não é possível fixar o montante numa fase inicial, na medida em que o mesmo resulta habitualmente da aplicação da taxa 5% ao valor do incentivo, o qual que só se conhece com a aprovação da candidatura.

Contudo, isso sucede apenas nos casos em que há acompanhamento da execução do projecto, o que não sucedeu no presente caso, já que o réu não enviou à autora qualquer termo de aceitação para esse efeito.

Daí que a testemunha, pelas funções que exercia, tenha antes recebido indicações para facturar o valor mínimo da candidatura (o que se cobra sempre que se elabora uma candidatura que é aprovada, haja ou não

acompanhamento subsequente), valor este que a sociedade autora fixa em € 15.000,00, acrescido de IVA.

Os depoimentos vindos de referir foram esclarecedores, não tendo o tribunal ficado com qualquer dúvida quanto à prestação, pela autora, de serviços tendentes à apresentação, com sucesso, da candidatura, conferindo-se

credibilidade aos depoimentos vindos de referir, reveladores de conhecimento directo e razão de ciência.

De resto, a documentação junta a fls. 83 ss. e 106 ss. reporta precisamente a troca de comunicações e documentos entre as partes relativamente a esta candidatura.

É certo que a posição do réu diverge, como resultou das declarações do seu representante legal, segundo o qual a autora se ofereceu para ajudar no acompanhamento da elaboração da proposta de candidatura, em termos que não conhece bem, já que esta veio a ser efectuada pela Dra. MC, directora técnica do C.

E também certo que a testemunha MC confirmou esta versão, dizendo ter apenas aceitado uma ajuda que lhe foi proposta pela própria autora.

Contudo, não é de todo habitual que uma empresa com escopo lucrativo preste serviços gratuitos, com violação, inclusivamente, do princípio da especialidade do fim, não sendo sequer crível que à testemunha não tenha ocorrido não dever estar em causa uma ajuda meramente altruística e não remunerada, já que a troca de correspondência documentada nos autos, as informações prestadas pela autora quanto ao envio de documentos, a

orientação no preenchimento dos formulários e a provável elaboração escrita

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da fundamentação da candidatura (a testemunha já não tinha a certeza quanto à autoria desta) consumiram naturalmente recursos humanos da autora, não se concebendo que, sem qualquer razão justificativa e/ou contrapartida lucrativa, a mesma se prestasse a tais custos e trabalhos.

Por fim, a testemunha AF, engenheira colaboradora do réu desde Julho de 2011 – que não participou na fase da candidatura mas apenas na fase de acompanhamento do projecto - esclareceu que o incentivo obtido ascendeu a valor superior a € 600.000,00 e que normalmente as sociedades que efectuam a candidatura cobram 5% do valor que venha a ser atribuído, condicionado, muitas delas, à aprovação do mesmo, indo assim ao encontro do que as testemunhas arroladas pela autora haviam também dito.

Mais referiu que chegou a ver uma proposta da ora autora para

acompanhamento do projecto, mas que o réu não pretendeu tais serviços.”

Assim sendo, estando a fundamentação de facto da decisão recorrida feita de forma completa e lógica, sem qualquer contradição lógica com os factos provados, e é manifesta a improcedência da nulidade em causa.

*

IV – FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO

A matéria de facto considerada provada na sentença dos autos é a seguinte(3):

1) A autora dedica-se habitualmente e com intuito lucrativo à prestação de serviços de consultoria nas áreas da qualidade, ambiente, higiene e

segurança, organização e inovação, formação profissional e consultoria para os negócios e a gestão.

2) O réu dedica-se ao exercício de actividades de cariz social, designadamente lar de idosos, cantina social, infantário e apoio domiciliário.

3) No exercício das respectivas actividades, por acordo com o réu, a autora procedeu à realização da “Candidatura à Medida 6.12 - Apoio ao Investimento a respostas integradas de apoio social, eixos 6, 8 e 9 - Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social".

4) Por conta do referido em 3), em 14.01.2015 a autora cobrou do réu o valor de € 18.450,00, a pagar de imediato.

*

V - DIREITO (INSUFICIÊNCIA DOS FACTOS PROVADOS PARA A CONDENAÇÃO COM BASE EM FALTA DE PAGAMENTO DO PRELO DEVIDO PELA CELEBRAÇÃO DE UM CONTRATO DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS)

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A autora invoca, na Petição Inicial, que é uma sociedade comercial que tem por objeto a prestação de serviços de consultoria enquanto a Ré se dedica ao exercício de atividades de cariz social, designadamente lar de idosos, cantina social, infantário e apoio domiciliário.

Afirma que, no exercício das respetivas atividades, prestou ao Réu serviços consistentes na “Realização de Candidatura à medida 6.12 – Apoio ao

Investimento a respostas integradas de apoio social, eixos 6, 8 e 9 – Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social”.

Acrescenta ter emitido a respetiva fatura (junta aos autos), datada de 14/01/15, com vencimento imediato, no valor de € 18 450,00.

Como se sabe, e usando as palavras de Menezes Cordeiro(4) são elementos essenciais gerais para a celebração de um negócio jurídico “(…) a capacidade das partes, a declaração ou declarações de vontade e o objecto possível:

qualquer negócio jurídico deve, para existir em termos de validade, reunir estes elementos. Os elementos essenciais específicos variam consoante o tipo negocial considerado: por exemplo, na compra e venda, o preço é essencial para que se pudesse, sequer, encarar a presença desse específico contrato.”

Focando a nossa análise no contrato de prestação de serviços, temos que o mesmo é legalmente definido como “aquele em que uma das partes se obriga a proporcionar a outra certo resultado do seu trabalho intelectual ou manual, com ou sem retribuição.” – art. 1154.º do Código Civil(5).

Este tipo contratual define-se, tradicionalmente, por contraposição do contrato de trabalho, por o seu objecto ser um certo resultado independente de um trabalho manual ou inteletual (enquanto no contrato de trabalho o seu objecto típico é a própria actividade intelectual ou manual, exercida com subordinação jurídica do trabalhador)(6).

Como proposta de definição positiva, indicamos a defendida no Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 01/04/14, tendo como Relator Gabriel

Catarino(7): “O contrato de prestação de serviços, definido no art. 1154.º do CC, apresenta a natureza jurídica de bilateral, consensual, de duração

continuada e não solene, tendo por objecto a execução de uma actividade humana, intelectual ou manual, fungível ou infungível, a que está agregada, em regra, uma contraprestação ou retribuição pecuniária, como pagamento do serviço prestado.”

O Código Civil define, como modalidades típicas do contrato de prestação de serviços, o mandato, o depósito e a empreitada (Cf. Art. 1555.º), havendo, no entanto, muitos outros tipo de contratos desta natureza que a lei não previu expressamente.

No caso recorrido, ficou provado que a Autora se dedica, habitualmente e com intuito lucrativo, à prestação de serviços de consultoria nas áreas da

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qualidade, ambiente, higiene e segurança, organização e inovação, formação profissional e consultoria para os negócios e a gestão. Por outro lado, que o Réu se dedica ao exercício de actividades de cariz social, designadamente lar de idosos, cantina social, infantário e apoio domiciliário.

Considerou-se, depois, provado que, no exercício das respectivas actividades, por acordo com o réu, a autora procedeu à realização da “Candidatura à Medida 6.12 - Apoio ao Investimento a respostas integradas de apoio social, eixos 6, 8 e 9 - Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social".

Deu-se, por fim, como provado que, por conta do referido em 3), em 14.01.2015 a autora cobrou do réu o valor de € 18.450,00, a pagar de imediato.

O Recorrente defende que nenhum destes quatro factos indicados como provados, conduz à conclusão pugnada pelo douto Tribunal a quo, segundo a qual, para além da celebração de um contrato, se presume que o mesmo se trata de contrato de prestação de serviços, que uma actividade foi prestada efectivamente pela Recorrida, que foi celebrado a título oneroso e ainda que, nada constando quanto ao preço, se deveria fixar no montante peticionado.

Discordamos em absoluto, já que – tal como o Tribunal Recorrido – entendemos que a factualidade apurada é suficiente para considerar a

celebração entre as partes de um contrato e, face às suas características, que se trata de um contrato de prestação de serviços.

Desde logo, está assente que a atividade concreta levada a cabo pela Autora o foi no exercício da sua atividade e por acordo com o Réu, também no exercício da sua atividade.

Verifica-se, portanto, a formação de um contrato através de declarações de vontade tendentes à sua celebração, nos moldes acima enunciados.

Depois, face à atividade concreta levada a cabo pela Autora, terá

efectivamente que concluir-se que entre as partes foi celebrado um contrato de prestação de serviços.

Em concreto, está provado que o acordo celebrado entre Autora e Réu tinha por objecto o resultado ou produto de um trabalho intelectual, em concreto, a realização de uma “Candidatura à Medida 6.12 - Apoio ao Investimento a respostas integradas de apoio social, eixos 6, 8 e 9 - Cidadania, Inclusão e Desenvolvimento Social".

Explica Carlos Ferreira de Almeida(8) que um dos sub-tipos do contrato de prestação de serviços são precisamente os contratos de informação, conselho, planeamento e controlo, que exemplifica como sendo os contratos de

prestação de informações comerciais, de consultoria jurídica, de consultoria para investimento, de assessoria contabilística ou fiscal, de consultoria em gestão ou consultoria informática.

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Conclui-se, portanto, tratar-se de um contrato de prestação de serviços

atípico, sendo-lhe aplicáveis, por força do art. 1156.º do C.Civil, as disposições legais do contrato de mandato.

Por virtude desta remissão e ainda por aplicação das disposições do Código Comercial, o contrato em causa deve considerar-se oneroso, apesar de não se ter provado que as partes tenham chegado a fixar o preço devido pela

execução do serviço.

Com efeito, o art. 1158.º do C.Civil determina expressamente que o mandato se presume oneroso, se tiver por objecto atos que o prestador do serviço pratique por profissão. Em sede de regime especial, o art. 232.º do Código Comercial determina que “O mandato comercial não se presume gratuito, tendo todo o mandatário direito a uma remuneração pelo seu trabalho.”

Assim, na medida em que a Autora é uma sociedade comercial que tem por escopo o lucro, o contrato dos autos tem que se considerar oneroso (e não apenas presumivelmente oneroso, nos termos que decorreriam da mera aplicação das disposições legais do C.Civil).

Defendendo idêntica posição, veja-se Menezes Leitão(9) que, entre o mais, refere que “No mandato comercial, pelo contrário, o art. 232.º do C.Com parece consagrar injuntivamente a regra da onerosidade, não se limitando a derrogar a presunção de gratuitidade que vigora no âmbito civil.”

Assim, tratando-se de um contrato oneroso – uma das obrigações daquele que encomenda o serviço é “pagar a retribuição que ao caso competir”, além de

“reembolsar o mandatário (leia-se prestador do serviço) das despesas feitas que este fundadamente tenha considerado indispensáveis, com juros legais desde que foram efectuadas”. (cf. art. 1167.º do C. Civil).

Nas situações em que o preço não tenha sido definido expressamente pelas partes, a retribuição é estabelecida, sucessivamente, pelas tarifas

profissionais, pelos usos ou com recurso a juízos de equidade (Cf. Art. 1158.º, n.º 2, do C.Civil) ou, no mesmo sentido, pelos usos da praça onde foi

executado o serviço (Cf. Art. 232.º, n.º 2, do Código Comercial).

No caso em apreciação, o Tribunal Recorrido, no que a esta parte da fixação do preço respeita, decidiu que “Dos factos provados resulta que a prestação dos serviços foi acordada, nada constando contudo quanto ao acordo quanto ao preço. Na verdade, a própria autora não alegou que as partes houvessem acordado no preço peticionado, resultando até da motivação da matéria de facto que este valor não foi discutido na medida em que havia a expectativa de prosseguir para a segunda fase, caso em que a autora receberia 5% do valor do incentivo. Tendo a prestação de serviços ficado circunscrita à primeira fase, atender-se-á ao valor contratual que a autora praticava à data e que

correspondia ao peticionado, conforme referiu a testemunha Diana Andreia

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Moreira de Jesus que, como responsável pela área financeira da autora entre 2007 e 2014, é claramente a pessoa mais indicada para se pronunciar quanto a tal matéria.”

Concordamos com esta subsunção jurídica dos factos às normas jurídicas acima citadas, atendendo a que o valor praticado habitualmente pela Autora para este tipo de serviços será precisamente o valor de referência mais justo para a fixação do preço devido (até por que o Réu já contratou a Autora, no passado, para a execução de outros serviços do mesmo tipo).

Finalmente, a Autora reclama ainda a condenação do Réu em juros de mora, à taxa comercial.

Como é pacífico, a mora constitui o devedor na obrigação de reparar os danos causados ao credor e, nas obrigações pecuniárias, essa indemnização

corresponde aos juros a contar da constituição em mora - art. 806.º, nº 1, do C.Civil.

No caso dos autos, perante a matéria apurada e a circunstância de não se ter apurado que o Réu tenha sido interpelado para pagar em dia certo, são

efectivamente devidos juros de mora sobre pelo menos desde a data da sentença.

Atendendo à natureza comercial da dívida dos autos, estes juros deverão ser contabilizados às sucessivas taxas de juro comerciais, nos termos decididos na decisão recorrida.

A conclusão final é, portanto, a da total improcedência do recurso.

*

VI - DECISÃO

Pelo exposto, acordam os Juízes que constituem este Tribunal da Relação em julgar totalmente improcedente o recurso do Recorrente/

Réu, confirmando-se a decisão recorrida.

*

Custas a cargo do Recorrente/Réu - art. 527.º do C.P.Civil.

*

Notifique e registe.

(Processado e revisto com recurso a meios informáticos) Guimarães, 23 de março de 2017

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(Lina Castro Baptista)

(14)

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(Maria de Fátima Almeida Andrade)

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(Alexandra Maria Rolim Mendes)

1 - Doravante designado apenas por C.P.Civil.

2 - In Código de Processo Civil Anotado, Volume 2º, 2ª Edição, 2008, Coimbra Editora, p. 703.

3 - Consignando-se que na mesma se fez constar que não ficaram por provar quaisquer factos alegados ou entretanto carreados para os autos, nos termos do art. 5.º do C.P.Civil.

4 - In Tratado de Direito Civil, Volume II, Parte Geral, Negócio Jurídico, 4ª Edição, 2014, Almedina, p. 116.

5 - Doravante apenas designado por C.Civil.

6 - Veja-se, a título exemplificativo, Código Civil Anotado, Pires de Lima e Antunes Varela, Volume II 4ª Edição, 1997, Coimbra Editora, p. 782 e ss.

7 - Proferido no Process n.º 894/11.4TBGRD.C1.S1 e disponível em www.dgsi.pt na data do presente Acórdão.

8 - n Contratos II, 2ª Edição, 2011, Almedina, p. 182.

9 - In Direito das Obrigações, Volume III, 2016, 11.ª Edição, Almedina, p. 430.

Referências

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