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Rev. Bras. Psiquiatr. vol.25 número1

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Academic year: 2018

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Rev Bras Psiquiatr 2003;25(1):63-4

Estudos com relação ao desenvolvimento infantil são bas-tante recentes na história da humanidade. Até uma época pró-xima ao século XX, as crianças eram tratadas como pequenos adultos. Recebiam cuidados especiais apenas em idade muito precoce e a partir dos três ou quatro anos participavam das mesmas atividades que os adultos. No início do século XX, a partir das revelações de Freud sobre a importância dos primei-ros anos de vida na estruturação do psiquismo do indivíduo adulto, o reconhecimento do tratamento de crianças começou a adquirir bases mais sólidas. Além de derrubar o mito do ho-mem racional, através da descoberta dos processos inconsci-entes, Freud introduziu todo universo da sexualidade infantil. Ao considerar-se a recente atenção dirigida às práticas em psiquiatria infantil, o leitor encontrará nessa nova publicação mais uma importante contribuição para esse campo de conhe-cimento e atuação tão fundamental e controverso pela própria complexidade que o tema envolve. Dividido em três partes, o livro pretende: fundamentar a prática da psicoterapia (parte I); descrever e discutir possíveis modalidades de intervenção (parte II) e; apresentar modelos assistenciais específicos para alguns transtornos do desenvolvimento infantil com a preocupação de descrever diferentes abordagens diante de diferentes qua-dros clínicos (parte III).

Após a “Apresentação” de Assumpção, na qual o autor enfatiza a importância de se valorizar a intersecção de diversas formas de pensamento na Psiquiatria Infantil, inicia-se a primeira parte do livro, “A Prática Fundamentada”, dividida em quatro capítu-los. Nesse momento observa-se uma preocupação dos autores quanto à definição do conceito de psicoterapia, assim como suas bases epistemológicas no campo da filosofia. Uma discussão sobre os preceitos éticos envolvidos no atendimento de crianças e adolescentes e as vicissitudes desse trabalho dentro da Institui-ção também são temas pertencentes a esse primeiro bloco. Pare-ce importante referendar a importância que é dada à comunica-ção terapêutica como um instrumento de transformacomunica-ção e adap-tação do indivíduo. Sem essa premissa não há possibilidade de se estabelecer uma relação e viabilizar qualquer trabalho tera-pêutico. A discussão sobre a necessidade de um trabalho ético, como contraponto ao utilitarismo, também oferece ao leitor a oportunidade de questionar-se sobre sua prática e considerar a importância do paciente e suas idiossincrasias em qualquer tipo de assistência que se pretenda oferecer.

A segunda parte do livro, “Das Práticas Psicoterápicas”, vai abordar, num âmbito mais amplo, a psicoterapia dirigida à

cri-Livro

ança e ao adolescente, a terapia familiar e a psicoterapia de grupo. Encontra-se nesse seg-mento interessante di-ferenciação entre psi-quiatria, psicanálise e psicoterapia em relação à perspectiva de cura. Questiona-se o concei-to de psicoterapia e destaca-se a importân-cia de se reconhecer o processo terapêutico como a expansão do conhecimento de si mesmo e o desenvolvi-mento de melhores condições emocionais

e mentais do indivíduo. Outra importante contribuição é o momento onde se define de forma precisa o conceito de adolescer e expõe-se, através de exemplos clínicos e boa arti-culação teórica, as vicissitudes do diagnóstico e tratamento dos adolescentes, originalmente considerando a importância do estado mental do analista assim como sua necessidade de su-pervisões para um bom acompanhamento desses pacientes. Ainda nessa parte, observa-se a indicação da psicoterapia di-nâmica breve para os adolescentes, desde que se preserve os requisitos básicos para tal intervenção, como por exemplo a necessidade de uma indicação muito precisa, a possibilidade da eleição de um foco e a tolerância à incompletude do traba-lho. A terapia familiar e o processo terapêutico em grupo ofe-recem ao leitor a oportunidade de uma reflexão sobre o alcan-ce dessas práticas e das dificuldades encontradas.

Na terceira e última parte do livro, “A Especificidade das Práticas”, tem-se a impressão de que há uma grande necessi-dade de se abordar “a doença” em questão, principalmente na indicação praticamente incontestável da terapia cognitiva com-portamental no atendimento dos quadros de fobia e de trans-torno obsessivo-compulsivo. Parece que “o sujeito” que está por trás de sua sintomatologia não é devidamente abordado em sua completude. Sabe-se da direta relação entre cognição e comportamento, contudo a existência dos aspectos afetivos e emocionais insere uma complexidade maior na compreensão do paciente, principalmente em relação às questões estruturais do indivíduo, fatores essenciais na formação desses pensamen-tos e comportamenpensamen-tos. Parece haver uma certa ingenuidade ao considerar-se que “o problema” está resolvido com a remissão desse ou daquele comportamento/pensamento. O que levou o paciente a chegar a essa dinâmica de funcionamento envolve processos mais complexos que mereceriam outro tipo de

dis-Práticas psicoterápicas na infância e na

adolescência

Organizadores: Francisco B. Assumpção Jr. e Diva Reale. São Paulo: Manole Editora Ltda, 2002, 309 páginas.

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Dados epidemiológicos em psiquiatria infantil Bird HR & Duarte CS

cussão e abordagem. Sobre a psicoterapia da drogadição e do abuso na infância e adolescência, o leitor encontrará textos bem articulados que abordam essas questões sob vários aspectos, bem como considerações sobre as possíveis causas desses com-portamentos, assim como a indicação ou não da psicoterapia, as metas a serem atingidas e a relevância de um forte vínculo de confiança na figura do terapeuta.

Não há dúvidas sobre a importante contribuição dessa publi-cação a todos os profissionais que, de alguma forma, preten-dem atender com ética, seriedade e comprometimento,

crian-ças e adolescentes nas condições mais adversas que a vida lhes impõe. O texto oferece uma contribuição importante no mane-jo das dificuldades encontradas diante de diagnósticos tão gra-ves e de difícil abordagem.

Maria Cecília Fernandes Silva

Referências

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