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Mitos e verdades sobre o trabalho infantil nas percepções das famílias inseridas no programa de erradicação do trabalho infantil

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA – UNISUL KAROLINA MACHADO

MITOS E VERDADES SOBRE O TRABALHO INFANTIL NAS PERCEPÇÕES DAS FAMÍLIAS INSERIDAS NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO

INFANTIL - REGIÃO SUL NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

PALHOÇA 2009

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KAROLINA MACHADO

MITOS E VERDADES SOBRE O TRABALHO INFANTIL NAS PERCEPÇÕES DAS FAMÍLIAS INSERIDAS NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO

INFANTIL - REGIÃO SUL NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

Este trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina - Pedra Branca, como requisito parcial à obtenção do titulo de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª. Drª. Darlene de Moraes Silveira

PALHOÇA 2009

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KAROLINA MACHADO

MITOS E VERDADES SOBRE O TRABALHO INFANTIL NAS PERCEPÇÕES DAS FAMÍLIAS INSERIDAS NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO

INFANTIL - REGIÃO SUL NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS

Este trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de graduação em Serviço Social da Universidade do Sul de Santa Catarina - Pedra Branca, como requisito parcial à obtenção do titulo de Bacharel em Serviço Social.

Palhoça,_____de______________de 2009.

__________________________________________________ Professora Orientadora: Darlene de Moraes Silveira Drª.

Universidade do Sul de Santa Catarina

________________________________________________________ 1º Membro da Banca: Prof. Msc. Leandro K. Pacheco

Universidade do Sul de Santa Catarina

________________________________________________________ 2ª Membro da Banca: Assistente Social Msc. Kátia Carvalho Figueiredo

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Dedico este trabalho a minha família especialmente a minha mãe, que são as pessoas mais importantes da minha vida, por todo amor e incentivo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus e a minha família. A minha mãe que sempre me incentivou a prosseguir nessa longa jornada da minha vida. Ao meu pai pelo carinho e preocupação. Aos meus irmãos Marcos, Airton, Alexandre, Karina e Karla por estarem perto de mim nesse momento. A minha querida Avó Marta (in memorian) que tanto amo e sinto muita falta.

As minhas tias maravilhosas: Graça, Rita e Isabel que sempre me apoiaram. As minhas primas Monique e Janaina pelas tardes de café deliciosas. Ao meu amigão Robson que muito admiro. Ao Eduardo pelo carinho e compreensão de sempre. A minha prima e amiga Andréia que sempre esteve do meu lado nas horas difíceis. A Gláucia que sempre compartilhou um pouco da sua inteligência. Ao Henrique que sempre me ajudou quando estava em apuros. Aos meus amigos que não vejo mais e sinto tanta falta. A “uma pessoa” em especial que não vou esquecer jamais. Aos meus sobrinhos: Marcelo, Kaiky, Kimberlly, Jheneffer e Matheus. A minha cunhada Fernanda pelos sábados de muito vinho. A Daura pelas horas descontraídas que passamos juntas. Aos meus dois cunhados Jeferson e Maikon que adoram pegar no meu pé. A minha querida professora de Português (Lisa) da fase do colegial, que me ajudou muito nesse momento de turbulência, mesmo com tantos compromissos, muito obrigada de coração.

Aos profissionais do PETI, que me acolheram com tanto carinho: Kátia, Ali, a minha querida supervisora Jose. Ao Srº Carlos Alberto que me deu essa oportunidade de aprendizado e claro sem esquecer sua esposa Joseane que tenho um carinho especial.

As minhas queridas amigas e companheiras Mayara, Fernanda, Tati e Juliana. Ao meu conselheiro Gabriel. Não poderia deixar de citar a Dona Edésia e o motorista Osni.

Ás companheiras da faculdade: Wânia, Ivonete, Elizete, Pâmella, Mayara, Lygia, Rô. Elizabete. Em especial Ana e Bete que vou ser sempre grata por tudo que fizeram por mim adoro vocês.

Agradeço também as professoras do curso de Serviço Social que me acompanharam desde 1ª fase. A minha orientadora, Darlene, por toda dedicação, competência, paciência e carinho em poder contribuir na minha formação profissional, agradeço por tudo. Nesse momento posso dizer que estou sentindo “insegurança, medo, alegria, paz e emoção, tudo ao mesmo tempo num só coração”.

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Por fim agradeço a todos que compartilharam nesse processo acadêmico. Talvez tenha esquecido alguém, mas quero que saibam que sou grata a cada um de vocês por esta vitória alcançada.

MUITO OBRIGADA!!!

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É preciso quebrar o mito de que o trabalho infantil dignifica, qualquer que seja ele; de que é melhor trabalhar do que ficar pelas ruas; de que o trabalho é o pai da virtude. É preciso resgatar o papel da Educação como possibilidade de formação básica por excelência

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso tem como objetivo analisar a concepção apontada pelas famílias e/ou responsáveis pelas crianças e adolescentes inseridos no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) no município de Florianópolis/Santa Catarina, sobre os mitos e verdades que envolvem o trabalho infantil. Inicialmente apresenta-se uma breve abordagem sobre o trabalho e a contextualização do trabalho infantil, discorrendo sobre as normativas que asseguram os direitos da criança e do adolescente, destacando o Estatuto da Criança e do Adolescente. O interesse pela temática ocorreu em virtude da realização do estágio curricular no PETI/Florianópolis, a partir do trabalho social com as famílias, donde foram ressaltados os mitos e verdades que envolvem o trabalho infantil. Com interesse de analisar o que as famílias tinham a dizer sobre o dilema que trata dos mitos e verdades sobre o trabalho infantil, as entrevistas realizadas com as famílias da região sul de Florianópolis, para as orientações e acompanhamento previstos no PETI, passaram a contar também com questões afetas aos mitos e verdades sobre o trabalho infantil. O trabalho que ora se apresenta, é fruto da sistematização da experiência de estágio no Programa de Erradicação Infantil no município de Florianópolis, mediante as entrevistas com as famílias, abordando trabalho precoce na realidade das famílias da região sul bem como os mitos e verdades do trabalho infantil na percepção dos responsáveis pelas crianças e adolescentes inseridas no PETI. Foi possível perceber que as famílias trazem um forte traço da percepção do trabalho precoce como inerente ao processo de constituição da responsabilidade de crianças e de adolescentes, assim como minimizam as situações de trabalho. Neste sentido o mito do trabalho infantil é construído culturalmente, pois é reproduzido por gerações de idéias, que encobre a verdadeira violência contra a população infanto-juvenil. A realidade do sistema capitalista obriga a população a vender sua força de trabalho, como alternativa para enfrentar as dificuldades no cotidiano. Assim, as exclusões do acesso aos serviços e às políticas públicas no Brasil estão defasadas, condicionando as famílias empobrecidas a necessitarem da disponibilidade da força de trabalho de crianças e de adolescentes.

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LISTA DE SIGLAS ASA – Ação Social Arquidiocesana

CADÚNICO – Cadastro Único para Programas Sociais CEF – Caixa Econômica Federal

CNSS – Conselho Nacional de Serviço Social

CONANDA – Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente CRAS – Centro de Referência de Assistência Social

CREAS – Centro de Referência Especializado de Assistência Social CTI– Conferência Internacional do Trabalho

DCA – Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente DRT´s – Delegacias Regionais do Trabalho

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

FUNABEM – Fundação Nacional do Bem Estar do Menor

FNPETI – Fórum Nacional de Prevenção e Erradicação do Trabalho Infantil FUCABEM – Fundação Catarinense do Bem Estar do Menor

GECTIPA´s – Grupos Especiais de Combate ao Trabalho Infantil e Proteção do Adolescente IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEC – Programa Internacional para a Eliminação do Trabalho Infantil MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MNMMR – Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua MTE – Ministério do Trabalho e do Emprego

OAB– Ordem dos Advogados do Brasil OIT – Organização Internacional do Trabalho ONU – Organização das Nações Unidas PBF – Programa Bolsa Família

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PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PLIMAC– Plano de Integração Menor-Comunidade PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios PNBEM – Política Nacional do Bem-Estar do Menor SAM – Serviço de Atendimento ao Menor

SISPETI – Sistema de Controle e Acompanhamento das Ações ofertadas pelo Serviço Socioeducativo do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

STI – Unidade de Inspeção Móvel da Secretaria de Inspeção do Trabalho SUAS – Sistema Único de Assistência Social

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina UFSC – Universidade Federal de Santa Catarina

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... 11

1 O TRABALHO E TRABALHO INFANTIL ... 13

1.1 UMA BREVE ABORDAGEM SOBRE O TRABALHO ... 13

1.2 CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL... 15

1.2.1 AS NORMATIVAS QUE ASSEGURAM OS DIREITOS DA CRIANÇA E ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL ... 22

1.3 O TRABALHO PRECOCE NA CONTEMPORANEIDADE ... 35

1.3.1 O TRABALHO PRECOCE E A CRIAÇÃO DO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL - PETI... 37

2 O SERVIÇO SOCIAL E A INTERLOCUÇÃO COM A ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFNATIL ... 43

2.1 O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE FLORIANÓPOLIS ... 43

2.2 O SERVIÇO SOCIAL E A ATUAÇÃO NO PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL – FLORIANÓPOLIS... 48

3 MITOS E VERDADES SOBRE O TRABALHO INFANTIL: REFLEXÕES SOBRE O SERVIÇO SOCIAL COM AS FAMÍLIAS DO PETI - FLORIANÓPOLIS - REGIÃO SUL... 55

3.1 FLORIANÓPOLIS - REGIÃO SUL - BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS FAMÍLIAS INSERIDAS NO PETI ... 55

3.2 MITOS E VERDADES SOBRE TRABALHO INFANTIL: A SISTEMATIZAÇÃO DA PRÁTICA DE ESTÁGIO JUNTO AO PETI-FPOLIS – REGIÃO SUL... 58

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 72

REFERÊNCIAS... 75

APÊNDICES ... 81

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é o resultado da prática de estágio em Serviço Social, realizado no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil (PETI) no município de Florianópolis em desenvolvimento desde março de 2009.

O interesse pela temática se deu em virtude do processo da prática de estágio no PETI de Florianópolis, quando foi possível perceber através da abordagem nas visitas domiciliares os mitos e verdades sobre o trabalho infantil mediante as percepções das famílias da Região Sul inseridas no Programa.

A sistematização e as reflexões apresentadas correspondem ao objetivo de analisar as percepções sobre os mitos e verdades do trabalho infanto-juvenil por parte das famílias das crianças e adolescentes do PETI.

Visando identificar o conhecimento disponível sobre a temática, utilizou-se a pesquisa bibliográfica, através de consulta a produções teóricas e diversos endereços eletrônicos relacionados ao assunto em pauta, que deram suporte ao trabalho. A pesquisa documental foi elaborada a partir da leitura dos cadastros das famílias da região sul, além da utilização de fontes como decretos, leis, portarias, informativos e documentos considerados como necessários. Os principais autores que deram aporte teórico à elaboração do trabalho foram: André Viana Custódio, Josiane Petry Veronese, Marilda Vilela Iamamoto, José Paulo Netto e Maria Carmelita Yazbek entre outras referências. Estes tratam, dentre outros, sobre temas relacionados ao trabalho precoce e à política social brasileira. Por fim, mediante a realização de visitas domiciliares através de um roteiro de entrevistas para a abordagem com as famílias inseridas no PETI, com o acréscimo de questões diretamente relacionadas à identificação dos mitos e verdades que envolvem o trabalho precoce.

O trabalho está estruturado em quatro capítulos. Sendo que o primeiro capítulo contextualiza o trabalho e o trabalho infantil, descrevendo a concepção sobre o trabalho, o trabalho infantil no Brasil e na contemporaneidade, as normativas que asseguram os direito da criança juntamente com a criação do PETI.

No segundo descreve o Serviço Social e interlocução com a erradicação do trabalho infantil, o PETI no município de Florianópolis e a atuação do profissional de Serviço Social no Programa, focalizando suas dimensões ético-política, teórico-metodológica e técnico-operativa.

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O terceiro capítulo apresenta os mitos e verdades sobre o trabalho infantil, através sistematização e respectivas análises das entrevistas realizadas pela estagiária durante a prática de estágio. Associam-se as reflexões sobre o trabalho do Serviço Social com as famílias inseridas no PETI.

Desse modo, o presente trabalho oferece contribuições para a área do conhecimento em Serviço Social, tendo em vista que este atua na viabilização do acesso aos direitos as crianças e adolescentes que tem seus direitos violados em razão da inserção no trabalho infanto-juvenil. A partir da análise dos mitos e verdades do trabalho infantil, é possível fornecer subsídios para implementar e potencializar ações profissionais nesta área, visando a efetiva prevenção ou a erradicação do trabalho precoce.

Por fim, apresentam-se as considerações finais suscitadas pelo estudo proposto, seguidas da referência bibliográficas que inspiraram a realização deste trabalho de conclusão de curso.

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1 O TRABALHO E TRABALHO INFANTIL

1.1 UMA BREVE ABORDAGEM SOBRE O TRABALHO

O trabalho sempre esteve inserido na humanidade, desde o Egito à Grécia e ao Império Romano, atravessando os séculos da Idade Média e do Renascimento, até os dias atuais, sofrendo as alterações também de concepção. Hoje, o labor representa a principal forma de intercâmbio material entre o homem e a natureza, meio pelo qual o homem interage e transforma a natureza.

Com o desenvolvimento da sociedade, a importância do trabalho foi alterando-se.O trabalho que era visto como tortura, maldição e desprezo, começou a ser visto como fonte de realização pessoal, social assegurando dignidade ao indivíduo.

Como enfatiza Iamamoto (2007, p.60):

O trabalho é uma atividade própria do ser humano, seja ela, material, intelectual ou artística. É por meio do trabalho que o homem se afirma como ser que dá respostas prático-conscientes aos seus carecimentos, às suas necessidades.

O trabalho, seja ele manual ou intelectual, garante ao indivíduo dignidade dentro de seu meio familiar e social. É por meio do trabalho que as necessidades do homem são satisfeitas, mas é o homem também o único ser capaz de realizar e criar os meios e instrumentos de trabalho.

O trabalho é uma condição ontológica social do ser humano, inerente a reprodução do ser social, além de seu caráter sócio histórico. Isso nos faz pensar que o trabalho possibilita a qualquer ser humano a condição de dignidade, de buscar seus direitos e construir uma história de vida. De acordo com Max (2001 apud Barroco, p.26) “o trabalho é fundamento ontológico-social do ser social;1 é ele que permite o desenvolvimento de mediações que instituem a diferencialidade do ser social em face de outros seres da natureza”.

Para Barroco (2001, p.41):

1 “Quando, nesse contexto, atribuímos ao trabalho e ás suas consequências – imediatas e mediatas – uma

prioridade com relação a outras formas de atividade, isso deve ser entendido num sentido puramente ontológico, ou seja, o trabalho é antes de mais nada, em termos genéticos, o ponto de partida da humanização do homem, do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo” (Lukács, 1979:87).

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O trabalho é parte significativa da vida cotidiana, expressando, em termos do desenvolvimento humano-genérico, universo do ser social e, em termos da cotidianidade, sua singularidade alienada

Em nossa sociedade o trabalho tem um papel fundamental na estrutura da organização econômica e social. Pois, é através do trabalho que começou a se estruturar as relações com o mundo, e com a sociedade. É o que move as relações socio-econômicas, políticas e em sociedade do país e da sustentabilidade do ser humano.

A Constituição Federal em seu artigo 170 dispõe:

“a ordem econômica, fundada na valorização do trabalho e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça”.

O trabalho, portanto, também é visto como a principal fonte de renda dos indivíduos, mas que é também uma relação social fundamental. Todo o trabalho, deve, atender as algumas condições, como ser realizado em vista da obtenção de uma renda, ser uma atividade social e socialmente definida e mediante a qual se produz riquezas.

Na concepção Marxista o trabalho deve ser produtor da própria condição humana, expressivo, fornecer recompensas de acordo com as necessidades de cada um, de conteúdo criativo e desafiante, dignificante, de controle coletivo e protegido pelo Estado. Por outro lado, Marx descreve o trabalho, na sociedade capitalista, como uma mercadoria, alienante, exploradora, humilhante, monótona e repetitiva, discriminante, empobrecedora e de submissão de parte dos homens (proprietários dos meios de produção), por outros (detentores da força de trabalho).

Citado por Iamamoto in Marx (2007, p.90):

A indiferença em relação ao gênero de trabalho determinado pressupõe uma totalidade muito desenvolvida de gêneros de trabalhos efetivos, nenhum dos quais domina os demais. Tampouco se reproduzem abstrações mais gerais senão onde existe o desenvolvimento concreto mais rico, onde aparece como comum a muitos, comum a todos. Então já não pode ser pensado somente sob uma forma particular. Por outro lado, esta abstração do trabalho em geral não é apenas o resultado intelectual de uma totalidade concreta de trabalhos. A indiferença em relação ao trabalho determinado corresponde a uma forma de sociedade na qual o gênero de trabalho é fortuito, e portanto lhes é indiferente. Nesse caso o trabalho se converteu não só como categoria, mas na efetividade em um meio de produzir riquezas em geral, deixando, como determinação de se confundir com o indivíduo na sua particularidade.

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No dizer de Nunes, citado por Machado2 (2006, p.02), “o trabalho é a atividade inteligente do homem em sociedade, preordenado ao objetivo de transformar e adaptar as forças da natureza com vista à satisfação de necessidades”.

O trabalho como fonte de riqueza dos países, onde os mesmos se desenvolvem através da força de trabalho, de agricultores, pescadores, comerciantes, artesãos e operários desenvolvam suas qualidades e suas personalidades próprias no exercício do trabalho.

Averigua-se também a coexistência de formas de trabalho assalariado com o trabalho autônomo, doméstico clandestino e os variados tipos de expressões da situação precária das relações de trabalho. Tendo um comprometimento com a luta dos direitos trabalhistas.

Nesse período o mercado de trabalho alterou os regimes de contratos de trabalho, com grande substituição de emprego formal pelo emprego em tempo parcial, temporário, subcontratado e terceirizado. Nos dias atuais há um grande aumento do contingente de pessoas exercendo o trabalho informal, a exclusão precoce de trabalhadores considerados “idosos” pela sociedade, a baixa absorção de jovens e a inserção cada vez mais de crianças no mercado de trabalho.

Refletir sobre a concepção de trabalho implica levantar questões à sociedade sobre a sua organização, sobre o funcionamento da economia, das relações laborais e políticas. Implica ainda questionar a divisão tradicional entre as esferas privada e pública. Pensar também sobre a constituição das relações sociais e as condições de relações de gênero e sobre os princípios e fundamentos da igualdade entre mulheres e homens. Para conhecer de fato esta exploração da mão-de-obra infanto-juvenil no próximo item será abordado a história do trabalho infantil no Brasil.

1.2 CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA O TRABALHO INFANTIL NO BRASIL

Evidentemente, a história brasileira não começa na invasão dos portugueses ao território já ocupado pelas tribos indígenas que o habitavam. No entanto, para o estudo do tema em tela este limite foi fixado em razão de um marco importante: a cultura européia da exploração de crianças no trabalho chegou ao Brasil através de hábitos e costumes que

2 MACHADO, Deolinda Carvalho. O Conceito Trabalho. Disponível em: <www.solidariedade.pt/

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atravessaram o oceano atlântico nas embarcações portuguesas. No período colonial conforme os estudos de Del Priori (2000), o ingresso das crianças no mundo do trabalho era extremamente precoce.

O período colonial no Brasil é caracterizado pela inserção precoce de crianças no trabalho, no mundo adulto, nesta ocasião o continente europeu ficara marcado por este tipo de exploração. Nas embarcações portuguesas traziam as crianças como trabalhadores que eram chamados de “grumetes e passagens” desempenhavam o papel importante nas travessias ao Atlântico rumo às novas terras.

De acordo com Custódio e Veronese (2007, p.16):

Se por um lado, crianças não atuavam como personagens significativos no imaginário social, por outro lado sua presença foi marcante e representativa na construção de uma história protagonizada pelos conquistadores portugueses’’

Os portugueses assimilavam as atividades laborais desenvolvidas, nas embarcações como uma responsabilidade de aprendizagem às crianças, fatores principais para a inserção da criança no trabalho precoce e no mundo adulto.

As crianças realizavam todas as tarefas de um adulto, mas recebiam a metade da remuneração de um marujo da mais baixa hierarquia da marinha portuguesa. Também eram atribuídas às crianças tarefas perigosas e penosas, pois, para os portugueses era mais fácil perder um miúdo do que estar desamparado da força adulta nas travessias. Sob este aspecto, Custódio e Veronese (2007) enfatizam que os pequenos eram recrutados através de rapto de crianças judias e a condição de vulnerabilidade vivenciada em Portugal. Eram os pais que alistavam os filhos para servirem as embarcações como forma de garantir a sobrevivência da família.

As crianças negras, que estavam na travessia do Atlântico eram fornecidas aos seus senhores que recebiam uma indenização pelo tempo que fossem permanecer nas embarcações. Percebe-se que a escravidão também existia nas embarcações e mesmo com o passar do tempo projetou marcas na contemporaneidade. Lima (2007, p. 13) afirma que “essas embarcações também transportavam crianças negras para ocupar a função de grumetes escravos”. Constatam-se elementos similares nas relações de trabalho atualmente.

Os séculos XVI e XVII são, portanto, marcados pelo trabalho infantil caracterizado nas relações de exploração e de dominação na relação de trabalho. Nesse período a expectativa de vida das crianças era baixa, isto no contexto dentro dos que nasciam com vida, cerca de cinquenta por cento morriam antes de completar os sete anos de idade. O trabalho

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infantil nas embarcações era especialmente útil, já que fornecia mão-de-obra ágil, de baixo custo e consumidora de poucos alimentos, fator que incentivava o recrutamento entre famílias portuguesas que sofriam com a fome.

Segundo Custódio e Veronese (2007), as crianças sofriam abusos sexuais dos marujos rudes e violentos, mesmo acompanhados dos pais eram violentadas. Essa exploração sexual e do trabalho das crianças consiste em prática de exploração habitual e permanente, em especial as de piores condições econômicas. Sobre este aspecto Ramos (2000, p.48) destaca que “o cotidiano infantil a bordo das embarcações portuguesas era extremamente penoso para os pequeninos.” Nessas embarcações as crianças eram vítimas de todas as privações, além das jornadas de trabalho, tinham uma alimentação deficiente provocando doenças graves que podiam levar a morte, não tinha espaços de privacidade, sendo objeto de abuso sexual provocadas pelos adultos.

Ainda Custódio e Veronese (2007), outro papel desempenhado pelas crianças nas embarcações era o de pajem, que prestavam serviços aos nobres e oficiais durante as travessias, seus serviços tinham como características mais leves e podiam possibilitar a ascensão aos cargos da marinha, eles eram recrutados junto às famílias pobres, mas a maioria provinha de setores médios urbanos de famílias protegidas pela nobreza ou famílias de baixa nobreza, para poder inserir um filho no contexto da expansão ultramarina como pajem era forma mais eficaz de ascensão social.

Assim a travessia do Atlântico realizada pelas embarcações portuguesas a partir do século XVI trouxe consigo a violência e exploração contra crianças e cultura do trabalho infantil, penoso e perigoso, da submissão, do desvalor da infância, representando a história da exclusão que irá se repetir ao longo dos séculos seguintes.

Segundo os autores, no Brasil quinhentista, a infância teve uma experiência marcante com a implantação do sistema de educação pelos jesuítas. Os interesses eram voltados à expansão da igreja e do domínio português, proporcionando a implantação da experiência inédita.

Para Custódio e Veronese (2009, p.20):

A educação produzida pelos jesuítas-período quinhentista cuidava de uma nova forma de ensino da doutrina cristã da leitura, da música e de um ofício. A experiência tem início com a educação de meninos portugueses, mas logo seria ampliada para crianças indígenas, consideradas então como ideais para inscrição dos valores civilizadores.

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Ainda segundo Custódio e Veronese (2009, p.20), é nesse momento que a infância estava sendo descoberta na transformação das relações entre indivíduo e grupo dando o engajamento a novas formas de afetividade. Nesse novo projeto societário a infância surge como espaço necessário para impressão dos valores europeus cristãos tão necessários à época para construção de uma nova sociedade. Por isso, nos primeiros momentos a companhia dedicou-se às crianças portuguesas que habitavam o Brasil e, mais tarde, descobre as crianças indígenas com a pureza necessária para inscrever os novos valores almejados indispensáveis a consolidação da conquista portuguesa.

Essa intervenção dos jesuítas contribuiu para construção de uma nova cultura, pelas manhãs, os meninos iam pescar para si e seus pais que não tinham outra forma de se manter. No período da tarde os meninos voltavam para a escola, faziam doutrina para todos da aldeia que acabava com Salve, cantada pelos meninos e a Ave Maria. Tais novidades trazidas pelos padres jesuítas estavam às punições corporais, introduzidas no século XVI. Esse modelo de correção horrorizava a população indígena que não tinha o costume de agredir as crianças.

Entretanto, no século XVI, a criança é marcada pelo estigma da escravidão, as embarcações trouxeram consigo além dos portugueses, a herança da violência contra crianças, a exploração do trabalho precoce e ausência da infância. Portanto os meninos das elites recebiam como companheiro para as brincadeiras um menino indígenas (curumim) e depois um menino negro (moleque) que seria para tudo, do amigo ao cavalo de montaria. Aos longos dos anos os efeitos em longo prazo foram à divisão entre brancos (senhores) e negros (escravos) responsável pela distorção do período histórico. (CUSTÓDIO e VERONESE, 2007).

Nesse sentido Siqueira (2006, p.35) afirma que “no tempo histórico, que vai do século XVI ao século XIX, as representações da infância sofreram grandes transformações diferenciando-se, inclusive, entre os diversos grupos sociais”. Reproduzindo uma radical desigualdade de classes.

Os escravos que desembarcavam no mercado do Valongo, no Rio de Janeiro no século XIX, 4% eram crianças, dessas apenas um terço sobreviviam até os doze anos. Com doze anos o valor no mercado das crianças tinha dobrado, porque seu adestramento já estava concluído, e aparece nas listas dos inventários com sua designação estabelecida: Chico roça, João pastor, Ana mucama para serem transformados em pequenas máquinas precoces de trabalho.

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As crianças pobres sempre trabalharam. Para quem? Para seus donos, no caso das crianças escravas da Colônia e do Império; para os “capitalistas” do início da industrialização, como ocorreu com as crianças órfãs, abandonadas ou desvalidas a partir do final do século XIX; para os grandes proprietários de terras como boias frias; nas unidades domésticas de produção artesanal ou agrícola; nas casas de família; e finalmente nas ruas, para manterem a si e suas famílias.

A inserção precoce de crianças no trabalho não exigia questionamento sobre seu desenvolvimento, a taxa de mortalidade de crianças escravizadas era alta. O interesse pela criança escravizada era o valor econômico, determinado pelas habilidades desenvolvidas como tarefas domésticas geralmente todos os trabalhos pesados, sujos e penosos eram feitos pelos escravos.

As ações assistenciais no Brasil surgiram no século XVI, com a Santa Casa de Misericórdia do Rio de no Rio de Janeiro, em 1582 de iniciativa católica, com missão de atender a todos, independente de idade, sexo, credo e condição. Crianças em situações de abandono eram amparadas pelas Casas de Misericórdia até completarem sete anos de idade, após este período, eram encaminhadas ao trabalho.

Lima e Venâncio, afirmam que:

Desde o século XVII, as autoridades administrativas do Rio de Janeiro enfrentavam o problema do abandono de crianças. Em 1693, o governo da capitania, Antônio Paes de Sande, escrevia ao rei “declarando a falta de caridade demonstrada em relação aos enjeitados”, largados nas ruas e terrenos baldios. Segundo a legislação lusitana, cabia às câmaras de vereadores lançarem fintas (impostos) nas importações metropolitanas para custearem a manutenção dessas crianças. O elevado número de abandonos, porém, sobrecarregava o orçamento, tornando precária essa assistência. (LIMA E VENÂNCIO, IN MARY DEL PRIORE, 1992, p. 66)

Com base das ações realizadas pelas Santas Casas surgiu à primeira iniciativa assistencial, a Roda dos Expostos. No Brasil os primeiros séculos são denominados pelos problemas de orfandade. As crianças eram acolhidas no momento em que eram deixadas nas rodas, sendo a instituição informada da chegada dos bebês por uma sineta. O acolhimento ocorria também por parte de famílias substitutas que se interessavam pelo trabalho precoce destas crianças. Neste período autorizava-se a exploração o trabalho da criança de forma remunerada ou em troca de casa e comida.

A primeira Roda dos Expostos foi implantada no Brasil em 1726, localizada em Salvador, com auxílio financeiro da fazenda pública e alguns beneméritos. A segunda foi em 1738 também no Rio de Janeiro e a terceira no ano de 1789 em Recife todas no período colonial. Diante do aumento do abandono de bebês, autoridades demonstram a necessidade da instalação do sistema da roda no Brasil (Melo, 2009).

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Como relata Custódio e Veronese (2009, p. 21):

Esse amparo assistencial foi objeto de mudanças com a instalação das Rodas dos Expostos, como experiência institucional de acolhimento específico para crianças abandonadas nas áreas urbanas, sendo instaladas a partir de 1726 e mantidas até 1950 no Brasil.

As péssimas condições em que as crianças eram submetidas nas rodas provocaram muito tempo depois, um movimento para sua extinção. Movimento este que foi muito mais fraco no Brasil do que na Europa. Tanto que ao final do século XIX ainda existiam muitas destas instituições. Informa Marcílio apud Custódio e Veronese (2009, p.21) que “a roda do Rio de Janeiro foi fechada em 1938, a de Porto Alegre em 1940, as de São Paulo e de Salvador sobreviviam até a década de 1950, sendo as últimas de gênero existentes nessa época em todo o mundo ocidental”.

No Brasil a transição do trabalho escravocrata para o livre aconteceu por volta do século XIX. Custódio e Veronese (2009, p.33) apontam que:

a transição, portanto, da escravidão para o trabalho livre, não viria significar a abolição da exploração das crianças no trabalho, mas substituir um sistema por outro, considerando mais legítimo e adequado aos princípios norteadores da chamada modernidade. O trabalho infantil continuará como instrumento de controle social da infância e de reprodução social das classes, surgindo, a partir daí, outras instituições fundadas em novos discursos.

De acordo com Cardoso3 (2001), a abolição da escravatura, a formação do trabalho livre e o início do processo de industrialização e urbanização das principais cidades, ocorridas no final do XIX e início do XX, propiciam o aumento da utilização da mão-de-obra tanto nos campos quanto nas áreas urbanas.

No século XIX crianças passam a trabalhar nas fábricas,agora com o discurso que o trabalho da criança ajuda a família. Este período é o início da primeira experiência de industrialização. Custódio e Veronese (2007, p.40) afirmam que “a implantação da indústria e sua expansão cooptaram a mão-de-obra infanto-juvenil, fenômeno este que não ocorreu apenas no Brasil, como também em outros países”.

As condições de trabalho dessas crianças eram realmente desumanas, devido à jornada de trabalho estafante, à capacidade física de um adulto. As crianças eram submetidas

3CARDOSO, Margarida Munguba. O cenário do trabalho de criança e adolescentes no Brasil: uma realidade

histórica. In: SEMINÁRIO DA REGIÃO, 1, 2000. Florianópolis. Anais... Proteção integral para crianças e adolescentes: fiscalização do trabalho, saúde e aprendizagem. Ed ver. E atual. Florianópolis: DRT/SC, 2001.

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desde cedo, à convivência em locais insalubres e perigosos, que muitas vezes colocavam a própria vida em risco.

Como salienta Cardoso (2001, p.11):

As crianças e adolescentes eram inseridos no ambiente da fábrica em condições de desvantagem, recebendo salário inferior aos dos adultos do sexo masculino, mesmo nos casos de exercício de igual função. As atividades que realizavam nas fábricas eram consideradas como aprendizagem e não como trabalho, isto é, como um favor.

Percebe-se que os donos das fábricas, ganhavam a lucratividade em cima da mão-de-obra de crianças e adolescentes, isso era mais importante do que a integridade física e seu desenvolvimento psicossocial.

Esse período da industrialização é marcado pelo trabalho desumano, onde crianças e adolescentes realizavam atividades laborais penosas e degradantes com jornadas prolongadas de trabalho e baixas remunerações.

Com relação às condições de trabalho das crianças e adolescentes nas fábricas no início da industrialização, Cardoso (2001, p.11):

Eram vítimas constantes de acidentes de trabalho por lidarem com equipamento perigoso, executavam tarefas incompatíveis com suas na rotina do processo produtivo. A jornada de trabalho era interrupta idade, pelo esforço excessivo e pala disciplina e atenção requerida e de doze horas, com dois turnos de igual número de horas.

Neste período industrial, Marx e Engels (1990, p.17) afirmam que “quanto mais à indústria moderna progride, tanto mais o trabalho dos homens é suplantado pelo das mulheres e crianças.” Diante deste fato, segundo os autores, as crianças são consideradas “simples objetos de comércio, em simples instrumentos de trabalho”.

De acordo com Marx in Marin (2001, p.05) “o uso produtivo da força de trabalho infantil está estreitamente associado ao desenvolvimento industrial, [...] requerendo mais qualidades específicas da agilidade e flexibilidade” das crianças e adolescentes. Posteriormente crianças e adolescentes eram vítimas de acidentes de trabalho, em consequência das atividades inadequadas a sua idade. Portanto acreditava-se que o trabalho precoce moldaria o caráter da criança.

Mediante a essas condições, em decorrência da pressão de diversos segmentos da sociedade iniciou-se um processo de elaboração de normativas em torno do trabalho infantil e sua erradicação, conforme será abordado no item a seguir.

(23)

1.2.1 AS NORMATIVAS QUE ASSEGURAM OS DIREITOS DA CRIANÇA E ERRADICAÇÃO DO TRABALHO INFANTIL

No ano de 1890 o surgimento do primeiro Código da República, que objetivava criminalizar a “vadiagem”, ideologia esta que valorizava o trabalho, sendo assim, Custódio e Veronese (2007, p. 41) afirmam que se entendia “o trabalho como suporte dignificador das classes pobres”.

Como foi exposta essa grande inserção de crianças nas fábricas, provocaram a edição da primeira norma brasileira a determinar a idade mínima para o trabalho ainda no século XIX. Segundo Souza (2008) a história brasileira é marcada pela exploração do trabalho da criança, mas foi apenas no final do século XIX que o Brasil começou a produzir legislações de proteção à infância.

O Decreto nº. 1.313, em 17 de janeiro de 1891, considerada a primeira legislação brasileira de proteção da criança contra a exploração no trabalho que determinou a idade mínima para o trabalho de doze anos, mas nunca foi regulamentado.

Para Custódio e Veronese (2009, p.47):

O Decreto 1.313/1981 estabeleceu medidas visando a salubridade dos ambientes nas fábricas, determinando critérios, tais como espaços mínimos para o trabalho, a avaliação do ambiente, medidas contra a umidade dos solos, podendo o Inspetor Geral aconselhar outras medidas necessárias para manutenção da higiene.

Salienta- se a importância do referido decreto que estabeleceu um limite mínimo de idade, segundo Oliveira apud Custódio e Veronese (2007, p.41) “salvo a título de aprendizado, nas fábricas de tecidos as que se acharem compreendidas entre aquela idade de oito anos incompletos”.

O trabalho precoce no Brasil, após o início do processo de industrialização, era, portanto, tolerado. A exploração do trabalho infantil começou provocar interesses e preocupação das autoridades públicas, pelas péssimas condições de trabalho das crianças nas fábricas, não pela inserção das crianças, mas pela precariedade.

Conforme o próprio texto da Legislação

[...] atendemos a convivência e necessidade de regularizar o trabalho e as condições dos menores empregados em avultado número de fábricas existentes na Capital Federal, a fim de impedir que, com prejuízo próprio e da prosperidade futura, seja sacrificadas milhares de crianças.

(24)

Conforme Custódio e Veronese (2007, p.43), “a proclamação da República trará um novo olhar em torno da infância, mas a efetiva proteção jurídica contra a exploração no trabalho ainda percorreria algumas décadas para ser consolidada apenas no final do século XX”.

Em 1894, o Decreto Estadual nº. 233 estabelece em 12 anos o limite para início em atividades laborais nas fábricas e oficinas. Sendo que autoridades competentes poderiam fazer exceções em algumas atividades acessíveis para crianças de dez a doze anos de idade.

As mobilizações em favor dos direitos dos trabalhadores começavam a incorporar a defesa das crianças exploradas no trabalho, como aconteceu em maio de1898, que em razão da comemoração do Dia do Trabalhador, os trabalhadores reivindicavam a proibição do trabalho para menores de quatorze anos, de todo trabalho noturno, independente da questão da idade, mesmo sendo adulto devendo ser a infância protegida até os dezesseis anos.

A apenas em 1917 iniciou o movimento sobre essa questão da proteção de criança contra a exploração no trabalho. O Centro Libertário cria, em São Paulo, o Comitê de Agitação contra esta exploração, defendiam ainda o descumprimento das poucas disposições legais voltadas a esta questão. Os pais também participavam desse movimento para exigir melhores salários e condições de trabalhos para poderem sustentar sua família sem precisar explorar a mão-de-obra de seus filhos.

Nesse contexto em 1919, Custódio e Veronese (2009, p.52) observam que se faz necessário registrar, no plano internacional a constituição pelo tratado de Versalhes, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), com finalidade de ser um organismo responsável pelo controle e emissão de normas internacionais, determinando as garantias mínimas ao trabalhador. Entre os principais objetivos estava à melhoria das condições de trabalho e a garantia dos trabalhadores menos protegidos e, principalmente, das crianças. A OIT no seu de ano de Constituição emitiu as convenções de número 5, fixando a idade mínima para o trabalho nas indústrias em quatorze anos, e a de número 6, proibiu o trabalho noturno nas indústrias para inferior de dezoito anos.

A década de 1920 será caracterizada por mudanças sociais e jurídicas significativas para a proteção da criança e do adolescente no Brasil, já estigmatizados nesse momento com expressão “menor”. Em 1921, é realizada a nova organização geral da assistência social, regulamentada em 1923, com finalidade de proteger os menores abandonados e delinquentes4.

4BRASIL. Decreto 16.272, de 20 de dezembro de 1923. Aprova o regulamento de assistência e proteção aos

menores abandonados e delinqüentes. Coleção Leis do Brasil, Poder Executivo, Rio de Janeiro, v. 3, p. 363, 31 dez. 1923.

(25)

Rizzini apud Silveira (2003, p.24) destaca que em 1923:

O Juízo de Menores do Distrito Federal estruturara um modelo de atuação que se manteria ao longo da história da assistência pública no país, funcionando como órgão centralizador do atendimento oficial ao menor, fosse ele reconhecido nas ruas ou levado pela família. o objetivo da internação era preservar ou reformar os menores apreendidos.

A força de trabalho adulta era substituída pela infanto-juvenil, sendo esta uma prática criminosa nos dias atuais, que fere a legislação da criança e do adolescente. De acordo com Rizzini in Mary Del Priore (2000, p.376), pode-se observar que “o Brasil tem uma longa história de exploração de mão-de-obra infantil. As crianças pobres sempre trabalharam”, expressão está ainda presente na sociedade brasileira.

Em virtude disso, conforme Custódio e Veronese (2007, p.60):

No ano de 1926, a questão da criança trabalhadora permanecia em pauta, sendo editado o Decreto nº. 5.083, de 1º de dezembro, que manteve a proibição de trabalho aos menores de doze anos e determinou uma série de limites ao trabalho de “menores” com idades inferiores aos quatorze anos, dentre esses aqueles realizados em usinas, manufaturas, estaleiros, minas ou qualquer outro tipo de trabalho subterrâneo, pedreiras, oficinas, em qualquer dependência sejam elas públicas ou privadas, de caráter profissional ou de beneficência. O referido Decreto proibiu, ainda, o trabalho aos menores de dezoito anos em serviços danosos à saúde, à vida, à moralidade ou excessivamente fatigantes ao que fosse excessivo às suas forças.

A edição do Decreto nº. 17.934-A de 12 de outubro de 1927 estabeleceu o primeiro Código de Menores da República, elaborado por uma comissão de juristas liderados pelo Juiz de “menores” do Rio de Janeiro José Cândido de Mello Mattos, consolidando um enfoque de justiça voltada à assistência, caracterizado assistencialista e paternalista. O Código de Menores faz com que o trabalho precoce passe a ter mais atenção. Neste sentido, segundo Pilotti e Rizzini (1995, p. 133), “uma das importantes contribuições do Código de 1927 foi à introdução do Capítulo IX, que versa sobre a regulamentação do trabalho infanto-juvenil”.

No citado Código de Menores de acordo com Custódio e Veronese (2007, p.62), em seu art. 1°, definia que: “o menor, de um o outro sexo, abandonado, ou delinquente, que tiver menos de 18 anos de idade, será submetido pela autoridade competente às medidas de assistência e proteção contidas neste Código”. Verifica-se que as medidas eram destinadas apenas aqueles que fossem abandonados ou delinquentes, e, assim o Estado teria sua atribuição de assistência e proteção daqueles que assim se encontrasse.

O primeiro Código de Menores solidifica toda a experiência representada pelas legislações existentes na época voltada aos “menores”.

(26)

Souza (2008, p.22) afirma que:

O Código de Menores serviu de instrumento para classificar os “menores”, conforme sua condição social, considerando como abandonados aqueles com idade inferior a dezoito anos, que não tivessem quem os cuidasse, ou, mesmo na companhia dos pais, tutor ou outra pessoa responsável, tivessem tais práticas contrárias à moral e aos bons costumes, promovendo uma espécie de educação orientada para a civilização da infância, e pretendendo evitar a delinquência e os maus-tratos contra criança.

O termo “menor” era utilizado por juristas do fim do século XIX e início do século XX. A palavra era empregada no momento que a criança nascia, até completar dezoito anos, considerado assim juridicamente menor. Como o Código de Menores de 1927 contemplava uma série de distorções ao mesmo tempo em que proibia o trabalho de infantes de doze anos e a sua impunidade até os quatorze anos, permitia que os adolescentes de quatorze a dezoito anos fossem internados em estabelecimento especiais.

A Revolução de 1930 intensifica a edição da legislação que garante os direitos instituídos na regulamentação internacional do trabalho, elaborado no período de atividade da OIT, resultando na solidificação do tratamento destinado à idade mínima nas atividades laborais. É preciso destacar o Decreto nº 22.042, em 03 de novembro de 1932, importante deste período, que determinava a idade mínima de quatorze anos para as tarefas industriais e obrigações específicas, tais como saber ler, escrever contar para o exercício do trabalho. Nesse contexto histórico fala-se também em “educação integral” que teria com fundamento a saúde, a moral e o trabalho.

Conforme Custódio e Veronese (2009, p.56):

Há a ascensão do discurso da educação neste período, especialmente aquela considerada integral, envolvendo aspectos de higiene, moral e trabalho. Para crianças empobrecidas, colocá-las no trabalho também seria uma forma de educação e se este trabalho fosse realizado via institucionalização estatal, estaria se cumprindo os maiores desejos da moralidade estabelecida.

A educação neste contexto serviria como instrumento de controle e vigilância do poder centralizador. Sobre essa ótica surgiram associações filantrópicas no sentido de amparar a assistir a infância desamparada.

No ano de 1934, o Brasil adota uma nova Constituição com aprofundamento em conteúdo social, que inauguraria a proteção constitucional contra a exploração do trabalho precoce no Brasil, que reconhece o direito como instrução de todos independente da condição social ou econômica colocando o direito à educação como categoria constitucional.

(27)

Nesse sentido Custódio e Veronese (2009, p.57) vislumbram-se que:

A Constituição determinava, em seu artigo 121, § 1°, alínea “d”, a “proibição de trabalho a menores de quatorze anos; de trabalho noturno a menores de dezesseis; e em indústrias insalubres, a menores de 18 anos [...]. Previsão, por óbvio, decorrente da ratificação das Convenções 5 e 6 da OIT, realizada no mesmo ano pelo Governo brasileiro.

Em 1937, a Constituição do Estado Novo trouxe alterações quanto ao limite de idade mínima para o trabalho reproduzindo a redação da Constituição anterior. Já em 1938, na área social foi criado o Serviço Social de Menores e no setor público o Conselho Nacional de Serviço Social (CNSS), com principal finalidade a definição das subvenções destinadas às entidades privadas de assistência.

As instituições de recolhimento, com livre atuação do sistema policial, reforçaram práticas de agregação e violência contra a população empobrecida, especialmente aqueles à margem dos interesses do sistema capitalista de produção que se afirmava5 As instituições assistenciais eram depósitos humanos, onde mantinham crianças, adultos e idosos, indistintamente abandonados.

Com o objetivo de reorganizar as ações institucionais, em 1940, o Brasil cria o Departamento Nacional da Criança vinculado ao Ministério da Educação para coordenar as atividades referentes à proteção à infância, à maternidade e à adolescência.

O desejo da nacionalização das práticas de controle proporciona em 1941 a realização das primeiras conferências nacionais com objetivo de estabelecer políticas sobre saúde e educação. Conforme Custódio e Veronese (2009, p.60), “ainda sob essa vigência do Código de Mello Mattos, em 1941 com o Decreto 3.779 criou o Serviço Nacional de Assistência a Menores (SAM), que visava amparar socialmente os “menores” desvalidos e infratores, por meio de atendimentos psicossociais, prestado mediante a internação em instituição capazes de recuperar os jovens, afastando-os de influências maléficas da sociedade”. Portanto a implementação do Serviço de Assistência a “Menores”, efetivou-se através de uma política nacional centralizadora que resultou um modelo ineficaz.

Segundo Custódio e Veronese (2009, p.65),

5 Neste período, segundo Silvia Helena Zanirato, “todo um aparato policial foi editado no período de modo a

coibir atos considerados como vadiagem. Uma vez que a permanência na ociosidade significava a escalada inicial para vida criminal, e que a vadiagem era tida como um atributo exclusivo dos homens pobres foi para essa categoria que se voltou toda a preocupação policial, recolhendo às prisões adultos e crianças tidos por indolentes e vadios’’. MARTINS, Silva Helena Zanirato. Artífices do Ócio: mendigos e vadios em São Paulo (1933-1942). Londrina: UEL, 1998. p. 254.

(28)

Esta política implantou no Brasil uma rede de atendimento assistencial, correcional-repressivo que atuava com vistas na irregularidade da condição infantil, reforçando o papel assistencialista do Estado numa prática absolutamente centralizada, com motivações ideológicas autoritárias do regime militar.

Em 1961 o presidente Jânio Quadros cria uma Comissão para investigar o SAM, cujos resultados advindos dos próprios setores do governo, da sociedade, do parlamento e da imprensa, apontam o sistema como desumano, ineficaz e perverso além da superlotação e falta de higiene.

Segundo Silveira através de nova comissão protagonizada pela ASA- Ação Social Arquidiocesana do Rio de Janeiro (responsável dentre as organizações da sociedade por denúncias contra o SAM) elabora projeto para reorganizar a assistência da infância e adolescência, com o primeiro ponto a extinção do SAM, optando pela criação de uma fundação, garantindo autonomia do órgão. Com denominação de Fundação Nacional do Bem Estar do Menor- FUNABEM, o novo órgão foi aprovado em 01 de novembro de 1964, com caráter assistencialista cujo objetivo consistia em formular e executar uma política nacional mediante o estudo dos problemas e o planejamento centralizado de medidas.

Desta forma, surge a Lei n°.4513 de 01 de dezembro de 1964, instituindo a Fundação do Bem Estar do Menor que coloca o “problema do menor” como assunto do Estado. De acordo com Silveira6 (2003, p.29)

decorrente do golpe de 1964, o regime militar instalado operou a intervenção do Estado de forma autoritária, repressiva, desmantelando sindicatos e partidos políticos, perseguindo os dissidentes 'subversivos', promovendo a tortura e o 'desaparecimento' - assassinatos, de presos políticos. Essas ações fundamentavam-se na Doutrina de Segurança Nacional e Desenvolvimento, como estratégia anticomunista.

Ainda segundo a autora “a definição das diretrizes e bases para a Política Nacional de Bem-Estar do Menor (PNBEM), foi viabilizada e implementada pela recém criada FUNABEM, como organismo federal normativo responsável pela execução da política e os órgãos estaduais executores, geralmente sob a denominação de FEBEM’s. Em Santa Catarina, passa chamar-se FUCABEM” (Fundação Catarinense do Bem Estar do Menor).

O governo temia que esses grupos sociais (considerados marginais ao sistema social), pudessem gerar ‘desarmonia social’. Conforme Vogel apud Silveira, (2003 p.30):

6 Silveira, Darlene de Moraes. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Florianópolis:

Os (Des) Caminhos entre as Expectativas Políticas e as Práticas Vigentes. 2003. 164 f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) – Programa de Pós-Graduação em Serviço Social, Universidade Católica de São Paulo, Florianópolis, 2003.

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Inicialmente, a FUNABEM identificou alguns “caracteres comuns” aos grupos considerados marginais, quais sejam: “situação de pobreza, quebra de valores e comportamentos culturais, alto índice de natalidade, atividade marginalizada, alto índice de alcoolismo, alto índice de violência e criminalidade, alimentação deficiente, promiscuidade habitacional e mendicância.

A Política Nacional do Bem Estar do Menor continuou marcada pela centralização das decisões políticas no que diz respeito às políticas públicas, quanto à população infanto-juvenil. São os elementos da cultura brasileira, com características apontadas para a centralização autoritárias questões que identificavam o Estado brasileiro pelo domínio responsável e pela totalização do sistema.

No ano de 1967, com o recrudescimento do regime militar, representado pela Constituição do Brasil, de 15 de março, novas medidas de caráter autoritário foram tomadas. As medidas aplicáveis aos menores de dezoito anos pela prática de infrações penais são alteradas e, ao mesmo tempo, estabelecem-se medidas relativas à determinação do salário mínimo de menores7.

Vogel apud Silveira (2003, p.37) considera que,

do ponto de vista do regime militar, vivia-se um clima de guerra interna (...) a radicalização política e ideológica chegava ao extremo, expressando-se no truculento lema (oficioso) dos mentores do ‘desenvolvimento com segurança nacional: Brasil, ame-o ou deixe-o, fórmula que encarnava o triunfalismo arrogante do novo modelo de gestão do Estado (...).

Ainda segundo a autora,

com o passar do tempo cresce o número de crianças em situação de abandono e semi-abandono, o internamento não supria mais as necessidades sociais, deflagrando o processo de denúncias contra violência e repressão pelas quais as crianças e adolescentes estavam sendo submetidos. Através do PLIMEC - Plano de Integração Menor-Comunidade, a FUNABEM impõe a interiorização de sua política, atingindo 166 municípios em todo o país. Do objetivo aparente de atender às crianças em seu local de origem, evitando, assim, o afastamento dos mesmos das famílias e de suas comunidades, deu lugar ao engessamento da proposta, caracterizando-se pelas ações padronizadas e pelo verticalismo do PLIMEC, não permitindo adaptações do atendimento às demandas e peculiaridades da realidade local. Transformou-se em mais uma proposta de legitimação do Estado e de sua política. (SILVEIRA, 2003, p.39)

Deste modo a falência do sistema FUNABEM estava relacionado a sua concepção do atendimento às crianças e adolescentes, caracterizando uma gestão centralizadora e vertical

7 Cf. BRASIL. Lei 5.258, de 10 de abril de 1967. Dispõe sobre medidas aplicáveis aos menores de 18 anos pela

prática de fatos definidos como infrações penais e dá outras providencias. Diário Oficial [da] União, Poder Legislativo, Brasília, 12 dez. 1978, p. 19.918.

____. Lei 5.274, de 24 de abril de 1967. Dispões sobre o salário mínimo de menores e dá outras providências. Diário Oficial [da] União, Poder Legislativo, Brasília, 20 abr. 1967, p. 4.705.

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com atenções voltadas os menores. Tanto a fundação, como a política, serviam de instrumento de controle social.

No ano de 1973, a Conferência Internacional do Trabalho – CIT, diante dos Direitos Internacionais do Trabalho, editou a Convenção 138 com objetivo a substituição das convenções editadas em relação à idade mínima para a inserção no trabalho. Segundo Souza (2008, p.27) “somente vinte nove anos após aprovação da Convenção 138, é que esta seria ratificada através do Decreto Presidencial 4.134, de 15 de fevereiro de 2002, estabelecendo a idade mínima ao trabalho em dezesseis anos”.

Os países membros necessitavam perseguir uma política nacional para assegurar a efetiva abolição do trabalho, além de estabelecer uma idade mínima para admissão do emprego, aumentar esta idade mínima, diante dos limites compatibilizados com o pleno desenvolvimento físico e mental da criança e do adolescente.

Enfatizam Custódio e Veronese (2009, p.67) que:

Enquanto tramitava a Convenção Internacional para proteger as crianças e adolescente contra a exploração no trabalho, vigorava no Brasil a Doutrina da Segurança Nacional, fundamentada nos velhos princípios da disciplina, moralização e trabalho, como elementos necessários à construção de uma nação que desejava alcançar o progresso.

Em 1978 foi instituída a Comissão Nacional do Ano Internacional da Criança, que resultou na elaboração de um novo Código de Menores, configurado no campo de direito, a prática da doutrina do “menor” em situação irregular.

Outro marco importante relacionado à criança e ao adolescente neste período foi o Código de 1979, instituído pela Lei nº. 6.697, de 10 de outubro de 1979. Este Código teve como fundamento a Doutrina da Situação Irregular, que considerava, segundo Veronese (1999, p.35), em situação irregular o menor:

I – privado de condições essenciais à sua saúde e instrução obrigatória, ainda que eventualmente, em razão de:

a) falta ação ou omissão dos pais ou responsável, manifesta impossibilidade dos pais ou responsável para provê-las;

II – vítima de maus tratos ou castigos imoderados impostos pelos pais ou responsável;

III – em perigo moral, devido encontrar-se, de modo habitual, em ambiente contrário aos bons costumes.

b) exploração em atividade contrária aos bons costumes;

IV – privado de representação ou assistência legal, pela falta eventual dos pais ou responsável;

V – com desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária;

(31)

Conforme Custódio (2006), este Código utilizava-se de mecanismos de institucionalização em regime de atendimento fechado, criticado até mesmo pelos próprios educadores e profissionais das instituições de atendimento.

No campo legal, a Doutrina do Menor em Situação Irregular é definitivamente incorporada no novo direito do “menor” estabelecido através da Lei 6.697, de 10 outubro de 1979, que instituiu o Código de Menores.

Portanto Custodio e Veronese (2009, p.67) afirma:

A idéia de situação irregular incorporou as variadas terminologias produzidas pelo direito desde o período imperial, incluindo na mesma categoria os considerados abandonados, expostos, transviados, delinquentes, infratores, vadios, libertinos; submetendo-os ao intermédio até os dezoito anos de idade, mediante o controle do Poder Judiciário, responsável pela aplicação do direito do menor.

A Organização das Nações Unidas (ONU) referencia o ano 1979 como o “Ano Internacional da Criança” analisando a situação da criança e do adolescente passa ser um caso a ser repensado.

Conforme Pilotti e Rizzni (1995, p.159):

Novos ares inaugurariam década de 1980 com transformações significativas voltadas ao campo político-social brasileiro, sendo assim, consequentemente trouxeram mudanças relacionadas à legislação da infância.

A partir dessa década as crianças e adolescentes passam a ser prioridade para o Estado e a sociedade. É o início das mobilizações advindas dos movimentos sociais, que começavam a pressionar as instituições, solicitando garantias de alternativas á situação da criança e do adolescente que necessitavam do atendimento.

Segundo Silveira (2003) em meados dos anos 80, já em processo de abertura política, o Brasil sinalizava avanços no campo democrático com o fortalecimento de movimentos sociais de caráter reivindicatório e de denúncias das violações aos direitos humanos. Na área da infância e da adolescência, não é diferente, multiplicam-se as denúncias, as ações e as manifestações populares em torno da defesa de direitos das crianças e adolescentes.

A infância no Brasil passou a ser motivo de atenção maior tanto do Estado, mas também da sociedade que começou a se organizar e exigir transformações para atender as necessidades emergentes. Foram para rua os movimentos de estudantes, o movimento popular, o sindical, o de mulheres, contando com o apoio de institucional de setores progressistas da Igreja Católica destacando as CEB´s e a Comissão de Justiça e Paz, Ordem

(32)

dos Advogados do Brasil - OAB, Movimento de Direitos Humanos, Movimento Feminino pela Anistia dentre outros.

Esses movimentos sociais desempenharam papéis significativos tais como a canalização das reivindicações populares frente ao Estado, a lutas por novos direitos, em especial os direitos sociais e o processo, de articulação das garantias dos direitos da criança e do adolescente. Constituindo espaços de integração, abrindo canais de participação política.

Ainda em 1986, na área da criança e do adolescente destacam-se as ações do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua – MNMMR que organizou o I Encontro Nacional de meninos/as de rua, atribuindo evidência e relevância às questões relativas à infância e juventude pobres no país. No encontro realizado em Brasília, participaram 432 meninos/as discutindo temas como saúde, escola, família, trabalho entre outros. Dentre do que foi discutido no encontro, ganhou ênfase a necessidade de alteração a legislação vigente, a Lei Federal 6697/79 do Código de Menores, que funcionava como uma legislação especial para meninos/as pobres do país.

O MNMMR torna-se um importante articulador, em 1986, da formação do Fórum Nacional Permanente de Entidades Não Governamentais de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - Fórum DCA8, cujos propósitos voltava-se para a "alteração no plano legal" e a necessidade de "uma articulação nacional de entidades atuantes na área de defesa e promoção dos direitos da infância e da juventude" (Revista Fórum DCA, 1993: 06). Desta forma o Fórum DCA passou a reunir Organizações Não-Governamentais representativas das demandas sociais emergentes e da indignação frente às variadas formas de violência cometidas contra crianças e adolescentes, configurando-se num movimento nacional de defesa dos direitos da criança e do adolescente.

Contempla Silveira (2003, p.50)

que se iniciava uma ampla mobilização nacional em prol de um projeto que envolvia a elaboração e a aprovação de uma nova legislação para todas as crianças e adolescentes do país, passando pela participação significativa na Assembléia Nacional Constituinte, através da Comissão Nacional Criança Constituinte9, cuja

atribuição voltava-se para a inserção dos direitos inerentes a pessoa humana no texto

8 Passam a compor Fórum DCA - Pastoral do Menor da CNBB, OMEP - Organização Mundial de Educação

Pré-Escolar, Sociedade Brasileira de Pediatria, OAB, Centros e Núcleos de estudos de universidades, Centros de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente, dentre outras, cujos princípios institucionais estão vinculados a defesa de direitos.

9 Participaram dessa comissão o Movimento Nacional de Meninos/as de Rua, Pastoral do Menor - CNBB;

Organização Mundial para a Educação Pré-Escolar -OMEP; Ordem dos Advogados do Brasil - OAB; Sociedade Brasileira de Pediatria; Federação Nacional dos Jornalistas; UNICEF; Ministérios da Educação, Saúde, da Justiça e da Previdência e da Assistência Social; Secretaria de Planejamento da Presidência da República, Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente - congregando parlamentares de diferentes partidos políticos.

(33)

constitucional, considerados fundamentais ao desenvolvimento de toda criança e adolescente.

Foi vitoriosa ao contemplar na Constituição Federal de 1988 o artigo número 227, cujo caput enuncia:

É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda a forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

Simultaneamente ao movimento de pressão pela aprovação do texto constitucional, estava sendo construída uma nova proposta de texto para a legislação complementar que substituiu o Código de Menores. E dava-se origem ao Estatuto da Criança e do Adolescente.

Em âmbito internacional, aconteceu em 1989, a Convenção Internacional dos Direitos da Criança, onde crianças e adolescentes passam a ser considerados sujeitos de direitos.

Segundo Veronese e Oliveira (2008, p.70),

Ao conceber, a citada convenção, a criança e o adolescente como sujeitos de direitos, significa um compromisso institucional de romper com uma cultura que coisificava a infância e a juventude, significa ainda retirá-los da condição de objetos e elevá-los a autores da história [...]

Esta Convenção compreende que o universo da criança e do adolescente deve ser protegido. Salienta o fato de que as crianças necessitam de cuidados e de proteção especiais, ressaltando a importância da família, para que a criança tenha um desenvolvimento em um ambiente saudável onde exista amor, compreensão e diálogo. A referida Convenção exige mudanças tanto da sociedade quanto do Estado.

Regulamentando a Constituição Federal de 1988, em 1990, cria-se uma legislação de defesa e de proteção integral para criança e adolescente, a Lei Federal 8069/90, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), Legislação que veio garantir a efetivação dos direitos, proteção integral para a população infanto-juvenil. Surge a partir do movimento de defesa dos direitos da criança e adolescente, uma nova concepção de criança e adolescente que passam de “menor” para sujeitos de direitos. O Estatuto consistiu em um grande avanço na legislação brasileira no sentido da consolidação de direitos.

O Estatuto da Criança e do Adolescente firmou-se como um instrumento inovador na história brasileira, como uma legislação avançada na garantia de direitos da

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