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Conhecida como a Ilha da Magia, capital do Estado de Santa Catarina, Florianópolis possui, segundo o IBGE22 no ano de 2009, uma população de 408.161 habitantes, sendo o segundo município mais populoso do estado, atrás apenas do município de Joinville. Mesmo com o bom desenvolvimento econômico relacionado às atividades do comércio, turismo, serviços, construção civil, indústria de transformação, informática e vestuários e ser considerado o município com melhor qualidade de vida do país.

A grande Florianópolis é caracterizada pela crescente periferização, aumentando rapidamente a área urbana. A falta de perspectiva da população de baixa renda, dentre os vários motivos de cunho social, permitindo à ocupação desequilibrada da região, gerando problemas ambientais. Considerando, pois, a necessidade de urgentes definições de políticas públicas para a região metropolitana, protegendo os recursos naturais e proporcionando uma melhor qualidade de vida para a população23.

Zurba (2003) afirma que a cidade passou pela experiência de crescente valorização imobiliária, que atingiu o seu ápice de 90, com uma grande explosão especulativa e forte impulsão ao turismo. Fazia-se propaganda da qualidade de vida e das belezas naturais, sendo muitas vezes de maneira exagerada, atraindo dessa forma, inúmeros migrantes, assuntando os moradores com intensidade do crescimento urbano24. Portanto, a falta de planejamento não conseguia atender à demanda de tantos moradores, apresentado de maneira explícita, a

22 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, mais conhecido por sua sigla IBGE, tem atribuições ligadas

às geociências e estatística sociais, demográficas e econômicas, o que inclui realizar censos e organizar as informações obtidas nesses censos, para suprir órgãos das esferas governamentais federal, estadual e municipal, e para outras instituições e o público em geral. Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/IBGE

23 De acordo com o Estudo da Evolução da Região Urbana Conurbada da Grande

Florianópolis/SC (1985 a 2009). Disponível em: http://www.geo.ufv.br/simposio/simposio/ trabalhos/trabalhos_ completos/eixo1/028.pdf

24 Zurba, Magda do Canto: Modo de Subjetivação na Vida Cotidiana: um estudo na Vila Cachoeira. 2003. 158f.

Tese (Doutorado em Educação), Centro de Ciência de Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2003.

insuficiência de tratamento de esgoto, a falta de água e devastação de áreas verdes, instalando-se na cidade uma desorganização urbana.

A Região Sul de Florianópolis consiste em belas praias, entretanto, a situação de vulnerabilidade social de algumas famílias dessa região é de extrema pobreza. Esta região é composta pelos seguintes bairros: Alto do Ribeirão, Armação do Pântano do Sul, Caieira, Campeche, Costeiras, Morro das Pedras, Ribeirão da Ilha, Rio Tavares, Saco dos Limões e Tapera. Totalizando em 50 famílias inseridas no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil.

Segundo Santos (2008, p.43),

as famílias da região sul apresentavam inúmeras demandas relativas a diversas expressões da questão social como: desemprego, emprego precário, baixas remunerações, moradias precárias, falta de escolarização dos responsáveis, trabalho precoce, entre outros25.

A pobreza é resultante de vários fatores socioeconômicos e políticos fazendo com que aumente o grande índice de desigualdade social no Brasil e consequentemente à exclusão social.

Os moradores da Região Sul, por sua vez, também enfrentam problemas semelhantes em seu cotidiano, conforme elucidado por Wagner 26 (2004, p.71):

Vivendo em locais desprovidos de infra-estrutura básica, as classes populares enfrentam uma série de problemas sociais, como o desemprego, que é a principal causa do estado de pobreza em que vivem, a desqualificação profissional, o analfabetismo, a desestruturação familiar e a evasão escolar, entre outros problemas [...].

Muitas destas famílias da região sul não possuem escolaridade e sentem a falta de oportunidade no mercado de trabalho. Desta forma, acabam se tornando pessoas com baixa ou sem nenhuma qualificação profissional, restando-lhe o trabalho informal. A pobreza é, segundo Yazbek (2003, p.63) “uma face do descarte de mão-de-obra barata, que faz parte da expansão do capitalismo brasileiro contemporâneo”.

25 SANTOS, Cristina Gonçalves dos. O perfil das famílias beneficiárias do Programa de Erradicação do Trabalho

Infantil (PETI) da região sul de Florianópolis. 2008. 105 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Serviço Social) – Departamento de Serviço Social, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2008.

26 WAGNER, Flávia. “Apropriações”: o saber infantil sobre o espaço urbano da favela por meio do teatro. 2004.

210 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Curso de Mestrado em Educação, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004.

A partir disso, pode-se afirmar que há uma maior propensão dos filhos das famílias com vulnerabilidade social inserirem-se no trabalho. De acordo com Azevedo e Guerra (2000, p.237):

As famílias pobres e exploradas buscam sobreviver, na desigualdade, através do trabalho. O trabalho da criança e do adolescente constitui um dos recursos que as famílias pobres utilizam para aumentar sua renda e como mecanismo social para enfrentar emergências e situações de agravamento da subsistência.

Frente a esta questão, afirma-se que o trabalho infantil não é capaz de quebrar o ciclo das desigualdades, pelo contrário, contribui para a sua perpetuação. Desse modo a situação de vulnerabilidade social de muitas famílias brasileiras, antes de tudo é uma questão de violação dos direitos humanos. Direito que vem sendo violado considerando a situação de miserabilidade social, necessitando da atenção estatal para a construção da possibilidade de acesso aos direitos.

Neste sentido Yazbek (2003, p.53) enfatiza que:

A assistência social constitui-se, assim do conjunto de práticas que o Estado desenvolve de forma direta ou indireta, junto às classes subalternizadas, com sentido aparentemente compensatório de sua exclusão.

A família deve ser vista como um sujeito coletivo de direitos, capaz de exercer suas funções e deve ser estimulada a assumir a postura de responsabilidade e proteção para com seus membros e ter seus direitos garantidos pelo Estado que é legitimador da política social.

As crianças exploradas com o trabalho infantil não podem ser entendidas como sujeito isolado, pois pertencem a um núcleo familiar que sofre múltiplas determinações sociais econômicas e políticas dentro da sociedade.

Tomando como princípio o suporte teórico já exposto sobre o Serviço Social junto ao PETI, estes elementos permitem adentrar no conteúdo que expressa a prática profissional junto ao PETI e fruto das reflexões deste trabalho. Apresenta-se a sistematização de uma das categorias acionadas pelo Programa, que trata explicitamente dos mitos e verdades do trabalho infantil, que correspondem as manifestações das famílias inseridas no PETI de Florianópolis.

3.2 MITOS E VERDADES SOBRE TRABALHO INFANTIL: A SISTEMATIZAÇÃO DA