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O Serviço Social junto ao PETI envolve uma equipe de assistentes sociais e estagiárias dos cursos de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e da Universidade do Sul de Santa Catarina – UNISUL. O PETI está alocado junto a Secretaria de Assistência Social, sendo que os profissionais de Serviço Social associam-se ao que visa o Artigo 4º da Lei que Regulamenta a Profissão Lei 8.662/1993 – o qual constitui competências do Assistente Social:

I - elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto a órgãos da administração pública, direta ou indireta, empresas, entidades e organizações populares; II - elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos que sejam do âmbito de atuação do Serviço Social com participação da sociedade civil; III - encaminhar providências, e prestar orientação social a indivíduos, grupos e à população; V - orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus direitos; VI - planejar, organizar e administrar benefícios e Serviços Sociais; VII - planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais. X - planejamento, organização e administração de Serviços Sociais e de Unidade de Serviço Social; I - realizar estudos sócio-econômicos com os usuários para fins de benefícios e serviços sociais junto a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades.

Tende ainda, a cumprir com o Artigo 5º - que constitui atribuições privativas do Assistente Social:

I - coordenar, elaborar, executar, supervisionar e avaliar estudos, pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social; II - planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade de Serviço Social; III - assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta e indireta, empresas privadas e outras entidades, em matéria de Serviço Social; VI - treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários de Serviço Social; IX - elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões julgadoras de concursos ou outras formas de seleção para Assistentes Sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao Serviço Social. XII - dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas ou privadas.

O Serviço Social no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil no município de Florianópolis tem como foco de atendimento às famílias, visando “consolidação da cidadania”, de forma a assegurar a “universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e

políticas sociais”, promovendo assim, a melhoria na qualidade de vida, tal qual aponta o

Código de Ética Profissional do Assistente Social/1993.

O PETI envolve desafios cotidianos ao trabalho do Serviço Social, com as mais variadas expressões da questão social sendo elas a exploração do trabalho precoce, o desemprego, a violência, desigualdade social, dentre outros. Conforme Iamamoto (1997, p.14), destaca que:

Os assistentes sociais trabalham com a questão social nas suas mais variadas expressões quotidianas, tais como os indivíduos as experimentam no trabalho, na família, na área habitacional, na saúde, na assistência social pública, etc. Questão social que sendo desigualdade é também rebeldia, por envolver sujeitos que vivenciam as desigualdades e a ela resistem e se opõem.

Para atender a realidade social e as demandas do Programa, o Serviço Social, respaldado em seu Código de Ética, reafirma a opção “projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem denominação – exploração de classes, etnia e gênero.” (CFESS, 1993; 11).

Perante isso, observa que o Serviço Social no PETI, não se limita a lidar com a questão do trabalho precoce, mas também com as demandas do grupo familiar e as mais variadas expressões da questão social, exigindo posicionamento ético político, competência teórica metodológica e técnico operativa.

Nesta perspectiva, Iamamoto afirma que a atuação do assistente social na contemporaneidade exige:

Um profissional qualificado, que amplie a sua competência crítica; não só executiva, mas que pense, analise, pesquise e decifra a realidade. Alimentado por uma atitude investigativa, o exercício profissional cotidiano têm ampliadas as possibilidades de vislumbrar novas alternativas de trabalho momento de profundas alterações na vida em sociedade (IAMAMOTO, 1997, p. 31).

A atuação do Serviço Social junto ao PETI volta-se para: − Entrevistas com as famílias das crianças e adolescentes; − Realização de visitas domiciliares e institucionais;

− Orientação e encaminhamento aos demais programa/projetos de atendimento disponíveis no município;

− Encaminhamento das famílias para outros programas de acordo com a demanda trazida pela família;

− Monitoramento da frequência escolar;

− Acompanhamento de crianças/adolescentes junto aos projetos socioeducativos; − Elaboração de relatórios e relatos de atendimento;

− Preparação dos adolescentes para o desligamento do PETI e encaminhamento destes para outros programas;

− Breve acompanhamento familiar quando necessário;

− Realização de reuniões com famílias atendidas, junto à equipe do Programa.

O Serviço Social junto ao PETI através da equipe de assistentes sociais e estagiárias realiza também contatos com as famílias para agendar recadastramento no Setor do Cadastro Único, prestar esclarecimentos sobre problemas no recebimento do benefício, repassar orientações sobre a confecção de documentos e para informar sobre cursos que estão sendo promovidos no momento.

Como destaca Sarmento (2005), é por meio do relacionamento do assistente social com a população que se transforma a compreensão e a vivência da realidade.

[...] A população, muitas vezes, devido às suas condições, partilha uma falta de vontade, e a desalienação somente ocorre a partir da consciência e da motivação, ou seja, ela não vem de fora, como atitudes “sensíveis” e de “boa vontade” implicam um processo crítico-reflexivo por parte do sujeito em suas ações, e relações com outros sujeitos e com o mundo. (SARMENTO, 2005, p.22).

O Serviço Social realiza a abordagem com as famílias na sede do Programa, faz-se o atendimento em uma sala reservada. Por meio desta verifica-se as crianças e adolescentes estão frequentando a escola e os projetos de ações socioeducativas e de convivência; como está o desempenho da criança e adolescente, esclarecendo as famílias quanto à integração do PETI com o Programa Bolsa Família - PBF, e quanto ao valor do benefício; informamos sobre cursos ou outros serviços disponíveis na rede de atendimento e nos Centro de Referência da Assistência Social - CRAS; entre outros.

Esse momento da abordagem, é um momento onde a família, nos deposita toda confiança, descrição para expor seus problemas não só da criança ou do adolescente, mas do

grupo familiar onde aparecem várias questões que envolvem o universo familiar e a convivência desta em sociedade.

Sendo assim o Serviço Social conta com a utilização de vários instrumentos para a efetivação da prática profissional.

Afirma Iamamoto (2007, p.61):

Qualquer processo de trabalho implica matéria-prima ou objeto sobre o qual incide a ação do sujeito, ou seja, o próprio trabalho que requer meios ou instrumentos para que possa ser efetivado. Em outros termos, todo processo de trabalho implica um matéria-prima ou objeto o qual incide a ação: meios ou instrumentos de trabalho que potenciam a ação do sujeito sobre o objeto: e a própria atividade, ou seja, o trabalho direcionado.

Percebe-se que o assistente social em seu exercício profissional, procura aprofundar os conhecimentos da realidade e do agir profissional para atender as demandas das famílias ao PETI. Com esse conhecimento direciona uma diversidade de instrumentos e técnicas entre os quais se sobressaem, as visitas domiciliares, as entrevistas, os encaminhamentos, as reuniões, e a articulação de serviços junto a rede socioassistencial e de políticas sociais.

Os profissionais realizam visita domiciliar e institucional. As visitas são realizadas como um primeiro contato com as famílias, encaminhadas ao Programa pelo Conselho Tutelar, Programa Abordagem de Rua, Serviço Sentinela, e outros órgãos como escolas, instituições e organizações da sociedade civil. Nesse primeiro contato esclarece-se às famílias sobre a finalidade e os critérios do PETI e agenda-se um horário para a família apresentar os documentos necessários para preenchimento do cadastro e inclusão no Programa.

Um dos instrumentos de trabalho que dispõe o profissional de Serviço Social é a entrevista um importante aliado na prática diária.

De acordo Sarmento (2005, p.33):

A entrevista ao longo da prática profissional tem sido concebida como um contato pessoal, de caráter confidencial, entre assistente social e cliente, envolvendo uma relação intima e sutil. Sendo também um dos mais importantes instrumentos dentro desta concepção, pois é através dela que se estuda o cliente e seus problemas e ainda, se aplica o tratamento social.

As visitas domiciliares são realizadas para inclusão, nos casos de retorno ao trabalho precoce de crianças e adolescentes atendidos pelo Programa, às famílias que estão sem contato e quando há demanda da família para o Serviço Social outros casos que necessitam tal procedimento. Já as visitas institucionais são realizadas para verificação de projetos de ações

socioeducativas e de convivência e para articulação com a rede de atendimento às crianças e adolescentes no município.

Mioto (2003) expõe que a forma como os instrumentos são utilizados pelos profissionais condiciona a qualidade técnica de sua ação, sendo assim, a técnica é caracterizada pela habilidade do profissional utilizar esses instrumentos. Em busca de contemplar a apropriação teórica sobre o processo de construção do diagnóstico construído pelo Serviço Social, embasa-se em Mioto (2001) ao especificar que para diagnosticar uma situação social é preciso primeiramente estudá-la. Nessa perspectiva, o estudo é um dos instrumentos utilizados e segundo a autora:

Instrumento utilizado para conhecer e analisar a situação vivida por determinado sujeitos ou grupo de sujeitos sociais, sobre a qual fomos chamados a opinar. Na verdade, ele consiste numa utilização articulada de vários outros instrumentos que nos permitem a abordagem dos envolvidos na situação. (MIOTO, 2001, p.153).

O percurso técnico dos profissionais de Serviço Social não termina com a intervenção, ele continua com a documentação, os registros da atuação, pois, segundo Mioto (2001), a documentação da ação profissional é o instrumento que permite a formalização da ação profissional em seus diferentes momentos de trabalho.

O produto da intervenção é registrado nas folhas de relatos anexadas às fichas cadastrais das famílias. Os relatórios são confeccionados conforme a necessidade, de acordo com alguma demanda que exija um encaminhamento para o Conselho Tutelar ou para outros programas da rede de atendimento socioassistencial do município. Mensalmente são confeccionados quadros estatísticos com o somatório de todas as atividades desenvolvidas no Programa, tanto as atividades desenvolvidas pelo Serviço Social quanto às realizadas pelo administrativo e coordenação.

O trabalho do Serviço Social junto às crianças e aos adolescentes no PETI torna-se de fundamental importância já que a transformação da realidade das famílias depende da integração de todos, assistente social, instituição, criança/adolescente e a família. Dessa forma caminha-se para avançar rumo a consolidação da cidadania. Assim, o caminho percorrido pela ação profissional estará diretamente relacionado ao compromisso ético-político, comprometido com a efetivação e conscientização dos sujeitos a cerca de sua cidadania.

Para Iamamoto (2007, p.20;21)

O Assistente Social tem sido historicamente um dos agentes profissionais que implantam políticas sociais, especialmente as políticas públicas. Ou, nos termos de

Netto; um executor terminal de políticas sociais, que atua na relação direta com a população usuária. Mas hoje, o próprio mercado demanda, além de um trabalho na esfera da execução, a formulação de políticas públicas e a gestão de políticas sociais.

Hoje exige-se do profissional de Serviço Social a criatividade, a iniciativa de negociação, de resolução, de argumentação, habilidades para o trabalho interdisciplinar e, acima de tudo, como expõe Netto (2004, p.79) “o desafio posto às vanguardas do Serviço Social consiste em prosseguir na luta por direitos sociais universais, garantindo a autonomia do seu projeto profissional”

Ainda de acordo com Netto (2004, p.79), “sabe-se que atualmente uns dos desafios para o profissional de Serviço Social é ultrapassar as rotinas institucionais e colocar o projeto ético político em prática”.

Entende-se por projeto ético político profissional, a apreensão e compromisso com a consolidação com os princípios que fundamentam o Código de Ética Profissional do Assistente Social, conforme segue:

• Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão dos indivíduos sociais;

• Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e do autoritarismo;

• Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis, sociais e políticos das classes trabalhadoras;

• Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da participação política e da riqueza socialmente produzida;

• Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas e políticas sociais, bem como sua gestão democrática; • Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito, incentivando o respeito à diversidade,

à participação de grupos socialmente discriminados e à discussão das diferenças;

• Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso com o constante aprimoramento intelectual;

• Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de construção de uma nova ordem societária, sem dominação - exploração de classe, etnia e gênero;

• Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais que partilhem dos princípios deste código e com a luta geral dos trabalhadores;

• Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da competência profissional;

• Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar, religião, nacionalidade, opção sexual, idade e condição física.

O Serviço Social do PETI vivencia esta realidade, já que o compromisso da categoria profissional é com a garantia de direitos das crianças, dos adolescentes e das famílias em atendimento. Para Tanto, a atuação dos profissionais de Serviço Social no Programa de Erradicação do Trabalho Infantil, procura não apenas em intervir para que as condicionalidades para inserção no Programa sejam cumpridas, mas também ampliar o atendimento no âmbito familiar.

3 MITOS E VERDADES SOBRE O TRABALHO INFANTIL: REFLEXÕES SOBRE O SERVIÇO SOCIAL COM AS FAMÍLIAS DO PETI - FLORIANÓPOLIS - REGIÃO SUL

3.1 FLORIANÓPOLIS - REGIÃO SUL - BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE AS