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O superendividamento do consumidor brasileiro e o projeto de Lei nº 283/2012

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JOÃO BATISTA DO NASCIMENTO

O SUPERENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO E O PROJETO DE LEI Nº 283/2012

Três Passos (RS) 2016

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JOÃO BATISTA DO NASCIMENTO

O SUPERENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO E O PROJETO DE LEI Nº 283/2012

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, apresentado como requisito para a aprovação. DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

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Orientadora: MSc. Eliete Vanessa Schneider

Três Passos (RS) 2016

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Dedico este trabalho à minha família e meus amigos, pelo incentivo, apoio e confiança em mim depositados durante toda a minha jornada.

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve presente e me incentivou com apoio e confiança nas batalhas da vida e com quem aprendi que os desafios são as molas propulsoras para a evolução e o desenvolvimento.

À minha orientadora Eliete Vanessa Schneider, com quem eu tive o privilégio de conviver e contar com sua dedicação e disponibilidade, me guiando pelos caminhos do conhecimento.

Aos meus colegas de trabalho da Unijuí e da Brigada Militar, na pessoa do Major PAULO ROBERTO DO NASCIMENTO, que colaboraram sempre com boa vontade e generosidade, enriquecendo o meu aprendizado.

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“Quando vem o orgulho, chega a desgraça,

mas a sabedoria está com os

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A presente trabalho de pesquisa monográfica se propõe a estudar o direito do consumidor, o superendividamento do consumidor brasileiro e as suas principais causas. Diante disso, faz uma análise histórica da evolução do direito do consumidor e sua efetividade, além de versar sobre o Projeto de Lei nº 283/2012, que tem como objetivo disciplinar a oferta de crédito ao consumidor e prevenir o superendividamento, promovendo um acesso ao crédito de forma responsável, inserindo conscientemente no consumidor uma nova educação financeira, e possibilitando a repactuação de seus débitos a fim de evitar a exclusão social e buscando o respeito à dignidade da pessoa humana.

Palavras-Chave: Direito do Consumidor. Superendividamento do Consumidor brasileiro. Projeto de Lei.

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This work monographic research aims to study the consumer's right, the over-indebtedness of Brazilian consumers and their main causes. Thus, makes a historical analysis of the evolution of consumer law and its effectiveness, and be about the Draft Law No. 283/2012, whose disciplinary objective of consumer credit supply and prevent overindebtedness, promoting access to responsibly credit, entering consciously the consumer a new financial education, and enabling the renegotiation of its debts in order to avoid social exclusion and seeking respect the dignity of the human person.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...8

1 HISTÓRIA DO DIREITO DO CONSUMIDOR...9

1.1 Origem do direito do consumidor ...13

1.2 Direito do consumidor no Brasil...15

2 PROBLEMÁTICA DO ENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO....Erro! Indicador não definido.1 2.1 Causas do Superendividamento ... Erro! Indicador não definido.1 2.2 Dados estatísticos dos endividados brasileiros ... 29

3 O PROJETO DE LEI 283/2012...30

3.1 Origem...30

3.2 Possíveis soluções ao consumidor a partir da aplicação do Projeto de Lei 283/2012...38

CONCLUSÃO...44

REFERÊNCIAS...46

ANEXO I – Formulário projeto piloto “Quero-Conciliar Superendividamento”..48

ANEXO II - Quase 39 milhões de brasileiros têm dívidas vencidas há mais de um ano...50

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho apresenta um estudo sobre o superendividamento do consumidor brasileiro, suas causas, e preocupa-se com a busca de soluções para a sua prevenção e diminuição, através do Projeto de Lei 283/2012, que tem por objetivo disciplinar a oferta de crédito ao consumidor e concretizar a prevenção ao superendividamento.

Para tanto, foram necessárias diversas pesquisas bibliográficas. Fez-se necessária uma abordagem inicial acerca do direito do consumidor, ressaltando suas características históricas, bem como alguns conceitos e princípios que o regem, para então, em um segundo momento, tratar da problemática do superendividamento do consumidor brasileiro, versando acerca de suas principais causas, dentre elas, a falta de informação do consumidor, educação financeira precária frente ao mercado competitivo que o seduz através de contratos coletivos, contratos de massa, de adesão, a busca de melhores condições de vida com a aquisição de novos produtos sem preocupação com qualidade tampouco com a forma de adimplência do consumidor.

Finalmente no terceiro momento da presente pesquisa, versa-se acerca do Projeto de Lei 283/2012, introduzindo-o como solução para o problema do superendividamento. Portanto, com a relevância do tema proteção do consumidor, o objetivo deste trabalho é a interação entre o meio acadêmico com a sociedade, através do estudo da proposta do Projeto de Lei 283/2012, como auxílio para uma efetiva proteção de muitos consumidores que ora estão superendividados.

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1 HISTÓRIA DO DIREITO DO CONSUMIDOR

Primeiramente, necessária uma análise da evolução histórica acerca do direito do consumidor, para posterior discussão dos demais temas. Nesse sentido, cabe ressaltar alguns fatos históricos, considerados como os mais marcantes na trajetória da construção da proteção dos direitos do consumidor, tendo em vista que possivelmente o destaque da evolução em sua forma integral, não se tornaria possível em um trabalho monográfico.

A história do homem sempre foi marcada por lutas e conflitos, por buscas e questionamentos, divergências, antagonismos, enfim processos dinâmicos de construção e reconstrução, inicialmente objetivando apenas a sobrevivência individual, para depois gradativamente se voltar para a vida em sociedade e para o coletivo. Para combater as desigualdades o direito contemporâneo tem sugerido providências para equalizar as relações diante da desproporção da capacidade econômica através de normas jurídicas para proteger a parte vulnerável de tal relação (MIRAGEM, 2013, p. 35).

Desde os tempos mais antigos sempre teve alguém vendendo algo e outro comprando, ou até mesmo as trocas de produto, para fins de alimentação ou proteção contra intempéries (SAAD, 2002. p. 23).

Com a Revolução Industrial e a produção em massa, se inseriu entre o fabricante e o consumidor extensa cadeia de intermediários. Com isso o pequeno consumidor não reclamava dos produtos defeituosos só porque o produto era adquirido em pequena quantidade. Para simplificar o processo de responsabilidade civil do vendedor ou do fabricante se reunia umas dezenas ou centenas de consumidores num mesmo processo judicial, mesmo diante da posição privilegiada do fornecedor (SAAD, 2002, p. 24).

Após o término da Segunda Guerra Mundial, e a profunda modificação na estrutura econômica dos países capitalistas e de seus modelos de negócio, houve a continuação da crescente industrialização de bens de consumo em massa e com isso uma massificação do crédito e da atividade publicitária. Também nesse sentido,

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o novo modelo se fez presente no século XIX bem como no próprio Código Civil Brasileiro de 1916 (MIRAGEM, 2013, p. 36).

Como salienta Bittar (2003, p. 1): “A expansão alcançada na economia, em países ocidentais, nas últimas décadas, tem provocado transformações de extraordinário vulto em diferentes aspectos da vida social, negocial ou privada”. Entretanto, a expansão da economia não veio sozinha, trouxe consigo por óbvio muitos avanços e conquistas, mas também muita desigualdade social.

Diante dessa desigualdade e da insuficiência de mecanismos tradicionais para sua proteção, Bittar (2003, p. 2), afirma que não se encontra nos sistemas jurídicos oriundos do liberalismo, resposta eficiente par a solução de problemas que decorrem das crises de relacionamento e de várias lesões em seus direitos que sofrem os consumidores.

Entretanto, há que se mencionar os avanços na tutela de proteção dos direitos do consumidor, e nesse sentido, diante da premente necessidade de legislação própria, se faz referência a Carta do Consumidor pelo Conselho da Europa, e mais recente por meio da resolução da Organização das Nações Unidas, tem se defendido tanto aos níveis internacionais como nacionais, a necessidade de ordenamento sistemático da matéria, sob princípios, conceitos e regras, que permitam regular situações no sentido de garantir e sancionar ações que violem os direitos consumeristas (BITTAR, 2003, p. 5).

Ainda antes disso, pode-se afirmar que um dos pontos mais marcantes da história de proteção aos direitos do consumidor ocorreu nos Estados Unidos da América do Norte, através da manifestação oficial de interesse pela proteção ao consumidor pela mensagem do então Presidente Kenedy ao Congresso, em 1962 (SAAD, 2002, p. 35).

Nos Estados Unidos da América do Norte, a origem do sistema legal vem com a aceleração industrial de sua antiga metrópole, Inglaterra, sendo que na questão do direito do consumidor fez nascer com mais antecedência a proteção de seus direitos (SAAD, 2002, p. 38).

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Já no direito Francês, mais propriamente em seu artigo 1.382 do Código Civil Frances (Código Napoleônico), serviu para a maioria dos países europeus. Já o Código Civil Alemão, que entrou em vigor em primeiro de janeiro de mil novecentos e noventa, sofreu forte influência do direito romano, por isso não foi levado a traçar linhas gerais sobre a responsabilidade civil, mas sim sobre o ajuntamento de delitos típicos, onde lembra as origens românticas, em que a responsabilidade do lesado tinha à sua disposição um ‘números clausus’, que limitava decisivamente os interesses de cada um (SAAD, 2002, p. 39).

Também em 1972, durante a realização da Conferência Mundial do Consumidor, em Estocolmo, Suécia, e no ano seguinte durante a Comissão das Nações Unidas sobre os Direitos do Homens deliberou-se que o ser humano deveria gozar de quatro direitos fundamentais, o direito a segurança, a informação sobre os produtos, serviços e suas condições de venda, o direito a escolha de bens alternativos e ainda ser ouvido nos casos de processo de decisão governamental (MIRAGEM, 2013, p. 36).

Ainda, a Comunidade Econômica Europeia, em 18 de maio de 1981, aprovou o segundo programa sobre a política de proteção do consumidor, onde o primeiro, continha de forma preliminar um programa de política de proteção e informação ao consumidor (SAAD, 2002, p. 37).

Conforme estudos de direito comparado, na atualidade somente poucos países contam com um Código de defesa do Consumidor (SAAD, 2002, p. 27). Segundo esse pesquisador, os países têm um conjunto de leis que tem por objeto alguns aspectos em relação ao consumo, como vendas a prestações ou a domicilio, publicidade, a concorrência desleal e a proteção das marcas. Ademais, há que se asseverar que os Códigos existentes se estruturaram com base em uma noção de paridade entre as partes, de cunho abstrato, sob o prisma patrimonial, com fulcro nos princípios do respeito à propriedade privada e como instrumento para a circulação jurídica de bens e de serviços, não antevistos a fragilidade do consumidor nas relações de consumo.

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Sob o prisma negocial e impulsionada pela concentração de vultosos capitais em empreendimentos industriais, comerciais ou de prestação de serviços, a influência de grandes empresas, produtoras e distribuidoras de bens os mais variados, que, alcançando públicos infinitos como consumidores, tem-nos sob sua esfera de ação, para a satisfação de necessidades próprias ou familiares, sejam vitais, pessoais ou sociais, trazendo entretanto, mediante esta satisfação de necessidades, um consumo desenfreado, sem a observância dos direitos do consumidor (BITTAR, 2003, p. 1),

Diante da inobservância dos atos lesivos ao consumidor e a inexistência de normas, que causava prejuízo à parte hipossuficiente, se fez necessário a própria atuação estatal, denominados corretivos sociais, através de leis próprias e de planejamento bem como a criação de órgãos de controle e de fiscalização de setores, que na prática focaram conhecidos como dirigismo contratual. Este estabelecia regras, como a vedação de cláusulas, que inseridas nos contratos somente iriam provocar supremacia da outra parte em prejuízo ao consumidor (BITAR, 2003, p. 4).

Diante da recomposição das desigualdades consumeristas e a correção dos elementos fáticos o Estado se substancia através da criação de um sistema jurídico de fiscalização das relações de consumo protegendo os consumidores hipossuficientes e vulneráveis (MIRAGEM, 2013, p. 35).

A nova leitura proposta reflete uma valorização do direito do consumidor em face da política intervencionista do Estado. Nessa análise demonstra que o principal papel do Estado é a intervenção no mercado na regulação para diminuir a tensão que dificulta o equilíbrio das relações consumeristas (BRAUNER, 2012).

Assim, Bruno Miragem (2013, p. 36), assegura que:

A este respeito, o reconhecimento de direitos subjetivos distintos atendeu a diferentes etapas, começando pela tutela de situações específicas – como a proteção do direito dos trabalhadores e o estabelecimento de uma disciplina jurídica própria do direito do trabalho. O último passo desta trajetória está na concepção de direitos difusos ou coletivos, onde a determinação dos titulares do

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direito é relativa, e seus efeitos dizem respeito a todo um grupo ou a coletividade.

A ocorrência de práticas comerciais lesivas, e a inobservância de normas técnicas na produção junto com a publicidade enganosa, causaram muitas danos à vida, à saúde, aos interessem econômicos, entre outros. Para obter remédios adequados diante das relações na posição de consumo, houve o surgimento de legislação especial sobre a matéria para garantir o reconhecimento da debilidade do consumidor em relação às grandes empresas no nosso século, especialmente na última década (BITTAR, 2003, p. 3). Entretanto, veremos no próximo tópico o nascimento e o desenvolvimento da proteção legal do consumidor.

1.1 Origem do direito do consumidor

Com a queda do Império Romano surge um novo tipo de organização da sociedade – o feudalismo. O modo de produção feudal tinha como essencialidade a agricultura autossuficiente e a monetária, sendo assim não mais havia uma forte visão comercial nas relações (NORAT, 2013).

Em Roma, apesar da forte evolução jurídica promovida pelos romanos, eles também não dispunham de um ordenamento centralizado sobre o assunto. O Direito Comum, com algumas poucas exceções, é que regulava as relações de compra e venda entre eles. Não se pode, porém, deixar de admitir que o “Jus Gentium” melhor se adaptava às atividades de comércio, chegando alguns autores a sustentar ser esse direito uma consequência do tráfico mercantil (NORAT, 2013).

As práticas comerciais estavam, profundamente, incumbidas na cultura dos povos, entretanto, durante a decadência do Império Romano, para fugir da crise, a população migra para o campo e se torna fundamentalmente campesina. As pessoas se isolavam em pequenas vilas e consumiam tão-somente o que colhiam, mantendo assim a estrutura de autossuficiência de cada vila (NORAT, 2013).

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Durante o período feudal, o direito do consumidor não tinha o grau como se apresenta hoje onde naquela época se observava apenas no âmbito negocial as relações fáticas de consumo. Diante dos novos tempos, os mecanismos começaram a se aprimorar em todos os países capitalistas para não haver riscos quando a produção em especial bens de consumo e serviços, daí surgindo a proteção do consumidor frente aos empresários e fornecedores. (MARQUES, 2007, p. 24).

Tendo a Constituição como ponto de partida de todos os direitos e deveres, se fez bastante presente dentro de um ordenamento jurídico a sistematização de normas garantidoras do direito do consumidor.

Como salienta NUNES, Luiz Antônio Rizzato (2000, p. 2), apud Carlos Maximiliano, “todo conjunto harmônico de regras positivas é apenas o resumo, a síntese, o ‘substratum’ de um complexo de altos ditames, o índice materializado de um sistema orgânico, a concretização de uma doutrina, seria de postulados que enfeixam princípios superiores. Constituem estes as ‘diretivas’, ideias do hermeneuta, os pressupostos científicos da ordem jurídica”. É assim que esse ilustre cientista do direito define os chamados princípios gerais do direito.

Com a expansão da economia e a relação direta com a concentração de renda por diversos setores mundialmente, o direito do consumidor sai do campo da abstração para interagir nas relações econômicas a garantir a paridade das partes nas relações de consumo e serviços, dentro dos valores éticos e morais. Para a qual, o direito do consumidor tem regrado as relações do consumo para manter a geração de riquezas, a competitividade econômica e desenvolvimento social (BITTAR, 2003, p. 1).

Mesmo a mídia criando novos hábitos de consumismo, as relações não deixam de serem aparadas aos ditames da norma jurídica. É objetivo a ser alcançado realmente no contexto histórico atual pela República [...] tanto as regras constitucionais quanto as infraconstitucionais são alternativas para resolução de problemas a partir de cada caso concreto agindo com equidade na sua aplicação (NUNES, 2000, p. 19).

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Além disso, justiça soma-se ao princípio da intangibilidade da dignidade humana, como fundamento de todas as normas jurídicas, na medida em que qualquer pretensão jurídica deve ter como base uma ordem justa (NUNES, 2000, p. 15).

Ainda assim, no campo dos fatos o direito do consumidor não atinge todas as camadas sociais sendo necessário a doutrina e a jurisprudência serem analogicamente chamadas para solução dos conflitos relacionados ao consumo mesmo dentro da estruturação do direito do consumidor (BITTAR, 2003, p. 4).

1.2 Direito do consumidor no Brasil

No Brasil, o curso da construção de uma nação tem como base o respeito a pessoa humana, para qual a constituição entre seus propósitos, se rege dentro de princípios visando a harmonia e a paz social também nas relações de consumo. O próprio Estado tem por vezes a ser chamado no pólo passivo devido às constantes intervenções econômicas aos particulares. Muitas vezes na área da medicina há contenda ao não se observar os direitos dos tomadores de serviço.

Para isso, o constituinte brasileiro não apenas garantiu os direitos do consumidor como direito e princípio fundamental, como determinou ao legislador a realização de um sistema com caráter normativo, que garantisse a proteção estabelecida na Constituição (MIRAGEM, 2013, p.45).

Assim, Miragem (2013, p. 36), afirma que, o Código de Defesa do Consumidor, consagrando um novo microssistema de direitos e deveres inerentes às relações de consumo, aproxima de modo mais efetivo suas proposições normativas dos fatos da vida que regula.

O direito do consumidor como microssistema jurídico adquire caráter de transversalidade diante das outras diversas disciplinas jurídicas em vista a complementação de suas normas, e no sentido inverso, na especialização das

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normas dos ramos tradicionais da ciência jurídica, tendo como princípio básico à vulnerabilidade do consumidor (MIRAGEM, 2013, p. 67).

Entende, Nunes (2009. p. 11), quanto a interpretação do sistema jurídico:

[...] o sistema jurídico (brasileiro, como de resto os demais sistemas constitucionais contemporâneos) é interpretável a partir da ideia de sistema hierarquicamente organizado, na qual se tem no topo da hierarquia a Constituição Federal.

Com o advento da lei 8.078 em 1990, a relação entre fornecedores e consumidores de bens e serviços ganhou novos rumos e, principalmente, trouxe a ambos uma consciência mais presente das obrigações e direitos que cada qual conserva. (VIEIRA, 2012).

No Brasil, foi a Constituição Federal promulgada em 1998 que trouxe ao patamar objetivo os anseios da sociedade pós-regime militar e foi este contexto que fez surgir um direito do consumidor sistematizado (VIEIRA, 2012).

Mas foi em 11 de setembro de 1990, quando passou a vigorar a lei 8.078, que o direito do consumidor ganhou uma nova perspectiva, não apenas e tão-somente porque foram normatizados, mas porque a relação de consumo passou a ser orientada por novos princípios fundamentais. Dentre estes princípios, a dignidade da pessoa humana tem como principal direito objetivo preservar de forma integral o valor moral e espiritual inerente a pessoa (VIEIRA, 2012).

Como escreve Nunes (2000. p. 75), com o advento da Constituição Federal de 1988, ficou estipulado no art. 48 das Disposições Transitórias. Assim no art. 5º, inciso XXXII, onde o Estado promoverá na forma da lei, a defesa do consumidor, que foi assegurado no art. 170, inciso V a defesa do consumidor como Princípio Constitucional, estando elevada à categoria do princípio da atividade econômica.

Art. 5º, inciso XXXII, “O Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”;

Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na sua livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna [...], inciso V – Defesa do consumidor;

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Portanto, com o advento da Lei 8.078 de 1990, a relação entre fornecedores e consumidores de bens e serviços ganhou novos rumos e, principalmente, trouxe a ambos uma consciência mais presente das obrigações e direitos que cada qual conserva, ficando a caro dos órgãos federais, estaduais, municipais, associações representativas e o Ministério Público, tendo o Judiciário como estância de resolução dos conflitos consumerista.

Nunes, Luiz Antônio Rizzatto (2000, p. 75) salienta que o projeto que originou o Código de Defesa do Consumidor, aprovado como lei ordinária, como foi o Código Civil, Código Penal, dente outros, a Constituição Federal fala em Código, mas doravante, o Código de Defesa do Consumidor foi aprovado como Lei nº 8.078 em 11 de Setembro de 1990, portanto, deveria ser uma Lei Complementar devido a função social que exerce e de ordem pública devido sua força constitucional, conforme art. 59, da Constituição Federal.

Neste Código, existem várias providências a proteger o consumidor contra abusos dos fornecedores, ficando a cargo dos órgãos federais, estaduais, municipais, associações representativas e o Ministério Público, tendo o Judiciário como estancia de resolução dos conflitos consumerista (SAAD, 2002, p. 49).

Contudo foi inaugurado o princípio do protecionismo diante da aprovação desta lei consumerista, que estabelece este princípio geral da atividade econômica, de acordo com o art. 170, inciso V, e ainda, impõe ao Estado o dever de promover tal defesa, constante no art. 5º inciso XXXII, da Constituição Federal (NUNES 2000, p. 76).

Com a Constituição Federal de 1988 houve uma mudança na concepção dos contratos com a inclusão da defesa do consumidor na política constitucional. Com isso aparece no seu texto a categoria de direitos e deveres individuais e coletivos no seu art. 5º, inciso XXXII, CF, estando elevada à categoria do princípio da atividade econômica, conforme art. 170, inciso V, da CF. Ambos princípios basilares do modelo político e econômico brasileiro (DELFINO, 2004).

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Nascido sob o comando expresso da Constituição Federal, conforme Art. 48. Dos Atos das Disposições Constitucionais Transitórias, “O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor.” (Art. 48 do ADCT), nasce então o Código de Defesa do Consumidor como uma das leis mais democráticas de proteção ao consumidor (DELFINO, 2004).

No tocante ao interesse social no Direito do Consumidor, este se baseia na ideia da liberalidade nas relações de consumo, dando equilibro às regras, que passaram a ser cogentes e coercitivas, elencando todos os direitos e deveres a serem respeitados pelas partes nas relações de consumo. Neste sentido, o interesse social funciona como um complemento da ordem pública (DELFINO, 2004).

Diante disso, em seu primeiro artigo o Código de Defesa do Consumidor, funciona como uma robusta entrada nas relações consumeristas, tendo como escopo, a natureza cogente a ser respeitada por todos os participantes, a fim de afastar as desigualdades entre as partes desiguais, dentro de uma norma que ultrapassa fronteiras através dos tempos (DELFINO, 2004).

No entanto, o sistema brasileiro no reconhecimento desses direitos se posicionou como norma infraconstitucional mas no mesmo alinhamento, se fez presente o respectivo código de defesa do consumidor através da Lei 8.078 de 11 de setembro de 1990. E que em seu primeiro artigo atribui o respeito desta proteção (NUNES, 2000, p. 76).

Há que se enumerar que o referido código é uma forma de protecionismo dentro do sistema consumerista que garante a ordem pública e o interesse social, que se faz necessário diante o agigantamento da indústria que somou um conjunto de forças de modo que se faz necessário uma norma delimitadora dos impulsos desse agigantamento diante da vulnerabilidade do consumidor (NUNES, 2000, p. 76).

As relações de consumo atual têm gerado infortúnios as partes, mas ensejam de forma positiva a valoração do ser humano como integrante da cadeia produtiva e

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de consumo. Fazem-se necessário hodiernamente a norma ensejadora e norteadora do livre arbítrio humano. É uma forma de protecionismo do consumidor dentro de um sistema jurídico próprio regido pelos princípios elencados na Constituição Federal.

Dentro dos princípios gerais do direito do consumidor se reconhece a partir do seu Código de Defesa, um conjunto de regras e princípios jurídicos que atuam como normas no mais alto grau de generalidade como otimização das relações fáticas e jurídicas existentes (MIRAGEM, 2013, p. 113).

Dessa relação, se condiciona o consumidor como a parte vulnerável e hipossuficiente da relação consumerista, sendo que, diante da situação fática, é possível a inversão do ônus da prova em favor desse consumidor a luz do próprio Código (MIRAGEM, 2013, p.113).

Segundo Miragem (2013, p. 36):

A noção de vulnerabilidade no direito associa-se à identificação de fraqueza ou debilidade de um dos sujeitos da relação jurídica em razão de determinadas condições ou qualidades que lhe são inerentes ou, ainda, de uma posição de força que pode ser identificada no outro sujeito da relação jurídica. [...] uma vez que a princípio não possuem o poder de direção da relação de consumo, estando expostos às práticas comerciais dos fornecedores no mercado.

Nunes (2000, p. 1) em sua obra comenta que:

As normas constitucionais, além de ocuparem o ápice da “pirâmide jurídica”, caracterizam-se pela imperatividade de seus comandos, que obrigam não só as pessoas físicas ou jurídicas, de direito público ou de direito privado, como o próprio Estado.

Tanto que, a própria cadeia produtiva tem seu produto diretamente focado ao consumidor, sem este não havia finalidade das relações comerciais e consequentemente a evolução comercial.

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[...] é importante lembrar que os princípios e normas constitucionais têm de ser interpretados de forma harmônica, ou seja, é necessário definir parâmetros para que um não exclua o outro e simultaneamente se auto excluam.

No direito do consumidor atual a razão do direito adotado é a segurança dos consumidores frente a estrutura econômica montada, assegurando o direito à vida, a saúde e os interesses econômicos ora também tutelados.

Relata Nunes (2000, p. 29):

[...] a garantia da vida e dignidade, isto é, vida digna, é acrescida da garantia da qualidade de vida, [...] a saúde é outra das garantias constitucionais. É o que estabelece o caput do art. 225: Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presente e futuras gerações.

Oferecem-se diante dos direitos as regras a serem seguidas para proteção do consumidor no que tange as práticas e cláusulas abusivas ministradas a fim de prejudicar e causar dano muitos deles irreversíveis.

Nisso, todas as relações devem ser baseadas dentro dos princípios que norteiam o ordenamento jurídico. Uma delas é o princípio da boa-fé, que reconhece o estado psicológico da pessoa como requisito para o suporte fático da relação. E ainda tanto a boa-fé objetiva como a boa-fé subjetiva afasta qualquer possibilidade de prejuízo a qualquer parte dentro da mesma relação (MIRAGEM, 2013, p.113).

Assim, esse princípio da boa-fé, dá respaldo a confiabilidade do negócio jurídico onde a palavra dada é indispensável, e ainda é uma fórmula indispensável de todas as relações humanas (MIRAGEM, 2013, p.127).

O autor reconhece ainda, a necessidade da intervenção do Estado na defesa dos consumidores, tendo a Constituição brasileira como consagradora desse direito fundamental, impondo o próprio Estado agir dessa forma para que estabeleça uma relação igual dentre os desiguais, dando direito a quem tem o direito (MIRAGEM, 2013, p.131).

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Dentre muitos aspectos a analisar, a mais contundente é a ausência do conhecimento e pela fragilidade técnica do consumidor, pois não participa e não tem acesso aos meios de produção, isso aliado a expansão do crédito, que tem sido um desafio na sociedade contemporânea, assim dá margem as práticas abusivas do fornecedor que se prevalece da fraqueza e ignorância desse consumidor.

2 PROBLEMATICA DO ENDIVIDAMENTO DO CONSUMIDOR BRASILEIRO

2.1 Causas do Superendividamento

A origem do superendividamento é gerada por diversos fatores, destaca Marques (2010, p. 243), entre eles o Cartão de Crédito para consumo elevou o comprometimento da renda dos consumidores e de suas famílias, especialmente num contexto em que as classes socioeconômicas foram incorporadas sem nenhuma familiaridade com as vantagens e desvantagens do uso do cartão de crédito contribuindo para o superendividamento. No Brasil o papel tem gerado o superendividamento do consumidor sendo alvo de debates em altos níveis que são encorajados pela política econômica e pelas instituições financeiras.

Dentre muitos aspectos ou causas do superendividamento, acredita-se que a mais contundente é a ausência do conhecimento do próprio consumidor dos seus direitos estabelecidos na própria Constituição Federal Brasileira em seu art. 5º, inciso X, como descreve Nunes (2012. p. 81):

Art. 5º (...)

X — são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”. Como se observa, a Constituição Federal pretende dar guarida absoluta (“são invioláveis”) à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem.

E também, conforme Nunes (2012, p. 705), o consumidor desconhece seus direitos estabelecidos no próprio Código do Consumidor, Lei 8.078/90:

O [...] leigo, que quase sempre desconhece o real significado dos termos, cláusulas e condições constantes dos formulários que lhe são

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apresentados. Para reconhecer a sua malícia, seria indispensável a prova de que, […] realmente, fora ele informado e esclarecido de todo o conteúdo do contrato [...] classificação e efeitos.

E ainda, se acentua nesta linha que o negócio jurídico pode ser atingido pela decadência, conforme afirma Nunes (2012, p. 443):

Como é sabido, o estudo acerca dos dois critérios de extinção de direitos, bem como a distinção entre ambos, suas funções no direito material e processual etc., comportam uma série de discussões de ordem doutrinária, podendo-se encontrar muitas posições diferentes. Há na tradição jurídica nacional a posição firmada de que os prazos decadenciais estabelecidos não se interrompem nem se suspendem, enquanto os prazos prescricionais podem tanto interromper-se quanto suspender-se.

Nunes (2012, p. 229), ressalta em relação aos vícios que o vício redibitório tem semelhança com o vício oculto, porque o próprio Código de Defesa do Consumidor consideram-os como características de qualidade ou quantidade que tornem os produtos ou serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam e também que lhes diminuam o valor.

Nunes (2012, p. 450), ainda diz em relação aos defeitos:

Como já pudemos observar, os vícios guardam intrínseca relação com os defeitos, sendo que mesmo no caso dos vícios há previsão expressa do direito a pleitear perdas e danos (inciso II do § 1º do art. 18; inciso IV do art. 19 e inciso II do art. 20), além do fato de que o não saneamento do vício implica de per si perda material. Por isso que esse novo direito subsequente é indenizatório.

Assim, Nunes (2012. p. 104), afirma o reconhecimento da fragilidade do consumidor assegurado na presente norma está ligado a hipossuficiência técnica pois ele não participa dos meios de produção e não tem o conhecimento adequado para detectar nos produtos os vícios ocultos que ensejam as demandas judiciais em busca do reconhecimento de sua vulnerabilidade.

Diante do desconhecimento técnico do consumidor, Nunes (2012. p. 421): fala a respeito das características do produto no que tange aos aspectos técnicos:

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O princípio da informação no CDC pressupõe, de um lado, o dever de o fornecedor informar cabalmente o consumidor a respeito de todas as características dos produtos e serviços, o que inclui de forma acentuada os aspectos técnicos que envolvem o seu funcionamento adequado. De outro, a constatação da hipossuficiência dos consumidores, em especial e exatamente no que respeita à composição técnica de produtos e serviços.

Contudo, ressalta Nunes (2012. p. 83) que a complexidade social que gera o superendividamento real desse consumidor. Também a produção em massa surge com o aumento da impessoalidade, assim não se identificam os sujeitos individualmente, mas sim o grupo a que pertencem, e fomentam a cultura estética.

Nota-se que o código de defesa do consumidor diante do mercado está ligado à sua hipossuficiência técnica, pois ele não participa do ciclo de produção e nem tem acesso aos meios de produção tampouco tem como controlar aquilo que compra, seja produtos ou serviços. Diante disso se caracteriza a hipossuficiência e a vulnerabilidade desse consumidor diante do fornecedor ou fabricante, pois diante dos termos apresentados deve haver a harmonização de todos os princípios atinentes as garantias da dignidade da pessoa humana atingindo o nível de excelência constitucional (NUNES, 2012, p. 104).

Tanto que, é assegurado na Constituição o direito deve ser informado ao consumidor, pois o direito a informação nasce do dever de alguém ter a informar. Ainda o texto magno estabelece o dever de informar dos órgãos públicos, e nas relações jurídicas de natureza privada o código de defesa do consumidor estabelece a obrigatoriedade do fornecedor (NUNES, 2012. p. 99).

Nos últimos anos a preocupação dos juristas se orienta para um relevante problema da sociedade de consumo, o superendividamento. Por isso o superendividamento entende-se pela incapacidade do consumidor de pagamento de suas dívidas exigíveis, em face ao descontrole financeiro diante do abuso do crédito ou situações imprevistas em sua vida pessoal (MIRAGEM, 2013, p. 384).

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Primeiro, diga-se que — pelo menos entre nós — o devedor não é figura delituosa na ótica penal. O inadimplente é apenas aquele que, por motivos pessoais, não pagou uma dívida. Isso não faz dele melhor ou pior pessoa que ninguém. Não o torna menos digno. Apenas o transforma em pessoa que, por não poder saldar sua dívida, talvez não encontre pela frente alguém que queira emprestar-lhe dinheiro ou dar-emprestar-lhe qualquer tipo de crédito. Contudo, repita-se, não o faz ser alguém que possa ter sua imagem, vida privada ou dignidade violadas. E é mais uma vez o próprio texto constitucional que impõe dever de respeito ao devedor, consignando, ademais, que não haverá prisão civil por dívida (art. 5º, LXVII).

Define assim, Rodrigues (1988), que um fato social são quase todos os fenômenos que se passam no interior de uma sociedade, ao qual uns são de interesse geral e outros apresentam um caráter particular que pode afetar a vida social, que podem ser classificados positivos ou negativos dentro da realidade cultural daquela comunidade.

Assim sendo, o julgamento de valor tem por objeto caracterizar o indivíduo nas relações de consumo como um sujeito consciente. Assim o comportamento humano diante de certos objetos são pouco ou mais preferenciais que outros, dependendo do que é almejando de cada sujeito, dessa forma o tornaria um consumerista consciente e equilibrado nas relação jurídica de consumo (RODRIGUES. 1988, p. 363).

Na insuficiência dos mecanismos tradicionais, e para solução das crises de relacionamento consumerista, o Código tem como base, estruturar uma relação de igualdade entre as partes na relação de consumo no mundo abstrato, reconhecendo a vulnerabilidade do consumidor (BITTAR, 2003, p. 2).

Um exemplo prático é o direito de arrependimento do consumidor previsto no código de defesa do consumidor em seu art. 49, em sete dias a contar da assinatura ou do ato de recebimento do produto ou serviço. Essa espécie de direito de resolução contratual depende exclusivamente do consumidor. Isso posto se tem como uma forma de defesa do consumidor com relação às técnicas de pressão dos fornecedores para realização do contra consumo (MIRAGEM, 2013, p. 364).

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A expansão do crédito e a proteção do consumidor tem sido um desafio diante da facilitação do crédito na sociedade contemporânea. Com isso, surgiu a modalidade de crédito para o consumo, que caracterizou num inequívoco avanço creditício, pois permitiu o acesso dos consumidores a bens de consumo aquém de suas possibilidades financeiras corroborando de certa forma com o seu descontrole financeiro já existente (MIRAGEM, 2013, p. 380).

Seguindo o assunto do crédito desordenado do consumidor, isso pode levar a própria exclusão da pessoa da sociedade a qual está inserida tanto social como de consumo. Esse montante de endividamento se dá através da aquisição de vários contratos oferecidos no mercado ao consumidor no decorrer do tempo. Se tem como exemplo o uso excessivo de cartão de crédito, crédito rotativo ou cheque especial, financiamento com cheques pré-datados, crédito consignado que são descontados dos salários, aposentadoria ou pensão (MARQUES, 2010, p. 19).

O exame dos comportamentos econômicos permite identificar a tendência dos consumidores a contraírem muitos empréstimos quando liberada as restrições contratuais ou legais. Nesse sentido a função preventiva e corretiva das normas de proteção do consumidor se destaca, mas aponta críticas quanto a relação de liberdade e responsabilidade do tomador do crédito (MIRAGEM, 2013, p. 382).

Assim, dentro dos mecanismos individuais de defesa, Bittar (2003, p. 97), salienta no esquema individual de ação, que ao interessado, ou ao lesado, compete promover as medidas cabíveis, de ordem cautelar ou de fundo, para a satisfação de seus interesses. Cabe ao titular do direito ou interessado tomar a iniciativa em propor a ação e figurar no pólo ativo, tendo no pólo passivo o fornecedor do bem ou o prestador do serviço assim como o intermediário.

Contudo, na mesma ótica da proteção agora coletiva, Bittar (2003, p. 97), salienta que na proteção dos interesses dessa ordem, os mecanismos próprios são conhecidos, que são a ação civil pública, outorgando a entidades públicas e privadas a iniciativa de promover a ação judicial.

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A oferta obriga o fornecedor a cumprir os termos da natureza do contrato. O fornecedor ao veicular tanto por telefone ou por outros dispositivos, faz a ser vinculativa e integrar o contrato a ser celebrado. Nesse sentido, a oferta ao consumidor não perde sua eficácia vez que em relação ao fornecedor que passa a responder por qualquer equívoco que tenha dado causa. Isso, porém, se faz presente, pelo princípio da vinculação da oferta da equiparação, no direito do consumidor, entre oferta e à publicidade (MIRAGEM, 2013, p. 233).

A publicidade ilícita estabelecidos no código de defesa do consumidor, é toda aquela que viola o dever jurídico estabelecidos nesta legislação, que consiste na realização produção, divulgação e outros meios publicitários. E tem como alvo violador o princípio da veracidade o qual constitui o ato ilícito. Com isso, existem duas espécies previstas, a publicidade enganosa e a publicidade abusiva. A publicidade abusiva é a que viola os valores dos bens considerados relevantes socialmente, já a publicidade enganosa é o apelo indevido, sendo algo que consiste em ludibriar com habilidade a tendência consumerista, agravado em determinados consumidores, como crianças, idosos e pessoas menos esclarecidas (MIRAGEM, 2013, p. 251).

É direito do consumidor conforme o art. 59, do CDC, oportunizar o contraditório e a ampla defesa do acusado de infração contra os direitos do consumidor, para equalizar as relações de jurídicas, sempre seguindo o rito do processo administrativo nas violação às normas de proteção aos direitos consumidor que tem como principal finalidade assegurar a efetividade de forma pecuniária, objetiva e subjetiva podendo sofrer a cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensão temporária da atividade (MIRAGEM, 2013, p. 737).

Art. 59 – As penas de cassação de alvará de licença, de interdição e de suspensão temporária da atividade, bem como a de intervenção administrativa será aplicadas mediante procedimento administrativo, assegurada ampla defesa, quando o fornecedor reincidir nas pratica das infrações de maior gravidade previstas neste Código e na legislação de consumo [...].

As sanções administrativas objetivas determinam providências relativas a todos os serviços na forma do art. 57, CDC, os quais são apreensão, inutilização,

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cassação do registro, proibição de fabricação, suspensão do fornecimento de produto ou serviços, e tem como finalidade a proteção dos consumidores com relação a danos ocasionados pela utilização de produtos ou serviços (MIRAGEM, 2013, p. 739).

art. 57 – A pena de multa, graduada de acordo com a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor, será aplicada mediante procedimento administrativo, revertendo para o Fundo de que traga a Lei nº 7.327, de 24 de julho de 1985, [...].

As sanções subjetivas previstas no código de defesa do consumidor serão aplicadas somente nos casos de reincidência. E se configuram como a suspensão temporária da atividade, revogação da concessão ou permissão de uso, cassação da licença do estabelecimento ou de atividade, interdição total ou parcial de estabelecimento ou obra ou de atividade, intervenção administrativa e imposição de contrapropaganda (MIRAGEM, 2013, p. 742).

As sanções pecuniárias se configuram na imposição de multa a título de compensação do dano presumido da infração. Com isso, aponta-se para três parâmetros, a gravidade da infração, a vantagem auferida e a condição econômica do fornecedor, e que não adimplida no prazo determinado pode ser convertida em dívida ativa seguindo as regras da execução fiscal (MIRAGEM, 2013, p. 744).

O código defesa do consumidor, condiciona o direito da informação ao consumidor. A busca desse entendimento não é apenas orientação formal da informação consumidor, mas também, direciona a sua eficácia, de modo que formaliza o dever de esclarecimento ao consumidor e também se faz presente o repasse da informação de um modo eficiente para a efetiva compreensão pelo consumidor do produto ou serviço (MIRAGEM, 2013, p. 264).

Cumprimento da obrigação diante dos pontos referidos no art. 35 do Código de Defesa do Consumidor, uma vez não ocorrendo o consumidor pode exigir o cumprimento específico da obrigação pelo fornecedor. Sendo que, o descumprimento específico tem sentido tanto positivo quanto negativo. Dentro do sentido do positivo a possibilidade do Consumidor obter o produto ou serviço

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ofertado nos termos da oferta conforme apresentação ou publicidade como foi divulgado. Entretanto o sentido negativo caracteriza-se pela vedação implícita que se origina do caráter vinculante da oferta do fornecedor inovando seus termos por ocasião do contrato acrescentando, restringindo ou modificando os aspectos da contratação todos em desacordo com seu conteúdo primitivo (MIRAGEM, 2013, p. 269).

Art. 35 – Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta, apresentação publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e a à sua livre escolha :

I- Exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apresentação ou publicidade;

No entanto o Código de Defesa do Consumidor em seu Art. 39 enumerou algumas práticas comerciais consideradas ofensivas que são também em homenagem a vulnerabilidade do consumidor e ao sistema de proteção organizado pelo código. Tanto que observa-se que todo negócio jurídico é baseado na boa fé dentro das relações de consumo baseando-se nos usos e costumes comerciais como parte de deveres para o fornecedor. O direito veio garantir a proteção do consumidor devido aos abusos do fornecedor. Essa proteção visa impedir a desproporcionalidade nas relações de consumo e a boa-fé (MIRAGEM, 2013, p. 273).

Art. 39 – É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas ausivas:

I– Condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa causa, a limites quantitativos;

II – Recusar atendimento às demandas dos consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de conformidade com os usos e costumes; [...]

A proteção do consumidor tem por fundamento a presunção legal da vulnerabilidade, pois existem camadas sociais que são identificadas pela fragilidade nas relações de consumo. Ocorre que muitos são com relação a idade, idosos e crianças, outras em razão da condição socioeconômica e cultural, que compreendem o consumidor pobre, o consumidor analfabeto, que determina a vulnerabilidade agravada desse consumidor. (MIRAGEM, 2013, p. 279).

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O fornecedor que se prevalece da fraqueza ou ignorância do consumidor, constitui prática abusiva e deverá recorrer ao critério de inversão do ônus da prova pelo juiz, em favor do consumidor. Esse fato faz com que se ache a igualdade das partes dentro das relações e contratos de consumo dentro do conceito de hipossuficiência que é conhecido pela jurisprudência (MIRAGEM, 2013, p. 279).

A Constituição Federal ao consagrar o direito fundamental de defesa do consumidor, conferiu ao Estado, a tarefa de promover pelas distintas formas de proteção estatal, inclusive pela criminalização de condutas lesivas ao bem jurídico decorrente dessa expressa previsão constitucional, por intermédio da previsão de normas penais em branco, tipos abertos, e o estabelecimento de punições para tipos penais abstratos e culposos. Do ponto de vista histórico, em 1830, alguns tipos penais foram previstos visando a repressão de crimes realizados no mercado, como é o caso do estelionato (MIRAGEM, 2013, p. 747).

Dessa forma o código penal de 1890, início da República, faz exprimir em seu conteúdo os crimes contra a tranquilidade pública, os crimes contra a saúde pública, sendo que, no século XX foi aprovado a célebre Lei da Usura, pelo decreto 22.626 de 1933, assim como o decreto 22.796 de 1933, relativo à falta de alimentos. E finalmente, em 1990, com a lei 8137, definir-se crimes contra ordem tributária, Econômica e contra as relações de consumo (MIRAGEM, 2013, p. 279).

2.2 Dados estatísticos dos endividados brasileiros

A matemática de consumir movido pelo crédito, fácil e caro pode levar o consumidor ao superendividamento comprometendo sua renda e a situação financeira de sua família. O indicador do Serviço de Proteção ao Crédito – SPC, mostra que há cerca de 54,7 milhões de brasileiros endividados, 2,2 milhões a mais que em março do ano passado (2015). Desse percentual 71% (38,8 milhões) têm dívidas vencidas há mais de um ano. A inadimplência dos consumidores em março avançou 3,76% frente a 2014, conforme anexo II (CASTRO, 2015).

Os indicadores mostram as dificuldades dessas pessoas em honrar suas dívidas. Analisando o perfil dos endividados a população ente 18 e 95 anos 37,5%

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esta negativada em bancos, desses 71% estão nessa situação há mais de um ano, e 20% das famílias endividadas comprometem mais de 50% de sua renda familiar com o pagamento de dívidas (CASTRO, 2015).

A facilidade do cartão de crédito tem como contrapartida negativa os juros, que repercute diretamente na renda dos trabalhadores causando desequilíbrio no orçamento doméstico dos que não conseguiram mais pagar suas dívidas. Os especialistas apontam ainda que em 2015 que somando os juros do cartão de crédito por exemplo, somam mais de 240% ano quadriplicando o valor da fatura, tornando-as impagáveis necessitando uma medida que permita uma espécie de recuperação judicial do consumidor, permitindo a renegociação de dívidas em patamares aceitáveis, respeitando uma renda necessária a sobrevivência da família, que saltou de 35,9% em 2010 para 46%,35 em janeiro de 2015 (CASTRO, 2015).

Diante dessa renegociação de dívidas do consumidor, surge uma proposta que está em tramitação no PLS 283/12 no Senado, que se aprovada pode incluir na lei de proteção ao consumidor uma espécie de renegociação judicial do consumidor brasileiro superendividado. Essa proposta prevê uma educação financeira devido à falta de experiência do consumidor em lidar com o crédito e as constas que levam ao descontrole nas sociedades de consumo.

3 O PROJETO DE LEI 283/2012

Para responder as perguntas mais comuns sobre o superendividamento do consumidor brasileiro e a busca de soluções, se apresenta o Projeto de Lei 283/2012, a fim de propor alternativas de prevenção e tratamento relacionadas ao protecionismo dos consumidores numa análise da jurisdição como forma de solução dos conflitos consumeristas.

3.1 Origem

Durante o aprofundamento nas pesquisas bibliográficas, surgiram algumas perguntas sobre o endividamento e propõe-se responder e propor alternativas diante da prevenção e ao tratamento do consumidores pessoas físicas. Não se trata

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apenas de uma definição paupérrima de um conceito, mas se busca formas concretas para sua solubilidade e rever as relações diante do regime de crédito de consumo a fim de evitar a falência pessoal e consequentemente atingir a sociedade como um todo (MARQUES, 2010, p. 9).

Com isso procura-se responder as perguntas mais comuns sobre o tema, de como prevenir e tratar o superendividamento dos consumidores pessoas físicas de boa-fé no mercado financeiro e defende-se a necessidade de uma Lei Estatal sobre o tema, complementar ao CDC, onde contudo se apresenta o Projeto de Lei nº 283/2012 como alternativa a buscar alguma solução (MARQUES, 2010, p. 9).

Assim sendo, o valor do crédito ao consumo reflete diretamente na igualdade e inclusão social sendo escrito de forma inteligível para que o acesso seja para todos sem distinção, esse anteprojeto referente a prevenção do superendividamento dos consumidores parece estar apto a desencadear um consenso nacional sobre o tema, tanto entre economistas, como entre juristas (MARQUES, 2010, p. 11).

Assim, o marco ideal realçado no presente projeto tem como objetivo a igualdade dos agentes no mercado financeiro, inclusão social, manutenção e reinserção no mercado de consumo do consumidor superendividado, bem como prevenir a exclusão social e tratar o superendividamento de forma eficaz (MARQUES, 2010, p. 11).

A base nesse projeto é a boa-fé objetiva permite-se a negociação das dívidas contratuais de um consumidor pessoa física em dificuldades financeiras. Opta-se por um sistema de conciliação, mas diante do juiz estadual por um processo judicial, possibilitando a renegociação (MARQUES, 2010, p. 12).

Pois o endividado frente ao fornecedor, tem um papel essencial na relação de consumo dentro de uma sociedade, e deve ter a liberdade diante desse mercado para a própria estabilidade econômica social, pois o consumidor é consumidor em qualquer classe social sendo necessário uma relação objetivamente responsável, assim os consumidores mensalmente são afetados por dificuldades em seu

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orçamento familiar, comprometendo seu bem estar, muitas vezes, por falta de planejamento financeiro (MARQUES, 2010, p. 12).

Conceituando, o endividamento se posiciona como um fato individual, mas com consequências sociais e sistêmicas, cada vez mais claras. Porque a economia de mercado liberal em desenvolvimento no Brasil é por natureza uma economia de endividamento mais que uma economia de poupança, tendo em vista que o consumidor gasta todo seu orçamento familiar no consumo básico e necessita de créditos para adquirir bens móveis e imóveis (MARQUES, 2010, p. 13).

Então, o comportamento desse consumidor que age de forma contrária, pois deveria não gastar todo o ganho do orçamento familiar deixando uma reserva para investimento em poupança com planejamento mensal diante do pequeno capital se tornar um montante a fim de adquirir outros bens e serviços os quais deseja, de forma sincronizada dentro de seu limite financeiro (MARQUES, 2010, p. 13).

Com isso, diante dessa sociedade de consumo de massa, ocorre o inadimplemento individual. O consumidor vê seu nome parar nos bancos de dados negativos, e fica diante de um problema pessoal, tendo por consequência seu fracasso pessoal financeiro. Sendo que, dentro do conjunto social, com o inadimplemento se estabelece uma crise na sociedade, sobem os juros, os preços, a insolvência e desacelera a economia numa reação em cadeia (MARQUES, 2010, p. 17.

Mesmo tendo leis que combatem a usura a fim de penalizar os praticantes dessa infração, outras leis são necessárias a evitar a falência dos consumidores pessoas físicas, e regular a concessão de crédito responsável para essas pessoas a fim de modernizar a economia e prevenir ao tratamento das novas insolvências civis. Apesar de o código de defesa do consumidor completar mais de vinte anos, o mesmo não cuidou o tema de forma especial. Essas leis especiais tem procedimentos próprios diante do ordenamento jurídico pátrio, e permitem a ritos especiais dentro da adequação fática (MARQUES, 2010, p. 17).

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Logo, deve ser levado em questão que a taxa de juros no Brasil se associa ao marketing e as práticas comercias que criam desejos e tentações as novas exigências sociais que visam apenas ao lucro impondo ao consumidor uma equalização social diante de seus pares, ensejando a massificação das pessoas referente a aquisição de crédito não tendo limites nem aos perigos de tais práticas (MARQUES, 2010, p. 18).

Os economistas atribuem o enorme crescimento do segmento à desregulamentação da taxa de juros cobrada dos consumidores que tornaram as empresas emissoras em um negócio lucrativo, tendo em contrapartida o elevado nível de endividamento devido ao amadorismo e a inexperiência dos consumidores. Como não é exigido do consumidor uma comprovação de renda e os planejamentos de reembolso não são fixados, exigindo-se apenas o pagamento de um valor mínimo, o consumidor não faz ideia dos juros que é pago devido a falta de transparência e compreensão do mesmo, resulta em muitas vezes como o pagamento mínimo o risco de superendividamento (LIMA, 2012).

No que diz respeito ao objeto das demandas dos consumidores os problemas que se destacam é a cobrança indevida no patamar de 44,71% e o contrato em 16,34%, correspondendo a 61,05% de todas as demandas registradas em cartão de crédito. Também são recorrentes as demandas relativas ao cálculo das prestações, as taxas e os juros, que se agravam ainda mais com o pouco esclarecimento do consumidor diante das dúvidas referentes aos valores cobrados e o descumprimentos de acordos sobre o valor do débito e a dificuldade na negociação (LIMA, 2012).

Começa assim uma sequência de erros devido aos prazos dos pagamentos a serem quitados baterem na porta. Com isso um perigoso futuro quanto ao crédito por não poder adimplir suas dívidas parceladas não serem efetivadas no prazo, gerando problemas em sua saúde, no trabalho, em sua família, e consequentemente uma negação de todos os objetivos futuros que outrora foram sonhados plausíveis. Assim, com o seu planejamento orçamentário desequilibrado pode cair em um superendividamento (MARQUES, 2010, p. 20).

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O superendividamento pode ser definido como a impossibilidade global do devedor pessoa física, no caso o consumidor, leigo e de boa-fé, de pagar todas as suas dívidas atuais e futuras de consumo, é um devedor de crédito que gera uma situação de pagar todas as suas dívidas que saíram fora de seu controle de rendas e patrimônio, que o condiciona a quase uma escravidão ou hipoteca do futuro (MARQUES, 2010, p. 21).

Esse estado de superendividamento dos consumidores pessoas de boa-fé necessita de alguma saída ou solução pelo direito do consumidor como aconteceu com a falência e recuperação judicial no direito da empresa, com parcelamento mais suaves e a redução drástica dos juros aplicados no mercado, para fazer frente aos credores de forma igualitária de meios e mecanismos legais equacionados. Por isso, faz-se necessário que o ordenamento jurídico preveja algum tratamento que seja favorável ao consumidor e que por consequência não caia no superendividamento (MARQUES, 2010, p. 21).

A doutrina europeia define e distingue o superendividamento passivo se o consumidor não contribui ativamente para o seu aparecimento da crise de solvência e de liquidez e, o superendividamento ativo, quando o consumidor abusa do crédito e consome demasiadamente acima das possibilidades de seu orçamento (MARQUES, 2010, p. 22).

Diante disso, se posiciona a autora, que o superendividamento não é sinônimo de pobreza, mas sim o excesso de dívidas creditícias não profissionais ou de consumo. As soluções vão desde o controle da publicidade, do direito de arrependimento expresso na norma sem prejuízo ao hipossuficiente, a cooperação e lealdade oriunda da boa-fé para evitar a ruína do parceiro comercial e consequentemente a sua morte civil (MARQUES, 2010, p. 22).

O endividamento dos consumidores tem como corolário a liberdade do consumidor. Isso acontece devido a facilidade no acesso ao crédito que deveria ser de forma responsável a evitar a ruína e o endividamento dos consumidores de boa-fé, ainda que o consumo é igualdade e inclusão social, pois o cidadão

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economicamente ativo é aproveitador das benesses do mercado liberal e globalizado como agente ativo e consumidor (MARQUES, 2010, p. 25).

O código de defesa do consumidor nasceu com vário propósitos, tais como; promover a proteção dos consumidores, igualar em matéria de qualidade e lealdade, e incluir o cidadão na sociedade de consumo aumentado o acesso aos produtos e serviços, trazer mais segurança ao mercado, bem como resolver os conflitos gerados dessa relação (MARQUES, 2010, p. 25).

A importância do assunto superendividamento dos consumidores pessoa física, tem um ângulo que a sociedade não conhece, que é o efetivo combate a usura no sistema financeiro e a não falência da pessoa física. Agora que o Código de Defesa do Consumidor completa 26 anos de promulgação, parece ser o momento de aprovar um Projeto de Lei como medida de um grande avanço a fim de evitar o descontrole nas sociedades de consumo (MARQUES, 2010, p. 26).

Para entender, o superendividamento é uma crise do consumidor de boa-fé com reflexos em seu grupo familiar que resulta sua exclusão do mercado de consumo. E para prevenir tal efeito negativo na sociedade o melhor remédio é o acesso responsável ao crédito. Uma das razões associadas ao superendividamento, é a massificação do acesso a crédito, a impossibilidade de conseguir um novo emprego, a publicidade agressiva sobre crédito nas ruas combinada com os meios de comunicação. Com crédito ilimitado no tempo e nos valores inclusive com desconto em folha de pagamento até dos aposentados agrava o quadro dos endividados (MARQUES, 2010, p. 26).

Para prevenir o superendividamento, os países desenvolvidos e industrializados, como os Estados Unidos da América, o Canadá, a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Bélgica, Luxemburgo e outros, criaram uma espécie de inovação legislativa, muitas soluções advindas de jurisprudência e por analogia com tratamento amigável ou administrativo de renegociação e parcelamento para consumidores pessoas física permitindo evitar a situação do superendividamento dos consumidores (MARQUES, 2010, p. 26).

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O projeto de lei traz uma exposição de motivos constitucionais e inicia listando princípios (art. 6°) e os "direitos do consumidor superendividado de boa-fé (art. 8°) e esclarecendo tratar-se de uma lei de ordem pública (art. 2°), isto é, que deve ser usada ex-offício pelo julgador (em contrário, a atual Súmula 381 do. STD. Mesmo que o consumidor atue sem advogado ou que seu advogado não requeira exatamente um direito dessa lei Essa lei nova seria complementar ao CDC não revogando nenhum artigo do Código, mas sim especificando os direitos do consumidor (MARQUES, 2010, p. 27).

Efetivamente, o Código de Defesa do Consumidor foi tímido e previu apenas o art. 52 sobre informações obrigatórias ao consumidor de crédito. Daí o Anteprojeto de Lei trazer um artigo sobre o diálogo das fontes (uso da lei mais favorável ao consumidor) semelhante ao art. 7." do CDC: assim, sempre que outra lei (CC/2002 ou outra lei) assegurar um direito mais forte ao consumidor endividado, esta lei mais favorável terá prevalência (art. 7." do Anteprojeto de Lei) (MARQUES, 2010, p. 28).

Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo prévia e adequadamente sobre: I - preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;II - montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros; III - acréscimos legalmente previstos;IV - número e periodicidade das prestações;V - soma total a pagar, com e sem financiamento[...].

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem outros decorrentes de tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais do direito, analogia, costumes e eqüidade.

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.

O maior instrumento de prevenção do superendividamento dos consumidores é a informação, que combate o que o Anteprojeto chama de promoção do endividamento. Informação detalhada ao consumidor é um dever de boa-fé, dever de informar os elementos principais e mesmo dever de esclarecer sobre os riscos do crédito e o comprometimento futuro de sua renda (MARQUES, 2010, p. 28).

(38)

Reforçando a ideia de que seria abusiva a publicidade de crédito que explore a situação de necessidade, inexperiência, estado mental, fraqueza ou ignorância do consumidor tendo em vista a sua idade, a saúde, e a condição social capar de induzir o consumidor a contrair créditos de forma prejudicial ou perigosa a sua saúde patrimonial e de crédito, mas para prevenir de forma eficaz o superendividamento, uma das formas seria efetivar os contratos de forma escrita cuja cópia nas mãos do consumidor se explicitaria de forma clara as taxas e e periodicidade das prestações (MARQUES, 2010, p. 29).

Com o projeto de lei vai-se prevenir o superendividamento e incluir uma sanção ao fornecedor que descumprir as regras sobre a publicidade, o dever de conselho, a informação, a oferta prévia e a concessão responsável de crédito, poderá, a critério do julgador, e conforme a gravidade do descumprimento perder o todo ou a parte do direito aos juros de forma deliberada pelo magistrado. Outra sanção necessária seria a inversão do ônus da prova em matéria de contratos de crédito, assim competiria ao fornecedor de crédito fazer prova do cumprimento de suas obrigações e a negativa deste de apresentar o contrato de crédito presumiria o descumprimento dos deveres previstos na lei (MARQUES, 2010, p. 31).

O projeto de lei poderia autorizar expressamente a criação de um fundo de prevenção do superendividamento, que poderia inclusive ajudar o Judiciário a realizar o tratamento nos casos crônicos de superendividamento, permitindo a negociação de dívidas, respeitando o percentual necessário o mínimo familiar existencial (MARQUES, 2010, p. 31).

Analisando o tratamento do superendividamento de pessoas físicas em contratos de crédito de consumo, se faz essencial a presença judicial para sua eficácia a fim de manter a norma mais favorável ao consumidor, de forma a repactuar juros de forma acessível dando ao consumidor a possibilidade de manter o mínimo existencial. Diante da eficácia temporal da dívida, a nova norma deve agir diante do consumidor de boa-fé, ensejando soluções administrativas e um plano de pagamento para o consumidor antes de passar pela fase judicial (MARQUES, 2010, p. 35).

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