O SETOR PECUÁRIO DE LEITE BOVINO NO BRASIL E AS POLÍTICAS PÚBLICAS: o município de Ituiutaba/MG como foco de análise
THALES SILVEIRA SOUTO1
MERI LOURDES BEZZI2
Resumo: Este estudo tem o intuito de analisar a produção de leite bovino de Ituiutaba, destacando os incentivos vitais para esta atividade. Como preocupação central, analisou-se as ações públicas e privadas desenvolvidas no período de 1960 a 2014. Em relação aos objetivos específicos, buscaram-se: (a) Averiguar os incentivos para a produção de leite; (b) Confrontar as políticas públicas realizadas no Brasil e nas demais potências produtivas e (c) Verificar a realidade dos produtores de leite de Ituiutaba. Para o desenvolvimento desta investigação, fez-se o levantamento bibliográfico, a coleta de dados secundários, a realização de trabalho de campo, a coleta de dados primários (entrevistas), e a análise das informações obtidas. Neste sentido, foi possível verificar que há necessidade de maior atenção ao setor produtivo de leite, necessitando a realização de programas para auxiliar o crescimento com qualidade e competitividade no mercado.
Palavras-chave: Pecuária de leite bovina; Políticas púbicas; Ituiutaba/MG.
Abstract: The main goal of this study is to analyze the production of bovine milk from Ituiutaba, knowing the vital incentives for this activity. As a central concern, we analyzed the public and private actions developed during the period ranging from 1960 to 2014. Considering the specific goals, we sought to: (a) Find out the incentives for milk production; (b) Face up the public policies performed in Brazil and other productive powers; and (c) Examine the reality of Ituiutaba milk producers. For the development of this investigation, was performed a bibliographic survey, secondary data collection, field work, primary data collection (interviews), and the analysis of the information obtained. In this sense, it was possible to verify that there is a need for greater attention to the productive sector of milk, requiring the implementation of programs to support growth with quality and competitiveness in the market.
Key-words: Livestock of bovine milk; Public policies; Ituiutaba/MG.
1 – Introdução
Esta investigação visa analisar os incentivos e as ações do setor público e privado para a cadeia produtiva do leite bovino. Justifica-se a realização deste estudo, uma vez que esta atividade possui uma importante representatividade no cenário produtivo, econômico, bem como social, em alguns municípios brasileiros.
1 Acadêmico em nível de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal
de Santa Maria. Membro do Núcleo de Estudos Regionais e Agrários (NERA/UFSM). E-mail de contato: thales.souto@hotmail.com
2 Docente Titular do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Santa Maria.
Coordenadora do Núcleo de Estudos Regionais e Agrários (NERA/UFSM). E-mail de contato: meribezzi@yahoo.com.br
Salienta-se que o desenvolvimento de medidas para a expansão de algumas atividades agropecuárias proporcionou dinâmicas e transformações no Brasil. Contudo, a pecuária bovina de leite não obteve incentivos e programas capazes de auxiliar na sua ampliação tanto produtiva, quanto de produtividade e qualidade, como o setor agrícola, como a produção de soja e cana de açúcar, entre outros.
Em relação a relevância da produção leiteira, algumas questões podem ser levantadas, como a referente à sua importância frente as demais atividades agropecuárias, as quais possuem maior interesse para o capital externo, ou, as perspectivas para o desenvolvimento da pecuária leiteira no país e, também, a realidade vivenciada pelos pequenos produtores, os quais possuem grande valor na esfera produtiva, social e econômica local.
Neste sentido, para compreender a realidade vivenciada neste setor, elencou buscar informações da unidade territorial de Ituiutaba, a qual localiza-se a oeste do estado de Minas Gerais (Mapa 01).
Mapa 01: Localização do município de Ituiutaba/MG
Fonte: IBGE (2010). Org.: MACIEL (2013).
No que tange a problemática deste trabalho, aponta-se que é direcionado as políticas públicas e as ações do setor privado que sejam eficazes para o crescimento da produção de leite bovino no Brasil. O objetivo geral é analisar as políticas públicas e as ações do setor privado para a produção de leite bovino no
Brasil, enfocando o município de Ituiutaba, conhecendo os caminhos para o incremento e valorização desta atividade no período de 1960 a 2014. Os objetivos específicos buscam: (a) Averiguar os incentivos para a produção de leite bovino; (b) Confrontar as políticas públicas realizadas no Brasil e nas demais potências produtivas para compreender os entraves e as possíveis perspectivas para esta atividade e (c) Verificar a realidade vivenciada pelos produtores de leite desta unidade territorial, identificando as fragilidades, as necessidades e o aparato público e privado para a manutenção da atividade leiteira bovina.
A metodologia foi desenvolvida por meio de fases. Na primeira, fez-se a pesquisa bibliográfica. Já na segunda, realizou-se a busca de informações sobre as políticas públicas para a promoção da produção de leite bovino no Brasil. A terceira relacionou-se a coleta de dados secundários sobre a produção de leite bovino. Na quarta foi realizado o trabalho de campo em Ituiutaba e a aplicação de questionário aos produtores rurais de leite. Na quinta e última fase ocorreu a análise das expectativas e principais entraves deste setor no Brasil. Todas estas etapas foram vitais e possibilitaram compreender a dinâmica vinculada às políticas públicas de desenvolvimento e as ações privadas nacionais e internacionais no setor produtivo de leite, enfocando o pequeno produtor de leite, conhecendo os melhores caminhos para o incremento desta atividade.
A partir da análise e interpretação das informações buscou-se conhecer a importância que a pecuária de leite bovino possui no processo de organização/reorganização socioespacial do município de Ituiutaba, destacando as fragilidades e os possíveis caminhos para o incremento do setor.
2 – Desenvolvimento
A cadeia produtiva do leite no Brasil possui restrições que perpassam por algumas esferas, como referente ao processo produtivo e industrial, às restrições socioeconômicas, às de cunho institucionais, bem como às restrições tecnológicas vinculadas ao capital internacional.
Neste sentido, alguns problemas são verificados no processo inicial da produção, como a falta de manejo das pastagens, resultando na degradação das
mesmas, baixo padrão genético dos animais e poucas pesquisas em zootecnia de precisão. Além disso, salientam-se as desigualdades no sistema tributário e de incentivos fiscais, a falta de padronização das normas de fiscalização da qualidade do leite e a baixa organização corporativa dos produtores. Existem também, dificuldades relacionadas a infraestrutura do espaço rural, como a falta de vias de acesso adequadas, a carência de fornecimento regular de energia elétrica. Por último, assinalam-se as imposições feitas pelas corporações internacionais, por meio da padronização e fornecimento de tecnologias de produto vindas do exterior, na forma de equipamentos, embalagens e processos (RIBEIRO; LÍRIO, 2006).
No que tange o papel da indústria processadora de leite no país, deve-se considerar a importância que a mesma possui para a manutenção e o desenvolvimento do setor. Dessa forma, Vilela; Bressan; Cunha (2001, p. 13) apontam que
[...] por um lado, a indústria criou condições para a expansão horizontal de pecuária leiteira, por outro, pouco fez pelo (ou mesmo inibiu) o aumento de produtividade naquela atividade. Em vez de forçar a mudança, como ocorreu em tantos outros casos, a indústria de laticínios preferiu adaptar-se às precárias condições da produção leiteira, com seu suprimento instável de matéria-prima de baixa qualidade e alto custo de coleta. É curioso o paralelo entre os problemas da indústria e os da produção de leite. Assim como esta, aquela é extremamente heterogênea. Há um número pequeno de unidades industriais modernas, e um número enorme de pequenas empresas – milhares delas – e de cooperativas, com baixo padrão tecnológico, pouca sofisticação gerencial e produzindo bens de qualidade inferior. Assim como há um mercado informal de leite in
natura, há uma indústria artesanal, que atende a um público menos
sofisticado, em geral de menor poder aquisitivo.
Ainda sobre os entraves deste setor no país, ressaltam-se o longo período de regulação do preço do leite bovino pelo governo, inibindo a demanda de tecnologia, induzindo o crescimento pela via extensiva. Por outro lado, a indústria leiteira criou condições para a expansão do setor sem forçar na propagação de mudanças nas precárias condições no processo produtivo inicial. Há também, a existência de unidades industriais com baixo padrão gerencial e tecnológico, produzindo bens de
qualidade inferior (VILELA; BRESSAN; CUNHA, 2001). A este respeito, Buxedas (1994, p. 202) destaca,
Por contraste con esa necesidad de políticas sectoriales estratégicas y activas en algunos países parece predominar la ineficiencia estatal y, más importante aún, la falta de voluntad de algunas autoridades para construir organizaciones estatales o mixtas eficientes capaces de cooperar en el desarrollo.
Salienta-se que a pecuária leiteira obteve significativa depreciação, devido, principalmente, à importância fornecida a poucos segmentos produtivos agrícolas, como os relacionados à soja e à cana de açúcar, por exemplo, os quais são reflexos das ações e interesses do mercado externo, congruente às políticas de desenvolvimento agrícola. Nessa perspectiva, Souza (1999, p. 41) salienta que,
A expansão ou retração da produção leiteira está relacionada às políticas econômicas adotadas. Ao analisar a conjuntura econômica brasileira, observam-se reduções da produção de leite no início dos anos 1980, em função da crise econômico-financeira ocorrida nesse período. Esse foi um período conturbado, cujos efeitos para o setor leiteiro foram de atraso tecnológico, baixa competitividades e perda de mercados. Dentre os fatores que causaram esta situação desfavorável, destacam-se: endividamento externo, déficit fiscal, inflação e redução de investimentos.
A atividade leiteira no país, portanto, possui problemas que são pertinentes ao processo geral de produção. Verifica-se a necessidade de ampliação da criação de programas e incentivos públicos e do desenvolvimento de pesquisas científicas eficazes e com maior aprofundamento às peculiaridades do singular campo brasileiro, para que resultem no aumento da qualidade (que é essencial no processo produtivo), na geração da produtividade e, consequentemente, para agregar valor ao produto.
Considerando a produção mundial de leite bovino, salienta-se que, os países da União Europeia figuram-se como os principais exportadores mundiais de lácteos (USDA, 2011). As políticas públicas adotadas nestes países dão suporte aos produtores leiteiros. Entre as políticas, destacam-se o preço mínimo de intervenção e proteção do mercado doméstico contra competidores externos, incluindo subsídios
para completar a renda desses produtores. Guimarães; et. al. (2013, p. 15) salientam que,
A Política Agrícola Comum (PAC) teve origem na década de 1960, quando os países que compunham a então Comunidade Econômica Europeia sofriam com a alta dependência de produtos agrícolas importados, baixa produtividade e grande volatilidade em seus mercados. Dessa forma, o objetivo das políticas desenhadas para o setor lácteo e demais commodities agropecuárias foi proteger o mercado europeu das importações e dinamizar os mercados domésticos, por meio do estímulo ao aumento da produtividade, da garantia de um bom nível de renda à população rural e da segurança alimentar a preços razoáveis ao consumidor.
A ação dos governos é fundamental para a manutenção e o crescimento das atividades produtivas. Desta maneira, Buxedas (1994, p. 202) relata,
De hecho los gobiernos mantienen una participación muy activa en la organización de los mercados agropecuarios, mientras que las empresas líderes hacen lo proprio en los industriales. No es extraño que los países desarrollados busquen liberalizar los mercados de manufacturas y de servicios, en los que los bienes transables tienen creciente importancia, pero no los agropecuarios.
O cenário da pecuária leiteira do Brasil obteve incremento somente a partir da década de 1990, o qual se vinculou à expansão da necessidade desse produto no mercado interno e externo. Nesse sentido, destaca-se que o sistema agroindustrial leiteiro passou por mudanças importantes. Jank; Galan (1997, p. 199) enfatizam que inicialmente ocorreu a desregulamentação do mercado no Governo Collor, liberando os preços do leite, além disso, “Simultaneamente, ocorreu a abertura comercial ao exterior e a consolidação do Mercosul, que representaram um incremento da concorrência com produtos importados”.
Portanto, a criação de medidas eficazes tanto públicas, quanto da iniciativa privada são fundamentais para assegurar uma produção competitiva, rentável e com maior qualidade no cenário internacional. Entretanto, no Brasil ainda há a necessidade de um enfoque para o setor pecuário de leite bovino, pois no território nacional observa-se um contraste entre as políticas desenvolvidas, as quais atendem a demanda internacional, dando ênfase e apoio a produção de algumas
poucas produções, sendo essas desenvolvidas pelos grandes produtores, deixando à margem as demais atividades, como relacionado à leiteira bovina, assim como também o pequeno produtor rural.
3
– A PECUÁRIA DE LEITE EM ITUIUTABA E OS PROCESSOS
DINAMIZADORES
Enfatizando a pecuária leiteira bovina do município de Ituiutaba, deve-se levar em consideração que é uma atividade desenvolvida desde sua gênese. No entanto, a partir do processo de desenvolvimento agropecuário e do setor agroindustrial, algumas modificações ocorreram e, consequentemente, reestruturaram a economia local.
Neste sentido, ressalta-se a importância dos estabelecimentos produtores de leite nesta unidade territorial, bem como, o período em que desenvolvem essa atividade. Por meio do trabalho de campo e da realização das entrevistas com os produtores, verificou-se o tempo de produção dessa matéria prima (Tabela 1).
Tabela 1 – Tempo de produção leiteira (em anos) dos produtores de Ituiutaba - MG
Tempo de produção de leite (anos) Estabelecimentos (%)
1 a 5 4,68% 6 a 10 25% 11 a 25 40,62% 26 a 30 9,37% Mais de 31 20,31% Total 100%
Fonte: Trabalho de campo realizado nos estabelecimentos produtores de leite de Ituiutaba - MG (2015).
Org.: SOUTO, T. S. (2015).
Os produtores que estão há mais tempo nesse setor, vivenciaram momentos importantes da pecuária leiteira, como a regulamentação pelo governo federal do valor do litro do leite, as tradicionais formas de coleta e armazenagem do leite in natura e, também, a atual e fundamental mudança agregada ao setor, a qual se relaciona à higiene, à qualidade do leite e à necessidade de expansão da atividade para atender as agroindústrias leiteiras existentes em Ituiutaba e nos demais municípios limítrofes.
O crescimento da produção leiteira foi fundamental para atender a demanda das agroindústrias de Ituiutaba, que são a Fazendeira, Nestlé e Canto de Minas e, também, as demais que captam leite deste município, como, a Alimentos Triângulo – Doce Mineiro (Canápolis, MG), COOPRATA (Prata, MG) e CALU (Uberlândia, MG).
Para compreender o atual cenário produtivo leiteiro dessa unidade territorial, é fundamental destacar a amplitude dessa atividade. Analisando o gráfico 1, ressalta-se o crescimento da produção de leite em 158% entre os anos de 1975 e 1980. Faz-se importante considerar que no ano de 1980 já havia Faz-se instalado, em Ituiutaba, a unidade da Nestlé, a qual é processadora de leite para a transformação de leite em pó, o leite Ninho, sendo responsável pelo aumento significativo deste produto.
Gráfico 1 – Quantidade produzida de leite de vaca nos estabelecimentos agropecuários de Ituiutaba - MG (mil litros) na escala temporal de análise
Fonte: Censo Agrícola do IBGE de 1960 e Censos Agropecuários do IBGE de 1970, 1975, 1980, 1985, 1990, 1996 e 2006. SIDRA/IBGE – Pesquisa Pecuária Municipal de 2013. Org.: SOUTO, T. S. (2015).
O incremento produtivo nesse município se deve ainda às melhorias realizadas tanto no pasto quanto no rebanho e no processo de coleta do leite, o qual teve expansão do uso da ordenha mecanizada, aumentando a produtividade, principalmente a partir dos anos 2000.
Salienta-se que o aumento dessa produção é consequência da expansão da demanda das fábricas de derivados de leite de Ituiutaba, bem como da necessidade do produto para atendimento das agroindústrias dos municípios limítrofes. Paralelamente, a utilização do solo para a pastagem é fator essencial que
3.965 5.434 8.347 21.544 22.357 23.628 25.343 35.181 35.504 0 5.000 10.000 15.000 20.000 25.000 30.000 35.000 40.000 1960 1970 1975 1980 1985 1990 1996 2006 2013
demonstra o cenário referente a essa produção. Sendo assim, comparando a quantidade de área em hectares (ha) existente de pastagem plantada e natural, ressalta-se que há uma redução da utilização da pastagem natural (IBGE, 2014).
O crescimento da utilização de pastagem plantada, portanto, deve ser considerado devido, principalmente, a necessidade de alimentação dos bovinos. No gráfico 2, é possível verificar o cenário evolutivo do número de bovinos em Ituiutaba.
Gráfico 2 – Total de bovinos em Ituiutaba - MG na escala temporal selecionada
Fonte: Censo Agrícola IBGE de 1960 e Censos Agropecuários do IBGE de 1970, 1980, 1996 e 2006.
Org.: SOUTO, T. S. (2015).
Para o diagnóstico da ampliação do setor produtivo leiteiro, faz-se importante analisar a quantidade de vacas ordenhadas no município. Desta forma, se observa o crescimento significativo de vacas ordenhadas no ano de 1984, se comparado a 1974. Tal fato é explicado principalmente pela instalação da Nestlé no município, a qual foi responsável pelo aumento de 249,10%. No entanto, ressalta-se a redução da quantidade de vacas ordenhadas em 2004 se comparado a 1994, o qual foi de 39,27%. Observa-se ainda, a redução do número de vacas ordenhadas entre 2004 e 2013 de 10%. Salienta-se que esse fato pode ser comparado à diminuição da utilização de áreas para pastagens no município em função da expansão da produção agrícola (IBGE/PESQUISA PECUÁRIA MUNICIPAL, 2014).
Para conhecer a realidade vivenciada pelo produtor leiteiro de Ituiutaba, levaram-se em consideração algumas variáveis nas entrevistas realizadas, entre elas, a quantidade de vacas em produção. Dos produtores entrevistados,
verificou-129.940 83.972 166.886 184.847 193.592 0 50.000 100.000 150.000 200.000 250.000 1960 1970 1980 1996 2006
se que 71,86% possuem menos de 41 vacas em produção. Nesse viés, salienta-se o cenário referente à produção de leite no município. De acordo com a entrevista realizada no trabalho de campo, verifica-se a percentagem da produção de litros de leite por estabelecimento em Ituiutaba (Tabela 2).
Tabela 2 – Percentagem da produção/dia de leite por estabelecimento em Ituiutaba
Quantidade de litros produzidos por dia por produtor
Quantidade de Estabelecimento Produção (%) 1 a 100 18 28,12% 101 a 200 20 31,25% 201 a 300 8 12,50% 301 a 400 3 4,68% 401 a 500 2 3,12% 501 a 600 5 7,81% 601 a 700 2 3,12% 701 a 800 2 3,12% Mais de 801 4 6,25% Total 64 100%
Fonte: Trabalho de campo realizado nos estabelecimentos produtores de leite de Ituiutaba (2015).
Org.: SOUTO, T. S. (2015).
De acordo com a entrevista nas agroindústrias, duas das agroindústrias de Ituiutaba possuem fornecedores de leite referentes ao pequeno e médio produtor e uma respondeu que seus fornecedores são pequenos, médios e grandes produtores. Nessa perspectiva, observa-se que a maioria dos produtores de leite dessa unidade territorial se encontra no estrato de área entre 10 e 50 ha, ou seja, 81,24%, caracterizando a relevância desses estabelecimentos, os quais, em sua maioria, referem-se aos pequenos e médios produtores (Trabalho de campo, 2015).
Considerando o aumento da quantidade produzida de leite na escala temporal de análise, salienta-se a utilização de métodos e equipamentos para o crescimento da produtividade no município estudado, sendo que 39,07% dos produtores utilizam ordenha mecânica, 100% armazenam o leite no tanque refrigerador, 100% utilização ração comprada e 26,57% fazem inseminação artificial (Trabalho de campo, 2015).
A partir do período analisado, observou-se que a produtividade tem aumentado em 51,56% dos estabelecimentos entrevistados, ao passo que 6,25% consideram ter diminuído, 18,75% responderam que a mesma manteve-se,
enquanto 23,43% não produziam leite antes de 2000. Em relação aos produtores que começaram a produzir leite após 2000, ressalta-se que, em sua maioria, referem-se aos assentados (Trabalho de campo, 2015).
Nesse sentido, procurou-se entender o que os entrevistados acham da atuação dos laticínios junto ao auxílio, à manutenção e valorização do produtor. Assim, 54,68% responderam que os laticínios valorizam a atividade, a qual é permeada pela assistência técnica, pela oferta de crédito e pelo empréstimo a baixos juros, pela organização de eventos e palestras para aumentar o repasse de informações essenciais para melhor qualidade do produto in natura e, também, para maior produtividade. Já 45,32% disseram que os laticínios não valorizam a atividade, visto que as reclamações destes produtores alicerçam-se, principalmente ao valor pago pelo litro do leite, o que impossibilita a realização de investimentos no estabelecimento, dificultando o desenvolvimento dos mesmos no setor.
4 – Considerações
Verificou-se que as ações públicas relacionadas a regulamentação do valor do litro do leite foram prejudiciais para a expansão desta atividade e melhorias no processo produtivo inicial. Além disso, deu-se maior atenção as produções importantes para o mercado mundial. Contudo, após a desregulamentação do valor do litro pelo governo e a criação do Mercosul, aumentou a demanda e, consequentemente, a produção.
Em relação ao setor industrial, ressalta-se que inicialmente foram complacentes com a realidade existe nas propriedades, as quais tinham baixo padrão gerencial, tecnológico e de qualidade. Entretanto, somente após as regras de melhorias vindas do exterior e da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) é que houve maior atenção à fiscalização quanto a qualidade do produto in natura.
Enfocando, o município de Ituiutaba, destaca-se que, a produção de leite bovino é fundamental para o processo organizacional socioespacial. Todavia, salienta-se que ainda há necessidade de uma maior atenção tanto do Estado, quanto do capital privado para este setor, pois, muitas vezes, o produtor esbarra em uma série de empecilhos que dificultam o incremento produtivo, gerando,
posteriormente maiores prejuízos para o setor industrial. Neste sentido, verificou-se que, de acordo com os produtores de leite, ainda existe a necessidade de ações para alavancar esta produção e maximizar a competição no mercado, o que possibilitará um maior giro do capital local.
5 – Referências
BUXEDAS, Martín. El Mercosur y las políticas agropecuarias. In: O Mercosul e a
comunidade europeia: uma abordagem comparativa. PLÁ, J. A. (Org.). Porto Alegre: Ed.
Universidade/UFRGS, 1994.
CASTANHO, R. B.; SOUTO, T. S. A importância da orizicultura na constituição do espaço geográfico: evolução e dinâmica da produção de arroz no período de 1930 a 2010 em Ituiutaba (Minas Gerais - MG, Brasil) e a inserção de novas culturas. Cuadernos de
Geografía, v. 23, n. 1, jan./jun. 2014. Disponível em: <http://ref.scielo.org/kb94n8>. Acesso
em: 08 fev. 2017.
GUIMARÃES, D.; et al. Análises de experiências internacionais e propostas para o desenvolvimento da cadeia produtiva do leite. BNDES Setorial. Rio de Janeiro. n. 38, p. 5-54, jul. 2013. Disponível em: <https://web. bndes.gov.br/bib /jspui/bitstream/1408/ 1401/1/BS%2038 _final%20A-BD.pdf>. Acesso em: 20 set. 2016.
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA – IBGE. Censo Agrícola de
Minas Gerais. Rio de Janeiro, 1960.
______. Censo Agropecuário de Minas Gerais. Rio de Janeiro, 1970. ______. Censo Agropecuário de Minas Gerais. Rio de Janeiro, 1980. ______. Censo Agropecuário de Minas Gerais. Rio de Janeiro, 1996. ______. Censo Agropecuário de Minas Gerais. Rio de Janeiro, 2006.
______. Pesquisa Pecuária Municipal – Dados Gerais. 2015. Disponível em: <http://www.sidra.ibge.gov.br/bda/acervo>. Acesso em: 5 dez. 2016.
JANK, M. S.; GALAN, V. B. Competitividade do Sistema agroindustrial do leite. São Paulo: PENSA/FIA/FEA/USP, 1997.
RIBEIRO, H. M. D.; LÍRIO, V. S. Desempenho da cadeia produtiva de leite do município
de Bom Despacho – MG. In: XII Seminário sobre a economia mineira, 2006, Diamantina.
Anais... Diamantina, 2006. p. 1 -13
SOUTO, T. S.; BEZZI, M. L. As metamorfoses socioespaciais resultantes do incremento da produção de leite: uma análise desta atividade no município de Ituiutaba/MG no período de 1960 a 2013. Sociedade & Natureza. Uberlândia, n. 28, v. 2, mai./ago. 2016. Disponível em: <http://ref.scielo.org/zzr9gb>. Acesso em: 10 abr. 2017.
SOUZA, O. T. O setor leiteiro: políticas, competitividade e impactos da liberalização comercial nos anos noventa. 1999. 130 f. Dissertação (Mestrado em Economia Rural), Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1999. Disponível em: <http://www.lume.ufrgs.br/ bitstream/handle/10183/2522/000275969.pdf? sequence=1>. Acesso em: 15 out. 2014.
UNITED STATES DEPARTMENT OF AGRICULTURE – USDA. Report of the Dairy
Industry Advisory Committee, 2011. Disponível em:
<http://www.fsa.usda.gov/Internet/FSA_File/diac_final_rpt_0302.pdf>. Acesso em: 20 jun. 2014.
VILELA, D.; BRESSAN, M.; CUNHA, A. S. Cadeia de lácteos no Brasil: restrições ao seu desenvolvimento. Brasília: MCT/CNPq, Juiz de Fora: Embrapa Gado de Leite, 2001. 284 p.
