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ANÁLISE MINERALÓGICA DO EFEITO DA TEMPERATURA DE

OBTENÇÃO DA CINZA DE BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR (CBCA) NA

HIDRATAÇÃO DE PASTAS COM SUBSTITUIÇÃO PARCIAL AO

CIMENTO PORTLAND

MINERALOGICAL ANALYSIS OF THE EFFECT ON OBTAINING TEMPERATURE OF SUGAR CANE BAGASSE ASH (SCBA ) IN PASTE HYDRATION WITH PARTIAL

REPLACEMENT TO PORTLAND CEMENT

R.A. Argolo (1); T.A. Santos (2); T.R.S. Nobre (3); D.V. Ribeiro (4)

(1) Graduanda em Engenharia Civil, Universidade Federal da Bahia

(2) Mestrando em Engenharia Ambiental Urbana - MEAU (3) Graduando em Química, Faculdades Oswaldo Cruz

(4) Professor Doutor, Departamento de Ciência e Tecnologia dos Materiais

Resumo

A indústria sucroalcooleira produz diversos produtos e subprodutos que possuem potencial energético e econômico significativos, entre eles, está a cinza de bagaço de cana-de-açúcar (CBCA). A CBCA é gerada por meio do processo de queima do bagaço para co-geração de energia e com produção anual de cerca de 4 milhões de tonelada. Assim, a otimização da queima do bagaço de cana-de-açúcar possibilitaria um uso mais eficiente da cinza como material cimentício suplementar (MCS). A presente pesquisa busca, dessa forma, analisar o efeito da temperatura de calcinação das cinzas de bagaço de cana de açúcar no desenvolvimento da atividade pozolânica em pastas, com substituição parcial do cimento Portland por este material. A análise mineralógica foi realizada por meio da Difração de raios X e quantificada pelo método de refinamento de Rietveld, com o objetivo de analisar os produtos formados na reação pozolânica. O teor de substituição da CBCA obtida à temperaturas de 500°C, 600°C e 700°C foi de 35 %, em relação à massa de cimento, nas pastas. Foram feitas análises aos 7, 28 dias e 91 dias em amostras elaboradas com relação água/materiais sólidos igual a 0,6, observando um considerável consumo de hidróxido de cálcio e formação de C-S-H (silicato de cálcio hidratado) secundário.

Palavra-Chave: cinzas, pozolanicidade, resíduos, bagaço de cana-de-açúcar, pastas

Abstract

The sugar and alcohol industry produces several products and byproducts that have significant energy and economic potential, as ash from sugarcane bagasse (CBCA). The CBCA is generated through the burning of bagasse process for energy co-generation and with an annual output of about 4 million tons. Thus, the optimization of the burning of sugarcane bagasse enable a more efficient use of ash as a supplementary cementitious materials (MCS). This research seeks to analyze the calcination temperature effect of the ashes of sugarcane bagasse in the development of pozzolanic activity in pastes, with partial replacement of Portland cement by this material. The mineralogical analysis was performed by X-ray diffraction in order to analyze the products formed in the pozzolanic reaction. The percentage of CBCA replacement, obtained at temperatures of 500°C, 600°C and 700°C was 35%, relative to the cement mass in the pastes. Analyses were made at 7, 28 and 91 days in samples prepared with water/cement ratio of 0.6, observing a considerable consumption of calcium hydroxide and the formation of C-S-H (calcium silicate hydrate) secondary.

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1. Introdução

A progressiva busca por fontes de energia sustentáveis tem sido uma necessidade mundial a fim de diminuir os impactos ambientais causados principalmente por crescentes emissões de CO2. Nesse contexto, o Brasil se tornou um dos pioneiros no setor sucroenergético, se destacando com a criação do programa Pro-álcool, o maior programa de combustível renovável do mundo. O Pro-álcool deu um impulso à cultura de cana-de-açúcar, tornando o Brasil o maior produtor mundial de açúcar e álcool, com previsão de colheita na safra de 2018/2019 de 47,34 milhões de toneladas de açúcar e produção de 58,8 bilhões de litros de etanol, produzidos a partir da cana de açúcar (MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, 2015).

Além de impulsionar a substituição de combustíveis fósseis pelo etanol, a indústria da cana gera grande quantidade de bagaço (aproximadamente 30% da cana moída) e esse subproduto é queimado quase em sua totalidade em caldeiras para geração de energia elétrica (DE PAULA, 2009).Todo o carbono liberado em forma de CO2 na combustão da biomassa é reposto no ciclo seguinte da cana (CORDEIRO et al, 2008), por meio da fixação do gás pela cultura, em campo. No entanto, a sustentabilidade do processo produtivo é comprometida quando, a partir dessa queima, é gerado um considerável volume de cinzas sem um descarte correto. A calcinação do bagaço de cana-de-açúcar gera anualmente no Brasil, cerca de 4 milhões de toneladas de cinza (CBCA) (TOMMASELLI et al, 2011).

A geração de resíduos é uma etapa intrínseca ao processo industrial e seu reaproveitamento deve ser incentivado, afim de produzir novos materiais. Desse modo, a CBCA, até então tida como um problema ambiental, pode ser reutilizada no meio da construção civil, pois, caso seja obtida em condições adequadas de calcinação, pode ter, em sua composição, sílica amorfa, possibilitando sua aplicação como uma pozolana em substituição parcial ao cimento Portland (CORDEIRO; TOLEDO FILHO; FAIRBAIRN, 2009). Diversas pesquisas (ANJOS, 2009; CORDEIRO, 2006; HERNÁNDEZ; MIDDENDORF; BUDERMANN, 1998), comprovam que a CBCA pode ser utilizada como material cimentício suplementar, devido ao alto teor de sílica amorfa presente em sua composição. No entanto, é importante ressaltar que a CBCA só poderá ser considerada um material pozolânico quando houver partículas ativas para reagir com o hidróxido de cálcio e formar silicatos de cálcio hidratado (C-S-H), aluminatos de cálcio hidratados (C-A-H) e/ou silicoaluminato de cálcio hidratados (C-A-S-(C-A-H).

De acordo com Mehta e Monteiro (2008), as pozolanas possuem essencialmente sílica (SiO2) e alumina (Al2O3) na fase amorfa como partículas ativas, além de Fe2O3, CaO e outros óxidos em sua composição. No caso da CBCA, apesar de ser constituída basicamente de sílica, esta tem potencial para ser utilizada como adição mineral (ANJOS, 2009). No entanto, segundo Hernández, Middendorf, Budelmann (1998), o aparecimento de sílica amorfa na CBCA depende da temperatura e do período de calcinação do bagaço

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da cinza e à a presença de impurezas, tais como carbono e material não calcinado que limitam o contato da sílica reativa com o hidróxido de cálcio.

Dessa forma, a presente pesquisa visa analisar o efeito da temperatura de calcinação das cinzas de bagaço de cana-de-açúcar no desenvolvimento da atividade pozolânica em pastas, com substituição parcial do cimento Portland por este material.

2. Materiais e Métodos

2.1 Materiais

Para a produção das pastas foram utilizados Cimento Portland CP II F 32, água destilada e cinzas provenientes da queima do bagaço de cana-de-açúcar.

O bagaço de cana de açúcar, fornecido pela empresa União Açucareira, localizada no município de Amélia Rodrigues, no Estado da Bahia, se encontrava armazenado e estocado ao ar livre.

2.2 Métodos

2.2.1 Obtenção das cinzas

Para obtenção de cinzas com menor teor de impurezas e sem contaminação de areia residual, o bagaço de cana-de-açúcar passou por um processo de lavagem em água corrente, sendo posteriormente seco em estufa a 100 ± 5°C durante 24 h. O bagaço, então, foi submetido a calcinação em três temperaturas diferentes (500°C, 600°C e 700°C), de acordo com diversos estudos recentes (CORDEIRO; TOLEDO FILHO; FAIRBAIRN, 2009; DE PAULA, 2006; ALTOÉ, 2012), com o intuito de se obter cinzas com caráter amorfo. Para a queima foi utilizado um forno modelo LinnElektro Therm, com taxa de aquecimento de 10°C/min e permanência no patamar de queima por seis horas, com posterior resfriamento dentro do forno.

2.2.2 Caracterização dos materiais

A CBCA e o cimento foram caracterizados quanto à distribuição de tamanho de partículas por sedigrafia (Particle Size Analyser, modelo CILAS 1180 Liquid, disponível no LACER/UFRGS); massa específica (picnometria a gás hélio, modelo Accupyc II 1340, Micromeritics) e área superficial específica, por meio da técnica BET (Quantachrome, modelo Nova1000e). Os materiais e as pastas foram caracterizadas por difratometria de raios X (DRX), por meio de difratômetro D2 PhaserBruker, com tubo de cobre, varredura de 5° a 80° (2θ), incremento de 0,02º/s, com intensidade e tensão iguais a 10mA e 30kV, respectivamente. A identificação mineralógica foi realizada através do software DifracEva, da Bruker, que possui como banco de dados o Crystallography Open Database (COD).

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2.2.3 Obtenção de pastas

Foram moldadas pastas de referência (sem presença de CBCA) e pastas contendo 35% (em massa) de CBCA, obtidas em diferentes temperaturas de calcinação (500°C, 600°C e 700°C), em substituição ao cimento Portland. Adotou-se uma relação água/materiais sólidos igual a 0,6. As pastas foram moldadas em recipientes plásticos de aproximadamente 30 mL, onde permaneceram durante 24 horas em sala climatizada (22 °C e U.R 72%), sendo posteriormente colocadas em cura saturada contendo hidróxido de cálcio até as idades de análise, aos 7, 28 e 91 dias. Em cada idade de análise, as amostras foram secas a 50°C, durante 2 horas, em estufa, sendo posteriormente moídas em almofariz de ágata e peneiradas em malha com abertura de 75 μm.

3. Discussão e Resultados

3.1 Caracterização dos Materiais

Na Tabela 1 e na Figura 1, são apresentadas as principais características físicas dos materiais utilizados na presente pesquisa.

Tabela 1 – Caracterização física do cimento e das cinzas provenientes da queima do bagaço de cana de açúcar (CBCA) Propriedade Cimento Portland CBCA 500°C 600°C 700°C Diâmetro médio, D50 (µm) 13,60 35,03 36,32 33,53 Massa específica (g/cm³) 3,143 3,1974 3,6100 3,9880

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Figura 1 – Distribuição de tamanho de partículas do cimento e das cinzas provenientes da queima do bagaço de cana de açúcar (CBCA).

A atividade pozolânica da CBCA depende significativamente de sua distribuição de tamanho de partículas e área superficial (CORDEIRO et al., 2008). Observa-se pelos resultados apresentados na Tabela 1 e na Figura 1, que a medida que se aumenta a temperatura de calcinação, há uma redução na área superficial das cinzas e aumento da massa específica. A CBCA obtida a 500°C apresenta a maior área superficial, esta característica é um fator importante, visto que na subsituição do cimento pela CBCA na produção de matrizes cimentícias, a mesma irá proporcionar uma maior reatividade e densidade de empacotamento dos materiais.

A granulometria das cinzas é um importante parâmetro, pois, indica se há necessidade do processo de moagem para aumentar a reatividade das cinzas. De acordo com diversos autores (CORDEIRO, 2006; SOARES, 2010), o processo de moagem, utilizando o moinho rotativo, se faz necessário para obter cinzas com diâmetros menores, entre 10 e 30 µm, com o intuito de aumentar a reatividade das cinzas. Assim, os resultados obtidos mostram que não será necessário o processo de moagem, pois, as cinzas obtidas nas diferentes temperaturas apresentam diâmetros adequados. A distribuição granulométrica observada na CBCA obtida foi possível graças ao processo de lavagem prévia do bagaço, quando houve a eliminação da areia existente e, assim, a diminuição do diâmetro médio das amostras. 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 0.01 0.1 1 10 100 1000 V olume A cu mul ad o (% )

Tamanho das Partículas (µm)

CBCA 500°C CBCA 600°C CBCA 700°C CP II F 32

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A análise mineralógica das cinzas é apresentada pelo difratograma de raios X (Figura 2), onde é possível verificar a presença decompostos cristalinos como o quartzo (SiO2) e phengite (K(Al,Mg)2(Al,Si)4O10(OH)2); além da presença da fase amorfa na faixa entre 5° e 35° (2 theta). A fase quartzo identificada no difratograma está em consonância com as análises de estudos realizados (CORDEIRO, 2006; RIBEIRO; MORELLI, 2013; BAHURUDEEN; SANTHANAM, 2015), podendo-se observar, também, uma redução na intensidade destes picos de quartzo na CBCA de 600°C, evidenciando que nestas condições de queima, esta cinza possui a fase quartzo menos cristalina do que as fases encontradas na CBCA obtida a 500°C e a 700°C.

Figura 2 – Difratograma de raios X das cinzas provenientes da queima do bagaço de cana de açúcar (CBCA).

Estudos realizados por Cordeiro (2008), mostram que as cinzas, quando queimadas entre 400º e 600ºC, apresentam um aumento do índice de atividade pozolânica com o acréscimo da temperatura de queima, devido à perda de carbono durante o processo de calcinação e à formação da estrutura amorfa da CBCA. Enquanto que na temperatura de 800ºC há a formação de compostos cristalinos de sílica, ocasionando uma queda no índice de atividade pozolânica.

Os difratogramas das cinzas calcinadas a 500°C, 600°C e 700°C foram analisados por meio do software DifracEva, da Bruker, podendo-se determinar o grau de amorfismo (Tabela 3). Os resultados obtidos estão de acordo com os resultados verificados por Cordeiro (2008, 2009) que indicou que a cinza do bagaço de cana-de-açúcar calcinada a 600°C apresenta maior teor de sílica no estado amorfo, no entanto, a influência efetiva deste parâmetroapenas poderá ser verificada após testes de pozolanicidade.

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Tabela 2 – Teor de fases no estado amorfo das cinzas provenientes da queima do bagaço de cana de açúcar (CBCA), calcinadas a diferentes temperaturas.

Temperatura de calcinação do bagaço Grau de Amorfismo

500°C 80,6%

600°C 85,6%

700°C 85,4%

A análise mineralógica do cimento é apresentada na Figura 3. No difratograma do cimento é possível verificar a presença compostos cristalinos como picos de larnite (Ca2SiO4),alita (C3S), brownmillerite (C4AF), aluminato tricálcico (C3A), e calcita (CaCO3). Além de picos de menor intensidade nas fases: cal livre (CaO), wollastonita (CaSiO3), gipsita (CaSO4.2H2O), bassanita (sulfato de cálcio hemihidratado, CaSO4.0,5.H2O), produzido na desidratação da gipsita.

Figura 3 – Difratograma de raios X do cimento CP II F - 32.

3.2 Análise mineralógica das pastas

As pastas de referência (sem a presença de CBCA) e as contendo 35% de cinzas obtidas a 500°C, 600°C e 700°C tiveram sua hidratação monitorada por difração de raios X aos 7, 28 e 91 dias, afim de se observar o desenvolvimento da atividade pozolânica da CBCA, comparando-a com a hidratação do cimento Portland.

Nos difratogramas apresentados nas Figuras 4, 5 e 6, observa-se a formação dos compostos de hidratação do cimento Portland como a Etringita em 9,13° (2θ) e a

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Portlandita (Ca(OH)2) em 34,15° (2θ), entre outros compostos anidros como Brownmillerite (C4AF), em 23,16° (2θ), a Wollastonita (CaSiO3) em 30,02° (2θ), a Larnite (Ca2SiO4) em 32,04° (2θ) e a Calcita (CaCO3) em 29,04° (2θ). Os silicatos de cálcio hidratados encontrados foram a Hillebrandite (Ca6Si3O9(OH)6) em 30,52° (2θ), com pico característico em 10,9° (2θ) e a Tobermorita (Ca4Si6O17. 2H2O) em 29,51° (2θ).

É importante observar que o pico de quartzo é visível apenas nas amostras com substituição parcial do cimento pelas cinzas, pois, conforme apresentado na Figura 2, as cinzas apresentam este composto também em seu estado cristalino. Além disso, observa-se que durante a evolução da hidratação das pastas, aos 28 dias, já não são mais identificados os picos referentes à Brownmillerite e à Wollastonite.

A reação pozolânica é desencadeada devido à reatividade da sílica e/ou da alumina com o hidróxido de cálcio (CH), com um consumo lento do CH livre pela pozolana após a hidratação do cimento anidro, gerando C-S-H (silicato de cálcio hidratado) adicional e contribuindo para o aumento da resistência e da durabilidade da pasta.

Figura 4 – Difratograma de raios X das cinzas provenientes das pastas de referência e contendo cinzas provenientes da queima do bagaço de cana de açúcar (CBCA), calcinadas a diferentes temperaturas, aos 7

dias.

Observa-se no difratograma da Figura 4, obtido aos 7 dias de idade que, apesar da reação pozolânica geralmente acontecer em idades avançadas, o alto teor de substituição

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aumentando a taxa de reação. Nesta idade não há diferença significativa no consumo de portlandita entre as cinzas calcinadas nas três temperaturas diferentes. Neste difratograma é identificado também o pico da Wollastonita e o pico da Brownmillerite (C4AF) proveniente do cimento anidro.

Aos 28 dias (Figura 5), houve o consumo contínuo do hidróxido de cálcio (portlandita), que apresentou pico característico com baixa intensidade nessa idade. Apesar de não se verificar uma diferença considerável no consumo de portlandita, as pastas contendo CBCA obtida a 700°C se apresentou com menor intensidade de pico em comparação às demais.

Figura 5 – Difratograma de raios X das cinzas provenientes das pastas de referência e contendo cinzas provenientes da queima do bagaço de cana de açúcar (CBCA), calcinadas a diferentes temperaturas, aos

28 dias.

Nas pastas de cimento com 35% de CBCA aos 91 dias foi possível observar a redução total dos picos da portlandita, quando comparado aos picos identificados nas pastas de 7 e 28 dias (Figura 6). Segundo Hoppe Filho (2008), o hidróxido de cálcio contribui para a elevada alcalinidade da solução dos poros da matriz cimentícia, e a reação pozolânica, ao consumir esse composto para formação de C-S-H secundário, proporciona uma maior densificação da microestrutura da pasta e o refinamento de poros da matriz, no entanto,a substituição de cimento por altos teores de pozolanas diminui o pH da solução dos poros devido à diminuição do teor remanescente de hidróxido de cálcio. De acordo com os resultados obtidos aos 91 dias, é possível observar que há um consumo total de portlandita, o que implicará na redução do pH da solução dos poros, aumentando, assim, a susceptibilidade à despassivação do aço em concretos armados. Assim, o uso da CBCA no teor de 35% ou superior, deve estar associada à adição de cal hidratada no sistema cimentício, quando aplicada em concreto armado, evitando tais problemas.

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Figura 6 – Difratograma de raios X das cinzas provenientes das pastas de referência e contendo cinzas provenientes da queima do bagaço de cana de açúcar (CBCA), calcinadas a diferentes temperaturas, aos

91 dias.

Na Figura 7, é apresentada a análise do difratograma na faixa entre 33° e 35° (2θ), para explanar melhor a redução da intensidade do pico da portlandita durante as idades. O pico principal da portlandita é observado em 34,15° (2θ), assim, observa-se claramente a redução de intensidade deste pico para as amostras contendo CBCA, em comparação à pasta de referência, que contém apenas cimento. Em relação ao efeito da temperatura de calcinação do bagaço de cana-de-açúcar, é possível verificar que apesar de a caracterização das cinzas indicar uma maior reatividade naquela obtida a 600°C, devido ao seu maior grau de amorfização e ao seu difratograma apresentar picos cristalinos de menor intensidade, conclui-se que não há uma diferença significativa no consumo de portlandita entre as cinzas obtidas nas diferentes temperaturas, com o passar do tempo. No entanto, observa-se claramente a evolução no consumo da portlandita com o aumento do tempo de hidratação, devido à presença da CBCA, evidenciando o caráter pozolânico destas cinzas.

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Figura 7 – Difratograma de raios X das pastas, na faixa compreendida entre 33° e35°(2θ), onde se visualiza o consumo de portlandita aos (A) 7 dias, (B) 28 dias e (C) 91 dias.

A identificação das fichas cristalográficas dos compostos identificados nas três idades, de acordo com a Crystallography Open Database (COD) são apresentadas no Anexo 1.

4. Conclusões

A partir dos resultados observados no presente trabalho, conclui-se que:

 Com o aumento da temperatura de calcinação, há uma redução na área superficial das cinzas obtidas;

 A lavagem prévia do bagaço de cana de açúcar influenciou significativamente na qualidade das cinzas produzidas, reduzindo o teor de quartzo cristalino e aumentando, consequentemente, o teor de amorfo no material;

(A)

(B)

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 As cinzas obtidas por meio da calcinação do bagaço a 600°C apresentaram maior grau de amorfização e picos cristalinos de menor intensidade, indicando maior reatividade que as demais cinzas, no entanto, pela análise da evolução da hidratação das pastas, não há diferença significativa quanto ao consumo de hidróxido de cálcio entre as cinzas obtidas nas diferentes temperaturas.

 O elevado teor de substituição do cimento pelas cinzas (35%),acelera a taxa de reação pozolânica, apresentando resultados satisfatórios em idades iniciais (7 dias);

 O consumo de portlandita aos 28 dias e aos 91 dias nas pastas contendo CBCA é extremamente elevado, sendo necessário uma adição de cal para a aplicação desse sistema cimentício em concretos armados, afim de evitar a despassivação da armadura.

5. Referências

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cana-deaçucar em diferentes temperaturas de queima. In: SEMINÁRIO DE

PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA URBANA, 3., 2012, Maringá. Anais...Maringá, 2012 ANJOS, M. A. S. Adição do resíduo de biomassa da cana-de-açúcar em pastas para

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(13)

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v.13, n.3, p.353–357, 2009.

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Hidratação, Microestrutura e Carbonatação de Concreto.2008. 247 f. Tese (

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HERNÁNDEZ, J. F. M.; MIDDENDORF, B.; BUDELMANN, H. Use of wastes on the

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v. 17, 2013.

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oriunda da queima do bagaço da cana-de-açúcar, incorporando a ao concreto

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ANEXO 1

Tabela 3 – Fichas cristalográficas, segundo o COD, das fases identificadasaos 7 dias.

Compostos Cristalinos

Fichas COD

CBCA 500°C CBCA 600°C CBCA 700°C

Portlandita 1001787 1008781 1001787 Quartzo 1011159 1011159 9009666 Hillebrandite 9001689 9001689 9001689 Tobermorita 9005447 9005497 9005447 Larnite 9012793 9012790 9012789 Wollastonite1 A 9012890 9012890 9012890 Etringita 9012922 9012922 9011103 Brownmillerite 9015955 9003352 9003352 Calcita 9016706 9016706 9000965

Tabela 4 – Fichas cristalográficas, segundo o COD, das fases identificadas aos 28 dias.

Compostos Cristalinos

Fichas COD

CBCA 500°C CBCA 600°C CBCA 700°C

Portlandita 1008781 1001787 1008780 Quartzo 9013321 9009666 1011176 Hillebrandite 9001689 9001689 9001689 Tobermorita 9005447 9002245 9005447 Larnite 9012790 9012794 9012790 Etringita 9011576 9011576 9012922 Calcita 9009667 9000095 9016706

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Tabela 5 – Fichas cristalográficas, segundo o COD, das fases identificadas aos 91 dias.

Compostos Cristalinos

Fichas COD

CBCA 500°C CBCA 600°C CBCA 700°C

Portlandita 1008780 1008780 9009098 Quartzo 1011159 9013321 9013321 Hillebrandite 9001689 9001689 9001689 Tobermorita 9005447 9005447 9005447 Etringita 9015084 9011576 9012922 Calcita 9016706 9016706 9016706

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