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TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 19ª REGIÃO. 10ª VARA DO TRABALHO DE MACEIÓ/AL.
PROCESSO Nº. 0141900-73.2009.5.19.0010.
No dia 24 do mês de fevereiro de 2009, às 15h01min, na 10ª VARA DO TRABALHO DE MACEIÓ/AL., situada na AVENIDA DA PAZ, 1994, CENTRO, NESTA CAPITAL, o Juiz do Trabalho Titular, ALONSO FILHO, proferiu a seguinte SENTENÇA LÍQUIDA:
1 - RELATÓRIO:
ROSEANE VITAL LOPES, qualificação na inicial, propôs reclamação trabalhista em face de F S VASCONCELOS E CIA LTDA - LOJAS MAIA, qualificação na defesa, postulando os títulos, elencados na exordial, sob os fundamentos ali indicados, juntando procuração e os documentos.
Na data designada, foi aberta audiência inaugural, a reclamada apresentou sua defesa, anexando procuração, carta de preposto e os documentos. Alçada fixada conforme a inicial. O advogado da reclamante falou, dentro do prazo fixado, sobre a defesa e a documentação apresentada pelo reclamado.
Na audiência de instrução, as partes foram interrogadas e foram colhidos os depoimentos das testemunhas das partes que, após isso, declararam que não tinham mais provas a apresentar. Razões finais reiterativas. Impossibilitado o acordo. Sentença designada para hoje.
2 - FUNDAMENTOS DA DECISÃO: 2.1 - PRELIMINARMENTE:
Antes de qualquer exame, esclarecemos que a procedência, ou não, da causa depende das provas produzidas pelas partes nos autos.
Nunca é demais dizer que o juiz aplica a lei aos fatos, cuja versão ficou provada nos autos, consoante a prova mais convincente, independentemente de quem a produziu, se foi o reclamante ou se foi o reclamado.
Isto porque o juiz não é DEUS e, portanto, não estava no local aonde os fatos aconteceram, valendo como verdadeiros os fatos que ficaram provados nos autos.
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Por fim, a lide será examinada e decidida à luz das normas aplicáveis ao caso concreto, sempre sob a perspectiva precípua do Direito Constitucional, conforme a melhor doutrina e jurisprudência, observado o livre convencimento fundamentado do juízo, dentro dos primados do princípio da persuasão racional.
2.2 - NO MÉRITO:
2.2.1 - DO CONTRATO DE TRABALHO E DOS PEDIDOS DA PETIÇÃO INICIAL: A presente reclamação trabalhista foi ajuizada em 09/11/2009, conforme documento de fl.29.
Adentrando o mérito, após analisar, cuidadosamente, as alegações das partes (inicial e defesa), bem como as provas dos autos (prova documental e testemunhal trazidas pelas partes), chegamos à conclusão de que:
a) ficou comprovado que a reclamante foi contratada em 07/11/2005, na função de vendedora. A data de saída foi o dia 01/06/2008, sendo sem justa causa a sua dispensa. A maior remuneração mensal de R$580,61, conforme a inicial, vez que a reclamada reconhece essa remuneração, na medida em que não a controverteu especificamente em sua defesa.
Essa remuneração mensal será usada para fins dos cálculos rescisórios, vez que as verbas trabalhistas, por ventura, não pagas, durante o contrato de trabalho, devem ser feitas quitadas por ocasião da rescisão contratual e, por aplicação analógica do caput do artigo 477 da CLT, a remuneração a ser usada, para esse fim, deve ser a maior percebida pelo trabalhador, a qual deve, por conseqüência lógica e teleológica, também ser usada na liquidação desta sentença, em caso de procedência dos pedidos do reclamante.
b) a reclamada deve pagar, à reclamante, duas horas extras, três vezes por semana, com repercussões sobre as seguintes verbas: aviso prévio, férias com 1/3, décimos terceiros salários, FGTS e sua multa de 40%, durante período contratual.
Essas duas horas extras referem-se aos três dias, na semana, em que a reclamante ficava além do seu horário, para a conferencia de material, consoante comprovou a prova testemunhal, convincente e segura de suas informações, tendo inclusive trabalhado com a
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reclamante.
A testemunha da reclamada não forneceu maiores detalhes sobre os horários de trabalho da reclamante, saindo, inclusive, algumas vezes até antes de encerrar o expediente da loja.
Os cartões de ponto colacionados aos autos são inservíveis pois que boa parte desses controles trazem horários rígidos de entrada e de saída;
c) devida é a multa do artigo 477, parágrafo oitavo, da CLT, pois a reclamada não pagou devidamente as verbas rescisórias da reclamante, na medida em que o seu pagamento não contemplou as horas extras e suas repercussões, reconhecidas nesta decisão judicial, conforme se verifica da alínea a acima.
Porém, é indevida a do artigo 467 da CLT, posto que a reclamada controverteu, tempestivamente, as verbas rescisórias;
d) a reclamada deve pagar, à reclamante, os salários do restante do período estabilitário (12 meses), posto que restou incontroversa a sua gravidez (entre 8 e 9 semanas -documento de fl.12), quando da sua dispensa sem justa causa;
e) por fim, deferimos o pedido de indenização por danos morais, arbitrada em R$10.000,00 (dez mil reais), por considerar que, conforme demonstra a prova testemunhal do reclamante, esta foi humilhada e desvalorizada, na sua condição de pessoa humana, a ser chamada de "bola murcha", em reuniões de trabalho, por não conseguir atingir a meta das vendas de telefonia celular com a garantia estendida.
Logo, não há outro caminho a seguir a não ser o da restauração da ordem jurídica, lesada pelos danos causados à reclamante.
Essa restauração é realizada, juridicamente, através da indenização por danos morais, que foi acima arbitrada.
2.2.2 - DAS OUTRAS QUESTÕES: 2.2.2.1 - DA JUSTIÇA GRATUITA:
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estado de pobreza na petição inicial, é o suficiente para torná-la beneficiária da justiça gratuita.
Sendo assim, considerando que a parte reclamante era pobre, na forma da lei, deferimos o benefício da justiça gratuita nos termos da lei.
2.2.2.2 - DA INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS E DO IMPOSTO DE RENDA SOBRE AS VERBAS DEFERIDAS NA SENTENÇA:
Nos termos da Lei nº. 10.035/2000, as parcelas decorrentes da condenação, são de natureza indenizatória, e sobre as quais não incidem contribuição previdenciária, as seguintes: a) abono pecuniário de férias; b) ajuda de custo; c) complementação de salário quando o empregado encontra-se em gozo de benefício previdenciário; d) aviso prévio indenizado; e) 1ª parcela do 13º salário; f) férias indenizadas e/ou proporcionais, com acréscimo de 1/3; g) indenização por dispensa trinta dias antes da data base da categoria profissional; h) indenização por tempo de serviço; i) participação nos lucros; j) salário-família; l) vale transporte; m) FGTS, e multa de 20%; n) multa de 40% do FGTS; o) multa do parágrafo oitavo do artigo 477 da CLT. Em relação a todas as demais parcelas, há a incidência da contribuição previdenciária. Quanto à responsabilidade pelo pagamento, será do empregado e do empregador, nos percentuais previstos em lei e regulamentos. Deve ser observado ainda o disposto nos Provimentos do TST, concernente aos tributos relativos às parcelas deferidas nesta decisão.
2.2.2.3 - DA CORREÇÃO MONETÁRIA E DOS JUROS LEGAIS:
Na aplicação da correção monetária, devem ser observadas as regras contidas no artigo 459 da CLT e nos Enunciados 193 e 211 do TST, bem como na Orientação Jurisprudencial n. º 124 da SDI do TST. E, em relação à incidência dos juros de mora, são aplicáveis as regras contidas no artigo 883 da CLT e nos Enunciados 200 e 211 do TST, sempre com observância do limite máximo de 12% ao ano, como prevê a CF/88. 2.2.2.4 - DOS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS:
Os honorários advocatícios, nesta Justiça Especializada, só serão devidos quando estiverem presentes os requisitos da Lei 5.584/70 e consoante a orientação jurisprudencial do TST, através dos Enunciados 219 e 329.
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acompanhado de advogado particular.
Por isso, indeferimos os honorários advocatícios pretendidos. 2.2.3 - DA LIQUIDAÇÃO DA SENTENÇA:
Data Início do Pacto: 07/11/2005 Data da Dispensa: 01/06/2008 Data de Atualização: 24/02/2010 I T E N S D E C Á L C U L O Juros: 138,00
Horas Extras e repercussões: 3.942,94 Multa do artigo 477 da CLT: 591,98 Indenização período estabilitário: 7.103,78 Indenização por danos morais: R$10.000,00
R E S U M O
Total devido pelo Reclamado: 21.776,71 INSS Reclamado: 0,00
INSS Reclamante: 0,00 Imposto de Renda: 0,00
Total para o Reclamante: 21.776,71 3 - CONCLUSÃO:
Face ao exposto, no exercício do poder que emana do povo, na titularidade da 10ª Vara do Trabalho de Maceió/AL., e por tudo que consta dos autos, resolvemos JULGAR PROCEDENTE EM PARTE a postulação da reclamante (ROSEANE VITAL LOPES), para condenar a reclamada (F S VASCONCELOS E CIA LTDA - LOJAS MAIA) a pagar o VALOR TOTAL DEVIDO Á RECLAMANTE: R$21.776,71, conforme liquidação do julgado constante do item 2.2.3 acima, que passa a constar dessa conclusão como se nela
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estivesse transcrita.
Custas, pela reclamada, no valor de R$435,53, calculadas sobre o valor da condenação acima.
Prazo para cumprimento desta decisão, a contar da ciência do seu trânsito em julgado: 15 (quinze) dias, sob pena de multa de 10%, na forma do artigo 832, parágrafo primeiro, da CLT e do artigo 475-J do Código de Processo Civil.
Após esse prazo, sem que haja o pagamento ou indicação de bens, observada a gradação legal, proceda-se à penhora on line através do convênio BACENJUD.
Em não havendo êxito do BACENJUD, proceda-se, em seguida ao uso do INFOJUD e do RENAJUD.
Quanto ao recolhimento das contribuições previdenciárias e tributárias, observe-se o disposto na fundamentação supra, por ocasião do efetivo pagamento do crédito definitivo ao reclamante.
Oficie-se, aos órgãos públicos diretamente interessados, do teor desta decisão, no que couber.
Ciência das partes na forma da Súmula 197 do TST. Notifique-se o INSS na forma da lei.
Mensagem do dia: "Achar que o mundo não tem um criador é o mesmo que afirmar que um dicionário é o resultado de uma explosão numa tipografia." Benjamin Franklin.
E para constar, foi lavrada a presente ata, que vai assinada na forma da lei.
_________________________________________________ ALONSO FILHO - Juiz(a) do Trabalho
_________________________________________________ MARCOS JOSÉ DOS SANTOS- Diretor(a) de Secretaria